1. Mente iluminada, coração em chamas
Sempre tive dificuldades de acender uma churrasqueira. Costumava achar
que precisava de muito fogo. Se fizesse a maior explosão possível, a churrasqueira
acenderia, mas sempre dava errado. Então tentei colocar mais carvão e menos fogo,
deu errado. Percebi que enquanto priorizasse um em detrimento do outro minhas
tentativas para começar o churrasco sempre terminariam em fracasso.
Um dos grandes problemas do seminarista – em analogia com o churrasco –
,é fazer separação entre mente iluminada e coração fervoroso. Alguns de nós
pensamos assim: “não preciso ler, preciso apenas estar com o coração bem
aquecido pelo Espírito”, outros, “tenho que estudar, não posso perder meu tempo
com práticas devocionais.” Esse é o problema. Pensamos que mente e coração
pediram divórcio uma para o outro. Esse divórcionos leva para dois erros, o
fanatismo e a apatia.
Fanatismo é fogo sem razão. É um fogo sem conteúdo, fogo sem lenha, um
fogo de palha. O problema de uma pessoa assim é que ela vive de flamejos, de
recomeços, de ignições, de ápices, mas nunca de brasa ou constância. Seminarista
que tem fogo no coração e palha na mente em vez de brilhar,sempre se queima,
pois não tem conteúdo para queimar e acaba queimando a si mesmo.
Apatia é lógica sem emoção. São argumentos sem amor, silogismos sem
experiência, carvão molhado. O problema do carvão sem fogo é que nada do que
ele estuda chega ao alcance das pessoas, tudo fica nele mesmo. Pois ele se devota
ao conhecimento para continuar isolado. Seminarista que tem lógica sem emoção
produz pregações difíceis de ouvir, complicadas de entender e impossíveis de viver.
O resultado é que tudo o que se sabe, sabe-se para nada e para ninguém.
Jonathan Edwards nos diz o que fazer: “precisamos ter luz na mente e fogo
no coração.” Fervor verdadeiro não é fogo sem razão nem lógica sem emoção, é
mente mergulhada no fogo. A menos que entendamos que tanto os livros, estudos,
raciocínio, quanto as práticas devocionais, oração e leitura bíblica, foram feitas uma
para outra, seremos sempre reféns do fanatismo ou da apatia.
Tudo o que fazemos, fazemos para Deus. Orar e meditar não é mais espiritual
que estudar, comer, dormir, jogar, viajar e vice-versa. Somos integrais e feitos para
refletir a beleza de Deus em tudo o que fazemos. Vida de seminarista é como disse
2. Calvino: “orareetlabutare”, orar e trabalhar, equilibrar as duas coisas como se
fossem uma coisa só. Enquanto for assim nossa vida valerá muito a pena.
Hoje eu acendo churrasqueira com vela e a ponho no meio do carvão, pois
sei que enquanto fogo e carvão estiverem juntos formando a brasa, a festa vai até
tarde!