SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
Unida Teologia Sistemática I 1
Que é Teologia Sistemática?1
Prof. Júlio Paulo Tavares Zabatiero
1. Uma descrição da teologia sistemática?
1.1. Uma definição. Teologia Sistemática é uma prática teórica. Uma prática
teórica, ou seja, um tipo de ação que produz pensamento disciplinado e não objetos
palpáveis. Uma prática teórica, ou seja, um tipo de pensamento que nasce da prática e
que se concretiza na prática. Uma prática teórica tem muitas utilidades, a principal delas
sendo a de fornecer critérios para planejar e avaliar as nossas ações, a nossa prática.
Hoje em dia, critérios são um bem escasso, um tesouro, uma raridade. As pessoas e as
instituições agem movidas quase que por puro instinto – seja o de consumir, seja o de
lucrar. Pense um pouco na vida contemporânea. O tempo, literalmente, voa. Ao final de
um dia, não conseguimos fazer tudo o que precisávamos ter feito, mas fizemos tantas
coisas... A programação diária de um canal de televisão é repleta de programas e mais
repleta ainda de comerciais. As modas vêm e vão, e se você não for rápido o suficiente,
sempre estará fora de moda – e se não tiver dinheiro suficiente para consumir as roupas
da moda, também. Muito se faz, mas pouco se pensa. Fazemos muitas coisas sem pensar
– porque “sempre se fez assim”, porque “todo mundo está fazendo”, porque “é assim que
as coisas são”, etc.
A teologia é uma prática do pensamento disciplinado, que formula critérios. Na
Bíblia nós temos um nome para esse tipo de pensamento. Você sabe qual é? Se pensou
em discernimento (ou uma palavra semelhante), acertou. Em outro livro, assim defini o
discernimento: “Discernimento espiritual é uma ação crítica, do cristão iluminado pelo
Espírito Santo, que busca autenticidade (verdade) para vivenciar a vontade de Deus”.2 O
discernimento está intimamente ligado à reflexão teológica, ao pensar teológico – ambos
1 Adaptado do capítulo 1 de ZABATIERO, J. P. T. (org.). Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2006.
2 BARRO, Jorge. H. & ZABATIERO, Júlio P. T. Discernimento Espiritual. São Paulo: Abba Press, 1995.
Unida Teologia Sistemática I 2
buscam a verdade do pensamento, ambos buscam a autenticidade na ação. Ambos
dependem da ação do Espírito Santo para que sejam eficazes e verdadeiros. Fazer
teologia sem a iluminação do Espírito Santo é negar a própria natureza da teologia como
a expressão humana do discernimento do Espírito, a resposta humana ao agir do
Espírito que nos capacita a pensar com a mente de Cristo.
1.2. Teologia e Espiritualidade. A teologia deve estar a serviço da espiritualidade
cristã. Ser uma pessoa espiritual é ser alguém que, cheia do Espírito Santo, vive de forma
semelhante à vida de Jesus Cristo, e glorifica ao Pai celestial. Ser espiritual hoje em dia
não é simples nem fácil (nunca foi). Em primeiro lugar, porque os desafios do mundo e
da carne estão cada vez mais sutis e intensos. Em segundo lugar, porque há tantas
propostas de espiritualidade circulando entre as igrejas, que não sabemos qual escolher.
Em terceiro lugar, porque o nosso tempo valoriza tão mais a emoção do que a reflexão,
que muitas vezes confundimos a espiritualidade com sentimentos de prazer e enlevo
religioso. Hoje, mais do que nunca, para sermos espirituais precisamos de discernimento
– precisamos de teologia. Discernimento para julgar entre as propostas que circulam
entre as igrejas. Discernimento para reconhecer as armadilhas da carne, do pecado, do
mundo e do diabo. Discernimento para separar o que é moda do momento daquilo que é
• Prática Teórica
• Discernimento
Teologia
• Reflexão Crítica
• Espiritualidade
Sistemática
• Serviço
• Missão
Cristã
Unida Teologia Sistemática I 3
permanente.
A teologia não será um substituto da espiritualidade, nem uma forma mais
elevada de conhecimento de Deus, mas uma prática teórica derivada da espiritualidade,
alimentada pela espiritualidade e legitimada pela espiritualidade fiel, solidária e
missionária. Ao mesmo tempo, desempenhará o papel de consciência crítica da
espiritualidade, pois, enquanto ainda pecadores, nossas experiências e sensações
correm o risco de distorcer, ou mesmo de substituir, a verdadeira comunhão com Deus,
na missão jesuânica, em que consiste a espiritualidade genuína. Como escreveu Paulo
aos romanos, por exemplo, nem mesmo orar nós, cristãos, sabemos direito, por isso o
Espírito intercede por nós com “gemidos inexprimíveis”. A teologia pode ser uma
expressão humana, certamente pálida, desses gemidos do Espírito. Mas, de qualquer
forma, ela deverá exercer a função crítica, ou seja, a função do discernimento (cf. Cl
1,9ss).
1.3. Teologia e Missão. A teologia está a serviço da missão que Deus confiou ao seu
povo. O povo de Deus possui uma natureza missionária. Fomos salvos por Deus, acima
de tudo, para a Sua glória. A maior e mais importante finalidade da salvação é glorificar a
Deus, e glorificamos a Deus fazendo a sua vontade, assim como Jesus glorificou o Pai
(João 17,4). Fazemos a vontade de Deus quando participamos da missão de Deus:
restaurar e renovar toda a Sua criação para a plenitude, para o pleno cumprimento do
propósito divino, para a vida eterna na presença de Deus. É claro que há outros
propósitos da salvação, mas estão todos subordinados ao propósito missionário. Por
isto, todos os capítulos deste livro apresentarão uma reflexão teológica centrada na
missão, assim como na espiritualidade. De fato, como já vimos, espiritualidade e missão
são irmãs gêmeas.
Espiritualidade sem missão é parcial, pode ser apenas uma bela religiosidade.
Missão sem espiritualidade também é parcial, pode ser apenas uma prática de boas-
obras que visam alcançar a salvação. A missão não é um meio para chegar a Cristo, mas o
caminho que expressa nossa recepção da graça de Deus em Cristo, e o poder do Espírito
Santo que nos é concedido nessa graça (cf. Atos 1,8). A missão é, de fato, a natureza do
povo de Deus, é a nossa resposta de fé e amor à própria missão de Deus, que, desde a
eternidade, enviou seu Filho para a salvação e a plenitude de toda a criação (cf. Ef 1,3-
Unida Teologia Sistemática I 4
14). A serviço da missão, a teologia deve ajudar a responder as perguntas concretas que
o campo missionário apresenta à comunidade missionária. Campo missionário que é
toda a realidade humana marcada pelo pecado. Teologia a serviço da missão deve nos
ajudar a entender melhor o nosso tempo, de modo que possamos discernir quais são as
perguntas humanas pertinentes, e quais as respostas de Deus para essas perguntas. A
teologia terá, então, a função crítica de nos fazer discernir, na prática missionária, entre
o projeto de Deus e as estratégias mundanas – e como é fácil nos encantarmos com as
estratégias e abandonarmos o projeto divino!
2. A Teologia Sistemática e o Campo Disciplinar da Teologia
Adaptando as considerações desenvolvidas por E. Farley e James Fowler, pode-
se dizer que a história da teologia cristã conheceu três grandes paradigmas, a saber:
(a) o paradigma da teologia habitual – dominante desde as origens das Igrejas
Cristãs até o início da Idade Média, no qual a teologia era um habitus de vida
e estudo, concebida como conhecimento de Deus, construída por meio das
disciplinas da oração, estudo e participação litúrgica. Objetivava, então, a
formação de pessoas, lideranças e das comunidades eclesiais cristãs. Seus
principais sujeitos foram os Pais da Igreja, a hierarquia sacerdotal cristã e os
Concílios cristãos. A teologia se desenvolveu principalmente em diálogo
crítico com os ataques que a Igreja sofria, tanto internamente (pelas
“heresias”) quanto externamente, por religiões e filosofias concorrentes.
Nesse período, foram definidas as grandes linhas da teologia enquanto
atividade acadêmica, especialmente a sua vinculação com a reflexão
filosófica, seja mediante acordo metodológico, seja mediante a recusa das
premissas do saber filosófico;
(b) o paradigma da teologia científica – dominante durante a Idade Média até a
Contra-Reforma. Nesta era, a teologia constituía o arcabouço ordenador de
todo o conhecimento humano, bem como o das nascentes Universidades na
Europa. Neste período, a metodologia teológica seguiu, em grande medida, a
do paradigma anterior, com alterações mais significativas nas ênfases
metodológicas, nas relações com a Filosofia, e, principalmente, na função da
teologia, que ultrapassa as fronteiras eclesiais e assume um papel
determinante em todo o desenvolvimento do saber europeu – a teologia
sendo a rainha dos saberes de então. Nomes como os de Abelardo e Tomás
de Aquino figuram entre os principais protagonistas da teologia, colocando
em segunda plana as hierarquias eclesiais e Concílios, embora
Unida Teologia Sistemática I 5
subordinando-se aos mesmos;
(c) o paradigma da teologia disciplinar – nascendo com a Modernidade e
predominando até os dias atuais (ainda que sob os efeitos da crise de
transição destes últimos anos da Modernidade), este paradigma se
caracteriza por: subordinação da teologia aos imperativos do mundo
acadêmico, devido à perda de prestígio e poder das Igrejas no campo
universitário e do saber em geral. Essa subordinação foi transformando,
cada vez mais, a teologia em uma “ciência”, ou, melhor, em um sistema
disciplinar de conhecimento, dividido em áreas do saber teológico, ou em
disciplinas particulares que foram desenvolvendo lealdades e metodologias
diversas, conforme as ciências e os departamentos universitários com os
quais passou a se vincular. Os sujeitos da teologia foram se tornando cada
vez mais os teólogos profissionais, seja aqueles a serviço das Igrejas Cristãs,
seja aqueles mais diretamente vinculados às Universidades e desenvolvendo
lealdades às mesmas, mesmo que às expensas de sua lealdade eclesial. Nesse
tempo, a teologia enfrentou os grandes conflitos que o desenvolvimento da
racionalidade moderna apresentou às Igrejas e à adesão à fé cristã
individualmente. A teologia passa a se ver, cada vez mais, como ciência nos
meios universitários, e como reflexão doutrinária-dogmática nos meios
eclesiais. Conflitos foram gerados entre esses dois grandes ambientes do
fazer teológico, e cada vez mais a teologia passa a ser atividade de
profissionais, e ser encarada com desconfiança pelas membresias das
diversas denominações cristãs. (Baseado em FOWLER, J. Faith development
and pastoral care, Filadélfia: Fortress Press, 1988, cap. 1)
Na Modernidade, a teologia foi se organizando ao redor de quatro grandes eixos
Habitual Científica Disciplinar
Unida Teologia Sistemática I 6
disciplinares: a Teologia Sistemática, a Teologia Histórica, a Teologia Bíblica e a Teologia
Prática – terminologia esta em grande medida cunhada por F. Schleiermacher (esta
terminologia reflete principalmente a prática teológica no meio protestante).
A Teologia Sistemática foi assumindo, neste paradigma, o papel de mais
importante eixo disciplinar da teologia. Desenvolvendo-se como uma reflexão
sistemática sobre as verdades da fé cristã, seu método privilegiou o diálogo com a
Filosofia e a elaboração de grandes compêndios sistemáticos, coerentemente
organizados e visando abranger todo o universo do saber teológico. A partir desse
diálogo privilegiado com a filosofia, várias correntes de Teologia vêem sendo elaboradas
até agora, sendo vários os conflitos entre esses sistemas; particularmente o conflito
entre os sistemas teológicos tipicamente acadêmicos e aqueles tipicamente eclesiais.
Tendo isto em mente, estudaremos, em várias disciplinas, alguns temas do
pensamento teológico que estão organizados a partir da tradição da Teologia
Sistemática – começando em Teologia Sistemática I com o conceito de Deus (o mais
importante de todos, e que está no começo de tudo), chegando até à discussão sobre a
Escatologia (que trata dos tempos do fim). Não tentamos montar um sistema completo
da teologia cristã – hoje em dia quase ninguém mais tenta fazer isto, porque os
conhecimentos são tão grandes e diversificados que ninguém mais é capaz de dominar
todas as áreas do saber humano. Também não tentamos montar um sistema definitivo.
Aliás, uma característica de toda boa teologia é que ela tem prazo de validade – não pode
durar para sempre! Ora, se a teologia é uma expressão do discernimento do Espírito,
sempre que há mudanças significativas na realidade humana, precisamos de novas
respostas para as novas perguntas que surgem.
Missão Discernimento Teologia
Unida Teologia Sistemática I 7
Outra razão porque um curso de Teologia Sistemática não pode ser completo nem
definitivo é que a teologia, quer gostemos ou não, é afetada pelas escolhas doutrinárias,
pelas definições doutrinárias confessionais ou denominacionais. Assim, tentamos
oferecer a vocês uma teologia sistemática que possa ser útil e válida para cristãos
evangélicos em geral, independentemente de sua denominação. Só esta intenção já é um
imenso desafio – formular uma teologia que não divida, mas mostre os pontos em
comum entre as diversas formas de organização dos conteúdos da fé cristã. Cabe a cada
um de vocês tornar estas reflexões contextualizadas em sua própria vida e tradição
eclesial.
3. Fontes e métodos da Teologia Sistemática
A fonte mais importante da Teologia Sistemática (e de toda teologia) é a Palavra
de Deus, conforme testemunhada na Escritura (II Tm 3:15-17). A Escritura, porém, é
composta de textos das mais diversas formas (poesias, histórias, narrativas, provérbios,
cânticos, cartas, apocalipses, profecias) e não há, em nenhum livro da Bíblia, um sistema
teológico propriamente dito. Portanto, a Teologia Sistemática, em seu uso da Escritura
como fonte, precisa dialogar com a Teologia Bíblica, que faz o primeiro trabalho de
organizar teologicamente os conteúdos diversos da Bíblia. Nada impede, é claro, que um
teólogo sistemático use diretamente a Bíblia em seu trabalho, porém, como o volume de
conhecimentos especializados sobre a Bíblia é tão grande hoje em dia, é melhor
aproveitar a rica bibliografia de exegese (interpretação) e teologia bíblica.
As demais fontes da Teologia Sistemática ocupam um lugar subordinado em
relação à Palavra de Deus, e são: a tradição eclesiástica (configurada nos Credos,
Catecismos, Símbolos Doutrinários em geral e Confissões de Fé), a história do
pensamento teológico, a experiência concreta do teólogo e da sua comunidade de fé, e os
conhecimentos científicos – dos mais variados tipos – que possam ajudar a entender a
realidade humana e natural, e contribuir, assim, para o aperfeiçoamento do saber
teológico. Em algumas denominações cristãs, a tradição eclesiástica chega a ter um valor
de verdade idêntico, ou quase idêntico, ao da Palavra de Deus – como é o caso do
Catolicismo Romano e de outras denominações mais tradicionais. Em muitos casos,
Unida Teologia Sistemática I 8
especialmente nos tempos mais recentes, a experiência de fé do teólogo e de sua
comunidade, tem ocupado espaço cada vez maior e chega, também, a rivalizar com a
Palavra de Deus em importância e valor de verdade. Em alguns sistemas teológicos, os
conhecimentos científicos e filosóficos é que ocupam lugar de primazia em relação à
Palavra de Deus; enquanto em outros, é a própria história da teologia que se torna a
fonte mais importante.
Podemos explicar a diversidade de sistemas teológicos a partir da maneira como
usam suas fontes. É comum, por exemplo, chamar de liberais os sistemas teológicos que
priorizam os conhecimentos científicos e filosóficos, e os usam para interpretar e
explicar a Bíblia e os conceitos teológicos. Costuma-se chamar de conservadores (ou,
também, de ortodoxos) os sistemas teológicos que dão bastante valor à tradição
eclesiástica, e entendem que o papel da Teologia Sistemática é aprofundar o sentido e
dar legitimidade acadêmica ao corpo doutrinal de uma denominação. São chamados de
progressistas os sistemas teológicos que dão mais valor ao papel prático da teologia, e
destacam a fé da comunidade, em ação, como fonte importante da reflexão teológica. Em
cada um desses tipos de teologia, há uma rica variedade de tendências, correntes, de
distintas maneiras de formular os sistemas teológicos. Por exemplo, variações do
Escritura
Filosofia
Ciências
Experiência
Tradição
Unida Teologia Sistemática I 9
conservadorismo são: fundamentalismo, neo-ortodoxia, evangelicalismo,
tradicionalismo, etc. Variações do liberalismo são: modernismo, neo-liberalismo, teologia
da morte de Deus, teologias do processo, etc.; e diferentes tipos de teologias
progressistas são: teologia política, teologia pública, teologias da libertação, teologias
feministas, teologia da missão integral, etc. Embora este tipo de classificação de sistemas
teológicos seja comumente praticado, é importante destacar que formatos mistos são os
mais freqüentes, o que nos motiva a não considerar a classificação como algo rígido e
definitivo.
Assim como há diversas maneiras de entender e articular as fontes da Teologia,
também são diversos os métodos utilizados para elaborar os sistemas teológicos. A
diversidade de métodos deriva da diversidade do arranjo e da hierarquia das fontes da
Teologia, por um lado, e dos objetivos do sistema teológico, por outro. As teologias
conservadoras normalmente se utilizam de métodos dedutivos, apologéticos e descritivos
– os conceitos teológicos são entendidos como conseqüências lógicas (deduções), ou de
textos bíblicos, ou de artigos de fé da tradição, ou de um arranjo entre essas fontes, e são
apresentados de forma descritiva, e há a presença de questionamento e reação crítica
contra os conceitos classificados como não-verdadeiros. As teologias liberais tendem a
usar métodos dedutivos e problematizadores, sendo que os conceitos são vistos como
conseqüências lógicas de princípios e fundamentos racionais, usados para avaliar e
traduzir a linguagem religiosa em linguagem filosófica, ou científica, e são apresentados
de forma problematizada – como respostas a problemas da racionalidade religiosa. As
teologias progressistas tendem a usar métodos mais diversificados, que incluem tanto
formas dedutivas como indutivas de construção de conceitos teológicos, modos
descritivos e problematizadores de apresentação do sistema teológico, e diferentes
formas de apologética (defesa) de conceitos e valores teológicos diante de conceitos e
valores concorrentes, originários de outras formas de explicação da realidade – filosofia,
ciências humanas em particular, ciências em geral.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Teologia Sistemática - Aula Introdutória à Matéria
Teologia Sistemática - Aula Introdutória à MatériaTeologia Sistemática - Aula Introdutória à Matéria
Teologia Sistemática - Aula Introdutória à MatériaPr. Luiz Carlos Lopes
 
Introdução à Teologia
Introdução à TeologiaIntrodução à Teologia
Introdução à TeologiaMarcos Aurélio
 
Porque Devo Estudar Teologia
Porque Devo Estudar TeologiaPorque Devo Estudar Teologia
Porque Devo Estudar TeologiaMarcos Aurélio
 
Slide Teologia
Slide TeologiaSlide Teologia
Slide Teologiavalmarques
 
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]Eugenio Hansen, OFS
 
Uma introdução ao estudo da Teologia: sua importância e aplicação para a vida
Uma introdução ao estudo da Teologia:  sua importância e aplicação para a vidaUma introdução ao estudo da Teologia:  sua importância e aplicação para a vida
Uma introdução ao estudo da Teologia: sua importância e aplicação para a vidaRobson Tavares Fernandes
 
Teologia Contemporânea - Aspectos
Teologia Contemporânea - AspectosTeologia Contemporânea - Aspectos
Teologia Contemporânea - AspectosGcom digital factory
 
Mpc Teologia Sistematica
Mpc   Teologia SistematicaMpc   Teologia Sistematica
Mpc Teologia Sistematicaguestf2a523
 
História da teologia
História da teologiaHistória da teologia
História da teologiaugleybson
 
Teologia sistemática 1 teontologia e pneumatologia
Teologia sistemática 1   teontologia e pneumatologiaTeologia sistemática 1   teontologia e pneumatologia
Teologia sistemática 1 teontologia e pneumatologiaJoao Ricardo
 
08 ist - dutrina de deus
08  ist - dutrina de deus08  ist - dutrina de deus
08 ist - dutrina de deusLéo Mendonça
 

Mais procurados (20)

Teologia Sistemática - Aula Introdutória à Matéria
Teologia Sistemática - Aula Introdutória à MatériaTeologia Sistemática - Aula Introdutória à Matéria
Teologia Sistemática - Aula Introdutória à Matéria
 
Introdução à Teologia
Introdução à TeologiaIntrodução à Teologia
Introdução à Teologia
 
Porque Devo Estudar Teologia
Porque Devo Estudar TeologiaPorque Devo Estudar Teologia
Porque Devo Estudar Teologia
 
Slide Teologia
Slide TeologiaSlide Teologia
Slide Teologia
 
Sala de visitas da teologia
Sala de visitas da teologiaSala de visitas da teologia
Sala de visitas da teologia
 
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]
 
Uma introdução ao estudo da Teologia: sua importância e aplicação para a vida
Uma introdução ao estudo da Teologia:  sua importância e aplicação para a vidaUma introdução ao estudo da Teologia:  sua importância e aplicação para a vida
Uma introdução ao estudo da Teologia: sua importância e aplicação para a vida
 
Introdução ao estudo da teologia
Introdução ao estudo da teologiaIntrodução ao estudo da teologia
Introdução ao estudo da teologia
 
01. Fazer Teologia
01. Fazer Teologia01. Fazer Teologia
01. Fazer Teologia
 
Introdução
IntroduçãoIntrodução
Introdução
 
Teologia sistematica
Teologia sistematicaTeologia sistematica
Teologia sistematica
 
Bacharel- Introdução
Bacharel- IntroduçãoBacharel- Introdução
Bacharel- Introdução
 
Teologia Contemporânea - Aspectos
Teologia Contemporânea - AspectosTeologia Contemporânea - Aspectos
Teologia Contemporânea - Aspectos
 
Divisoes da teologia
Divisoes da teologiaDivisoes da teologia
Divisoes da teologia
 
Mpc Teologia Sistematica
Mpc   Teologia SistematicaMpc   Teologia Sistematica
Mpc Teologia Sistematica
 
História da teologia
História da teologiaHistória da teologia
História da teologia
 
Teologia sistemática 1 teontologia e pneumatologia
Teologia sistemática 1   teontologia e pneumatologiaTeologia sistemática 1   teontologia e pneumatologia
Teologia sistemática 1 teontologia e pneumatologia
 
08 ist - dutrina de deus
08  ist - dutrina de deus08  ist - dutrina de deus
08 ist - dutrina de deus
 
Entrando na casa da teologia
Entrando na casa da teologiaEntrando na casa da teologia
Entrando na casa da teologia
 
Teo biblica sayão
Teo biblica sayãoTeo biblica sayão
Teo biblica sayão
 

Semelhante a 1.1. que e_teologia_sistematica

O processo de elaboracao da teologia
O processo de elaboracao da teologiaO processo de elaboracao da teologia
O processo de elaboracao da teologiaAfonso Murad (FAJE)
 
07 ist - teologia fundamental
07  ist - teologia fundamental07  ist - teologia fundamental
07 ist - teologia fundamentalLéo Mendonça
 
Apostila de bibliologia
Apostila de bibliologiaApostila de bibliologia
Apostila de bibliologia20092004
 
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
ssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssreprografians
 
Instituto de teologia reformada
Instituto de teologia reformadaInstituto de teologia reformada
Instituto de teologia reformadaOliveira Santos
 
10b ist - revisão teologia
10b   ist - revisão teologia10b   ist - revisão teologia
10b ist - revisão teologiaLéo Mendonça
 
DOZE MOTIVOS PARA ESTUDAR TEOLOGIA.docx
DOZE MOTIVOS PARA ESTUDAR TEOLOGIA.docxDOZE MOTIVOS PARA ESTUDAR TEOLOGIA.docx
DOZE MOTIVOS PARA ESTUDAR TEOLOGIA.docxJosMriodasilva1
 
AULA_01_TEONTOLOGIA_-_PADRAO.pdf
AULA_01_TEONTOLOGIA_-_PADRAO.pdfAULA_01_TEONTOLOGIA_-_PADRAO.pdf
AULA_01_TEONTOLOGIA_-_PADRAO.pdfAMILTON gomes Gomes
 
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdfARTVALE
 
Teologia do novo testamento aula 1 1
Teologia do novo testamento aula 1 1Teologia do novo testamento aula 1 1
Teologia do novo testamento aula 1 1Marcos Roque
 
el_-_teologia_fundamental_-teologia_i.pdf
el_-_teologia_fundamental_-teologia_i.pdfel_-_teologia_fundamental_-teologia_i.pdf
el_-_teologia_fundamental_-teologia_i.pdfEvanildoCarvalho
 
Trabalho de paul tillich. marcos antonio
Trabalho de paul tillich.   marcos antonioTrabalho de paul tillich.   marcos antonio
Trabalho de paul tillich. marcos antoniomarcos coutinho
 
Apostila de teologia sistemática
Apostila de teologia sistemáticaApostila de teologia sistemática
Apostila de teologia sistemáticaPaulo Martins
 
2 doutrina social da igreja fins da dsi
2 doutrina social da igreja fins da dsi2 doutrina social da igreja fins da dsi
2 doutrina social da igreja fins da dsiJorge Eduardo Brandán
 
As crencas fundamentais dos metodistas
As crencas fundamentais dos metodistasAs crencas fundamentais dos metodistas
As crencas fundamentais dos metodistasPaulo Dias Nogueira
 
Teologia I (Bibliologia e Teontologia)
Teologia I (Bibliologia e Teontologia)Teologia I (Bibliologia e Teontologia)
Teologia I (Bibliologia e Teontologia)Israel serique
 

Semelhante a 1.1. que e_teologia_sistematica (20)

Bacharel- Aula do dia 21/07/16
Bacharel- Aula do dia 21/07/16Bacharel- Aula do dia 21/07/16
Bacharel- Aula do dia 21/07/16
 
O processo de elaboracao da teologia
O processo de elaboracao da teologiaO processo de elaboracao da teologia
O processo de elaboracao da teologia
 
07 ist - teologia fundamental
07  ist - teologia fundamental07  ist - teologia fundamental
07 ist - teologia fundamental
 
Apostila de bibliologia
Apostila de bibliologiaApostila de bibliologia
Apostila de bibliologia
 
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
ssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
 
Instituto de teologia reformada
Instituto de teologia reformadaInstituto de teologia reformada
Instituto de teologia reformada
 
10b ist - revisão teologia
10b   ist - revisão teologia10b   ist - revisão teologia
10b ist - revisão teologia
 
DOZE MOTIVOS PARA ESTUDAR TEOLOGIA.docx
DOZE MOTIVOS PARA ESTUDAR TEOLOGIA.docxDOZE MOTIVOS PARA ESTUDAR TEOLOGIA.docx
DOZE MOTIVOS PARA ESTUDAR TEOLOGIA.docx
 
Igreja saudavel
Igreja saudavelIgreja saudavel
Igreja saudavel
 
AULA_01_TEONTOLOGIA_-_PADRAO.pdf
AULA_01_TEONTOLOGIA_-_PADRAO.pdfAULA_01_TEONTOLOGIA_-_PADRAO.pdf
AULA_01_TEONTOLOGIA_-_PADRAO.pdf
 
A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE.docx
A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE.docxA IGREJA ÍCONE DA TRINDADE.docx
A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE.docx
 
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
 
Teologia do novo testamento aula 1 1
Teologia do novo testamento aula 1 1Teologia do novo testamento aula 1 1
Teologia do novo testamento aula 1 1
 
Apostila de teologia sistemática
Apostila de teologia sistemáticaApostila de teologia sistemática
Apostila de teologia sistemática
 
el_-_teologia_fundamental_-teologia_i.pdf
el_-_teologia_fundamental_-teologia_i.pdfel_-_teologia_fundamental_-teologia_i.pdf
el_-_teologia_fundamental_-teologia_i.pdf
 
Trabalho de paul tillich. marcos antonio
Trabalho de paul tillich.   marcos antonioTrabalho de paul tillich.   marcos antonio
Trabalho de paul tillich. marcos antonio
 
Apostila de teologia sistemática
Apostila de teologia sistemáticaApostila de teologia sistemática
Apostila de teologia sistemática
 
2 doutrina social da igreja fins da dsi
2 doutrina social da igreja fins da dsi2 doutrina social da igreja fins da dsi
2 doutrina social da igreja fins da dsi
 
As crencas fundamentais dos metodistas
As crencas fundamentais dos metodistasAs crencas fundamentais dos metodistas
As crencas fundamentais dos metodistas
 
Teologia I (Bibliologia e Teontologia)
Teologia I (Bibliologia e Teontologia)Teologia I (Bibliologia e Teontologia)
Teologia I (Bibliologia e Teontologia)
 

1.1. que e_teologia_sistematica

  • 1. Unida Teologia Sistemática I 1 Que é Teologia Sistemática?1 Prof. Júlio Paulo Tavares Zabatiero 1. Uma descrição da teologia sistemática? 1.1. Uma definição. Teologia Sistemática é uma prática teórica. Uma prática teórica, ou seja, um tipo de ação que produz pensamento disciplinado e não objetos palpáveis. Uma prática teórica, ou seja, um tipo de pensamento que nasce da prática e que se concretiza na prática. Uma prática teórica tem muitas utilidades, a principal delas sendo a de fornecer critérios para planejar e avaliar as nossas ações, a nossa prática. Hoje em dia, critérios são um bem escasso, um tesouro, uma raridade. As pessoas e as instituições agem movidas quase que por puro instinto – seja o de consumir, seja o de lucrar. Pense um pouco na vida contemporânea. O tempo, literalmente, voa. Ao final de um dia, não conseguimos fazer tudo o que precisávamos ter feito, mas fizemos tantas coisas... A programação diária de um canal de televisão é repleta de programas e mais repleta ainda de comerciais. As modas vêm e vão, e se você não for rápido o suficiente, sempre estará fora de moda – e se não tiver dinheiro suficiente para consumir as roupas da moda, também. Muito se faz, mas pouco se pensa. Fazemos muitas coisas sem pensar – porque “sempre se fez assim”, porque “todo mundo está fazendo”, porque “é assim que as coisas são”, etc. A teologia é uma prática do pensamento disciplinado, que formula critérios. Na Bíblia nós temos um nome para esse tipo de pensamento. Você sabe qual é? Se pensou em discernimento (ou uma palavra semelhante), acertou. Em outro livro, assim defini o discernimento: “Discernimento espiritual é uma ação crítica, do cristão iluminado pelo Espírito Santo, que busca autenticidade (verdade) para vivenciar a vontade de Deus”.2 O discernimento está intimamente ligado à reflexão teológica, ao pensar teológico – ambos 1 Adaptado do capítulo 1 de ZABATIERO, J. P. T. (org.). Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2006. 2 BARRO, Jorge. H. & ZABATIERO, Júlio P. T. Discernimento Espiritual. São Paulo: Abba Press, 1995.
  • 2. Unida Teologia Sistemática I 2 buscam a verdade do pensamento, ambos buscam a autenticidade na ação. Ambos dependem da ação do Espírito Santo para que sejam eficazes e verdadeiros. Fazer teologia sem a iluminação do Espírito Santo é negar a própria natureza da teologia como a expressão humana do discernimento do Espírito, a resposta humana ao agir do Espírito que nos capacita a pensar com a mente de Cristo. 1.2. Teologia e Espiritualidade. A teologia deve estar a serviço da espiritualidade cristã. Ser uma pessoa espiritual é ser alguém que, cheia do Espírito Santo, vive de forma semelhante à vida de Jesus Cristo, e glorifica ao Pai celestial. Ser espiritual hoje em dia não é simples nem fácil (nunca foi). Em primeiro lugar, porque os desafios do mundo e da carne estão cada vez mais sutis e intensos. Em segundo lugar, porque há tantas propostas de espiritualidade circulando entre as igrejas, que não sabemos qual escolher. Em terceiro lugar, porque o nosso tempo valoriza tão mais a emoção do que a reflexão, que muitas vezes confundimos a espiritualidade com sentimentos de prazer e enlevo religioso. Hoje, mais do que nunca, para sermos espirituais precisamos de discernimento – precisamos de teologia. Discernimento para julgar entre as propostas que circulam entre as igrejas. Discernimento para reconhecer as armadilhas da carne, do pecado, do mundo e do diabo. Discernimento para separar o que é moda do momento daquilo que é • Prática Teórica • Discernimento Teologia • Reflexão Crítica • Espiritualidade Sistemática • Serviço • Missão Cristã
  • 3. Unida Teologia Sistemática I 3 permanente. A teologia não será um substituto da espiritualidade, nem uma forma mais elevada de conhecimento de Deus, mas uma prática teórica derivada da espiritualidade, alimentada pela espiritualidade e legitimada pela espiritualidade fiel, solidária e missionária. Ao mesmo tempo, desempenhará o papel de consciência crítica da espiritualidade, pois, enquanto ainda pecadores, nossas experiências e sensações correm o risco de distorcer, ou mesmo de substituir, a verdadeira comunhão com Deus, na missão jesuânica, em que consiste a espiritualidade genuína. Como escreveu Paulo aos romanos, por exemplo, nem mesmo orar nós, cristãos, sabemos direito, por isso o Espírito intercede por nós com “gemidos inexprimíveis”. A teologia pode ser uma expressão humana, certamente pálida, desses gemidos do Espírito. Mas, de qualquer forma, ela deverá exercer a função crítica, ou seja, a função do discernimento (cf. Cl 1,9ss). 1.3. Teologia e Missão. A teologia está a serviço da missão que Deus confiou ao seu povo. O povo de Deus possui uma natureza missionária. Fomos salvos por Deus, acima de tudo, para a Sua glória. A maior e mais importante finalidade da salvação é glorificar a Deus, e glorificamos a Deus fazendo a sua vontade, assim como Jesus glorificou o Pai (João 17,4). Fazemos a vontade de Deus quando participamos da missão de Deus: restaurar e renovar toda a Sua criação para a plenitude, para o pleno cumprimento do propósito divino, para a vida eterna na presença de Deus. É claro que há outros propósitos da salvação, mas estão todos subordinados ao propósito missionário. Por isto, todos os capítulos deste livro apresentarão uma reflexão teológica centrada na missão, assim como na espiritualidade. De fato, como já vimos, espiritualidade e missão são irmãs gêmeas. Espiritualidade sem missão é parcial, pode ser apenas uma bela religiosidade. Missão sem espiritualidade também é parcial, pode ser apenas uma prática de boas- obras que visam alcançar a salvação. A missão não é um meio para chegar a Cristo, mas o caminho que expressa nossa recepção da graça de Deus em Cristo, e o poder do Espírito Santo que nos é concedido nessa graça (cf. Atos 1,8). A missão é, de fato, a natureza do povo de Deus, é a nossa resposta de fé e amor à própria missão de Deus, que, desde a eternidade, enviou seu Filho para a salvação e a plenitude de toda a criação (cf. Ef 1,3-
  • 4. Unida Teologia Sistemática I 4 14). A serviço da missão, a teologia deve ajudar a responder as perguntas concretas que o campo missionário apresenta à comunidade missionária. Campo missionário que é toda a realidade humana marcada pelo pecado. Teologia a serviço da missão deve nos ajudar a entender melhor o nosso tempo, de modo que possamos discernir quais são as perguntas humanas pertinentes, e quais as respostas de Deus para essas perguntas. A teologia terá, então, a função crítica de nos fazer discernir, na prática missionária, entre o projeto de Deus e as estratégias mundanas – e como é fácil nos encantarmos com as estratégias e abandonarmos o projeto divino! 2. A Teologia Sistemática e o Campo Disciplinar da Teologia Adaptando as considerações desenvolvidas por E. Farley e James Fowler, pode- se dizer que a história da teologia cristã conheceu três grandes paradigmas, a saber: (a) o paradigma da teologia habitual – dominante desde as origens das Igrejas Cristãs até o início da Idade Média, no qual a teologia era um habitus de vida e estudo, concebida como conhecimento de Deus, construída por meio das disciplinas da oração, estudo e participação litúrgica. Objetivava, então, a formação de pessoas, lideranças e das comunidades eclesiais cristãs. Seus principais sujeitos foram os Pais da Igreja, a hierarquia sacerdotal cristã e os Concílios cristãos. A teologia se desenvolveu principalmente em diálogo crítico com os ataques que a Igreja sofria, tanto internamente (pelas “heresias”) quanto externamente, por religiões e filosofias concorrentes. Nesse período, foram definidas as grandes linhas da teologia enquanto atividade acadêmica, especialmente a sua vinculação com a reflexão filosófica, seja mediante acordo metodológico, seja mediante a recusa das premissas do saber filosófico; (b) o paradigma da teologia científica – dominante durante a Idade Média até a Contra-Reforma. Nesta era, a teologia constituía o arcabouço ordenador de todo o conhecimento humano, bem como o das nascentes Universidades na Europa. Neste período, a metodologia teológica seguiu, em grande medida, a do paradigma anterior, com alterações mais significativas nas ênfases metodológicas, nas relações com a Filosofia, e, principalmente, na função da teologia, que ultrapassa as fronteiras eclesiais e assume um papel determinante em todo o desenvolvimento do saber europeu – a teologia sendo a rainha dos saberes de então. Nomes como os de Abelardo e Tomás de Aquino figuram entre os principais protagonistas da teologia, colocando em segunda plana as hierarquias eclesiais e Concílios, embora
  • 5. Unida Teologia Sistemática I 5 subordinando-se aos mesmos; (c) o paradigma da teologia disciplinar – nascendo com a Modernidade e predominando até os dias atuais (ainda que sob os efeitos da crise de transição destes últimos anos da Modernidade), este paradigma se caracteriza por: subordinação da teologia aos imperativos do mundo acadêmico, devido à perda de prestígio e poder das Igrejas no campo universitário e do saber em geral. Essa subordinação foi transformando, cada vez mais, a teologia em uma “ciência”, ou, melhor, em um sistema disciplinar de conhecimento, dividido em áreas do saber teológico, ou em disciplinas particulares que foram desenvolvendo lealdades e metodologias diversas, conforme as ciências e os departamentos universitários com os quais passou a se vincular. Os sujeitos da teologia foram se tornando cada vez mais os teólogos profissionais, seja aqueles a serviço das Igrejas Cristãs, seja aqueles mais diretamente vinculados às Universidades e desenvolvendo lealdades às mesmas, mesmo que às expensas de sua lealdade eclesial. Nesse tempo, a teologia enfrentou os grandes conflitos que o desenvolvimento da racionalidade moderna apresentou às Igrejas e à adesão à fé cristã individualmente. A teologia passa a se ver, cada vez mais, como ciência nos meios universitários, e como reflexão doutrinária-dogmática nos meios eclesiais. Conflitos foram gerados entre esses dois grandes ambientes do fazer teológico, e cada vez mais a teologia passa a ser atividade de profissionais, e ser encarada com desconfiança pelas membresias das diversas denominações cristãs. (Baseado em FOWLER, J. Faith development and pastoral care, Filadélfia: Fortress Press, 1988, cap. 1) Na Modernidade, a teologia foi se organizando ao redor de quatro grandes eixos Habitual Científica Disciplinar
  • 6. Unida Teologia Sistemática I 6 disciplinares: a Teologia Sistemática, a Teologia Histórica, a Teologia Bíblica e a Teologia Prática – terminologia esta em grande medida cunhada por F. Schleiermacher (esta terminologia reflete principalmente a prática teológica no meio protestante). A Teologia Sistemática foi assumindo, neste paradigma, o papel de mais importante eixo disciplinar da teologia. Desenvolvendo-se como uma reflexão sistemática sobre as verdades da fé cristã, seu método privilegiou o diálogo com a Filosofia e a elaboração de grandes compêndios sistemáticos, coerentemente organizados e visando abranger todo o universo do saber teológico. A partir desse diálogo privilegiado com a filosofia, várias correntes de Teologia vêem sendo elaboradas até agora, sendo vários os conflitos entre esses sistemas; particularmente o conflito entre os sistemas teológicos tipicamente acadêmicos e aqueles tipicamente eclesiais. Tendo isto em mente, estudaremos, em várias disciplinas, alguns temas do pensamento teológico que estão organizados a partir da tradição da Teologia Sistemática – começando em Teologia Sistemática I com o conceito de Deus (o mais importante de todos, e que está no começo de tudo), chegando até à discussão sobre a Escatologia (que trata dos tempos do fim). Não tentamos montar um sistema completo da teologia cristã – hoje em dia quase ninguém mais tenta fazer isto, porque os conhecimentos são tão grandes e diversificados que ninguém mais é capaz de dominar todas as áreas do saber humano. Também não tentamos montar um sistema definitivo. Aliás, uma característica de toda boa teologia é que ela tem prazo de validade – não pode durar para sempre! Ora, se a teologia é uma expressão do discernimento do Espírito, sempre que há mudanças significativas na realidade humana, precisamos de novas respostas para as novas perguntas que surgem. Missão Discernimento Teologia
  • 7. Unida Teologia Sistemática I 7 Outra razão porque um curso de Teologia Sistemática não pode ser completo nem definitivo é que a teologia, quer gostemos ou não, é afetada pelas escolhas doutrinárias, pelas definições doutrinárias confessionais ou denominacionais. Assim, tentamos oferecer a vocês uma teologia sistemática que possa ser útil e válida para cristãos evangélicos em geral, independentemente de sua denominação. Só esta intenção já é um imenso desafio – formular uma teologia que não divida, mas mostre os pontos em comum entre as diversas formas de organização dos conteúdos da fé cristã. Cabe a cada um de vocês tornar estas reflexões contextualizadas em sua própria vida e tradição eclesial. 3. Fontes e métodos da Teologia Sistemática A fonte mais importante da Teologia Sistemática (e de toda teologia) é a Palavra de Deus, conforme testemunhada na Escritura (II Tm 3:15-17). A Escritura, porém, é composta de textos das mais diversas formas (poesias, histórias, narrativas, provérbios, cânticos, cartas, apocalipses, profecias) e não há, em nenhum livro da Bíblia, um sistema teológico propriamente dito. Portanto, a Teologia Sistemática, em seu uso da Escritura como fonte, precisa dialogar com a Teologia Bíblica, que faz o primeiro trabalho de organizar teologicamente os conteúdos diversos da Bíblia. Nada impede, é claro, que um teólogo sistemático use diretamente a Bíblia em seu trabalho, porém, como o volume de conhecimentos especializados sobre a Bíblia é tão grande hoje em dia, é melhor aproveitar a rica bibliografia de exegese (interpretação) e teologia bíblica. As demais fontes da Teologia Sistemática ocupam um lugar subordinado em relação à Palavra de Deus, e são: a tradição eclesiástica (configurada nos Credos, Catecismos, Símbolos Doutrinários em geral e Confissões de Fé), a história do pensamento teológico, a experiência concreta do teólogo e da sua comunidade de fé, e os conhecimentos científicos – dos mais variados tipos – que possam ajudar a entender a realidade humana e natural, e contribuir, assim, para o aperfeiçoamento do saber teológico. Em algumas denominações cristãs, a tradição eclesiástica chega a ter um valor de verdade idêntico, ou quase idêntico, ao da Palavra de Deus – como é o caso do Catolicismo Romano e de outras denominações mais tradicionais. Em muitos casos,
  • 8. Unida Teologia Sistemática I 8 especialmente nos tempos mais recentes, a experiência de fé do teólogo e de sua comunidade, tem ocupado espaço cada vez maior e chega, também, a rivalizar com a Palavra de Deus em importância e valor de verdade. Em alguns sistemas teológicos, os conhecimentos científicos e filosóficos é que ocupam lugar de primazia em relação à Palavra de Deus; enquanto em outros, é a própria história da teologia que se torna a fonte mais importante. Podemos explicar a diversidade de sistemas teológicos a partir da maneira como usam suas fontes. É comum, por exemplo, chamar de liberais os sistemas teológicos que priorizam os conhecimentos científicos e filosóficos, e os usam para interpretar e explicar a Bíblia e os conceitos teológicos. Costuma-se chamar de conservadores (ou, também, de ortodoxos) os sistemas teológicos que dão bastante valor à tradição eclesiástica, e entendem que o papel da Teologia Sistemática é aprofundar o sentido e dar legitimidade acadêmica ao corpo doutrinal de uma denominação. São chamados de progressistas os sistemas teológicos que dão mais valor ao papel prático da teologia, e destacam a fé da comunidade, em ação, como fonte importante da reflexão teológica. Em cada um desses tipos de teologia, há uma rica variedade de tendências, correntes, de distintas maneiras de formular os sistemas teológicos. Por exemplo, variações do Escritura Filosofia Ciências Experiência Tradição
  • 9. Unida Teologia Sistemática I 9 conservadorismo são: fundamentalismo, neo-ortodoxia, evangelicalismo, tradicionalismo, etc. Variações do liberalismo são: modernismo, neo-liberalismo, teologia da morte de Deus, teologias do processo, etc.; e diferentes tipos de teologias progressistas são: teologia política, teologia pública, teologias da libertação, teologias feministas, teologia da missão integral, etc. Embora este tipo de classificação de sistemas teológicos seja comumente praticado, é importante destacar que formatos mistos são os mais freqüentes, o que nos motiva a não considerar a classificação como algo rígido e definitivo. Assim como há diversas maneiras de entender e articular as fontes da Teologia, também são diversos os métodos utilizados para elaborar os sistemas teológicos. A diversidade de métodos deriva da diversidade do arranjo e da hierarquia das fontes da Teologia, por um lado, e dos objetivos do sistema teológico, por outro. As teologias conservadoras normalmente se utilizam de métodos dedutivos, apologéticos e descritivos – os conceitos teológicos são entendidos como conseqüências lógicas (deduções), ou de textos bíblicos, ou de artigos de fé da tradição, ou de um arranjo entre essas fontes, e são apresentados de forma descritiva, e há a presença de questionamento e reação crítica contra os conceitos classificados como não-verdadeiros. As teologias liberais tendem a usar métodos dedutivos e problematizadores, sendo que os conceitos são vistos como conseqüências lógicas de princípios e fundamentos racionais, usados para avaliar e traduzir a linguagem religiosa em linguagem filosófica, ou científica, e são apresentados de forma problematizada – como respostas a problemas da racionalidade religiosa. As teologias progressistas tendem a usar métodos mais diversificados, que incluem tanto formas dedutivas como indutivas de construção de conceitos teológicos, modos descritivos e problematizadores de apresentação do sistema teológico, e diferentes formas de apologética (defesa) de conceitos e valores teológicos diante de conceitos e valores concorrentes, originários de outras formas de explicação da realidade – filosofia, ciências humanas em particular, ciências em geral.