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REFORMED THEOLOGICAL SEMINARY
CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW JUMPER
DOUTORADO EM MINISTÉRIO
MISAEL BATISTA DO NASCIMENTO
MÉTODOS GERENCIAIS NA IGREJA: VERIFICAÇÃO DA
BIBLICIDADE E PERTINÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA
NO ÂMBITO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
SÃO PAULO
2008


MISAEL BATISTA DO NASCIMENTO
MÉTODOS GERENCIAIS NA IGREJA: VERIFICAÇÃO DA
BIBLICIDADE E PERTINÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA
NO ÂMBITO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
Projeto Final apresentado ao Reformed
Theological Seminary (RTS) e ao Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew
Jumper (CPAJ) como parte dos requisitos para
a obtenção do Grau de Doutor em Ministério.
Orientador: Dr. Augustus Nicodemus Lopes.
SÃO PAULO
2008


N244m Nascimento, Misael Batista do
Métodos gerenciais na igreja: verificação da biblicidade e
pertinência da administração estratégica no âmbito da Igreja
Presbiteriana do Brasil / Misael Batista do Nascimento - 2008
200 f., 30 cm
Tese (Doutorado em Ministério) — Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper, São Paulo, 2008.
Bibliografia: f. 186-200
1. Administração eclesiástica 2. Teologia prática 3. Igreja
Presbiteriana do Brasil 4. Administração estratégica I. Título
LC BV652.A3
CDD289.9


MISAEL BATISTA DO NASCIMENTO
MÉTODOS GERENCIAIS NA IGREJA: VERIFICAÇÃO DA
BIBLICIDADE E PERTINÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA
NO ÂMBITO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
Projeto Final apresentado ao Reformed
Theological Seminary (RTS) e ao Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew
Jumper (CPAJ) como parte dos requisitos para
a obtenção do Grau de Doutor em Ministério.
Aprovado em 19/05/2008.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Prof. Rev. Elias dos Santos Medeiros
Mestre em Teologia, Doutor em Ministério
Doutor em Missiologia – Reformed Theological Seminary (RTS)
_________________________________________________________
Prof. Rev. Augustus Nicodemus Lopes – Orientador
Mestre em Novo Testamento
Doutor em Hermenêutica e Estudos Bíblicos (CPAJ)
São Paulo
2008


Dedicado a meus pais, João Batista, construtor
de barcos e belas frases, e Roberta, que me
ensinou a jamais desistir; a Mirian, amor
insubstituível e a Ana Carolina e Bruna
Camila, filhas mui preciosas.


O saber ensoberbece, mas o amor edifica
(Apóstolo Paulo, 1 Coríntios 8.1b)


Essa pesquisa só pôde ser finalizada graças ao apoio de muitas pessoas. A elas eu agradeço.
Ao Deus Triúno, fonte de vida, amor, redenção e significado.
A minha esposa, Mirian, e às minhas filhas, Ana Carolina e Bruna Camila. Depois de Deus,
vocês são a minha maior fonte de motivação.
Aos meus irmãos Iran, Estelina, Lourdes e Josefa, e ao meu sobrinho André. No seio dessa
família abençoada, tornei-me o que sou.
Ao Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes, por seu apoio e sábia orientação. Principalmente,
por seu exemplo de estudioso aplicado e cristão comprometido com Deus, com as Escrituras e
com a edificação da igreja.
Ao Rev. Dr. Valdeci Santos Silva, pelo incentivo, exemplo de moderação e auxílio em todo o
curso.
Ao Rev. Dr. Elias dos Santos Medeiros, pelas sugestões sábias e pertinentes.
A toda a equipe administrativa do CPAJ, especialmente ao pessoal da Biblioteca.
Ao casal Francisco Solano Portela Neto e Elizabeth Zekveld Portela, irmãos cuja amizade
produz aperfeiçoamento.
Aos irmãos e amigos da Igreja Presbiteriana Central do Gama. Eu não chegaria aqui sem suas
orações, palavras incentivadoras e preciosa colaboração.


RESUMO
No campo da administração eclesiástica questiona-se qual é o padrão bíblico para o
crescimento da igreja e até que ponto métodos de planejamento são importantes para a sua
gestão. Isso é feito enquanto a igreja é pressionada a mostrar-se relevante e a apresentar
resultados.
Este estudo é encaminhado a fim de responder à seguinte pergunta principal: É bíblico
e pertinente o uso, no pastoreio da igreja, da administração estratégica? Tal questão principal
enseja cinco questões subsidiárias: (1) A Bíblia sugere o vínculo entre pastoreio e
administração? (2) Se a resposta à questão anterior for positiva, a Bíblia apóia o uso, na
administração da igreja, de métodos oriundos da cultura circundante? (3) Tal uso é aprovado
— ou pelo menos sugerido — pela Confissão de Fé de Westminster (CFW)? (4) O modelo de
administração da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) abre espaço para o uso destes métodos?
(5) A cosmovisão e a proposta metodológica da administração estratégica condizem com a
Bíblia, com a CFW e com a prática da IPB?
Os objetivos deste estudo são: (1) Investigar se é bíblico o uso, no pastoreio da igreja,
da administração estratégica; (2) se a resposta à questão anterior for positiva, propor um
conjunto de princípios e práticas bíblicas de administração, aplicável às igrejas locais e
concílios da IPB.
A pesquisa busca responder a questões de ordem tanto intelectual quanto prática
considerando, a priori, que a ciência objetiva tanto o conhecimento em si mesmo quanto as
contribuições práticas decorrentes desse conhecimento.


PALAVRAS-CHAVES
Cristianismo; Escrituras; Teologia Prática; Teologia Pastoral; Eclesiologia —
Desenvolvimento da igreja; Administração Eclesiástica; Teoria Geral da Administração;
Administração Estratégica; Gerenciamento; Liderança.


ABSTRACT
The article deals with the choice of a biblical standard for Church growth in the field
of Church management and to what point planning strategies are important to its
administration. This is done as the Church is under pressure to show itself relevant and to
offer results.
The study is developed so as to answer the following main question: Is it biblical and
pertinent to use strategic management in pastoring the Church? This main question leads to
five secondary issues: (1) Does the Bible suggest a connection between pastoring and
management? (2) If the answer to the previous question is affirmative, does the Bible support
the use, in church management, of the methods derived from the surrounding culture? (3) Is
this use approved — or at least suggested — by the Westminster Confession of Faith (WCF)?
(4) Does the management model of the Presbyterian Church of Brazil (IPB) leave room for
the use of these methods? (5) Do the worldview and the proposed strategic management
method fit in with the Bible, with the WCF and with IPB practice?
The objectives of this study are: (1) To investigate if the use of strategic management
is biblical for use in the pastoring of the Church. (2) If the reply to the previous question
should be affirmative, to propose a set of biblical management principles and practices,
applicable to the local churches and councils of the IPB.
The research seeks to answer questions on both the academic and the practical level,
considering, a priori, that science aims both at the knowledge of oneself and at practical
contributions resulting from this knowledge.


KEYWORDS
Christianity; Holy Scriptures; Practical Theology; Pastoral Theology; Ecclesiology —
Church Developer; Church Administration; General Theory of Management; Strategic
Management; Management; Leadership.


SUMÁRIO
1 O PROBLEMA.............................................................................................................15
Formulação da Situação-Problema, 15
A Secularização e os Movimentos de Oscilação Numérica da Igreja, 15
Pluralismo Global, Diversidade de Opções Religiosas e
Timidez Missionária, 17
Diversidade de Modelos Eclesiásticos, 18
Perguntas da Pesquisa, 22
Objetivos do Estudo, 24
Justificativa, 24
Hipótese, 27
Moldura Conceitual Assumida, 27
Delimitação, 28
Organização do Restante do Estudo, 29
II. O QUE A LITERATURA SACRA NOS DIZ SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O
PASTOREIO E A ADMINISTRAÇÃO.......................................................................30
2.1 Conceitos Importantes do Segundo Capítulo, 30
2.2 O Ataque de Wagner ao Uso Eclesiástico da Administração, 32
2.3 O Pastoreio Como Cuidado, Liderança e Organização do Rebanho, 36
2.3.1 O Que o Cuidado do Rebanho nos Ensina Sobre
o Pastoreio e a Administração, 36
2.3.1.1 Deus Cuida de Seu Povo, 37
2.3.1.2 Deus Destaca Pessoas Para Cuidar de Seu Povo, 38
2.3.2 O Que a Liderança do Rebanho nos Ensina Sobre
o Pastoreio e a Administração, 39
2.3.2.1 Deus Lidera Seu Povo, 40
2.3.2.2 Deus Destaca Pessoas Para Liderar Seu Povo, 42
2.3.3 O Que a Organização do Rebanho nos Ensina Sobre
o Pastoreio e a Administração, 45
2.3.3.1 Deus Organiza Seu Povo, 45
2.3.3.2 O Povo de Deus Deve Organizar-se, 46
2.4 Primeira Síntese: Pastoreio e Administração São Interdependentes, 47
III. A ADMINISTRAÇÃO ESTABELECIDA NA CRIAÇÃO COMO
NÚCLEO DE SIGNIFICADO DA ESFERA MODAL ECONÔMICA......................48
3.1 Conceitos Importantes do Terceiro Capítulo, 49


3.2 O Relato Cosmogônico, Deus, o Criador-Administrador e a
Administração Como Parte da Criação, 51
3.2.1 No Relato Cosmogônico Deus Pode Ser Visto
Como Criador-Administrador, 52
3.2.2 No Relato Cosmogônico Torna-se Plausível a Idéia da
Administração Como Parte da Criação Divina, 55
3.3 A Administração Subentendida na Antropogonia e nos
Mandatos Criacionais, 58
3.3.1 A Administração Subentendida na Criação do Homem
à Imagem e Conforme a Semelhança de Deus, 58
3.3.2 A Administração Subentendida no
Estabelecimento do Pacto da Criação, 59
3.4 A Administração no Relato da Queda e na Graça Comum, 62
3.5 O Paradigma Cosmonômico e Três Ferramentas de
Análise e Interpretação de Cosmovisões, 68
3.6 Segunda Síntese: O Homem é Administrador do Cosmos
Que Pertence a Deus, 69
IV. O USO DA ADMINISTRAÇÃO EM OUTROS LUGARES DA
ESCRITURA E NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER ...............................71
4.1 José, Administrador do Egito, 71
4.2 Adam Smith, Moisés e a Trindade Econômica:
Digressões Pertinentes Sobre a Divisão do Trabalho, 73
4.3 Jesus, a Luz da Natureza e a Prudência, 78
4.4 Estatística, Organização, Institucionalização e Estratégia em Atos, 82
4.4.1 O Cuidado de Lucas em Registrar Números, 83
4.4.2 Em Atos 6 os Apóstolos Administram Criando
Uma Estrutura Eclesiástica, 83
4.4.3 A Possibilidade de Uso de Planos e Métodos
Nas Viagens de Paulo, 87
4.5 Terceira Síntese: A Igreja Cumpre as Ordenanças Divinas Como
Instituição Administrada Por Homens e Arraigada na Cultura, 93
4.6 A Confissão de Fé de Westminster e o Uso Eclesiástico de Métodos
Administrativos, 94
4.6.1 Quanto à Administração Eclesiástica
a Escritura é Suficiente Mas Não Exaustiva, 94
4.6.2 Algumas Circunstâncias Exigem o Uso de Recursos
Advindos da Cultura, 95
4.6.3 Quarta Síntese: A CFW Propõe Um Princípio Regulador
Para o Governo da Igreja Que, Por Sua Vez,
Admite o Uso da Administração, 95


V. O MODELO DE ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA
PRESBITERIANA DO BRASIL..................................................................................97
5.1 A Divisão do Trabalho Como Ponto de Contato Entre a Teoria
Clássica da Administração e o Modelo de Administração da IPB, 98
5.1.1 Características da Teoria Clássica da Administração, 99
5.1.2 Críticas à Teoria Clássica da Administração, 100
5.1.3 A Teoria Clássica da Administração Influencia a IPB Com
Sua Articulação da Divisão do Trabalho, 101
5.2 Refinamentos da Divisão do Trabalho e Referência ao Planejamento
São os Pontos de Contato Entre a Teoria Neoclássica da
Administração e o Modelo de Administração da IPB, 102
5.2.1 O Pragmatismo da Teoria Neoclássica da Administração, 103
5.2.2 O Refinamento da Divisão do Trabalho na
Teoria Neoclássica da Administração, 103
5.2.3 As Novas Elaborações Referentes ao Planejamento
na Teoria Neoclássica da Administração, 104
5.2.4 Críticas à Teoria Neoclássica da Administração, 105
5.2.5 A Teoria Neoclássica da Administração Influencia a IPB Com
Refinamentos da Divisão do Trabalho e Referência ao
Planejamento, 105
5.3 A Estrutura Racional-Legal e a Cultura Centrada na Inclusão
e Ordem em Detrimento da Produtividade São os Pontos de Contato
Entre o Modelo Burocrático de Administração e o
Modelo de Administração da IPB, 107
5.3.1 O Desenvolvimento do Conceito de Burocracia, 108
5.3.2 O Modelo Burocrático de Administração Brota do Solo
do Capitalismo Social, 108
5.3.3 No Modelo Burocrático a Autoridade é Racional-Legal, 110
5.3.4 No Modelo Burocrático Inclusão e Ordem
Sobrepujam a Produtividade, 112
5.3.5 A Divisão do Trabalho no Modelo Burocrático de Administração, 114
5.3.6 Críticas ao Modelo Burocrático de Administração, 114
5.3.7 A Influência do Modelo Burocrático Sobre a IPB, 117
5.4 Quinta Síntese: O Modelo de Administração da IPB é Uma
Amálgama de Princípios Bíblicos e de Princípios e Práticas
Administrativas Oriundas da Cultura Circundante, 118
VI. CONCEITO, CONTEXTO, PROPOSTA, COSMOVISÃO
NATURALISTA E POSSIBILIDADE DE COSMOVISÃO
CRISTÃ DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA.................................................119
6.1 O Que é Administração Estratégica, 119


6.2 A Administração Estratégica e o Planejamento Estratégico, 120
6.3 A Administração Estratégica e o Novo Capitalismo, 122
6.4 As Diversas Escolas de Formação de Estratégia, 126
6.5 A Cosmovisão Híbrida da Administração Como Um Todo
e da Administração Estratégica Em Particular, 131
6.5.1 Os Pressupostos Evolucionistas da Administração Estratégica, 131
6.5.2 O Hibridismo Paradigmático da Administração Estratégica, 133
6.5.3 Avaliação e Proposta de Reestruturação Cristã da
Cosmovisão da Administração Estratégica, 134
6.6 Contribuições da Administração Estratégica, 136
6.6.1 A Administração Estratégica Focaliza a Execução e
Reconhece o Organizacional, 136
6.6.2 A Administração Estratégica Auxilia as Organizações
a Fazer Ajustes Pertinentes, 137
6.6.3 A Administração Estratégica Responsabiliza a Liderança, 138
6.6.4 A Administração Estratégica Usa Tecnologias
e Métodos Para Otimizar Processos, 139
6.7 Sexta Síntese: O Uso da Administração Estratégica Pela Igreja é
Recomendado, Mas Exige Adaptações Daquela à Cosmovisão Cristã, 140
VII. METODOLOGIA E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ...............................141
7.1 Classificação da Pesquisa, 141
7.2 Coleta de Dados, 142
7.3 Pressupostos Metodológicos, 144
7.4 Limitações do Método, 146
7.5 Resultados da Pesquisa, 147
VIII. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................150
8.1 O Novo Capitalismo e a Nova Civilização, 150
8.2 Duas Ameaças à IPB: Pragmatismo e Alienação, 151
8.3 Aberturas Para a Evangelização, Estabelecimento,
Consolidação e Revitalização da Igreja, 154
8.3.1 No Contexto do Novo Capitalismo Deus Abre Portas
Para a Evangelização, 154
8.3.2 No Contexto do Novo Capitalismo Deus Abre Portas
Para o Estabelecimento, Consolidação e Revitalização de Igrejas, 156
8.4 Esclarecimento Sobre a Missão e Definições de “Visões” da IPB, 157
8.5 A IPB Desejável, 160
8.5.1 A IPB Com Líderes Mais e Melhor Habilitados, 161
8.5.2 A IPB Centrada no Discipulado, 164
8.5.3 A IPB Saudável do Ponto de Vista Organizacional, 165
8.5.4 A IPB Que Pratica a Unidade Bíblica, 167
8.6 Três Usos da Administração Estratégica na IPB, 168


8.6.1 Ajuste da Cultura Organizacional Para a Execução, 169
8.6.2 Formulação e Execução de Estratégias, 175
8.6.3 Otimização dos Processos Administrativos, 179
8.7 Propostas de Capacitação da IPB Para a Administração Estratégica, 181
8.7.1 Alteração do Currículo dos Seminários da IPB, 182
8.7.2 Criação de Curso de Pós-Graduação em Administração Eclesiástica, 182
8.7.3 Criação de Um Centro de Estudos Estratégicos, 183
8.7.4 Criação de Cursos Rápidos de Administração Estratégica, 183
8.8 Uma Nota Sobre os Regulamentos da IPB, 183
8.9 Considerações Finais, 184
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................186
15
CAPÍTULO I
O PROBLEMA
Esta pesquisa trata do uso de métodos gerenciais na igreja, verificando a biblicidade
da utilização da administração estratégica no âmbito da Igreja Presbiteriana do Brasil,
doravante denominada IPB.
Formulação da Situação-Problema
Por “situação-problema”, entenda-se uma “questão não solvida e que é objeto de
discussão”.1
No campo da administração eclesiástica questiona-se qual é o padrão bíblico para
o crescimento da igreja e até que ponto métodos de planejamento são importantes para a sua
gestão. Isso é feito enquanto a igreja é pressionada a mostrar-se relevante e a apresentar
resultados. Pastores e líderes cristãos têm de lidar com o estresse da relevância e
produtividade em um contexto caracterizado por secularização, pluralismo pós-moderno e
diversidade de modelos eclesiásticos.
A Secularização e os Movimentos de Oscilação Numérica da Igreja
O cristianismo ocidental sofre com os efeitos da secularização, considerada por
Bosch2
como uma das responsáveis pela crise relacionada à teologia e missão cristãs. Devido






























 


















1
GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 23.
2
BOSCH, David J. Missão Transformadora. São Leopoldo: Sinodal, 2002, p. 19-21. Alguns dados fornecidos
pela pesquisa de Bosch, publicada em 1991, merecem atualização. O autor do presente projeto reconhece que
16
à secularização, a fé em Deus é considerada “redundante” e pergunta-se sobre a necessidade
de voltar à religião, uma vez que parece plausível — sem a fé — “lidar com as exigências da
vida moderna.” 3
Bosch alinha a secularização ao processo de esvaziamento das igrejas cristãs, tanto
católicas quanto protestantes, ocorrido desde meados do século XX. O autor cita uma
pesquisa de David Barret revelando que, “na Europa e na América do Norte, 53 mil pessoas
em média deixam permanentemente a igreja de um domingo até o seguinte”.4
Tais números
são consistentes com a avaliação que Hobsbawm faz da última década do século XX:
O declínio e queda das religiões tradicionais não era compensado, pelo
menos na sociedade urbana do mundo desenvolvido, pelo crescimento da
religião sectária militante, ou pelo surgimento de novos cultos e
comunidades de culto, e menos ainda pelo evidente desejo de tantos homens
e mulheres de refugiar-se de um mundo que não podiam entender nem
controlar, numa variedade de crenças cuja própria irracionalidade constituía
a sua força. A visibilidade pública dessas seitas, cultos e crenças não deve
desviar a atenção da fraqueza relativa de seu apoio. Não mais de 3% a 4%
dos judeus britânicos pertenciam a qualquer das seitas ou grupos ultra-
ortodoxos. Não mais de 5% da população adulta dos EUA pertenciam às
seitas militantes e missionárias [Pentecostais, Igrejas de Cristo, Testemunhas
de Jeová, Adventistas do Sétimo Dia, Assembléias de Deus, Igrejas da
Santidade, “Renascidos” e “Carismáticos”].5
Em um artigo sobre o estado das igrejas na Europa, publicado em 2001 por um
semanário de circulação nacional no Brasil, descreve-se um quadro semelhante.
Somente 10% dos católicos freqüentam a igreja. A cada ano, diminui em
50.000 a quantidade de ingleses que assistem às missas de domingo. […]
Entre os protestantes, o cenário é igualmente desolador. Somente 3% da
população comparece aos cultos nos países escandinavos. A cúpula da Igreja
Reformada Holandesa está transformando parte de seus complexos
religiosos em hotéis para pagar despesas de manutenção. A Catedral de
Canterbury, de importância central na fé anglicana, fica vazia na manhã de
domingo, o dia mais movimentado em qualquer templo cristão.6






























 


















sugerir generalizações a partir de Bosch abre espaço para a demasiada simplificação de informações que exigem
tratamento mais pormenorizado. Considera-se, porém, que alguns dos pontos levantados em Missão
Transformadora são dignos de nota, uma vez que a essência dos argumentos parece coadunar-se com o quadro
atual enfrentado pela igreja.
3
Ibid., p. 19. Cf. HARRIS, Sam. Carta a Uma Nação Cristã. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, passim.
4
BOSCH, op. cit., loc. cit.
5
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX: 1914-1991. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 544.
6
BARELLA, José Eduardo. Europa sem Deus: Debandada de Fiéis Esvazia a Igreja e Expõe Desencanto
Religioso dos Europeus, in Veja, ed. 1700, ano 34, n. 19 (16.5.2001), p. 61.
17
Em suma, “de súbito, a igreja viu minguar os peixes de suas praias. Viu se erguerem
ondas de autonomia humana, espumadas de criticismo e indução, e da independência da
consciência humana lançando na areia móbil a mornidão de uma religião científica.” 7
Os números de 2008 sugerem um crescimento no percentual de cristãos — de 28%,
em 1999, para 33%.8
Há cerca de uma década, exatamente quando os dados acima eram
levantados e afirma-se a redução numérica — em termos globais — da igreja, um filósofo
católico, escrevendo a partir do contexto europeu, afirmou o seguinte: “As ideologias
construídas sobre a negação de Deus [...] estão se esfacelando [...]. A religião volta a despertar
o interesse de muita gente, inclusive no Velho Mundo [...].” 9
Cabe verificar se o recente aumento numérico das denominações cristãs, bem como o
recrudescimento da motivação religiosa no mundo podem ser compreendidos, de fato, como
crescimento — em termos bíblicos — da igreja, ou se decorrem do pluralismo pós-moderno.10
O ponto aqui é: Pastores e líderes lidam com repercussões da secularização.
Pluralismo Global, Diversidade de Opções Religiosas e Timidez Missionária
No mundo global, a secularização anda de mãos dadas com o pluralismo religioso. As
múltiplas migrações e o intercâmbio de idéias, doutrinas, ideologias e estilos de vida
produzem uma nova interface religiosa. Os cristãos vêem as outras religiões de forma mais
tolerante e, em certos contextos, os adeptos destas religiões “muitas vezes mostram ser mais






























 


















7
GOMES, Wadislau Martins. Psicologização do Púlpito e Relevância na Pregação, in Fides Reformata, v. X, n.
1 (2006), p. 12, grifo do autor.
8
Os dados (28% em 1999) são de SINE, Tom. O Lado Oculto da Globalização: Como Defender-se dos
Valores da Nova Ordem Mundial. São Paulo, Mundo Cristão, 2001, p. 165. Uma possibilidade interessante
de pesquisa é a análise da relação entre globalização e secularização. Os números atuais são extraídos de
FORBES, Scott et al. Geographica World Atlas & Enciclopedia. Special Edition. Australia: Random House
Australia, 2008, p. 72-73.
9
MONDIN, Battista. Quem é Deus? Elementos de Teologia Filosófica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005, p. 6.
10
Isso não cabe a esta pesquisa responder. Registra-se, no entanto, como uma sugestão para trabalhos
posteriores.
18
ativa e agressivamente missionários do que o são os membros de igrejas cristãs”.11
Bosch
argumenta que os cristãos ocidentais não empreendem maciços programas de expansão.12
Neste mosaico encontram-se o islamismo, já contabilizado como a segunda maior
religião do mundo,13
o hinduísmo e o budismo, bem como as novas religiões, criadas a partir
de colagens de crenças antigas ou de elaborações completamente originais.
O hinduísmo e o budismo são hoje as religiões de maior crescimento na
Austrália. Quem vive nos países ocidentais já não tem limitações quanto a
que ramificações do cristianismo escolher. Como conseqüência da
globalização, as pessoas hoje têm acesso não só a todas as religiões mundiais
históricas, mas também a uma explosão de alternativas.14
Diversidade de Modelos Eclesiásticos
No mundo dividido entre ricos e pobres, são espiritualizados os princípios bíblicos
relacionados à ética econômica ou criam-se novas versões do evangelho, nas quais a promessa
de riqueza vem mesclada ou até mesmo substitui o anúncio de reconciliação através de Jesus
Cristo. Onde ocorre essa mistura entre evangelho e prosperidade, surgem novas versões de
cristianismo, com seus respectivos modelos eclesiásticos, dentre eles, a “nova igreja” descrita
por Charles Trueheart, no Atlantic Monthly de agosto de 1996:
A nova igreja está redefinindo a natureza e o papel da própria comunidade
por seu excelente desempenho em cinco práticas básicas: ênfase na liderança
e no desenvolvimento de lideranças, redes de conhecimento na comunidade,
relevância cultural, ênfase no atendimento das necessidades individuais
dentro do contexto de uma comunidade e mobilização da paróquia. Ao
perseguir esses processos com grande propósito, a nova Igreja cria uma






























 


















11
BOSCH, op. cit., p. 20.
12
Ibid., loc. cit.
13
BBC BRASIL.COM. Fiéis do Islã Formam a 2ª Maior Religião do Mundo. [s.l.]: BBC Brasil, [200-?]. Disponível
em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI141888-EI312,00.html>. Acesso em: 10 jun. 2004. Cf.
FORBES, op. cit., loc. cit., depois do cristianismo, com 33%, estão o islamismo, com 19.6%, os não-religiosos,
13%, o hinduísmo,12.8%, as religiões tradicionais chinesas, 6.2%, o budismo, 6%, outras religiões, 4.7%,
religiões étnicas, 4%, siquismo, 0.4% e judaísmo, 0.3%.
14
SINE, op. cit., p. 163.
19
massa crítica cujo porte lhe permite ser o que a igreja tradicional não pode:
uma igreja que oferece “serviço completo.” 15
A dificuldade surge da expressão “serviço completo”. Um best-seller sobre
crescimento de igrejas propõe as seguintes perguntas para a elaboração de um “plano de
integração”: “Quais as necessidades mais importantes de nossos membros?” e “quais são as
maiores necessidades de nossos membros mais antigos?”.16
Outro autor, que chama a atenção
para a necessidade das igrejas serem “amigáveis” e “acolhedoras”, afirma que cada cristão “é
um gerente de marketing”.17
Tal modelo é denominado seeker friendly, ou seja, adaptado ao
usuário ou orientado para o consumidor.18
Especialmente na última década, além do modelo seeker friendly, pastores e líderes
brasileiros têm sido apresentados a outras propostas de “pacotes” ministeriais: Igreja em
células segundo Robert Lay,19
igreja em células no modelo G-12 20
e, por fim, o fenômeno da
igreja emergente, que não pode ser considerado como um movimento, nem mesmo uma
iniciativa denominacional; talvez seja mais adequada a referência a “igrejas emergentes” —
grupos multifacetados que abraçam determinada perspectiva. Segundo Meister, trata-se de
uma tentativa de redefinir completamente as comunidades cristãs, adaptada ao pós-
modernismo e caracterizada pelas “atitudes de pluralismo e protesto, demonstradas através de






























 


















15
BUFORD, Bob. Os Baby Boomers, as Igrejas e os Empreendedores Podem Transformar a Sociedade. In:
HESSELBEIN, FRANCES. et al. (Ed.). A Comunidade do Futuro: Idéias Para Uma Nova Comunidade. São
Paulo: Futura, 1998, p. 51, grifo nosso.
16
WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 377, 378, grifos nossos.
17
BARNA, George. Igrejas Amigáveis e Acolhedoras. São Paulo: Abba Press, 1995, p. 99-107; cf. PEREIRA,
C. e LINHARES, J. Os novos pastores, in Veja, ed. 1964, ano 39, n. 27 (12.7.2006), p. 76-85.
18
MEISTER, Mauro. Igreja Emergente, a Igreja do Pós-Modernismo? Uma Avaliação Provisória, in Fides
Reformata, v. XI, n. 1 (2006), p. 102.
19
Sobre esse modelo, cf. NEIGHBOUR JR., Ralph W. Manual do Líder de Célula: Fundamentação Espiritual e
Prática Para Líderes de Células. 2. ed. Curitiba: Ministério Igreja em Células, 1999; LAY, Robert Michael. O
Ano da Transição: Vamos Mostrar a Você Como Fazer!!! Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005. Uma
proposta semelhante é encontrada em EBERT, Claudio Ernani. Grupos Familiares: Um Modelo Brasileiro. São
Paulo: Vida, 1997. Outra abordagem digna de nota é a de KORNFIELD, David; ARAÚJO, Gedimar de.
Implantando Grupos Familiares: Estratégia de Crescimento Segundo o Modelo da Igreja Primitiva: Manual
Para Líderes. São Paulo: Editora SEPAL, 1995.
20
Sobre o modelo de igreja em células G-12, cf. BATISTA, Jôer Corrêa; SAHIUM, Leonardo; BATISTA,
Jocider Corrêa. G12 História e Avaliação. Goiânia: Seminário Presbiteriano Brasil Central, 2000;
FIGUEIREDO, Onezio. Os Segredos do G-12. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
20
sua definição missional, uso da linguagem, expressão de culto e pregação”.21
O mesmo autor
considera que a igreja emergente nega a “possibilidade de qualquer metanarrativa
abrangente”.22
Isso equivale a dizer que, ao mesmo tempo em que rejeita o modelo seeker
friendly, descarta qualquer tentativa de sistematização doutrinária:
O que necessitamos é de algo vivido, não apenas falado ou escrito. A última
coisa de que necessitamos é de um novo grupo de reformadores orgulhosos,
superprotestantes, hiperpuritanos, ultra-restauracionistas que digam: “só nós
estamos certos!” 23
Eis o dilema para os pastores e líderes — especialmente, da IPB. Uma leitura
superficial dessas propostas pode produzir a noção de que igrejas que não são plenamente
eficientes no “atendimento” de sua membresia ou comunidade (proposta seeker friendly), não
assumem modismos metodológicos ou não abandonam o padrão modernista a fim de
adotarem o pós-modernismo (proposta da igreja emergente) são irrelevantes. Abre-se espaço
para um perigoso desdobramento funcional: Teologias e práticas das igrejas tradicionais
podem ser descartadas ou consideradas relativas. Todo o conjunto do cristianismo ocidental é
visto com suspeitas — como algo a ser relido e adaptado. Diante disso, como pastorear e gerir
a igreja, de modo a garantir sua fidelidade e saúde, nos termos da Escritura?
Em um sermão pregado em 1959, o Dr. Martin Lloyd-Jones chamou a atenção para
esse desafio:
[...] a não ser que nós, individualmente como cristãos, sintamos uma
preocupação séria acerca da condição da Igreja e do mundo hoje em dia,
então somos cristãos muito medíocres. Se nos associamos com a Igreja
Cristã simplesmente para recebermos ajuda pessoal, e nada mais, então
somos meras crianças em Cristo.24
Na ocasião o pregador desafiou seus ouvintes a não permitir que “métodos”
substituam a dependência da igreja do poder do Espírito Santo.25
Nesse ponto ele é seguido






























 


















21
MEISTER, op. cit., p. 95.
22
Ibid., p. 97.
23
MCLAREN, Brian. Uma Ortodoxia Generosa: A Igreja Em Tempos de Pós-Modernidade. Brasília: Editora
Palavra, 2007, p. 26.
24
LLOYD-JONES, D. Martin. Avivamento. 2.ed. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, p. 12.
25
Ibid., passim.
21
por outros autores. Alguns se dedicam ao estudo das raízes da secularização da igreja,26
outros, aos problemas específicos de sua atual teologia e prática,27
ou, mais especificamente,
às ciladas desta nova mentalidade para a identidade e integridade pastoral.28
Outros constatam
que a igreja está confusa quanto à sua missão — ou pelo menos, quanto ao modo bíblico de
cumpri-la.29
De modo geral, externaliza-se o sentimento de que a secularização e pós-
modernidade, amalgamadas na sopa do mundo globalizado, têm contribuído para o declínio e
o mundanismo da igreja.
Diante de tal quadro, como prosseguir na caminhada do pastoreio? Um escritor cristão
popular propõe uma síntese amadurecida:
A igreja que fica sentada de cara fechada ao futuro, pouco fazendo além de
lustrar os louros de ontem, se tornará uma igreja à qual falta relevância e
entusiasmo. Ao mesmo tempo, a igreja que amolecer sua posição teológica e
alterar a Escritura para combinar com o estilo do futuro, perderá seu poder.30
A palavra de Swindoll foi publicada no mesmo ano que, em Cambridge,
Massachusetts, líderes cristãos se uniram em torno de um pacto reformado. Em uma reunião
convocada pela Aliança de Evangélicos Confessionais, ocorrida de 17 a 20 de abril de 1996,
120 pastores, docentes e líderes evangélicos de organizações paraeclesiásticas assinaram a
Declaração de Cambridge, um documento que convoca a igreja ao arrependimento de seu






























 


















26
Cf. SOUZA, Jadiel Martins. Charles Finney e a Secularização da Igreja. São Paulo: Parakletos, 2002; SINE,
op. cit., passim.
27
Cf. BANKS, Robert. A Teologia Nossa de Cada Dia: Aplicando os Princípios Teológicos no Cotidiano. São
Paulo: Editora Vida, 2004; HORTON, Michael Scott. (Ed.). Religião de Poder: A Igreja Sem Fidelidade Bíblica
e Sem Credibilidade no Mundo. São Paulo: Cultura Cristã, 1998; MACARTHUR JR., John F. Com Vergonha do
Evangelho. São José dos Campos: Fiel, 1997; NASH, Laura; MACLENNAN, Scotty. Igreja aos Domingos,
Trabalho às Segundas: O Desafio da Fusão de Valores Cristãos com a Vida dos Negócios. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2003; ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise. São Paulo: Mundo Cristão, 1995 e VIEIRA,
Samuel. O Império Gnóstico Contra-Ataca. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.
28
Cf. HANSEN, David. A Arte de Pastorear. Santo Amaro: Shedd Publicações, 2001; PETERSON, Eugene H.
À Sombra da Planta Imprevisível: Uma Investigação da Santidade Vocacional. Campinas: Editora United Press,
2001; PETERSON, Eugene H. O Pastor Contemplativo: Voltando à Arte do Aconselhamento Espiritual. Rio de
Janeiro: Textus, 2002; SITTEMA, John. Coração de Pastor: Resgatando a Responsabilidade Pastoral do
Presbítero. São Paulo; Cultura Cristã, 2004; STEUERNAGEL, Valdir; BARBOSA, Ricardo. (Ed.). Nova
Liderança: Paradigmas de Liderança em Tempo de Crise. 2. ed. Curitiba: Encontro, 2003; WHITE, Peter. O
Pastor Mestre. São Paulo: Cultura Cristã, 2003 e ARMSTRONG, John. (Org.). O Ministério Pastoral Segundo a
Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
29
BOSCH, op. cit., passim.
30
SWINDOLL, Charles L. A Noiva de Cristo: Renovando Nossa Paixão Pela Igreja. São Paulo: Editora Vida,
1996, p. 141.
22
mundanismo, e para incorporar a verdade divina na doutrina, no culto e na vida.31
Tal
iniciativa preconiza um movimento na direção do equilíbrio: Reconhece-se que a igreja deve
ser relevante e bíblica.
É aqui que se coloca este estudo sobre o uso eclesiástico de métodos gerenciais
seculares, especialmente a administração estratégica. Espera-se contribuir para uma maior
compreensão do assunto à luz das Escrituras e disponibilizar recursos úteis para o pastoreio e
edificação da igreja. Ao focalizar a IPB, esta pesquisa revela sua intenção de contribuir para o
fortalecimento desta federação de igrejas cristãs.
Perguntas da Pesquisa
Esta pesquisa se ocupa com o seguinte problema central: É bíblico e pertinente o uso,
no pastoreio da igreja, da administração estratégica? A resposta a esta indagação exige seu
desdobramento em cinco questões subsidiárias: (1) A Bíblia sugere o vínculo entre pastoreio e
administração? (2) Se a resposta à questão anterior for positiva, a Bíblia apóia o uso, na
administração da igreja, de métodos oriundos da cultura circundante? (3) Tal uso é aprovado
— ou pelo menos sugerido — pela Confissão de fé de Westminster, doravante denominada
CFW?32
(4) O modelo de administração da IPB, definido em seu Manual presbiteriano,
doravante denominado MP, abre espaço para o uso destes métodos? (5) A cosmovisão e a
metodologia da administração estratégica condizem com a Bíblia, com a CFW e com a prática
da IPB? Todas essas questões envolvem “variáveis que podem ser tidas como testáveis.” 33






























 


















31
BOICE, James M. et al. Reforma Hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, passim.
32
ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER. Símbolos de Fé, Contendo a Confissão de Fé, Catecismo Maior/Breve.
São Paulo: Cultura Cristã, 2005. CFW, passim.
33
GIL, op. cit., p. 24.
23
A primeira questão subsidiária estabelece a base para o restante da pesquisa. Somente
se a Escritura apoiar o uso da administração no pastoreio é que será possível falar da
possibilidade de uso, na igreja, de métodos administrativos.
A segunda questão subsidiária, como já foi dito, depende da resposta positiva à
questão anterior. A partir do atendimento daquele quesito, discute-se a possibilidade da Bíblia
apoiar o uso, na administração eclesiástica, de métodos oriundos da cultura não-cristã.
Atualiza-se o dilema Justino-Tertulianista,34
agora aplicado à condução da igreja. Uma
resposta para essa questão é instilada a partir da leitura dos primeiros quatro capítulos de
Gênesis e do exame de alguns relatos extraídos do Antigo e Novo Testamentos.
A terceira questão subsidiária checa se a leitura doutrinária oferecida pela CFW dá
abertura para o uso de tais métodos. Isso é importante uma vez que a IPB é confessional, ou
seja, “adota [...] como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os
Catecismos Maior e Breve”.35
Para manter-se fiel à Constituição, tanto as igrejas locais
federadas quanto as instâncias conciliares da IPB devem assumir práticas de ministério
consistentes com a CFW — qualquer prática que contrarie a CFW é, prima facie,
inconstitucional.
A quarta questão subsidiária diz respeito ao modelo administrativo preconizado pela
IPB. Aqui se busca compreender o modelo organizacional que rege a atual administração da
IPB, e as possibilidades de inserção de novas e adequadas metodologias de liderança e
gerenciamento.
A quinta e última questão subsidiária trata da administração estratégica em si — sua
cosmovisão e contribuições metodológicas. Seriam estas condizentes com a Bíblia, a CFW e a






























 


















34
Trata-se do antagonismo entre a revelação e a filosofia, personificado pelos pais apologistas Justino Mártir (c.
100 — c. 165), que tentou relacionar o evangelho com a filosofia grega e Tertuliano (c. 160 — c. 225), que
considerava errado o uso, pelos cristãos, de qualquer filosofia secular. Sobre essa questão, cf. McGRATH,
Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica. Santo Amaro: Shedd Publicações, 2005, p. 44-45.
35
Constituição Interna da Igreja Presbiteriana do Brasil, doravante denominada CI/IPB, Capítulo I, Art. 1, grifo
nosso. In: CAMPOS, Silas. (Org.) Manual Presbiteriano Com Jurisprudência. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 8.
24
prática da IPB? A ponta final da pesquisa é amarrada, propiciando responder à questão
principal. Espera-se assim, cumprir o que está sendo prometido nessa introdução.36
Objetivos do Estudo
Os objetivos deste estudo são: (1) Investigar se é bíblico o uso da administração
estratégica no pastoreio da igreja; (2) se a resposta à questão anterior for positiva, propor um
conjunto de princípios e práticas bíblicas de administração, aplicável às igrejas locais e
concílios da IPB.
O primeiro objetivo atende às demandas deste trabalho como pesquisa acadêmica, o
segundo, como projeto ministerial aplicado. Ambos os aspectos são importantes, uma vez que
“a maior sabedoria, não transformada em ação ou atuação, é um dado sem sentido”,37
ou, nas
palavras de Blake e Mouton, citadas por Caravantes, Panno e Kloeckner:
Ação sem conceitos para orientá-la é pouco mais do que experiência e erro, e
nesse sentido deve-se considerar altamente relevante ter-se conceitos claros
e válidos. Mas conceitos sem ação representam pouco mais do que jogos
intelectuais. Não importando o quanto sejam invisíveis ou não reduzidas a
uma fórmula, todas as ações humanas têm um conceito que lhes é
subjacente.38
Cada etapa da pesquisa contempla essas duas vias, teórica e prática.
Justificativa
Assumindo o pressuposto de que o ofício pastoral é uma dádiva divina para o governo
da igreja pela Palavra de Deus (Ef 4.11-14),39
esta pesquisa reconhece que, na IPB, a






























 


















36
ECO, Umberto. Como Se Faz Uma Tese. 19. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 84.
37
DRUCKER, Peter F. O Gerente Eficaz. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1990, p. 4.
38
CARAVANTES, Geraldo R.; PANNO, Cláudia C.; KLOECKNER, Mônica C. Administração: Teorias e
Processo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005, p. 210.
39
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 538-539; Bíblia de Estudo
de Genebra, doravante designada BEG. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999,
25
administração é considerada como atribuição dos presbíteros regentes e docentes.40
Daí a
necessidade de elucidar a natureza e o modo de exercício desse governo.
Será que o governo da igreja pela Palavra refere-se exclusivamente às tarefas
identificadas como tradicionalmente pastorais, tais como pregar, doutrinar, aconselhar,
acompanhar as ovelhas nos momentos mais relevantes de suas vidas, orar pelo e com o
rebanho, conduzir a adoração e exercer a disciplina? Ou tem a ver, também, com liderar e
gerenciar?
Na primeira perspectiva cabe ao pastor libertar-se, o máximo possível, de qualquer
encargo considerado administrativo. Se biblicamente não houver base para ligar o pastoreio à
administração, abre-se espaço para uma disjunção conceitual relacionada à condução da
igreja. Torna-se plausível enxergar o serviço pastoral e a administração como excludentes, ou,
na melhor das hipóteses, sobrepondo-se ocasionalmente por força de exigências meramente
operacionais. A administração pode ser vista como incumbência “mundana”, inserida por
decreto conciliar no “serviço divino”, uma espécie de fardo desagradável, mas, necessário.
Há, inclusive, a possibilidade de enxergar os diáconos como responsáveis pela administração,
a fim de desonerar o presbiterato para o pastoreio.41
O problema é que, nos moldes da CI/IPB,
o pastor possui “autoridade de ordem”,42
é o presidente da assembléia local,43
o
superintendente (um termo gerencial) das atividades da igreja,44
o presidente de seu
Conselho45
e aquele que a representa “ativa, passiva, judicial e extra-judicialmente.” 46






























 


















p. 1501; CALVINO, João. Comentário à Sagrada Escritura: Novo Testamento: Efésios. São Paulo: Paracletos,
1998, p. 121-122.
40
CI/IPB, Capítulo IV, Seção 2ª, Artigos 36, 38; Capítulo V, Seção 2ª, Artigos 78, 80 e 83. In: CAMPOS, op.
cit., p. 21, 32-34.
41
A passagem de Atos 6.1-7 tem sido citada de forma a sustentar isso. Uma proposta de interpretação desse
texto é fornecida na seção 4.4.2.
42
CI/IPB, Capítulo I, Artigo 3, § 2°. In: CAMPOS, op. cit., p. 9.
43
Ibid., Capítulo II, Artigo 10, p. 12.
44
Ibid., Capítulo IV, 2ª Seção, Art. 36, alínea “d”, p. 21.
45
Ibid., Capítulo V, Seção 2ª, Artigo 78, p. 32-33.
46
Ibid., Modelo de Estatutos Para Uma Igreja Local, Capítulo II, Artigo 3º, Parágrafo único, p. 225-232.
26
Na segunda perspectiva, presbíteros docentes e regentes assumem a administração
convictos de que a Escritura não apenas permite, mas, insiste em que eles administrem. Eles
podem administrar estrategicamente, ou seja, com vistas a aperfeiçoar os processos relativos
ao cuidado do rebanho. Tal perspectiva não é isenta de problemas: A condução da igreja pode
ser encarada a partir de uma ótica meramente institucional47
e o organismo pode ser sufocado
pela organização. Nesse caso, “as regras burocráticas” passam a servir “à própria
burocracia”.48
O aspecto positivo é que há a plausibilidade dos responsáveis pelo pastoreio da
igreja servirem a Deus sem dicotomias e, por conseguinte, de forma mais fiel às Escrituras,
prazerosa e produtiva.
O outro benefício proporcionado por esta pesquisa é a própria possibilidade de
reflexão sobre a igreja como organização. Como afirma McGrath, “estudar as diversas
perspectivas cristãs sobre a igreja significa adquirir uma noção sobre a maneira como as
instituições adaptam-se às mudanças com a finalidade de sobreviver”.49
Nesses termos, parece
pertinente a investigação da validade do uso da administração estratégica como meio de
aprimoramento da organização da igreja, a fim de mantê-la focalizada em alvos condizentes
com a Bíblia Sagrada.
Ademais, o surgimento de novos modelos eclesiásticos, citados alhures, bem como a
ausência de divulgação de pesquisas sobre administração estratégica no contexto das igrejas
reformadas, acentuam a necessidade deste trabalho.
Haveria prejuízo em deixar de lado esta investigação? São sugeridas seis
possibilidades de conseqüências negativas: (1) Uma percepção da administração como
elemento alienígena no serviço pastoral; (2) a partir desta percepção, o estabelecimento de
um falso dilema entre o pastoreio e a administração; (3) a dificuldade em identificar, para






























 


















47
Cf. MUNIZ, Adir Jaime de Oliveira; FARIA, Herminio Augusto. Teoria Geral da Administração: Noções
Básicas. 5. ed. rev. e ampliada. São Paulo: Atlas, 2007, p. 68, “a institucionalização deve ser compreendida
como a emergência de padrões de interação e de adaptação das organizações em resposta ao ambiente.”
48
SENNETT, Richard. A Cultura do Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2006, p. 37.
49
McGRATH, op. cit., p. 543.
27
os procedimentos administrativos, um alicerce bíblico adequado, ou, ainda pior; (4) o total
desinteresse nesse alicerce, o que pode ocasionar em direção esquizofrênica da igreja —
zelo na pregação ou orientação “religiosa” e aplicação de modelos ministeriais, práticas
ou dinâmicas administrativas que contradizem as Escrituras e a CFW; (5) descaso para
com as práticas administrativas da IPB, definidas no MP; (6) descaso para com a
administração estratégica da igreja, limitando suas possibilidades de fazer frente às
demandas ministeriais atuais.
Em suma, é recomendável lidar com tais questões. A presente averiguação é
pertinente.
Hipótese
A hipótese substantiva do estudo antecipa que, de acordo com as Escrituras, a CFW, o
MP e a prática conciliar da IPB, a administração — e, por conseguinte, a administração
estratégica — pode e deve ser utilizada no pastoreio da igreja. Tal uso, porém, exige sua
adaptação à cosmovisão cristã.
Moldura Conceitual Assumida
A moldura conceitual assumida nesta pesquisa é uma síntese do paradigma
cosmonômico — o conjunto bíblico de asserções sobre cosmogonia, antropogonia, mandatos
criacionais, queda e graça comum, articulado pela filosofia da idéia cosmonômica de Herman
Dooyeweerd (1894 - 1977)50
— e das ferramentas de análise e interpretação de






























 


















50
Tal perspectiva enxerga a administração como ligada à criação divina — como núcleo de significado
do aspecto modal econômico. Cf. OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. A Relevância Transcendental do Deum Et
28
cosmovisões sugeridas por Nancy Pearcey.51
. As categorias avaliativas propostas por
Pearcey (criação, queda e redenção) são utilizadas para averiguar a cosmovisão que
sustenta a administração estratégica.
Delimitação
O estudo se limita a responder às perguntas da pesquisa (p. 22). As respostas são
sugeridas a partir da análise de dados provenientes das Ciências Aplicadas — Administração;
Ciências Sociais — Economia; História; Filosofia e Religião — Bíblia, Teologia e
Administração Eclesiástica.
Tal escopo pode parecer demasiadamente teórico para um projeto de Doutorado
em Ministério. O autor parte do pressuposto, porém, que toda prática de gerenciamento
reflete uma ou mais molduras conceituais e que o pastoreio contemporâneo exige a
releitura cristã de tais molduras, bem como a aplicação de metodologias administrativas
condizentes com as Sagradas Escrituras, com a CFW e com o MP. Ademais, a partir do
processamento dos dados coletados, o trabalho propõe princípios práticos para a
administração de igrejas e concílios da IPB.






























 


















Animam Scire no Pensamento de Herman Dooyeweerd. São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
Andrew Jumper, 2004. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper; GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética: Respostas aos Críticos da Fé
Cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 288-291; CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. Sociedade, Justiça
e Política de Cosmovisão Cristã: Uma Introdução ao Pensamento Social de Herman Dooyeweerd. In:
CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. (Org.). Cosmovisão Cristã e Transformação. Viçosa: Ultimato, 2006,
p. 189-217.
51
Cf. PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo De Seu Cativeiro Cultural. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2006, p. 49-51. Mais informações sobre o paradigma
cosmonômico e as ferramentas de análise e interpretação de cosmovisões são fornecidas nas seções 3.2.2 e 3.5.
O autor reconhece que seria interessante analisar com mais profundidade tanto a cosmonomia proposta por
Dooyeweerd — incluindo-se os argumentos daqueles que a rejeitam — quanto as idéias sobre cosmovisão
propostas por Pearcey, mas isso foge ao escopo deste projeto. Ambos os arcabouços teológico-filosóficos são
aqui assumidos como pressupostos.
29
Organização do Restante do Estudo
No primeiro capítulo o assunto da pesquisa é apresentado, definido e caracterizado.52
Os capítulos dois a seis fornecem um apanhado das fontes primárias relevantes para o
estudo.
O sétimo capítulo explica a metodologia e apresenta os resultados do estudo, que são
avaliados com relação às pretensões iniciais do pesquisador.
O último capítulo traz as considerações finais e propõe um conjunto de princípios e
práticas bíblicas de administração, aplicável às igrejas locais e concílios da IPB.
































 


















52
ABRAHAMSOHN, Paulo. Redação Científica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004, p. 25.
30
CAPÍTULO II
O QUE A LITERATURA SACRA NOS DIZ SOBRE A
RELAÇÃO ENTRE O PASTOREIO E A ADMINISTRAÇÃO
Este capítulo apresenta possibilidades de relação entre o serviço pastoral e a
administração, respondendo assim à primeira questão subsidiária. Os dados da Sagrada
Escritura, relativos ao serviço pastoral, são compulsados e devidamente organizados em
três grupos: Cuidado, liderança e organização da igreja.
2.1 Conceitos Importantes do Segundo Capítulo
Uma vez explicado o propósito do capítulo, alguns termos necessitam de definição.
Pastoreio é sinônimo de serviço pastoral e significa o conjunto de ações, biblicamente
modeladas, empreendido para o agrado de Deus e a edificação da igreja.
Administração é “a condução racional das atividades de uma organização, seja ela
lucrativa ou não-lucrativa”,53
com a finalidade de “planejar, organizar, dirigir e controlar o
uso de recursos organizacionais, para alcançar determinados objetivos de maneira eficiente e
eficaz”.54
Administração eclesiástica é a condução das estruturas institucional, orgânica e
comunitária da igreja, mediante princípios, normas, funções e procedimentos, com a
finalidade de cumprir seus objetivos biblicamente orientados.55
A administração estratégica é






























 


















53
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração: Uma Visão Abrangente da Moderna
Administração das Organizações: Edição Compacta. 3. ed. rev. e atualizada. 4ª reimp. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004, p. 2.
54
Ibid., p. 17.
55
Adaptado de OLIVEIRA, Djalma de Pinha Rebouças de. Administração Estratégica na Prática: A
Competitividade Para Administrar o Futuro das Empresas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 4; CARVALHO,
31
um processo — um “conjunto completo de compromissos, decisões e ações necessários para
que a empresa obtenha vantagem competitiva e retornos acima da média.” 56
Eficiência “significa fazer bem e corretamente as coisas. O trabalho eficiente é um
trabalho bem executado”. Eficácia “significa atingir objetivos e resultados. Um trabalho
eficaz é um trabalho que resulta proveitoso e bem-sucedido.” 57
A administração compreende tanto liderança quanto gerenciamento. A liderança é a
dinâmica através da qual “uma pessoa influencia um grupo de indivíduos a alcançar um alvo
comum”,58
e o gerenciamento é o feixe de procedimentos voltados para que algo necessário
seja realizado.59
Enquanto a liderança estabelece uma direção, reúne e capacita a equipe e
fornece motivação e inspiração, o gerenciamento planeja, edifica, organiza, supervisiona o
trabalho e resolve problemas.60
Outro conceito útil é o de magistério, aqui entendido como “esfera de autoridade ou
domínio de competência.” 61
O termo cosmovisão, de modo geral, é usado significando o “conjunto ordenado de
proposições em que se acredita, especialmente proposições acerca das questões mais
importantes da vida”.62
A palavra traduz o vocábulo alemão “Weltanschauung, [...] ‘modo de
olhar o mundo’ (welt, ‘mundo’; schauen, ‘olhar’).” 63
Cosmovisão cristã, por sua vez, é a visão bíblica do mundo, neste trabalho, mais
especificamente, a visão de mundo segundo o paradigma cosmonômico.






























 


















Antonio Vieira de. Planejando e Administrando as Atividades da Igreja. São Paulo: Hagnos, 2004, p. 37;
KILINSKI, Kenneth K. Organização e Liderança na Igreja Local. São Paulo: Vida Nova, 1987, p. 119.
56
HITT, Michael; IRELAND, R. Duane; HOSKISSON, Robert E. Administração Estratégica: Competitividade
e Globalização. 7. ed. norte-americana, 2. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2008, p. 6.
57
CHIAVENATO, op. cit., loc. cit.; cf. MUNIZ; FARIA, op. cit., p. 109: “Eficácia é o ato de produzir os
resultados desejados e a eficiência é a capacidade para produzir um efeito.”
58
NORTHOUSE, Peter G. Leadership: Theory and Practice. 3. ed. Thousand Oaks: SAGE-USA, 2003, p. 3,
tradução nossa.
59
DRUCKER, op. cit., p. 1-8.
60
NORTHOUSE, op. cit., p. 8-9.
61
McGRATH, Alister; McGRATH, Joanna. O Delírio de Dawkins: Uma Resposta ao Fundamentalismo Ateísta
de Richard Dawkins. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 56-57.
62
MORELAND, J. P.; CRAIG, William Lane. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 29.
63
PEARCEY, op. cit., p. 26.
32
2.2. O Ataque de Wagner ao Uso Eclesiástico da Administração
O estudo bíblico que se segue é importante em virtude da polarização estabelecida
entre pastoreio e administração. Neste embate destaca-se Glenn Wagner,64
cuja obra é bem-
vinda no sentido de fornecer material para reflexão sobre os perigos apresentados pela
secularização e mercantilização da igreja, mas comete a falácia do falso dilema ao propor “um
número limitado de alternativas dentre todas as possíveis, em muitos casos já sugerindo,
tendenciosamente, uma delas como sendo verdadeira.” 65
Ele entende que a igreja tem substituído “o modelo de comunidade pelo modelo
empresarial”.66
Ao assumir esse último, o pastor vende a sua alma.67
Sem conceituar tais
modelos, ele prossegue comparando-os. Estruturas empresariais não produzem comunidades.
As pessoas sentem-se usadas pelas empresas ou corporações, não nutridas por elas.68
O
modelo empresarial enfatiza programas, produtos, tarefas, controle, benefícios e vantagens,
dinheiro, emprego, cargos, produção, sistemas de organização, regras, normas e
regulamentos, gerenciamento, competição, produtividade, lucros, números e estatísticas,
promoção, marketing, exigências, imagem exterior e cronogramas. O modelo comunitário,
pelo contrário, destaca pessoas, senso de propósito, capacitação, bênção, ministério,
encorajamento, provisão, salvação, discipulado, investimento em vidas, compaixão,
crescimento pessoal, dedicação, relacionamentos, amizade, convivência, organismo e linhas
de comunicação.69






























 


















64
WAGNER, Glenn. Igreja S/A: Dando Adeus à Igreja-Empresa Recuperando o Sentido da Igreja-Rebanho.
São Paulo: Editora Vida, 2003.
65
NAVEGA, Sergio. Pensamento Crítico e Argumentação Sólida: Vença Suas Batalhas Pela Força das
Palavras. São Paulo: Publicações Intelliwise, 2005, p. 165.
66
WAGNER, op. cit., p. 26.
67
Ibid., p. 28.
68
Ibid., p. 29.
69
Ibid., p. 30.
33
A comparação de um líder com um pastor70
produz resultado semelhante. O líder,
segundo Wagner, usa as pessoas como objetos “para alcançar os fins da organização”, ele se
porta como um “gerente ou administrador”, concentrado em “programas”. Ademais, orienta-
se “por um modelo de atividade empresarial, construído sobre fundamentos psicológicos e
sociológicos”, em busca de “auto-satisfação” e “auto-referência”. O pastor, por sua vez,
prioriza relacionamentos, encoraja o “rebanho” e investe no “crescimento das pessoas”,
orientando-se “por um modelo bíblico enraizado na identidade de Cristo como o Bom Pastor”,
com a finalidade última da “realização espiritual e uma absoluta dependência em Deus.”
Wagner questiona a utilidade, para o crescimento da igreja, das técnicas e princípios
de gerenciamento, tais como declarações de propósito, declarações de visão e planejamento
estratégico.71
Ele entende que o alvo principal do pastor não é articular uma grande visão, mas
ajudar suas ovelhas a confiar nele e conhecê-lo.72
A Bíblia “não requer que participemos de
sessões de planejamento estratégico ou de seminários de liderança ou nos formemos em
administração financeira.” 73
Toda essa argumentação é levada adiante com o propósito de alertar os leitores,
especialmente os pastores ou interessados em ingressar no ministério, para a necessidade de
“iniciar com a Palavra de Deus. Nossa filosofia de ministério deve ser fundamentada na
teologia bíblica.” 74
O problema do argumento de Wagner é que ele força o leitor a abraçar um dos dois
modelos, desconsiderando a possibilidade de um terceiro: O do pastor que cuida
administrando, um tipo de condução designado pela moderna administração de liderança






























 


















70
Ibid., p. 160.
71
Ibid., p. 24.
72
Ibid., p. 165, 166.
73
Ibid., p. 123.
74
Ibid., p. 77.
34
servil.75
Pollard76
descreve o líder servidor como alguém que presta um serviço e reconhece
que as pessoas possuem dignidade, por terem sido criadas conforme a imagem e semelhança
de Deus. Este líder se sacrifica pelos seguidores, faz acontecer, ou seja, é voltado para o
desempenho, mas orientado pelo valor, doa ao invés de tomar, promove a diversidade e a
mútua colaboração e se preocupa com o bem-estar de seus liderados. Ele afirma que “um líder
com intenção de servir pode proporcionar esperança, [...] e pode ser um exemplo para aqueles
que estão em busca de direção [...] e que desejam realizar e colaborar”.77
A descrição
fornecida por outro autor sugere amor, bons relacionamentos, caráter, aperfeiçoamento
humano e formação de comunidade.78
Na visão atual de administração, a liderança não apenas capacita indivíduos e equipes
a aperfeiçoar a produção, mas auxilia-os a serem melhores pessoas e a encontrar significado
em seu trabalho.79
A visão contemporânea da liderança contempla as capacidades
reconhecidas de tomar decisões e influenciar pessoas, ao lado de construir relações e dar e
procurar informações.80
O modelo tradicional de condução, anteriormente centrado em
liderança e autoridade, agora agrega serviço sacrificial, amor e vontade.81
O sucesso das
novas organizações depende cada vez mais não de tecnologias, estruturas e processos, mas de
pessoas.82
Montoya considera que “o pastor é a pessoa chamada para prover a liderança final






























 


















75
O termo “servil”, aqui, não tem a conotação negativa de condescendência, adulação ou subserviência, mas o
sentido positivo de “relativo ou pertencente a servo” (HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Sales. (Ed.).
Servil. In: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0.5a. Editora Objetivo Ltda., 2002.
CD-ROM).
76
POLLARD, C. William. O Líder Servidor. In: HESSELBEIN, Frances; GOLDSMITH, Marshall; BECKHARD,
Richard. (Ed.). O Líder do Futuro: Visões, Estratégias e Práticas Para uma Nova Era. São Paulo: Futura, 1996, p. 241-247.
77
Ibid., p. 242.
78
HUNTER, James C. Como Se Tornar Um Líder Servidor. Rio de Janeiro: Sextante, 2006, passim.
79
BENNIS, Warren; NANUS, Burt. Líderes: Estratégias Para Assumir a Verdadeira Liderança. São Paulo:
Editora Harbra, 1988, p. 14-15.
80
CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, op. cit., p. 512-513.
81
HUNTER, James C. O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 57-71.
82
CHIAVENATO, op. cit., p. 482.
35
na igreja, não importando o sistema administrativo dela”.83
Através do exercício da liderança,
o pastor persegue objetivos bíblicos a fim de glorificar a Deus.84
Wagner não desconhece essa possibilidade, apenas decide rejeitá-la: “Para ser
honesto, o termo ‘servo-líder’ não me convence. Prezo o que se procura transmitir, mas [...]
não penso que seja necessário, ‘pastor de ovelhas’ está ótimo.” 85
De fato a palavra “liderança” não é isenta de problemas. Gerzon chama a atenção para
o fato de, em alemão, “o líder” é der Fuhrer, uma expressão que, sem dúvida, “nos leva a
refletir sobre o seu lado mais sombrio”.86
A situação na língua inglesa não é muito mais
favorável.
A palavra inglesa leadership (liderança) origina-se da antiga raiz leith, que
significa “tornar-se visível e morrer” em uma batalha. Por essa definição, os
que incentivam o grupo A a cometer violência contra o grupo B são os
“líderes”. Se removermos a violência da equação e, mesmo que o líder
represente um valor ou causa maiores, a palavra ainda significará o ato de
mobilizar um grupo para dominar ou conquistar o outro. O resultado de tal
liderança é sempre um conflito maior e pior.87
Diferentemente de Gerzon, que levanta os problemas relacionados ao uso do termo
liderança, mas mesmo assim o mantém, ainda que qualificado,88
Wagner simplesmente rejeita
a expressão “servo-líder” sem fornecer uma sustentação conceitual, aparentemente por uma
questão de preferência pessoal: “[...] não penso que seja necessário” (grifo nosso). Se ele
estiver certo, as evidências bíblicas demonstrarão que não há relação necessária — nem
desejável — entre pastoreio e administração. Se o ensino da Escritura apontar para outra
direção, especialmente se o conceito de pastor-administrador for defensável biblicamente, os
argumentos de Wagner terão de ser reconsiderados.






























 


















83
MONTOYA, Alex D. A Liderança. In: MACARTHUR JR., John. (Ed.).Ministério Pastoral: Alcançando a
Excelência no Ministério Cristão. 4. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2004, p. 294.
84
Ibid., p. 295.
85
WAGNER, op. cit., p. 117.
86
GERZON, Mark. Liderando Pelo Conflito: Como Líderes de Sucesso Transformam Diferenças em
Oportunidades. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, p. 24.
87
Ibid., p. 25.
88
Ibid., p. 19-62, sugere três tipos de líderes: O demagogo, o administrador e o mediador.
36
2.3 O Pastoreio Como Cuidado, Liderança e Organização do Rebanho
O pastoreio da igreja é ilustrado pelo exercício da profissão pastoral dos tempos
bíblicos, que envolvia o cuidado de rebanhos.89
A observação dos dados bíblicos,
relacionados ao serviço pastoral, permite três elaborações. Primeiro, o pastor cuida do
rebanho. Segundo, o cuidado do rebanho exige direção. Terceiro, o cuidado do rebanho
demanda organização.
2.3.1 O Que o Cuidado do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração
O serviço pastoral é descrito, no Antigo Testamento, doravante denominado AT,90
pela raiz h[r, “alimentar” ou “apascentar” (Gn 48.15). O h[,ro—, “pastor”, é aquele que
alimenta o rebanho e dele cuida providenciando água, descanso e proteção.91






























 


















89
DANIEL-ROPS, Henri. A Vida Diária Nos Tempos de Jesus. 2. ed. São Paulo; Vida Nova, 1986, p. 150-151.
90
É preciso esclarecer alguns pressupostos hermenêuticos do autor. O que Pratt Jr. afirma sobre a leitura do AT
aplica-se a este estudo. A interpretação da Bíblia que se segue decorre da interação do texto cheio de autoridade
com os “nossos compromissos, crenças e experiências [...]. Colocamo-nos diante das Escrituras com
pressuposições, mas também com a disposição de ouvir. Falaremos dessa nossa interação com o texto como um
Diálogo com a Autoridade” (PRATT JR., Richard L. Ele Nos Deu Histórias: Um Guia Completo Para a
Interpretação das Histórias do Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 39). O texto é enfocado
como Palavra de Deus inspirada, inerrante, infalível e suficiente (cf. HARRIS, Robert Laird. Inspiração e
Canonicidade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 59-126; BOICE, James M. et al., op. cit., p. 12-13,
57-74).
O método de interpretação utilizado nesta pesquisa é o sintático-teológico, uma atualização conceitual do estudo
histórico-gramatical proposto por Karl A. G. Keil, que estabelece como necessária a apreensão de perícopes
completas dentro de seus contextos (cf. KAISER JR., Walter C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica
Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 31). PRATT JR., op. cit., p. 440, nos informa que este tipo de
interpretação é denominado por Mickelsen “histórico-gramatical-contextual” (Interpreting the Bible, 159 — e
por Virkler, “histórico-cultural” e “léxico-sintático” — Hermeneutics, 76-112). O sentido das passagens isoladas
é definido, além de por seus conteúdos intrínsecos, pela comparação destas com outras que tratam do mesmo
assunto. Além disso, predominam os sentidos naturais dos textos, rejeitando-se a alegorização. Nesse particular,
admite-se uma influência reformada e puritana na interpretação (cf. LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e
Seus Intérpretes: Uma Breve História da Interpretação. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 173-174).
Reconhece-se que a Bíblia não é um livro sobre administração. Por essa razão, esta pesquisa é conduzida com o
cuidado de não cometer a falácia do anacronismo semântico, de atribuir às passagens ou a um vocábulo, em
particular, “um significado mais recente”, não imaginado pelos autores bíblicos (cf. CARSON, D. A. Os perigos
da Interpretação Bíblica. 2. ed. reimp. (2002). São Paulo: Vida Nova, 2001, p. 31-33).
A última observação é sobre o padrão adotado para a transcrição de termos nas línguas bíblicas originais. De
modo geral observa-se a instrução de Greggersen e Carvalho: “Citações do grego, hebraico e aramaico devem
37
2.3.1.1 Deus Cuida de Seu Povo
No AT Deus se revela como Pastor de Israel: “O SENHOR é o meu pastor; nada me
faltará” (Sl 23.1; cf. Gn 49.24). Ele fortalece e abençoa ao seu povo, “apascenta-o e exalta-o
para sempre” (Sl 28.9; cf. Sl 68.7-9, 74.1, 79.13, 95.7).
Isaías antevê o dia em que Yahweh, “como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os
seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará
mansamente” (Is 40.11). Através do profeta Ezequiel (Ez 34.14-16) Deus promete às suas
ovelhas: “Apascentá-las-ei de bons pastos, e nos altos montes de Israel será a sua pastagem;
deitar-se-ão ali em boa pastagem e terão pastos bons nos montes de Israel. Eu mesmo
apascentarei as minhas ovelhas e as farei repousar, diz o SENHOR Deus.” 92
Pela boca de Jeremias Deus assegura o estabelecimento de um novo pastoreio: “Dar-
vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com
inteligência” (Jr 3.15).93
Tal promessa torna-se mais específica em Jeremias 23.4. Deus
levantará “pastores” que cuidarão do rebanho de Israel e, no versículo seguinte, relaciona a
promessa com a aliança davídica (Jr 23.4-6), ou seja, os pastores apontam para o Pastor






























 


















ser feitas nos alfabetos originais, (sem transliterações)” (GREGGERSEN, Gabrielle; CARVALHO, Tarcízio de.
Manual de Dissertação. Edição em PDF. São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper,
2004, p. 21). Em tais casos os vocábulos são seguidos da tradução entre aspas na primeira ocorrência, e de
nenhuma tradução a partir da segunda. Transliterações são mantidas, porém, nas citações de outros autores.
91
YOUNGBLOOD, Ronald F. (Ed.). Dicionário Ilustrado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 1082,
1083.
92
A referência aos “altos montes” e “montes de Israel” (Ez 34.14; cf. Ez 37.22) sugere a busca de melhores
pastagens. Daniel-Rops nos informa que os pastores saíam com seus rebanhos a fim de assegurar-lhes
alimento “uma semana antes da Páscoa e não voltavam senão em meados de novembro, nas primeiras
chuvas de Hesvan” (DANIEL-ROPS, op. cit., p. 150). Os pastos nas regiões baixas tornavam-se
empobrecidos em razão do pastoreio da primavera. Os pastores mais experimentados, por ocasião do verão,
conduziam seus rebanhos para “os espessos gramados das encostas” (LUCADO, Max. Seguro Nos Braços do
Pastor: Esperança e Encorajamento do Salmo 23. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus,
2005, p. 55, 56).
93
Schökel e Dias sugerem que a frase “segundo o meu coração” pode ser traduzida como “à minha vontade” e
relaciona-se com “que lhe agrada”, de 1Samuel 13.14, “descrevendo o novo eleito, Davi” (SCHÖKEL; L.
Alonso; DIAS, J. L. Sicre. Profetas I: Isaías, Jeremias. São Paulo: Paulinas, 1988. (Coleção Grande Comentário
Bíblico), p. 449, 451).
38
Jesus. Em Ezequiel lê-se algo semelhante. A expressão “o meu servo Davi” é usada em lugar
de uma pessoa — Jesus (Ez 34.24; cf. Ez 37.22, 24).
Tais predições revelam a meta redentora divina de “trazer o Messias no tempo devido
dentro do curso da história”.94
Jesus Cristo cumpre as promessas messiânicas.95
Jesus é
poimh.n o` kalo,j, “o bom pastor” que “dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11), o poime,na tw/n
proba,twn to.n me,gan, “grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20), o poime,na kai. evpi,skopon,
“Pastor e Bispo” das almas (1Pe 2.25) e o avrcipoi,menoj, “Supremo Pastor” que dará aos
pastores locais a “imarcescível coroa de glória” (1Pe 5.4). O apóstolo Paulo faz referência ao
serviço pastoral sem aplicar o título de Pastor diretamente a Cristo. Isso não quer dizer que as
idéias comunicadas pelo vocábulo poimh.n estejam ausentes dos escritos paulinos. Paulo
refere-se a esses mesmos construtos utilizando ku,rioj, “Senhor” (2Co 6.18; Ef 5.29, no
Byzantine Majority Text, 2Tm 3.11, 4.17).96
2.3.1.2 Deus Destaca Pessoas Para Cuidar de Seu Povo
Aqueles que detêm posição de autoridade em Israel são também denominados
pastores (Jr 3.15; Ez 34.2, 8-9).97
Moisés (Êx 3.1), Davi (Sl 78.70-72) e Amós (Am 1.1)
cuidaram de ovelhas, antes de assumir posições de destaque perante Israel.98
White entende
que “esse atributo divino é uma das características dos ofícios de profeta, sacerdote e rei. A






























 


















94
VAN GRONINGEN, Gerard. Criação e Consumação. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. v. 1, p. 543.
95
Isso é assim ainda que nos Evangelhos Sinóticos só haja uma referência a Deus como pastor (em Lucas 15.4-7
e na passagem paralela, em Mateus 18.12-14). Cf. BEYREUTHER, Erich. Pastor. In: COENEN, Lothar;
BROWN, Colin. (Orgs.). Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Vida
Nova, 2000. v. 2. p. 1590.
96
Ibid., loc. cit.
97
LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. São
Paulo: Vida Nova, 1999, p. 397; BEASLEY-MURRAY, G. R. Ezequiel. In: DAVIDSON, F. (Ed.). O Novo
Comentário da Bíblia. 1. ed. reimp. (1985). São Paulo: Vida Nova, 1963. v. 2, p. 807. Cf. SCHÖKEL; DIAS, op.
cit., p. 444, no livro de Jeremias, por exemplo, “os pastores são delegados de Deus, os quais haverão de garantir
a vassalagem da aliança.”
98
YOUNGBLOOD, op. cit., p. 1082.
39
pretensão de Davi ao trono se baseava no fato de que Deus lhe ordenara que alimentasse o
povo (2Sm 5.2).” 99
No Novo Testamento, doravante denominado NT, Cristo incumbe Pedro de
“pastorear” as ovelhas (Jo 21.15-17 — Bo,ske,, “apascenta”, nos versículos 15 e 17, e poi,maine,
“pastoreia”, no v. 16). O mesmo apóstolo escreve mais tarde, exortando aos presbu,teroi,
“presbíteros”: “poima,nate, ‘pastoreai’ o rebanho de Deus que há entre vós” (1Pe 5.2).
Também Paulo dirige-se aos presbíteros, em termos semelhantes: “Atendei por vós e por todo
o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu evpisko,pouj, ‘bispos’, para poimai,nein,
‘pastoreardes’ a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28, cf.
At 20.17). Em suma, os apóstolos e os presbíteros são intitulados, metaforicamente, pastores
(Ef 4.11; cf. At 20.17, 28).100
A partir do modelo divino — o cuidado do Senhor por seu povo
— os pastores bíblicos atendem amorosamente às reais necessidades da igreja de Deus.
2.3.2 O Que a Liderança do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração
Observou-se em 2.1 que a administração compreende a liderança. De acordo com a
Bíblia, Deus pastoreia liderando: “Ele me faz repousar [...]. Leva-me para [...]. Guia-me [...]”
(Sl 23.2-3).101
A passagem transmite a idéia de satisfação das necessidades das ovelhas no
contexto do exercício da autoridade do “Rei-Pastor.” 102






























 


















99
WHITE, William. Rā‘âh. In: HARRIS, R. Laird; ARCHER JR., Gleason L.; WALTKE, Bruce K. (Org.).
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. p. 1437-1438.
100
VINE, W. E.; UNGER, Merril F.; WHITE JR., William. Dicionário Vine. 7. ed. Rio de Janeiro: Casa Editora
das Assembléias de Deus, 2006, p. 856.
101
Grifos nossos.
102
STEK, John H. Salmos. In: BARKER, Kenneth et al. (Orgs.). Bíblia de Estudo Nova Versão Internacional,
doravante denominada BENVI. São Paulo: Vida, 2003, notas de estudo Sl 23 e 23.1, p. 895-896.
40
2.3.2.1 Deus Lidera Seu Povo
O vocábulo hx'n", usado em Salmo 23.3, ocorre no AT significando: (1) Guiar ou
conduzir “pelo caminho direito”;103
Davi utiliza a expressão quando pede a Yahweh para
guiá-lo na “justiça” (Sl 5.8) e ao afirmar: “Tu me conduzirás e me guiarás” (Sl 31.3); (2)
dirigir pessoas para o alcance de finalidades específicas, por exemplo, Deus “guia” o
servo de Abraão até a casa dos parentes do patriarca, a fim de obter uma noiva para Isaque
(Gn 24.27), “conduz” os peregrinos de Israel de dia e de noite, ao destino proposto da
Terra Prometida (Êx 13.21), além de ser o estrategista que “conduz” os seus com a
finalidade de vencer Edom (Sl 60.9; cf. Sl 108.10); (3) soberania na criação, governo e
manutenção do universo, dos povos em geral e, especialmente, de Israel, o que pode ser
verificado no primeiro discurso de Yahweh a Jó (Jó 38.32), na convocação das “gentes”
para o louvor de Deus, seu Juiz e Guia (Sl 67.4) e nas palavras de Asafe, que enxerga, nos
fatos do Êxodo, evidências da direção segura do divino pastor (Sl 78.52-53). Ainda com
esse último sentido, Isaías utiliza o sinônimo gh;n" para descrever o modo cuidadoso como
Deus, na era messiânica, “conduzirá” o seu povo (Is 49.10).
A ligação entre o pastoreio e a liderança é percebida ainda nos textos analisados na
seção anterior, referentes ao reino messiânico. A promessa da vinda do pastor que tomará
nos braços os cordeirinhos é precedida desta declaração: “O Soberano, o Senhor, vem com
poder! Com seu braço forte ele governa. A sua recompensa com ele está, e seu galardão o
acompanha” (Is 49.10).104
O pastor que alimenta e busca as ovelhas perdidas, é o mesmo
que disciplina (Ez 34.16). O Pastor anunciado por Jeremias “reinará, e agirá sabiamente, e






























 


















103
COPPES, Leonard J. N¹µâ. In: HARRIS; ARCHER JR.; WALTKE. (Org.). Op. cit., 1998a, p. 947. Idem.
N¹hag. In: HARRIS, ARCHER JR.; WALTKE, op. cit., 1998b, p. 930.
104
BENVI, grifo nosso.
41
executará o juízo e a justiça na terra” (Jr 23.5). O Messias “será príncipe no meio” das
ovelhas de Israel (Ez 34.24), unindo o rebanho outrora disperso sob sua única liderança
(Ez 37.24).
Um trecho do Evangelho de João demonstra que Cristo pastoreia liderando. Ele
“chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora” (Jo 10.3). A mesma
expressão é usada em outros lugares, refletindo a idéia de liderança ou condução: Após a
ressurreição, o Senhor “levou” os seus discípulos para Betânia (Lc 24.50). Estêvão discursou
diante das autoridades judaicas, lembrando o modo como Deus “tirou” os judeus da terra do
Egito (At 10.36). O autor da carta aos Hebreus cita uma profecia de Jeremias, relembrando a
época em que Deus tomou Israel pela mão, para “conduzi-lo” até “fora da terra do Egito” (Hb
8.9). Ainda no Quarto Evangelho Jesus afirma que o pastor, “depois de fazer sair todas as
[ovelhas] que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a
voz” (Jo 10.4).105
No mesmo versículo, a ação condutora evidencia-se em outro detalhe:
Cristo “vai adiante” de suas ovelhas, e estas “o seguem”. Em João 10.16 afirma-se que
convém ao pastor “conduzir” as ovelhas. Para Stewart, tais afirmações sugerem “a
familiaridade das ovelhas com a voz do seu líder autêntico.” 106
O apóstolo Pedro (1Pe 2.25) descreve Cristo juntando os títulos poimh,n, “pastor” e
evpi,skopoj, “bispo”, literalmente, “inspetor”,107
“chefe; guardião”.108
Na mesma epístola (1Pe
5.4), poi,menoj é precedido de avrci, o que transmite a idéia de “governo e forte tom de






























 


















105
O vocábulo evkba,llw carrega um sentido de “força” (RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave
Lingüística do Novo Testamento Grego. São Paulo: Vida, Nova, 1985, p. 178). Hendriksen enxerga aqui a
indicação de uma ação enérgica de Cristo: “O pastor, Jesus, faz sair todas as suas ovelhas. Ele vence todas as
objeções delas. Algumas vezes as ovelhas tinham de ser forçadas a sair! De modo algum, qualquer que lhe
pertencesse era deixada para trás” (HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. São
Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 455, grifo do autor).
106
STEWART, R. A. Pastor. In: DOUGLAS, J. D. (Ed. Org.). O Novo Dicionário da Bíblia. 1. ed. reimp.
(1986). São Paulo: Vida Nova, 1962. v. 2, p. 1213.
107
LUZ, Waldyr Carvalho. Novo Testamento Interlinear. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 827.
108
TAMEZ, Elsa; FOULKES, Irene W. de. Diccionario Conciso Griego — Español del Nuevo Testamento.
Stuttgart: German Bible Society: 1994, p. 70.
42
autoridade”.109
O Apocalipse promete que o Cordeiro “apascentará e [...] guiará” o seu povo
“para as fontes da água da vida” (Ap 7.17).110
Enquanto o AT “apresenta Deus como o Pastor líder de Israel (Sl 80.1; Ez 34.14)”,111
a terminologia neotestamentária sugere “um paralelismo surpreendente entre Jesus-pastor e
Jesus-chefe, que converge e reordena todas as coisas,” 112
ou, como expressa Basílio de
Cesaréia: “Ele é rei dos que já alcançaram as culminâncias, e precisam de chefe legítimo.” 113
2.3.2.2 Deus Destaca Pessoas Para Liderar Seu Povo
No que diz respeito à liderança o serviço pastoral exercido por homens guarda
semelhanças com o pastoreio divino. O AT utiliza hx'n" para referir-se a pessoas ou nações
sendo conduzidas (algumas vezes a contragosto) tanto por Deus quanto por autoridades
humanas.114
Coppes enxerga, no uso dos termos relacionados à direção, no AT, a indicação da
“ação de conduzir, de modo organizado, [...] pessoas a um destino intencional seja pela força
seja por liderança.” 115
No NT o exercício humano do pastoreio reflete o modelo de Cristo. O serviço pastoral
e a liderança são mesclados em diversos pontos. Uma primeira evidência encontra-se na
epístola aos Hebreus 13.7, 17 e 24. Em todas as ocasiões utiliza-se o verbo h`ge,omai, “liderar
ou guiar”. A partir das afirmações “os quais vos pregaram a palavra de Deus” (Hb 13.7) e
“velam por vossa alma” (Hb 13.17), infere-se que tais “guias” são os pastores das igrejas. O






























 


















109
WAGNER, op. cit., p. 159.
110
Grifo nosso.
111
YOUNGBLOOD, op. cit., p. 1082, grifo nosso.
112
VON ALLMEN, J. J. Pastor. In: VON ALLMEN, J. J. (Org.). Vocabulário Bíblico. 2. ed. São Paulo:
Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos, 1972, p. 316.
113
MAGNO, Basílio. Basílio de Cesaréia: Homilia sobre Lucas 12; Homilias Sobre a Origem do Homem;
Tratado sobre o Espírito Santo. São Paulo: Paulus, 1998, p. 108.
114
Em virtude de uma deliberação de Davi, seus pais são “levados” diante do rei de Mispa de Moabe (1Sm
22.4). Sob a ordem do rei da Assíria, Israel foi “transportado” para Hala, junto a Habor e ao rio Gozã (2Rs
18.11) e, no Êxodo, Deus “conduziu” o seu povo, “como rebanho, pelas mãos de Moisés e Arão” (Sl 77.20). Um
sentido organizacional é verificado em 1Reis 10.26: Salomão “distribuiu” suas tropas entre as cidades do reino.
115
COPPES, 1998b, p. 929.
43
pastoreio-liderança por eles realizado reflete o de Cristo, uma vez que a mesma palavra é
usada no Apocalipse (7.17, citado na seção anterior), referindo-se à condução do povo de
Deus pelo “Cordeiro.” 116
O próprio Redentor regula o exercício dessa autoridade. Em Marcos 10.42 ele se
refere às autoridades sobre os povos utilizando o vocábulo a;rcein, “governar”. Estes
“governadores” comandam pela força, mas o discípulo deve ser como um dia,konoj, um
“servente” ou “servo” (Mc 10.43). Não se proíbe, nesse caso, o exercício da liderança, mas
estabelece-se o modelo de liderança cristã. Parece que o problema não está, como argumenta
Wagner alhures, na conjugação do termo “líder” com “servo”, nem mesmo na sustentação,
dentro da igreja, de pessoas em posição institucional de liderança, mas no exercício humilde
da função — uma liderança do rebanho que reflete o próprio Senhor Jesus Cristo, que “não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.44-45).
Os presbu,teroi, “presbíteros” ou evpisko,poi, “bispos”, são o equivalente
neotestamentário dos anciãos de Números 11.16-25, os “superintendentes” (Nm 11.16),
designados para compartilhar, com Moisés, o fardo de instrução, julgamento de causas e
direção (Nm 11.17).117
Estes presbíteros são os proi?stame,nouj, “que presidem” e
admoestam a igreja no Senhor (1Ts 5.12). A mesma palavra é usada pelo apóstolo ao dizer
que o presbítero deve “governar” a própria casa (1Tm 3.4). O jovem — e ao que tudo
indica, tímido — pastor da igreja em Éfeso deveria aprender a liderar: “Para,ggelle,
“ordena” e ensina estas coisas” (1Tm 4.11), literalmente “transmita essas coisas como






























 


















116
A palavra evoca, indubitavelmente, a idéia de autoridade para conduzir, uma vez que é traduzida, em Atos
15.22 como “notáveis”, “homens considerados” (Bíblia de Jerusalém: Nova Edição, Revista e Ampliada. 2ª
reimp. (2003). São Paulo: Paulus, 2002, doravante denominada BJ) ou “líderes” (BENVI). Na Septuaginta,
doravante denominada LXX, a expressão é usada em diversos contextos, referindo-se a “cabeças” (Dt 1.13),
príncipes (Js 13.21; 2Cr 5.2, 17.7; Et 1.16), comandantes (2Cr 11.11), líderes de guarnições (2Cr 17.2),
poderosos da terra (Ez 17.13), governadores (Jr 28.28; Ez 23.6, 12), prefeitos (Dn 3.2) e presidentes (Dn 6.2).
Uma vez que, em todas essas referências, homens são revestidos de autoridade para dirigir, é plausível afirmar
que, no caso específico de Hebreus, os pastores-guias devem ser não apenas respeitosa e ternamente
considerados, mas obedecidos.
117
Cf. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito. São Paulo:
Cultura Cristã, 2001, p. 224.
44
uma prescrição”.118
Em outro lugar, destacam-se dois aspectos do ofício presbiterial:
Presidir “bem” e afadigar-se “na palavra e no ensino” (1Tm 5.17).119






























 


















118
BJ, grifo nosso.
119
Um entendimento questionável sobre o serviço presbiterial é demonstrado por Volkmann (cf. VOLKMANN,
Martin. Teologia Prática e o Ministério da Igreja. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. (Org.). Teologia
Prática no Contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal, 1998, passim). Ele sugere que, conforme foi se
institucionalizando, a “comunidade primitiva de Jerusalém” absorveu gradativamente a modalidade presbiterial
de direção, inspirada pelo conselho de anciãos das sinagogas judaicas (ibid., p. 83). Com base nos relatos de
Atos — ele reconhece — as igrejas elegiam presbíteros, inclusive sob a liderança de Paulo (ibid., p-83-84). No
entanto, a liderança presbiterial é estranha à teologia paulina. As cartas paulinas não mencionam o assunto; o
modelo de liderança presbiterial introduziu-se gradativamente “a partir das comunidades judaico-cristãs, tendo-
se imposto no decorrer dos anos, à medida que a Igreja foi se organizando e institucionalizando” (ibid., p. 84,
grifo nosso). A partir desse ponto, afirma-se que o serviço presbiterial,“mais institucional”, se diferenciava do
serviço profético, “mais espontâneo” (Ibid., p. 83). O profeta é divinamente chamado e não se lança ao serviço
“por iniciativa própria, mas por comprometimento exclusivo com o próprio Deus” (Ibid., p. 84).
Tais postulados são relevantes para a presente pesquisa, uma vez que são apresentados como “raízes bíblicas do
ministério” (ibid., p. 80-81), o que inclui o pastoreio, e produzem duas conseqüências: Primeiro, Volkmann
entende que as epístolas Pastorais (1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito) não foram escritas por Paulo, mas surgiram no
contexto de “solidificação” e “estruturação” da igreja, no final do primeiro século (ibid., p. 85). Esse ponto de
vista é compartilhado por outros autores (e.g., BRUNNER, Emil. O Equívoco Sobre a Igreja. São Paulo: Novo
Século, 2000, p. 88; CHARPENTIER, Etienne. Para Ler o Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1992, p. 52;
GABEL, John B.; WHEELER, Charles B. A Bíblia Como Literatura. São Paulo: Loyola, 1993, p. 191-192;
HARRINGTON, Wilfrid J. Chave Para a Bíblia: A Revelação, a Promessa, a Realização. São Paulo: Paulinas,
1985, p. 554, 556; KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982, p.
319, 320, 321), cuja análise detalhada das ponderações foge ao escopo do presente estudo. Pode ser afirmado,
porém, que há argumentação consistente e suficiente, por parte da erudição contemporânea, para a aceitação da
autoria paulina das epístolas Pastorais (e.g., BLOMBERG, Craig L. A Credibilidade Histórica do Novo
Testamento. In: CRAIG, William L. (Ed.). A Veracidade da Fé Cristã: Uma Apologética Contemporânea. São
Paulo: Vida Nova, 2004, p. 191-235; CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo
Testamento. 1. ed. reimp. (2002). São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 395-411; GUNDRY, Robert H. Panorama do
Novo Testamento. 2. ed. reimp. (2003). São Paulo: Vida Nova, 1998 p. 359-363; HALE, Broadus David.
Introdução ao Novo Testamento. ed. rev. ampliada. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 321-330; HENDRIKSEN,
2001, op. cit., p. 10-47; HINSON, E. Glenn. I e II Timóteo e Tito. In: ALLEN, Clifton J. (Ed.). Comentário
Bíblico Broadman: Novo Testamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1985, p. 361-
365; HARRIS, op. cit., p. 33-37, 217-255; RIDDERBOS, Herman. A Teologia do Apóstolo Paulo: A Obra
Definitiva Sobre o Pensamento do Apóstolo dos Gentios. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 14-15, 520-522);
ELLIS, E. Earle. Cartas Pastorais. In: HAWTHORNE, Gerald F.; MARTIN, Ralph P. (Orgs.). Dicionário de
Paulo e Suas Cartas. São Paulo: Vida Nova, Paulus, Loyola, 2000, p. 181-191; MARSHALL, I. Howard.
Teologia do Novo Testamento: Diversos Testemunhos, Um Só Evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 345-
363; THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: Uma Abordagem Canônica e Sintética. São Paulo:
Shedd Publicações, 2007, p. 261-278, 487-573.
O ponto a salientar é que a aceitação da autoria paulina das Pastorais não é uma questão de pequeno porte. Ela
faz grande diferença na concepção da igreja sobre a relação entre pastoreio e administração, pois, se o próprio
apóstolo Paulo escreveu estas epístolas, ou supervisionou diretamente sua escrita, estamos lidando com
documentos autoritativos, confiáveis e adequados para a elaboração de uma teologia bíblica do serviço pastoral.
Se, por outro lado, as Pastorais foram escritas por um ou mais discípulos de Paulo, após sua morte, como
garantir que, de fato, seus conteúdos refletem fielmente o ensino apostólico? Alguns poderiam alegar, por
exemplo, que certas instruções destas últimas (como as regulamentações para eleição de oficiais) se chocam com
os ensinos “autenticamente paulinos”. Além disso, elas poderiam ser consideradas inferiores canonicamente, o
que já é insinuado por determinados autores: “[...] epístolas pastorais subapostólicas” (BRUNNER, op. cit., loc.
cit.), “um grupo à parte” (KÜMMEL, op. cit., p. 320.) ou “deuteropaulinas” (GABEL & WHEELER, op. cit., p.
191.). A partir do momento em que isso é admitido, deve-se questionar, inclusive, se nas epístolas ditas
autenticamente paulinas, não existem, também, incorreções inseridas a posteriori (KÜMMEL, op. cit., p. 321).
A segunda conseqüência das asseverações de Volkmann é a instalação de uma ruptura não-bíblica entre o
pastoreio da igreja-comunidade e a administração da igreja-instituição. Impõe-se um dualismo. De um lado,
45
A Escritura nos informa que não há dilema entre pastorear — e isso atentando para o
“aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4.12) — na dependência do Espírito, e governar.
2.3.3 O Que a Organização do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração
Afirmou-se em 2.1 que administrar tem relação com organizar. Como função,
organização descreve a tarefa de obter e colocar em ordem o trabalho, a autoridade e os
recursos, com a finalidade de alcançar metas.120
Como instituição, a organização “é uma
entidade social composta de pessoas e deliberadamente estruturada e orientada para um
objetivo comum”.121
Tais idéias ressoam, de certo modo, as informações bíblicas sobre o
pastoreio divino e humano.
2.3.3.1 Deus Organiza Seu Povo
No Salmo 23 Deus pastoreia organizando. Ele atende a diversas necessidades:
Alimento, água limpa, proteção, liderança e motivação. Cada uma dessas demandas exige
uma providência, ou seja, a realização de ações eficientes e eficazes. De forma semelhante, os






























 


















ressalta-se a comunidade carismática, alicerçada nos escritos “legitimamente paulinos”. Do outro, a instituição,
embasada nas cartas Pastorais. Se as Pastorais refletem um desenvolvimento “tardio” que nada tem a ver com os
apóstolos — a defesa do status quo de uma hierarquia que pouco a pouco se impôs sobre a simplicidade e
autenticidade da comunidade primitiva — a institucionalização da igreja, como afirma Brunner, é um rematado
“equívoco”; a igreja bíblica não possui “o caráter de uma instituição” (BRUNNER, op. cit., p. 93).
Esta pesquisa assume, baseada na posição da maioria dos eruditos evangélicos neotestamentários, a premissa da
autoria paulina das epístolas Pastorais, sugerindo que “a Bíblia é um todo e a sua autoridade completa”
(LLOYD-JONES, Dr. Martin. Autoridade de Jesus Cristo, das Escrituras, do Espírito Santo. Queluz, Portugal:
Núcleo — Centro de Publicações Cristãs, 1978, p. 49). Destarte, os textos que fazem referência aos presbíteros e
bispos, extraídos daquelas cartas, são colocados em paralelo a outras afirmações de Paulo. Aos romanos ele
afirma que a capacidade de “presidir” é concedida pelo Espírito Santo (Rm 12.8), e aos coríntios, revela que
Deus supre a igreja com kubernh,seij, “governos” (1Co 12.28). Isso é possível porque o Senhor Jesus foi
exaltado e, como poderoso conquistador, presenteou a igreja com o pastoreio (Ef 4.7-11, et seq.). O exercício do
governo presbiterial no pastoreio não é, de acordo com tais textos, uma imposição do processo de
institucionalização, destinado a suprimir a comunidade carismática. Não é apenas o profeta, como afirma
Volkmann, que é por Deus chamado e capacitado. A presidência da igreja por seus oficiais é uma dádiva do
Cristo vitorioso — uma obra espiritual.
120
CHIAVENATO, op. cit., p. 18.
121
Ibid., loc. cit.
46
pastores de ovelhas devem envolver-se em diversas atividades organizacionais, a fim de
realizar bem suas atribuições.122
2.3.3.2 O Povo de Deus Deve Organizar-se
Um termo do NT lança luz sobre a incumbência organizacional do povo de Deus: O
substantivo oivkono,moj, “mordomo”, “despenseiro”, “administrador” ou “gerente” que presta
contas de seu trabalho. De modo geral, os cristãos são admoestados a portar-se de tal maneira
que sejam considerados mordomos fiéis, por ocasião da chegada de seu senhor (Lc 12.42; cf.
1Co 4.1-2).123
Eles são todos “despenseiros da multiforme graça de Deus” (1Pe 4.10). Ligado
à administração financeira, Paulo fala de “Erasto, tesoureiro da cidade” (Rm 16.23),124
e dos
“curadores”, responsáveis pela gestão dos bens de um herdeiro “menor” (Gl 4.1-2). No
contexto do pastoreio o “bispo” deve ser “irrepreensível como despenseiro” (Tt 1.7).
De acordo com os textos bíblicos até então examinados, é possível afirmar que o
pastor bíblico é, também, um gerente ou organizador. O pastoreio possui um aspecto
institucional — a viabilização, manutenção e supervisão de atividades e estruturas voltadas
para o cuidado do rebanho. Salvo melhor juízo, parece ser possível afirmar, a partir da
avaliação das passagens da Escritura relacionadas ao serviço pastoral, que não há motivo para
estabelecer-se um falso dilema entre pastorear e gerenciar.






























 


















122
BEYREUTHER, op. cit., p. 1587-1588; YOUNGBLOOD, op. cit., p. 1081-1082; DANIEL-ROPS, op. cit., p. 150-151.
Ainda que o ofício pastoral não fosse muito valorizado nos tempos de Jesus, seu exercício exigia qualificação e
organização. O pastor precisava tomar decisões, usar eficientemente o tempo, estabelecer e cumprir rotinas,
definir e executar planos pertinentes e conduzir mudanças, quando necessárias.
123
Em uma de suas parábolas de sentido mais enigmático, Jesus alude a um “administrador” inteligente (Lc
16.1-9). Quanto ao texto de 1Coríntios 4.1-2, ainda que nessa passagem o vocábulo deva ser entendido como
apontando para a correta administração do serviço da Palavra (KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo
Testamento: 1Coríntios. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 185), as repercussões administrativas mais amplas de
oivkono,moj não podem ser minimizadas.
124
Grifo nosso.
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  • 1. 
 REFORMED THEOLOGICAL SEMINARY CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW JUMPER DOUTORADO EM MINISTÉRIO MISAEL BATISTA DO NASCIMENTO MÉTODOS GERENCIAIS NA IGREJA: VERIFICAÇÃO DA BIBLICIDADE E PERTINÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA NO ÂMBITO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL SÃO PAULO 2008
  • 2. 
 MISAEL BATISTA DO NASCIMENTO MÉTODOS GERENCIAIS NA IGREJA: VERIFICAÇÃO DA BIBLICIDADE E PERTINÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA NO ÂMBITO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL Projeto Final apresentado ao Reformed Theological Seminary (RTS) e ao Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ) como parte dos requisitos para a obtenção do Grau de Doutor em Ministério. Orientador: Dr. Augustus Nicodemus Lopes. SÃO PAULO 2008
  • 3. 
 N244m Nascimento, Misael Batista do Métodos gerenciais na igreja: verificação da biblicidade e pertinência da administração estratégica no âmbito da Igreja Presbiteriana do Brasil / Misael Batista do Nascimento - 2008 200 f., 30 cm Tese (Doutorado em Ministério) — Centro Presbiteriano de Pós- Graduação Andrew Jumper, São Paulo, 2008. Bibliografia: f. 186-200 1. Administração eclesiástica 2. Teologia prática 3. Igreja Presbiteriana do Brasil 4. Administração estratégica I. Título LC BV652.A3 CDD289.9
  • 4. 
 MISAEL BATISTA DO NASCIMENTO MÉTODOS GERENCIAIS NA IGREJA: VERIFICAÇÃO DA BIBLICIDADE E PERTINÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA NO ÂMBITO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL Projeto Final apresentado ao Reformed Theological Seminary (RTS) e ao Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ) como parte dos requisitos para a obtenção do Grau de Doutor em Ministério. Aprovado em 19/05/2008. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________ Prof. Rev. Elias dos Santos Medeiros Mestre em Teologia, Doutor em Ministério Doutor em Missiologia – Reformed Theological Seminary (RTS) _________________________________________________________ Prof. Rev. Augustus Nicodemus Lopes – Orientador Mestre em Novo Testamento Doutor em Hermenêutica e Estudos Bíblicos (CPAJ) São Paulo 2008
  • 5. 
 Dedicado a meus pais, João Batista, construtor de barcos e belas frases, e Roberta, que me ensinou a jamais desistir; a Mirian, amor insubstituível e a Ana Carolina e Bruna Camila, filhas mui preciosas.
  • 6. 
 O saber ensoberbece, mas o amor edifica (Apóstolo Paulo, 1 Coríntios 8.1b)
  • 7. 
 Essa pesquisa só pôde ser finalizada graças ao apoio de muitas pessoas. A elas eu agradeço. Ao Deus Triúno, fonte de vida, amor, redenção e significado. A minha esposa, Mirian, e às minhas filhas, Ana Carolina e Bruna Camila. Depois de Deus, vocês são a minha maior fonte de motivação. Aos meus irmãos Iran, Estelina, Lourdes e Josefa, e ao meu sobrinho André. No seio dessa família abençoada, tornei-me o que sou. Ao Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes, por seu apoio e sábia orientação. Principalmente, por seu exemplo de estudioso aplicado e cristão comprometido com Deus, com as Escrituras e com a edificação da igreja. Ao Rev. Dr. Valdeci Santos Silva, pelo incentivo, exemplo de moderação e auxílio em todo o curso. Ao Rev. Dr. Elias dos Santos Medeiros, pelas sugestões sábias e pertinentes. A toda a equipe administrativa do CPAJ, especialmente ao pessoal da Biblioteca. Ao casal Francisco Solano Portela Neto e Elizabeth Zekveld Portela, irmãos cuja amizade produz aperfeiçoamento. Aos irmãos e amigos da Igreja Presbiteriana Central do Gama. Eu não chegaria aqui sem suas orações, palavras incentivadoras e preciosa colaboração.
  • 8. 
 RESUMO No campo da administração eclesiástica questiona-se qual é o padrão bíblico para o crescimento da igreja e até que ponto métodos de planejamento são importantes para a sua gestão. Isso é feito enquanto a igreja é pressionada a mostrar-se relevante e a apresentar resultados. Este estudo é encaminhado a fim de responder à seguinte pergunta principal: É bíblico e pertinente o uso, no pastoreio da igreja, da administração estratégica? Tal questão principal enseja cinco questões subsidiárias: (1) A Bíblia sugere o vínculo entre pastoreio e administração? (2) Se a resposta à questão anterior for positiva, a Bíblia apóia o uso, na administração da igreja, de métodos oriundos da cultura circundante? (3) Tal uso é aprovado — ou pelo menos sugerido — pela Confissão de Fé de Westminster (CFW)? (4) O modelo de administração da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) abre espaço para o uso destes métodos? (5) A cosmovisão e a proposta metodológica da administração estratégica condizem com a Bíblia, com a CFW e com a prática da IPB? Os objetivos deste estudo são: (1) Investigar se é bíblico o uso, no pastoreio da igreja, da administração estratégica; (2) se a resposta à questão anterior for positiva, propor um conjunto de princípios e práticas bíblicas de administração, aplicável às igrejas locais e concílios da IPB. A pesquisa busca responder a questões de ordem tanto intelectual quanto prática considerando, a priori, que a ciência objetiva tanto o conhecimento em si mesmo quanto as contribuições práticas decorrentes desse conhecimento.
  • 9. 
 PALAVRAS-CHAVES Cristianismo; Escrituras; Teologia Prática; Teologia Pastoral; Eclesiologia — Desenvolvimento da igreja; Administração Eclesiástica; Teoria Geral da Administração; Administração Estratégica; Gerenciamento; Liderança.
  • 10. 
 ABSTRACT The article deals with the choice of a biblical standard for Church growth in the field of Church management and to what point planning strategies are important to its administration. This is done as the Church is under pressure to show itself relevant and to offer results. The study is developed so as to answer the following main question: Is it biblical and pertinent to use strategic management in pastoring the Church? This main question leads to five secondary issues: (1) Does the Bible suggest a connection between pastoring and management? (2) If the answer to the previous question is affirmative, does the Bible support the use, in church management, of the methods derived from the surrounding culture? (3) Is this use approved — or at least suggested — by the Westminster Confession of Faith (WCF)? (4) Does the management model of the Presbyterian Church of Brazil (IPB) leave room for the use of these methods? (5) Do the worldview and the proposed strategic management method fit in with the Bible, with the WCF and with IPB practice? The objectives of this study are: (1) To investigate if the use of strategic management is biblical for use in the pastoring of the Church. (2) If the reply to the previous question should be affirmative, to propose a set of biblical management principles and practices, applicable to the local churches and councils of the IPB. The research seeks to answer questions on both the academic and the practical level, considering, a priori, that science aims both at the knowledge of oneself and at practical contributions resulting from this knowledge.
  • 11. 
 KEYWORDS Christianity; Holy Scriptures; Practical Theology; Pastoral Theology; Ecclesiology — Church Developer; Church Administration; General Theory of Management; Strategic Management; Management; Leadership.
  • 12. 
 SUMÁRIO 1 O PROBLEMA.............................................................................................................15 Formulação da Situação-Problema, 15 A Secularização e os Movimentos de Oscilação Numérica da Igreja, 15 Pluralismo Global, Diversidade de Opções Religiosas e Timidez Missionária, 17 Diversidade de Modelos Eclesiásticos, 18 Perguntas da Pesquisa, 22 Objetivos do Estudo, 24 Justificativa, 24 Hipótese, 27 Moldura Conceitual Assumida, 27 Delimitação, 28 Organização do Restante do Estudo, 29 II. O QUE A LITERATURA SACRA NOS DIZ SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O PASTOREIO E A ADMINISTRAÇÃO.......................................................................30 2.1 Conceitos Importantes do Segundo Capítulo, 30 2.2 O Ataque de Wagner ao Uso Eclesiástico da Administração, 32 2.3 O Pastoreio Como Cuidado, Liderança e Organização do Rebanho, 36 2.3.1 O Que o Cuidado do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração, 36 2.3.1.1 Deus Cuida de Seu Povo, 37 2.3.1.2 Deus Destaca Pessoas Para Cuidar de Seu Povo, 38 2.3.2 O Que a Liderança do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração, 39 2.3.2.1 Deus Lidera Seu Povo, 40 2.3.2.2 Deus Destaca Pessoas Para Liderar Seu Povo, 42 2.3.3 O Que a Organização do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração, 45 2.3.3.1 Deus Organiza Seu Povo, 45 2.3.3.2 O Povo de Deus Deve Organizar-se, 46 2.4 Primeira Síntese: Pastoreio e Administração São Interdependentes, 47 III. A ADMINISTRAÇÃO ESTABELECIDA NA CRIAÇÃO COMO NÚCLEO DE SIGNIFICADO DA ESFERA MODAL ECONÔMICA......................48 3.1 Conceitos Importantes do Terceiro Capítulo, 49
  • 13. 
 3.2 O Relato Cosmogônico, Deus, o Criador-Administrador e a Administração Como Parte da Criação, 51 3.2.1 No Relato Cosmogônico Deus Pode Ser Visto Como Criador-Administrador, 52 3.2.2 No Relato Cosmogônico Torna-se Plausível a Idéia da Administração Como Parte da Criação Divina, 55 3.3 A Administração Subentendida na Antropogonia e nos Mandatos Criacionais, 58 3.3.1 A Administração Subentendida na Criação do Homem à Imagem e Conforme a Semelhança de Deus, 58 3.3.2 A Administração Subentendida no Estabelecimento do Pacto da Criação, 59 3.4 A Administração no Relato da Queda e na Graça Comum, 62 3.5 O Paradigma Cosmonômico e Três Ferramentas de Análise e Interpretação de Cosmovisões, 68 3.6 Segunda Síntese: O Homem é Administrador do Cosmos Que Pertence a Deus, 69 IV. O USO DA ADMINISTRAÇÃO EM OUTROS LUGARES DA ESCRITURA E NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER ...............................71 4.1 José, Administrador do Egito, 71 4.2 Adam Smith, Moisés e a Trindade Econômica: Digressões Pertinentes Sobre a Divisão do Trabalho, 73 4.3 Jesus, a Luz da Natureza e a Prudência, 78 4.4 Estatística, Organização, Institucionalização e Estratégia em Atos, 82 4.4.1 O Cuidado de Lucas em Registrar Números, 83 4.4.2 Em Atos 6 os Apóstolos Administram Criando Uma Estrutura Eclesiástica, 83 4.4.3 A Possibilidade de Uso de Planos e Métodos Nas Viagens de Paulo, 87 4.5 Terceira Síntese: A Igreja Cumpre as Ordenanças Divinas Como Instituição Administrada Por Homens e Arraigada na Cultura, 93 4.6 A Confissão de Fé de Westminster e o Uso Eclesiástico de Métodos Administrativos, 94 4.6.1 Quanto à Administração Eclesiástica a Escritura é Suficiente Mas Não Exaustiva, 94 4.6.2 Algumas Circunstâncias Exigem o Uso de Recursos Advindos da Cultura, 95 4.6.3 Quarta Síntese: A CFW Propõe Um Princípio Regulador Para o Governo da Igreja Que, Por Sua Vez, Admite o Uso da Administração, 95
  • 14. 
 V. O MODELO DE ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL..................................................................................97 5.1 A Divisão do Trabalho Como Ponto de Contato Entre a Teoria Clássica da Administração e o Modelo de Administração da IPB, 98 5.1.1 Características da Teoria Clássica da Administração, 99 5.1.2 Críticas à Teoria Clássica da Administração, 100 5.1.3 A Teoria Clássica da Administração Influencia a IPB Com Sua Articulação da Divisão do Trabalho, 101 5.2 Refinamentos da Divisão do Trabalho e Referência ao Planejamento São os Pontos de Contato Entre a Teoria Neoclássica da Administração e o Modelo de Administração da IPB, 102 5.2.1 O Pragmatismo da Teoria Neoclássica da Administração, 103 5.2.2 O Refinamento da Divisão do Trabalho na Teoria Neoclássica da Administração, 103 5.2.3 As Novas Elaborações Referentes ao Planejamento na Teoria Neoclássica da Administração, 104 5.2.4 Críticas à Teoria Neoclássica da Administração, 105 5.2.5 A Teoria Neoclássica da Administração Influencia a IPB Com Refinamentos da Divisão do Trabalho e Referência ao Planejamento, 105 5.3 A Estrutura Racional-Legal e a Cultura Centrada na Inclusão e Ordem em Detrimento da Produtividade São os Pontos de Contato Entre o Modelo Burocrático de Administração e o Modelo de Administração da IPB, 107 5.3.1 O Desenvolvimento do Conceito de Burocracia, 108 5.3.2 O Modelo Burocrático de Administração Brota do Solo do Capitalismo Social, 108 5.3.3 No Modelo Burocrático a Autoridade é Racional-Legal, 110 5.3.4 No Modelo Burocrático Inclusão e Ordem Sobrepujam a Produtividade, 112 5.3.5 A Divisão do Trabalho no Modelo Burocrático de Administração, 114 5.3.6 Críticas ao Modelo Burocrático de Administração, 114 5.3.7 A Influência do Modelo Burocrático Sobre a IPB, 117 5.4 Quinta Síntese: O Modelo de Administração da IPB é Uma Amálgama de Princípios Bíblicos e de Princípios e Práticas Administrativas Oriundas da Cultura Circundante, 118 VI. CONCEITO, CONTEXTO, PROPOSTA, COSMOVISÃO NATURALISTA E POSSIBILIDADE DE COSMOVISÃO CRISTÃ DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA.................................................119 6.1 O Que é Administração Estratégica, 119
  • 15. 
 6.2 A Administração Estratégica e o Planejamento Estratégico, 120 6.3 A Administração Estratégica e o Novo Capitalismo, 122 6.4 As Diversas Escolas de Formação de Estratégia, 126 6.5 A Cosmovisão Híbrida da Administração Como Um Todo e da Administração Estratégica Em Particular, 131 6.5.1 Os Pressupostos Evolucionistas da Administração Estratégica, 131 6.5.2 O Hibridismo Paradigmático da Administração Estratégica, 133 6.5.3 Avaliação e Proposta de Reestruturação Cristã da Cosmovisão da Administração Estratégica, 134 6.6 Contribuições da Administração Estratégica, 136 6.6.1 A Administração Estratégica Focaliza a Execução e Reconhece o Organizacional, 136 6.6.2 A Administração Estratégica Auxilia as Organizações a Fazer Ajustes Pertinentes, 137 6.6.3 A Administração Estratégica Responsabiliza a Liderança, 138 6.6.4 A Administração Estratégica Usa Tecnologias e Métodos Para Otimizar Processos, 139 6.7 Sexta Síntese: O Uso da Administração Estratégica Pela Igreja é Recomendado, Mas Exige Adaptações Daquela à Cosmovisão Cristã, 140 VII. METODOLOGIA E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ...............................141 7.1 Classificação da Pesquisa, 141 7.2 Coleta de Dados, 142 7.3 Pressupostos Metodológicos, 144 7.4 Limitações do Método, 146 7.5 Resultados da Pesquisa, 147 VIII. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................150 8.1 O Novo Capitalismo e a Nova Civilização, 150 8.2 Duas Ameaças à IPB: Pragmatismo e Alienação, 151 8.3 Aberturas Para a Evangelização, Estabelecimento, Consolidação e Revitalização da Igreja, 154 8.3.1 No Contexto do Novo Capitalismo Deus Abre Portas Para a Evangelização, 154 8.3.2 No Contexto do Novo Capitalismo Deus Abre Portas Para o Estabelecimento, Consolidação e Revitalização de Igrejas, 156 8.4 Esclarecimento Sobre a Missão e Definições de “Visões” da IPB, 157 8.5 A IPB Desejável, 160 8.5.1 A IPB Com Líderes Mais e Melhor Habilitados, 161 8.5.2 A IPB Centrada no Discipulado, 164 8.5.3 A IPB Saudável do Ponto de Vista Organizacional, 165 8.5.4 A IPB Que Pratica a Unidade Bíblica, 167 8.6 Três Usos da Administração Estratégica na IPB, 168
  • 16. 
 8.6.1 Ajuste da Cultura Organizacional Para a Execução, 169 8.6.2 Formulação e Execução de Estratégias, 175 8.6.3 Otimização dos Processos Administrativos, 179 8.7 Propostas de Capacitação da IPB Para a Administração Estratégica, 181 8.7.1 Alteração do Currículo dos Seminários da IPB, 182 8.7.2 Criação de Curso de Pós-Graduação em Administração Eclesiástica, 182 8.7.3 Criação de Um Centro de Estudos Estratégicos, 183 8.7.4 Criação de Cursos Rápidos de Administração Estratégica, 183 8.8 Uma Nota Sobre os Regulamentos da IPB, 183 8.9 Considerações Finais, 184 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................186
  • 17. 15 CAPÍTULO I O PROBLEMA Esta pesquisa trata do uso de métodos gerenciais na igreja, verificando a biblicidade da utilização da administração estratégica no âmbito da Igreja Presbiteriana do Brasil, doravante denominada IPB. Formulação da Situação-Problema Por “situação-problema”, entenda-se uma “questão não solvida e que é objeto de discussão”.1 No campo da administração eclesiástica questiona-se qual é o padrão bíblico para o crescimento da igreja e até que ponto métodos de planejamento são importantes para a sua gestão. Isso é feito enquanto a igreja é pressionada a mostrar-se relevante e a apresentar resultados. Pastores e líderes cristãos têm de lidar com o estresse da relevância e produtividade em um contexto caracterizado por secularização, pluralismo pós-moderno e diversidade de modelos eclesiásticos. A Secularização e os Movimentos de Oscilação Numérica da Igreja O cristianismo ocidental sofre com os efeitos da secularização, considerada por Bosch2 como uma das responsáveis pela crise relacionada à teologia e missão cristãs. Devido 





























 

















 1 GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 23. 2 BOSCH, David J. Missão Transformadora. São Leopoldo: Sinodal, 2002, p. 19-21. Alguns dados fornecidos pela pesquisa de Bosch, publicada em 1991, merecem atualização. O autor do presente projeto reconhece que
  • 18. 16 à secularização, a fé em Deus é considerada “redundante” e pergunta-se sobre a necessidade de voltar à religião, uma vez que parece plausível — sem a fé — “lidar com as exigências da vida moderna.” 3 Bosch alinha a secularização ao processo de esvaziamento das igrejas cristãs, tanto católicas quanto protestantes, ocorrido desde meados do século XX. O autor cita uma pesquisa de David Barret revelando que, “na Europa e na América do Norte, 53 mil pessoas em média deixam permanentemente a igreja de um domingo até o seguinte”.4 Tais números são consistentes com a avaliação que Hobsbawm faz da última década do século XX: O declínio e queda das religiões tradicionais não era compensado, pelo menos na sociedade urbana do mundo desenvolvido, pelo crescimento da religião sectária militante, ou pelo surgimento de novos cultos e comunidades de culto, e menos ainda pelo evidente desejo de tantos homens e mulheres de refugiar-se de um mundo que não podiam entender nem controlar, numa variedade de crenças cuja própria irracionalidade constituía a sua força. A visibilidade pública dessas seitas, cultos e crenças não deve desviar a atenção da fraqueza relativa de seu apoio. Não mais de 3% a 4% dos judeus britânicos pertenciam a qualquer das seitas ou grupos ultra- ortodoxos. Não mais de 5% da população adulta dos EUA pertenciam às seitas militantes e missionárias [Pentecostais, Igrejas de Cristo, Testemunhas de Jeová, Adventistas do Sétimo Dia, Assembléias de Deus, Igrejas da Santidade, “Renascidos” e “Carismáticos”].5 Em um artigo sobre o estado das igrejas na Europa, publicado em 2001 por um semanário de circulação nacional no Brasil, descreve-se um quadro semelhante. Somente 10% dos católicos freqüentam a igreja. A cada ano, diminui em 50.000 a quantidade de ingleses que assistem às missas de domingo. […] Entre os protestantes, o cenário é igualmente desolador. Somente 3% da população comparece aos cultos nos países escandinavos. A cúpula da Igreja Reformada Holandesa está transformando parte de seus complexos religiosos em hotéis para pagar despesas de manutenção. A Catedral de Canterbury, de importância central na fé anglicana, fica vazia na manhã de domingo, o dia mais movimentado em qualquer templo cristão.6 





























 

















 sugerir generalizações a partir de Bosch abre espaço para a demasiada simplificação de informações que exigem tratamento mais pormenorizado. Considera-se, porém, que alguns dos pontos levantados em Missão Transformadora são dignos de nota, uma vez que a essência dos argumentos parece coadunar-se com o quadro atual enfrentado pela igreja. 3 Ibid., p. 19. Cf. HARRIS, Sam. Carta a Uma Nação Cristã. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, passim. 4 BOSCH, op. cit., loc. cit. 5 HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX: 1914-1991. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 544. 6 BARELLA, José Eduardo. Europa sem Deus: Debandada de Fiéis Esvazia a Igreja e Expõe Desencanto Religioso dos Europeus, in Veja, ed. 1700, ano 34, n. 19 (16.5.2001), p. 61.
  • 19. 17 Em suma, “de súbito, a igreja viu minguar os peixes de suas praias. Viu se erguerem ondas de autonomia humana, espumadas de criticismo e indução, e da independência da consciência humana lançando na areia móbil a mornidão de uma religião científica.” 7 Os números de 2008 sugerem um crescimento no percentual de cristãos — de 28%, em 1999, para 33%.8 Há cerca de uma década, exatamente quando os dados acima eram levantados e afirma-se a redução numérica — em termos globais — da igreja, um filósofo católico, escrevendo a partir do contexto europeu, afirmou o seguinte: “As ideologias construídas sobre a negação de Deus [...] estão se esfacelando [...]. A religião volta a despertar o interesse de muita gente, inclusive no Velho Mundo [...].” 9 Cabe verificar se o recente aumento numérico das denominações cristãs, bem como o recrudescimento da motivação religiosa no mundo podem ser compreendidos, de fato, como crescimento — em termos bíblicos — da igreja, ou se decorrem do pluralismo pós-moderno.10 O ponto aqui é: Pastores e líderes lidam com repercussões da secularização. Pluralismo Global, Diversidade de Opções Religiosas e Timidez Missionária No mundo global, a secularização anda de mãos dadas com o pluralismo religioso. As múltiplas migrações e o intercâmbio de idéias, doutrinas, ideologias e estilos de vida produzem uma nova interface religiosa. Os cristãos vêem as outras religiões de forma mais tolerante e, em certos contextos, os adeptos destas religiões “muitas vezes mostram ser mais 





























 

















 7 GOMES, Wadislau Martins. Psicologização do Púlpito e Relevância na Pregação, in Fides Reformata, v. X, n. 1 (2006), p. 12, grifo do autor. 8 Os dados (28% em 1999) são de SINE, Tom. O Lado Oculto da Globalização: Como Defender-se dos Valores da Nova Ordem Mundial. São Paulo, Mundo Cristão, 2001, p. 165. Uma possibilidade interessante de pesquisa é a análise da relação entre globalização e secularização. Os números atuais são extraídos de FORBES, Scott et al. Geographica World Atlas & Enciclopedia. Special Edition. Australia: Random House Australia, 2008, p. 72-73. 9 MONDIN, Battista. Quem é Deus? Elementos de Teologia Filosófica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005, p. 6. 10 Isso não cabe a esta pesquisa responder. Registra-se, no entanto, como uma sugestão para trabalhos posteriores.
  • 20. 18 ativa e agressivamente missionários do que o são os membros de igrejas cristãs”.11 Bosch argumenta que os cristãos ocidentais não empreendem maciços programas de expansão.12 Neste mosaico encontram-se o islamismo, já contabilizado como a segunda maior religião do mundo,13 o hinduísmo e o budismo, bem como as novas religiões, criadas a partir de colagens de crenças antigas ou de elaborações completamente originais. O hinduísmo e o budismo são hoje as religiões de maior crescimento na Austrália. Quem vive nos países ocidentais já não tem limitações quanto a que ramificações do cristianismo escolher. Como conseqüência da globalização, as pessoas hoje têm acesso não só a todas as religiões mundiais históricas, mas também a uma explosão de alternativas.14 Diversidade de Modelos Eclesiásticos No mundo dividido entre ricos e pobres, são espiritualizados os princípios bíblicos relacionados à ética econômica ou criam-se novas versões do evangelho, nas quais a promessa de riqueza vem mesclada ou até mesmo substitui o anúncio de reconciliação através de Jesus Cristo. Onde ocorre essa mistura entre evangelho e prosperidade, surgem novas versões de cristianismo, com seus respectivos modelos eclesiásticos, dentre eles, a “nova igreja” descrita por Charles Trueheart, no Atlantic Monthly de agosto de 1996: A nova igreja está redefinindo a natureza e o papel da própria comunidade por seu excelente desempenho em cinco práticas básicas: ênfase na liderança e no desenvolvimento de lideranças, redes de conhecimento na comunidade, relevância cultural, ênfase no atendimento das necessidades individuais dentro do contexto de uma comunidade e mobilização da paróquia. Ao perseguir esses processos com grande propósito, a nova Igreja cria uma 





























 

















 11 BOSCH, op. cit., p. 20. 12 Ibid., loc. cit. 13 BBC BRASIL.COM. Fiéis do Islã Formam a 2ª Maior Religião do Mundo. [s.l.]: BBC Brasil, [200-?]. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI141888-EI312,00.html>. Acesso em: 10 jun. 2004. Cf. FORBES, op. cit., loc. cit., depois do cristianismo, com 33%, estão o islamismo, com 19.6%, os não-religiosos, 13%, o hinduísmo,12.8%, as religiões tradicionais chinesas, 6.2%, o budismo, 6%, outras religiões, 4.7%, religiões étnicas, 4%, siquismo, 0.4% e judaísmo, 0.3%. 14 SINE, op. cit., p. 163.
  • 21. 19 massa crítica cujo porte lhe permite ser o que a igreja tradicional não pode: uma igreja que oferece “serviço completo.” 15 A dificuldade surge da expressão “serviço completo”. Um best-seller sobre crescimento de igrejas propõe as seguintes perguntas para a elaboração de um “plano de integração”: “Quais as necessidades mais importantes de nossos membros?” e “quais são as maiores necessidades de nossos membros mais antigos?”.16 Outro autor, que chama a atenção para a necessidade das igrejas serem “amigáveis” e “acolhedoras”, afirma que cada cristão “é um gerente de marketing”.17 Tal modelo é denominado seeker friendly, ou seja, adaptado ao usuário ou orientado para o consumidor.18 Especialmente na última década, além do modelo seeker friendly, pastores e líderes brasileiros têm sido apresentados a outras propostas de “pacotes” ministeriais: Igreja em células segundo Robert Lay,19 igreja em células no modelo G-12 20 e, por fim, o fenômeno da igreja emergente, que não pode ser considerado como um movimento, nem mesmo uma iniciativa denominacional; talvez seja mais adequada a referência a “igrejas emergentes” — grupos multifacetados que abraçam determinada perspectiva. Segundo Meister, trata-se de uma tentativa de redefinir completamente as comunidades cristãs, adaptada ao pós- modernismo e caracterizada pelas “atitudes de pluralismo e protesto, demonstradas através de 





























 

















 15 BUFORD, Bob. Os Baby Boomers, as Igrejas e os Empreendedores Podem Transformar a Sociedade. In: HESSELBEIN, FRANCES. et al. (Ed.). A Comunidade do Futuro: Idéias Para Uma Nova Comunidade. São Paulo: Futura, 1998, p. 51, grifo nosso. 16 WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 377, 378, grifos nossos. 17 BARNA, George. Igrejas Amigáveis e Acolhedoras. São Paulo: Abba Press, 1995, p. 99-107; cf. PEREIRA, C. e LINHARES, J. Os novos pastores, in Veja, ed. 1964, ano 39, n. 27 (12.7.2006), p. 76-85. 18 MEISTER, Mauro. Igreja Emergente, a Igreja do Pós-Modernismo? Uma Avaliação Provisória, in Fides Reformata, v. XI, n. 1 (2006), p. 102. 19 Sobre esse modelo, cf. NEIGHBOUR JR., Ralph W. Manual do Líder de Célula: Fundamentação Espiritual e Prática Para Líderes de Células. 2. ed. Curitiba: Ministério Igreja em Células, 1999; LAY, Robert Michael. O Ano da Transição: Vamos Mostrar a Você Como Fazer!!! Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005. Uma proposta semelhante é encontrada em EBERT, Claudio Ernani. Grupos Familiares: Um Modelo Brasileiro. São Paulo: Vida, 1997. Outra abordagem digna de nota é a de KORNFIELD, David; ARAÚJO, Gedimar de. Implantando Grupos Familiares: Estratégia de Crescimento Segundo o Modelo da Igreja Primitiva: Manual Para Líderes. São Paulo: Editora SEPAL, 1995. 20 Sobre o modelo de igreja em células G-12, cf. BATISTA, Jôer Corrêa; SAHIUM, Leonardo; BATISTA, Jocider Corrêa. G12 História e Avaliação. Goiânia: Seminário Presbiteriano Brasil Central, 2000; FIGUEIREDO, Onezio. Os Segredos do G-12. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • 22. 20 sua definição missional, uso da linguagem, expressão de culto e pregação”.21 O mesmo autor considera que a igreja emergente nega a “possibilidade de qualquer metanarrativa abrangente”.22 Isso equivale a dizer que, ao mesmo tempo em que rejeita o modelo seeker friendly, descarta qualquer tentativa de sistematização doutrinária: O que necessitamos é de algo vivido, não apenas falado ou escrito. A última coisa de que necessitamos é de um novo grupo de reformadores orgulhosos, superprotestantes, hiperpuritanos, ultra-restauracionistas que digam: “só nós estamos certos!” 23 Eis o dilema para os pastores e líderes — especialmente, da IPB. Uma leitura superficial dessas propostas pode produzir a noção de que igrejas que não são plenamente eficientes no “atendimento” de sua membresia ou comunidade (proposta seeker friendly), não assumem modismos metodológicos ou não abandonam o padrão modernista a fim de adotarem o pós-modernismo (proposta da igreja emergente) são irrelevantes. Abre-se espaço para um perigoso desdobramento funcional: Teologias e práticas das igrejas tradicionais podem ser descartadas ou consideradas relativas. Todo o conjunto do cristianismo ocidental é visto com suspeitas — como algo a ser relido e adaptado. Diante disso, como pastorear e gerir a igreja, de modo a garantir sua fidelidade e saúde, nos termos da Escritura? Em um sermão pregado em 1959, o Dr. Martin Lloyd-Jones chamou a atenção para esse desafio: [...] a não ser que nós, individualmente como cristãos, sintamos uma preocupação séria acerca da condição da Igreja e do mundo hoje em dia, então somos cristãos muito medíocres. Se nos associamos com a Igreja Cristã simplesmente para recebermos ajuda pessoal, e nada mais, então somos meras crianças em Cristo.24 Na ocasião o pregador desafiou seus ouvintes a não permitir que “métodos” substituam a dependência da igreja do poder do Espírito Santo.25 Nesse ponto ele é seguido 





























 

















 21 MEISTER, op. cit., p. 95. 22 Ibid., p. 97. 23 MCLAREN, Brian. Uma Ortodoxia Generosa: A Igreja Em Tempos de Pós-Modernidade. Brasília: Editora Palavra, 2007, p. 26. 24 LLOYD-JONES, D. Martin. Avivamento. 2.ed. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, p. 12. 25 Ibid., passim.
  • 23. 21 por outros autores. Alguns se dedicam ao estudo das raízes da secularização da igreja,26 outros, aos problemas específicos de sua atual teologia e prática,27 ou, mais especificamente, às ciladas desta nova mentalidade para a identidade e integridade pastoral.28 Outros constatam que a igreja está confusa quanto à sua missão — ou pelo menos, quanto ao modo bíblico de cumpri-la.29 De modo geral, externaliza-se o sentimento de que a secularização e pós- modernidade, amalgamadas na sopa do mundo globalizado, têm contribuído para o declínio e o mundanismo da igreja. Diante de tal quadro, como prosseguir na caminhada do pastoreio? Um escritor cristão popular propõe uma síntese amadurecida: A igreja que fica sentada de cara fechada ao futuro, pouco fazendo além de lustrar os louros de ontem, se tornará uma igreja à qual falta relevância e entusiasmo. Ao mesmo tempo, a igreja que amolecer sua posição teológica e alterar a Escritura para combinar com o estilo do futuro, perderá seu poder.30 A palavra de Swindoll foi publicada no mesmo ano que, em Cambridge, Massachusetts, líderes cristãos se uniram em torno de um pacto reformado. Em uma reunião convocada pela Aliança de Evangélicos Confessionais, ocorrida de 17 a 20 de abril de 1996, 120 pastores, docentes e líderes evangélicos de organizações paraeclesiásticas assinaram a Declaração de Cambridge, um documento que convoca a igreja ao arrependimento de seu 





























 

















 26 Cf. SOUZA, Jadiel Martins. Charles Finney e a Secularização da Igreja. São Paulo: Parakletos, 2002; SINE, op. cit., passim. 27 Cf. BANKS, Robert. A Teologia Nossa de Cada Dia: Aplicando os Princípios Teológicos no Cotidiano. São Paulo: Editora Vida, 2004; HORTON, Michael Scott. (Ed.). Religião de Poder: A Igreja Sem Fidelidade Bíblica e Sem Credibilidade no Mundo. São Paulo: Cultura Cristã, 1998; MACARTHUR JR., John F. Com Vergonha do Evangelho. São José dos Campos: Fiel, 1997; NASH, Laura; MACLENNAN, Scotty. Igreja aos Domingos, Trabalho às Segundas: O Desafio da Fusão de Valores Cristãos com a Vida dos Negócios. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003; ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise. São Paulo: Mundo Cristão, 1995 e VIEIRA, Samuel. O Império Gnóstico Contra-Ataca. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. 28 Cf. HANSEN, David. A Arte de Pastorear. Santo Amaro: Shedd Publicações, 2001; PETERSON, Eugene H. À Sombra da Planta Imprevisível: Uma Investigação da Santidade Vocacional. Campinas: Editora United Press, 2001; PETERSON, Eugene H. O Pastor Contemplativo: Voltando à Arte do Aconselhamento Espiritual. Rio de Janeiro: Textus, 2002; SITTEMA, John. Coração de Pastor: Resgatando a Responsabilidade Pastoral do Presbítero. São Paulo; Cultura Cristã, 2004; STEUERNAGEL, Valdir; BARBOSA, Ricardo. (Ed.). Nova Liderança: Paradigmas de Liderança em Tempo de Crise. 2. ed. Curitiba: Encontro, 2003; WHITE, Peter. O Pastor Mestre. São Paulo: Cultura Cristã, 2003 e ARMSTRONG, John. (Org.). O Ministério Pastoral Segundo a Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. 29 BOSCH, op. cit., passim. 30 SWINDOLL, Charles L. A Noiva de Cristo: Renovando Nossa Paixão Pela Igreja. São Paulo: Editora Vida, 1996, p. 141.
  • 24. 22 mundanismo, e para incorporar a verdade divina na doutrina, no culto e na vida.31 Tal iniciativa preconiza um movimento na direção do equilíbrio: Reconhece-se que a igreja deve ser relevante e bíblica. É aqui que se coloca este estudo sobre o uso eclesiástico de métodos gerenciais seculares, especialmente a administração estratégica. Espera-se contribuir para uma maior compreensão do assunto à luz das Escrituras e disponibilizar recursos úteis para o pastoreio e edificação da igreja. Ao focalizar a IPB, esta pesquisa revela sua intenção de contribuir para o fortalecimento desta federação de igrejas cristãs. Perguntas da Pesquisa Esta pesquisa se ocupa com o seguinte problema central: É bíblico e pertinente o uso, no pastoreio da igreja, da administração estratégica? A resposta a esta indagação exige seu desdobramento em cinco questões subsidiárias: (1) A Bíblia sugere o vínculo entre pastoreio e administração? (2) Se a resposta à questão anterior for positiva, a Bíblia apóia o uso, na administração da igreja, de métodos oriundos da cultura circundante? (3) Tal uso é aprovado — ou pelo menos sugerido — pela Confissão de fé de Westminster, doravante denominada CFW?32 (4) O modelo de administração da IPB, definido em seu Manual presbiteriano, doravante denominado MP, abre espaço para o uso destes métodos? (5) A cosmovisão e a metodologia da administração estratégica condizem com a Bíblia, com a CFW e com a prática da IPB? Todas essas questões envolvem “variáveis que podem ser tidas como testáveis.” 33 





























 

















 31 BOICE, James M. et al. Reforma Hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, passim. 32 ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER. Símbolos de Fé, Contendo a Confissão de Fé, Catecismo Maior/Breve. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. CFW, passim. 33 GIL, op. cit., p. 24.
  • 25. 23 A primeira questão subsidiária estabelece a base para o restante da pesquisa. Somente se a Escritura apoiar o uso da administração no pastoreio é que será possível falar da possibilidade de uso, na igreja, de métodos administrativos. A segunda questão subsidiária, como já foi dito, depende da resposta positiva à questão anterior. A partir do atendimento daquele quesito, discute-se a possibilidade da Bíblia apoiar o uso, na administração eclesiástica, de métodos oriundos da cultura não-cristã. Atualiza-se o dilema Justino-Tertulianista,34 agora aplicado à condução da igreja. Uma resposta para essa questão é instilada a partir da leitura dos primeiros quatro capítulos de Gênesis e do exame de alguns relatos extraídos do Antigo e Novo Testamentos. A terceira questão subsidiária checa se a leitura doutrinária oferecida pela CFW dá abertura para o uso de tais métodos. Isso é importante uma vez que a IPB é confessional, ou seja, “adota [...] como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve”.35 Para manter-se fiel à Constituição, tanto as igrejas locais federadas quanto as instâncias conciliares da IPB devem assumir práticas de ministério consistentes com a CFW — qualquer prática que contrarie a CFW é, prima facie, inconstitucional. A quarta questão subsidiária diz respeito ao modelo administrativo preconizado pela IPB. Aqui se busca compreender o modelo organizacional que rege a atual administração da IPB, e as possibilidades de inserção de novas e adequadas metodologias de liderança e gerenciamento. A quinta e última questão subsidiária trata da administração estratégica em si — sua cosmovisão e contribuições metodológicas. Seriam estas condizentes com a Bíblia, a CFW e a 





























 

















 34 Trata-se do antagonismo entre a revelação e a filosofia, personificado pelos pais apologistas Justino Mártir (c. 100 — c. 165), que tentou relacionar o evangelho com a filosofia grega e Tertuliano (c. 160 — c. 225), que considerava errado o uso, pelos cristãos, de qualquer filosofia secular. Sobre essa questão, cf. McGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica. Santo Amaro: Shedd Publicações, 2005, p. 44-45. 35 Constituição Interna da Igreja Presbiteriana do Brasil, doravante denominada CI/IPB, Capítulo I, Art. 1, grifo nosso. In: CAMPOS, Silas. (Org.) Manual Presbiteriano Com Jurisprudência. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 8.
  • 26. 24 prática da IPB? A ponta final da pesquisa é amarrada, propiciando responder à questão principal. Espera-se assim, cumprir o que está sendo prometido nessa introdução.36 Objetivos do Estudo Os objetivos deste estudo são: (1) Investigar se é bíblico o uso da administração estratégica no pastoreio da igreja; (2) se a resposta à questão anterior for positiva, propor um conjunto de princípios e práticas bíblicas de administração, aplicável às igrejas locais e concílios da IPB. O primeiro objetivo atende às demandas deste trabalho como pesquisa acadêmica, o segundo, como projeto ministerial aplicado. Ambos os aspectos são importantes, uma vez que “a maior sabedoria, não transformada em ação ou atuação, é um dado sem sentido”,37 ou, nas palavras de Blake e Mouton, citadas por Caravantes, Panno e Kloeckner: Ação sem conceitos para orientá-la é pouco mais do que experiência e erro, e nesse sentido deve-se considerar altamente relevante ter-se conceitos claros e válidos. Mas conceitos sem ação representam pouco mais do que jogos intelectuais. Não importando o quanto sejam invisíveis ou não reduzidas a uma fórmula, todas as ações humanas têm um conceito que lhes é subjacente.38 Cada etapa da pesquisa contempla essas duas vias, teórica e prática. Justificativa Assumindo o pressuposto de que o ofício pastoral é uma dádiva divina para o governo da igreja pela Palavra de Deus (Ef 4.11-14),39 esta pesquisa reconhece que, na IPB, a 





























 

















 36 ECO, Umberto. Como Se Faz Uma Tese. 19. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 84. 37 DRUCKER, Peter F. O Gerente Eficaz. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1990, p. 4. 38 CARAVANTES, Geraldo R.; PANNO, Cláudia C.; KLOECKNER, Mônica C. Administração: Teorias e Processo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005, p. 210. 39 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 538-539; Bíblia de Estudo de Genebra, doravante designada BEG. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999,
  • 27. 25 administração é considerada como atribuição dos presbíteros regentes e docentes.40 Daí a necessidade de elucidar a natureza e o modo de exercício desse governo. Será que o governo da igreja pela Palavra refere-se exclusivamente às tarefas identificadas como tradicionalmente pastorais, tais como pregar, doutrinar, aconselhar, acompanhar as ovelhas nos momentos mais relevantes de suas vidas, orar pelo e com o rebanho, conduzir a adoração e exercer a disciplina? Ou tem a ver, também, com liderar e gerenciar? Na primeira perspectiva cabe ao pastor libertar-se, o máximo possível, de qualquer encargo considerado administrativo. Se biblicamente não houver base para ligar o pastoreio à administração, abre-se espaço para uma disjunção conceitual relacionada à condução da igreja. Torna-se plausível enxergar o serviço pastoral e a administração como excludentes, ou, na melhor das hipóteses, sobrepondo-se ocasionalmente por força de exigências meramente operacionais. A administração pode ser vista como incumbência “mundana”, inserida por decreto conciliar no “serviço divino”, uma espécie de fardo desagradável, mas, necessário. Há, inclusive, a possibilidade de enxergar os diáconos como responsáveis pela administração, a fim de desonerar o presbiterato para o pastoreio.41 O problema é que, nos moldes da CI/IPB, o pastor possui “autoridade de ordem”,42 é o presidente da assembléia local,43 o superintendente (um termo gerencial) das atividades da igreja,44 o presidente de seu Conselho45 e aquele que a representa “ativa, passiva, judicial e extra-judicialmente.” 46 





























 

















 p. 1501; CALVINO, João. Comentário à Sagrada Escritura: Novo Testamento: Efésios. São Paulo: Paracletos, 1998, p. 121-122. 40 CI/IPB, Capítulo IV, Seção 2ª, Artigos 36, 38; Capítulo V, Seção 2ª, Artigos 78, 80 e 83. In: CAMPOS, op. cit., p. 21, 32-34. 41 A passagem de Atos 6.1-7 tem sido citada de forma a sustentar isso. Uma proposta de interpretação desse texto é fornecida na seção 4.4.2. 42 CI/IPB, Capítulo I, Artigo 3, § 2°. In: CAMPOS, op. cit., p. 9. 43 Ibid., Capítulo II, Artigo 10, p. 12. 44 Ibid., Capítulo IV, 2ª Seção, Art. 36, alínea “d”, p. 21. 45 Ibid., Capítulo V, Seção 2ª, Artigo 78, p. 32-33. 46 Ibid., Modelo de Estatutos Para Uma Igreja Local, Capítulo II, Artigo 3º, Parágrafo único, p. 225-232.
  • 28. 26 Na segunda perspectiva, presbíteros docentes e regentes assumem a administração convictos de que a Escritura não apenas permite, mas, insiste em que eles administrem. Eles podem administrar estrategicamente, ou seja, com vistas a aperfeiçoar os processos relativos ao cuidado do rebanho. Tal perspectiva não é isenta de problemas: A condução da igreja pode ser encarada a partir de uma ótica meramente institucional47 e o organismo pode ser sufocado pela organização. Nesse caso, “as regras burocráticas” passam a servir “à própria burocracia”.48 O aspecto positivo é que há a plausibilidade dos responsáveis pelo pastoreio da igreja servirem a Deus sem dicotomias e, por conseguinte, de forma mais fiel às Escrituras, prazerosa e produtiva. O outro benefício proporcionado por esta pesquisa é a própria possibilidade de reflexão sobre a igreja como organização. Como afirma McGrath, “estudar as diversas perspectivas cristãs sobre a igreja significa adquirir uma noção sobre a maneira como as instituições adaptam-se às mudanças com a finalidade de sobreviver”.49 Nesses termos, parece pertinente a investigação da validade do uso da administração estratégica como meio de aprimoramento da organização da igreja, a fim de mantê-la focalizada em alvos condizentes com a Bíblia Sagrada. Ademais, o surgimento de novos modelos eclesiásticos, citados alhures, bem como a ausência de divulgação de pesquisas sobre administração estratégica no contexto das igrejas reformadas, acentuam a necessidade deste trabalho. Haveria prejuízo em deixar de lado esta investigação? São sugeridas seis possibilidades de conseqüências negativas: (1) Uma percepção da administração como elemento alienígena no serviço pastoral; (2) a partir desta percepção, o estabelecimento de um falso dilema entre o pastoreio e a administração; (3) a dificuldade em identificar, para 





























 

















 47 Cf. MUNIZ, Adir Jaime de Oliveira; FARIA, Herminio Augusto. Teoria Geral da Administração: Noções Básicas. 5. ed. rev. e ampliada. São Paulo: Atlas, 2007, p. 68, “a institucionalização deve ser compreendida como a emergência de padrões de interação e de adaptação das organizações em resposta ao ambiente.” 48 SENNETT, Richard. A Cultura do Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2006, p. 37. 49 McGRATH, op. cit., p. 543.
  • 29. 27 os procedimentos administrativos, um alicerce bíblico adequado, ou, ainda pior; (4) o total desinteresse nesse alicerce, o que pode ocasionar em direção esquizofrênica da igreja — zelo na pregação ou orientação “religiosa” e aplicação de modelos ministeriais, práticas ou dinâmicas administrativas que contradizem as Escrituras e a CFW; (5) descaso para com as práticas administrativas da IPB, definidas no MP; (6) descaso para com a administração estratégica da igreja, limitando suas possibilidades de fazer frente às demandas ministeriais atuais. Em suma, é recomendável lidar com tais questões. A presente averiguação é pertinente. Hipótese A hipótese substantiva do estudo antecipa que, de acordo com as Escrituras, a CFW, o MP e a prática conciliar da IPB, a administração — e, por conseguinte, a administração estratégica — pode e deve ser utilizada no pastoreio da igreja. Tal uso, porém, exige sua adaptação à cosmovisão cristã. Moldura Conceitual Assumida A moldura conceitual assumida nesta pesquisa é uma síntese do paradigma cosmonômico — o conjunto bíblico de asserções sobre cosmogonia, antropogonia, mandatos criacionais, queda e graça comum, articulado pela filosofia da idéia cosmonômica de Herman Dooyeweerd (1894 - 1977)50 — e das ferramentas de análise e interpretação de 





























 

















 50 Tal perspectiva enxerga a administração como ligada à criação divina — como núcleo de significado do aspecto modal econômico. Cf. OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. A Relevância Transcendental do Deum Et
  • 30. 28 cosmovisões sugeridas por Nancy Pearcey.51 . As categorias avaliativas propostas por Pearcey (criação, queda e redenção) são utilizadas para averiguar a cosmovisão que sustenta a administração estratégica. Delimitação O estudo se limita a responder às perguntas da pesquisa (p. 22). As respostas são sugeridas a partir da análise de dados provenientes das Ciências Aplicadas — Administração; Ciências Sociais — Economia; História; Filosofia e Religião — Bíblia, Teologia e Administração Eclesiástica. Tal escopo pode parecer demasiadamente teórico para um projeto de Doutorado em Ministério. O autor parte do pressuposto, porém, que toda prática de gerenciamento reflete uma ou mais molduras conceituais e que o pastoreio contemporâneo exige a releitura cristã de tais molduras, bem como a aplicação de metodologias administrativas condizentes com as Sagradas Escrituras, com a CFW e com o MP. Ademais, a partir do processamento dos dados coletados, o trabalho propõe princípios práticos para a administração de igrejas e concílios da IPB. 





























 

















 Animam Scire no Pensamento de Herman Dooyeweerd. São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 2004. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Centro Presbiteriano de Pós- Graduação Andrew Jumper; GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética: Respostas aos Críticos da Fé Cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 288-291; CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. Sociedade, Justiça e Política de Cosmovisão Cristã: Uma Introdução ao Pensamento Social de Herman Dooyeweerd. In: CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. (Org.). Cosmovisão Cristã e Transformação. Viçosa: Ultimato, 2006, p. 189-217. 51 Cf. PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo De Seu Cativeiro Cultural. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2006, p. 49-51. Mais informações sobre o paradigma cosmonômico e as ferramentas de análise e interpretação de cosmovisões são fornecidas nas seções 3.2.2 e 3.5. O autor reconhece que seria interessante analisar com mais profundidade tanto a cosmonomia proposta por Dooyeweerd — incluindo-se os argumentos daqueles que a rejeitam — quanto as idéias sobre cosmovisão propostas por Pearcey, mas isso foge ao escopo deste projeto. Ambos os arcabouços teológico-filosóficos são aqui assumidos como pressupostos.
  • 31. 29 Organização do Restante do Estudo No primeiro capítulo o assunto da pesquisa é apresentado, definido e caracterizado.52 Os capítulos dois a seis fornecem um apanhado das fontes primárias relevantes para o estudo. O sétimo capítulo explica a metodologia e apresenta os resultados do estudo, que são avaliados com relação às pretensões iniciais do pesquisador. O último capítulo traz as considerações finais e propõe um conjunto de princípios e práticas bíblicas de administração, aplicável às igrejas locais e concílios da IPB. 
 





























 

















 52 ABRAHAMSOHN, Paulo. Redação Científica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004, p. 25.
  • 32. 30 CAPÍTULO II O QUE A LITERATURA SACRA NOS DIZ SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O PASTOREIO E A ADMINISTRAÇÃO Este capítulo apresenta possibilidades de relação entre o serviço pastoral e a administração, respondendo assim à primeira questão subsidiária. Os dados da Sagrada Escritura, relativos ao serviço pastoral, são compulsados e devidamente organizados em três grupos: Cuidado, liderança e organização da igreja. 2.1 Conceitos Importantes do Segundo Capítulo Uma vez explicado o propósito do capítulo, alguns termos necessitam de definição. Pastoreio é sinônimo de serviço pastoral e significa o conjunto de ações, biblicamente modeladas, empreendido para o agrado de Deus e a edificação da igreja. Administração é “a condução racional das atividades de uma organização, seja ela lucrativa ou não-lucrativa”,53 com a finalidade de “planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos organizacionais, para alcançar determinados objetivos de maneira eficiente e eficaz”.54 Administração eclesiástica é a condução das estruturas institucional, orgânica e comunitária da igreja, mediante princípios, normas, funções e procedimentos, com a finalidade de cumprir seus objetivos biblicamente orientados.55 A administração estratégica é 





























 

















 53 CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração: Uma Visão Abrangente da Moderna Administração das Organizações: Edição Compacta. 3. ed. rev. e atualizada. 4ª reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 2. 54 Ibid., p. 17. 55 Adaptado de OLIVEIRA, Djalma de Pinha Rebouças de. Administração Estratégica na Prática: A Competitividade Para Administrar o Futuro das Empresas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 4; CARVALHO,
  • 33. 31 um processo — um “conjunto completo de compromissos, decisões e ações necessários para que a empresa obtenha vantagem competitiva e retornos acima da média.” 56 Eficiência “significa fazer bem e corretamente as coisas. O trabalho eficiente é um trabalho bem executado”. Eficácia “significa atingir objetivos e resultados. Um trabalho eficaz é um trabalho que resulta proveitoso e bem-sucedido.” 57 A administração compreende tanto liderança quanto gerenciamento. A liderança é a dinâmica através da qual “uma pessoa influencia um grupo de indivíduos a alcançar um alvo comum”,58 e o gerenciamento é o feixe de procedimentos voltados para que algo necessário seja realizado.59 Enquanto a liderança estabelece uma direção, reúne e capacita a equipe e fornece motivação e inspiração, o gerenciamento planeja, edifica, organiza, supervisiona o trabalho e resolve problemas.60 Outro conceito útil é o de magistério, aqui entendido como “esfera de autoridade ou domínio de competência.” 61 O termo cosmovisão, de modo geral, é usado significando o “conjunto ordenado de proposições em que se acredita, especialmente proposições acerca das questões mais importantes da vida”.62 A palavra traduz o vocábulo alemão “Weltanschauung, [...] ‘modo de olhar o mundo’ (welt, ‘mundo’; schauen, ‘olhar’).” 63 Cosmovisão cristã, por sua vez, é a visão bíblica do mundo, neste trabalho, mais especificamente, a visão de mundo segundo o paradigma cosmonômico. 





























 

















 Antonio Vieira de. Planejando e Administrando as Atividades da Igreja. São Paulo: Hagnos, 2004, p. 37; KILINSKI, Kenneth K. Organização e Liderança na Igreja Local. São Paulo: Vida Nova, 1987, p. 119. 56 HITT, Michael; IRELAND, R. Duane; HOSKISSON, Robert E. Administração Estratégica: Competitividade e Globalização. 7. ed. norte-americana, 2. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2008, p. 6. 57 CHIAVENATO, op. cit., loc. cit.; cf. MUNIZ; FARIA, op. cit., p. 109: “Eficácia é o ato de produzir os resultados desejados e a eficiência é a capacidade para produzir um efeito.” 58 NORTHOUSE, Peter G. Leadership: Theory and Practice. 3. ed. Thousand Oaks: SAGE-USA, 2003, p. 3, tradução nossa. 59 DRUCKER, op. cit., p. 1-8. 60 NORTHOUSE, op. cit., p. 8-9. 61 McGRATH, Alister; McGRATH, Joanna. O Delírio de Dawkins: Uma Resposta ao Fundamentalismo Ateísta de Richard Dawkins. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 56-57. 62 MORELAND, J. P.; CRAIG, William Lane. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 29. 63 PEARCEY, op. cit., p. 26.
  • 34. 32 2.2. O Ataque de Wagner ao Uso Eclesiástico da Administração O estudo bíblico que se segue é importante em virtude da polarização estabelecida entre pastoreio e administração. Neste embate destaca-se Glenn Wagner,64 cuja obra é bem- vinda no sentido de fornecer material para reflexão sobre os perigos apresentados pela secularização e mercantilização da igreja, mas comete a falácia do falso dilema ao propor “um número limitado de alternativas dentre todas as possíveis, em muitos casos já sugerindo, tendenciosamente, uma delas como sendo verdadeira.” 65 Ele entende que a igreja tem substituído “o modelo de comunidade pelo modelo empresarial”.66 Ao assumir esse último, o pastor vende a sua alma.67 Sem conceituar tais modelos, ele prossegue comparando-os. Estruturas empresariais não produzem comunidades. As pessoas sentem-se usadas pelas empresas ou corporações, não nutridas por elas.68 O modelo empresarial enfatiza programas, produtos, tarefas, controle, benefícios e vantagens, dinheiro, emprego, cargos, produção, sistemas de organização, regras, normas e regulamentos, gerenciamento, competição, produtividade, lucros, números e estatísticas, promoção, marketing, exigências, imagem exterior e cronogramas. O modelo comunitário, pelo contrário, destaca pessoas, senso de propósito, capacitação, bênção, ministério, encorajamento, provisão, salvação, discipulado, investimento em vidas, compaixão, crescimento pessoal, dedicação, relacionamentos, amizade, convivência, organismo e linhas de comunicação.69 





























 

















 64 WAGNER, Glenn. Igreja S/A: Dando Adeus à Igreja-Empresa Recuperando o Sentido da Igreja-Rebanho. São Paulo: Editora Vida, 2003. 65 NAVEGA, Sergio. Pensamento Crítico e Argumentação Sólida: Vença Suas Batalhas Pela Força das Palavras. São Paulo: Publicações Intelliwise, 2005, p. 165. 66 WAGNER, op. cit., p. 26. 67 Ibid., p. 28. 68 Ibid., p. 29. 69 Ibid., p. 30.
  • 35. 33 A comparação de um líder com um pastor70 produz resultado semelhante. O líder, segundo Wagner, usa as pessoas como objetos “para alcançar os fins da organização”, ele se porta como um “gerente ou administrador”, concentrado em “programas”. Ademais, orienta- se “por um modelo de atividade empresarial, construído sobre fundamentos psicológicos e sociológicos”, em busca de “auto-satisfação” e “auto-referência”. O pastor, por sua vez, prioriza relacionamentos, encoraja o “rebanho” e investe no “crescimento das pessoas”, orientando-se “por um modelo bíblico enraizado na identidade de Cristo como o Bom Pastor”, com a finalidade última da “realização espiritual e uma absoluta dependência em Deus.” Wagner questiona a utilidade, para o crescimento da igreja, das técnicas e princípios de gerenciamento, tais como declarações de propósito, declarações de visão e planejamento estratégico.71 Ele entende que o alvo principal do pastor não é articular uma grande visão, mas ajudar suas ovelhas a confiar nele e conhecê-lo.72 A Bíblia “não requer que participemos de sessões de planejamento estratégico ou de seminários de liderança ou nos formemos em administração financeira.” 73 Toda essa argumentação é levada adiante com o propósito de alertar os leitores, especialmente os pastores ou interessados em ingressar no ministério, para a necessidade de “iniciar com a Palavra de Deus. Nossa filosofia de ministério deve ser fundamentada na teologia bíblica.” 74 O problema do argumento de Wagner é que ele força o leitor a abraçar um dos dois modelos, desconsiderando a possibilidade de um terceiro: O do pastor que cuida administrando, um tipo de condução designado pela moderna administração de liderança 





























 

















 70 Ibid., p. 160. 71 Ibid., p. 24. 72 Ibid., p. 165, 166. 73 Ibid., p. 123. 74 Ibid., p. 77.
  • 36. 34 servil.75 Pollard76 descreve o líder servidor como alguém que presta um serviço e reconhece que as pessoas possuem dignidade, por terem sido criadas conforme a imagem e semelhança de Deus. Este líder se sacrifica pelos seguidores, faz acontecer, ou seja, é voltado para o desempenho, mas orientado pelo valor, doa ao invés de tomar, promove a diversidade e a mútua colaboração e se preocupa com o bem-estar de seus liderados. Ele afirma que “um líder com intenção de servir pode proporcionar esperança, [...] e pode ser um exemplo para aqueles que estão em busca de direção [...] e que desejam realizar e colaborar”.77 A descrição fornecida por outro autor sugere amor, bons relacionamentos, caráter, aperfeiçoamento humano e formação de comunidade.78 Na visão atual de administração, a liderança não apenas capacita indivíduos e equipes a aperfeiçoar a produção, mas auxilia-os a serem melhores pessoas e a encontrar significado em seu trabalho.79 A visão contemporânea da liderança contempla as capacidades reconhecidas de tomar decisões e influenciar pessoas, ao lado de construir relações e dar e procurar informações.80 O modelo tradicional de condução, anteriormente centrado em liderança e autoridade, agora agrega serviço sacrificial, amor e vontade.81 O sucesso das novas organizações depende cada vez mais não de tecnologias, estruturas e processos, mas de pessoas.82 Montoya considera que “o pastor é a pessoa chamada para prover a liderança final 





























 

















 75 O termo “servil”, aqui, não tem a conotação negativa de condescendência, adulação ou subserviência, mas o sentido positivo de “relativo ou pertencente a servo” (HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Sales. (Ed.). Servil. In: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0.5a. Editora Objetivo Ltda., 2002. CD-ROM). 76 POLLARD, C. William. O Líder Servidor. In: HESSELBEIN, Frances; GOLDSMITH, Marshall; BECKHARD, Richard. (Ed.). O Líder do Futuro: Visões, Estratégias e Práticas Para uma Nova Era. São Paulo: Futura, 1996, p. 241-247. 77 Ibid., p. 242. 78 HUNTER, James C. Como Se Tornar Um Líder Servidor. Rio de Janeiro: Sextante, 2006, passim. 79 BENNIS, Warren; NANUS, Burt. Líderes: Estratégias Para Assumir a Verdadeira Liderança. São Paulo: Editora Harbra, 1988, p. 14-15. 80 CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, op. cit., p. 512-513. 81 HUNTER, James C. O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 57-71. 82 CHIAVENATO, op. cit., p. 482.
  • 37. 35 na igreja, não importando o sistema administrativo dela”.83 Através do exercício da liderança, o pastor persegue objetivos bíblicos a fim de glorificar a Deus.84 Wagner não desconhece essa possibilidade, apenas decide rejeitá-la: “Para ser honesto, o termo ‘servo-líder’ não me convence. Prezo o que se procura transmitir, mas [...] não penso que seja necessário, ‘pastor de ovelhas’ está ótimo.” 85 De fato a palavra “liderança” não é isenta de problemas. Gerzon chama a atenção para o fato de, em alemão, “o líder” é der Fuhrer, uma expressão que, sem dúvida, “nos leva a refletir sobre o seu lado mais sombrio”.86 A situação na língua inglesa não é muito mais favorável. A palavra inglesa leadership (liderança) origina-se da antiga raiz leith, que significa “tornar-se visível e morrer” em uma batalha. Por essa definição, os que incentivam o grupo A a cometer violência contra o grupo B são os “líderes”. Se removermos a violência da equação e, mesmo que o líder represente um valor ou causa maiores, a palavra ainda significará o ato de mobilizar um grupo para dominar ou conquistar o outro. O resultado de tal liderança é sempre um conflito maior e pior.87 Diferentemente de Gerzon, que levanta os problemas relacionados ao uso do termo liderança, mas mesmo assim o mantém, ainda que qualificado,88 Wagner simplesmente rejeita a expressão “servo-líder” sem fornecer uma sustentação conceitual, aparentemente por uma questão de preferência pessoal: “[...] não penso que seja necessário” (grifo nosso). Se ele estiver certo, as evidências bíblicas demonstrarão que não há relação necessária — nem desejável — entre pastoreio e administração. Se o ensino da Escritura apontar para outra direção, especialmente se o conceito de pastor-administrador for defensável biblicamente, os argumentos de Wagner terão de ser reconsiderados. 





























 

















 83 MONTOYA, Alex D. A Liderança. In: MACARTHUR JR., John. (Ed.).Ministério Pastoral: Alcançando a Excelência no Ministério Cristão. 4. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2004, p. 294. 84 Ibid., p. 295. 85 WAGNER, op. cit., p. 117. 86 GERZON, Mark. Liderando Pelo Conflito: Como Líderes de Sucesso Transformam Diferenças em Oportunidades. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, p. 24. 87 Ibid., p. 25. 88 Ibid., p. 19-62, sugere três tipos de líderes: O demagogo, o administrador e o mediador.
  • 38. 36 2.3 O Pastoreio Como Cuidado, Liderança e Organização do Rebanho O pastoreio da igreja é ilustrado pelo exercício da profissão pastoral dos tempos bíblicos, que envolvia o cuidado de rebanhos.89 A observação dos dados bíblicos, relacionados ao serviço pastoral, permite três elaborações. Primeiro, o pastor cuida do rebanho. Segundo, o cuidado do rebanho exige direção. Terceiro, o cuidado do rebanho demanda organização. 2.3.1 O Que o Cuidado do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração O serviço pastoral é descrito, no Antigo Testamento, doravante denominado AT,90 pela raiz h[r, “alimentar” ou “apascentar” (Gn 48.15). O h[,ro—, “pastor”, é aquele que alimenta o rebanho e dele cuida providenciando água, descanso e proteção.91 





























 

















 89 DANIEL-ROPS, Henri. A Vida Diária Nos Tempos de Jesus. 2. ed. São Paulo; Vida Nova, 1986, p. 150-151. 90 É preciso esclarecer alguns pressupostos hermenêuticos do autor. O que Pratt Jr. afirma sobre a leitura do AT aplica-se a este estudo. A interpretação da Bíblia que se segue decorre da interação do texto cheio de autoridade com os “nossos compromissos, crenças e experiências [...]. Colocamo-nos diante das Escrituras com pressuposições, mas também com a disposição de ouvir. Falaremos dessa nossa interação com o texto como um Diálogo com a Autoridade” (PRATT JR., Richard L. Ele Nos Deu Histórias: Um Guia Completo Para a Interpretação das Histórias do Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 39). O texto é enfocado como Palavra de Deus inspirada, inerrante, infalível e suficiente (cf. HARRIS, Robert Laird. Inspiração e Canonicidade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 59-126; BOICE, James M. et al., op. cit., p. 12-13, 57-74). O método de interpretação utilizado nesta pesquisa é o sintático-teológico, uma atualização conceitual do estudo histórico-gramatical proposto por Karl A. G. Keil, que estabelece como necessária a apreensão de perícopes completas dentro de seus contextos (cf. KAISER JR., Walter C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 31). PRATT JR., op. cit., p. 440, nos informa que este tipo de interpretação é denominado por Mickelsen “histórico-gramatical-contextual” (Interpreting the Bible, 159 — e por Virkler, “histórico-cultural” e “léxico-sintático” — Hermeneutics, 76-112). O sentido das passagens isoladas é definido, além de por seus conteúdos intrínsecos, pela comparação destas com outras que tratam do mesmo assunto. Além disso, predominam os sentidos naturais dos textos, rejeitando-se a alegorização. Nesse particular, admite-se uma influência reformada e puritana na interpretação (cf. LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes: Uma Breve História da Interpretação. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 173-174). Reconhece-se que a Bíblia não é um livro sobre administração. Por essa razão, esta pesquisa é conduzida com o cuidado de não cometer a falácia do anacronismo semântico, de atribuir às passagens ou a um vocábulo, em particular, “um significado mais recente”, não imaginado pelos autores bíblicos (cf. CARSON, D. A. Os perigos da Interpretação Bíblica. 2. ed. reimp. (2002). São Paulo: Vida Nova, 2001, p. 31-33). A última observação é sobre o padrão adotado para a transcrição de termos nas línguas bíblicas originais. De modo geral observa-se a instrução de Greggersen e Carvalho: “Citações do grego, hebraico e aramaico devem
  • 39. 37 2.3.1.1 Deus Cuida de Seu Povo No AT Deus se revela como Pastor de Israel: “O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará” (Sl 23.1; cf. Gn 49.24). Ele fortalece e abençoa ao seu povo, “apascenta-o e exalta-o para sempre” (Sl 28.9; cf. Sl 68.7-9, 74.1, 79.13, 95.7). Isaías antevê o dia em que Yahweh, “como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” (Is 40.11). Através do profeta Ezequiel (Ez 34.14-16) Deus promete às suas ovelhas: “Apascentá-las-ei de bons pastos, e nos altos montes de Israel será a sua pastagem; deitar-se-ão ali em boa pastagem e terão pastos bons nos montes de Israel. Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas e as farei repousar, diz o SENHOR Deus.” 92 Pela boca de Jeremias Deus assegura o estabelecimento de um novo pastoreio: “Dar- vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência” (Jr 3.15).93 Tal promessa torna-se mais específica em Jeremias 23.4. Deus levantará “pastores” que cuidarão do rebanho de Israel e, no versículo seguinte, relaciona a promessa com a aliança davídica (Jr 23.4-6), ou seja, os pastores apontam para o Pastor 





























 

















 ser feitas nos alfabetos originais, (sem transliterações)” (GREGGERSEN, Gabrielle; CARVALHO, Tarcízio de. Manual de Dissertação. Edição em PDF. São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 2004, p. 21). Em tais casos os vocábulos são seguidos da tradução entre aspas na primeira ocorrência, e de nenhuma tradução a partir da segunda. Transliterações são mantidas, porém, nas citações de outros autores. 91 YOUNGBLOOD, Ronald F. (Ed.). Dicionário Ilustrado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 1082, 1083. 92 A referência aos “altos montes” e “montes de Israel” (Ez 34.14; cf. Ez 37.22) sugere a busca de melhores pastagens. Daniel-Rops nos informa que os pastores saíam com seus rebanhos a fim de assegurar-lhes alimento “uma semana antes da Páscoa e não voltavam senão em meados de novembro, nas primeiras chuvas de Hesvan” (DANIEL-ROPS, op. cit., p. 150). Os pastos nas regiões baixas tornavam-se empobrecidos em razão do pastoreio da primavera. Os pastores mais experimentados, por ocasião do verão, conduziam seus rebanhos para “os espessos gramados das encostas” (LUCADO, Max. Seguro Nos Braços do Pastor: Esperança e Encorajamento do Salmo 23. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2005, p. 55, 56). 93 Schökel e Dias sugerem que a frase “segundo o meu coração” pode ser traduzida como “à minha vontade” e relaciona-se com “que lhe agrada”, de 1Samuel 13.14, “descrevendo o novo eleito, Davi” (SCHÖKEL; L. Alonso; DIAS, J. L. Sicre. Profetas I: Isaías, Jeremias. São Paulo: Paulinas, 1988. (Coleção Grande Comentário Bíblico), p. 449, 451).
  • 40. 38 Jesus. Em Ezequiel lê-se algo semelhante. A expressão “o meu servo Davi” é usada em lugar de uma pessoa — Jesus (Ez 34.24; cf. Ez 37.22, 24). Tais predições revelam a meta redentora divina de “trazer o Messias no tempo devido dentro do curso da história”.94 Jesus Cristo cumpre as promessas messiânicas.95 Jesus é poimh.n o` kalo,j, “o bom pastor” que “dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11), o poime,na tw/n proba,twn to.n me,gan, “grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20), o poime,na kai. evpi,skopon, “Pastor e Bispo” das almas (1Pe 2.25) e o avrcipoi,menoj, “Supremo Pastor” que dará aos pastores locais a “imarcescível coroa de glória” (1Pe 5.4). O apóstolo Paulo faz referência ao serviço pastoral sem aplicar o título de Pastor diretamente a Cristo. Isso não quer dizer que as idéias comunicadas pelo vocábulo poimh.n estejam ausentes dos escritos paulinos. Paulo refere-se a esses mesmos construtos utilizando ku,rioj, “Senhor” (2Co 6.18; Ef 5.29, no Byzantine Majority Text, 2Tm 3.11, 4.17).96 2.3.1.2 Deus Destaca Pessoas Para Cuidar de Seu Povo Aqueles que detêm posição de autoridade em Israel são também denominados pastores (Jr 3.15; Ez 34.2, 8-9).97 Moisés (Êx 3.1), Davi (Sl 78.70-72) e Amós (Am 1.1) cuidaram de ovelhas, antes de assumir posições de destaque perante Israel.98 White entende que “esse atributo divino é uma das características dos ofícios de profeta, sacerdote e rei. A 





























 

















 94 VAN GRONINGEN, Gerard. Criação e Consumação. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. v. 1, p. 543. 95 Isso é assim ainda que nos Evangelhos Sinóticos só haja uma referência a Deus como pastor (em Lucas 15.4-7 e na passagem paralela, em Mateus 18.12-14). Cf. BEYREUTHER, Erich. Pastor. In: COENEN, Lothar; BROWN, Colin. (Orgs.). Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. v. 2. p. 1590. 96 Ibid., loc. cit. 97 LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 397; BEASLEY-MURRAY, G. R. Ezequiel. In: DAVIDSON, F. (Ed.). O Novo Comentário da Bíblia. 1. ed. reimp. (1985). São Paulo: Vida Nova, 1963. v. 2, p. 807. Cf. SCHÖKEL; DIAS, op. cit., p. 444, no livro de Jeremias, por exemplo, “os pastores são delegados de Deus, os quais haverão de garantir a vassalagem da aliança.” 98 YOUNGBLOOD, op. cit., p. 1082.
  • 41. 39 pretensão de Davi ao trono se baseava no fato de que Deus lhe ordenara que alimentasse o povo (2Sm 5.2).” 99 No Novo Testamento, doravante denominado NT, Cristo incumbe Pedro de “pastorear” as ovelhas (Jo 21.15-17 — Bo,ske,, “apascenta”, nos versículos 15 e 17, e poi,maine, “pastoreia”, no v. 16). O mesmo apóstolo escreve mais tarde, exortando aos presbu,teroi, “presbíteros”: “poima,nate, ‘pastoreai’ o rebanho de Deus que há entre vós” (1Pe 5.2). Também Paulo dirige-se aos presbíteros, em termos semelhantes: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu evpisko,pouj, ‘bispos’, para poimai,nein, ‘pastoreardes’ a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28, cf. At 20.17). Em suma, os apóstolos e os presbíteros são intitulados, metaforicamente, pastores (Ef 4.11; cf. At 20.17, 28).100 A partir do modelo divino — o cuidado do Senhor por seu povo — os pastores bíblicos atendem amorosamente às reais necessidades da igreja de Deus. 2.3.2 O Que a Liderança do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração Observou-se em 2.1 que a administração compreende a liderança. De acordo com a Bíblia, Deus pastoreia liderando: “Ele me faz repousar [...]. Leva-me para [...]. Guia-me [...]” (Sl 23.2-3).101 A passagem transmite a idéia de satisfação das necessidades das ovelhas no contexto do exercício da autoridade do “Rei-Pastor.” 102 





























 

















 99 WHITE, William. Rā‘âh. In: HARRIS, R. Laird; ARCHER JR., Gleason L.; WALTKE, Bruce K. (Org.). Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. p. 1437-1438. 100 VINE, W. E.; UNGER, Merril F.; WHITE JR., William. Dicionário Vine. 7. ed. Rio de Janeiro: Casa Editora das Assembléias de Deus, 2006, p. 856. 101 Grifos nossos. 102 STEK, John H. Salmos. In: BARKER, Kenneth et al. (Orgs.). Bíblia de Estudo Nova Versão Internacional, doravante denominada BENVI. São Paulo: Vida, 2003, notas de estudo Sl 23 e 23.1, p. 895-896.
  • 42. 40 2.3.2.1 Deus Lidera Seu Povo O vocábulo hx'n", usado em Salmo 23.3, ocorre no AT significando: (1) Guiar ou conduzir “pelo caminho direito”;103 Davi utiliza a expressão quando pede a Yahweh para guiá-lo na “justiça” (Sl 5.8) e ao afirmar: “Tu me conduzirás e me guiarás” (Sl 31.3); (2) dirigir pessoas para o alcance de finalidades específicas, por exemplo, Deus “guia” o servo de Abraão até a casa dos parentes do patriarca, a fim de obter uma noiva para Isaque (Gn 24.27), “conduz” os peregrinos de Israel de dia e de noite, ao destino proposto da Terra Prometida (Êx 13.21), além de ser o estrategista que “conduz” os seus com a finalidade de vencer Edom (Sl 60.9; cf. Sl 108.10); (3) soberania na criação, governo e manutenção do universo, dos povos em geral e, especialmente, de Israel, o que pode ser verificado no primeiro discurso de Yahweh a Jó (Jó 38.32), na convocação das “gentes” para o louvor de Deus, seu Juiz e Guia (Sl 67.4) e nas palavras de Asafe, que enxerga, nos fatos do Êxodo, evidências da direção segura do divino pastor (Sl 78.52-53). Ainda com esse último sentido, Isaías utiliza o sinônimo gh;n" para descrever o modo cuidadoso como Deus, na era messiânica, “conduzirá” o seu povo (Is 49.10). A ligação entre o pastoreio e a liderança é percebida ainda nos textos analisados na seção anterior, referentes ao reino messiânico. A promessa da vinda do pastor que tomará nos braços os cordeirinhos é precedida desta declaração: “O Soberano, o Senhor, vem com poder! Com seu braço forte ele governa. A sua recompensa com ele está, e seu galardão o acompanha” (Is 49.10).104 O pastor que alimenta e busca as ovelhas perdidas, é o mesmo que disciplina (Ez 34.16). O Pastor anunciado por Jeremias “reinará, e agirá sabiamente, e 





























 

















 103 COPPES, Leonard J. N¹µâ. In: HARRIS; ARCHER JR.; WALTKE. (Org.). Op. cit., 1998a, p. 947. Idem. N¹hag. In: HARRIS, ARCHER JR.; WALTKE, op. cit., 1998b, p. 930. 104 BENVI, grifo nosso.
  • 43. 41 executará o juízo e a justiça na terra” (Jr 23.5). O Messias “será príncipe no meio” das ovelhas de Israel (Ez 34.24), unindo o rebanho outrora disperso sob sua única liderança (Ez 37.24). Um trecho do Evangelho de João demonstra que Cristo pastoreia liderando. Ele “chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora” (Jo 10.3). A mesma expressão é usada em outros lugares, refletindo a idéia de liderança ou condução: Após a ressurreição, o Senhor “levou” os seus discípulos para Betânia (Lc 24.50). Estêvão discursou diante das autoridades judaicas, lembrando o modo como Deus “tirou” os judeus da terra do Egito (At 10.36). O autor da carta aos Hebreus cita uma profecia de Jeremias, relembrando a época em que Deus tomou Israel pela mão, para “conduzi-lo” até “fora da terra do Egito” (Hb 8.9). Ainda no Quarto Evangelho Jesus afirma que o pastor, “depois de fazer sair todas as [ovelhas] que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz” (Jo 10.4).105 No mesmo versículo, a ação condutora evidencia-se em outro detalhe: Cristo “vai adiante” de suas ovelhas, e estas “o seguem”. Em João 10.16 afirma-se que convém ao pastor “conduzir” as ovelhas. Para Stewart, tais afirmações sugerem “a familiaridade das ovelhas com a voz do seu líder autêntico.” 106 O apóstolo Pedro (1Pe 2.25) descreve Cristo juntando os títulos poimh,n, “pastor” e evpi,skopoj, “bispo”, literalmente, “inspetor”,107 “chefe; guardião”.108 Na mesma epístola (1Pe 5.4), poi,menoj é precedido de avrci, o que transmite a idéia de “governo e forte tom de 





























 

















 105 O vocábulo evkba,llw carrega um sentido de “força” (RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Lingüística do Novo Testamento Grego. São Paulo: Vida, Nova, 1985, p. 178). Hendriksen enxerga aqui a indicação de uma ação enérgica de Cristo: “O pastor, Jesus, faz sair todas as suas ovelhas. Ele vence todas as objeções delas. Algumas vezes as ovelhas tinham de ser forçadas a sair! De modo algum, qualquer que lhe pertencesse era deixada para trás” (HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 455, grifo do autor). 106 STEWART, R. A. Pastor. In: DOUGLAS, J. D. (Ed. Org.). O Novo Dicionário da Bíblia. 1. ed. reimp. (1986). São Paulo: Vida Nova, 1962. v. 2, p. 1213. 107 LUZ, Waldyr Carvalho. Novo Testamento Interlinear. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 827. 108 TAMEZ, Elsa; FOULKES, Irene W. de. Diccionario Conciso Griego — Español del Nuevo Testamento. Stuttgart: German Bible Society: 1994, p. 70.
  • 44. 42 autoridade”.109 O Apocalipse promete que o Cordeiro “apascentará e [...] guiará” o seu povo “para as fontes da água da vida” (Ap 7.17).110 Enquanto o AT “apresenta Deus como o Pastor líder de Israel (Sl 80.1; Ez 34.14)”,111 a terminologia neotestamentária sugere “um paralelismo surpreendente entre Jesus-pastor e Jesus-chefe, que converge e reordena todas as coisas,” 112 ou, como expressa Basílio de Cesaréia: “Ele é rei dos que já alcançaram as culminâncias, e precisam de chefe legítimo.” 113 2.3.2.2 Deus Destaca Pessoas Para Liderar Seu Povo No que diz respeito à liderança o serviço pastoral exercido por homens guarda semelhanças com o pastoreio divino. O AT utiliza hx'n" para referir-se a pessoas ou nações sendo conduzidas (algumas vezes a contragosto) tanto por Deus quanto por autoridades humanas.114 Coppes enxerga, no uso dos termos relacionados à direção, no AT, a indicação da “ação de conduzir, de modo organizado, [...] pessoas a um destino intencional seja pela força seja por liderança.” 115 No NT o exercício humano do pastoreio reflete o modelo de Cristo. O serviço pastoral e a liderança são mesclados em diversos pontos. Uma primeira evidência encontra-se na epístola aos Hebreus 13.7, 17 e 24. Em todas as ocasiões utiliza-se o verbo h`ge,omai, “liderar ou guiar”. A partir das afirmações “os quais vos pregaram a palavra de Deus” (Hb 13.7) e “velam por vossa alma” (Hb 13.17), infere-se que tais “guias” são os pastores das igrejas. O 





























 

















 109 WAGNER, op. cit., p. 159. 110 Grifo nosso. 111 YOUNGBLOOD, op. cit., p. 1082, grifo nosso. 112 VON ALLMEN, J. J. Pastor. In: VON ALLMEN, J. J. (Org.). Vocabulário Bíblico. 2. ed. São Paulo: Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos, 1972, p. 316. 113 MAGNO, Basílio. Basílio de Cesaréia: Homilia sobre Lucas 12; Homilias Sobre a Origem do Homem; Tratado sobre o Espírito Santo. São Paulo: Paulus, 1998, p. 108. 114 Em virtude de uma deliberação de Davi, seus pais são “levados” diante do rei de Mispa de Moabe (1Sm 22.4). Sob a ordem do rei da Assíria, Israel foi “transportado” para Hala, junto a Habor e ao rio Gozã (2Rs 18.11) e, no Êxodo, Deus “conduziu” o seu povo, “como rebanho, pelas mãos de Moisés e Arão” (Sl 77.20). Um sentido organizacional é verificado em 1Reis 10.26: Salomão “distribuiu” suas tropas entre as cidades do reino. 115 COPPES, 1998b, p. 929.
  • 45. 43 pastoreio-liderança por eles realizado reflete o de Cristo, uma vez que a mesma palavra é usada no Apocalipse (7.17, citado na seção anterior), referindo-se à condução do povo de Deus pelo “Cordeiro.” 116 O próprio Redentor regula o exercício dessa autoridade. Em Marcos 10.42 ele se refere às autoridades sobre os povos utilizando o vocábulo a;rcein, “governar”. Estes “governadores” comandam pela força, mas o discípulo deve ser como um dia,konoj, um “servente” ou “servo” (Mc 10.43). Não se proíbe, nesse caso, o exercício da liderança, mas estabelece-se o modelo de liderança cristã. Parece que o problema não está, como argumenta Wagner alhures, na conjugação do termo “líder” com “servo”, nem mesmo na sustentação, dentro da igreja, de pessoas em posição institucional de liderança, mas no exercício humilde da função — uma liderança do rebanho que reflete o próprio Senhor Jesus Cristo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.44-45). Os presbu,teroi, “presbíteros” ou evpisko,poi, “bispos”, são o equivalente neotestamentário dos anciãos de Números 11.16-25, os “superintendentes” (Nm 11.16), designados para compartilhar, com Moisés, o fardo de instrução, julgamento de causas e direção (Nm 11.17).117 Estes presbíteros são os proi?stame,nouj, “que presidem” e admoestam a igreja no Senhor (1Ts 5.12). A mesma palavra é usada pelo apóstolo ao dizer que o presbítero deve “governar” a própria casa (1Tm 3.4). O jovem — e ao que tudo indica, tímido — pastor da igreja em Éfeso deveria aprender a liderar: “Para,ggelle, “ordena” e ensina estas coisas” (1Tm 4.11), literalmente “transmita essas coisas como 





























 

















 116 A palavra evoca, indubitavelmente, a idéia de autoridade para conduzir, uma vez que é traduzida, em Atos 15.22 como “notáveis”, “homens considerados” (Bíblia de Jerusalém: Nova Edição, Revista e Ampliada. 2ª reimp. (2003). São Paulo: Paulus, 2002, doravante denominada BJ) ou “líderes” (BENVI). Na Septuaginta, doravante denominada LXX, a expressão é usada em diversos contextos, referindo-se a “cabeças” (Dt 1.13), príncipes (Js 13.21; 2Cr 5.2, 17.7; Et 1.16), comandantes (2Cr 11.11), líderes de guarnições (2Cr 17.2), poderosos da terra (Ez 17.13), governadores (Jr 28.28; Ez 23.6, 12), prefeitos (Dn 3.2) e presidentes (Dn 6.2). Uma vez que, em todas essas referências, homens são revestidos de autoridade para dirigir, é plausível afirmar que, no caso específico de Hebreus, os pastores-guias devem ser não apenas respeitosa e ternamente considerados, mas obedecidos. 117 Cf. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 224.
  • 46. 44 uma prescrição”.118 Em outro lugar, destacam-se dois aspectos do ofício presbiterial: Presidir “bem” e afadigar-se “na palavra e no ensino” (1Tm 5.17).119 





























 

















 118 BJ, grifo nosso. 119 Um entendimento questionável sobre o serviço presbiterial é demonstrado por Volkmann (cf. VOLKMANN, Martin. Teologia Prática e o Ministério da Igreja. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. (Org.). Teologia Prática no Contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal, 1998, passim). Ele sugere que, conforme foi se institucionalizando, a “comunidade primitiva de Jerusalém” absorveu gradativamente a modalidade presbiterial de direção, inspirada pelo conselho de anciãos das sinagogas judaicas (ibid., p. 83). Com base nos relatos de Atos — ele reconhece — as igrejas elegiam presbíteros, inclusive sob a liderança de Paulo (ibid., p-83-84). No entanto, a liderança presbiterial é estranha à teologia paulina. As cartas paulinas não mencionam o assunto; o modelo de liderança presbiterial introduziu-se gradativamente “a partir das comunidades judaico-cristãs, tendo- se imposto no decorrer dos anos, à medida que a Igreja foi se organizando e institucionalizando” (ibid., p. 84, grifo nosso). A partir desse ponto, afirma-se que o serviço presbiterial,“mais institucional”, se diferenciava do serviço profético, “mais espontâneo” (Ibid., p. 83). O profeta é divinamente chamado e não se lança ao serviço “por iniciativa própria, mas por comprometimento exclusivo com o próprio Deus” (Ibid., p. 84). Tais postulados são relevantes para a presente pesquisa, uma vez que são apresentados como “raízes bíblicas do ministério” (ibid., p. 80-81), o que inclui o pastoreio, e produzem duas conseqüências: Primeiro, Volkmann entende que as epístolas Pastorais (1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito) não foram escritas por Paulo, mas surgiram no contexto de “solidificação” e “estruturação” da igreja, no final do primeiro século (ibid., p. 85). Esse ponto de vista é compartilhado por outros autores (e.g., BRUNNER, Emil. O Equívoco Sobre a Igreja. São Paulo: Novo Século, 2000, p. 88; CHARPENTIER, Etienne. Para Ler o Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1992, p. 52; GABEL, John B.; WHEELER, Charles B. A Bíblia Como Literatura. São Paulo: Loyola, 1993, p. 191-192; HARRINGTON, Wilfrid J. Chave Para a Bíblia: A Revelação, a Promessa, a Realização. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 554, 556; KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 319, 320, 321), cuja análise detalhada das ponderações foge ao escopo do presente estudo. Pode ser afirmado, porém, que há argumentação consistente e suficiente, por parte da erudição contemporânea, para a aceitação da autoria paulina das epístolas Pastorais (e.g., BLOMBERG, Craig L. A Credibilidade Histórica do Novo Testamento. In: CRAIG, William L. (Ed.). A Veracidade da Fé Cristã: Uma Apologética Contemporânea. São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 191-235; CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. 1. ed. reimp. (2002). São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 395-411; GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. 2. ed. reimp. (2003). São Paulo: Vida Nova, 1998 p. 359-363; HALE, Broadus David. Introdução ao Novo Testamento. ed. rev. ampliada. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 321-330; HENDRIKSEN, 2001, op. cit., p. 10-47; HINSON, E. Glenn. I e II Timóteo e Tito. In: ALLEN, Clifton J. (Ed.). Comentário Bíblico Broadman: Novo Testamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1985, p. 361- 365; HARRIS, op. cit., p. 33-37, 217-255; RIDDERBOS, Herman. A Teologia do Apóstolo Paulo: A Obra Definitiva Sobre o Pensamento do Apóstolo dos Gentios. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 14-15, 520-522); ELLIS, E. Earle. Cartas Pastorais. In: HAWTHORNE, Gerald F.; MARTIN, Ralph P. (Orgs.). Dicionário de Paulo e Suas Cartas. São Paulo: Vida Nova, Paulus, Loyola, 2000, p. 181-191; MARSHALL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento: Diversos Testemunhos, Um Só Evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 345- 363; THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: Uma Abordagem Canônica e Sintética. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 261-278, 487-573. O ponto a salientar é que a aceitação da autoria paulina das Pastorais não é uma questão de pequeno porte. Ela faz grande diferença na concepção da igreja sobre a relação entre pastoreio e administração, pois, se o próprio apóstolo Paulo escreveu estas epístolas, ou supervisionou diretamente sua escrita, estamos lidando com documentos autoritativos, confiáveis e adequados para a elaboração de uma teologia bíblica do serviço pastoral. Se, por outro lado, as Pastorais foram escritas por um ou mais discípulos de Paulo, após sua morte, como garantir que, de fato, seus conteúdos refletem fielmente o ensino apostólico? Alguns poderiam alegar, por exemplo, que certas instruções destas últimas (como as regulamentações para eleição de oficiais) se chocam com os ensinos “autenticamente paulinos”. Além disso, elas poderiam ser consideradas inferiores canonicamente, o que já é insinuado por determinados autores: “[...] epístolas pastorais subapostólicas” (BRUNNER, op. cit., loc. cit.), “um grupo à parte” (KÜMMEL, op. cit., p. 320.) ou “deuteropaulinas” (GABEL & WHEELER, op. cit., p. 191.). A partir do momento em que isso é admitido, deve-se questionar, inclusive, se nas epístolas ditas autenticamente paulinas, não existem, também, incorreções inseridas a posteriori (KÜMMEL, op. cit., p. 321). A segunda conseqüência das asseverações de Volkmann é a instalação de uma ruptura não-bíblica entre o pastoreio da igreja-comunidade e a administração da igreja-instituição. Impõe-se um dualismo. De um lado,
  • 47. 45 A Escritura nos informa que não há dilema entre pastorear — e isso atentando para o “aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4.12) — na dependência do Espírito, e governar. 2.3.3 O Que a Organização do Rebanho nos Ensina Sobre o Pastoreio e a Administração Afirmou-se em 2.1 que administrar tem relação com organizar. Como função, organização descreve a tarefa de obter e colocar em ordem o trabalho, a autoridade e os recursos, com a finalidade de alcançar metas.120 Como instituição, a organização “é uma entidade social composta de pessoas e deliberadamente estruturada e orientada para um objetivo comum”.121 Tais idéias ressoam, de certo modo, as informações bíblicas sobre o pastoreio divino e humano. 2.3.3.1 Deus Organiza Seu Povo No Salmo 23 Deus pastoreia organizando. Ele atende a diversas necessidades: Alimento, água limpa, proteção, liderança e motivação. Cada uma dessas demandas exige uma providência, ou seja, a realização de ações eficientes e eficazes. De forma semelhante, os 





























 

















 ressalta-se a comunidade carismática, alicerçada nos escritos “legitimamente paulinos”. Do outro, a instituição, embasada nas cartas Pastorais. Se as Pastorais refletem um desenvolvimento “tardio” que nada tem a ver com os apóstolos — a defesa do status quo de uma hierarquia que pouco a pouco se impôs sobre a simplicidade e autenticidade da comunidade primitiva — a institucionalização da igreja, como afirma Brunner, é um rematado “equívoco”; a igreja bíblica não possui “o caráter de uma instituição” (BRUNNER, op. cit., p. 93). Esta pesquisa assume, baseada na posição da maioria dos eruditos evangélicos neotestamentários, a premissa da autoria paulina das epístolas Pastorais, sugerindo que “a Bíblia é um todo e a sua autoridade completa” (LLOYD-JONES, Dr. Martin. Autoridade de Jesus Cristo, das Escrituras, do Espírito Santo. Queluz, Portugal: Núcleo — Centro de Publicações Cristãs, 1978, p. 49). Destarte, os textos que fazem referência aos presbíteros e bispos, extraídos daquelas cartas, são colocados em paralelo a outras afirmações de Paulo. Aos romanos ele afirma que a capacidade de “presidir” é concedida pelo Espírito Santo (Rm 12.8), e aos coríntios, revela que Deus supre a igreja com kubernh,seij, “governos” (1Co 12.28). Isso é possível porque o Senhor Jesus foi exaltado e, como poderoso conquistador, presenteou a igreja com o pastoreio (Ef 4.7-11, et seq.). O exercício do governo presbiterial no pastoreio não é, de acordo com tais textos, uma imposição do processo de institucionalização, destinado a suprimir a comunidade carismática. Não é apenas o profeta, como afirma Volkmann, que é por Deus chamado e capacitado. A presidência da igreja por seus oficiais é uma dádiva do Cristo vitorioso — uma obra espiritual. 120 CHIAVENATO, op. cit., p. 18. 121 Ibid., loc. cit.
  • 48. 46 pastores de ovelhas devem envolver-se em diversas atividades organizacionais, a fim de realizar bem suas atribuições.122 2.3.3.2 O Povo de Deus Deve Organizar-se Um termo do NT lança luz sobre a incumbência organizacional do povo de Deus: O substantivo oivkono,moj, “mordomo”, “despenseiro”, “administrador” ou “gerente” que presta contas de seu trabalho. De modo geral, os cristãos são admoestados a portar-se de tal maneira que sejam considerados mordomos fiéis, por ocasião da chegada de seu senhor (Lc 12.42; cf. 1Co 4.1-2).123 Eles são todos “despenseiros da multiforme graça de Deus” (1Pe 4.10). Ligado à administração financeira, Paulo fala de “Erasto, tesoureiro da cidade” (Rm 16.23),124 e dos “curadores”, responsáveis pela gestão dos bens de um herdeiro “menor” (Gl 4.1-2). No contexto do pastoreio o “bispo” deve ser “irrepreensível como despenseiro” (Tt 1.7). De acordo com os textos bíblicos até então examinados, é possível afirmar que o pastor bíblico é, também, um gerente ou organizador. O pastoreio possui um aspecto institucional — a viabilização, manutenção e supervisão de atividades e estruturas voltadas para o cuidado do rebanho. Salvo melhor juízo, parece ser possível afirmar, a partir da avaliação das passagens da Escritura relacionadas ao serviço pastoral, que não há motivo para estabelecer-se um falso dilema entre pastorear e gerenciar. 





























 

















 122 BEYREUTHER, op. cit., p. 1587-1588; YOUNGBLOOD, op. cit., p. 1081-1082; DANIEL-ROPS, op. cit., p. 150-151. Ainda que o ofício pastoral não fosse muito valorizado nos tempos de Jesus, seu exercício exigia qualificação e organização. O pastor precisava tomar decisões, usar eficientemente o tempo, estabelecer e cumprir rotinas, definir e executar planos pertinentes e conduzir mudanças, quando necessárias. 123 Em uma de suas parábolas de sentido mais enigmático, Jesus alude a um “administrador” inteligente (Lc 16.1-9). Quanto ao texto de 1Coríntios 4.1-2, ainda que nessa passagem o vocábulo deva ser entendido como apontando para a correta administração do serviço da Palavra (KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: 1Coríntios. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 185), as repercussões administrativas mais amplas de oivkono,moj não podem ser minimizadas. 124 Grifo nosso.