1) A existência de Deus e o sentido religioso são universais e estão gravados no coração de todos os seres humanos.
2) A autoridade da Bíblia deve ser estabelecida pelo testemunho interno do Espírito Santo, não apenas por razões lógicas.
3) Embora corrompida pelo pecado, a natureza humana ainda recebe graças naturais de Deus, como inteligência e criatividade.
Calvino sobre a lei natural e o sentido de Deus no coração humano
1. CINCO PONTOS INTERESSANTES DO TOMO I DAS INSTITUTAS DE
CALVINO1
1. Universalidade da idéia da existência de Deus e do sentido religioso
Pag. 57-58
O Espírito do homem e da mulher tem uma inclinação natural certo senso ou noção da
Divindade. O próprio Deus nos dotou de certa percepção da sua majestade. Calvino afirma
com convicção que se for feito um apanhado de dados quanto a essa noção da divindade no
Universo, com toda probabilidade exemplos da não-noção de Deus, ou de um criador só serão
encontrados entre os povos mais rudes e mais distanciados de boas condições de civilidade e
de humanidade.
De fato, há um senso da Divindade gravado no coração de todos os seres humanos.
Um argumento favorável a essa afirmação é a idolatria. O quanto os homens e mulheres
durante toda a história prestaram cultos a criaturas; madeira, pedra, diversos deuses. Isso
mostra o quão forte é a noção de Deus impressa nos corações humanos.
2. A autoridade da Escritura atestada pelo testemunho interno do Espírito
Pag. 72-75
Como poderemos saber se realmente a Escritura, a Bíblia é realmente vinda de Deus
em sua inteireza? Primeiro, é preciso que coloquemos a autoridade das Escrituras muito acima
das razões ou das circunstancias ou conjecturas humanas, o que implica em estabelecer como
base de autoridade o testemunho interno do Espírito Santo nos corações. Embora haja boas
provas para se crer na Escritura Sagrada, ela só começa a surtir efeito realmente quando é
selada em nossos corações pelo intermédio do Santo Espírito.
Assim, não mais alicerçados somente em nossas avaliações lógicas, mas baseados no
testemunho superior e grandioso do Espírito, concluímos que as Escrituras, sem dúvida
alguma, são vindas diretamente da parte de Deus.
Agimos como agimos porque sentimos que na Escritura reside e se manifesta o poder
de Deus, que nos atrai e nos impulsiona à obediência ardorosa, consciente e voluntária. Para
crer de fato na Bíblia se faz necessário que o próprio Deus se dê a revelar para nós, uma
revelação especial. Caso contrário, por nossa própria lógica sempre permanecerá a dúvida.
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Esse artigo foi baseado na edição especial das Institutas de Calvino, traduzida pelo Dr. Odayr Olivetti. Editado
pela ed. Cultura Cristã, 2007.
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2. Poderíamos inferir que crer na Bíblia é nada menos que algo humanamente inexplicável.
Somente as Escrituras Sagradas tem certa propriedade divina pela qual nos inspira. Isso de
longe supera todas as virtudes da criatividade humana.
3. As graças naturais, pag. 105-107
Há nitidamente uma percepção universal da razão impressa naturalmente em todos os
homens; tal universal é que cada pessoa, por si mesma, deveria reconhecer tal graça especial
de Deus. Ou seja, o Criador confere criatividade e inteligência a cada ser humano, como um
benefício gratuito e generoso para com os homens e mulheres. Por exemplo, nos campos da
arte, política, doutrinária, são essas sem dúvida graças naturais.
“Portanto, quando vemos em escritores pagãos essa admirável luz da verdade que
transparece em suas obras, devemos estar advertidos de que a natureza do homem, conquanto
havendo perdido a sua integridade e se tornado grandemente corrupta, não deixa, entretanto,
de ser ornada por muitos dons de Deus.” Pag. 105. Diremos que os filósofos eram cegos,
quando estudavam tão diligentemente os segredos da natureza, ou o que diremos quanto aos
que inventaram a medicina, são eles loucos? E as demais disciplinas, são loucuras? Pelo
contrário, nós não podemos ler os seus livros e escritos sobre todos esses assuntos sem nos
maravilharmos. Pois somos fortemente constrangidos a reconhecer a sabedoria e o cuidado
neles presentes. Isso é graça natural, todas essas artes provêm de Deus.
Se o Senhor nos quis deste modo ajudados pela obra e ministério dos ímpios na física,
na dialética, na matemática e nas demais áreas do saber, façamos uso destas, para que não
soframos o justo castigo de nossa displicência, se negligenciarmos as dádivas de Deus nelas
graciosamente oferecidas.
4. A lei natural que reside no interior do ser humano
Pag. 110-113
Em Romanos 2.14-16 o apóstolo Paulo mostra que há dentro do coração dos gentios
uma norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência e os
seus pensamentos, mutuamente se acusando diante de Deus naquilo que eles fazem. Nisso se
conclui que a humanidade não está totalmente cega, quanto, a saber, como se deve viver.
Portanto, o alvo maior da lei natural é deixar o homem sem desculpa. A lei natural é um
sentido da consciência pelo qual a pessoas distingue suficientemente o bem e o mal, para
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3. despir o homem de sua protetora capa de ignorância, ao mesmo tempo em que ela é censurada
por seu próprio testemunho. Existe dentro de homens e mulheres uma inclinação para auto-
ilusão quanto a reconhecer o seu próprio pecado; o homem sempre tenta se desviar do
reconhecimento de sua falha.
Dois exemplos deste fato:
Se for feita uma pesquisa geral para ver se o homicídio é mau, não haverá quem não
responda que é. Porém, aquele que forja ou trama a morte de seu inimigo julga que nisso não
há nada de ruim. Outro exemplo: Um adúltero que condena a corrupção moral em termos
gerais, mas se gabará das suas pecaminosas práticas sexuais. Conclui-se que: Após a pessoa
estabelecer um juízo universal sobre as coisas, o homem se vê envolvido pessoalmente,
esquece a regra que seguia anteriormente e não leva mais em conta a si próprio para
julgamento.
5. O amor ao próximo, pag. 214-215
A nossa vida estará em conformidade com a vontade de Deus e com o que a lei ordena
se, em todos os aspectos, for proveitosa para os nossos irmãos. E é certo que os homens por
natureza, são muito mais propensos a amar a si mesmos do que seria justo, não foi necessário
dar-lhes mandamento para inflamá-los mais nesse amor, que já por si vai além da medida.
Portanto cumpre toda lei (os mandamentos de Deus), aquele que vive retamente e o menos
possível para si mesmo; por outro lado, conclui-se também que ninguém tem pior vida e mais
desordenada que aquele que vive só para si mesmo e que só pensa no seu proveito pessoal!
O que na verdade Deus manda é transferir, ou substituir para os outros o amor que
temos por nós mesmos. Portanto se quisermos andar pelo reto caminho do amor fraterno, não
devemos ter os olhos postos nos homens, pois, na maioria das vezes, observá-los nos levaria a
odiá-los, e não a amá-los. A Deus é que precisamos observar; e ele nos manda estender o
amor que lhe votamos a todos os homens, de tal maneira que sempre tenhamos este
fundamento: seja quem for e como for o ser humano, temos que amá-lo, se é verdade que
amamos a Deus!
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