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Um Certo Daimon Chamado Barthes




Coelho De Moraes                        1
Um Certo Daimon Chamado Barthes



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    Cecília Bacci & Guilherme Giordano
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        Capa COELHO DE MORAES
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                                       São Paulo
                                           2009


Coelho De Moraes                         2
Um Certo Daimon Chamado Barthes




Para
Rose Braga
Um presente do nosso Jubileu de Prata em 2007




     Coelho De Moraes                        3
Um Certo Daimon Chamado Barthes


         Não podemos encerrar o caminho da poesia em uma
única vertente. Aliás, pouco se conhece desse ofício que
Octávio paz comparou a bruxaria e ao sortilégio. Essa
introdução é necessária para não querer enquadrar Um Certo
Daimon Chamado Barthes numa leitura convencional. Do fazer
poético ou comparativo com outras expressões do gênero.
         O texto está entre aqueles que rejeitam qualquer tipo
de domesticação. O autor tematiza o amor-crise na sociedade
contemporânea. Cria o menestrel moderno cantando para sua
amada. É o ruído de um edifício sendo demolido. É um mundo
sem o logos como centro ordenador. O versejar vai pelo
avesso do pensamento positivista (universalista). Em razão
disso não foi à toa que o autor elegeu como herói um
estruturalista, Barthes, aquele que veio bater mais forte o
martelo na muralha positivista.
         O poema me surpreendeu pela crueza: tudo está para
ser construído. Da ejaculação surgem as ruínas da cidade
paranoica, bêbada. Lembra Roberto Piva viajando com suas
amebas na noite de São Paulo.
         Esse monólogo de Um Certo Daimon é um manifesto
contra a repetição de velhos signos, uma sintaxe disfarçada
em sorriso burguês. Por outro lado, o autor dialoga com a
melhor tradição filosófica e poética, de maneira especial com
Nietzsche.
         Parece-nos que mais nada resta a explorar na literatura
em nossa época, pois temos a sensação de que tudo já foi
feito. “Entretanto, há inúmeros hiatos no painel literário, que
permitem outras apostas”, como me disse certa vez o escritor
mocoquense Alcino Mikael. É dentro deste contexto que o
leitor deve entender o livro de Coelho De Moraes. Pois o
modernismo, ainda que esgotado, permite o surgimento de
novas vozes. Apesar da terra do modernismo ser a morte do
espírito, permite ainda algum deslumbramento como o daimon
desta obra.

                                                Getulio Cardozo


       Coelho De Moraes                                4
Um Certo Daimon Chamado Barthes



Índex

A Cena 6
As Incongruências da Disputa 9
Ah! O Sim de Nietzsche 10
A Cada Vez de um Acaso 13
Agonia do Amor Ascético 15
Armadilha 18
Ausências 20
A Alvorada do Mundo de Aço 23
A Comedora de História 26
Sofrer Pelo Outro 29
Os Admiradores do Porto 30
Sujeito Apaixonado em Dependência 32
UltraSexo 34
Um Corpo Fantasma 39
Vai... A fuga desmesurada 42
Vulnerável 45
Cartas... Ah! Cartas 47
Catástrofe 50
Ciúme em Verde Tristura 52
Conversas 55
Contrariedade, Acontecimento e
Entraves do Coração 57
Correr Para Todo Lado 59
Falar em Tons 61
Fazer 64
Imaginário 66
Nós e Embaraços no que se Respira 68




        Coelho De Moraes                        5
Um Certo Daimon Chamado Barthes




A CENA
 Coelho De Moraes                        6
Um Certo Daimon Chamado Barthes


No doméstico quotidiano
troca recíproca de discordâncias
Troca ordenada de réplicas
em exercício de um direito
Um nunca você e nem eu
sendo cada um na sua vez
projeta a cena para o sempre interminável
daquilo que forja o casamento

Diálogo?
Não se trata de escutar
mas apenas repartir pedaços de fala
Cada um com seu direito
Cada um falando a seu tempo
Cada um com seu gozo perverso
Inconsequente
como ter prazer sem o risco dos filhos

A longa carreira das cenas
de coisas agitadas e inúteis
A justa entre os atores amantes
A forma limitada da tragédia arcaica
Enquanto eu falo comigo
e sustento o meu delírio
-a justa de palavras-
é como se o próprio ator-louco
se recusasse a ser autor da fala

Um pode estar aborrecido
e o outro excitado
Um pode expulsar seus demônios pela fala
o outro quer atrair o demônio da outra

      Coelho De Moraes                        7
Um Certo Daimon Chamado Barthes


tentar um abraço
repelir com força
forçar um beijo
estalar um tapa
para que a cena ganhe em ritmo
É preciso um engano qualquer
que cada um se esforça em cometer
atraindo o engano para seu campo
É preciso decisão
que cada um se impõe
retirando o prévio acordo decidido

É uma cena sem objetos
É uma cena sem perspectivas
Ela só tem de si a origem
Quando se trata de cenas
falamos / os amantes /
por filas de palavras que jorram
que se batem e explodem
na cara de cada um

A fala / o reflexo
a causa impossível
o suplemento
e a voz do Eu que chora
Não há nada que pare a cena
O cansaço de alguém
a chegada de alguém
a agressão-tesão expansivos
mas o querer da cena está no silêncio
Nenhum raciocínio é metal durável
Na cena o casal se desfaz

      Coelho De Moraes                        8
Um Certo Daimon Chamado Barthes


são des-amantes
são des-atores de uma cena ociosa
lembrando o vômito romano
Soltar para retornar mais tarde
Por o dedo na garganta
(excitar-se ao extremo)
fazer crescer e engolir os membros
e vomitar caudalosamente
(jorro de argumentos ferinos)
Tranquilamente voltar a comer




AS INCONGRUÊNCIAS
DA DISPUTA
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Um Certo Daimon Chamado Barthes


Falar por último
e castrar a fala do outro
A amante / na mudez / será meu sonho
Ser confessor / presidente / juiz
Dar termo à disputa
Nada há na cena que concorra para a verdade
Tudo na cena se baseia em lance de dados
Ganha quem reter o anel na mão
Perde quem não ver o lenço atrás de si

Breve você se livrará de mim
o meu gozo / do meu jorro de sêmen
do que é expulso de mim
no mesmo jorro das palavras
Só a morte pode interromper a frase
Recusar a última réplica é recusar a cena
O herói sempre fala no fim




AH! O SIM DE
NIETZSCHE
     Coelho De Moraes                         10
Um Certo Daimon Chamado Barthes



Sim / sim
Dizia a mocinha
Sim / sim
Estou feliz / mas estou triste...
Afirmo sempre o amor como valor
Eu escuto, mas me obstino
Sei / sei
Mas / no entanto...
Transfiro meu amor para um realismo-farsa
Obscurantismo do real valor desse amor
O protesto do amor é a teimosia
debaixo do concerto das boas razões
Amar melhor
Amar de outro modo
Amar sem estar apaixonado
O intratável apaixonado

Sucesso ou fracasso
Vitória ou derrota
São os valores que o mundo impõe
sem medir co-sequencias
Sucesso e fracasso não são contingentes?
A dor não trás prazer?
Não estarei destituído de toda a finalidade?
Figura ambígua em um discurso
onde a água flui no caminho sem volta?
Sou trágico
quando aquilo que me ocorre
me faz vencer e ser vencido
Durar será melhor que inflamar?


     Coelho De Moraes                          11
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Em certa manhã
escrevo uma carta de amor e não envio
O dever amoroso é um dever remarcável
deixando fazer as coisas loucas
das quais somente eu
sou testemunha
para viver sem queixas
no sentido da minha força
e revirar o sentido relativo da existência
Distante das mediocridades
estou condenado
à minha própria filosofia

O essencial da tragédia
é uma força apaixonada
O crucial da tragédia
é um amor domesticado

As duas afirmações para o amor
dois positivos de sins eloquentes
O apaixonado encontra o outro
um primeiro sim roído de dúvidas
momento de paixão triste...
ressentimento... onanismo
O segundo sim aparece quando se vê
que é possível sair desse túnel
reafirmar, re-signar
sublimar o re-sentir
re-valorizar o amor em suas diferenças
desejar a sua volta e não sua repetição
Recomeçar


      Coelho De Moraes                         12
Um Certo Daimon Chamado Barthes




A CADA VEZ
UM ACASO
 Coelho De Moraes                         13
Um Certo Daimon Chamado Barthes



Os prazeres de seu imaginário
como um sopro despojado de sua melodia
Um jorro contínuo de imagens e figuras
sem ordem nem lógica
Um refluir em narrativas
como o choro e grito das Fúrias

A horizontalidade da fala da amante
passando como um rio perpétuo
exala uma história de amor
que o faz escravo de outra amante
sem clara intenção de moral ou qualquer lição
Amar é estar doente
O mundo lhe deve uma cura

Para desencorajar a intenção do sentido
é necessário uma ordem sem significados
Não se deve construir monstros
no caso
monstros que seriam as virtudes
Uma certa filosofia do amor
Uma certa afirmação de uma alegria crônica
e cômica

O apaixonado é montado de pedaços
Uma criatura de suspiros e lágrimas
partes costuradas / membros alienados
sobras da própria vida
um banquete platônico
onde o homem é uma ponte entre dois mundos


     Coelho De Moraes                           14
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Eu que amo lhe passo a arrogância
dos meus pecados
e em troca eu quero
a juventude de sua pele
a memória de lugares
a inocência do imaginário
o seu vazio ocasional




AGONIA DO
AMOR
ASCÉTICO
     Coelho De Moraes                         15
Um Certo Daimon Chamado Barthes



Do sabor de uma
ou outra contingência
Do perigo / medo
Da mágoa / medo
Do abandono / medo
As angústias lá estão
como um veneno preparado
Móveis e lâmpadas estúpidas
Onde se aquecer não havendo
como Sócrates
o frio da cicuta escorrendo pelo vidro?
O crivo da escuta surtindo
o efeito da pura angústia?
E se eu fizer uma promessa?

O aniquilamento já foi
já ocorreu
Desse aniquilamento / o medo
agora me ocorre
e eu não percebo que ele já foi
A angústia do amor
de um luto que já ocorreu / o medo

Anulemos a amada
com o próprio peso do amor
Objeto grotesco colado no centro do palco
por minha culpa
O meu desejo transferido
para a imagem que parece empalhada
de tão medíocre
A amada / sempiterna / como um agente

     Coelho De Moraes                         16
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Para que eu ame o meu desejo transferido
nada mais
mudo modos para que a amada note
Ascendo a outros planos / já que sou culpado
Que venha / então / a punição febril
Corto o cabelo
Uso lentes escuras forjando a reclusão
Estudo a ciência arcaica e inútil
Será forma de punição
excluir a mim mesmo do convívio?
Serei mais amado?
Serei mais digno?
Meu sofrimento será notado?
Sentirão pena de mim?
O luto histérico
que me imponho
doce martírio / retiro doce
paciente / triste / digno
como convém
O luto que suponho histericamente
retiro necessário
de bom funcionamento
patético... discreto... pálido

Veleidades!
A vaidade no sofrimento
sofrimento de amor
-veja o que você faz de mim!-
ergo diante de você
a figura do meu desaparecimento

Veja como sumo...

     Coelho De Moraes                          17
Um Certo Daimon Chamado Barthes




ARMADILHA
 Coelho De Moraes                         18
Um Certo Daimon Chamado Barthes


A figura do encontro
Tempo feliz depois do primeiro rapto
antes do dia a dia
do casamento

Poeira de figuras agitadas
Ordem imprevisível como a mosca que voa
Movimento organizado
Captura da imagem
Exploração extasiada da amada
A doçura do começo
O tempo do namoro
Embaraços e armadilhas
onde me encontro preso
sem trégua
sob a ameaça da decadência

Ao ser preso nessa doçura
qualquer pedrada é suave
Sou um jogador cuja sorte se confirma
no constante quebra-cabeça da felicidade
Eu
enamorado
capturado sob o céu das vermelhidões do poente
emerjo das vertigens de um acaso sobrenatural
O amor depende dos dados
dos vinhos
e de Dionísio

O gozo narrativo
Da boca saem os prazeres
Um saber da história do outro

     Coelho De Moraes                         19
Um Certo Daimon Chamado Barthes


a amada contando seus gostos
daí eu pulo e flano
leve como o ar
Estou livre para me manter na prisão




AUSÊNCIAS
     Coelho De Moraes                         20
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Por qualquer causa ou duração
a ausência da amada
sugere prova de abandono

Melodias e canções
da ausência amorosa
fazem o peito romper / pranto suave

Viver em eterno estado de partida
mostra a vocação do migrante
eu / que sofro / sedentário
sou deixado de lado como um embrulho qualquer

A mulher dá forma à ausência
ela tece e canta
ela espera e dormita
na sombra do tear
O homem deve saber se alimentar
enquanto espera
de outras coisas
de outras bocas e manjares
de outros lábios doces e salgados
esquecendo excessos e cansaços
O homem é o voraz navegador

O esquecimento pode ser
a ausência bem suportada
pode ser
Momentaneamente infiel
é condição da sobrevivência
pode ser
Suspirar depois de cada sopro incompleto

     Coelho De Moraes                         21
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Respirar depois de cada beijo em si repleto
Gozar os benefícios da imediata lembrança
pode ser

O abraço que funde imagens
de dois se torna um
e eu abandonado me torno
uma imagem descolada
amarela e seca
O presente insustentável
me bloqueia entre dois tempos
dois simples pedaços de angústia
vagueando nas bordas de um tempo
em vai e vem
abrindo o palco da linguagem
e a linguagem – é sabido – nasce da ausência
cria-se aí uma ficção
cria-se aí a obstinação por múltiplos papéis
e o beijo se manifesta
lanhado de suor e esperas

Se não chorar a ausência
o luto se encurta
Aprende-se a esquecer
o sentimento de amor
que se abate sobre a carência
Quero ficar à margem
da amabilidade mundana que me espia
Quero a amada convocada em mim
exposta em meu peito que arfa
Invoco sua proteção
para que o amor ausente

     Coelho De Moraes                          22
Um Certo Daimon Chamado Barthes


não me transforme
em detrito social

Por qualquer causa ou duração
a ausência da amada
sugere prova de abandono




A ALVORADA
DO MUNDO DE
AÇO
     Coelho De Moraes                         23
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Acorda manhã-luz / entra em mim
em olhos abertos
Se se fala de seu cansaço matutino / cálido
Opacos destinos
deixa que eu sofra como o herói de Goethe
mesmo que eu esteja cansado e queira dormir
Deixa eu dormir e esqueça o cansaço e a dor
Deixa a dor

Acorda noite-luz
e sai de meu peito sem trevas fechadas
Se se desgasta tanto quanto o corpo físico
é que chove
e se chove deixa fluir essa água da vida
Diz alguém que tanto sofria mas lutava todo dia
todo dia trabalhando na farmácia da esquina

Imagens do ser amado que de noite eu dormia bem
Durmo antes de morrer?
Branco despertar do dia-luz entrando pelas frestas
Morrer da dor ou morrer do dia é questão de espera

Mas nada disso é muito real
O sentimento de ausência punge
e o telefonema é uma angústia moderna
cuja familiaridade me comove
como os telhados cinzentos
Os ruídos grisados
os caules cinéreos da fogueira apagada
sideral imensidão de mundo
o aço duro cortante das vertentes
mas nada disso é real

     Coelho De Moraes                         24
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Periga ser um sonho nefasto
Nada mais

Em cada natureza habita uma mulher que amo
O cimento cobre o passo de quem ainda não chegou
Folheio o álbum e a natureza me chama
Minha indiferença é pouca
Perto da pintura de cinzas e degradés
num restaurante repleto o glacial me toma
e as risadas e olhadelas
só servem para domar meu espírito
que quer voar no pescoço do sujeito corpulento
que segura meu braço
é o garçom
Que sopa fria!

Uma capa de irreal me cai
cheia de pó
dos lustres sem lâmpadas
A tarde se aproxima e as sombras me guarnecem
Nem quero mais sofrer
Já basta a nata do leite
e esse cartaz que leio o tempo todo
enquanto espero
Embaçado atrás da vidraça
a cara do palhaço faz caretas e micagens
banca o besta e eu sinto frio

Você virá?
Não é mais manhã
Já acordei
Mas você virá?

     Coelho De Moraes                         25
Um Certo Daimon Chamado Barthes


O mundo rola na rua
e eu não faço falta alguma
O mundo brinca de existência
como se eu o visse por dentro de um aquário
só não vejo a água
o mundo é cinza e está em outro universo
talvez pluriverso
talvez tantos e cinzas e sujos que eu nada sei...
Você virá?

Estou na exatidão
Imerso em mim / Concluído a meu favor
Logo me desvaneço
De mim sumi em fuga
Essa miniatura envernizada de natureza
não é mais que um ponto sujo na lama do acaso
e dela só vejo o perfil solto no espaço
mas
que mundo maravilhoso
É manhã-luz e o sol aquece
Vejo você na calçada




A COMEDORA
DE HISTÓRIA
      Coelho De Moraes                          26
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Mulheres subsistem nas letras
Sofrem mesmo assim
um misto de ofuscamento e náusea
Tudo na história que vivem e comem
parece vento / tempestade / enciclopédias
As mulheres que devoram sessenta volumes
em mares de enxaqueca
vivem sobressalto constante
    assaz chuva liberta
    num incomensurável sopro de intrusa santa
    que se alarma nas mudanças tantas

Mulheres domadoras de livros
acreditando sempre que morrem a sério
permanecem imersas em amor alarmante
amad(a)larmante
renascem deliciosas
após tépida noite de fragrâncias
afastando o longo suplício da velhice
começando uma terceira vida
mesclando sexo em vitalidade
a terra / a lama / as águas de minério e o sol

   Mulheres arrebatadas
   oferecem longos cabelos de doçura
   Um corpo rompido - disponível -
   aberto para a coação do trabalho
   Fúria insensata do trabalho
   Uma funesta declaração de direitos por fato
   Horários draconianos
   Sono de Creonte
   Pernas abertas de medusa inconclusa

     Coelho De Moraes                            27
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Suave noite sob o veludo carmim dos ardores
e uma ingenuidade no gozo

Buscamos uma tensão de profetas
e não encontramos
No máximo ouvimos o canto vital
de uma tempestade na primavera
Tal é a singularidade das mulheres
vazios fecundados
existência superlativa
devoram o dia todo dia da sua história
O não comer de seus momentos
é morrer violácea e plúmbea
enquanto a noite as chama na esquina
Não se alimentar de seus dias e afazeres
é plantar o nada arquetípico
e esperar doações de garoas lentas
e superar a danosa facilidade das colmeias

Mulheres que se habitam em história
perdem a fraqueza doentia
O corpo todo é o produto de sua criação
e assim
fica provável que o homem tenha vindo
de sua costela
pois a cintura mais estreita
sugere que perdeu-se ali
a última linha de cartilagens
Mulheres e simbiose
Moléstias e enxaquecas
Dores e fluidos sanguíneos
nada mais são do que

  Coelho De Moraes                           28
Um Certo Daimon Chamado Barthes


símbolos de uma sensibilidade excessiva
mas sensibilidade dirigida
como um veneno sagrado
como um objeto a ser doado ao museu

Sacerdotisas
Pitonisas enoveladas em gaze e súlfur
sedentas de ambrosia
morrem elas todas de história
mulheres sacramente ímpias
da mesma forma como não se morre de amor
São elas proprietárias grandiloquentes da história
Elas bebem demais o sangue negro da vida
e se tornam loucas glorificadas
para um sempre eterno e abundante

É aí que Ahasverus, finalmente se encontra




SOFRER PELO
OUTRO
  Coelho De Moraes                           29
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Violenta compaixão
é a união pelo sofrimento
Busca da unidade pelo sofrimento
Achar-se / felizmente / odiável
Achar-se Mãe insuficiente
se apoiando na profunda reserva
mesmo que a Amada o abandone
e sofrer
inda que não seja por causa disso
O sofrimento que me anula
na medida que sai de mim

Perder o fôlego sem alcançá-lo
A palavra reprimida vem dos lábios
buscar a vida mesmo com dor
Sofrer / portanto / sem me perder
sem depender da amada
Policiar-me para ser delicado
Construir uma forma sã
civilizada / artística / de sofrer
O pé alado tocando levemente a tez
de uma aurora que nunca se torna plena




ADMIRADORES DO
PORTO
     Coelho De Moraes                         30
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Pretensões e contradições
remontam aos tempos da colônia
Hoje dormitam sob ideias modernas
Tomadas / cegamente / por um gênio portuário
o porto olha a cidade que acorda e
olha a cidade que dorme
O porto excede / faz uma obra / segue seu tempo
O porto se torna o historiador do futuro

Serão essas pré-tensões e contra-dicções
nunca ouvidas?
O porto é o memorialista
transmutado em cronista dos tempos e de sua gente
Mas que sei eu dessa gente
se moro longe e vejo o mar como um espelho?
Sei que a história é ressurreição
Sei que o porto / quando se inscreve na paisagem
se torna velho / mudando de lugar
Envelhece com os estivadores e com as barcaças
Torna a história em ferrugem e guindastes
eclode em granéis e passageiros
explode em brilhos sobre o mar tempestuoso e calmo
a um tempo
desenha sua paragem nas paredes da cidade
A cidade reflete o porto
O porto reflete a cidade

Sem oblações à raça
não se deve passar ao largo dos portos
nem ao longo de seus muros e aduanas
nem ao lado das naves-monumentos


     Coelho De Moraes                         31
Um Certo Daimon Chamado Barthes


sem oblações à raça
uma raça de ferros trançados /
inscrita entre o braço das gentes
através da memória / do envelhecimento /
e das quilhas movediças




SUJEITO
APAIXONADO EM
DEPENDÊNCIA
     Coelho De Moraes                         32
Um Certo Daimon Chamado Barthes


escravo da amada
uma futilidade sem fundamento
de encontro a uma mecânica vida de vassalo

escravo da amada
pusilânime retorno às origens
uma necessidade imperativa e derrisória

escravo completo
irrita a mim perder meu tempo
e não retornar ao local da tortura

permitir que eu dependa
expandir os espaços dessa dependência
lutar por ela
tornar-me fraco e ridículo
uma ânsia para me tornar humilde
um signo forte
que se afirma quanto força
quanto maior a futilidade e o ridículo
é amar

a amada é minha Asgard
o Walhalla incomparável
onde solicito minha inclusão como escravo
dessa forma sou sujeito três vezes
de quem amo
de quem dependo
de quem ela depende

sou a fatalidade do sujeito inconcluso
que espera e medita enquanto perde sua hora

     Coelho De Moraes                         33
Um Certo Daimon Chamado Barthes


embora mantenha minha área de dependência
e me vendo completamente dependente
me vejo no direito histórico
de repente
de reivindicar minhas democráticas férias conjugais




ULTRASEXO
     Coelho De Moraes                          34
Um Certo Daimon Chamado Barthes



À mulher como confidente
Chegar a ter acesso
deixando de lado
as vantagens do rapto

Buscar a rua do sexo duplo
sem androginias
sem as modalidades de um Javé hermafrodita
mas sexos no espírito
instinto macho
ideia fêmea
A criação em espírito e coração

Século morto
Descobrir a mulher é salvar-se

Menosprezar o verum pelo certum
Deixar de lado a reflexão cartesiana
pela verdade sentimental
é chorar pelos cantos do mundo
Ondas tempestivas de lágrima agridoce
Homens demasiados cerebrais são incompletos
Mulheres demasiado sentimentais são loucas
mas / tudo se perdoará
se se predominar a felação
por baixo da mesa de discussões teológicas

Não se julgará o século morto
sem a doçura desses lábios macios e tenros
o século ido se perde sem mestres de revoluções
só golpistas e fazedores de guerras

  Coelho De Moraes                         35
Um Certo Daimon Chamado Barthes


todos afirmando a masculinidade perdida
atrás de fardas / por exemplo

A mulher e o calor que arde
sem propagar-se
A faísca como força anti-erótica
mas beberemos o café ambíguo
após a noite de sonhos
O café que trará lucidez crítica
podendo fomentar mais amor
O café como álibi do sexo
entorpecimento do amor
invenção sei lá de qual daimon

Café / idéia / faísca
Já diriam Michelet e Barthes
Três itens de uma falsa fecundação
A busca do céu orgástico
traz a mutação dos corpos e dos olhos
Orgasmo como solidão e tristeza
inda mais se a semente lhe falta

Por isso o sexo dos espíritos
A intuição dando forma completa à idéia
O violáceo do gozo perdido entre mãos
A boca esfalfada entre as coxas
Espera por estertores
Faísca seca e estéril do orgasmacho
Poder fêmea que produz a idéia em sentimento

Ser gênio é ser homem e mulher
Intrusos

  Coelho De Moraes                         36
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Mais vale o erro apaixonado
aquoso
do que uma verdade seca
Que se faça algo
Que a boca se molhe em beijos ardentes
mesmo que errados
Em qualquer boca
o movimento é a verdade
independente da realidade
Queremos enfim a caricatura do riso fecundo
Ter uma só vertente é ser cadáver em vida
A pior das mortes
pois é a morte seca

O riso como força germinativa
O sorriso sarcástico é estéril
Sonhador que implica numa fé que não é tola
As lágrimas são dons
São Luís bem as quis
O pranto faz germinar
Água e sal e café
lavam boca e olhos
lavam o rosto
Expansão do coração
Genetrix cordis
Bárbaros cobertos de seiva nova
Crianças arrogantes e cheias de si
Seiva líquida – sangue novo – sangue seiva
A gosma do gozo que se expele
A baba líquida do beijo absorto
Um calor que se opõe à luz
Onde há cultura há luminosidade

  Coelho De Moraes                         37
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Queremos os subterrâneos térmicos
O críptico signo da massa
O enigma da invasão dos bárbaros
Povo como útero aquecido
Abraçados em amplas soluções
funde o macho e a fêmea em rápidos delírios

Renascimentos
Século morto e petrificado
Assembleias densas e ásperas
Igrejas secas favorecendo carunchos
Nas profundezas o calor que sobe
banha com lava os edifícios de gelo
Um sopro quente derretendo tudo
O povo como ultra sexo
Dos baixios da pirâmide irradia o fogo
A luta se renova vinda dos campos
trazida por ventos de trigais em floração
A lenda nacional
O pensamento do povo
é a credibilidade da história

Massa amorfa
Fêmea
Macho
A mistura febril
Povo hermafrodita
deve ditar a sua história
Duplo sexo e poder de incubação da guerra
deve se exprimir e mostrar a forja

A aliança dos dois sexos

  Coelho De Moraes                          38
Um Certo Daimon Chamado Barthes


traz de volta a terra dos paraísos cainitas
A forma de abolição dos contrários
Um mágico mundo liso e sem arestas
Sem fronteiras entre o sim e o não




UM CORPO
FANTASMA
  Coelho De Moraes                            39
Um Certo Daimon Chamado Barthes



Errância
Meu amor é único
mas sinto uma difusão do desejo
errando até a morte
de amor em amor

Mas terminará / um dia / o amor?
O corpo inefável desaparecerá
para sempre
algum dia?
O fim está mascarado pela inocência
parecendo coisa eterna
que passa de Amor a Amizade
mesmo que eu não o veja dissipar-se

Barulho imenso
de repente o silêncio rompe auroras
No começo um clamor
de repente um nada sem brilho

Poetas de começos
Plateia dos fins
Não construo a minha história de amor
vejo e aspiro
suspiro e sucumbo
mesmo piscando os olhos
Bato palmas para o ato que acaba
mesmo sabendo que as cortinas se fecham sobre mim

É através do amor
que se chega a uma outra lógica

     Coelho De Moraes                         40
Um Certo Daimon Chamado Barthes


São instantes verticais
de amores suspensos
São volúpias absolutas
instantâneas a sabor de morangos
Sons sem memórias
Amores esquecidos do que o precede
numa sucessão de acordes desventurados
Fugas indômitas sobre cavalos noturnos
e esse suar imenso que me transborda mares

Pode-se renascer sem morrer?
As mesmas cartas serão escritas para outra mulher?

A errância do amor é uma dança de palhaços
Rápida ou lenta
em função da pessoa que trai ou sai
mas pode ser drama completo sem pausas
donde aparece Dionísio / novamente
fazendo eclodir as trombetas
em peripécias de uvas e bacanais

Erra-se pelos mares e pelos ares
Procura-se a mulher eterna
o amor que o envolva em abraço imortal
Erra-se por causa do inequívoco amar
Marca imposta desde o começo dos tempos
na procura dessa Lilith desaparecida
pedaço que a mim completa

De qualquer forma
corpo avesso ao sólido
há um deus imaginário

     Coelho De Moraes                         41
Um Certo Daimon Chamado Barthes


que me persegue mesmo invisível
que me afligiu
com a compulsão da fala
que não responde aos meus pedidos
Muda-me a cor
mas não me muda a igualdade
O quadro é o mesmo
o tom cambia
escolhe-se a tinta
a nuance porém
pode ser a mesma




VAI... A FUGA
DESMESURADA
     Coelho De Moraes                         42
Um Certo Daimon Chamado Barthes



idas e vindas
a cabeça enamorada não para de correr
a cabeça enamorada não cessa de intrigas
a cabeça amante intriga contra si mesma
são lufadas de um falar sem fim
circunstancias ínfimas e aleatórias
um que eu...

discorrer
palavras coreográficas
entendidas durante a ginástica
gesto do corpo captado na ação
o que se puder parar do corpo em tensão
o movimento da luz cristalizado
enamorado que corre
percorre e discorre
em um bailado meio louco
na procura de si mesmo
para
em achando
fugir de si mesmo
e de sua sombra

o sentimento amoroso cerrando discursos
o sentimento amoroso fazendo calar
o sentimento amoroso em alusão
a vertigem
o texto pode se perder
em raridade e pobreza das essências
pode se perder em cartas de amor
o tecido amoroso que constrói um livro

     Coelho De Moraes                         43
Um Certo Daimon Chamado Barthes


não deve nem se repetir
nem se contradizer
nem no todo e nem na parte
- o código do amor cortês –
o amor
discurso de distancia ao modo de Brecht
frases matrizes de figuras
emblemas como cartazes
a paixão escorrendo pelos corredores
a paixão exalando árias de ciúmes
por que não(?)
a paixão fútil como uma pedra
por que não(?)
nunca que uma palavra amor é louca
pois louca é a sintaxe que a acomete
ou a recebe

A língua lhe impõe um lugar falso
dentro de uma boca molhada e veludosa
Assim nasce a emoção
de uma sintaxe mal terminada
espumando a saliva salgada
inconclusa, se querem saber
mal-formulada
uma saliva tardia que escorre pelos cantos dos lábios
pendurada na ponta de lábios tardios e tristes
a mais doce palavra carrega o medo de um suspense
a tempestade
o mastigar de línguas
Netuno em sua forma noturna
é assim que - corajoso -
enfio a mão para dentro de sua blusa

     Coelho De Moraes                          44
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Netuno em sua forma profunda
tendo os mamilos como pérolas
e as auréolas
como lisas conchas entreabertas
Netuno em sua forma carnal




VULNERÁVEL

     Coelho De Moraes                         45
Um Certo Daimon Chamado Barthes


...à mercê de leves feridas...
Substancia irritável
e a pele para carícias
O que mais se dizer ao se falar do amor?

Depende do prego e depende da madeira
Depende do lugar onde o prego se enfia
Depende do perfil da madeira
Todos temos os pontos fracos
mas eu conheço o mapa dos meus pontos
Quisera saber dos seus
Quisera saber das suas condutas enigmáticas
Quisera saber da sua moral
Por que você sempre prefere o meu sêmen?

Não sendo hábil marceneiro
resta ainda saber do fio da madeira
do modo mais terrível:
bater o prego e ver onde entra
com maior facilidade
Quantas vezes eu farei isso?
O outro modo tanto é brincar
mas brincar me faz mal
Suporto mal
Quem se apaixona não tem boa consciência
Quem se apaixona não tem boa moral
Quem se apaixona dorme acordado

O que o mundo expõe me parece sinistro
Não estou aqui para brincar
do mesmo modo que a criança que olha pra lua
Lunáticos / como nós / não brincamos

     Coelho De Moraes                         46
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Não se mexe comigo sem riscos
Estou como a fibra de certas madeiras:
amoleço ao menor toque
sonho pouco
não pratico trocadilhos
escrevo esparso e fraco
como se desenhasse a imagem no lago
e o texto perde seu valor no tempo
bem como minha risada

Nada de romance
Estou fora de moda
Não suporto quando a sua boca
deita saliva generosa
e a minha cara de pau diz que adora isso tudo.




CARTAS... AH!
CARTAS
     Coelho De Moraes                            47
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Cartas
Ah! Esse jardineiro
Cartas de amor
Que sorte a dele
Cartas longínquas
Cartas vazias e expressivas
Querendo significar um desejo

Cartas abertas
Variações de uma mesma informação
Quando eu penso em você
Eu sei que a esqueço
Sei que a faço voltar
nada tenho para dizer
E esse nada eu digo para você

A correspondência serve para traçar posições
Escrever para ela
É nada mais do que dizer
O que lhe agrada
Conhecer os pontos que a ela interesse
Matematicamente
Mas se a coisa é coisa do amor
Não me interessa co-respondência
Só interessa relação ligando nossas imagens
Quero a resposta
Quero as cartas na mesa
As flores do jardim para a mesa
O aroma dessas flores colorindo nossa precisão
Receba meu nada
Meu desejo vago e obtuso
De quem se reflete na sua alma

     Coelho De Moraes                            48
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Transpõe a armadilha da paixão
E se fadado a uma destruição de si mesmo

Cartas ao vento
Voa a imagem voa
Segue para a amada com regimes de desespero
Todo o corpo enrijece e revulsa
Um nada civilizado dos amores difíceis
Meus verbos e predicados perdidos nas linhas
A carta que dança
A carta
Nunca solene
Nenhuma declaração de ruptura
Nenhuma situação sem resto
Nenhum resto sem ruptura
Nenhuma frase de pânico ou
A carta sem resto ou resto de troco
A troco da ruptura
A troco da frase
Uma carta solta no ar
Sem ser lida

Ah! Flores
Esse Jardineiro leva as flores de volta
Replanta do jardim do esquecimento
Não posso me retomar
Ao sempre se fez isso do pânico
De ser esquecido
Sem ter sido / sequer / lido




      Coelho De Moraes                         49
Um Certo Daimon Chamado Barthes




CATÁSTROFE
 Coelho De Moraes                         50
Um Certo Daimon Chamado Barthes



Está fadado a uma destruição
desespero doce
resignação ativa
No quarto me tranco e finjo explodir
Frio-quente relâmpago
amparado na insidiosa demonstração
de uma volúpia incontida

Amores difíceis
e o enrijecimento do abandono clássico
Beber nessa águas é transpor veleidades e nuances
O prisioneiro que necessita do abandonado
Que vê as imagem se desvanecerem
Um vento confortável
-presa do imaginário-
será algoz de sua intemperança
O pânico
deus Pan causando e fazendo agir
o tudo que é Pan nada divino
ao pé da letra

Me projeto no outro
Me lanço no outro
mas não consigo me recuperar
a tempo de dizer a nota fá
nem um monossílabo
se-me solta




     Coelho De Moraes                         51
Um Certo Daimon Chamado Barthes




CIÚME EM VERDE
TRISTURA
 Coelho De Moraes                         52
Um Certo Daimon Chamado Barthes


A esperança num método
para diminuir a tristeza
A relação amorosa
sem manter liames ou elos
Esquecer a amada
fora de seus prazeres

O prazer que a alma experimenta
-gáudio inominado-
de saber que a posse é verdadeira
prestes, futura, certa

O prazer entusiasta
que predomina em nós
-contraditório-
aquilo com que se sonha
usufruto do bem vitalício

E seu eu pudesse me restringir aos prazeres?
E seu pudesse me desfazer dos elos mortificantes?
E seu pudesse compreender
que a guerra não exclui a paz?
E seu eu pudesse ser distraído?

Precisamos lembrar, amada,
que o imaginário é louco
podendo unir ou manchar
Nada da imagem pode ser esquecido
Nada do amor pode ser comportado
Nada na posse pode ser frequente
Preciso pensar que perdi você
para achá-la na manhã seguinte

     Coelho De Moraes                         53
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Saborear a ressurreição
o alívio do trabalho jogado fora
Recuperar o a cola amorosa

Saiba / amada / que o amor
não é reformista ?
É uma versão triste
da circunscrição dos prazeres
Nele algumas coisas estão no lugar
outras se dissolvem
O amor faz parte da dissolução
da degradação
é o ponto de se desejar ocupar um lugar vazio
quando a confidência é abandonada
A raiva prevalece no rosto
A tensão aflora

Estarei ao menos apaixonado?
Minha amada é um doce que se reparte
Cada um terá o seu pedaço
Não sou único e nunca serei
Qual será o meu bocado?
Que parte desse corpo me será levado?

As deusas do destino são deusas da repartição
A última é a Morte / a Muda / a Fria
É próprio da perfeição ser repartida
Tristeza sem limites
sofre-se pela impotência
sofre-se pela repartição
sofro por amar exclusivamente
Se não sofrer por ciúme

     Coelho De Moraes                           54
Um Certo Daimon Chamado Barthes


estarei transgredindo alguma lei
fugirei da norma

Apaixonado pelos seios
-meus lábios neles-
Apaixonado pelas coxas
-as mãos que ali dançam-
Apaixonado pelas dobras da vulva
-minha língua retoca a tessitura-
Pareço louco se não falar:
alma minha gentil que um dia partiu
se repartiu

conformismo invertido
não haverá mais ciúmes
o ciúme será frio / como a Muda
o ciúme será burguês
agitação indigna
um zelo




CONVERSAS
     Coelho De Moraes                         55
Um Certo Daimon Chamado Barthes


declarar não é confessar
mas é alimento da amada
quero alimentá-la da minha paixão
e declaro
nada mais

falar é cobrir como se fosse roupa
cobrir o pensamento
esfrego minha fala na cara dela
palavras-dedos
falas trementes de desejo e paixão
dedos tesudos
falas tesudas
a fala que se toca a si mesma
ela se faz gozar como se já tocasse o corpo
quero envolvê-la nas minhas falas
acariciar a mulher com meus dedos-verbos
roçar prolongadAmAntE
um relação de falas e verbos incontidos
gastar sem crises
falar sem parar
falar sem gastar
relação sem orgasmo
falar muito
rebuscar
um coito reservado em que se estimula
a boca despeja sua saliva como liquor
e se se fala baixo e ao lado
a amada pode gemer
substituir a cópula pela fala
eu para você
discorro

     Coelho De Moraes                         56
Um Certo Daimon Chamado Barthes


de você para nós
juntamos nossas partes
abstrai-se o amor
filosofa-se a coisa
mas meus dedos ainda procuram sua vulva
é como falar sobre um terceiro
que está na ponta dos dedos-predicados
sentenciosos
líricas e romanzas passando
pelo tremor de seus mamilos
e você parecerá um fantasma do dia a dia
enquanto fervem suas dobras
enquanto você se multiplica em gozos.




CONTRARIEDADES,
ACONTECIMENTOS E
ENTRAVES DO
CORAÇÃO
     Coelho De Moraes                         57
Um Certo Daimon Chamado Barthes



Contingências
Mínimos acontecimentos
Entraves
Ínfimas contrariedades
Coração
Bagatelas e mesquinharias
e mais um quinhão de simplezas e desperdícios
Rugas e rusgas de uma existência
Miolo factual na ambição da felicidade
como se o ocaso fizesse intriga na esquina próxima
                                          O bom humor
                           O presente que ela me deu
                                O encontro combinado
                                           Mas eu os vi
                                            antes disso
                               sozinhos e cochichando
                                     e falavam de mim
                                   Era o fim da euforia
Minha linguagem recai sobre o incidente fútil
Algo como o destino dessemelhante da verdade
Um tudo que se arrasta e que sai de mim
coberto por uma capa de ódio coruscante
Inúmeras circunstancias tecem o negro véu
Ínfimos acidentes compõe o tapete de Maya
um mar de ilusões me arrasta em redemoinho
de sentidos e palavras soltas a vento
                       O incidente será como o caroço

              e o colchão da princesa ficará enrugado

          O sonho espalhando um pensamento diurno

     Coelho De Moraes                          58
Um Certo Daimon Chamado Barthes



                        O discurso amoroso sem frutos
    A estrutura do incidente é o que repercute em mim
            A estrutura da bolha da Clarice... Valha-me!
Ela chega como se puxassem uma toalha
Dentilhados e amortalhados espelhos
são impasses da memória que eu quero impor
são armadilhas que se arvoram maravilhas voláteis
assim como o Cristo Redentor minúsculo
ou o Amazonas no meu jardim
                  Não! Nem quero conhecer as causas!

                  Não recrimino que se fale sobre mim

               nem suspeito que a fala me é nociva
mas me vejo envolvido em uma situação que não criei

                        O âmago da fatalidade amorosa

O incidente é um sinal
Nada floresce dele
a não ser a casualidade
Muitas vezes o incidente sou eu
Meu corpo e eu conjuntos
uma festa / uma declaração solene
Um bloqueio de uma dor / uma gripe
tudo que me possa trazer afonia
calando minha paixão
Será bem recebido




     Coelho De Moraes                           59
Um Certo Daimon Chamado Barthes




Correr Para Todo
Lado
idas e vindas
a cabeça enamorada não para de correr
a cabeça enamorada não cessa de intrigas
a cabeça amante intriga contra si mesma
são lufadas de um falar sem fim
circunstancias ínfimas e aleatórias

discorrer
palavras coreográficas
entendidas durante a ginástica
gesto do corpo captado na ação
o que se puder parar do corpo em tensão
o movimento da luz cristalizado
enamorado que correr
percorrer e discorre
em um bailado meio louco
na procura de si mesmo
para
em achando
fugir de si e de sua sombra

o sentimento amoroso cerrando discursos
o sentimento amoroso fazendo calar
o sentimento amoroso em alusão


     Coelho De Moraes                         60
Um Certo Daimon Chamado Barthes


a vertigem
o texto pode se perder
em raridades e pobrezas das essências
pode se perder em cartas e amor
o tecido amoroso




FALAR EM
TONS
     Coelho De Moraes                         61
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Uma fala em comum
Um falar de terceiros

Um andar em terreno desabitado
Alcançar quem está na frente
Falar da vida alheia

A teoria do amor
é a enxurrada de fatos que contam
que falam cessar
A meta é um montar uma cena nova
que nem precisa ser verdadeira

uma fala de cinco metros
uma conversa com um tempo congelado
escorrendo em gel formato
mole e exausto
ouvir e acreditar
pois cumpre que a vítima terá razão

ninguém de quem se fale
poderá se defender
cumpre-se à risca
que se fale sem promessas ou garantias de verdade
em um banquete decente
há que se falar mal de muitos
muito mais se há
se se falar de casais
um prato cheio para o banquete
um prato cheio para o filósofo de esquina

mas saiba que à mulher prometida

     Coelho De Moraes                         62
Um Certo Daimon Chamado Barthes


não se deve apaixonar
deve-se sim / buscar a foda sem máculas
uma coisa de beijos e abraços
de gozos entre roupas
uma ou mais mãos apertando sexos
coisas do furtivo e da escondida sombra

Deve-se manter a história que está por vir
A fada má de um assunto alheio
que impõe um não(!) a chamar
um chamar de sim(!) para confundir
um talvez que se quer fuga
fada sem pena
madrasta do fado negativo
tacanha imagem de alguém que quer o fogo da paixão

ardendo em peito alheio

Frívola e fria objetividade
o falar em tons desencanta magias seguras
desdobra tecnologias desconhecidas
ou ciências ignotas

o falar em dons se manifesta neutro
vozes redutoras e pusilânimes
quando comentam o que não fariam
ou criticam o que queriam fazer

Redução insuportável
Pois mesmo o tesão é de valor magno
Ele desloca atenções e envida ao andar sem mágoas
Diminui a não-pessoa em formatos de água

     Coelho De Moraes                         63
Um Certo Daimon Chamado Barthes


O formato de muitas águas
O formato de turbilhões que ser quer multidões
e muitas vozes
e muitos falares
e muitos cantares
pois é de cor que se fala quando se canta
um discurso que se apossa do outro
uma catadupa de palavras e quimeras
um discurso daqueles de ver o outro morto
e deificá-lo sem referências

você é sempre o outro
e eu falo de você como quem fala de mim
eu falo
não quero que o outro fale de você
nem de mim




FAZER
     Coelho De Moraes                         64
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Angustiadamente
interpor problemas de conduta
diante do homem da moral
Ciência exata das condutas
a moral como lógica
um amor imperfeito
Quadrático
Cascata de alternativas e álgebras
sem deduções

Angustiadamente
Menosprezar o ato puro
Isento e sem remorsos
Ter esperanças ou agir
Não ter esperanças e renunciar
Tudo é fazer
Obstinadamente
Escolhe não escolher
Manter a deriva
Continuar fluindo
Olhos presos na meta imprecisa

Infinitamente
Condutas fúteis
Um número de telefone
Onde posso encontrá-la
A tantas horas
Me afobo
Tenho a permissão e não sei o que fazer
Isso em incomoda
Torna minha loucura equilibrada
Sofro

     Coelho De Moraes                         65
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Mas, pelo menos
Nada tenho que decidir
A máquina amorosa andará sozinha
Operário moderno e eletrônico
Aluno de fundo de sala
Tudo faz barulho diante de mim
E dentro da infelicidade
Ainda dá para arranjar
Um bocado de preguiça




IMAGINÁRIO
     Coelho De Moraes                         66
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Exílio
Exilar-me de sua imagem
Insônia
Mantê-la em chamas
Delírio
Perder teus abraços
Quando se morre
Em luto real o mundo se abre
Ou se fecha
O luto do amor
É nojo de algo que não morreu
A presença do que partiu
O sonho de sua morte
Duplo sofrimento
A minha carne que arde
O e-mail que não chega e que não quero ler

Triste progresso se devo esquecer você
A rua está coberta de lama se devo fugir
Amante abstrata, era teu corpo ou meu pênis?

O que de igual quando se ama e se cura de algo?
Qual o risco maior do luto em vida
se vejo a imagem da mulher no desvão da janela?

Melancolia / luto / pois ainda se ama
Que fuga tormentosa!
Queima por baixo / arde um fogo no peito /
e o teu seio arfa!
Túmulo mal fechado / principado de feras /
e teus cabelos no meu rosto!
Há aí uma recusa que não se sabe

     Coelho De Moraes                          67
Um Certo Daimon Chamado Barthes


se vem do corpo
ou da mente
Um abraço louco de quem já morreu
Abraçar a separação




NÓS E
EMBARAÇOS NO
QUE SE
RESPIRA
     Coelho De Moraes                         68
Um Certo Daimon Chamado Barthes



Muita gente
Nudez e serões
Um amplo salão clichê / castiçais / catedrais
Muita gente junta
Corpos esquecidos / rolando pelo chão
Um amplo tapete onde se misturam vozes e bocas

O embaraço coletivo
Os abraços dos muitos braços
As mãos de muita atenção voltada
Beijos

Calados
se passeia pelo quarto
mas há mais gente desnuda
Deitados na cama se exploram
Os assuntos sem significado se esgotam
Fluem de um para o outro sem qualquer atenção
Alguém segura o braço da amada
Ela resvala para a cama

O saber silencioso pesa e carrega o ambiente
As peles se esquentam e os órgãos crescem
deixando a situação descambar para um sem controle
As mãos se arvoram nas frestas e nas coxas
Entreabertas bocas deixam passar a língua
e essas tocam mamilos e costas e pescoços
Sobe um calor magnífico e os corpos se movem

Há sentidos que eu leio e sigo na finura dos enleios
Não se fala / somente o gozo é voraz

     Coelho De Moraes                          69
Um Certo Daimon Chamado Barthes


Há gemidos e alternâncias de vozes sutis
Vejo a amada dormitar sobre um ventre
Uma fascinação alerta
Então
A boca perdida de mulher dadivosa
recobre minha glande
o local adormece
para explodir num jorro inclemente
Imobilizo-me desperto
Cena sem exterior e sem leitura imediata
O mal estar perverso do gozo




     Coelho De Moraes                         70
Um Certo Daimon Chamado Barthes




                              Finda o Devaneio



Coelho De Moraes                         71

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Um certo daimon chamado Barthes

  • 1. Um Certo Daimon Chamado Barthes Coelho De Moraes 1
  • 2. Um Certo Daimon Chamado Barthes Direitos de Cópia para Cecília Bacci & Guilherme Giordano ceciliabaccibscm@yahoo.com.br menuraiz@hotmail.com EDITORA ALTERNATIVAMENTE produtoresindependentes@yahoo.com.br TIRAGEM 7000 POR E-MAIL http://www.paginadeideias.com.br Coleção BROCHURA / PDF / ESPIRAL Capa COELHO DE MORAES recriação sobre foto coelhodemoraes@terra.com.br Cidade de Mococa São Paulo 2009 Coelho De Moraes 2
  • 3. Um Certo Daimon Chamado Barthes Para Rose Braga Um presente do nosso Jubileu de Prata em 2007 Coelho De Moraes 3
  • 4. Um Certo Daimon Chamado Barthes Não podemos encerrar o caminho da poesia em uma única vertente. Aliás, pouco se conhece desse ofício que Octávio paz comparou a bruxaria e ao sortilégio. Essa introdução é necessária para não querer enquadrar Um Certo Daimon Chamado Barthes numa leitura convencional. Do fazer poético ou comparativo com outras expressões do gênero. O texto está entre aqueles que rejeitam qualquer tipo de domesticação. O autor tematiza o amor-crise na sociedade contemporânea. Cria o menestrel moderno cantando para sua amada. É o ruído de um edifício sendo demolido. É um mundo sem o logos como centro ordenador. O versejar vai pelo avesso do pensamento positivista (universalista). Em razão disso não foi à toa que o autor elegeu como herói um estruturalista, Barthes, aquele que veio bater mais forte o martelo na muralha positivista. O poema me surpreendeu pela crueza: tudo está para ser construído. Da ejaculação surgem as ruínas da cidade paranoica, bêbada. Lembra Roberto Piva viajando com suas amebas na noite de São Paulo. Esse monólogo de Um Certo Daimon é um manifesto contra a repetição de velhos signos, uma sintaxe disfarçada em sorriso burguês. Por outro lado, o autor dialoga com a melhor tradição filosófica e poética, de maneira especial com Nietzsche. Parece-nos que mais nada resta a explorar na literatura em nossa época, pois temos a sensação de que tudo já foi feito. “Entretanto, há inúmeros hiatos no painel literário, que permitem outras apostas”, como me disse certa vez o escritor mocoquense Alcino Mikael. É dentro deste contexto que o leitor deve entender o livro de Coelho De Moraes. Pois o modernismo, ainda que esgotado, permite o surgimento de novas vozes. Apesar da terra do modernismo ser a morte do espírito, permite ainda algum deslumbramento como o daimon desta obra. Getulio Cardozo Coelho De Moraes 4
  • 5. Um Certo Daimon Chamado Barthes Índex A Cena 6 As Incongruências da Disputa 9 Ah! O Sim de Nietzsche 10 A Cada Vez de um Acaso 13 Agonia do Amor Ascético 15 Armadilha 18 Ausências 20 A Alvorada do Mundo de Aço 23 A Comedora de História 26 Sofrer Pelo Outro 29 Os Admiradores do Porto 30 Sujeito Apaixonado em Dependência 32 UltraSexo 34 Um Corpo Fantasma 39 Vai... A fuga desmesurada 42 Vulnerável 45 Cartas... Ah! Cartas 47 Catástrofe 50 Ciúme em Verde Tristura 52 Conversas 55 Contrariedade, Acontecimento e Entraves do Coração 57 Correr Para Todo Lado 59 Falar em Tons 61 Fazer 64 Imaginário 66 Nós e Embaraços no que se Respira 68 Coelho De Moraes 5
  • 6. Um Certo Daimon Chamado Barthes A CENA Coelho De Moraes 6
  • 7. Um Certo Daimon Chamado Barthes No doméstico quotidiano troca recíproca de discordâncias Troca ordenada de réplicas em exercício de um direito Um nunca você e nem eu sendo cada um na sua vez projeta a cena para o sempre interminável daquilo que forja o casamento Diálogo? Não se trata de escutar mas apenas repartir pedaços de fala Cada um com seu direito Cada um falando a seu tempo Cada um com seu gozo perverso Inconsequente como ter prazer sem o risco dos filhos A longa carreira das cenas de coisas agitadas e inúteis A justa entre os atores amantes A forma limitada da tragédia arcaica Enquanto eu falo comigo e sustento o meu delírio -a justa de palavras- é como se o próprio ator-louco se recusasse a ser autor da fala Um pode estar aborrecido e o outro excitado Um pode expulsar seus demônios pela fala o outro quer atrair o demônio da outra Coelho De Moraes 7
  • 8. Um Certo Daimon Chamado Barthes tentar um abraço repelir com força forçar um beijo estalar um tapa para que a cena ganhe em ritmo É preciso um engano qualquer que cada um se esforça em cometer atraindo o engano para seu campo É preciso decisão que cada um se impõe retirando o prévio acordo decidido É uma cena sem objetos É uma cena sem perspectivas Ela só tem de si a origem Quando se trata de cenas falamos / os amantes / por filas de palavras que jorram que se batem e explodem na cara de cada um A fala / o reflexo a causa impossível o suplemento e a voz do Eu que chora Não há nada que pare a cena O cansaço de alguém a chegada de alguém a agressão-tesão expansivos mas o querer da cena está no silêncio Nenhum raciocínio é metal durável Na cena o casal se desfaz Coelho De Moraes 8
  • 9. Um Certo Daimon Chamado Barthes são des-amantes são des-atores de uma cena ociosa lembrando o vômito romano Soltar para retornar mais tarde Por o dedo na garganta (excitar-se ao extremo) fazer crescer e engolir os membros e vomitar caudalosamente (jorro de argumentos ferinos) Tranquilamente voltar a comer AS INCONGRUÊNCIAS DA DISPUTA Coelho De Moraes 9
  • 10. Um Certo Daimon Chamado Barthes Falar por último e castrar a fala do outro A amante / na mudez / será meu sonho Ser confessor / presidente / juiz Dar termo à disputa Nada há na cena que concorra para a verdade Tudo na cena se baseia em lance de dados Ganha quem reter o anel na mão Perde quem não ver o lenço atrás de si Breve você se livrará de mim o meu gozo / do meu jorro de sêmen do que é expulso de mim no mesmo jorro das palavras Só a morte pode interromper a frase Recusar a última réplica é recusar a cena O herói sempre fala no fim AH! O SIM DE NIETZSCHE Coelho De Moraes 10
  • 11. Um Certo Daimon Chamado Barthes Sim / sim Dizia a mocinha Sim / sim Estou feliz / mas estou triste... Afirmo sempre o amor como valor Eu escuto, mas me obstino Sei / sei Mas / no entanto... Transfiro meu amor para um realismo-farsa Obscurantismo do real valor desse amor O protesto do amor é a teimosia debaixo do concerto das boas razões Amar melhor Amar de outro modo Amar sem estar apaixonado O intratável apaixonado Sucesso ou fracasso Vitória ou derrota São os valores que o mundo impõe sem medir co-sequencias Sucesso e fracasso não são contingentes? A dor não trás prazer? Não estarei destituído de toda a finalidade? Figura ambígua em um discurso onde a água flui no caminho sem volta? Sou trágico quando aquilo que me ocorre me faz vencer e ser vencido Durar será melhor que inflamar? Coelho De Moraes 11
  • 12. Um Certo Daimon Chamado Barthes Em certa manhã escrevo uma carta de amor e não envio O dever amoroso é um dever remarcável deixando fazer as coisas loucas das quais somente eu sou testemunha para viver sem queixas no sentido da minha força e revirar o sentido relativo da existência Distante das mediocridades estou condenado à minha própria filosofia O essencial da tragédia é uma força apaixonada O crucial da tragédia é um amor domesticado As duas afirmações para o amor dois positivos de sins eloquentes O apaixonado encontra o outro um primeiro sim roído de dúvidas momento de paixão triste... ressentimento... onanismo O segundo sim aparece quando se vê que é possível sair desse túnel reafirmar, re-signar sublimar o re-sentir re-valorizar o amor em suas diferenças desejar a sua volta e não sua repetição Recomeçar Coelho De Moraes 12
  • 13. Um Certo Daimon Chamado Barthes A CADA VEZ UM ACASO Coelho De Moraes 13
  • 14. Um Certo Daimon Chamado Barthes Os prazeres de seu imaginário como um sopro despojado de sua melodia Um jorro contínuo de imagens e figuras sem ordem nem lógica Um refluir em narrativas como o choro e grito das Fúrias A horizontalidade da fala da amante passando como um rio perpétuo exala uma história de amor que o faz escravo de outra amante sem clara intenção de moral ou qualquer lição Amar é estar doente O mundo lhe deve uma cura Para desencorajar a intenção do sentido é necessário uma ordem sem significados Não se deve construir monstros no caso monstros que seriam as virtudes Uma certa filosofia do amor Uma certa afirmação de uma alegria crônica e cômica O apaixonado é montado de pedaços Uma criatura de suspiros e lágrimas partes costuradas / membros alienados sobras da própria vida um banquete platônico onde o homem é uma ponte entre dois mundos Coelho De Moraes 14
  • 15. Um Certo Daimon Chamado Barthes Eu que amo lhe passo a arrogância dos meus pecados e em troca eu quero a juventude de sua pele a memória de lugares a inocência do imaginário o seu vazio ocasional AGONIA DO AMOR ASCÉTICO Coelho De Moraes 15
  • 16. Um Certo Daimon Chamado Barthes Do sabor de uma ou outra contingência Do perigo / medo Da mágoa / medo Do abandono / medo As angústias lá estão como um veneno preparado Móveis e lâmpadas estúpidas Onde se aquecer não havendo como Sócrates o frio da cicuta escorrendo pelo vidro? O crivo da escuta surtindo o efeito da pura angústia? E se eu fizer uma promessa? O aniquilamento já foi já ocorreu Desse aniquilamento / o medo agora me ocorre e eu não percebo que ele já foi A angústia do amor de um luto que já ocorreu / o medo Anulemos a amada com o próprio peso do amor Objeto grotesco colado no centro do palco por minha culpa O meu desejo transferido para a imagem que parece empalhada de tão medíocre A amada / sempiterna / como um agente Coelho De Moraes 16
  • 17. Um Certo Daimon Chamado Barthes Para que eu ame o meu desejo transferido nada mais mudo modos para que a amada note Ascendo a outros planos / já que sou culpado Que venha / então / a punição febril Corto o cabelo Uso lentes escuras forjando a reclusão Estudo a ciência arcaica e inútil Será forma de punição excluir a mim mesmo do convívio? Serei mais amado? Serei mais digno? Meu sofrimento será notado? Sentirão pena de mim? O luto histérico que me imponho doce martírio / retiro doce paciente / triste / digno como convém O luto que suponho histericamente retiro necessário de bom funcionamento patético... discreto... pálido Veleidades! A vaidade no sofrimento sofrimento de amor -veja o que você faz de mim!- ergo diante de você a figura do meu desaparecimento Veja como sumo... Coelho De Moraes 17
  • 18. Um Certo Daimon Chamado Barthes ARMADILHA Coelho De Moraes 18
  • 19. Um Certo Daimon Chamado Barthes A figura do encontro Tempo feliz depois do primeiro rapto antes do dia a dia do casamento Poeira de figuras agitadas Ordem imprevisível como a mosca que voa Movimento organizado Captura da imagem Exploração extasiada da amada A doçura do começo O tempo do namoro Embaraços e armadilhas onde me encontro preso sem trégua sob a ameaça da decadência Ao ser preso nessa doçura qualquer pedrada é suave Sou um jogador cuja sorte se confirma no constante quebra-cabeça da felicidade Eu enamorado capturado sob o céu das vermelhidões do poente emerjo das vertigens de um acaso sobrenatural O amor depende dos dados dos vinhos e de Dionísio O gozo narrativo Da boca saem os prazeres Um saber da história do outro Coelho De Moraes 19
  • 20. Um Certo Daimon Chamado Barthes a amada contando seus gostos daí eu pulo e flano leve como o ar Estou livre para me manter na prisão AUSÊNCIAS Coelho De Moraes 20
  • 21. Um Certo Daimon Chamado Barthes Por qualquer causa ou duração a ausência da amada sugere prova de abandono Melodias e canções da ausência amorosa fazem o peito romper / pranto suave Viver em eterno estado de partida mostra a vocação do migrante eu / que sofro / sedentário sou deixado de lado como um embrulho qualquer A mulher dá forma à ausência ela tece e canta ela espera e dormita na sombra do tear O homem deve saber se alimentar enquanto espera de outras coisas de outras bocas e manjares de outros lábios doces e salgados esquecendo excessos e cansaços O homem é o voraz navegador O esquecimento pode ser a ausência bem suportada pode ser Momentaneamente infiel é condição da sobrevivência pode ser Suspirar depois de cada sopro incompleto Coelho De Moraes 21
  • 22. Um Certo Daimon Chamado Barthes Respirar depois de cada beijo em si repleto Gozar os benefícios da imediata lembrança pode ser O abraço que funde imagens de dois se torna um e eu abandonado me torno uma imagem descolada amarela e seca O presente insustentável me bloqueia entre dois tempos dois simples pedaços de angústia vagueando nas bordas de um tempo em vai e vem abrindo o palco da linguagem e a linguagem – é sabido – nasce da ausência cria-se aí uma ficção cria-se aí a obstinação por múltiplos papéis e o beijo se manifesta lanhado de suor e esperas Se não chorar a ausência o luto se encurta Aprende-se a esquecer o sentimento de amor que se abate sobre a carência Quero ficar à margem da amabilidade mundana que me espia Quero a amada convocada em mim exposta em meu peito que arfa Invoco sua proteção para que o amor ausente Coelho De Moraes 22
  • 23. Um Certo Daimon Chamado Barthes não me transforme em detrito social Por qualquer causa ou duração a ausência da amada sugere prova de abandono A ALVORADA DO MUNDO DE AÇO Coelho De Moraes 23
  • 24. Um Certo Daimon Chamado Barthes Acorda manhã-luz / entra em mim em olhos abertos Se se fala de seu cansaço matutino / cálido Opacos destinos deixa que eu sofra como o herói de Goethe mesmo que eu esteja cansado e queira dormir Deixa eu dormir e esqueça o cansaço e a dor Deixa a dor Acorda noite-luz e sai de meu peito sem trevas fechadas Se se desgasta tanto quanto o corpo físico é que chove e se chove deixa fluir essa água da vida Diz alguém que tanto sofria mas lutava todo dia todo dia trabalhando na farmácia da esquina Imagens do ser amado que de noite eu dormia bem Durmo antes de morrer? Branco despertar do dia-luz entrando pelas frestas Morrer da dor ou morrer do dia é questão de espera Mas nada disso é muito real O sentimento de ausência punge e o telefonema é uma angústia moderna cuja familiaridade me comove como os telhados cinzentos Os ruídos grisados os caules cinéreos da fogueira apagada sideral imensidão de mundo o aço duro cortante das vertentes mas nada disso é real Coelho De Moraes 24
  • 25. Um Certo Daimon Chamado Barthes Periga ser um sonho nefasto Nada mais Em cada natureza habita uma mulher que amo O cimento cobre o passo de quem ainda não chegou Folheio o álbum e a natureza me chama Minha indiferença é pouca Perto da pintura de cinzas e degradés num restaurante repleto o glacial me toma e as risadas e olhadelas só servem para domar meu espírito que quer voar no pescoço do sujeito corpulento que segura meu braço é o garçom Que sopa fria! Uma capa de irreal me cai cheia de pó dos lustres sem lâmpadas A tarde se aproxima e as sombras me guarnecem Nem quero mais sofrer Já basta a nata do leite e esse cartaz que leio o tempo todo enquanto espero Embaçado atrás da vidraça a cara do palhaço faz caretas e micagens banca o besta e eu sinto frio Você virá? Não é mais manhã Já acordei Mas você virá? Coelho De Moraes 25
  • 26. Um Certo Daimon Chamado Barthes O mundo rola na rua e eu não faço falta alguma O mundo brinca de existência como se eu o visse por dentro de um aquário só não vejo a água o mundo é cinza e está em outro universo talvez pluriverso talvez tantos e cinzas e sujos que eu nada sei... Você virá? Estou na exatidão Imerso em mim / Concluído a meu favor Logo me desvaneço De mim sumi em fuga Essa miniatura envernizada de natureza não é mais que um ponto sujo na lama do acaso e dela só vejo o perfil solto no espaço mas que mundo maravilhoso É manhã-luz e o sol aquece Vejo você na calçada A COMEDORA DE HISTÓRIA Coelho De Moraes 26
  • 27. Um Certo Daimon Chamado Barthes Mulheres subsistem nas letras Sofrem mesmo assim um misto de ofuscamento e náusea Tudo na história que vivem e comem parece vento / tempestade / enciclopédias As mulheres que devoram sessenta volumes em mares de enxaqueca vivem sobressalto constante assaz chuva liberta num incomensurável sopro de intrusa santa que se alarma nas mudanças tantas Mulheres domadoras de livros acreditando sempre que morrem a sério permanecem imersas em amor alarmante amad(a)larmante renascem deliciosas após tépida noite de fragrâncias afastando o longo suplício da velhice começando uma terceira vida mesclando sexo em vitalidade a terra / a lama / as águas de minério e o sol Mulheres arrebatadas oferecem longos cabelos de doçura Um corpo rompido - disponível - aberto para a coação do trabalho Fúria insensata do trabalho Uma funesta declaração de direitos por fato Horários draconianos Sono de Creonte Pernas abertas de medusa inconclusa Coelho De Moraes 27
  • 28. Um Certo Daimon Chamado Barthes Suave noite sob o veludo carmim dos ardores e uma ingenuidade no gozo Buscamos uma tensão de profetas e não encontramos No máximo ouvimos o canto vital de uma tempestade na primavera Tal é a singularidade das mulheres vazios fecundados existência superlativa devoram o dia todo dia da sua história O não comer de seus momentos é morrer violácea e plúmbea enquanto a noite as chama na esquina Não se alimentar de seus dias e afazeres é plantar o nada arquetípico e esperar doações de garoas lentas e superar a danosa facilidade das colmeias Mulheres que se habitam em história perdem a fraqueza doentia O corpo todo é o produto de sua criação e assim fica provável que o homem tenha vindo de sua costela pois a cintura mais estreita sugere que perdeu-se ali a última linha de cartilagens Mulheres e simbiose Moléstias e enxaquecas Dores e fluidos sanguíneos nada mais são do que Coelho De Moraes 28
  • 29. Um Certo Daimon Chamado Barthes símbolos de uma sensibilidade excessiva mas sensibilidade dirigida como um veneno sagrado como um objeto a ser doado ao museu Sacerdotisas Pitonisas enoveladas em gaze e súlfur sedentas de ambrosia morrem elas todas de história mulheres sacramente ímpias da mesma forma como não se morre de amor São elas proprietárias grandiloquentes da história Elas bebem demais o sangue negro da vida e se tornam loucas glorificadas para um sempre eterno e abundante É aí que Ahasverus, finalmente se encontra SOFRER PELO OUTRO Coelho De Moraes 29
  • 30. Um Certo Daimon Chamado Barthes Violenta compaixão é a união pelo sofrimento Busca da unidade pelo sofrimento Achar-se / felizmente / odiável Achar-se Mãe insuficiente se apoiando na profunda reserva mesmo que a Amada o abandone e sofrer inda que não seja por causa disso O sofrimento que me anula na medida que sai de mim Perder o fôlego sem alcançá-lo A palavra reprimida vem dos lábios buscar a vida mesmo com dor Sofrer / portanto / sem me perder sem depender da amada Policiar-me para ser delicado Construir uma forma sã civilizada / artística / de sofrer O pé alado tocando levemente a tez de uma aurora que nunca se torna plena ADMIRADORES DO PORTO Coelho De Moraes 30
  • 31. Um Certo Daimon Chamado Barthes Pretensões e contradições remontam aos tempos da colônia Hoje dormitam sob ideias modernas Tomadas / cegamente / por um gênio portuário o porto olha a cidade que acorda e olha a cidade que dorme O porto excede / faz uma obra / segue seu tempo O porto se torna o historiador do futuro Serão essas pré-tensões e contra-dicções nunca ouvidas? O porto é o memorialista transmutado em cronista dos tempos e de sua gente Mas que sei eu dessa gente se moro longe e vejo o mar como um espelho? Sei que a história é ressurreição Sei que o porto / quando se inscreve na paisagem se torna velho / mudando de lugar Envelhece com os estivadores e com as barcaças Torna a história em ferrugem e guindastes eclode em granéis e passageiros explode em brilhos sobre o mar tempestuoso e calmo a um tempo desenha sua paragem nas paredes da cidade A cidade reflete o porto O porto reflete a cidade Sem oblações à raça não se deve passar ao largo dos portos nem ao longo de seus muros e aduanas nem ao lado das naves-monumentos Coelho De Moraes 31
  • 32. Um Certo Daimon Chamado Barthes sem oblações à raça uma raça de ferros trançados / inscrita entre o braço das gentes através da memória / do envelhecimento / e das quilhas movediças SUJEITO APAIXONADO EM DEPENDÊNCIA Coelho De Moraes 32
  • 33. Um Certo Daimon Chamado Barthes escravo da amada uma futilidade sem fundamento de encontro a uma mecânica vida de vassalo escravo da amada pusilânime retorno às origens uma necessidade imperativa e derrisória escravo completo irrita a mim perder meu tempo e não retornar ao local da tortura permitir que eu dependa expandir os espaços dessa dependência lutar por ela tornar-me fraco e ridículo uma ânsia para me tornar humilde um signo forte que se afirma quanto força quanto maior a futilidade e o ridículo é amar a amada é minha Asgard o Walhalla incomparável onde solicito minha inclusão como escravo dessa forma sou sujeito três vezes de quem amo de quem dependo de quem ela depende sou a fatalidade do sujeito inconcluso que espera e medita enquanto perde sua hora Coelho De Moraes 33
  • 34. Um Certo Daimon Chamado Barthes embora mantenha minha área de dependência e me vendo completamente dependente me vejo no direito histórico de repente de reivindicar minhas democráticas férias conjugais ULTRASEXO Coelho De Moraes 34
  • 35. Um Certo Daimon Chamado Barthes À mulher como confidente Chegar a ter acesso deixando de lado as vantagens do rapto Buscar a rua do sexo duplo sem androginias sem as modalidades de um Javé hermafrodita mas sexos no espírito instinto macho ideia fêmea A criação em espírito e coração Século morto Descobrir a mulher é salvar-se Menosprezar o verum pelo certum Deixar de lado a reflexão cartesiana pela verdade sentimental é chorar pelos cantos do mundo Ondas tempestivas de lágrima agridoce Homens demasiados cerebrais são incompletos Mulheres demasiado sentimentais são loucas mas / tudo se perdoará se se predominar a felação por baixo da mesa de discussões teológicas Não se julgará o século morto sem a doçura desses lábios macios e tenros o século ido se perde sem mestres de revoluções só golpistas e fazedores de guerras Coelho De Moraes 35
  • 36. Um Certo Daimon Chamado Barthes todos afirmando a masculinidade perdida atrás de fardas / por exemplo A mulher e o calor que arde sem propagar-se A faísca como força anti-erótica mas beberemos o café ambíguo após a noite de sonhos O café que trará lucidez crítica podendo fomentar mais amor O café como álibi do sexo entorpecimento do amor invenção sei lá de qual daimon Café / idéia / faísca Já diriam Michelet e Barthes Três itens de uma falsa fecundação A busca do céu orgástico traz a mutação dos corpos e dos olhos Orgasmo como solidão e tristeza inda mais se a semente lhe falta Por isso o sexo dos espíritos A intuição dando forma completa à idéia O violáceo do gozo perdido entre mãos A boca esfalfada entre as coxas Espera por estertores Faísca seca e estéril do orgasmacho Poder fêmea que produz a idéia em sentimento Ser gênio é ser homem e mulher Intrusos Coelho De Moraes 36
  • 37. Um Certo Daimon Chamado Barthes Mais vale o erro apaixonado aquoso do que uma verdade seca Que se faça algo Que a boca se molhe em beijos ardentes mesmo que errados Em qualquer boca o movimento é a verdade independente da realidade Queremos enfim a caricatura do riso fecundo Ter uma só vertente é ser cadáver em vida A pior das mortes pois é a morte seca O riso como força germinativa O sorriso sarcástico é estéril Sonhador que implica numa fé que não é tola As lágrimas são dons São Luís bem as quis O pranto faz germinar Água e sal e café lavam boca e olhos lavam o rosto Expansão do coração Genetrix cordis Bárbaros cobertos de seiva nova Crianças arrogantes e cheias de si Seiva líquida – sangue novo – sangue seiva A gosma do gozo que se expele A baba líquida do beijo absorto Um calor que se opõe à luz Onde há cultura há luminosidade Coelho De Moraes 37
  • 38. Um Certo Daimon Chamado Barthes Queremos os subterrâneos térmicos O críptico signo da massa O enigma da invasão dos bárbaros Povo como útero aquecido Abraçados em amplas soluções funde o macho e a fêmea em rápidos delírios Renascimentos Século morto e petrificado Assembleias densas e ásperas Igrejas secas favorecendo carunchos Nas profundezas o calor que sobe banha com lava os edifícios de gelo Um sopro quente derretendo tudo O povo como ultra sexo Dos baixios da pirâmide irradia o fogo A luta se renova vinda dos campos trazida por ventos de trigais em floração A lenda nacional O pensamento do povo é a credibilidade da história Massa amorfa Fêmea Macho A mistura febril Povo hermafrodita deve ditar a sua história Duplo sexo e poder de incubação da guerra deve se exprimir e mostrar a forja A aliança dos dois sexos Coelho De Moraes 38
  • 39. Um Certo Daimon Chamado Barthes traz de volta a terra dos paraísos cainitas A forma de abolição dos contrários Um mágico mundo liso e sem arestas Sem fronteiras entre o sim e o não UM CORPO FANTASMA Coelho De Moraes 39
  • 40. Um Certo Daimon Chamado Barthes Errância Meu amor é único mas sinto uma difusão do desejo errando até a morte de amor em amor Mas terminará / um dia / o amor? O corpo inefável desaparecerá para sempre algum dia? O fim está mascarado pela inocência parecendo coisa eterna que passa de Amor a Amizade mesmo que eu não o veja dissipar-se Barulho imenso de repente o silêncio rompe auroras No começo um clamor de repente um nada sem brilho Poetas de começos Plateia dos fins Não construo a minha história de amor vejo e aspiro suspiro e sucumbo mesmo piscando os olhos Bato palmas para o ato que acaba mesmo sabendo que as cortinas se fecham sobre mim É através do amor que se chega a uma outra lógica Coelho De Moraes 40
  • 41. Um Certo Daimon Chamado Barthes São instantes verticais de amores suspensos São volúpias absolutas instantâneas a sabor de morangos Sons sem memórias Amores esquecidos do que o precede numa sucessão de acordes desventurados Fugas indômitas sobre cavalos noturnos e esse suar imenso que me transborda mares Pode-se renascer sem morrer? As mesmas cartas serão escritas para outra mulher? A errância do amor é uma dança de palhaços Rápida ou lenta em função da pessoa que trai ou sai mas pode ser drama completo sem pausas donde aparece Dionísio / novamente fazendo eclodir as trombetas em peripécias de uvas e bacanais Erra-se pelos mares e pelos ares Procura-se a mulher eterna o amor que o envolva em abraço imortal Erra-se por causa do inequívoco amar Marca imposta desde o começo dos tempos na procura dessa Lilith desaparecida pedaço que a mim completa De qualquer forma corpo avesso ao sólido há um deus imaginário Coelho De Moraes 41
  • 42. Um Certo Daimon Chamado Barthes que me persegue mesmo invisível que me afligiu com a compulsão da fala que não responde aos meus pedidos Muda-me a cor mas não me muda a igualdade O quadro é o mesmo o tom cambia escolhe-se a tinta a nuance porém pode ser a mesma VAI... A FUGA DESMESURADA Coelho De Moraes 42
  • 43. Um Certo Daimon Chamado Barthes idas e vindas a cabeça enamorada não para de correr a cabeça enamorada não cessa de intrigas a cabeça amante intriga contra si mesma são lufadas de um falar sem fim circunstancias ínfimas e aleatórias um que eu... discorrer palavras coreográficas entendidas durante a ginástica gesto do corpo captado na ação o que se puder parar do corpo em tensão o movimento da luz cristalizado enamorado que corre percorre e discorre em um bailado meio louco na procura de si mesmo para em achando fugir de si mesmo e de sua sombra o sentimento amoroso cerrando discursos o sentimento amoroso fazendo calar o sentimento amoroso em alusão a vertigem o texto pode se perder em raridade e pobreza das essências pode se perder em cartas de amor o tecido amoroso que constrói um livro Coelho De Moraes 43
  • 44. Um Certo Daimon Chamado Barthes não deve nem se repetir nem se contradizer nem no todo e nem na parte - o código do amor cortês – o amor discurso de distancia ao modo de Brecht frases matrizes de figuras emblemas como cartazes a paixão escorrendo pelos corredores a paixão exalando árias de ciúmes por que não(?) a paixão fútil como uma pedra por que não(?) nunca que uma palavra amor é louca pois louca é a sintaxe que a acomete ou a recebe A língua lhe impõe um lugar falso dentro de uma boca molhada e veludosa Assim nasce a emoção de uma sintaxe mal terminada espumando a saliva salgada inconclusa, se querem saber mal-formulada uma saliva tardia que escorre pelos cantos dos lábios pendurada na ponta de lábios tardios e tristes a mais doce palavra carrega o medo de um suspense a tempestade o mastigar de línguas Netuno em sua forma noturna é assim que - corajoso - enfio a mão para dentro de sua blusa Coelho De Moraes 44
  • 45. Um Certo Daimon Chamado Barthes Netuno em sua forma profunda tendo os mamilos como pérolas e as auréolas como lisas conchas entreabertas Netuno em sua forma carnal VULNERÁVEL Coelho De Moraes 45
  • 46. Um Certo Daimon Chamado Barthes ...à mercê de leves feridas... Substancia irritável e a pele para carícias O que mais se dizer ao se falar do amor? Depende do prego e depende da madeira Depende do lugar onde o prego se enfia Depende do perfil da madeira Todos temos os pontos fracos mas eu conheço o mapa dos meus pontos Quisera saber dos seus Quisera saber das suas condutas enigmáticas Quisera saber da sua moral Por que você sempre prefere o meu sêmen? Não sendo hábil marceneiro resta ainda saber do fio da madeira do modo mais terrível: bater o prego e ver onde entra com maior facilidade Quantas vezes eu farei isso? O outro modo tanto é brincar mas brincar me faz mal Suporto mal Quem se apaixona não tem boa consciência Quem se apaixona não tem boa moral Quem se apaixona dorme acordado O que o mundo expõe me parece sinistro Não estou aqui para brincar do mesmo modo que a criança que olha pra lua Lunáticos / como nós / não brincamos Coelho De Moraes 46
  • 47. Um Certo Daimon Chamado Barthes Não se mexe comigo sem riscos Estou como a fibra de certas madeiras: amoleço ao menor toque sonho pouco não pratico trocadilhos escrevo esparso e fraco como se desenhasse a imagem no lago e o texto perde seu valor no tempo bem como minha risada Nada de romance Estou fora de moda Não suporto quando a sua boca deita saliva generosa e a minha cara de pau diz que adora isso tudo. CARTAS... AH! CARTAS Coelho De Moraes 47
  • 48. Um Certo Daimon Chamado Barthes Cartas Ah! Esse jardineiro Cartas de amor Que sorte a dele Cartas longínquas Cartas vazias e expressivas Querendo significar um desejo Cartas abertas Variações de uma mesma informação Quando eu penso em você Eu sei que a esqueço Sei que a faço voltar nada tenho para dizer E esse nada eu digo para você A correspondência serve para traçar posições Escrever para ela É nada mais do que dizer O que lhe agrada Conhecer os pontos que a ela interesse Matematicamente Mas se a coisa é coisa do amor Não me interessa co-respondência Só interessa relação ligando nossas imagens Quero a resposta Quero as cartas na mesa As flores do jardim para a mesa O aroma dessas flores colorindo nossa precisão Receba meu nada Meu desejo vago e obtuso De quem se reflete na sua alma Coelho De Moraes 48
  • 49. Um Certo Daimon Chamado Barthes Transpõe a armadilha da paixão E se fadado a uma destruição de si mesmo Cartas ao vento Voa a imagem voa Segue para a amada com regimes de desespero Todo o corpo enrijece e revulsa Um nada civilizado dos amores difíceis Meus verbos e predicados perdidos nas linhas A carta que dança A carta Nunca solene Nenhuma declaração de ruptura Nenhuma situação sem resto Nenhum resto sem ruptura Nenhuma frase de pânico ou A carta sem resto ou resto de troco A troco da ruptura A troco da frase Uma carta solta no ar Sem ser lida Ah! Flores Esse Jardineiro leva as flores de volta Replanta do jardim do esquecimento Não posso me retomar Ao sempre se fez isso do pânico De ser esquecido Sem ter sido / sequer / lido Coelho De Moraes 49
  • 50. Um Certo Daimon Chamado Barthes CATÁSTROFE Coelho De Moraes 50
  • 51. Um Certo Daimon Chamado Barthes Está fadado a uma destruição desespero doce resignação ativa No quarto me tranco e finjo explodir Frio-quente relâmpago amparado na insidiosa demonstração de uma volúpia incontida Amores difíceis e o enrijecimento do abandono clássico Beber nessa águas é transpor veleidades e nuances O prisioneiro que necessita do abandonado Que vê as imagem se desvanecerem Um vento confortável -presa do imaginário- será algoz de sua intemperança O pânico deus Pan causando e fazendo agir o tudo que é Pan nada divino ao pé da letra Me projeto no outro Me lanço no outro mas não consigo me recuperar a tempo de dizer a nota fá nem um monossílabo se-me solta Coelho De Moraes 51
  • 52. Um Certo Daimon Chamado Barthes CIÚME EM VERDE TRISTURA Coelho De Moraes 52
  • 53. Um Certo Daimon Chamado Barthes A esperança num método para diminuir a tristeza A relação amorosa sem manter liames ou elos Esquecer a amada fora de seus prazeres O prazer que a alma experimenta -gáudio inominado- de saber que a posse é verdadeira prestes, futura, certa O prazer entusiasta que predomina em nós -contraditório- aquilo com que se sonha usufruto do bem vitalício E seu eu pudesse me restringir aos prazeres? E seu pudesse me desfazer dos elos mortificantes? E seu pudesse compreender que a guerra não exclui a paz? E seu eu pudesse ser distraído? Precisamos lembrar, amada, que o imaginário é louco podendo unir ou manchar Nada da imagem pode ser esquecido Nada do amor pode ser comportado Nada na posse pode ser frequente Preciso pensar que perdi você para achá-la na manhã seguinte Coelho De Moraes 53
  • 54. Um Certo Daimon Chamado Barthes Saborear a ressurreição o alívio do trabalho jogado fora Recuperar o a cola amorosa Saiba / amada / que o amor não é reformista ? É uma versão triste da circunscrição dos prazeres Nele algumas coisas estão no lugar outras se dissolvem O amor faz parte da dissolução da degradação é o ponto de se desejar ocupar um lugar vazio quando a confidência é abandonada A raiva prevalece no rosto A tensão aflora Estarei ao menos apaixonado? Minha amada é um doce que se reparte Cada um terá o seu pedaço Não sou único e nunca serei Qual será o meu bocado? Que parte desse corpo me será levado? As deusas do destino são deusas da repartição A última é a Morte / a Muda / a Fria É próprio da perfeição ser repartida Tristeza sem limites sofre-se pela impotência sofre-se pela repartição sofro por amar exclusivamente Se não sofrer por ciúme Coelho De Moraes 54
  • 55. Um Certo Daimon Chamado Barthes estarei transgredindo alguma lei fugirei da norma Apaixonado pelos seios -meus lábios neles- Apaixonado pelas coxas -as mãos que ali dançam- Apaixonado pelas dobras da vulva -minha língua retoca a tessitura- Pareço louco se não falar: alma minha gentil que um dia partiu se repartiu conformismo invertido não haverá mais ciúmes o ciúme será frio / como a Muda o ciúme será burguês agitação indigna um zelo CONVERSAS Coelho De Moraes 55
  • 56. Um Certo Daimon Chamado Barthes declarar não é confessar mas é alimento da amada quero alimentá-la da minha paixão e declaro nada mais falar é cobrir como se fosse roupa cobrir o pensamento esfrego minha fala na cara dela palavras-dedos falas trementes de desejo e paixão dedos tesudos falas tesudas a fala que se toca a si mesma ela se faz gozar como se já tocasse o corpo quero envolvê-la nas minhas falas acariciar a mulher com meus dedos-verbos roçar prolongadAmAntE um relação de falas e verbos incontidos gastar sem crises falar sem parar falar sem gastar relação sem orgasmo falar muito rebuscar um coito reservado em que se estimula a boca despeja sua saliva como liquor e se se fala baixo e ao lado a amada pode gemer substituir a cópula pela fala eu para você discorro Coelho De Moraes 56
  • 57. Um Certo Daimon Chamado Barthes de você para nós juntamos nossas partes abstrai-se o amor filosofa-se a coisa mas meus dedos ainda procuram sua vulva é como falar sobre um terceiro que está na ponta dos dedos-predicados sentenciosos líricas e romanzas passando pelo tremor de seus mamilos e você parecerá um fantasma do dia a dia enquanto fervem suas dobras enquanto você se multiplica em gozos. CONTRARIEDADES, ACONTECIMENTOS E ENTRAVES DO CORAÇÃO Coelho De Moraes 57
  • 58. Um Certo Daimon Chamado Barthes Contingências Mínimos acontecimentos Entraves Ínfimas contrariedades Coração Bagatelas e mesquinharias e mais um quinhão de simplezas e desperdícios Rugas e rusgas de uma existência Miolo factual na ambição da felicidade como se o ocaso fizesse intriga na esquina próxima O bom humor O presente que ela me deu O encontro combinado Mas eu os vi antes disso sozinhos e cochichando e falavam de mim Era o fim da euforia Minha linguagem recai sobre o incidente fútil Algo como o destino dessemelhante da verdade Um tudo que se arrasta e que sai de mim coberto por uma capa de ódio coruscante Inúmeras circunstancias tecem o negro véu Ínfimos acidentes compõe o tapete de Maya um mar de ilusões me arrasta em redemoinho de sentidos e palavras soltas a vento O incidente será como o caroço e o colchão da princesa ficará enrugado O sonho espalhando um pensamento diurno Coelho De Moraes 58
  • 59. Um Certo Daimon Chamado Barthes O discurso amoroso sem frutos A estrutura do incidente é o que repercute em mim A estrutura da bolha da Clarice... Valha-me! Ela chega como se puxassem uma toalha Dentilhados e amortalhados espelhos são impasses da memória que eu quero impor são armadilhas que se arvoram maravilhas voláteis assim como o Cristo Redentor minúsculo ou o Amazonas no meu jardim Não! Nem quero conhecer as causas! Não recrimino que se fale sobre mim nem suspeito que a fala me é nociva mas me vejo envolvido em uma situação que não criei O âmago da fatalidade amorosa O incidente é um sinal Nada floresce dele a não ser a casualidade Muitas vezes o incidente sou eu Meu corpo e eu conjuntos uma festa / uma declaração solene Um bloqueio de uma dor / uma gripe tudo que me possa trazer afonia calando minha paixão Será bem recebido Coelho De Moraes 59
  • 60. Um Certo Daimon Chamado Barthes Correr Para Todo Lado idas e vindas a cabeça enamorada não para de correr a cabeça enamorada não cessa de intrigas a cabeça amante intriga contra si mesma são lufadas de um falar sem fim circunstancias ínfimas e aleatórias discorrer palavras coreográficas entendidas durante a ginástica gesto do corpo captado na ação o que se puder parar do corpo em tensão o movimento da luz cristalizado enamorado que correr percorrer e discorre em um bailado meio louco na procura de si mesmo para em achando fugir de si e de sua sombra o sentimento amoroso cerrando discursos o sentimento amoroso fazendo calar o sentimento amoroso em alusão Coelho De Moraes 60
  • 61. Um Certo Daimon Chamado Barthes a vertigem o texto pode se perder em raridades e pobrezas das essências pode se perder em cartas e amor o tecido amoroso FALAR EM TONS Coelho De Moraes 61
  • 62. Um Certo Daimon Chamado Barthes Uma fala em comum Um falar de terceiros Um andar em terreno desabitado Alcançar quem está na frente Falar da vida alheia A teoria do amor é a enxurrada de fatos que contam que falam cessar A meta é um montar uma cena nova que nem precisa ser verdadeira uma fala de cinco metros uma conversa com um tempo congelado escorrendo em gel formato mole e exausto ouvir e acreditar pois cumpre que a vítima terá razão ninguém de quem se fale poderá se defender cumpre-se à risca que se fale sem promessas ou garantias de verdade em um banquete decente há que se falar mal de muitos muito mais se há se se falar de casais um prato cheio para o banquete um prato cheio para o filósofo de esquina mas saiba que à mulher prometida Coelho De Moraes 62
  • 63. Um Certo Daimon Chamado Barthes não se deve apaixonar deve-se sim / buscar a foda sem máculas uma coisa de beijos e abraços de gozos entre roupas uma ou mais mãos apertando sexos coisas do furtivo e da escondida sombra Deve-se manter a história que está por vir A fada má de um assunto alheio que impõe um não(!) a chamar um chamar de sim(!) para confundir um talvez que se quer fuga fada sem pena madrasta do fado negativo tacanha imagem de alguém que quer o fogo da paixão ardendo em peito alheio Frívola e fria objetividade o falar em tons desencanta magias seguras desdobra tecnologias desconhecidas ou ciências ignotas o falar em dons se manifesta neutro vozes redutoras e pusilânimes quando comentam o que não fariam ou criticam o que queriam fazer Redução insuportável Pois mesmo o tesão é de valor magno Ele desloca atenções e envida ao andar sem mágoas Diminui a não-pessoa em formatos de água Coelho De Moraes 63
  • 64. Um Certo Daimon Chamado Barthes O formato de muitas águas O formato de turbilhões que ser quer multidões e muitas vozes e muitos falares e muitos cantares pois é de cor que se fala quando se canta um discurso que se apossa do outro uma catadupa de palavras e quimeras um discurso daqueles de ver o outro morto e deificá-lo sem referências você é sempre o outro e eu falo de você como quem fala de mim eu falo não quero que o outro fale de você nem de mim FAZER Coelho De Moraes 64
  • 65. Um Certo Daimon Chamado Barthes Angustiadamente interpor problemas de conduta diante do homem da moral Ciência exata das condutas a moral como lógica um amor imperfeito Quadrático Cascata de alternativas e álgebras sem deduções Angustiadamente Menosprezar o ato puro Isento e sem remorsos Ter esperanças ou agir Não ter esperanças e renunciar Tudo é fazer Obstinadamente Escolhe não escolher Manter a deriva Continuar fluindo Olhos presos na meta imprecisa Infinitamente Condutas fúteis Um número de telefone Onde posso encontrá-la A tantas horas Me afobo Tenho a permissão e não sei o que fazer Isso em incomoda Torna minha loucura equilibrada Sofro Coelho De Moraes 65
  • 66. Um Certo Daimon Chamado Barthes Mas, pelo menos Nada tenho que decidir A máquina amorosa andará sozinha Operário moderno e eletrônico Aluno de fundo de sala Tudo faz barulho diante de mim E dentro da infelicidade Ainda dá para arranjar Um bocado de preguiça IMAGINÁRIO Coelho De Moraes 66
  • 67. Um Certo Daimon Chamado Barthes Exílio Exilar-me de sua imagem Insônia Mantê-la em chamas Delírio Perder teus abraços Quando se morre Em luto real o mundo se abre Ou se fecha O luto do amor É nojo de algo que não morreu A presença do que partiu O sonho de sua morte Duplo sofrimento A minha carne que arde O e-mail que não chega e que não quero ler Triste progresso se devo esquecer você A rua está coberta de lama se devo fugir Amante abstrata, era teu corpo ou meu pênis? O que de igual quando se ama e se cura de algo? Qual o risco maior do luto em vida se vejo a imagem da mulher no desvão da janela? Melancolia / luto / pois ainda se ama Que fuga tormentosa! Queima por baixo / arde um fogo no peito / e o teu seio arfa! Túmulo mal fechado / principado de feras / e teus cabelos no meu rosto! Há aí uma recusa que não se sabe Coelho De Moraes 67
  • 68. Um Certo Daimon Chamado Barthes se vem do corpo ou da mente Um abraço louco de quem já morreu Abraçar a separação NÓS E EMBARAÇOS NO QUE SE RESPIRA Coelho De Moraes 68
  • 69. Um Certo Daimon Chamado Barthes Muita gente Nudez e serões Um amplo salão clichê / castiçais / catedrais Muita gente junta Corpos esquecidos / rolando pelo chão Um amplo tapete onde se misturam vozes e bocas O embaraço coletivo Os abraços dos muitos braços As mãos de muita atenção voltada Beijos Calados se passeia pelo quarto mas há mais gente desnuda Deitados na cama se exploram Os assuntos sem significado se esgotam Fluem de um para o outro sem qualquer atenção Alguém segura o braço da amada Ela resvala para a cama O saber silencioso pesa e carrega o ambiente As peles se esquentam e os órgãos crescem deixando a situação descambar para um sem controle As mãos se arvoram nas frestas e nas coxas Entreabertas bocas deixam passar a língua e essas tocam mamilos e costas e pescoços Sobe um calor magnífico e os corpos se movem Há sentidos que eu leio e sigo na finura dos enleios Não se fala / somente o gozo é voraz Coelho De Moraes 69
  • 70. Um Certo Daimon Chamado Barthes Há gemidos e alternâncias de vozes sutis Vejo a amada dormitar sobre um ventre Uma fascinação alerta Então A boca perdida de mulher dadivosa recobre minha glande o local adormece para explodir num jorro inclemente Imobilizo-me desperto Cena sem exterior e sem leitura imediata O mal estar perverso do gozo Coelho De Moraes 70
  • 71. Um Certo Daimon Chamado Barthes Finda o Devaneio Coelho De Moraes 71