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tratados a tapas e flores, letras dando desculpas e
se escapando em palavras. Com o perdão da Palavra
se nomear leitor e poeta, de frente com agora.
Ler com graça que é só brinquedo.
Tira de mim. Pinturinhas em quadrinhos.
Je ne suis pa Charlie, mas eu gosto de gibi.
Eu sou daqui, eu sou aquele lá. O melhor lugar
do mundo é onde a poesia mora. E agora?
2020 Conde, PB, Brasil
(este produto é predestinado a maiores de 360 graus)
2021 é ontem.
APRESENTAÇÃO
5
A transbordelia não para!
Arquivo de Rachados e perdidos apresenta:
Enchente de tiras e fatias de um mim
Um eu e um autor
Uma poesia que taí por aí
Que faz que hai mas não kai
Dedico esta tira, este pedaço, esta parte
A minha parte mais forte:
Amigos de arte
família e sorte
Obrigado por ser horizonte
E bússola
E norte
DESCULPE A PALAVRA, É TUDO O QUE TENHO.
7
Quadro a quadro
lembro
o que quero e
abocanho o escafandro
Que tal um poema assim
quadrinhos em tiras
tiras de mim
mim tirinhas
IMPROVIDENCIA
8
22/04/2013
Do erro ao belo
eu tempero
um elo
Mantenha o respeito
aos moleques
As glórias
às virgens puríssimas
e às canalhas malditas
vida longa às malditas
glória glória à maldição marginal em vossas entranhas
Reverencie os passos
um a um
todos
respire fundo
pronto, nada mais. Nada , nada importa mais.
9
o resto é pretexto inconveniente
que os vizinhos arranjam
pra se sentirem mais vizinhos
pra se sentirem gente de bem
pra se sentirem bem como gente
avizinharem-se do humano
dar aquela averiguada
e amaciar a fronha com a autossatisfação
de sangrar os próprios sonhos com a lâmina fina
navalha assassina
que portam na língua
e afiam no desgosto assalariado que veio de lotação
da zona norte à zona sul
aquele calor
aquela gente triste
aquele mau humor, manja?
10
coisa de primeiro imundo
ao persistirem as vozes atrás da porta
e os pescoços nas paredes
livre-se deles
leia um livro
meu
Ataca meu íntimo
detona meu ego
arranca minha identidade
perturba de um tanto
que tudo é muito
alcança sempre o que eu mesmo não posso
e o sonho que eu sonho vira nosso
e a linha da vida nós
e o tempo
11
tão pouco
e o jardim me pergunta
será que já choveu?
tão pouco
tão pouco
eu volto pra cama
SOBRE ANIMAIS SELVAGENS
no lampejo de um piscar de olhos na hora do susto
um beija flor atravessou do quintal do vizinho
por entre as flores de maracujá doce
e bateu de frente
com a ambulância do SAMU
que passou a mil
para prestar socorro a uma vítima de violência doméstica
12
nas previsões do passado
eu seria sócio
e o sertão
vai virar mar
tudo secou
tudo errado
serrado
caso encerrado
a vida
contem tudo
em doses de gigantes
13
no presente do indicativo
impretérito
perfeito do imprevisível
eu sou a alegria em mim
e dispenso as alegorias tristonhas da sua miopia
gótica suburbana esquizofrênica histérica
tire suas mãos de mim
tire as algemas
tire os carrapatos por favor
onde eu não os alcanço é onde eles mais sugam e não cansam
nas memórias do futuro
sob as lápides sob outros sob injurias calunias
e
ai ai, amigos, amigos meus, quem me dera
14
sob prantos
causarei angustia e espantos
por clamar a vida até nesse seu estimado
adorado
querido
santo
sagrado
bem vindo
seu jardim seu
seu cemitério
É mesmo tão sério
Rir na cara do mistério?
Ora, não me julgueis, civilizações incansáveis
sou de uma era
que já era
15
boreal aurora de um novo ciclo
tua rua é um rio raro
limpo
quando teu rosto sorri dormindo
sei que tua alma anda me vendo
barro da minha costela
couraça de vida plena
tempestade de aquarela
sois sóis
sobre minhas costas
reais
não é meu
que
nem eu sou
16
soa forte em teu pulso
tambor
tudo que aponto para o futuro
são lápis
de cor
17
POEMA RESERVADO AO PROGRAMA ELEITOREIRO JABÁ EM FOCO NA
LEI NOVEMILECARALHADAFODA-SE 0.An0 SEGUNDO O ESTÁ TUDO
ASSIM POR CULPA DO FIDEL DESSE MESMO TIPO DE GENTE QUE
JOGA LATA NA RUA E ESPANCA SE FOR BIXA E AMA SE FOR
IMPORTADO.
18
Dentro de instantes
Seu interesse em leitura
pode ser arrebatado
pela buzina do caminhão de medicamentos roubados
ou de um poeta marginal
escrevendo com a própria língua
e voltaremos
quem sabe
um dia
ao normal
65% dos brasileiros são homens e mulheres.
os outros 35% são mulheres e homens.
83% do brasil está enganado. 13% dos entrevistados tem
perdido cabelos
pesquisas científicas revelam:
pesquisas são balela 100% dos casos em que são amplamente
19
divulgadas.
estudos indicam que 100% dos brasileiros diz
estar correto sobre o que leu nas ultimas pesquisas.
75% de uma banana é igual às opiniões volúveis,
insolúveis e involuntárias
das pesquisas mais recentes
boa parte do planeta é de água poluída
estudos revelam
que o que interessa
continua um mistério.
leituras revelam.
o amor é uma coisa boa.
13% de 66,6% dos meus preconceitos são irrepreensíveis
pelo estado.
20
99,9% de mim não tem medo.
1% de tudo que invisto
tem coragem de não representar nada e viver bem com isso
de nunca emitir opiniões muito precisas
estatisticamente calando
?.
...
?.você é a favor ou contra
a interrogação no final da frase
pesquisas apontam
a direção contrária
21
vigilância sanitária
santuário ambulante
tire a dengue do quintal
mas não a poça da gente
a poça é de suor e poesia
derramado no sol da tarde de ontem
depois do samba
depois do culto
depois do rap
depois do baile
depois da novela
depois do escandalo
depois do tiroteio
depois do acidente
depois do imprevisto
depois de amanhã
22
depois da margem - ali no transbordo
do bordel transpiracional
transbordel
linguajar inapropriado para menores de pormenores
destaque pra goteira na pia,
pra uma mijada na areia com formato de coração
pro cheiro do primeiro peido
em lugar público fechado
poesia estilhaçada na testa
poesia grátis e, por isso mesmo,
vagabunda!
ahn?
qualé?
sei lá...
23
vigilância sanitária
pra catar piolho em poema
e mascar entre dentes ranzinzas
hoje não
hoje nao.
eu escrevo aos indecentes
e eles não me dão ouvidos
hoje eu lhes arranco as orelhas
e enterro em poesia fofa
para brotar um futuro maldito
lisérgico como mil orgasmos
24
matuto:16/03/2012
mamãe sempre que dizia
ande em boa companhia
mamãe não sabia
que boa companhia que se preze
exige que se reze
e te vigia noite e dia
e ainda sugere às vezes:
sorria!
hoje
eu ando só com a poesia
e cachaça pra dois
se a noite estiver fria
25
COMPLEXO DE NERO
(um blues kami-quase para meu cigarro)
preteja o cinza o céu
chove
as outras cores sou eu
bato às costas meu companheiro
se comove
e chora
suas lágrimas brancas que sobem meu rosto
o único
infalível
que trago
26
no peito
sujeito inflamado
incandescente candura
dentes sujos e alma pura
me avisa por telepatia
de sua cabeça quente
à minha
oca e vazia
dos males da amizade
e dos benefícios dos ausentes
mais um hambúrguer
chia numa chapa quente na esquina da consolação
e a filantropia saltita nos orçamentos publicitários
premiados do ano
27
classificação adultera 500 anos
categoria: censura e verossimilhança dos estereótipos
meu melhor e mais sincero amigo
me custa os olhos da cara
rego-lhe a goela
e arrasto seus pés inchados
re calo-me
re colo -
na cama
revolto e inflamado
preso em um quintal
em obras
reformas em mim
28
meu amigo
está pela hora da morte
enfim.
apagou.
recolho-me, que
em questões fúnebres,
reconheço-me,
sou conservador.
29
quando acendo
apago
ascendo
e vago
30
Que candura!
Estudantada dócil
Em plena ditadura
Que brancura, que clareza!
A mão invisível
caçadora
esmagando a presa:
Que beleza! Que textura...
Assina também, Excelentíssimo, esse papel
Pra lembrar que a vida é dura
Autoriza, ó magnânimo
31
a cagada d'outro ano
sindica , sindica tudo
muito agrada à criadagem ver que
ao menos agora
tens com toda tua imbecilidade
um plano...
a preguiça
são os calos que pesam
arqueando o tronco
fruto da curva sinistra
que o chicote percorre no lombo
metáforas a fora
aforismo suado
32
soa a fome
agudo.
o que assusta não é o barulho da bomba
é o próprio medo
- então não ouvistes a morte?
- choro a vida dos que sorriem
dormindo contentes
abraçados com o próprio açoite
e à noite
sonham surras menos doídas
que suportem de olhos abertos
pra assistir o sol poente
choro a gente
que se some no horizonte
e nunca
33
nunca vive no presente
de milho eu uso o grão e as folhas mais secas
na tua rede sugiro um futuro tétrico
na tua saia eu declamo às escondidas
na tua luta eu perpetuo um coice homérico
no meu tempo eu me seguro pouco
no nosso, quando posso
e ouso ser franco
eu sou poesias lindas
34
aos vícios e vinicius
aos imorais e de morais
demora mais
gente de nome e de reputação
a zelar a zelar a zelar
gente de azar
pra mim -
que sorte não ser importante...
a poesia é um instante
35
termoquimicamente falando
ando às tontas com um tal aconchego
que transcende acima de tudo
meu senso incomum das horas
vivo cheio de ih agoras
mas rio frouxo
se simples me queixo
mas és tu
que ignoras
oh! oh! oh!
rimas
e ris
eu grito
feliz
36
ó pobres almas atormentadas por teus sexos
seus grunhidos concavo convexos
distorcem os reflexos
das opressões e desleixos
que alimentam teus complexos
não fique tão pasmo
um orgasmo é um orgasmo
e um abraço é o começo
independente
37
livre
de amor
de amizade
de pena
de vontade
hetero homo bi
polar
isso tudo é invenção
que importa é a tesão
e que não seja esse seu famoso
abraço de urso
que aí, não vale nada.
é só grunhido.
38
Enquanto um poema fala
O burro
Urra e geme
Grita
Goza
E até escuta com as orelhas
O poema não requer inteligência nem hierarquias
Não cobra ingresso
O poema não determinou o traje nem imprimiu convites
Não precisa tirar senha não
pode ser o que está
pode ficar como é
Enquanto um poema fala
Outros milhões de poemas
Sussurram e cantarolam como um coral de anjas nuas
Enquanto um poema fala
Eu não consigo pensar em mais nada
39
coletivo e público
o rebuliço do medo inunda o mundo
precário como o resto
e mudo
os ricos
cervos corretos
não se valorizam
nem economizam
suas vidas carentes
não são nem
vinte centavos
gastam tudo com bobagens no recreio
pobres diabos
desassistidos escravos
guardam o troco
para ajudar no gás
que ferve inflando
um poema
lacrimogênio
40
Prorrogado o prazo
Confirmo o atraso
Calculo os danos
Ciente do arraso
De no fundo ser raso
Ser o que somos
Tantos anos
Nesse banzo
Paro e penso
Que viver é o que mais faço
Porque no fim eu acho fácil
Difícil é suportar a catinga de morte
E a descarga de tédio
Que borrifam no meu quintal
Por volta das 07:15 da matina
41
O resto
eu tiro de letra
Molotov fields forever
ME FODE!
ASS:
PAREDE
42
ó mans, boys, caras, neguins...
gringolandia que me fere:
forasteiro em meu próprio horizonte
e sempre, onde quer que eu ande?
Homens,
terra estranha de um só
onde estou eu me habito
e me ocupo em encontrar onde
há mais sós e humanidades
antes de mim veio um mundo
e além está o resto
dele me sirvo e m'esbaldo
caldo de sul e nordeste que alimenta um planeta
43
que eu inventei
estrangeiro extraterrestre intrahumano suprasereno
megalomatranquilo
respiro
e penso
que é tudo que me faltava
44
o silencio que me destes
era destes
que não duram
mais um pouco e a vida é dura
mais um tanto e a vida inteira
mas teu medo de ser gente
e aprender a ser amiga
pisa o sonho e esmaga
o tempo como formiga
o silencio que reclamas
sobre os meus erros que te ferem
não adere ao teu discurso
e cai
a cada ruído
em desuso
45
quando a vida inteira é pouco
todo agora
é lucro
Mistério da foto mutante
o cinema é mais adiante
mais real do que a vida
tem só passagem de ida
quem topa
vai
e dói
na quina
o cinema e o mundo
fazem esquina
46
quando tudo estava no brejo
a vaca atolou por cima
mentindo pra mim seu desejo
e as juras que me fez na lama
sagrada vaca profana
que do fundo ainda teus cornos vejo
esqueceste tua alma na minha cama
e a verdade foi toda
num único beijo
Querem todo
Todo sangue
Todo suor eles
Sugam
Mas o meu
47
Com raiva e loucura
Malditos vampiros
Senhores sujos
Não escorre mais vermelho
Meu sangue, senhores vampiros
Não é azul como esperavam
Malditos sujos
Meu sangue, senhores malditos
Pasmem
é translucido, cristalino
carregado de todas as asas
disparando todas as cores
O meu
Sangue foi o primeiro que transbordou
O
48
Meu sangue, malditos vampiros sujos
Não será tirado de mim
O meu sangue está em toda parte
predomina em minha consciência um agudo frequente
como um apito em águas profundas
ou tuas relinchadas vaidosas
haverá terremotos e copas olímpicas
em terras mansas de mais
eu não suporto profetas mas digo:
haverá areia, sombra e amor
enquanto eu me permitir
e seu julgamento, criança de sonhos ilesos,
49
é o de menos
eu te amo
mil beijos
até um dia
veremos
PS: Vamos
Ass: Estamos
PS 2: Não sou poeta amistoso
Mas até que você escreve gostoso
Só falta sal
grosso na minha porta
PS 3: Tem vez
que é sem volta
e aí
revolta
50
Balançando um buque colhido na praça
sinalizando parada para o circular oportuno
faça sol ou faça chuva, passa
e eu monto, ajeitando o figurino
vou na beca, de perfume, de camisa fechada
apesar do calor
vou confiante
de que é o tipo favorito de flor
mesmo que não seja
por favor,
finja!
enquanto o circular balança
51
minha cuca machista chacoalha e repensa
se há amores e flores e cores e rimas
mais gostosas do que essas raivas
que sacodes sobre os ares
me odiando por ser esse
e as dúvidas que implantas na alma
e que me consomem
enquanto o circular balança
e minha cuca chacoalha à vera
jogo as flores pela janela e me armo até a língua
penso no desastroso atraso do transporte público:
ridículo inconveniente que só piora a espera
um mimo decente no terceiro tempo
do terceiro mundo seria água
52
potável
cristalina
sincera
e a bandeira nacional em chamas
balançando ao fundo
sentimento afetivo?
é o fim do mundo!
se toca... ou desista!
(desço e me obedeço: volto a pé
recolhendo as flores colhidas,
esmagadas, pela pista...)
53
quebrou-se do exagero
do teto tão frouxo
e tanto peso no estranho
e tanto espanto nisso mesmo
e precisava ser tão já
assim, de sobreaviso, de agora ou nunca?
pois podia ser tão simples se não fosse um tão somente
esplendoroso fatigante sei que lá
que atravanca o raciocínio clarividente
dos meandros dos porquês que não dissolvo
nas dúvidas perpétuas de teus olhos fugidios e
brilhantes, vivos como um diabo
e tua boca calamitosa e precavida esbanjando improbidades
socioculturais que me interessam mais que os dias...
não fosse isso
era só love
54
Positivas
Minhas falhas e faltas
Empilham-se sobre a louça que lavei no sonambulismo
de uma semana nova
a caminho do fim do ano
meu engano é contar com a sorte
de o ano novo
ser mais ao norte
e não no sulismo esbranquiçado
pela vista falha da pancada surda
de quem pensa que a vida é um resort
a vida está pela hora da morte
road movie
sem corte
55
quantos poema você escreveu hoje?
Nenhum.
quantos poemas você leu hoje?
Todos os que eu não escrevi.
Hoje estavam no sol
que passava por entre umas folhas de árvore
Pontuados pelas sombras de umas nuvens
não provoca não,
ó sua...
canalhices são o mato praga dessa região
seja única
seja justa
seja o jogo e o sorriso de empate
seja o meu suporte
56
pra que a poesia da gente seja de novo arte
Não provoca não,
Não ameaça
vai e faz
que eu to esperando
deixa eu me queixar
me lamentar da tristeza do mundo
que disso eu faço um riso também
quer ver?
vem.
Eu chamei.
Eu te chamo
do que você quiser vir
do que você quiser ser
do que quer que eu sinta
do seu nome se eu souber
eu te chamo
57
de poesia ideal
meu poeminha gostoso
minha desconhecida impossível
meu amor infalível
minha mulher impronunciável
meu vício incógnito
meu ofício
meus ossos
meu ócio delicioso
58
atrasada para o parto
minha cria veio a pé
desfilando pelo quarto com bafo de café e sandálias de
borracha
made in braziu
veio zonza e sem rimas
camisola amarela
e saltos cor de moranga
com os lábios pulsando em gozo
de ressaca
é mais gostoso
pendurada em minha gola
59
debruçada na janela
ela
me declamou os poemas mais lindos que eu estou pra
escrever
amar é um cisco
que o tempo sopra
e salga a obra e a sopa
eu
dividi o cisco em dois.
Meio pra cada olho.
E aí eu chorei.
60
Da minha cabeça brotam águias
que sobrevoam a Sibéria
arrancando com as garras
quando a noite cai muito séria
a lua do céu escuro
e a largam
sobre o largo
e profundo lago do meu sonho
a noite escorre por esse furo
reflexivo, eu não me oponho:
noite franca do amor primeiro,
quanto do teu caldo eu ganho?
só lhe peço um socorro:
afogue a lua no meu banho
61
se tremendo de vontades
meu sonho te engoliu como comprimido
e o meu ouvido
fez que não viu
seu gemido tão cheiroso e docinho
hoje e ontem
tudo nosso
amanhã
vai ser mais um outro lindo dia
62
de amar tudo que se vê pela frente
que bonita essa mania feia da gente
de ser cabelo na sopa
de ser mosca sapateando no tímpano
de ser placa indicando o pântano
de ser o ultimo segundo do ano
de ser feriado
declarado por medo
vamos amar tudo
tudo tudo mesmo
até os idiotas que odiamos
vamos?
63
"Não acredito nos limites, mas que existem, existem!"
Quem não tem?
"Eu mesmo, outro dia, neguei um trocado, porque só tinha
uma nota de cem..."!
Já julgou a sua hoje?
keep calm
e não fode!
bebe uísque e foge,
se for artista,
anda!
A vida
não é uma demanda...
64
Agora, as noticias do esporte: Aberta a temporada de caça
aos calados!
Previsão do tempo para 2022: propício a pancadas na
parede, em ponta de faca, à patinação na areia movediça.
Dica de economia: de preguiça pra pirraça
é uma medida atoa
mas que muda a beça...
Tua ameaça, policial
não interfere no fim da batalha
nosso plano, afinial
já previa tua cabeça falha
65
e teu capacete branco vem bem a calhar
para as cores infinitas
que dispara a nossa navalha
tapa na cara bom
é esse que dói
sem sequer encostar no canalha!
é a nossa criancice que incomoda,
ou ser senil o seu conflito?
palhaçadas à parte,
e tenho dito!
66
a prisão que não se mede:
ninguém derruba muros se vive dentro da parede!
escolhe um lado:
morrer de frio no dark side of the moon
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a vida é só dilema...
só não pode ficar em cima do muro
que o vizinho de baixo
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este poema contem índices elevados
de estatísticas mentirosas
seu consumo pode ocasionar fumaça se for por fogo
mas se for por aí
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leia primeiro
pode ocasionar muita coisa
e dar em nada ocasionalmente
se acaso causar um caos na mente
aí, meu amigo
o problema está dissolvido: poesia é o soluço antes da
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indefinido
solução
ou só
loção
68
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em caso de óbito
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língua boa
é língua torta
Canhoto tatuo poemas sobrepostos
que perfuram e marcam sombreando coloridos sobre meus ombros
minhas asas de tinta
varam os céus quando há mais de mil tons de íntimos
69
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porque eu quis
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Com o Perdão da Palavra

  • 2. Flávio Louzas Rocha AMEOPO MAE editora artesanal
  • 3. Flávio Louzas Rocha AMEOPO MAE editora artesanal Conde - Paraíba 2020 primeira edição
  • 4. copyfight © 2020, Flávio Louzas - Conde, Paraíba 1ª edição - novembro de 2020 edição: stúdio b2mr revisão ortográfica: autor Louzas, Flavio Com o Perdão da Palavra - Tira de Mim / Flávio Louzas - Conde|PB : Editora AMEOPOEMA 2020. 73 p; 14,8 x 10,5 cm. ISBN: em processo 1. Poemas. 2. literatura Brasileira. 3. Poesia de Rua. I. Título Não só é permitida a cópia ou difusão desse material, como é incentivada. Cite o autor e a fonte. Apoie a arte de Rua! AMEOPO MAE editora artesanal
  • 5. POEMAS catados nos ventos fortes de 2014 pra cá, tratados a tapas e flores, letras dando desculpas e se escapando em palavras. Com o perdão da Palavra se nomear leitor e poeta, de frente com agora. Ler com graça que é só brinquedo. Tira de mim. Pinturinhas em quadrinhos. Je ne suis pa Charlie, mas eu gosto de gibi. Eu sou daqui, eu sou aquele lá. O melhor lugar do mundo é onde a poesia mora. E agora? 2020 Conde, PB, Brasil (este produto é predestinado a maiores de 360 graus) 2021 é ontem. APRESENTAÇÃO
  • 6. 5 A transbordelia não para! Arquivo de Rachados e perdidos apresenta: Enchente de tiras e fatias de um mim Um eu e um autor Uma poesia que taí por aí Que faz que hai mas não kai Dedico esta tira, este pedaço, esta parte A minha parte mais forte: Amigos de arte família e sorte Obrigado por ser horizonte E bússola E norte
  • 7. DESCULPE A PALAVRA, É TUDO O QUE TENHO.
  • 8. 7 Quadro a quadro lembro o que quero e abocanho o escafandro Que tal um poema assim quadrinhos em tiras tiras de mim mim tirinhas IMPROVIDENCIA
  • 9. 8 22/04/2013 Do erro ao belo eu tempero um elo
  • 10. Mantenha o respeito aos moleques As glórias às virgens puríssimas e às canalhas malditas vida longa às malditas glória glória à maldição marginal em vossas entranhas Reverencie os passos um a um todos respire fundo pronto, nada mais. Nada , nada importa mais. 9
  • 11. o resto é pretexto inconveniente que os vizinhos arranjam pra se sentirem mais vizinhos pra se sentirem gente de bem pra se sentirem bem como gente avizinharem-se do humano dar aquela averiguada e amaciar a fronha com a autossatisfação de sangrar os próprios sonhos com a lâmina fina navalha assassina que portam na língua e afiam no desgosto assalariado que veio de lotação da zona norte à zona sul aquele calor aquela gente triste aquele mau humor, manja? 10
  • 12. coisa de primeiro imundo ao persistirem as vozes atrás da porta e os pescoços nas paredes livre-se deles leia um livro meu Ataca meu íntimo detona meu ego arranca minha identidade perturba de um tanto que tudo é muito alcança sempre o que eu mesmo não posso e o sonho que eu sonho vira nosso e a linha da vida nós e o tempo 11
  • 13. tão pouco e o jardim me pergunta será que já choveu? tão pouco tão pouco eu volto pra cama SOBRE ANIMAIS SELVAGENS no lampejo de um piscar de olhos na hora do susto um beija flor atravessou do quintal do vizinho por entre as flores de maracujá doce e bateu de frente com a ambulância do SAMU que passou a mil para prestar socorro a uma vítima de violência doméstica 12
  • 14. nas previsões do passado eu seria sócio e o sertão vai virar mar tudo secou tudo errado serrado caso encerrado a vida contem tudo em doses de gigantes 13
  • 15. no presente do indicativo impretérito perfeito do imprevisível eu sou a alegria em mim e dispenso as alegorias tristonhas da sua miopia gótica suburbana esquizofrênica histérica tire suas mãos de mim tire as algemas tire os carrapatos por favor onde eu não os alcanço é onde eles mais sugam e não cansam nas memórias do futuro sob as lápides sob outros sob injurias calunias e ai ai, amigos, amigos meus, quem me dera 14
  • 16. sob prantos causarei angustia e espantos por clamar a vida até nesse seu estimado adorado querido santo sagrado bem vindo seu jardim seu seu cemitério É mesmo tão sério Rir na cara do mistério? Ora, não me julgueis, civilizações incansáveis sou de uma era que já era 15
  • 17. boreal aurora de um novo ciclo tua rua é um rio raro limpo quando teu rosto sorri dormindo sei que tua alma anda me vendo barro da minha costela couraça de vida plena tempestade de aquarela sois sóis sobre minhas costas reais não é meu que nem eu sou 16
  • 18. soa forte em teu pulso tambor tudo que aponto para o futuro são lápis de cor 17
  • 19. POEMA RESERVADO AO PROGRAMA ELEITOREIRO JABÁ EM FOCO NA LEI NOVEMILECARALHADAFODA-SE 0.An0 SEGUNDO O ESTÁ TUDO ASSIM POR CULPA DO FIDEL DESSE MESMO TIPO DE GENTE QUE JOGA LATA NA RUA E ESPANCA SE FOR BIXA E AMA SE FOR IMPORTADO. 18
  • 20. Dentro de instantes Seu interesse em leitura pode ser arrebatado pela buzina do caminhão de medicamentos roubados ou de um poeta marginal escrevendo com a própria língua e voltaremos quem sabe um dia ao normal 65% dos brasileiros são homens e mulheres. os outros 35% são mulheres e homens. 83% do brasil está enganado. 13% dos entrevistados tem perdido cabelos pesquisas científicas revelam: pesquisas são balela 100% dos casos em que são amplamente 19
  • 21. divulgadas. estudos indicam que 100% dos brasileiros diz estar correto sobre o que leu nas ultimas pesquisas. 75% de uma banana é igual às opiniões volúveis, insolúveis e involuntárias das pesquisas mais recentes boa parte do planeta é de água poluída estudos revelam que o que interessa continua um mistério. leituras revelam. o amor é uma coisa boa. 13% de 66,6% dos meus preconceitos são irrepreensíveis pelo estado. 20
  • 22. 99,9% de mim não tem medo. 1% de tudo que invisto tem coragem de não representar nada e viver bem com isso de nunca emitir opiniões muito precisas estatisticamente calando ?. ... ?.você é a favor ou contra a interrogação no final da frase pesquisas apontam a direção contrária 21
  • 23. vigilância sanitária santuário ambulante tire a dengue do quintal mas não a poça da gente a poça é de suor e poesia derramado no sol da tarde de ontem depois do samba depois do culto depois do rap depois do baile depois da novela depois do escandalo depois do tiroteio depois do acidente depois do imprevisto depois de amanhã 22
  • 24. depois da margem - ali no transbordo do bordel transpiracional transbordel linguajar inapropriado para menores de pormenores destaque pra goteira na pia, pra uma mijada na areia com formato de coração pro cheiro do primeiro peido em lugar público fechado poesia estilhaçada na testa poesia grátis e, por isso mesmo, vagabunda! ahn? qualé? sei lá... 23
  • 25. vigilância sanitária pra catar piolho em poema e mascar entre dentes ranzinzas hoje não hoje nao. eu escrevo aos indecentes e eles não me dão ouvidos hoje eu lhes arranco as orelhas e enterro em poesia fofa para brotar um futuro maldito lisérgico como mil orgasmos 24
  • 26. matuto:16/03/2012 mamãe sempre que dizia ande em boa companhia mamãe não sabia que boa companhia que se preze exige que se reze e te vigia noite e dia e ainda sugere às vezes: sorria! hoje eu ando só com a poesia e cachaça pra dois se a noite estiver fria 25
  • 27. COMPLEXO DE NERO (um blues kami-quase para meu cigarro) preteja o cinza o céu chove as outras cores sou eu bato às costas meu companheiro se comove e chora suas lágrimas brancas que sobem meu rosto o único infalível que trago 26
  • 28. no peito sujeito inflamado incandescente candura dentes sujos e alma pura me avisa por telepatia de sua cabeça quente à minha oca e vazia dos males da amizade e dos benefícios dos ausentes mais um hambúrguer chia numa chapa quente na esquina da consolação e a filantropia saltita nos orçamentos publicitários premiados do ano 27
  • 29. classificação adultera 500 anos categoria: censura e verossimilhança dos estereótipos meu melhor e mais sincero amigo me custa os olhos da cara rego-lhe a goela e arrasto seus pés inchados re calo-me re colo - na cama revolto e inflamado preso em um quintal em obras reformas em mim 28
  • 30. meu amigo está pela hora da morte enfim. apagou. recolho-me, que em questões fúnebres, reconheço-me, sou conservador. 29
  • 32. Que candura! Estudantada dócil Em plena ditadura Que brancura, que clareza! A mão invisível caçadora esmagando a presa: Que beleza! Que textura... Assina também, Excelentíssimo, esse papel Pra lembrar que a vida é dura Autoriza, ó magnânimo 31
  • 33. a cagada d'outro ano sindica , sindica tudo muito agrada à criadagem ver que ao menos agora tens com toda tua imbecilidade um plano... a preguiça são os calos que pesam arqueando o tronco fruto da curva sinistra que o chicote percorre no lombo metáforas a fora aforismo suado 32
  • 34. soa a fome agudo. o que assusta não é o barulho da bomba é o próprio medo - então não ouvistes a morte? - choro a vida dos que sorriem dormindo contentes abraçados com o próprio açoite e à noite sonham surras menos doídas que suportem de olhos abertos pra assistir o sol poente choro a gente que se some no horizonte e nunca 33
  • 35. nunca vive no presente de milho eu uso o grão e as folhas mais secas na tua rede sugiro um futuro tétrico na tua saia eu declamo às escondidas na tua luta eu perpetuo um coice homérico no meu tempo eu me seguro pouco no nosso, quando posso e ouso ser franco eu sou poesias lindas 34
  • 36. aos vícios e vinicius aos imorais e de morais demora mais gente de nome e de reputação a zelar a zelar a zelar gente de azar pra mim - que sorte não ser importante... a poesia é um instante 35
  • 37. termoquimicamente falando ando às tontas com um tal aconchego que transcende acima de tudo meu senso incomum das horas vivo cheio de ih agoras mas rio frouxo se simples me queixo mas és tu que ignoras oh! oh! oh! rimas e ris eu grito feliz 36
  • 38. ó pobres almas atormentadas por teus sexos seus grunhidos concavo convexos distorcem os reflexos das opressões e desleixos que alimentam teus complexos não fique tão pasmo um orgasmo é um orgasmo e um abraço é o começo independente 37
  • 39. livre de amor de amizade de pena de vontade hetero homo bi polar isso tudo é invenção que importa é a tesão e que não seja esse seu famoso abraço de urso que aí, não vale nada. é só grunhido. 38
  • 40. Enquanto um poema fala O burro Urra e geme Grita Goza E até escuta com as orelhas O poema não requer inteligência nem hierarquias Não cobra ingresso O poema não determinou o traje nem imprimiu convites Não precisa tirar senha não pode ser o que está pode ficar como é Enquanto um poema fala Outros milhões de poemas Sussurram e cantarolam como um coral de anjas nuas Enquanto um poema fala Eu não consigo pensar em mais nada 39
  • 41. coletivo e público o rebuliço do medo inunda o mundo precário como o resto e mudo os ricos cervos corretos não se valorizam nem economizam suas vidas carentes não são nem vinte centavos gastam tudo com bobagens no recreio pobres diabos desassistidos escravos guardam o troco para ajudar no gás que ferve inflando um poema lacrimogênio 40
  • 42. Prorrogado o prazo Confirmo o atraso Calculo os danos Ciente do arraso De no fundo ser raso Ser o que somos Tantos anos Nesse banzo Paro e penso Que viver é o que mais faço Porque no fim eu acho fácil Difícil é suportar a catinga de morte E a descarga de tédio Que borrifam no meu quintal Por volta das 07:15 da matina 41
  • 43. O resto eu tiro de letra Molotov fields forever ME FODE! ASS: PAREDE 42
  • 44. ó mans, boys, caras, neguins... gringolandia que me fere: forasteiro em meu próprio horizonte e sempre, onde quer que eu ande? Homens, terra estranha de um só onde estou eu me habito e me ocupo em encontrar onde há mais sós e humanidades antes de mim veio um mundo e além está o resto dele me sirvo e m'esbaldo caldo de sul e nordeste que alimenta um planeta 43
  • 45. que eu inventei estrangeiro extraterrestre intrahumano suprasereno megalomatranquilo respiro e penso que é tudo que me faltava 44
  • 46. o silencio que me destes era destes que não duram mais um pouco e a vida é dura mais um tanto e a vida inteira mas teu medo de ser gente e aprender a ser amiga pisa o sonho e esmaga o tempo como formiga o silencio que reclamas sobre os meus erros que te ferem não adere ao teu discurso e cai a cada ruído em desuso 45
  • 47. quando a vida inteira é pouco todo agora é lucro Mistério da foto mutante o cinema é mais adiante mais real do que a vida tem só passagem de ida quem topa vai e dói na quina o cinema e o mundo fazem esquina 46
  • 48. quando tudo estava no brejo a vaca atolou por cima mentindo pra mim seu desejo e as juras que me fez na lama sagrada vaca profana que do fundo ainda teus cornos vejo esqueceste tua alma na minha cama e a verdade foi toda num único beijo Querem todo Todo sangue Todo suor eles Sugam Mas o meu 47
  • 49. Com raiva e loucura Malditos vampiros Senhores sujos Não escorre mais vermelho Meu sangue, senhores vampiros Não é azul como esperavam Malditos sujos Meu sangue, senhores malditos Pasmem é translucido, cristalino carregado de todas as asas disparando todas as cores O meu Sangue foi o primeiro que transbordou O 48
  • 50. Meu sangue, malditos vampiros sujos Não será tirado de mim O meu sangue está em toda parte predomina em minha consciência um agudo frequente como um apito em águas profundas ou tuas relinchadas vaidosas haverá terremotos e copas olímpicas em terras mansas de mais eu não suporto profetas mas digo: haverá areia, sombra e amor enquanto eu me permitir e seu julgamento, criança de sonhos ilesos, 49
  • 51. é o de menos eu te amo mil beijos até um dia veremos PS: Vamos Ass: Estamos PS 2: Não sou poeta amistoso Mas até que você escreve gostoso Só falta sal grosso na minha porta PS 3: Tem vez que é sem volta e aí revolta 50
  • 52. Balançando um buque colhido na praça sinalizando parada para o circular oportuno faça sol ou faça chuva, passa e eu monto, ajeitando o figurino vou na beca, de perfume, de camisa fechada apesar do calor vou confiante de que é o tipo favorito de flor mesmo que não seja por favor, finja! enquanto o circular balança 51
  • 53. minha cuca machista chacoalha e repensa se há amores e flores e cores e rimas mais gostosas do que essas raivas que sacodes sobre os ares me odiando por ser esse e as dúvidas que implantas na alma e que me consomem enquanto o circular balança e minha cuca chacoalha à vera jogo as flores pela janela e me armo até a língua penso no desastroso atraso do transporte público: ridículo inconveniente que só piora a espera um mimo decente no terceiro tempo do terceiro mundo seria água 52
  • 54. potável cristalina sincera e a bandeira nacional em chamas balançando ao fundo sentimento afetivo? é o fim do mundo! se toca... ou desista! (desço e me obedeço: volto a pé recolhendo as flores colhidas, esmagadas, pela pista...) 53
  • 55. quebrou-se do exagero do teto tão frouxo e tanto peso no estranho e tanto espanto nisso mesmo e precisava ser tão já assim, de sobreaviso, de agora ou nunca? pois podia ser tão simples se não fosse um tão somente esplendoroso fatigante sei que lá que atravanca o raciocínio clarividente dos meandros dos porquês que não dissolvo nas dúvidas perpétuas de teus olhos fugidios e brilhantes, vivos como um diabo e tua boca calamitosa e precavida esbanjando improbidades socioculturais que me interessam mais que os dias... não fosse isso era só love 54
  • 56. Positivas Minhas falhas e faltas Empilham-se sobre a louça que lavei no sonambulismo de uma semana nova a caminho do fim do ano meu engano é contar com a sorte de o ano novo ser mais ao norte e não no sulismo esbranquiçado pela vista falha da pancada surda de quem pensa que a vida é um resort a vida está pela hora da morte road movie sem corte 55
  • 57. quantos poema você escreveu hoje? Nenhum. quantos poemas você leu hoje? Todos os que eu não escrevi. Hoje estavam no sol que passava por entre umas folhas de árvore Pontuados pelas sombras de umas nuvens não provoca não, ó sua... canalhices são o mato praga dessa região seja única seja justa seja o jogo e o sorriso de empate seja o meu suporte 56
  • 58. pra que a poesia da gente seja de novo arte Não provoca não, Não ameaça vai e faz que eu to esperando deixa eu me queixar me lamentar da tristeza do mundo que disso eu faço um riso também quer ver? vem. Eu chamei. Eu te chamo do que você quiser vir do que você quiser ser do que quer que eu sinta do seu nome se eu souber eu te chamo 57
  • 59. de poesia ideal meu poeminha gostoso minha desconhecida impossível meu amor infalível minha mulher impronunciável meu vício incógnito meu ofício meus ossos meu ócio delicioso 58
  • 60. atrasada para o parto minha cria veio a pé desfilando pelo quarto com bafo de café e sandálias de borracha made in braziu veio zonza e sem rimas camisola amarela e saltos cor de moranga com os lábios pulsando em gozo de ressaca é mais gostoso pendurada em minha gola 59
  • 61. debruçada na janela ela me declamou os poemas mais lindos que eu estou pra escrever amar é um cisco que o tempo sopra e salga a obra e a sopa eu dividi o cisco em dois. Meio pra cada olho. E aí eu chorei. 60
  • 62. Da minha cabeça brotam águias que sobrevoam a Sibéria arrancando com as garras quando a noite cai muito séria a lua do céu escuro e a largam sobre o largo e profundo lago do meu sonho a noite escorre por esse furo reflexivo, eu não me oponho: noite franca do amor primeiro, quanto do teu caldo eu ganho? só lhe peço um socorro: afogue a lua no meu banho 61
  • 63. se tremendo de vontades meu sonho te engoliu como comprimido e o meu ouvido fez que não viu seu gemido tão cheiroso e docinho hoje e ontem tudo nosso amanhã vai ser mais um outro lindo dia 62
  • 64. de amar tudo que se vê pela frente que bonita essa mania feia da gente de ser cabelo na sopa de ser mosca sapateando no tímpano de ser placa indicando o pântano de ser o ultimo segundo do ano de ser feriado declarado por medo vamos amar tudo tudo tudo mesmo até os idiotas que odiamos vamos? 63
  • 65. "Não acredito nos limites, mas que existem, existem!" Quem não tem? "Eu mesmo, outro dia, neguei um trocado, porque só tinha uma nota de cem..."! Já julgou a sua hoje? keep calm e não fode! bebe uísque e foge, se for artista, anda! A vida não é uma demanda... 64
  • 66. Agora, as noticias do esporte: Aberta a temporada de caça aos calados! Previsão do tempo para 2022: propício a pancadas na parede, em ponta de faca, à patinação na areia movediça. Dica de economia: de preguiça pra pirraça é uma medida atoa mas que muda a beça... Tua ameaça, policial não interfere no fim da batalha nosso plano, afinial já previa tua cabeça falha 65
  • 67. e teu capacete branco vem bem a calhar para as cores infinitas que dispara a nossa navalha tapa na cara bom é esse que dói sem sequer encostar no canalha! é a nossa criancice que incomoda, ou ser senil o seu conflito? palhaçadas à parte, e tenho dito! 66
  • 68. a prisão que não se mede: ninguém derruba muros se vive dentro da parede! escolhe um lado: morrer de frio no dark side of the moon ou frito num quarto/sala em Kowloon? a vida é só dilema... só não pode ficar em cima do muro que o vizinho de baixo reclama 67
  • 69. este poema contem índices elevados de estatísticas mentirosas seu consumo pode ocasionar fumaça se for por fogo mas se for por aí já começamos mal leia primeiro pode ocasionar muita coisa e dar em nada ocasionalmente se acaso causar um caos na mente aí, meu amigo o problema está dissolvido: poesia é o soluço antes da resolução indefinido solução ou só loção 68
  • 70. este poema é contraindicado em caso de óbito ao persistirem os idiomas um dicionário deve ser cremado a cada doze horas língua boa é língua torta Canhoto tatuo poemas sobrepostos que perfuram e marcam sombreando coloridos sobre meus ombros minhas asas de tinta varam os céus quando há mais de mil tons de íntimos 69
  • 71. os nomes e as datas são xis sobre xis porque eu quis e ninguém tem nada a ver com meus avessos vide em versos meus adereços 70
  • 72. Tem poema que não cabe em mim e sai sem FIM? 71
  • 74. AMEOPO MAE editora artesanal A editora artesanal AMEOPOEMA, vem apoiando vários autores e autoras a publicarem seus escritos de forma justa, barata e com beleza e profissionalismo. Cabe aqui ressaltar que a Editora tem sua base de ideias na formação da vivência de seu fundador junto a outros artistas de rua do Brasil afora. sendo assim, cada passo dado é uma trilha aberta na trincheira das cidades, que com sua pressa tenta invizibilizar artistas e outros viventes das ruas. Caso queira uma força na sua publicação entre em contato, faça a poesia circular de todas as formas possíveis. LEIA SEMPRE! APOIE OS ARTISTAS DE RUA, eles precisam de sua força nesse momento delicado da vida! www.facebook.com/ameopoema www.instagram.com/studiob2mr
  • 75. Poesia? Não sei. O resto é cascata. Poesia não-se-sabe. Eu sou a poça.