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DIAS DE AMORES PERDIDOS              2               COELHO DE MORAES




                           Direitos de Cópia e Uso
                     Cecília Bacci & Guilherme Giordano
                      ceciliabaccibscm@yahoo.com.br
                           menuraiz@hotmail.com



                      EDITORA ALTERNATIVAMENTE
                  produtoresindependentes@yahoo.com.br
                       TIRAGEM 20 000 POR E-MAIL

                    FONTE EXCLUSIVA DE DOWNLOAD
                     http://www.paginadeideias.com.br
                    Coleção BROCHURA / PDF / ESPIRAL

                                    Capa
                            COELHO DE MORAES
                        coelho.de.moraes@bol.com.br
         imagem base retirada de www.queridoamorperdido2.blog.com



                                                                    Cidade de Mococa
                                                                               MAIO
                                                                            São Paulo
                                                                                2011




                                                                                   2
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                               DIAS

   DE AMORES

        PERDIDOS
         Roteiro de Coelho De Moraes baseado em obras de Nelson Rodrigues

I: Ismênia, J: Juventino, A: Almeida, C: Cecília, DE: Dona Eunice, R: Rosinha, L: Lúcia, S:

                    Silveirinha, D: Doutora, S: Silene, mulher grávida




                                                                                              3
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                         CENA 1/ velório / um grupo /

                                    Almeida:

            (a mão no ombro de Juventino que chora sobre o caixão)

                                    Morreu.

                                   Juventino:

   Me dêm um revolver! Quero meter uma bala na cabeça!(sai desesperado)

                                       A:

                            O enterro vai sair daqui?

                                       C:

                                     Claro!

                                       A:

                     Não será mais negócio na capelinha?

                                       C:

                                    Por que?

                                       A:

                         É mais prático. Mais cômodo.

                                       C:

   Considero um desaforo essa mania de capelinha! É uma falta de respeito!

                                       A:

             Vou atrás das coroas. Logo logo eu ligo pro Juventino.

                                       J:

(reentra, ‘A’ o abraça enquanto sai, ‘J’ está excitado de possesso, transpirando)

             Nunca houve alguém amado tão feliz como eu! Duvido!
                                                                                    4
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                      (confidenciando a um dos presentes no velório)

Era tão séria que namorou um ano comigo, noivou dois e só topava dar beijo na boca depois

do casamento! (pausa) Nunca casamos! Quer dizer, era mulher mesmo, mulher decente, ali,

na batata! (cutuca o vizinho) Teve pudor de mim até o último momento. Nunca tomou injeção

que não fosse no braço! Na bunda... nunca... nadinha... Na bunda nada... Sabe... aquela coisa

  do enfermeiro apalpar a bunda?... aqui e ali, nada... nada mesmo. Isso que era mulher no

                       duro, cem por cento! O resto é conversa fiada!

                   (toca o celular, estranheza no velório, todos se olham)

                                            Alô!

                                              A

                                      (fala da floreira)

                          Juventino, estou aqui vendo coroas, e...

                             tua coroa pode ser de orquídeas?

                                             J:

                                    Pode. Por que não?

                                             A:

                        Mas, é puxado! Os preços estão muito altos!

                         E as orquídeas estão, assim, meia boca...

                                             J:

                                          Quanto?

                                             A:

                                      Oitenta pratas.

                                             J:

                      Que é isso! Bando de ladrões! (pensa, nervoso)
                                                                                             5
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            Vamos fazer o seguinte; orquídea é uma flor besta, sofisticada.

               Arranja uma coroa mais em conta. Cravo... dália... sei lá...

                                           A:

                                 Qual é a dedicatória?

                                            J:

              Põe assim: “À Ismênia, saudade eterna do seu Juventino”.

                                           A:

               Boa... boa... sempre poeta... sempre poeta apaixonado...

   (close em J, embevecido / choroso / olhando para o teto como quem se recorda)



                      CENA 2 / casa de Ismênia / I e Mãe

                                      D. EUNICE:

                                Que é isso, minha filha?

                                       ISMÊNIA:

                             Nada, mamãe, nada. Por que?

                                           DE:

Estou achando você meio assim, esquisita. Houve alguma coisa entre você e o Juventino?

                                            I:

                           Ora, mamãe! Mas que bobagem!

            Teria cabimento a gente brigar na véspera do casamento? Isola!

                                           DE:

                                  Ótimo! Antes assim




                                                                                         6
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                     CENA 3 / cabeleireira / I e C

                                  Cecilia:

                           Sabe qual é o golpe?

                                     I:

                                   Qual?

                                    C:

            Você mata o serviço hoje e vamos ao cinema. Topa?

                                     I:

              (hesita) Então jura que ele não é casado, jura?

                                    C:

     (ofendida) Mas você duvida? Não te jurei umas quinhentas vezes?

 Não te dei minha palavra? Parece até que você não tem confiança em mim!

                                     I:

            E você promete que lá vai ficar quietinha, promete?

                                    C:

  (enfia as mãos no bolso) Prometo, prometo. E vamos chispar que está em

                               Cima da hora.




                             CENA 4 / velório

  ( chegam as coroas e a de Juventino até que faz bonito perto das outras)

                                     J:



                                                                             7
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                                    (para os presentes)

                  Como é possível morrer assim? Se fosse câncer, vá lá.

                           Mas assim! Por causa de um brinde?

   (nesse momento todos os olhos se voltam para a porta. Entra uma coroa de orquídeas

                              monumental. Estranheza geral).



                                 CENA 5 / casa de I / DE

                                            DE:

                                      Isso é verdade?

                                             I:

É, mamãe. É verdade, sim. Eu queria que a senhora consentisse, porque eu já tenho mais de

                                  18 anos e queria casar.

                                            DE:

Tem tempo! Ainda é muito cedo. E os estudos? Você se esquece dos estudos? Onde é que

                       nós estamos? Não, senhora! Onde já se viu?

                                             I:

          (enfrentando) Ou a senhora consente ou eu fujo. Depende da senhora.

                                            DE:

(após um silêncio. Chorando põe a mão no ombro da filha) Calma filha, calma... Não seja tão

infantil e antiquada. Consinto. Não é isso que você quer? Consinto, pronto! Não é isso o que

   você quer? Uma oportunidade para se dar mal? Tá consentido. Não se fala mais nisso.




                                CENA 6 / na praça / J e I


                                                                                           8
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                                             J

                                   (beijando a face de I)

                                             I:

                     (advertindo) Olha que eu não falo mais com você!

                                             J:

                          (acovardando-se) Está bem, está bem.

                                             I:

                (após uma breve pausa. Suspira) Eu quero ter muitos filhos.

                     Meia dúzia, no mínimo. Está bem assim pra você?

                                             J:

                                 (espantado) Meia dúzia?

                                             I:

                                       Por que não?

                                             J:

                               Pra ter filho é preciso beijar.

                                             I:

                         Não quero ter agora. (pausa) É depois...




                             CENA 7 / velório / J e visitantes

                                            J:

(resmungando) “Todo amor” por que? (se aproxima da coroa) O cara que mandou isso gastou

                         os tubos. E por que, meu deus, por que?

                                             A:



                                                                                      9
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                            (oferecendo) Quer um café?

                                         J:

               Vai-te para o diabo que te carregue! Que café o catso!



                CENA 8 / sorveteria / I e A / Cabeleireira / amigas

                                         A:

                      O destino natural da mulher é ser traída!

                                         I:

                                    Que horror!

                                         A:

                         Com exceção das presentes, claro.

                                         I:

Homens são e sempre serão uns mascarados. Pelo seguinte: um homem sempre trai com

          outra mulher. E essa mulher também está traindo alguém. Ou não está?

                                         A:

                             (achando graça) Depende.

                                         C:

              A verdade é que todo mundo trai e todo mundo é traído.

                                         A:

                                 Menos eu! Eu, não!

    (I chupa o sorvete e olha a paisagem e olha os dois – A e C - que se abraçam)

                                         C:

               É verdade que todo mundo é traído? E todo mundo trai?



                                                                                    10
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                                           A:

                       Não sei se os outros traem, nem interessa?

                     Só sei que eu não traio você, nem você a mim.

                                           C:

                                 (suspira) Por enquanto.

                                           A:

                                 Por enquanto e sempre.




                                 CENA 9 / casa de I / J

                                            I:

                             (pega um envelope no chão, lê)

                                        Pra mim?

(abre e lê coisas como: “braços de marfim”, “seios de neve” ) J (espiando por trás e lendo

                            também ) I (assustada, esconde a carta)

                                            J:

            (estende a mão) Dá isso, aqui anda! (ela entrega) Quem mandou?

                                            I:

                                         Sei lá!

                                            J:

            Ah, se eu descubro o engraçadinho que fez isso, parto-lhe a cara!




                          CENA 10 / cabeleireira / I / amigas


                                                                                         11
DIAS DE AMORES PERDIDOS                12              COELHO DE MORAES
                                              I:

 (conta o fato a um grupo de amigas) E foi isso... retirou a carta da minha mão. Pensei que

                                        fosse me dar uma bolachada.

                                             C:

                       O que vale é que meu marido não faz versos!

                                         ROSINHA:

                                        Nem o meu!

                                              I:

                                      Quem terá sido?

                                             R:

Já sei! (fofocando) Quem é que faz versos aqui na rua? Quem? (um silêncio) O Silveirinha! É

                       ou não é? Batata, que foi ele. Ta na cara que foi ele.

                                          Amigas:

                                          É mesmo!

                                              I:

               (lembrando-se ) Coitado! Mas ele é meio tuberculoso? Não é?

                                             C:

               Meio tuberculoso? Ou é tuberculoso ou não é. Não tem meio.

                                             R:

                       (protestando) Ismênia! Não arranja desculpa.

                                             C:

                      A senhora se esquece que está pra ficar noiva?

                                              I:



                                                                                          12
DIAS DE AMORES PERDIDOS               13              COELHO DE MORAES
 Claro! É evidente! (caindo em si) É muito desaforo! E doente ainda por cima!




                             CENA 11 / velório/

                                      A:

                Vamos fechar o caixão,você não vai beija-la?

                                      J:

                    (levanta. Vai até o escritório e volta.

    Aproxima-se do caixão puxa um punhal e crava na defunta aos berros)

                            Cínica! Cínica! Cínica!



                      CENA 12 / na rua com Silene / I

                                      I:

          Como meu namorado, eu confesso francamente: nunca vi!

                         Tem um gênio! Que gênio!

                                      S:

                               (indaga) Feroz?

                                      I:

      Se é feroz? Puxa! Precisa uns dez para segurar! (abaixando a voz)

                 Você sabe o que ele fez comigo? Não sabe?

                                      S:

                                   Conta!

                                      I:

       Foi o seguinte: ele cismou que eu tinha olhado para o Antunes.


                                                                                13
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 14               COELHO DE MORAES
                          E não conversou; me sentou a mão!

                                           S:

                                        E você?

                                            I:

                   (feliz e envaidecida) Eu vi estrelas! (pisca o olho)

            Eu gosto de homem, homem. Escreveu, não leu, o pau comeu.

                          Senão, não tem graça. Sou assim.



                                           R:

                      (com despeito... mas morrendo de inveja)

      Eu acho que, se um homem me esbofeteasse, eu dava-lhe um tiro na boca!




                       CENA 13 / no saguão do cinema / I e J

                                            I:

Meu anjo, sou muito boa, tal e coisa. Mas não me queira fazer de palhaça, por que eu...

                                           J:

                         (comprando balas) Você faria o que?

                                            I:

       Nessas ocasiões, topo qualquer parada. Escreveu não leu o pau comeu.

                                           J:

                     Sabe que você tem uma gíria muito gostosa.

                                            I:




                                                                                          14
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 15                COELHO DE MORAES
Imagine você! agora mesmo, não sei se você notou, um engraçadinho, no ônibus, fez-se de

                  besta comigo e eu quase meti-lhe a mão          na cara!

                                             J:

        (indignado) Por que você não me mostrou o cara? Por que só me diz agora?

                                             I:

        Você pensa que é a primeira vez que eu quero dar na cara de um homem?



                             CENA 14 / Cabeleireira / amigas

                                             I:

                             (categórica) Pois fiquem sabendo:

                   eu confio mais no Juventino do que em mim mesma!

                                             C:

               (irônica)Quer dizer que você pensa que o Juva é mesmo fiel?

                                             I:

                                 Penso, não, é! Fidelíssimo!

                                             C:

       (achando graça) Quer um conselho? Um conselho batata? Daquele dos bons?

                                             I:

                                        Vamos ver.

                                             C:

   Não ponho a mão no fogo por homem nenhum. Nenhum. O homem fiel nasceu morto,

percebe? Eu te falo de cadeira, sei do que estou falando... sou escolada nisso tudo... porque

  também já fui noiva. E não tenho ilusões. Sei que meu noivo não respeitava nem poste!

                                             I:
                                                                                           15
DIAS DE AMORES PERDIDOS                16              COELHO DE MORAES
                                    Que é isso, Cecília!

                                            C:

                                      Padre, então...

                                             I:

(exaltada) Não sei do teu noivo, nem me interessa. Só sei do meu. E posso te garantir que o

meu é 100%. Ai dele no dia em que me trair, ai dele! Sou muito boa, tal e coisa. Mas a mim

                             ninguém passa pra trás. Duvido!

                                            C:

                            Ora veja! Quem te viu quem te vê!

                                             I:

                                  Ora essa por que não?

                                            C:

             Você me vem até com coisa de tapa na cara e não sei que tem...

                                             I:

              É mais fácil eu trair o Juventino do que ele a mim! Fica sabendo



                                  CENA 15 / Rua / I e J

                                             I:

              (esperando, fula, chega J) Você fez comigo papel de moleque.

                                             J:

                                    Mas o que é isso?

                                             I:

                      (soltando os cachorros) Moleque , sim senhor.

                   E não me faça isso outra vez, por que se não já sabe!
                                                                                         16
DIAS DE AMORES PERDIDOS                17                 COELHO DE MORAES
                                        J:

                                 Já sabe o que?

                                        I:

   Quer ver como eu lhe meto a mão na cara, aqui, na frente dessa gente toda?

                                        J:

            Quero. ( Rosinha sem pensar duas vezes, dá-lhe na cara).



                             CENA 16 / casa da Mãe

                                       DE:

                           Você está feliz, minha filha?

                                        I:

                                       Eu?

                                       DE:

                                        É.

                                        I:

          Estou sim. E não é para estar? Tenho um noivo quase perfeito.

                                       DE:

                              Ainda não é seu noivo.

                                 I: É. Namorado.

                                       DE:

                           O namorado quase perfeito?

                                        I:

É o seguinte: Juventino é formidável, estou satisfeita com ele. Mas tem um defeito.

                                       DE:
                                                                                      17
DIAS DE AMORES PERDIDOS                18             COELHO DE MORAES
                                    (espantada) Qual?

                                             I:

                      Fala pouco. Quase não fala. É um boca de siri!

                                           DE:

Se ele só tem esse defeito, você deve dar graças à Deus! (aproxima-se fazendo um carinho)

  Minha filha, lamba os dedos porque partido como Juventino hoje em dia, é difícil, muito

                                          difícil.

                                             I:

                                     Eu sei, mamãe.




                               CENA 17 / Casa de I / fone

                                            ?:

            (no telefone, só ouvimos a voz) Eu quero me encontrar com você.

                                             I:

                                Você está maluco? Doido?

                                            ?:

Por que? Tem alguma coisa demais? É um encontro onde você quiser. Eu digo o que tenho

                         para dizer, você me escuta e pronto. Só.

                                             I:

   (apreensiva) Você se esquece que eu sou quase noiva? Que tenho um quase marido?

                                            ?:




                                                                                            18
DIAS DE AMORES PERDIDOS                19              COELHO DE MORAES
O que eu estou pleiteando de você é apenas um encontro, nada mais. Um simples encontro

         cordial. Você está fazendo um bicho-de-sete-cabeças à toa, sem motivo.

                                            I:

                     (apavorada) Mas pra que? Com que finalidade?

                                            ?:

       Preciso falar contigo, dizer umas coisas. Te juro o seguinte: será o primeiro

                             e o último encontro. Você vai?

                                            I:

                                 (após um silêncio) Irei.



                 CENA 18 / saindo do cinema / as amigas / C, R, L e I

                                            R:

               Não gosto de cinema brasileiro. Não tolero! É muito lento!

                                            C:

                 (debochando) Esse assunto nem interessa, minha cara.

              Ou, você pensa que vimos ao cinema contigo para ver filme?

                                            I:

         (puxando ela) Queríamos ver você ir lá para o fundo com o namorado...

                                     é mais discreto.

                                            R:

               (resistindo) Não ia mesmo. Pro fundo, não vou. Nem a pau!

                                            I:

                    Nem você nem o namorado... Onde se meteram?



                                                                                       19
DIAS DE AMORES PERDIDOS               20             COELHO DE MORAES
                                         C:

          (arrastando-a) Olha o trocadilho, meninas. Que bobagem! Vamos!

                                         L:

                           Ele não tentou beijar você não?

                                         C:

      Rosinha, não faz escândalo! Vamos lá, vamos contando tudinho, vamos lá!

                                         I:

                          Mas o que foi que houve contigo?

                                         R:

                        É que gostei demais, da primeira vez.

                                       Todas:

                                  ... primeira vez?

                                         R:

                   Gostei demais! (pausa) Vou te dizer uma coisa.

                                         C:

                                        Diz.

                                         R:

     Eu nunca tinha sido beijada. Quero ver minha mãe morta se estou mentindo.

                      (ante a cara de incredulidade das amigas)

Meu namorado foi o primeiro homem a me beijar. (pausa) E eu espero que seja o último.

                     (pausa) E eu vou embora. Vocês me ligam.




                       CENA 19 / no sofá da sala / TV ligada


                                                                                        20
DIAS DE AMORES PERDIDOS               21              COELHO DE MORAES
                                       I:

       (tempo, olha as horas, meio chateada...) Fala, diz alguma coisa!

                            (J lhe dá um bombom)

                                       I:

           A gente se casa com as qualidades e defeitos do noivo.

                            (J lhe acaricia a mão))

                                       I:

                                  Paciência.

                             (J beija-lhe na testa)

                                       I:

 Meu anjo, desde que nós ficamos noivos, você ainda não disse uma palavra!

  (J limita-se a apertar sua mão, olhar para seus ombros, tatear os ombros)

                                       I:

 (longo silêncio) É algum tipo de promessa? Fala, meu filho. Diz alguma coisa.

                                    (J sorri

                                       I

          Mas Juventino! Você não tem uma palavra para me dizer,

               num dia festivo como o de hoje? Será possível!?

          (J a abraça de leve, beija-lhe a face, sempre numa leveza)

                                       I:

             Você só não é perfeito, meu bem, porque fala pouco!

                  Eu daria tudo para que você falasse mais!




                                                                                 21
DIAS DE AMORES PERDIDOS            22              COELHO DE MORAES



                        CENA 20 / A e J na rua

                                   A:

          Beijei uma pequena, um beijo sem maiores pretensões,

                   e ela só faltou subir pelas paredes.

                                    J;

               Essa é das minhas. Gosto de mulher assim.

                                   A:

          Nem oito, nem oitenta. Tomei um tal enjôo, que já não

               acho mais a mínima graça nela. Tô chutando.

                                    J:

                              Que é isso?

                                   A:

                              Tô chutando.




               CENA 21 / Casa de I / DE / lavando pratos

                                   DE:

                      Vem cá, minha filha, vem cá.

                                    I:

                            Pronto, mamãe.

                                   DE:

    Posso te fazer uma pergunta? E você me responde com sinceridade?



                                                                       22
DIAS DE AMORES PERDIDOS               23              COELHO DE MORAES
                                            I:

                         (admirada) Ora, mamãe! Mas evidente!

                                           DE:

                                Você gosta do Juventino?

                                            I:

            (pausa) Gosto, sim. Como não? É meu noivo, não é? Devo gostar.

                                           DE:

                 Isso não é resposta. Quero saber se você o ama ou não.

                                            I:

            (silêncio) Não, mamãe. Agora eu acredito que não amo meu noivo.

                                           DE:

Então, você me desculpe, minha filha, mas acho muito feio seu procedimento. Não ama e vai

                                     casar? Por que?

                                            I:

                Porque quero um filho. E preciso ser esposa, para ser mãe!

                                           DE:

        Que mentalidade! Em que século você está? Nem eu acredito mais nisso!!

                                            I:

Mamãe, tanto faz que seja Juventino ou qualquer outro. O que quero, apenas, é um pai para

                meus filhos. Só. O resto não interessa nem me preocupa.

                                           DE:

    Acho esse noivado, tão sem graça, que vou te fazer uma pergunta: ele já te beijou?

                              (pausa e I fica olhando a mãe)



                                                                                         23
DIAS DE AMORES PERDIDOS                24             COELHO DE MORAES




                            CENA 22 / R e A / na biblioteca

                                            R:

          Sabe que eu tive um sonho contigo? Mas não posso contar, porque...

                                            A:

                                      Porque o que?

                                            R:

                      (maliciosa) Porque é impróprio para menores.

                                            A:

                (toma coragem) Preciso te contar um negócio muito sério.

                                            R:

                                           Fala.

                                            A:

       (enfia a mão no bolso, pega aliança e coloca em sua própria mão esquerda)

                                            R:

                 (atônita, olham-se em silêncio) Casado? Você é casado?

                                            A:

Sou casado no civil e no religioso. Pai de 4 filhos e outros bichos. Moro com minha mulher,

                     gosto dela, não me separo nem a tiro de canhão.

                                   (R começa a chorar)

Mas que é isso? Ora essa! Fiz um papel feio contigo, eu sei. Nem sei se vai me perdoar por

                       isso... Ao seu lado eu me sinto um canalha!



                                                                                          24
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 25             COELHO DE MORAES
                                             R:

       (apanha a bolsa, ergue-se) De hoje em diante, nunca mais fala comigo. (sai)

                                             A:

(retira a aliança e bota no bolso) Foi melhor assim. Foi mais negócio, inclusive pra pequena.

                       Chora agora mas, depois, acaba entendendo.




                               CENA 23 / casa de DE, I e J

                                            DE:

        (indignada) Mas que foi isso? Voltaram por que? O filme não estava bom?

                                             J:

                                          Foi ela.

                                            DE:

                Mas sente-se, Juventino. (puxa a filha para outro cômodo)

                                             I:

                Não agüento mais! Não posso, mamãe! Quero e não posso!

                                            DE:

                                  Mas que foi que houve?

                                             I:

(após uma pausa) Esse homem não fala, mamãe! Não Diz uma palavra! A senhora sabe o que

   é passar horas, dias inteirinhos, ao lado de um sujeito que não abre a boca? Eu acabo

                           maluca, mamãe! No duro que acabo.

                                            DE:




                                                                                           25
DIAS DE AMORES PERDIDOS               26               COELHO DE MORAES
(indignada) Mas vem cá: é só isso? Não foi você que disse que só queria alguém para fazer

                      um filho? Que interessa se ele fala ou não fala?

                                             I:

                    (violenta) E a senhora acha pouco? Oh, minha mãe!

                                            DE:

                                fala baixo que ele escuta?

                                             I:

                                       Que escute!!

                                            DE:

Fica quieta!! Quem diz “oh” sou eu! Parece incrível que você esteja fazendo tamanho barulho

                        por um motivo tão bobo! Sossega esse facho!

                                             I:

Pode ser bobo, mas a coisa é o seguinte, eu vou dar um jeito nesse negócio, mamãe. E das

 duas uma: ou me separo, ou a senhora não terá filha por muito tempo! E eu não terei meu

                                           filho!

                (close no rosto de J, pensativo, que olha o bico do sapato)




                             CENA 24 / A atende o telefone

                                            A:

                             Advogados associados, pois não?

                                             ?:

          Gosto de você assim mesmo, de qualquer maneira, casado ou solteiro,



                                                                                         26
DIAS DE AMORES PERDIDOS                27              COELHO DE MORAES
                  com filhos ou sem filhos. Isso não me importa.

                                        A:

                              (atônito) Pensou bem?

                                         ?:

                         Com você vou ao fim do mundo!

                                        A:

            (insistindo) Olha que eu sou casado e não posso me casar.

           O que está feito já está feito. Você está entendo a situação?

                                         ?:

                                   Não faz mal.

                                        A:

               Vamos nos encontrar mais tarde. Anota o endereço.




                           CENA 25 / C e A no quarto

                                        C:

Se eu te fizesse uma pergunta, você me responderia, batata, com toda sinceridade?

                                        A:

                          Mas claro. Qual é a pergunta?

                                        C:

     O que você faria, se eu, um dia, te traísse? Pergunto: o que faria comigo?

                                        A:

                                  Ora não amola!

                                        C:



                                                                                    27
DIAS DE AMORES PERDIDOS              28             COELHO DE MORAES
       (teimando) Isso não é resposta! Vamos, fala. Você faria o que?

                                     A:

                (bocejando) Vai dormir, que teu mal é sono!

                                     C:

     (beija-o na face no pescoço e insiste) Teria coragem de me matar?

                                 A: Talvez.

                                     C:

 (afasta-se) Então você não gosta de mim, não me ama, é um conversa-fiada!

                                     A:

                  O sujeito só mata porque ama, sua boba!

                                     C:

             Mentira! Quem ama perdoa, ou finge que não sabe.

 Eu só acredito em amor que resiste à infidelidade! Estou zangada com você!

                                     A:

 (bocejando) Vem dormir, anda, que amanhã tenho que levantar cedo à beça!

                                     C:

      (rosna) Você não me ama! ( e vira-se para o lado com ar zangado)




     CENA 26 / Sala de jantar / I, DE, J / J olha pela janela, absorto /

                            corte para a cozinha

                                    DE:

           (na cozinha, como se sussurrasse, preparando pratos)



                                                                              28
DIAS DE AMORES PERDIDOS               29             COELHO DE MORAES
Ainda esse assunto!Você está maluca? Isso não é defeito, carambolas! Ninguém se separa

                              porque o noivo fala de menos!

                                           I:

                        (buscando pratos, sussurrando sempre)

                               Eu não posso, meu Deus.

                                          DE:

 Eu toparia a separação, o divórcio, o diabo, contanto que você me arranjasse um motivo

                      decente. Mas isso não é motivo, nem aqui, nem na China!

                                           I:

                                 Como não é motivo?

                                          DE:

        Então não case. Tenha o seu filho mas esqueça essa coisa de casamento!

                                           I:

        Quando eu vejo Juventino calado, sem dizer uma palavra, horas e horas,

                     eu penso que ele está tramando algum crime!

                                          DE:

    Olha! Deixa de bobagem. Seja moderninha mais uma vez! Esquece o casamento.

                                           I:

                               Quer que eu faça o que?

                                          DE:

            Ora, o que! Vá trepar de uma vez e acaba logo com esse negócio

                                           I:

     Mas isso é muito cômico, que tipo de conselho u’a mãe como a senhora me dá!

                                          DE:
                                                                                          29
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 30              COELHO DE MORAES
(entra na sala, retira o avental) )Tudo certo, Juventino, o que passou, passou. Agora, você

                            se acerta com sua noivinha... Já vou.

                                              J:

                                        Dona Eunice!

                                             DE:

 nem se preocupe comigo (tomando das coisas para sair) Eu sei o caminho. (bate a porta,

            tempo, entre a J e o corredorzinho. I surge por ali, um tanto tímida)

                                               I

Oi. ( jantam / música trilha / silêncio / olhares / talheres / barulho de talheres / barulho de

                        mastigação / bocas mastigando / engolindo

   É demais, meu Deus, é demais! (J de boca cheia sorri) Fala! Diz qualquer coisa! Uma

palavra, diz! ( J justificando-se com a boca cheia. I enfia outra porção na boca e fala também

  de boca cheia) Olha pra mim. Eu estou falando assim mesmo. E daí? E daí (I levanta - se

bruscamente e sai para o quarto. J se levanta, após, dando tempo e acabando a música... e

  a segue. A vê sobre a cama, deitada de bruços, com roupa de dormir. Ele para á porá e

                                           reflete..)




        CENA 27 / A num apê / toma algo / música ambiente / bossa / campainha

                                              A:

        (sobressalto) Não tenho direito de fazer isso. Vou desgraçar essa pequena.

                               (toca de novo mais insistente )

                                     A porta está aberta.

                      (R entra, vai ao encontro dele, retirando a blusa)


                                                                                             30
DIAS DE AMORES PERDIDOS               31              COELHO DE MORAES
                                    Não tem medo?

                                           R:

                  Por que e de que? Não há mulher mais feliz do que eu.

                                           A:

         (segura-a pelos braços) Sua boba, eu não sou casado, nunca fui casado.



                                    CENA 28 / I e J

                                           I:

            (ao quase marido que acaba de chegar) Sabe quem foi o cachorro?

                                           J:

                             (sem entender) Que cachorro?

                                           I:

(explodindo) Você já esqueceu, é? Logo vi! Você não pensa em mim, não me liga, não me dá

              nenhuma pelota! Falo do cachorro que me mandou os versos!

                                           J:

                               Sim, os versos! Quem foi?

                                           I:

                                     O Silveirinha!

                                           J:

                                     Tem certeza?

                                           I:

               É o único poeta no bairro? Toda a rua está de olho em você,

                    esperando sua reação. Eu vou te pedir um favor.

                                           J:
                                                                                      31
DIAS DE AMORES PERDIDOS               32             COELHO DE MORAES
                                         Qual?

                                           I:

                         Você vai dar um tiro nesse descarado!

                                           J:

                                     (atônito) Tiro?

                                           I:

                                  Perfeitamente. Tiro!

                                           J:

                 Você está pensando que esse negócio de tiro é assim?

                                           I:

Você não me ama! Se me amasse, matava esse miserável! E das duas uma: ou você dá um

tiro ou toda a vizinhança vai saber que você não gosta de mim, nem se incomoda comigo ou

            eu vou lá e dou um tiro nele! Você tem que mostrar que é homem!

                                           J:

                            O Silveirinha é até tuberculoso!

                                           I:

       Você acha o que? Que tuberculoso pode desrespeitar a esposa dos outros?

                         Você usa calças pra que? Seja homem!

                                           J:

                                    Tiro eu não dou!

                                           I:

                                        Frouxo!

                                           J:

                                  Uma surra, talvez...
                                                                                      32
DIAS DE AMORES PERDIDOS           33              COELHO DE MORAES
                                   I:

                                Frouxo!

                                   J:

                              Uma surra!




                        CENA 29 / I ao telefone

                                   ?:

                              (OFF) Alô!

                                   I:

                     Não reconhece a minha voz...

                                   ?:

              Quer dizer quem fala? Estou ocupadíssimo.

                                   I:

                   Fiquei sabendo de umas coisas...

                                   ?:

                   Se não disser o nome, eu desligo.

                                   I:

           (após um silêncio) Sou eu, Ismênia. (arrepende-se)

                                   ?:

         (transfigurado) Ismênia? Não é possível, não pode ser!

                                   I:

                               Sou, sim.

                                   ?:


                                                                     33
DIAS DE AMORES PERDIDOS                34              COELHO DE MORAES
   Então houve transmissão de pensamento! No duro que houve! Imagine que eu estava

                    pensando em você, neste momento! Agora mesmo!

                                             I:

                                          Sério?

                                             ?:

           Queria te dizer com toda sinceridade, que gosto de você em silêncio.

                                     Faz muito tempo.

                                             I:

                                          E ela?

                                             ?:

                Não liga... é uma brincadeira, um passatempo, nada mais.

                         Você, não. Você é outra coisa. Diferente!

                                             I:

                      (duvidando) Não sei se devo acreditar em você.

                                             ?:

Te juro, pela minha mãe, que é a coisa que mais prezo na vida. Te juro que é a pura verdade!

                 Olha, vamos nos encontrar, no parque, às cinco, ta bom?!

                                             I:

                  Ta bom! (bate o telefone) E agora meu Deus? (reflete)

                        Não vou , pronto. Não vou e está acabado.




                                  CENA 30 / casa de I, J

                                             J:



                                                                                          34
DIAS DE AMORES PERDIDOS                35             COELHO DE MORAES
(deitando-se para dormir. refletindo) Agredir tuberculoso... é espeto! Imagina se o homem

        tem uma hemoptise? Cospe sangue encima de mim? E se eu pego Aids?

                                           I:

                    (vem lá de dentro, coloca a camisola no escuro)

                           Frouxo! (deita-se de costas para J)




                          CENA 31 / MANHÃ / casa de A / C

                             ( A aproxima-se para beijá-la)

                                           C:

                           (fugindo com o rosto) Não, senhor!

                                           A:

       Por que? Fiquei a noite toda com a cara enfiada em suas pernas e agora...

                                           C:

                    Você pensa que eu me esqueci de sua ameaça?

                         ( se senta na cama e cruza os braços)

                                           A:

                             (sem entender) Que ameaça?

                                           C:

     Ameaça de morte, sim, senhor. Você me disse que me matava se eu o traísse.

                                           A:

      Sossega! ( levanta-se e pega as roupas) E até logo, que eu já estou atrasado!




                                                                                        35
DIAS DE AMORES PERDIDOS                36              COELHO DE MORAES
                    CENA 31 / / manhã / I está na cama e se acaricia

                                             I:

  (acordada na cama, lembrando das palavras do poeta... “braços de marfim”... “seios de

                            neve”... – vê um vulto, acorda o J)

                               Quero ver se você é homem!

    (alguém enfia uma carta por baixa da porta. I abre repentinamente e se depara com

 Silveirinha que fica atônito. I faz escândalo para chamar a atenção das vizinhas) Socorro!

Socorro!(J aparece e dá, sem muita convicção, uma surra em Silveirinha que não reage. É

                  um tanto covarde e murcho. I se aproxima apartando)

                                      Basta! Chega!

                                        (agride J )

                             Seu covarde! Covarde de merda!

( Sem dizer nada J se afasta. I ajoelha-se socorrendo o Silveirinha, abraça e beija no rosto

          do agredido o guarda entre os seios. Close do agredido entre os seios)

                   Juventino é mau! Juventino não chega aos teus pés!

 (ela repentinamente larga do Silveirinha, que cai espalhafatoso. Vai para o quarto. J está

                        sentado na cama com as mãos na cabeça.

                    Ela o joga na cama, dá-lhe uns tapas e o subjuga).



                                    CENA 32 / DE e I

                                            DE:

Isso não se faz, não está direito. Vou te dizer uma coisa, minha filha; na cara de homem não

                                          se bate.



                                                                                          36
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 37               COELHO DE MORAES
                                              I:

                        É justo eu ficar esperando, mamãe? É justo?

                                             DE:

Não tem explicações. Pensa um pouco, raciocina: Como é que você esbofeteia o homem com

                                    quem quer ter filhos?

                                              I:

 (começa a chorar) Tem razão, mamãe, tem razão. E ele nem conseguiu nada. Ficou aquela

                         coisa mole, murcha e morta sobre a cama.

                                             DE:

                          ( DE sempre ativa nos afazeres da casa)

 Faz o seguinte, telefona para ele, pede-lhe desculpas, diz que foi a primeira e a última vez

                       que isso acontece. Que você perdeu a cabeça.

                                              I:

                        (reflete, pega o telefone e começa a discar)

                                             DE:

               E ele não reagiu? Não te deu uns empurrões? Não fez nada?

                                              I:

                                           Nada.

                                             DE:

            Olha aqui, se eu fosse você mandava o J passear. Já te disse isso!

                                              I:

                                Por que? Ele já está à mão.

                                             DE:



                                                                                            37
DIAS DE AMORES PERDIDOS                38              COELHO DE MORAES
Um sujeito que leva uma bofetada e não reage, é o fim. Pra mim, não servia. É um boboca!

                  Ou o homem é homem mesmo ou não interessa. (sai)

                                            I:

                    (desiste de telefonar e bate o telefone. Reflete.)



                   CENA 33 / no escritório A atende o fone que toca

                                           A:

               (atendendo o telefone) Advogados Associados, pois não!

                                            ?:

                              Aqui fala a sua futura vítima.

                                           A:

                          (sem reconhecer a voz) Que vítima?

                                            ?:

                            Você não disse que me matava?

                                           A:

               (irritado) Não brinca assim. Já está chata essa brincadeira.

                    (bate o telefone. A reflete. Toma do fone disca).




                      CENA 34 /residência de I que atende o fone

                                            I:

   Alô... (num sobressalto) Como pedir desculpas? Você apanha na cara e ainda pede

 desculpas?... Pelo amor de Deus! Não me peça desculpas. Sou eu que vou te pedir, eu!

  Andei mal, mas você pode ficar certo de que... nunca mais, ouviu?... Quem deve estar


                                                                                         38
DIAS DE AMORES PERDIDOS                39              COELHO DE MORAES
  zangado é você, e não eu... Falei com minha mãe... ela me deu uns conselhos... Escuta...

escuta... escuta, meu anjo, eu merecia uma surra por ter te esbofeteado... Escuta... deixa eu

      falar... meu amorzinho, se um dia você me der uma surra, eu acharei que mereci,

compreendeu? Te devo uma boa surra!... Se você quiser pode me bater... me bate mesmo...

bate na cara... me arranha... me bate na bunda.... Aquela bofetada não me sai da cabeça. Eu

    acho que só vou ficar em paz com a minha consciência quando me deres uma surra!




                                CENA 35 / residência A e C

                                             A:

                          (chega em casa e curva-se para beijá-la)

                                             C:

                              (recua) Sai pra lá! Não, senhor.

              O futuro assassino não tem direito de beijar a vítima. (ele sorri)

                                             A:

             (de saco-cheio) Das duas, uma: ou você acaba com essa gracinha

                          ou eu vou me zangar muito seriamente.

                                             C:

                   (enfrentando) Não é gracinha nenhuma. Eu falo sério.

              Você disse que me matava e eu considero você meu assassino.

                                             A:

                     Quer dizer que você insiste nesse palpite imbecil?



                                                                                             39
DIAS DE AMORES PERDIDOS            40             COELHO DE MORAES
                                   C:

                                 Insisto.

                                   A:

                               (explodindo)

   Pois, então, dane-se. Vá tomar banho, antes que eu me esqueça! (Sai)

                                   C:

                   Quando é que você quer me matar?

                                   A:

                    (estourado) Quando você me trair!

                                   C:

              Quem sabe se eu já não traí você? Quem sabe?

                                   A:

              Para com isso, olha que eu estou te avisando!

                                   C:

                               Assassino!

                                   A:

                      (segura a mulher pelos braços)

                  Não brinca assim que eu te arrebento.

            (empurra-a para a cama. Ela cai e abre as pernas)




          CENA 36 / I espera J chegar / está como que culpada

                                    I:


                                                                          40
DIAS DE AMORES PERDIDOS               41              COELHO DE MORAES
                   Hoje eu tomei um ônibus e o Silveirinha estava lá...

                                            J:

                          (atônito) Ônibus... Com o Silveirinha?

                                            I:

                                 Com o Silveirinha, sim.

                                            J:

                    Olha, Ismênia, vou te pedir um favor... Pode ser?

                                            I:

                                         Claro.

                                            J:

                         É o seguinte; de hoje em diante, ouviu,

                    você vai negar o cumprimento ao Silveirinha. Ta?

                                            I:

                                   Por que, meu anjo?

                                            J:

Porque o Silveirinha é um cínico, um crápula, poeta de coisa nenhuma... um canalha abjeto.

Um sujeito que não respeita nem poste e que é capaz até de dar em cima de uma cunhada.

   O simples cumprimento de Silveirinha basta para contaminar uma mulher. Percebeu?

                                            I:

                                        Percebi.

                                            J:

                                         Pois é.




                                                                                        41
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 42                COELHO DE MORAES
  (J vai ao banheiro lavar as mãos. Percebe que ela está calada) Você sempre quis que eu

 falasse, que abrisse a boca e tal... que eu não deixasse de comentar as coisas não é? Pois

    estou falando... (amoroso) Meu anjo, você sabe que eu não tenho ciúmes. Não sabe?

                                               I:

                                             Sei.

                                               J:

   Ou melhor... só tenho ciúmes de uma pessoa: o Silveirinha. E nunca se esqueça: é um

  canalha, talvez o único canalha vivo do Brasil, tirando o pessoal de Brasília, é claro. Todo

            mundo tem defeitos e qualidades. Mas o Silveirinha só tem defeitos.

                                               I:

                       (espantada) Verdade? Da mais pura verdade?

                                               J:

  Verdadessíssima! Quero ser mico de circo se estou mentindo! O Silveirinha é indigno de

                                 entrar numa casa de família!

(I lembra do ônibus. O Silveirnha de um lado, ela de outro, ela o olha, ele se aproxima e põe a

                                      mão na coxa de I)

                                               J:

Você é muito boba, muito inocente, nunca teve outro namorado senão eu. Quer um exemplo?

    Sou teu noivo, de papel passado. Muito bem. O que é que houve entre nós dois, além

daquela sua atitude violenta? Hein? Tirando aquilo... o que ouve? Uns beijinhos, só. É ou não

                                              é?

                                           I: Lógico!

                                               J:



                                                                                                 42
DIAS DE AMORES PERDIDOS                43              COELHO DE MORAES
Eu ainda acho que devemos no casar... Figuremos a seguinte hipótese: que, em vez de mim,

fosse seu namorado o Silveirinha. Você pensa que ele ia te respeitar como eu te respeito?

    Duvido! Duvido! Silveirinha não tem sentimento de família, de nada! Acho até que é

 comunista! Parece impossível que existam homens assim. Vou te dizer mais: o Silveirinha

                 olha para uma mulher como se a despisse mentalmente!

 (close no olhar do Silveirinha e o texto abaixo mostrando o olhar do Silveirinha dançando

                                     pelo corpo de I).

                                             I:

               Eu estava na cabeleireira, e estavam falando do Silveirinha...

                                             J:

                            Claro... do pulha todo mundo fala...

                                             I:

           Eu falei que tinha ouvido dizer que ele deu em cima de uma cunhada!

                                             J:

                            Exato... Um verdadeiro monstro...

                                             I:

                    E me disseram que o Silveirinha não tem cunhada!

                                             J:

(defendendo-se) Eu não disse que o Silveirinha deu em cima de uma cunhada. Eu disse que

                      daria! daria! caso tivesse. Você entendeu mal.

                         ( Vai para a sala tomar café e I o segue)

                     De qualquer forma eu vi aquela besta com outra!

                                             I:

                      Já me arrependo de querer que você falasse.
                                                                                             43
DIAS DE AMORES PERDIDOS                44               COELHO DE MORAES
                                             J:

                    Vocês mulheres, parece que gostam dos canalhas!

                                             I:

 (irritada) Fala menos nesse Silveirinha! Sabe que agora eu só penso nele? Te digo mais:

                                       tenho medo!

                                             J:

                      (obstinado) Medo de que e por que, ora essa?

                                             I:

                         Essas coisas impressionam uma mulher.

                    Não fala mais nesse cara! É um favor que te peço!

                                             J:

    (incisivo) Falo sim, como não? Você precisa olhar o Silveirinha   como um verme!

                                             I:

                            (suspirando) Você sabe o que faz!

                                             J:

Conheço o sujeito desde criança. Sempre moramos no mesmo bairro. Ele , com aquela cara

de sonso e fazendo uns poeminhas vagabundos, roubou todas as minhas namoradas, menos

                             você!(pausa) Me dá um abraço.

                                             I:

                        Calma. Primeiro você vai fazer uma coisa.

                                             J:

                                          O que?

                                             I:

                                Você vai me dar uma surra!
                                                                                           44
DIAS DE AMORES PERDIDOS             45               COELHO DE MORAES
    Ou me dá uma surra ou não terá nada de mim... nem beijo nem nada!

                                     J:

        (confuso) Mas surra, como? Que surra? Só quero um abraço.

                                     I:

                     (com um chicote pego na gaveta)

  Dei uma bofetada no meu namorado, agora quero apanhar do meu homem.

                          (entrega-lhe o chicote)

                                Anda, bate!

                                     J:

                            Mas isso é loucura!

                                     I:

                  É... você foi promovido... é meu homem.

                                     J:

                       Para com isso. Uma criancice!

                                     I:

                          Não seja frouxo... bate!

                                     J:

                              Onde já se viu?

                                     I:

            Você me falou tanto no Silveirinha que me excitou...

               Ou a surra ou não haverá nada entre nós dois.

                    (J sem jeito ensaia duas lambadas)

        Mais forte! Mais forte! Mais, mais! Não para! Você é frouxo?

                  (J cansado, bate, mas, larga o chicote)
                                                                        45
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 46               COELHO DE MORAES
                                             I:

                                 (atira-se nos seus braços)

      Agora, posso te beijar e você pode fazer o que quiser de mim... me beijar... (ele

bruscamente se retira e vai para o banheiro. Ela se aproxima e houve sons de masturbação).



                                     CENA 37 / R e A

                                             R:

                       (abraçando-o) Você seria capaz de me trair?

                                             A:

                                           Isola!

                                             R:

                                     (insistente) Seria?

                                             A:

                                   Que conversa é essa?

                                             R:

               É que uma amiga minha disse que o marido fiel nasceu morto!

                                             A:

 Eu não sou seu marido... mas, por que você vai atrás dessa bobalhona? Vai ver que essa

tua amiga não passa de uma jararaca, uma lacraia, um escorpião! Deve ser dessas barangas

    que têm complexo de mulher traída 200 vezes por dia. Vai por mim que é despeito!



                                 CENA 38 / C e R / Salão

                                             R:



                                                                                          46
DIAS DE AMORES PERDIDOS               47             COELHO DE MORAES
                              Não pense que sou boba, não.

              Se eu digo que meu namorado não me trai é porque tenho base.

                                            C:

                                 (admirada) Como base?

                                            R:

(entusiasmada) Pelo seguinte: eu sei tudo o que meu namorado faz, tudo. Entra dia sai dia e

o programa dele é este; de manhã, vai para o emprego; ao meio dia, almoça em casa, depois

emprego e, finalmente casa. Nunca telefonei, em hora de expediente, que ele não tivesse lá.

            Mesmo que ele quisesse me trair, não poderia por falta de tempo.

                                            C:

       (suspira) Ah, Rosinha! Sabe qual a pior cega? A que não quer ver. Paciência.

                                            R:

(explodindo) Ora , pipocas! Cega onde? Então quero que você me explique: como é que meu

   namorado pode ser infiel se está ou no trabalho ou comigo? Você acha isso possível?

                                            C:

                               Acho. Me perdoe, mas acho.



                              CENA 39 / I e DE ao telefone

                                            I:

Mamãe, já se passaram quinze dias desde que... consegui as... sementes... para o meu filho

                                    mas, eu não estou sentindo nada.

                                           DE:

                 (achando graça) É cedo, minha filha! Calma minha filha...



                                                                                         47
DIAS DE AMORES PERDIDOS              48              COELHO DE MORAES
                       Por enquanto, não há novidade.



                    CENA 40 / na praça cheia de árvores

                                     A:

    Te vi, no máximo, umas oito vezes talvez. Falei contigo pouquíssimo.

        Mas, assim ou assado, o fato é que te amo, te amo e te amo

                                     R:

                  E o dia em que todos souberem de nós?

                                     A:

                   Ficarão, certamente, muito surpresos!




                        CENA 41 / no quarto / I e J

                                      J:

                               Gosta de mim?

                                      I:

                             Mas claro! Duvida?

                                  J: Muito?

                                      I:

                    (se fazendo de apaixonada) Demais!

                                      J:

        Eu também te amo, te amo e te amo. És tudo pra mim, tudo!

  Silveirinha: (gritando da rua) Ismênia, minha vida! Ismênia, minha paixão?

                                      J:


                                                                               48
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 49              COELHO DE MORAES
(para I) Eu sou o sujeito mais feliz do mundo! (em separado) Ismênia é fabulosa, mas esse

                                   crápula tem morrer!

                Silveirinha: Minha pequena musa! Flor dos meu sonetos!

                                            I:

         (em clamores) Vem chispando! Vem! (deita-se na cama quase arfando)

                                            J:

                            Mas o que foi? Conta o que foi?

                                            I:

Agora não posso, não posso! Vem! Vem! (levando-o de canto enquanto ouvem os lamentos

                         do Silveirinha) Vamos conversar aqui.

                                            J:

                        Estou apreensivo, meu bem... o que foi?

                                            I:

                             Eu tentei, meu anjo, eu tentei...

                                            J:

                      Já nem ligo pro Silveirinha, viu? O coitado...

                                            I:

             O nosso casamento... o nosso casamento é impossível, ouviu?

                                            J:

                          Impossível como? Que piada é essa?

                                            I:

                           A nossa vida juntos é impossível.

                                            J:

                                  E por que impossível?
                                                                                        49
DIAS DE AMORES PERDIDOS               50              COELHO DE MORAES
                                             I:

Pelo seguinte... não fique nervoso... eu gosto de você, mas também gosto de outro, oh, meu

Deus! Eu me excito quando ouço a voz do Silveirinha... Nunca pensei que se pudesse gostar

      de duas/três pessoas ao mesmo tempo. Mas pode-se, agora eu sei que se pode!

                                             J:

(após um silêncio) Que é isso. Que falta de compostura! Diz coisa com coisa, meu anjo. Você

           gosta de mim. Muito bem. E gosta também de outra pessoa? É isso?

                               (I faz que sim com a cabeça)

Pensa, raciocina. Não tem o menor cabimento. Ou você gosta de um ou de outro. De dois é

                                     que não pode ser.

                                             I:

Pode ser, sim. Hoje eu já acho que qualquer mulher pode gostar de dois, três, quatro, cinco,

                         ao mesmo tempo. Ou de duzentos, sei lá!

                                             J:

                      (após um silêncio. perplexo) E quem é o outro?

                                             I:

            Pergunte tudo, menos isso. Isso, não! Isso eu não posso responder!

                                             J:

                   O nome, eu quero o nome! Quem é o camarada? Fala!

                                             I:

                           (após um silêncio longo) É o Almeida.

                                             J:

                                    (indignado) Quem?

                                             I:
                                                                                          50
DIAS DE AMORES PERDIDOS                  51               COELHO DE MORAES
                                  Almeida, sim! Seu irmão!

                                               J:

(sacudindo-a furioso ) Responde! Por que, entre tantos homens, escolheu meu irmão? Por

                           que não me traiu com outro? Por que?

                                               I:

Eu não o trai... não houve nada... só houve um beijo, só... foi o máximo, juro!... (ele a solta)

          Escute o resto. Eu não posso viver sem você, não posso viver sem ele!

                                              J:

               (atônito e descontrolado) Isso é doença, tara!! Cínica! Cínica!



                          CENA 42 / C e R / terminando o cabelo

                                              C:

            Muito bem. Esses dias todos conversamos muito sobre o assunto,

                         mas eu vou propor para você uma solução.

                                              R:

              (pegando o dinheiro da bolsa) Do que é que você está falando?

                                              C:

                            Uma pergunta. Cadê teu namorado?

                                              R:

                                        Foi ao futebol.

                                              C:

                                    No estádio da cidade?

                                              R:

                                       Sim. Aqui perto.
                                                                                               51
DIAS DE AMORES PERDIDOS                52               COELHO DE MORAES
                                            C:

 (insinuante)Já vi tudo! Você diz que teu namorado ou está contigo ou no trabalho. Muito

  bem. E aos Domingos? Ele vai ao futebol e você fica! Passa a tarde toda, de fio a pavio,

                                  longe de ti. É ou não é?

                                            R:

         Mas ora bolas! Quer coisa mais inocente do que futebol? Inocentíssima!

                                            C:

                      Pois sim! E se não for futebol? Ele diz que vai.

                    Mas pode ser desculpa, pretexto, não pode? Claro!

                                            R:

                                       Nem brinca.

                                            C:

                     (sugerindo) Vamos lá tirar isso a limpo? Vamos?

                                            R:

                               Não vale a pena, é bobagem!

                                            C:

                             (baixando a voz) Está com medo?

                                            R:

                              (em baixo tom) Medo por quê?

                                            C:

(instigando) Não custa, sua boba! É uma experiência! Nós vamos lá pedimos ao auto-falante

 para chamar o teu namorado. Se ele aparecer, muito bem, ótimo. Se não aparecer, sabe

                   como é: estará aí nos braços de alguma loura. Topa?

                                            R:
                                                                                             52
DIAS DE AMORES PERDIDOS               53              COELHO DE MORAES
                          (após um silêncio. decidida) Topo!

                                          C:

Hoje eu não posso. Tenho muita cliente! Mas na semana que vem eu nem marco e a gente

                                     combina. Ta?



         CENA 43 / reunião de mulheres em um bar / lanchonete / L, R, I, C,

                                           L:

                               Viram o novo professor?

                                          C:

                                       Que tal?

                                           L:

                                     Bacanérrimo!

                                          C:

                                        Moço?

                                           L:

                                      Mocíssimo!

                                          R:

                   Uau! Parece que você está muito entusiasmada!

                                           L:

                          Tem uns olhos... Impressionantes!

                                           I:

                             É mesmo? É novo no bairro?

                                           L:

                Pois é, pois é. Parece que veio de seus estudos lá fora.
                                                                                   53
DIAS DE AMORES PERDIDOS               54               COELHO DE MORAES
                                          C:

                                   Dá aula de que?

                                           L:

      Letras. Letras e Filosofia. Ele está causando uma paixão coletiva no colégio

                                          R:

                                      É mesmo?

                                           L:

                                   Palavra de honra!

                                          C:

                                       Casado?

                                          L:

parece que não. Solteiro! Pelo menos não usa aliança. (entusiasmada) E pra teu governo:

                              ele é meu, tem de ser meu.

                                          R:

                  Mas olha que tem gente assim dando em cima dele.

                                           L:

   (confiante) Não interessa! E toma nota! Há de ser meu. Será meu... todinho meu...

                                    (entra Silene)

                                          S:

              Olá gente. (cumprimentos gerais) Como vão todas? (para I)

                           Essa criança nasce ou não nasce?

                                           I:

            Estou fazendo de um tudo. Mas a doutora ainda não disse nada.



                                                                                       54
DIAS DE AMORES PERDIDOS               55              COELHO DE MORAES
                                         S:

                       Dona Dulce vai bem? (I acena que sim).

                   O namorado, Rosinha? Jogando muito futebol?

                                         R:

Vocês me importunam com isso, mas eu já combinei com Cecília e vou tirar a limpo para

                          vocês, não para mim, que eu sei...

                                       Todas:

                         Onde sentei a minha bunda! (riem).

                                         S:

                                     Novidades?

                                         C:

                 Lúcia parece que se apaixonou pelo novo professor.

                                         S:

    Mas olha... eu fiquei sabendo... Sabe da última? Casado. O homem é casado.

                                          L:

                      (após um silêncio, desabafa) Que cretino!

                                         S:

                               Caso sério, caso sério!

                                          L:

                              Mas ele há de me pagar.

                                         S:

             Pagar o que? Quer saber mais? A esposa dele vai ter neném.

                                          L:



                                                                                        55
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 56              COELHO DE MORAES
              (apática) Você viu? Como é que você sabe dessas coisas?

                                           C:

                         Calma, Lúcia, ela só está contando.

                                           S:

                                  Ah! Eu vi... Vi, sim.

                                           L:

                                     Ela é bonita?

                                           S:

                        Mais ou menos. Mas tem um corpaço.

                                           L:

         (questionando) Explica uma coisa: por que é que ele não usa aliança?

                                           S:

                             E eu sei lá! Isso é lá com ele.

                                           L:

                     E se tudo isso for golpe teu? Mentirada tua?

                                           S:

                 (zangada) Ora, não amola! Golpe por que? Pra que?

                          Tenho nada com isso! Que graça!

                                           L:

Quer saber de uma? Não vou desistir dele coisa nenhuma. O homem é casado mas, pode

      separar-se ou ficar viúvo. (sob os olhares das mulheres) Se é que é casado.

                                           S:

       (espantada) Eu não sabia que ia deixar você assim... tão transtornada...



                                                                                    56
DIAS DE AMORES PERDIDOS                57              COELHO DE MORAES
                                          C:

                              Mas é melhor saber antes.

                                          S:

                      Eles se dão muito bem, se gostam muito!

                                          L:

      (taxativa) Ninguém sabe o dia de amanhã. Não é o primeiro que fica viúvo!

              (remoendo-se) Cínica, cínica! Você está mentindo. É isso!

                                          S:

                        To não! Só conto o que me contaram.

                                          L:

 Só pode ser isso! Tem que ser isso! Preciso conversar direito contigo! (L puxa S com

violência, saem de lado) Sua mentirosa! Aposto que ele não é casado, nunca foi casado!

                  Você me tapeou! Mas deixa estar que eu te pego!

                                          S:

      (atônita protesta) É casado, sim! Eu conheço a mulher dele! Vai ter neném!

              (olha em volta e vê, na rua, uma mulher grávida passando)

               Espia, espia! (apontando) É ela! É a mulher do professor!

                                          L:

                       (sai do local aproximando-se da grávida)

                                          I:

                       mas, o que é que essa maluca vai fazer?

                                          L:

                                Quer que eu a ajude?



                                                                                         57
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                                      R:

             (as mulheres olham, de longe) Estão conversando?

                                      L:

                   Eu ajudo a senhora a atravessar a rua...

                                      C:

Estão atravessando a rua? Vai ver que Lúcia a convidou para uma cervejinha...

   ( L desvencilha-se da mulher e a empurra. um caminhão a pega em cheio

                                      S:

               (pálida grita para a outra, segura pelas demais)

Eu menti. Não é mulher dele não... Fiquei sem jeito e menti... (cai em prantos)

                                      L:

          (cai desolada no chão, de joelhos, com os olhos parados)

                                      S:

         (aos gritos) O Silveirinha não é casado... ele não é casado.




              CENA 44 / casa de I, J, ela tomou umas e outras

                                      I:

                        Você não tem ciúmes de mim?

                                      J:

                                Não. Só do...

                                      I:

                                  Por que?

                                      J:


                                                                                  58
DIAS DE AMORES PERDIDOS             59              COELHO DE MORAES
                 Porque te amo. Te respeito... te venero...

                                     I:

                  Eu preferia que tivesse ciúmes de mim.

                                     J:

                                    Ué!

                                     I:

                        Sem ciúmes, não há amor!

                                     J:

                              Parece criança!

                                     I:

             E se eu te traísse de uma vez ? Você faria o que?

                                     J:

                   (sóbrio e um ar santo) Te perdoaria.

                                     I:

   Se sabe que eu gosto de outros homens, agüenta assim mesmo, não é?

                                     J:

            Não acredito nisso. Acho que você quer me irritar.

                                     I:

                   E se eu te traísse e voltasse a trair?

                                     J:

            Se continuasse traindo, eu continuaria perdoando.

                    Afinal é comigo que está morando.

                                     I:

                 (um pouco alterada) Você não é homem!
                                                                        59
DIAS DE AMORES PERDIDOS                60              COELHO DE MORAES
                Se fosse homem, eu não faria você de você gato e sapato!

                                             J:

                            Vamos parar com isso, meu anjo?

                                             I:

           Nem aceitaria que eu dissesse tudo isso. Se fosse homem ia embora.

                           (I sai do local e deixa J cabisbaixo).)




                              CENA 45 / ESTÁDIO / C e R

                                             R:

(a caminho do estádio. adverte) Isso que você está fazendo comigo é uma perversidade, uma

 malvadeza! Vamos que o meu namorado não esteja lá. Já imaginou o meu desgosto? Você

  acha o que? Que eu posso continuar saindo com o meu namorado, sabendo que ele me

                            traiu?... Tenho medo! Tenho medo!

                                             C:

                (justificando) Estou até te fazendo um favor, compreende?

                                             R:

                           Se ele não estiver lá, eu me separo!

                                             C:

    (espantada) Separar por que? Quer saber duma coisa? A única coisa que justifica a

separação é a falta de amor. Acabou-se o amor, cada um vai para o seu lado e pronto. Mas a

                             infidelidade, não. Não é motivo.

                  A mulher das boas, confiante, é a que sabe ser traída.



                                                                                        60
DIAS DE AMORES PERDIDOS               61                COELHO DE MORAES
                             ( Corte para auto falante)

                                       VOZ:

                         Atenção, senhor Almeida Pereira!

               Queira comparecer com urgência, à superintendência!

                                        C:

                    Almeida? Teu namorado se chama Almeida?

                                       VOZ:

                         Atenção, senhor Almeida Pereira!

               Queira comparecer com urgência , à superintendência!

                                        C:

                                 Almeida Pereira?

                                       VOZ:

                         Atenção, senhor Almeida Pereira!

         Queira comparecer com urgência urgentíssima, à superintendência!

                                        R:

(lamentando) Sempre pedi a Deus para não ser traída! eu não queria ser traída nunca!

        (segurando Ceci pelo braço) Eu podia viver e morrer sem desconfiar.

                        Por que me abriu os olhos? Por que?

                                        C:

                       (desiludida e deprimida) Não te disse?

             É a nossa sina, meu anjo! A mulher nasceu para ser traída!

                                        R:

                     Eu não precisava saber! Não devia saber!



                                                                                       61
DIAS DE AMORES PERDIDOS                62               COELHO DE MORAES
  (C vira R para si e deita uma bofetada nela. Nisso as duas rolam pelo chão em briga

                            descabelada. Câmara se afasta).




                      CENA 46 / I e J no consultório da doutora

                                            I:

       (resmunga) Todo mundo tem filho. Será que só eu que não? Parei contigo!

                                            J:

                               Vamos esperar, meu anjo.

                                            I:

(choraminga) Você sabia, porque eu lhe disse, que eu não o amava. Casei-me para ter um

                            filho! Só. E será que eu não vou ter essa sorte?

                                            J:

                            Vamos esperar mais um pouco.

         I: Se não me der esse filho, eu vou te odiar até meu último dia de vida.

                               (doutora entra com papeis)

                                            I:

                                    E então doutora?

                                      DOUTORA:

                                     (suspira) Nada.

                                            I:

       (tirando suas conclusões) Será que nosso sangue não combina? (taxativa).

                 Doutora? Será que não é ele que tem sangue podre?

                   Eu quero saber se ele pode ou não pode ter filhos.
                                                                                        62
DIAS DE AMORES PERDIDOS               63              COELHO DE MORAES
                                            J:

       (pálido) É preciso mesmo? (após um silêncio) Eu não preciso ir ao médico...

                                           D:

                      O sr. Juventino já veio aqui fazer exames e...

                        descobrimos que ele não pode ter filhos...

                       pensei que tivesse contado para a senhora.

                                            J:

                        Não posso ter filhos! Não posso!...(chora)

                                            I:

           (pasma. pausa) Tomarei minhas providências. (sai batendo a porta)




                            CENA 47 / Apartamento / A e R

                                           A:

                    (encontra R no apê de sempre... ela está nervosa)

                                           R:

                (cheia de hematomas) Me beija! Me beija! Ela me bateu!

                                           A:

         (sem falar nada, aproxima-se e dá-lhe uma bofetada que joga R ao chão)

                                           R:

                      (de joelhos abraça as pernas de A, chorando)

Esperei tanto por essa bofetada! Agora eu sei que você me ama e agora eu sei que posso te

                               amar, descontroladamente!




                                                                                       63
DIAS DE AMORES PERDIDOS             64              COELHO DE MORAES



                      CENA 48 / HOSPITAL / DE e J

                                    DE:

        (encontra com o genro, abraça-o) Até que enfim! Parabéns!

                                     J:

                      (espantado) Parabéns por que?

                                    DE:

                     Soube que Ismênia vai ter nenem!

                                     J:

               (deixa a sogra falando sozinha e sai chispado)




                          CENA 49 / I E J / casa

                                     J:

          Sabe que eu te amo muito? Que te amo cada vez mais?

                                     I:

          (tremula) Eu também... (ressaltando) Mas, não só você...

  Mas você não vê que esse amor é impossível? Nem, sei se te amo mesmo.

                                     J:

                     Por que esse amor é impossível?

                                     I:

                                 Por que?

                                     I:



                                                                          64
DIAS DE AMORES PERDIDOS                 65              COELHO DE MORAES
Por que não pode dar certo? Pelo seguinte: eu sou uma criatura que perdoa tudo. Para mim,

                só uma coisa tem importância; a fidelidade. Compreende?

                                 (enxugando uma lágrima)

   Eu, se traísse uma vez, uma única vez, não poderia olhar nunca mais a mulher amada.

                                             I:

                    Eu não tenho esse problema. Entende a diferença?

                                             J:

  E teria que morrer, ouviu? Depois da traição, eu teria nojo da vida! Eu teria que morrer.

                       (obstinado) Você há de ser minha! Há de ser minha!

                                             I:

         Tua? Nunca! (pausa) Eu seria tua, sim, se me matasse depois. Só assim!

                                             J:

(segurando a mão dela) Quer um pacto de morte? Escuta: tenhamos uma tarde, uma noite

de amor, e, em seguida, a morte, compreendeu? Eu morreria mil vezes para viver uma hora,

                     meia hora contigo! Quer? Seria lindo, não seria?

                                             I:

                         (delirando) Amar e morrer... Sem ereção?

                                             J:

                 Quer morrer comigo? Deve ser fabuloso morrer contigo!

                                             I:

              (fascinada) Quero sim. Quero... Mas vamos amar sem ereção?

                                             J:

                 (põe a mão na boca dela, arruma a colcha, se deita e diz)

                                         Amanhã.
                                                                                              65
DIAS DE AMORES PERDIDOS              66              COELHO DE MORAES
                     ( I está boquiaberta, olhar perdido)



                           CENA 50 / A recebe I



                            CENA 51 / o hospital

             (Almeida entra no quarto de C. Ela está muito mal)

                                     A:

                    Que negócio de briga de rua é essa?

                                     C:

                               tenho que falar.

                                     A:

                            Você foi esfaqueada?

                                     C:

                              Preciso te contar.

                                     A:

                   Pegaram a pessoa? Quem te fez isso?

                                     C:

                   Almeida! Eu quero dizer... eu traí você.

                                     A:

                          O que (sorri sem graça).

                                     C:

   Eu traí você... Muitas vezes... você nunca soube... espero seu perdão...

  (A olha para ela. Se olham. A olha para os lados e aperta a garganta de C.



                                                                               66
DIAS DE AMORES PERDIDOS           67                COELHO DE MORAES



       CENA 52 / Casa de I e J / A vem junto mas não entra logo

                                   J:

                   (abraçando I, quando ela chega. )

               Eu tenho esses três caminhos a escolher:

           Ou mato o meu irmão; ou mato você; ou me mato.

                                   I:

                          Matar?... Morrer?...

            (após uma breve reflexão segura-o nos braços)

               E se morrêssemos, todos? Eu, você e ele?

                                   J:

                             Com veneno?

                                   I:

                           Sim... Veneno...

                                   J:

                   Já que esse amor é impossível...

                                   I:

                      ... que nos importa a vida?

                                   J:

                     Quer morrer comigo? Quer?

                                   I:

                  Contigo e com teu irmão. Os três!

                                   J:

                        Como? Ele está aqui?
                                                                       67
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                                           I:

                        Está. (ela faz sinal e Almeida aparece)

                Eu sei, ouviu? Sei que ele vai querer, tem que querer!...

                     E se morrêssemos amigos os três, juntos...?

                                           J:

                     (Ela vai ao bar, enche os copos, entrega-os)

                            Vamos beber ao mesmo tempo

                                           I:

(beija um depois o outro chamando ambos de “meu amor”. bebem. após alguns segundos a

                   única que cai é I. com o copo vazio e assombrada)

                                           J:

                    Só a taça dela continha veneno. (debochando)

                       Sempre bebia no mesmo copo verdinho.

                                 FADE para o velório.



                         CENA 53 / velório / A e J e outros /

                       As coroas se aproximam / entregadores

                                           J:

                  (se aproxima da coroa, toma papel e lê à meia voz)

                “À inesquecível Ismênia, com todo o amor, de Otávio”.

                         (mais alto) Otávio? Quem é Otávio?

                   ( muito alto e repetindo enquanto DESVANECE)

                   Vocês conhecem algum Otávio? Quem é Otávio?

              (pula no caixão e tenta enforcar desesperadamente a morta)
                                                                                  68
DIAS DE AMORES PERDIDOS
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DIAS DE AMORES PERDIDOS

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  • 2. DIAS DE AMORES PERDIDOS 2 COELHO DE MORAES Direitos de Cópia e Uso Cecília Bacci & Guilherme Giordano ceciliabaccibscm@yahoo.com.br menuraiz@hotmail.com EDITORA ALTERNATIVAMENTE produtoresindependentes@yahoo.com.br TIRAGEM 20 000 POR E-MAIL FONTE EXCLUSIVA DE DOWNLOAD http://www.paginadeideias.com.br Coleção BROCHURA / PDF / ESPIRAL Capa COELHO DE MORAES coelho.de.moraes@bol.com.br imagem base retirada de www.queridoamorperdido2.blog.com Cidade de Mococa MAIO São Paulo 2011 2
  • 3. DIAS DE AMORES PERDIDOS 3 COELHO DE MORAES DIAS DE AMORES PERDIDOS Roteiro de Coelho De Moraes baseado em obras de Nelson Rodrigues I: Ismênia, J: Juventino, A: Almeida, C: Cecília, DE: Dona Eunice, R: Rosinha, L: Lúcia, S: Silveirinha, D: Doutora, S: Silene, mulher grávida 3
  • 4. DIAS DE AMORES PERDIDOS 4 COELHO DE MORAES CENA 1/ velório / um grupo / Almeida: (a mão no ombro de Juventino que chora sobre o caixão) Morreu. Juventino: Me dêm um revolver! Quero meter uma bala na cabeça!(sai desesperado) A: O enterro vai sair daqui? C: Claro! A: Não será mais negócio na capelinha? C: Por que? A: É mais prático. Mais cômodo. C: Considero um desaforo essa mania de capelinha! É uma falta de respeito! A: Vou atrás das coroas. Logo logo eu ligo pro Juventino. J: (reentra, ‘A’ o abraça enquanto sai, ‘J’ está excitado de possesso, transpirando) Nunca houve alguém amado tão feliz como eu! Duvido! 4
  • 5. DIAS DE AMORES PERDIDOS 5 COELHO DE MORAES (confidenciando a um dos presentes no velório) Era tão séria que namorou um ano comigo, noivou dois e só topava dar beijo na boca depois do casamento! (pausa) Nunca casamos! Quer dizer, era mulher mesmo, mulher decente, ali, na batata! (cutuca o vizinho) Teve pudor de mim até o último momento. Nunca tomou injeção que não fosse no braço! Na bunda... nunca... nadinha... Na bunda nada... Sabe... aquela coisa do enfermeiro apalpar a bunda?... aqui e ali, nada... nada mesmo. Isso que era mulher no duro, cem por cento! O resto é conversa fiada! (toca o celular, estranheza no velório, todos se olham) Alô! A (fala da floreira) Juventino, estou aqui vendo coroas, e... tua coroa pode ser de orquídeas? J: Pode. Por que não? A: Mas, é puxado! Os preços estão muito altos! E as orquídeas estão, assim, meia boca... J: Quanto? A: Oitenta pratas. J: Que é isso! Bando de ladrões! (pensa, nervoso) 5
  • 6. DIAS DE AMORES PERDIDOS 6 COELHO DE MORAES Vamos fazer o seguinte; orquídea é uma flor besta, sofisticada. Arranja uma coroa mais em conta. Cravo... dália... sei lá... A: Qual é a dedicatória? J: Põe assim: “À Ismênia, saudade eterna do seu Juventino”. A: Boa... boa... sempre poeta... sempre poeta apaixonado... (close em J, embevecido / choroso / olhando para o teto como quem se recorda) CENA 2 / casa de Ismênia / I e Mãe D. EUNICE: Que é isso, minha filha? ISMÊNIA: Nada, mamãe, nada. Por que? DE: Estou achando você meio assim, esquisita. Houve alguma coisa entre você e o Juventino? I: Ora, mamãe! Mas que bobagem! Teria cabimento a gente brigar na véspera do casamento? Isola! DE: Ótimo! Antes assim 6
  • 7. DIAS DE AMORES PERDIDOS 7 COELHO DE MORAES CENA 3 / cabeleireira / I e C Cecilia: Sabe qual é o golpe? I: Qual? C: Você mata o serviço hoje e vamos ao cinema. Topa? I: (hesita) Então jura que ele não é casado, jura? C: (ofendida) Mas você duvida? Não te jurei umas quinhentas vezes? Não te dei minha palavra? Parece até que você não tem confiança em mim! I: E você promete que lá vai ficar quietinha, promete? C: (enfia as mãos no bolso) Prometo, prometo. E vamos chispar que está em Cima da hora. CENA 4 / velório ( chegam as coroas e a de Juventino até que faz bonito perto das outras) J: 7
  • 8. DIAS DE AMORES PERDIDOS 8 COELHO DE MORAES (para os presentes) Como é possível morrer assim? Se fosse câncer, vá lá. Mas assim! Por causa de um brinde? (nesse momento todos os olhos se voltam para a porta. Entra uma coroa de orquídeas monumental. Estranheza geral). CENA 5 / casa de I / DE DE: Isso é verdade? I: É, mamãe. É verdade, sim. Eu queria que a senhora consentisse, porque eu já tenho mais de 18 anos e queria casar. DE: Tem tempo! Ainda é muito cedo. E os estudos? Você se esquece dos estudos? Onde é que nós estamos? Não, senhora! Onde já se viu? I: (enfrentando) Ou a senhora consente ou eu fujo. Depende da senhora. DE: (após um silêncio. Chorando põe a mão no ombro da filha) Calma filha, calma... Não seja tão infantil e antiquada. Consinto. Não é isso que você quer? Consinto, pronto! Não é isso o que você quer? Uma oportunidade para se dar mal? Tá consentido. Não se fala mais nisso. CENA 6 / na praça / J e I 8
  • 9. DIAS DE AMORES PERDIDOS 9 COELHO DE MORAES J (beijando a face de I) I: (advertindo) Olha que eu não falo mais com você! J: (acovardando-se) Está bem, está bem. I: (após uma breve pausa. Suspira) Eu quero ter muitos filhos. Meia dúzia, no mínimo. Está bem assim pra você? J: (espantado) Meia dúzia? I: Por que não? J: Pra ter filho é preciso beijar. I: Não quero ter agora. (pausa) É depois... CENA 7 / velório / J e visitantes J: (resmungando) “Todo amor” por que? (se aproxima da coroa) O cara que mandou isso gastou os tubos. E por que, meu deus, por que? A: 9
  • 10. DIAS DE AMORES PERDIDOS 10 COELHO DE MORAES (oferecendo) Quer um café? J: Vai-te para o diabo que te carregue! Que café o catso! CENA 8 / sorveteria / I e A / Cabeleireira / amigas A: O destino natural da mulher é ser traída! I: Que horror! A: Com exceção das presentes, claro. I: Homens são e sempre serão uns mascarados. Pelo seguinte: um homem sempre trai com outra mulher. E essa mulher também está traindo alguém. Ou não está? A: (achando graça) Depende. C: A verdade é que todo mundo trai e todo mundo é traído. A: Menos eu! Eu, não! (I chupa o sorvete e olha a paisagem e olha os dois – A e C - que se abraçam) C: É verdade que todo mundo é traído? E todo mundo trai? 10
  • 11. DIAS DE AMORES PERDIDOS 11 COELHO DE MORAES A: Não sei se os outros traem, nem interessa? Só sei que eu não traio você, nem você a mim. C: (suspira) Por enquanto. A: Por enquanto e sempre. CENA 9 / casa de I / J I: (pega um envelope no chão, lê) Pra mim? (abre e lê coisas como: “braços de marfim”, “seios de neve” ) J (espiando por trás e lendo também ) I (assustada, esconde a carta) J: (estende a mão) Dá isso, aqui anda! (ela entrega) Quem mandou? I: Sei lá! J: Ah, se eu descubro o engraçadinho que fez isso, parto-lhe a cara! CENA 10 / cabeleireira / I / amigas 11
  • 12. DIAS DE AMORES PERDIDOS 12 COELHO DE MORAES I: (conta o fato a um grupo de amigas) E foi isso... retirou a carta da minha mão. Pensei que fosse me dar uma bolachada. C: O que vale é que meu marido não faz versos! ROSINHA: Nem o meu! I: Quem terá sido? R: Já sei! (fofocando) Quem é que faz versos aqui na rua? Quem? (um silêncio) O Silveirinha! É ou não é? Batata, que foi ele. Ta na cara que foi ele. Amigas: É mesmo! I: (lembrando-se ) Coitado! Mas ele é meio tuberculoso? Não é? C: Meio tuberculoso? Ou é tuberculoso ou não é. Não tem meio. R: (protestando) Ismênia! Não arranja desculpa. C: A senhora se esquece que está pra ficar noiva? I: 12
  • 13. DIAS DE AMORES PERDIDOS 13 COELHO DE MORAES Claro! É evidente! (caindo em si) É muito desaforo! E doente ainda por cima! CENA 11 / velório/ A: Vamos fechar o caixão,você não vai beija-la? J: (levanta. Vai até o escritório e volta. Aproxima-se do caixão puxa um punhal e crava na defunta aos berros) Cínica! Cínica! Cínica! CENA 12 / na rua com Silene / I I: Como meu namorado, eu confesso francamente: nunca vi! Tem um gênio! Que gênio! S: (indaga) Feroz? I: Se é feroz? Puxa! Precisa uns dez para segurar! (abaixando a voz) Você sabe o que ele fez comigo? Não sabe? S: Conta! I: Foi o seguinte: ele cismou que eu tinha olhado para o Antunes. 13
  • 14. DIAS DE AMORES PERDIDOS 14 COELHO DE MORAES E não conversou; me sentou a mão! S: E você? I: (feliz e envaidecida) Eu vi estrelas! (pisca o olho) Eu gosto de homem, homem. Escreveu, não leu, o pau comeu. Senão, não tem graça. Sou assim. R: (com despeito... mas morrendo de inveja) Eu acho que, se um homem me esbofeteasse, eu dava-lhe um tiro na boca! CENA 13 / no saguão do cinema / I e J I: Meu anjo, sou muito boa, tal e coisa. Mas não me queira fazer de palhaça, por que eu... J: (comprando balas) Você faria o que? I: Nessas ocasiões, topo qualquer parada. Escreveu não leu o pau comeu. J: Sabe que você tem uma gíria muito gostosa. I: 14
  • 15. DIAS DE AMORES PERDIDOS 15 COELHO DE MORAES Imagine você! agora mesmo, não sei se você notou, um engraçadinho, no ônibus, fez-se de besta comigo e eu quase meti-lhe a mão na cara! J: (indignado) Por que você não me mostrou o cara? Por que só me diz agora? I: Você pensa que é a primeira vez que eu quero dar na cara de um homem? CENA 14 / Cabeleireira / amigas I: (categórica) Pois fiquem sabendo: eu confio mais no Juventino do que em mim mesma! C: (irônica)Quer dizer que você pensa que o Juva é mesmo fiel? I: Penso, não, é! Fidelíssimo! C: (achando graça) Quer um conselho? Um conselho batata? Daquele dos bons? I: Vamos ver. C: Não ponho a mão no fogo por homem nenhum. Nenhum. O homem fiel nasceu morto, percebe? Eu te falo de cadeira, sei do que estou falando... sou escolada nisso tudo... porque também já fui noiva. E não tenho ilusões. Sei que meu noivo não respeitava nem poste! I: 15
  • 16. DIAS DE AMORES PERDIDOS 16 COELHO DE MORAES Que é isso, Cecília! C: Padre, então... I: (exaltada) Não sei do teu noivo, nem me interessa. Só sei do meu. E posso te garantir que o meu é 100%. Ai dele no dia em que me trair, ai dele! Sou muito boa, tal e coisa. Mas a mim ninguém passa pra trás. Duvido! C: Ora veja! Quem te viu quem te vê! I: Ora essa por que não? C: Você me vem até com coisa de tapa na cara e não sei que tem... I: É mais fácil eu trair o Juventino do que ele a mim! Fica sabendo CENA 15 / Rua / I e J I: (esperando, fula, chega J) Você fez comigo papel de moleque. J: Mas o que é isso? I: (soltando os cachorros) Moleque , sim senhor. E não me faça isso outra vez, por que se não já sabe! 16
  • 17. DIAS DE AMORES PERDIDOS 17 COELHO DE MORAES J: Já sabe o que? I: Quer ver como eu lhe meto a mão na cara, aqui, na frente dessa gente toda? J: Quero. ( Rosinha sem pensar duas vezes, dá-lhe na cara). CENA 16 / casa da Mãe DE: Você está feliz, minha filha? I: Eu? DE: É. I: Estou sim. E não é para estar? Tenho um noivo quase perfeito. DE: Ainda não é seu noivo. I: É. Namorado. DE: O namorado quase perfeito? I: É o seguinte: Juventino é formidável, estou satisfeita com ele. Mas tem um defeito. DE: 17
  • 18. DIAS DE AMORES PERDIDOS 18 COELHO DE MORAES (espantada) Qual? I: Fala pouco. Quase não fala. É um boca de siri! DE: Se ele só tem esse defeito, você deve dar graças à Deus! (aproxima-se fazendo um carinho) Minha filha, lamba os dedos porque partido como Juventino hoje em dia, é difícil, muito difícil. I: Eu sei, mamãe. CENA 17 / Casa de I / fone ?: (no telefone, só ouvimos a voz) Eu quero me encontrar com você. I: Você está maluco? Doido? ?: Por que? Tem alguma coisa demais? É um encontro onde você quiser. Eu digo o que tenho para dizer, você me escuta e pronto. Só. I: (apreensiva) Você se esquece que eu sou quase noiva? Que tenho um quase marido? ?: 18
  • 19. DIAS DE AMORES PERDIDOS 19 COELHO DE MORAES O que eu estou pleiteando de você é apenas um encontro, nada mais. Um simples encontro cordial. Você está fazendo um bicho-de-sete-cabeças à toa, sem motivo. I: (apavorada) Mas pra que? Com que finalidade? ?: Preciso falar contigo, dizer umas coisas. Te juro o seguinte: será o primeiro e o último encontro. Você vai? I: (após um silêncio) Irei. CENA 18 / saindo do cinema / as amigas / C, R, L e I R: Não gosto de cinema brasileiro. Não tolero! É muito lento! C: (debochando) Esse assunto nem interessa, minha cara. Ou, você pensa que vimos ao cinema contigo para ver filme? I: (puxando ela) Queríamos ver você ir lá para o fundo com o namorado... é mais discreto. R: (resistindo) Não ia mesmo. Pro fundo, não vou. Nem a pau! I: Nem você nem o namorado... Onde se meteram? 19
  • 20. DIAS DE AMORES PERDIDOS 20 COELHO DE MORAES C: (arrastando-a) Olha o trocadilho, meninas. Que bobagem! Vamos! L: Ele não tentou beijar você não? C: Rosinha, não faz escândalo! Vamos lá, vamos contando tudinho, vamos lá! I: Mas o que foi que houve contigo? R: É que gostei demais, da primeira vez. Todas: ... primeira vez? R: Gostei demais! (pausa) Vou te dizer uma coisa. C: Diz. R: Eu nunca tinha sido beijada. Quero ver minha mãe morta se estou mentindo. (ante a cara de incredulidade das amigas) Meu namorado foi o primeiro homem a me beijar. (pausa) E eu espero que seja o último. (pausa) E eu vou embora. Vocês me ligam. CENA 19 / no sofá da sala / TV ligada 20
  • 21. DIAS DE AMORES PERDIDOS 21 COELHO DE MORAES I: (tempo, olha as horas, meio chateada...) Fala, diz alguma coisa! (J lhe dá um bombom) I: A gente se casa com as qualidades e defeitos do noivo. (J lhe acaricia a mão)) I: Paciência. (J beija-lhe na testa) I: Meu anjo, desde que nós ficamos noivos, você ainda não disse uma palavra! (J limita-se a apertar sua mão, olhar para seus ombros, tatear os ombros) I: (longo silêncio) É algum tipo de promessa? Fala, meu filho. Diz alguma coisa. (J sorri I Mas Juventino! Você não tem uma palavra para me dizer, num dia festivo como o de hoje? Será possível!? (J a abraça de leve, beija-lhe a face, sempre numa leveza) I: Você só não é perfeito, meu bem, porque fala pouco! Eu daria tudo para que você falasse mais! 21
  • 22. DIAS DE AMORES PERDIDOS 22 COELHO DE MORAES CENA 20 / A e J na rua A: Beijei uma pequena, um beijo sem maiores pretensões, e ela só faltou subir pelas paredes. J; Essa é das minhas. Gosto de mulher assim. A: Nem oito, nem oitenta. Tomei um tal enjôo, que já não acho mais a mínima graça nela. Tô chutando. J: Que é isso? A: Tô chutando. CENA 21 / Casa de I / DE / lavando pratos DE: Vem cá, minha filha, vem cá. I: Pronto, mamãe. DE: Posso te fazer uma pergunta? E você me responde com sinceridade? 22
  • 23. DIAS DE AMORES PERDIDOS 23 COELHO DE MORAES I: (admirada) Ora, mamãe! Mas evidente! DE: Você gosta do Juventino? I: (pausa) Gosto, sim. Como não? É meu noivo, não é? Devo gostar. DE: Isso não é resposta. Quero saber se você o ama ou não. I: (silêncio) Não, mamãe. Agora eu acredito que não amo meu noivo. DE: Então, você me desculpe, minha filha, mas acho muito feio seu procedimento. Não ama e vai casar? Por que? I: Porque quero um filho. E preciso ser esposa, para ser mãe! DE: Que mentalidade! Em que século você está? Nem eu acredito mais nisso!! I: Mamãe, tanto faz que seja Juventino ou qualquer outro. O que quero, apenas, é um pai para meus filhos. Só. O resto não interessa nem me preocupa. DE: Acho esse noivado, tão sem graça, que vou te fazer uma pergunta: ele já te beijou? (pausa e I fica olhando a mãe) 23
  • 24. DIAS DE AMORES PERDIDOS 24 COELHO DE MORAES CENA 22 / R e A / na biblioteca R: Sabe que eu tive um sonho contigo? Mas não posso contar, porque... A: Porque o que? R: (maliciosa) Porque é impróprio para menores. A: (toma coragem) Preciso te contar um negócio muito sério. R: Fala. A: (enfia a mão no bolso, pega aliança e coloca em sua própria mão esquerda) R: (atônita, olham-se em silêncio) Casado? Você é casado? A: Sou casado no civil e no religioso. Pai de 4 filhos e outros bichos. Moro com minha mulher, gosto dela, não me separo nem a tiro de canhão. (R começa a chorar) Mas que é isso? Ora essa! Fiz um papel feio contigo, eu sei. Nem sei se vai me perdoar por isso... Ao seu lado eu me sinto um canalha! 24
  • 25. DIAS DE AMORES PERDIDOS 25 COELHO DE MORAES R: (apanha a bolsa, ergue-se) De hoje em diante, nunca mais fala comigo. (sai) A: (retira a aliança e bota no bolso) Foi melhor assim. Foi mais negócio, inclusive pra pequena. Chora agora mas, depois, acaba entendendo. CENA 23 / casa de DE, I e J DE: (indignada) Mas que foi isso? Voltaram por que? O filme não estava bom? J: Foi ela. DE: Mas sente-se, Juventino. (puxa a filha para outro cômodo) I: Não agüento mais! Não posso, mamãe! Quero e não posso! DE: Mas que foi que houve? I: (após uma pausa) Esse homem não fala, mamãe! Não Diz uma palavra! A senhora sabe o que é passar horas, dias inteirinhos, ao lado de um sujeito que não abre a boca? Eu acabo maluca, mamãe! No duro que acabo. DE: 25
  • 26. DIAS DE AMORES PERDIDOS 26 COELHO DE MORAES (indignada) Mas vem cá: é só isso? Não foi você que disse que só queria alguém para fazer um filho? Que interessa se ele fala ou não fala? I: (violenta) E a senhora acha pouco? Oh, minha mãe! DE: fala baixo que ele escuta? I: Que escute!! DE: Fica quieta!! Quem diz “oh” sou eu! Parece incrível que você esteja fazendo tamanho barulho por um motivo tão bobo! Sossega esse facho! I: Pode ser bobo, mas a coisa é o seguinte, eu vou dar um jeito nesse negócio, mamãe. E das duas uma: ou me separo, ou a senhora não terá filha por muito tempo! E eu não terei meu filho! (close no rosto de J, pensativo, que olha o bico do sapato) CENA 24 / A atende o telefone A: Advogados associados, pois não? ?: Gosto de você assim mesmo, de qualquer maneira, casado ou solteiro, 26
  • 27. DIAS DE AMORES PERDIDOS 27 COELHO DE MORAES com filhos ou sem filhos. Isso não me importa. A: (atônito) Pensou bem? ?: Com você vou ao fim do mundo! A: (insistindo) Olha que eu sou casado e não posso me casar. O que está feito já está feito. Você está entendo a situação? ?: Não faz mal. A: Vamos nos encontrar mais tarde. Anota o endereço. CENA 25 / C e A no quarto C: Se eu te fizesse uma pergunta, você me responderia, batata, com toda sinceridade? A: Mas claro. Qual é a pergunta? C: O que você faria, se eu, um dia, te traísse? Pergunto: o que faria comigo? A: Ora não amola! C: 27
  • 28. DIAS DE AMORES PERDIDOS 28 COELHO DE MORAES (teimando) Isso não é resposta! Vamos, fala. Você faria o que? A: (bocejando) Vai dormir, que teu mal é sono! C: (beija-o na face no pescoço e insiste) Teria coragem de me matar? A: Talvez. C: (afasta-se) Então você não gosta de mim, não me ama, é um conversa-fiada! A: O sujeito só mata porque ama, sua boba! C: Mentira! Quem ama perdoa, ou finge que não sabe. Eu só acredito em amor que resiste à infidelidade! Estou zangada com você! A: (bocejando) Vem dormir, anda, que amanhã tenho que levantar cedo à beça! C: (rosna) Você não me ama! ( e vira-se para o lado com ar zangado) CENA 26 / Sala de jantar / I, DE, J / J olha pela janela, absorto / corte para a cozinha DE: (na cozinha, como se sussurrasse, preparando pratos) 28
  • 29. DIAS DE AMORES PERDIDOS 29 COELHO DE MORAES Ainda esse assunto!Você está maluca? Isso não é defeito, carambolas! Ninguém se separa porque o noivo fala de menos! I: (buscando pratos, sussurrando sempre) Eu não posso, meu Deus. DE: Eu toparia a separação, o divórcio, o diabo, contanto que você me arranjasse um motivo decente. Mas isso não é motivo, nem aqui, nem na China! I: Como não é motivo? DE: Então não case. Tenha o seu filho mas esqueça essa coisa de casamento! I: Quando eu vejo Juventino calado, sem dizer uma palavra, horas e horas, eu penso que ele está tramando algum crime! DE: Olha! Deixa de bobagem. Seja moderninha mais uma vez! Esquece o casamento. I: Quer que eu faça o que? DE: Ora, o que! Vá trepar de uma vez e acaba logo com esse negócio I: Mas isso é muito cômico, que tipo de conselho u’a mãe como a senhora me dá! DE: 29
  • 30. DIAS DE AMORES PERDIDOS 30 COELHO DE MORAES (entra na sala, retira o avental) )Tudo certo, Juventino, o que passou, passou. Agora, você se acerta com sua noivinha... Já vou. J: Dona Eunice! DE: nem se preocupe comigo (tomando das coisas para sair) Eu sei o caminho. (bate a porta, tempo, entre a J e o corredorzinho. I surge por ali, um tanto tímida) I Oi. ( jantam / música trilha / silêncio / olhares / talheres / barulho de talheres / barulho de mastigação / bocas mastigando / engolindo É demais, meu Deus, é demais! (J de boca cheia sorri) Fala! Diz qualquer coisa! Uma palavra, diz! ( J justificando-se com a boca cheia. I enfia outra porção na boca e fala também de boca cheia) Olha pra mim. Eu estou falando assim mesmo. E daí? E daí (I levanta - se bruscamente e sai para o quarto. J se levanta, após, dando tempo e acabando a música... e a segue. A vê sobre a cama, deitada de bruços, com roupa de dormir. Ele para á porá e reflete..) CENA 27 / A num apê / toma algo / música ambiente / bossa / campainha A: (sobressalto) Não tenho direito de fazer isso. Vou desgraçar essa pequena. (toca de novo mais insistente ) A porta está aberta. (R entra, vai ao encontro dele, retirando a blusa) 30
  • 31. DIAS DE AMORES PERDIDOS 31 COELHO DE MORAES Não tem medo? R: Por que e de que? Não há mulher mais feliz do que eu. A: (segura-a pelos braços) Sua boba, eu não sou casado, nunca fui casado. CENA 28 / I e J I: (ao quase marido que acaba de chegar) Sabe quem foi o cachorro? J: (sem entender) Que cachorro? I: (explodindo) Você já esqueceu, é? Logo vi! Você não pensa em mim, não me liga, não me dá nenhuma pelota! Falo do cachorro que me mandou os versos! J: Sim, os versos! Quem foi? I: O Silveirinha! J: Tem certeza? I: É o único poeta no bairro? Toda a rua está de olho em você, esperando sua reação. Eu vou te pedir um favor. J: 31
  • 32. DIAS DE AMORES PERDIDOS 32 COELHO DE MORAES Qual? I: Você vai dar um tiro nesse descarado! J: (atônito) Tiro? I: Perfeitamente. Tiro! J: Você está pensando que esse negócio de tiro é assim? I: Você não me ama! Se me amasse, matava esse miserável! E das duas uma: ou você dá um tiro ou toda a vizinhança vai saber que você não gosta de mim, nem se incomoda comigo ou eu vou lá e dou um tiro nele! Você tem que mostrar que é homem! J: O Silveirinha é até tuberculoso! I: Você acha o que? Que tuberculoso pode desrespeitar a esposa dos outros? Você usa calças pra que? Seja homem! J: Tiro eu não dou! I: Frouxo! J: Uma surra, talvez... 32
  • 33. DIAS DE AMORES PERDIDOS 33 COELHO DE MORAES I: Frouxo! J: Uma surra! CENA 29 / I ao telefone ?: (OFF) Alô! I: Não reconhece a minha voz... ?: Quer dizer quem fala? Estou ocupadíssimo. I: Fiquei sabendo de umas coisas... ?: Se não disser o nome, eu desligo. I: (após um silêncio) Sou eu, Ismênia. (arrepende-se) ?: (transfigurado) Ismênia? Não é possível, não pode ser! I: Sou, sim. ?: 33
  • 34. DIAS DE AMORES PERDIDOS 34 COELHO DE MORAES Então houve transmissão de pensamento! No duro que houve! Imagine que eu estava pensando em você, neste momento! Agora mesmo! I: Sério? ?: Queria te dizer com toda sinceridade, que gosto de você em silêncio. Faz muito tempo. I: E ela? ?: Não liga... é uma brincadeira, um passatempo, nada mais. Você, não. Você é outra coisa. Diferente! I: (duvidando) Não sei se devo acreditar em você. ?: Te juro, pela minha mãe, que é a coisa que mais prezo na vida. Te juro que é a pura verdade! Olha, vamos nos encontrar, no parque, às cinco, ta bom?! I: Ta bom! (bate o telefone) E agora meu Deus? (reflete) Não vou , pronto. Não vou e está acabado. CENA 30 / casa de I, J J: 34
  • 35. DIAS DE AMORES PERDIDOS 35 COELHO DE MORAES (deitando-se para dormir. refletindo) Agredir tuberculoso... é espeto! Imagina se o homem tem uma hemoptise? Cospe sangue encima de mim? E se eu pego Aids? I: (vem lá de dentro, coloca a camisola no escuro) Frouxo! (deita-se de costas para J) CENA 31 / MANHÃ / casa de A / C ( A aproxima-se para beijá-la) C: (fugindo com o rosto) Não, senhor! A: Por que? Fiquei a noite toda com a cara enfiada em suas pernas e agora... C: Você pensa que eu me esqueci de sua ameaça? ( se senta na cama e cruza os braços) A: (sem entender) Que ameaça? C: Ameaça de morte, sim, senhor. Você me disse que me matava se eu o traísse. A: Sossega! ( levanta-se e pega as roupas) E até logo, que eu já estou atrasado! 35
  • 36. DIAS DE AMORES PERDIDOS 36 COELHO DE MORAES CENA 31 / / manhã / I está na cama e se acaricia I: (acordada na cama, lembrando das palavras do poeta... “braços de marfim”... “seios de neve”... – vê um vulto, acorda o J) Quero ver se você é homem! (alguém enfia uma carta por baixa da porta. I abre repentinamente e se depara com Silveirinha que fica atônito. I faz escândalo para chamar a atenção das vizinhas) Socorro! Socorro!(J aparece e dá, sem muita convicção, uma surra em Silveirinha que não reage. É um tanto covarde e murcho. I se aproxima apartando) Basta! Chega! (agride J ) Seu covarde! Covarde de merda! ( Sem dizer nada J se afasta. I ajoelha-se socorrendo o Silveirinha, abraça e beija no rosto do agredido o guarda entre os seios. Close do agredido entre os seios) Juventino é mau! Juventino não chega aos teus pés! (ela repentinamente larga do Silveirinha, que cai espalhafatoso. Vai para o quarto. J está sentado na cama com as mãos na cabeça. Ela o joga na cama, dá-lhe uns tapas e o subjuga). CENA 32 / DE e I DE: Isso não se faz, não está direito. Vou te dizer uma coisa, minha filha; na cara de homem não se bate. 36
  • 37. DIAS DE AMORES PERDIDOS 37 COELHO DE MORAES I: É justo eu ficar esperando, mamãe? É justo? DE: Não tem explicações. Pensa um pouco, raciocina: Como é que você esbofeteia o homem com quem quer ter filhos? I: (começa a chorar) Tem razão, mamãe, tem razão. E ele nem conseguiu nada. Ficou aquela coisa mole, murcha e morta sobre a cama. DE: ( DE sempre ativa nos afazeres da casa) Faz o seguinte, telefona para ele, pede-lhe desculpas, diz que foi a primeira e a última vez que isso acontece. Que você perdeu a cabeça. I: (reflete, pega o telefone e começa a discar) DE: E ele não reagiu? Não te deu uns empurrões? Não fez nada? I: Nada. DE: Olha aqui, se eu fosse você mandava o J passear. Já te disse isso! I: Por que? Ele já está à mão. DE: 37
  • 38. DIAS DE AMORES PERDIDOS 38 COELHO DE MORAES Um sujeito que leva uma bofetada e não reage, é o fim. Pra mim, não servia. É um boboca! Ou o homem é homem mesmo ou não interessa. (sai) I: (desiste de telefonar e bate o telefone. Reflete.) CENA 33 / no escritório A atende o fone que toca A: (atendendo o telefone) Advogados Associados, pois não! ?: Aqui fala a sua futura vítima. A: (sem reconhecer a voz) Que vítima? ?: Você não disse que me matava? A: (irritado) Não brinca assim. Já está chata essa brincadeira. (bate o telefone. A reflete. Toma do fone disca). CENA 34 /residência de I que atende o fone I: Alô... (num sobressalto) Como pedir desculpas? Você apanha na cara e ainda pede desculpas?... Pelo amor de Deus! Não me peça desculpas. Sou eu que vou te pedir, eu! Andei mal, mas você pode ficar certo de que... nunca mais, ouviu?... Quem deve estar 38
  • 39. DIAS DE AMORES PERDIDOS 39 COELHO DE MORAES zangado é você, e não eu... Falei com minha mãe... ela me deu uns conselhos... Escuta... escuta... escuta, meu anjo, eu merecia uma surra por ter te esbofeteado... Escuta... deixa eu falar... meu amorzinho, se um dia você me der uma surra, eu acharei que mereci, compreendeu? Te devo uma boa surra!... Se você quiser pode me bater... me bate mesmo... bate na cara... me arranha... me bate na bunda.... Aquela bofetada não me sai da cabeça. Eu acho que só vou ficar em paz com a minha consciência quando me deres uma surra! CENA 35 / residência A e C A: (chega em casa e curva-se para beijá-la) C: (recua) Sai pra lá! Não, senhor. O futuro assassino não tem direito de beijar a vítima. (ele sorri) A: (de saco-cheio) Das duas, uma: ou você acaba com essa gracinha ou eu vou me zangar muito seriamente. C: (enfrentando) Não é gracinha nenhuma. Eu falo sério. Você disse que me matava e eu considero você meu assassino. A: Quer dizer que você insiste nesse palpite imbecil? 39
  • 40. DIAS DE AMORES PERDIDOS 40 COELHO DE MORAES C: Insisto. A: (explodindo) Pois, então, dane-se. Vá tomar banho, antes que eu me esqueça! (Sai) C: Quando é que você quer me matar? A: (estourado) Quando você me trair! C: Quem sabe se eu já não traí você? Quem sabe? A: Para com isso, olha que eu estou te avisando! C: Assassino! A: (segura a mulher pelos braços) Não brinca assim que eu te arrebento. (empurra-a para a cama. Ela cai e abre as pernas) CENA 36 / I espera J chegar / está como que culpada I: 40
  • 41. DIAS DE AMORES PERDIDOS 41 COELHO DE MORAES Hoje eu tomei um ônibus e o Silveirinha estava lá... J: (atônito) Ônibus... Com o Silveirinha? I: Com o Silveirinha, sim. J: Olha, Ismênia, vou te pedir um favor... Pode ser? I: Claro. J: É o seguinte; de hoje em diante, ouviu, você vai negar o cumprimento ao Silveirinha. Ta? I: Por que, meu anjo? J: Porque o Silveirinha é um cínico, um crápula, poeta de coisa nenhuma... um canalha abjeto. Um sujeito que não respeita nem poste e que é capaz até de dar em cima de uma cunhada. O simples cumprimento de Silveirinha basta para contaminar uma mulher. Percebeu? I: Percebi. J: Pois é. 41
  • 42. DIAS DE AMORES PERDIDOS 42 COELHO DE MORAES (J vai ao banheiro lavar as mãos. Percebe que ela está calada) Você sempre quis que eu falasse, que abrisse a boca e tal... que eu não deixasse de comentar as coisas não é? Pois estou falando... (amoroso) Meu anjo, você sabe que eu não tenho ciúmes. Não sabe? I: Sei. J: Ou melhor... só tenho ciúmes de uma pessoa: o Silveirinha. E nunca se esqueça: é um canalha, talvez o único canalha vivo do Brasil, tirando o pessoal de Brasília, é claro. Todo mundo tem defeitos e qualidades. Mas o Silveirinha só tem defeitos. I: (espantada) Verdade? Da mais pura verdade? J: Verdadessíssima! Quero ser mico de circo se estou mentindo! O Silveirinha é indigno de entrar numa casa de família! (I lembra do ônibus. O Silveirnha de um lado, ela de outro, ela o olha, ele se aproxima e põe a mão na coxa de I) J: Você é muito boba, muito inocente, nunca teve outro namorado senão eu. Quer um exemplo? Sou teu noivo, de papel passado. Muito bem. O que é que houve entre nós dois, além daquela sua atitude violenta? Hein? Tirando aquilo... o que ouve? Uns beijinhos, só. É ou não é? I: Lógico! J: 42
  • 43. DIAS DE AMORES PERDIDOS 43 COELHO DE MORAES Eu ainda acho que devemos no casar... Figuremos a seguinte hipótese: que, em vez de mim, fosse seu namorado o Silveirinha. Você pensa que ele ia te respeitar como eu te respeito? Duvido! Duvido! Silveirinha não tem sentimento de família, de nada! Acho até que é comunista! Parece impossível que existam homens assim. Vou te dizer mais: o Silveirinha olha para uma mulher como se a despisse mentalmente! (close no olhar do Silveirinha e o texto abaixo mostrando o olhar do Silveirinha dançando pelo corpo de I). I: Eu estava na cabeleireira, e estavam falando do Silveirinha... J: Claro... do pulha todo mundo fala... I: Eu falei que tinha ouvido dizer que ele deu em cima de uma cunhada! J: Exato... Um verdadeiro monstro... I: E me disseram que o Silveirinha não tem cunhada! J: (defendendo-se) Eu não disse que o Silveirinha deu em cima de uma cunhada. Eu disse que daria! daria! caso tivesse. Você entendeu mal. ( Vai para a sala tomar café e I o segue) De qualquer forma eu vi aquela besta com outra! I: Já me arrependo de querer que você falasse. 43
  • 44. DIAS DE AMORES PERDIDOS 44 COELHO DE MORAES J: Vocês mulheres, parece que gostam dos canalhas! I: (irritada) Fala menos nesse Silveirinha! Sabe que agora eu só penso nele? Te digo mais: tenho medo! J: (obstinado) Medo de que e por que, ora essa? I: Essas coisas impressionam uma mulher. Não fala mais nesse cara! É um favor que te peço! J: (incisivo) Falo sim, como não? Você precisa olhar o Silveirinha como um verme! I: (suspirando) Você sabe o que faz! J: Conheço o sujeito desde criança. Sempre moramos no mesmo bairro. Ele , com aquela cara de sonso e fazendo uns poeminhas vagabundos, roubou todas as minhas namoradas, menos você!(pausa) Me dá um abraço. I: Calma. Primeiro você vai fazer uma coisa. J: O que? I: Você vai me dar uma surra! 44
  • 45. DIAS DE AMORES PERDIDOS 45 COELHO DE MORAES Ou me dá uma surra ou não terá nada de mim... nem beijo nem nada! J: (confuso) Mas surra, como? Que surra? Só quero um abraço. I: (com um chicote pego na gaveta) Dei uma bofetada no meu namorado, agora quero apanhar do meu homem. (entrega-lhe o chicote) Anda, bate! J: Mas isso é loucura! I: É... você foi promovido... é meu homem. J: Para com isso. Uma criancice! I: Não seja frouxo... bate! J: Onde já se viu? I: Você me falou tanto no Silveirinha que me excitou... Ou a surra ou não haverá nada entre nós dois. (J sem jeito ensaia duas lambadas) Mais forte! Mais forte! Mais, mais! Não para! Você é frouxo? (J cansado, bate, mas, larga o chicote) 45
  • 46. DIAS DE AMORES PERDIDOS 46 COELHO DE MORAES I: (atira-se nos seus braços) Agora, posso te beijar e você pode fazer o que quiser de mim... me beijar... (ele bruscamente se retira e vai para o banheiro. Ela se aproxima e houve sons de masturbação). CENA 37 / R e A R: (abraçando-o) Você seria capaz de me trair? A: Isola! R: (insistente) Seria? A: Que conversa é essa? R: É que uma amiga minha disse que o marido fiel nasceu morto! A: Eu não sou seu marido... mas, por que você vai atrás dessa bobalhona? Vai ver que essa tua amiga não passa de uma jararaca, uma lacraia, um escorpião! Deve ser dessas barangas que têm complexo de mulher traída 200 vezes por dia. Vai por mim que é despeito! CENA 38 / C e R / Salão R: 46
  • 47. DIAS DE AMORES PERDIDOS 47 COELHO DE MORAES Não pense que sou boba, não. Se eu digo que meu namorado não me trai é porque tenho base. C: (admirada) Como base? R: (entusiasmada) Pelo seguinte: eu sei tudo o que meu namorado faz, tudo. Entra dia sai dia e o programa dele é este; de manhã, vai para o emprego; ao meio dia, almoça em casa, depois emprego e, finalmente casa. Nunca telefonei, em hora de expediente, que ele não tivesse lá. Mesmo que ele quisesse me trair, não poderia por falta de tempo. C: (suspira) Ah, Rosinha! Sabe qual a pior cega? A que não quer ver. Paciência. R: (explodindo) Ora , pipocas! Cega onde? Então quero que você me explique: como é que meu namorado pode ser infiel se está ou no trabalho ou comigo? Você acha isso possível? C: Acho. Me perdoe, mas acho. CENA 39 / I e DE ao telefone I: Mamãe, já se passaram quinze dias desde que... consegui as... sementes... para o meu filho mas, eu não estou sentindo nada. DE: (achando graça) É cedo, minha filha! Calma minha filha... 47
  • 48. DIAS DE AMORES PERDIDOS 48 COELHO DE MORAES Por enquanto, não há novidade. CENA 40 / na praça cheia de árvores A: Te vi, no máximo, umas oito vezes talvez. Falei contigo pouquíssimo. Mas, assim ou assado, o fato é que te amo, te amo e te amo R: E o dia em que todos souberem de nós? A: Ficarão, certamente, muito surpresos! CENA 41 / no quarto / I e J J: Gosta de mim? I: Mas claro! Duvida? J: Muito? I: (se fazendo de apaixonada) Demais! J: Eu também te amo, te amo e te amo. És tudo pra mim, tudo! Silveirinha: (gritando da rua) Ismênia, minha vida! Ismênia, minha paixão? J: 48
  • 49. DIAS DE AMORES PERDIDOS 49 COELHO DE MORAES (para I) Eu sou o sujeito mais feliz do mundo! (em separado) Ismênia é fabulosa, mas esse crápula tem morrer! Silveirinha: Minha pequena musa! Flor dos meu sonetos! I: (em clamores) Vem chispando! Vem! (deita-se na cama quase arfando) J: Mas o que foi? Conta o que foi? I: Agora não posso, não posso! Vem! Vem! (levando-o de canto enquanto ouvem os lamentos do Silveirinha) Vamos conversar aqui. J: Estou apreensivo, meu bem... o que foi? I: Eu tentei, meu anjo, eu tentei... J: Já nem ligo pro Silveirinha, viu? O coitado... I: O nosso casamento... o nosso casamento é impossível, ouviu? J: Impossível como? Que piada é essa? I: A nossa vida juntos é impossível. J: E por que impossível? 49
  • 50. DIAS DE AMORES PERDIDOS 50 COELHO DE MORAES I: Pelo seguinte... não fique nervoso... eu gosto de você, mas também gosto de outro, oh, meu Deus! Eu me excito quando ouço a voz do Silveirinha... Nunca pensei que se pudesse gostar de duas/três pessoas ao mesmo tempo. Mas pode-se, agora eu sei que se pode! J: (após um silêncio) Que é isso. Que falta de compostura! Diz coisa com coisa, meu anjo. Você gosta de mim. Muito bem. E gosta também de outra pessoa? É isso? (I faz que sim com a cabeça) Pensa, raciocina. Não tem o menor cabimento. Ou você gosta de um ou de outro. De dois é que não pode ser. I: Pode ser, sim. Hoje eu já acho que qualquer mulher pode gostar de dois, três, quatro, cinco, ao mesmo tempo. Ou de duzentos, sei lá! J: (após um silêncio. perplexo) E quem é o outro? I: Pergunte tudo, menos isso. Isso, não! Isso eu não posso responder! J: O nome, eu quero o nome! Quem é o camarada? Fala! I: (após um silêncio longo) É o Almeida. J: (indignado) Quem? I: 50
  • 51. DIAS DE AMORES PERDIDOS 51 COELHO DE MORAES Almeida, sim! Seu irmão! J: (sacudindo-a furioso ) Responde! Por que, entre tantos homens, escolheu meu irmão? Por que não me traiu com outro? Por que? I: Eu não o trai... não houve nada... só houve um beijo, só... foi o máximo, juro!... (ele a solta) Escute o resto. Eu não posso viver sem você, não posso viver sem ele! J: (atônito e descontrolado) Isso é doença, tara!! Cínica! Cínica! CENA 42 / C e R / terminando o cabelo C: Muito bem. Esses dias todos conversamos muito sobre o assunto, mas eu vou propor para você uma solução. R: (pegando o dinheiro da bolsa) Do que é que você está falando? C: Uma pergunta. Cadê teu namorado? R: Foi ao futebol. C: No estádio da cidade? R: Sim. Aqui perto. 51
  • 52. DIAS DE AMORES PERDIDOS 52 COELHO DE MORAES C: (insinuante)Já vi tudo! Você diz que teu namorado ou está contigo ou no trabalho. Muito bem. E aos Domingos? Ele vai ao futebol e você fica! Passa a tarde toda, de fio a pavio, longe de ti. É ou não é? R: Mas ora bolas! Quer coisa mais inocente do que futebol? Inocentíssima! C: Pois sim! E se não for futebol? Ele diz que vai. Mas pode ser desculpa, pretexto, não pode? Claro! R: Nem brinca. C: (sugerindo) Vamos lá tirar isso a limpo? Vamos? R: Não vale a pena, é bobagem! C: (baixando a voz) Está com medo? R: (em baixo tom) Medo por quê? C: (instigando) Não custa, sua boba! É uma experiência! Nós vamos lá pedimos ao auto-falante para chamar o teu namorado. Se ele aparecer, muito bem, ótimo. Se não aparecer, sabe como é: estará aí nos braços de alguma loura. Topa? R: 52
  • 53. DIAS DE AMORES PERDIDOS 53 COELHO DE MORAES (após um silêncio. decidida) Topo! C: Hoje eu não posso. Tenho muita cliente! Mas na semana que vem eu nem marco e a gente combina. Ta? CENA 43 / reunião de mulheres em um bar / lanchonete / L, R, I, C, L: Viram o novo professor? C: Que tal? L: Bacanérrimo! C: Moço? L: Mocíssimo! R: Uau! Parece que você está muito entusiasmada! L: Tem uns olhos... Impressionantes! I: É mesmo? É novo no bairro? L: Pois é, pois é. Parece que veio de seus estudos lá fora. 53
  • 54. DIAS DE AMORES PERDIDOS 54 COELHO DE MORAES C: Dá aula de que? L: Letras. Letras e Filosofia. Ele está causando uma paixão coletiva no colégio R: É mesmo? L: Palavra de honra! C: Casado? L: parece que não. Solteiro! Pelo menos não usa aliança. (entusiasmada) E pra teu governo: ele é meu, tem de ser meu. R: Mas olha que tem gente assim dando em cima dele. L: (confiante) Não interessa! E toma nota! Há de ser meu. Será meu... todinho meu... (entra Silene) S: Olá gente. (cumprimentos gerais) Como vão todas? (para I) Essa criança nasce ou não nasce? I: Estou fazendo de um tudo. Mas a doutora ainda não disse nada. 54
  • 55. DIAS DE AMORES PERDIDOS 55 COELHO DE MORAES S: Dona Dulce vai bem? (I acena que sim). O namorado, Rosinha? Jogando muito futebol? R: Vocês me importunam com isso, mas eu já combinei com Cecília e vou tirar a limpo para vocês, não para mim, que eu sei... Todas: Onde sentei a minha bunda! (riem). S: Novidades? C: Lúcia parece que se apaixonou pelo novo professor. S: Mas olha... eu fiquei sabendo... Sabe da última? Casado. O homem é casado. L: (após um silêncio, desabafa) Que cretino! S: Caso sério, caso sério! L: Mas ele há de me pagar. S: Pagar o que? Quer saber mais? A esposa dele vai ter neném. L: 55
  • 56. DIAS DE AMORES PERDIDOS 56 COELHO DE MORAES (apática) Você viu? Como é que você sabe dessas coisas? C: Calma, Lúcia, ela só está contando. S: Ah! Eu vi... Vi, sim. L: Ela é bonita? S: Mais ou menos. Mas tem um corpaço. L: (questionando) Explica uma coisa: por que é que ele não usa aliança? S: E eu sei lá! Isso é lá com ele. L: E se tudo isso for golpe teu? Mentirada tua? S: (zangada) Ora, não amola! Golpe por que? Pra que? Tenho nada com isso! Que graça! L: Quer saber de uma? Não vou desistir dele coisa nenhuma. O homem é casado mas, pode separar-se ou ficar viúvo. (sob os olhares das mulheres) Se é que é casado. S: (espantada) Eu não sabia que ia deixar você assim... tão transtornada... 56
  • 57. DIAS DE AMORES PERDIDOS 57 COELHO DE MORAES C: Mas é melhor saber antes. S: Eles se dão muito bem, se gostam muito! L: (taxativa) Ninguém sabe o dia de amanhã. Não é o primeiro que fica viúvo! (remoendo-se) Cínica, cínica! Você está mentindo. É isso! S: To não! Só conto o que me contaram. L: Só pode ser isso! Tem que ser isso! Preciso conversar direito contigo! (L puxa S com violência, saem de lado) Sua mentirosa! Aposto que ele não é casado, nunca foi casado! Você me tapeou! Mas deixa estar que eu te pego! S: (atônita protesta) É casado, sim! Eu conheço a mulher dele! Vai ter neném! (olha em volta e vê, na rua, uma mulher grávida passando) Espia, espia! (apontando) É ela! É a mulher do professor! L: (sai do local aproximando-se da grávida) I: mas, o que é que essa maluca vai fazer? L: Quer que eu a ajude? 57
  • 58. DIAS DE AMORES PERDIDOS 58 COELHO DE MORAES R: (as mulheres olham, de longe) Estão conversando? L: Eu ajudo a senhora a atravessar a rua... C: Estão atravessando a rua? Vai ver que Lúcia a convidou para uma cervejinha... ( L desvencilha-se da mulher e a empurra. um caminhão a pega em cheio S: (pálida grita para a outra, segura pelas demais) Eu menti. Não é mulher dele não... Fiquei sem jeito e menti... (cai em prantos) L: (cai desolada no chão, de joelhos, com os olhos parados) S: (aos gritos) O Silveirinha não é casado... ele não é casado. CENA 44 / casa de I, J, ela tomou umas e outras I: Você não tem ciúmes de mim? J: Não. Só do... I: Por que? J: 58
  • 59. DIAS DE AMORES PERDIDOS 59 COELHO DE MORAES Porque te amo. Te respeito... te venero... I: Eu preferia que tivesse ciúmes de mim. J: Ué! I: Sem ciúmes, não há amor! J: Parece criança! I: E se eu te traísse de uma vez ? Você faria o que? J: (sóbrio e um ar santo) Te perdoaria. I: Se sabe que eu gosto de outros homens, agüenta assim mesmo, não é? J: Não acredito nisso. Acho que você quer me irritar. I: E se eu te traísse e voltasse a trair? J: Se continuasse traindo, eu continuaria perdoando. Afinal é comigo que está morando. I: (um pouco alterada) Você não é homem! 59
  • 60. DIAS DE AMORES PERDIDOS 60 COELHO DE MORAES Se fosse homem, eu não faria você de você gato e sapato! J: Vamos parar com isso, meu anjo? I: Nem aceitaria que eu dissesse tudo isso. Se fosse homem ia embora. (I sai do local e deixa J cabisbaixo).) CENA 45 / ESTÁDIO / C e R R: (a caminho do estádio. adverte) Isso que você está fazendo comigo é uma perversidade, uma malvadeza! Vamos que o meu namorado não esteja lá. Já imaginou o meu desgosto? Você acha o que? Que eu posso continuar saindo com o meu namorado, sabendo que ele me traiu?... Tenho medo! Tenho medo! C: (justificando) Estou até te fazendo um favor, compreende? R: Se ele não estiver lá, eu me separo! C: (espantada) Separar por que? Quer saber duma coisa? A única coisa que justifica a separação é a falta de amor. Acabou-se o amor, cada um vai para o seu lado e pronto. Mas a infidelidade, não. Não é motivo. A mulher das boas, confiante, é a que sabe ser traída. 60
  • 61. DIAS DE AMORES PERDIDOS 61 COELHO DE MORAES ( Corte para auto falante) VOZ: Atenção, senhor Almeida Pereira! Queira comparecer com urgência, à superintendência! C: Almeida? Teu namorado se chama Almeida? VOZ: Atenção, senhor Almeida Pereira! Queira comparecer com urgência , à superintendência! C: Almeida Pereira? VOZ: Atenção, senhor Almeida Pereira! Queira comparecer com urgência urgentíssima, à superintendência! R: (lamentando) Sempre pedi a Deus para não ser traída! eu não queria ser traída nunca! (segurando Ceci pelo braço) Eu podia viver e morrer sem desconfiar. Por que me abriu os olhos? Por que? C: (desiludida e deprimida) Não te disse? É a nossa sina, meu anjo! A mulher nasceu para ser traída! R: Eu não precisava saber! Não devia saber! 61
  • 62. DIAS DE AMORES PERDIDOS 62 COELHO DE MORAES (C vira R para si e deita uma bofetada nela. Nisso as duas rolam pelo chão em briga descabelada. Câmara se afasta). CENA 46 / I e J no consultório da doutora I: (resmunga) Todo mundo tem filho. Será que só eu que não? Parei contigo! J: Vamos esperar, meu anjo. I: (choraminga) Você sabia, porque eu lhe disse, que eu não o amava. Casei-me para ter um filho! Só. E será que eu não vou ter essa sorte? J: Vamos esperar mais um pouco. I: Se não me der esse filho, eu vou te odiar até meu último dia de vida. (doutora entra com papeis) I: E então doutora? DOUTORA: (suspira) Nada. I: (tirando suas conclusões) Será que nosso sangue não combina? (taxativa). Doutora? Será que não é ele que tem sangue podre? Eu quero saber se ele pode ou não pode ter filhos. 62
  • 63. DIAS DE AMORES PERDIDOS 63 COELHO DE MORAES J: (pálido) É preciso mesmo? (após um silêncio) Eu não preciso ir ao médico... D: O sr. Juventino já veio aqui fazer exames e... descobrimos que ele não pode ter filhos... pensei que tivesse contado para a senhora. J: Não posso ter filhos! Não posso!...(chora) I: (pasma. pausa) Tomarei minhas providências. (sai batendo a porta) CENA 47 / Apartamento / A e R A: (encontra R no apê de sempre... ela está nervosa) R: (cheia de hematomas) Me beija! Me beija! Ela me bateu! A: (sem falar nada, aproxima-se e dá-lhe uma bofetada que joga R ao chão) R: (de joelhos abraça as pernas de A, chorando) Esperei tanto por essa bofetada! Agora eu sei que você me ama e agora eu sei que posso te amar, descontroladamente! 63
  • 64. DIAS DE AMORES PERDIDOS 64 COELHO DE MORAES CENA 48 / HOSPITAL / DE e J DE: (encontra com o genro, abraça-o) Até que enfim! Parabéns! J: (espantado) Parabéns por que? DE: Soube que Ismênia vai ter nenem! J: (deixa a sogra falando sozinha e sai chispado) CENA 49 / I E J / casa J: Sabe que eu te amo muito? Que te amo cada vez mais? I: (tremula) Eu também... (ressaltando) Mas, não só você... Mas você não vê que esse amor é impossível? Nem, sei se te amo mesmo. J: Por que esse amor é impossível? I: Por que? I: 64
  • 65. DIAS DE AMORES PERDIDOS 65 COELHO DE MORAES Por que não pode dar certo? Pelo seguinte: eu sou uma criatura que perdoa tudo. Para mim, só uma coisa tem importância; a fidelidade. Compreende? (enxugando uma lágrima) Eu, se traísse uma vez, uma única vez, não poderia olhar nunca mais a mulher amada. I: Eu não tenho esse problema. Entende a diferença? J: E teria que morrer, ouviu? Depois da traição, eu teria nojo da vida! Eu teria que morrer. (obstinado) Você há de ser minha! Há de ser minha! I: Tua? Nunca! (pausa) Eu seria tua, sim, se me matasse depois. Só assim! J: (segurando a mão dela) Quer um pacto de morte? Escuta: tenhamos uma tarde, uma noite de amor, e, em seguida, a morte, compreendeu? Eu morreria mil vezes para viver uma hora, meia hora contigo! Quer? Seria lindo, não seria? I: (delirando) Amar e morrer... Sem ereção? J: Quer morrer comigo? Deve ser fabuloso morrer contigo! I: (fascinada) Quero sim. Quero... Mas vamos amar sem ereção? J: (põe a mão na boca dela, arruma a colcha, se deita e diz) Amanhã. 65
  • 66. DIAS DE AMORES PERDIDOS 66 COELHO DE MORAES ( I está boquiaberta, olhar perdido) CENA 50 / A recebe I CENA 51 / o hospital (Almeida entra no quarto de C. Ela está muito mal) A: Que negócio de briga de rua é essa? C: tenho que falar. A: Você foi esfaqueada? C: Preciso te contar. A: Pegaram a pessoa? Quem te fez isso? C: Almeida! Eu quero dizer... eu traí você. A: O que (sorri sem graça). C: Eu traí você... Muitas vezes... você nunca soube... espero seu perdão... (A olha para ela. Se olham. A olha para os lados e aperta a garganta de C. 66
  • 67. DIAS DE AMORES PERDIDOS 67 COELHO DE MORAES CENA 52 / Casa de I e J / A vem junto mas não entra logo J: (abraçando I, quando ela chega. ) Eu tenho esses três caminhos a escolher: Ou mato o meu irmão; ou mato você; ou me mato. I: Matar?... Morrer?... (após uma breve reflexão segura-o nos braços) E se morrêssemos, todos? Eu, você e ele? J: Com veneno? I: Sim... Veneno... J: Já que esse amor é impossível... I: ... que nos importa a vida? J: Quer morrer comigo? Quer? I: Contigo e com teu irmão. Os três! J: Como? Ele está aqui? 67
  • 68. DIAS DE AMORES PERDIDOS 68 COELHO DE MORAES I: Está. (ela faz sinal e Almeida aparece) Eu sei, ouviu? Sei que ele vai querer, tem que querer!... E se morrêssemos amigos os três, juntos...? J: (Ela vai ao bar, enche os copos, entrega-os) Vamos beber ao mesmo tempo I: (beija um depois o outro chamando ambos de “meu amor”. bebem. após alguns segundos a única que cai é I. com o copo vazio e assombrada) J: Só a taça dela continha veneno. (debochando) Sempre bebia no mesmo copo verdinho. FADE para o velório. CENA 53 / velório / A e J e outros / As coroas se aproximam / entregadores J: (se aproxima da coroa, toma papel e lê à meia voz) “À inesquecível Ismênia, com todo o amor, de Otávio”. (mais alto) Otávio? Quem é Otávio? ( muito alto e repetindo enquanto DESVANECE) Vocês conhecem algum Otávio? Quem é Otávio? (pula no caixão e tenta enforcar desesperadamente a morta) 68