1. Espirometria
O que é espirometria: principais indicaçőes
Dra. Erika Cristine Treptow
Dr. José Alberto Neder
O seu médico pediu para que vocę fizesse um exame chamado “ espirometria” . Antes de se
assustar com este nome complicado, leia o texto abaixo e vocę vai entender para que serve
este exame e como o médico vai usar os resultados para tratar ainda melhor de vocę !
BOA LEITURA!
Os pulmőes tiram oxigęnio do ar que é utilizado por nossas células. As células, por sua vez,
produzem um outro gás, o dióxido de carbono, que é eliminado para o ambiente pelos pulmőes.
Logo, precisamos colocar ar para dentro e para fora dos pulmőes por toda a nossa vida!
Vocę sabia?
Uma pessoa normal sedentária respira, numa vida de 80 anos, mais de 17 milhőes de litros de
ar – daria para encher quase 3 Estádios do Maracană !!
A espirometria mede a velocidade e a quantidade de ar que colocamos para dentro e para fora dos
pulmőes. Pode também ser chamada de Prova de Funçăo Pulmonar ou Prova Ventilatória.
Vocę sabia?
Espirometria provém do latim spirare = respirar + metrum = medida. O termo foi criado em
1789 quando estudiosos procuravam medir o consumo de oxigęnio na respiraçăo.
Um exame peculiar....
A espirometria difere de diversos exames médicos, já que vocę terá que cooperar bastante! Assim,
dizemos que uma espirometria bem feita depende:
1) De vocę compreender o teste e colaborar nas manobras;
2) Do técnico ter treinamento específico e capacidade para explicar o exame;
3) Do médico pneumologista responsável, que deve supervisionar os testes, manter os
conhecimentos atualizados e fornecer os resultados de maneira clara e concisa.
Preparaçăo para o exame
- Antes do exame, vocę deve repousar por pelo menos 5 minutos. Neste período vocę responderá a
algumas poucas perguntas sobre seus sintomas respiratórios e seus antecedentes médicos.
- Năo é necessário jejum, porém a ingestăo de café, chá e bebida alcoólica deve ser evitada nas 6
horas que antecedem o teste, pois seu uso pode alterar o resultado.
- Em alguns casos é necessária a suspensăo de medicamentos, principalmente os que săo
inalados. Os broncodilatadores de curta açăo (tipo AerolinŇ, BerotecŇ, AtroventŇ) devem ser
suspensos por 4 horas e os de açăo prolongada por 12 horas antes dos testes (exemplos:
medicamentos que contem “formoterol“ ou “salmeterol“). Se vocę tiver utilizando um
broncodilatador de açăo ultra-longa (isto é, usado só uma vez por dia), a suspensăo é por 24 hs
(exemplo: SpirivaŇ);
- Năo suspenda as medicaçőes caso o seu pneumologista oriente dessa forma – isso pode
acontencer caso o médico queira saber como está o seu pulmăo durante o tratamento;
- Por favor, năo fume pelo menos nas 2 horas que antecedem o exame. Na vigęncia de infecçőes
respiratórias, como gripe e resfriados, deve-se adiar o teste até vocę se sentir melhor.
Como vai ser o exame?
- Inicialmente vocę deverá ser medido e pesado, pois estes dados săo essenciais para o cálculo dos
valores “ normais” para cada um.
- O exame é realizado respirando-se em um instrumento denominado espirômetro (FIGURA), que
registra a quantidade e a velocidade do ar respirado.
2. Figura 1. Espirometria. Um profissional orienta sobre as manobras que devem ser feitas durante o
teste.
- Estando sentado, vocę irá respirar através de um bucal, que é conectado ao aparelho. Nós năo
podemos perder o ar que vocę está respirando; por isso, um clipe de borracha fechará o seu nariz
enquanto vocę respira pela boca.
- O técnico vai pedir o seguinte para vocę:
A. Respire tranquilamente por algum tempo;
B. Encha o peito maximamente!
C. Assopre! - com o máximo de força e rapidez possível, até que o técnico peça para vocę encher o
peito novamente. Lembre-se:
1. Este será o maior assopro que vocę já deu na vida!
2. Só pare de assoprar quando o técnico pedir, mesmo que vocę ache que năo está saindo mais ar!
D. Vocę deverá repetir o assopro pelo menos 3 vezes, para termos certeza de que o exame está
bom;
E. Provavelmente, vocę também terá que assoprar lentamente algumas vezes;
F. Após a finalizaçăo desta primeira parte, o técnico vai pedir que vocę use um “ spray” de um
broncodilatador e o teste será repetido novamente após 15-20 minutos.
Veja abaixo um QUADRO com SIM(s) e NĂO(s) para que seu exame saia perfeito!
perfeito!
Tabela 1. Instruçőes para a realizaçăo da espirometria
Faça Năo faça
Respirar normalmente antes do assopro
Encher bem o peito antes de assoprar Assoprar rápido
e com força
Assoprar até o final
Encher bem o peito após assoprar
Deixar o ar sair pela garganta
Evitar tossir ou falar
Respirar rápido antes do assopro
Demorar pra começar assoprar
Morder o bocal
Parar de assoprar antes da hora
Deixar vazar o ar
Fechar a garganta
Interromper e voltar a assoprar
Indicaçőes – Afinal, para que serve a espirometria?
- O seu médico pode ter pensado em várias possibilidades quando decidiu solicitar este exame.
Tanto doenças do pulmăo quanto doenças de outras partes do corpo podem afetar a sua
capacidade em fazer entrar e sair o ar dos pulmőes.
Vamos entender melhor algumas destas doenças e como a espirometria pode ser útil para seu
caso...
3. ASMA “ é uma doença que leva ŕ inflamaçăo crônica das vias aéreas (tubos que dăo passagem ao
ar). Ocorre um estreitamento destes tubos e há dificuldade na passagem de ar. É caracterizada por
episódios que văo e voltam de falta de ar, chiado no peito e tosse.
A espirometria é muito importante nesta doença, pois auxilia no diagnóstico, avalia a gravidade do
problema e mostra a melhora na capacidade pulmonar após o início do tratamento.
Em algumas pessoas, os sintomas da asma se manifestam apenas em situaçőes específicas, como
durante o exercício ou no contato com algumas substâncias que causam os sintomas. No
laboratório podemos simular estas situaçőes e realizar a espirometria antes e após um teste de
esteira, por exemplo.
DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) – é uma doença comum que afeta os
pulmőes. Em indivíduos saudáveis, o ar entra pela boca e é carregado pelas vias aéreas até
porçőes cada vez menores, como galhos de árvores. No final destes galhos há pequenos
“saquinhos de ar“ e a troca do oxigęnio e gás carbônico é realizada sem dificuldades.
No paciente com bronquite e enfisema, doenças que caracterizam a DPOC, as vias aéreas estăo
espessadas, há uma maior produçăo de muco e esta troca de gases fica prejudicada.
A DPOC está associada principalmente ao uso de cigarros e a pessoa começa a apresentar tosse
com catarro, dificuldade para realizar suas atividades e falta de ar.
A espirometria pode descobrir a presença desta doença em pessoas que fumam antes mesmo de
surgirem os sintomas. Além disso, é ela que faz o diagnóstico da DPOC, avalia a gravidade da
obstruçăo e a evoluçăo da mesma. Após o início do tratamento, realizamos o exame
periodicamente para ver a melhora com os medicamentos e decidir quando é necessário adicionar
outras medicaçőes.
DOENÇAS INTERSTICIAIS PULMONARES – o interstício pulmonar é uma rede de fibras fininhas
que ajudam a sustentar o pulmăo. Pode-se dizer que o interstício é o “esqueleto“ do pulmăo. Há
mais de 150 tipos de doenças que podem levar a inflamaçăo e/ou endurecimento deste tecido,
denominadas de “doenças intersticiais pulmonares“. Săo exemplos a sarcoidose, a pneumonia por
hipersensibilidade e a fibrose pulmonar.
A pessoa que sofre destas doenças costuma ter falta de ar progressiva, ŕs vezes acompanhada de
tosse seca. Em fases mais avançadas a falta de ar é intensa, limitando até os pequenos esforços e,
devido a falta de oxigęnio no sangue, pode ser visto uma coloraçăo azulada das extremidades que
denominamos de “ cianose” .
A espirometria auxilia no diagnóstico, na avaliaçăo da perda de funçăo pulmonar e na resposta do
paciente após o início das medicaçőes.
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS OCUPACIONAIS - no Brasil, há milhares de trabalhadores expostos
a diversos tipos de poeiras em seu ambiente de trabalho. Muitas destas poeiras podem se depositar
nas vias aéreas e nos pulmőes e causar doenças.
O risco das doenças respiratórias ocupacionais depende da concentraçăo da substância inalada no
ar ambiente, das dimensőes, das características da poeira e do tempo de exposiçăo.
Desde 1994, foi determinado pela legislaçăo trabalhista brasileira (NR7 de 12/94) que os
trabalhadores de qualquer empresa, com qualquer número de funcionários, que tenham exposiçăo
a poeiras, façam radiografia de tórax e espirometria na admissăo, na mudança de funçăo e em
diversos intervalos determinados. Nestes casos, realizamos o exame durante a exposiçăo (dias de
trabalho) e nos momentos sem exposiçăo (finais de semana, férias) visando relacionar os sintomas
com a presença do produto. A descoberta precoce de alteraçăo no exame pode levar ŕ mudança de
cargo ou até mesmo afastamento e previne uma maior exposiçăo ao agente.
DOENÇAS NEUROMUSCULARES “ săo doenças que levam ao enfraquecimento e posterior
atrofia dos músculos, entre eles o diafragma, principal músculo responsável pela respiraçăo. Há
falta de ar progressiva, muitas vezes levando a pessoa a necessitar de um aparelho para ajudar na
respiraçăo nas fases mais avançadas da doença.
A espirometria fornece parâmetros que avaliam a necessidade deste aparelho e mostram a
evoluçăo da doença.
PRÉ-OPERATÓRIO “ a realizaçăo da espirometria antes de procedimentos cirúrgicos visa avaliar a
presença e quantificar a gravidade dos distúrbios respiratórios. É essencial principalmente em
grandes cirurgias de tórax, abdômen cabeça e pescoço. Quando há alguma alteraçăo, o seu médico
irá orientar a equipe cirúrgica e o anestesista a ter cuidados especiais, como o uso de medicaçőes,
o tipo de anestesia, a realizaçăo de fisioterapia, etc.
4. SINTOMAS RESPIRATÓRIOS - A espirometria está indicada nos casos de sintomas respiratórios
sem uma razăo conhecida como falta de ar, tosse e chiado no peito. É um exame complementar tăo
importante quanto um radiograma de tórax.
Contra-indicaçőes
- A espirometria é um exame năo invasivo e indolor, porém em raras situaçőes de potencial risco
para o paciente devido ŕs manobras forçadas ou quando a situaçăo do paciente afetar a validade do
teste, este năo deve ser realizado:
Hemoptise (sangramento pulmonar) – tossir sangue
Dor no peito recente (angina)
Infarto agudo do miocário recente
Descolamento de retina, cirurgia ocular recente
Crise hipertensiva
Aneurisma de aorta torácica
Edema pulmonar
Qualquer outra situaçăo que limite a adequada técnica do exame (por exemplo, traqueostomia que
năo possa ser bem ocluída na hora do exame, confusăo ou rebaixamento da conscięncia,
incapacidade em permanecer sentado).
Lembre-se sempre de avisar sobre qualquer problema de saúde antes de realizar o exame para que
o médico possa avaliar se há alguma contra indicaçăo!
Como saber se estou fazendo um teste num laboratório de confiança?
- Como consumidor(a), é seu direito saber se vocę está sendo examinado(a) num laboratório
adequado e competente.
- Certifique-se de que o laboratório possui técnicos treinados, instrumentos que săo calibrados e um
médico pneumologista para laudar o seu exame.
- Visando garantir estes requisitos, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT)
iniciou em 2010 a certificaçăo de médicos pneumologistas para a realizaçăo e avaliaçăo da
espirometria.
- A certificaçăo poderá ser feita por todo médico pneumologista, por meio da realizaçăo de um
curso de tręs módulos, que envolverá desde cuidados no manuseio, limpeza e riscos de infecçăo do
aparelho, até a realizaçăo da manobra de espirometria e interpretaçăo dos resultados.
- Todo médico aprovado receberá um certificado e selos da SBPT confirmando a certificaçăo do
profissional. Estes selos serăo colados a cada laudo do exame realizado por estes profissionais.
- Para dúvidas, comentários ou sugestőes, o telefone 0800 61 6218 está disponível a pacientes,
médicos e profissionais de demais setores da saúde.
Referęncias Bibliográficas
Pereira CAC, Neder JA. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT): Diretrizes para
Testes de Funçăo Pulmonar. J Pneumol. 2002; 28(3):S1-S238
Miller MR, Brusasco V, Crapo R et al. ATS/ERS task force: Standardisation of lung function testing:
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Pereira CAC, Sato T, Rodrigues SC. Novos valores de referęncia para espirometria forçada em
brasileiros adultos de raça branca. J Bras Pneumol. 2007;33(4):397-406