Este documento discute como nosso espírito vive uma experiência limitada no corpo físico durante a vida na Terra, porém com um propósito evolutivo. Explica que o corpo é moldado pelo espírito e é uma "concha milagrosa" que nos permite angariar experiências para nossa jornada. Também destaca que embora os sentidos sejam restritos no corpo, o espírito recebe oportunidades para o autoaperfeiçoamento através do trabalho sobre si mesmo.
2. Começamos o estudo deste livro
“definindo rumos”, sabendo-nos
espíritos em caminho evolutivo,
seguiremos este Roteiro e
“reestruturaremos a nossa
individualidade eterna para a sublime
ascensão à Consciência do Universo.”
Conhecemos o guia, Jesus, conscientes
de nossa imortalidade, trilharemos o
caminho com humildade.
Pois bem, seguindo as lições é
chegada a hora de avaliarmos “como
iremos”.
3. Imaginemos uma viagem,
iremos a pé, de carro, ônibus ou
avião? Se queremos atravessar o
deserto de nossas imperfeições,
é preciso descobrir o que temos
a nossa disposição para a
travessia.
O espírito, caros amigos, já
o disse o Cristo “sopra onde
quer”, mas o corpo físico é
limitado, não obstante, é o nosso
“meio de transporte” durante
esta jornada evolutiva. E para
que possamos fazer uma boa
viagem, Emmanuel nos convida
a refletir um pouco sobre este
“veículo”.
4. “Isolado na concha milagrosa do corpo, o
espírito está reduzido em suas percepções a
limites que se fazem necessários.” (Roteiro)
5. Compara nosso corpo a uma
concha milagrosa, tal qual uma
ostra que produzirá uma pérola:
“A parte interna da concha de
uma ostra é uma substância
lustrosa chamada nácar. Quando
um grão de areia a penetra, as
células do nácar começam a
trabalhar e cobrem o grão de
areia com camadas e mais
camadas, para proteger o corpo
indefeso da ostra. Como resultado,
uma linda pérola é formada. Uma
ostra que não foi ferida, de algum
modo, não produz pérolas, pois a
pérola é uma ferida cicatrizada...”
(Rubens Alves)
Ao fazer esta comparação, em
apenas duas palavras “concha
milagrosa”, Emmanuel nos remete
ao valoroso significado de estar
encarnado. Algo está sendo
realizado em nosso interior, em
nosso mundo íntimo. Há uma
pérola sendo produzida e, ainda,
que sejamos capazes de
reconhecer apenas o grão de areia,
há um esforço evolutivo tentando
produzir uma pérola, ou seja, uma
existência que represente mais um
degrau evolutivo, uma existência
que angarie um tesouro para o
espírito.
Precisamos, assim, conhecer
melhor esta “concha”.
6. Prossegue Emmanuel:
“A esfera sensorial funciona, para ele, à
maneira de câmara abafadora. Visão,
audição, tato, padecem enormes restrições.”
Quando encarnados, nossos sentidos estão limitados. Pensemos,
como exemplo, em nossa visão. Posso ver o que me cerca até
onde meus olhos alcançarem e estou limitada a percepção que
meu globo ocular consegue realizar. Mas, e nosso espírito? Como
são estas percepções?
7. 247. Os Espíritos precisam transportar-se, para ver em dois lugares
diferentes? Podem ver ao mesmo tempo num e noutro hemisfério do globo?
— Como o Espírito se transporta com a rapidez do pensamento, podemos dizer
que vê por toda parte de uma só vez. Seu pensamento pode irradiai dirigir-se para
muitos pontos ao mesmo tempo. Mas essa faculdade depende da sua pureza:
quanto menos puro ele for, mais limitada é a sua vista; somente os Espíritos
superiores podem ter visão de conjunto.
Comentário de Kardec: A faculdade de ver dos Espíritos, inerente à sua
natureza, difunde-se por todo seu ser, como a luz num corpo luminoso. É uma
espécie de lucidez universal, que estende a tudo, envolve simultaneamente o
espaço, o tempo e as coisas e par; qual não há trevas nem obstáculos materiais.
Compreende-se que assim deve ‘ pois no homem a vista funciona através de um
órgão que recebe a luz, e sem luz fica na obscuridade.
Nos Espíritos, a faculdade de ver é um atributo próprio, que independe de
qualquer agente exterior. Avista não precisa da luz. (Ver Ubiquidade item 92.)
8. 248. O Espírito vê as coisas distintamente como nós?
— Mais distintamente, porque a sua vista penetra o que a vossa não pode penetrar;
nada a obscurece.
249. O Espírito percebe os sons?
— Sim, e percebe até mesmo os que os vossos sentidos obtusos não podem perceber.
249 – a) A faculdade de ouvir, como a de ver, está em todo o seu ser?
— Todas as percepções são atributos do Espírito e fazem parte do seu ser. Quando ele
se reveste de corpo material, elas se manifestam pelos corpos orgânicos; mas, no
estado de liberdade, não estão mais localizadas.
9. Eis, então, algo de grande
relevância que precisamos
conhecer em nossa jornada
evolutiva: nosso espírito
vive uma experiência
carnal, passageira e
transitória, limitada, mas
com um objetivo.
10. “O cérebro físico é um gabinete escuro, proporcionando-lhe
ensejo de recapitular e reaprender.
Conhecimentos adquiridos e hábitos profundamente arraigados
nos séculos aí jazem na forma estática de intuições e tendências.
Forças inexploradas e infinitos recursos nele dormem,
aguardando a alavanca da vontade para se externarem no rumo da
superconsciência.”
11. Ao encarnarmos, por misericórdia
divina, esquecemo-nos das vidas
anteriores. Esquecemos dos
desenganos, das fraquezas, das
discórdias, dos débitos, dos desafetos,
porém, Deus nos permite recordar do
tesouro que já angariamos, através das
intuições e das tendências. A pérola
produzida em uma concha deixará
uma cicatriz, mesmo se retirada, e será
sempre uma lembrança de que havia
algo muito precioso ali. Assim,
também, nossas aptidões, algumas
adormecidas que ao menor incentivo
despertam em nós, sejam as intectuais,
como facilidades em determinadas
áreas de estudo, sejam as afetivas, ao
reencontrar alguém com quem já
estivemos em vidas anteriores, enfim,
o despertar se dará nas mais diversas
áreas, boas e ruins.
Há, porém, aquilo que ainda não
foi descoberto, ao que Emmanuel
chama de “Forças inexploradas e
infinitos recursos nele dormem”,
remetendo-nos novamente ao conceito
de um ser em evolução. Somos a soma
do que até aqui foi construído, porém,
estamos matriculadas em uma escola,
encarnados em um corpo físico, que é
o agente divino escolhido por Deus
para nos auxiliar nesta trajetória, nesta
grande viagem que é a nossa vida.
12. “No templo miraculoso da carne, em que as células são
tijolos vivos na construção da forma, nossa alma
permanece provisoriamente encerrada, em temporário
olvido, mas não absoluto, porque, se transporta consigo
mais vasto patrimônio de experiência, é torturado por
indefiníveis anseios de retorno à espiritualidade
superior, demorando-se, enquanto no mundo opaco, em
singulares e reiterados desajustes.”
Quando iniciamos a lição, comparamos nosso corpo a um veículo
neste roteiro que estamos seguindo. Será ele a transportar a nossa alma
nesta etapa da jornada. A constituição deste veículo se dá através das
células, que Emmanuel nos define como “tijolos vivos na construção da
forma.”
13. O que isto quer dizer? Nosso corpo nos dá a exata dimensão
do nosso espírito, pois este o molda. O milagre da carne é ser
animada, é ter vida e quem a dá é o espírito que nela habita,
organizando-a conforme seu adiantamento moral.
14. “A carne não é fraca senão porque o
espírito é fraco, o que derruba a
questão e deixa ao espírito a
responsabilidade de todos os seus atos.
A carne, que não tem nem pensamento
nem vontade, jamais prevalece sobre o
Espírito, que é o ser pensante e
voluntarioso. É o espírito que dá à
carne as qualidades correspondentes
aos instintos, como um artista imprime
à sua obra material o cunho de seu
gênio. Liberto dos instintos da
bestialidade, o espírito modela um
corpo que não é mais um tirano para
as suas aspirações à espiritualidade de
seu ser; então o homem come para
viver, porque viver é uma necessidade,
mas não vive para comer.
15. “A responsabilidade moral dos atos da
vida, portanto, permanece íntegra.
Mas, diz a razão que as consequências
dessa responsabilidade devem ser
proporcionais ao desenvolvimento
intelectual do Espírito, pois quanto
mais esclarecido ele for, menos
escusável será, porque, com a
inteligência e o senso moral, nascem
as noções do bem e do mal, do justo e
do injusto. O selvagem, ainda vizinho
da animalidade, que cede ao instinto
do animal, comendo o seu semelhante,
é, sem contradita, menos culpável que
o homem civilizado que comete uma
simples injustiça.”
16. Esta lei ainda encontra sua aplicação
na Medicina e dá a razão do seu
insucesso em certos casos.
Considerando-se que o temperamento
é um efeito, e não uma causa, os
esforços tentados para modificá-lo
podem ser paralisados pelas
disposições morais do espírito que
opõe uma resistência inconsciente e
neutraliza a ação terapêutica. É, pois,
sobre a causa primeira que devemos
agir; se se consegue mudar as
disposições morais do espírito, o
temperamento modificar-se-á por si
mesmo, sob o império de uma vontade
diferente ou, pelo menos, a ação do
tratamento médico será ajudada, em
vez de ser tolhida. Se possível, dai
coragem ao poltrão, e vereis cessarem
os efeitos fisiológicos do medo. Dá-se
o mesmo com as outras disposições.
17. “Mas, perguntarão, pode o médico do
corpo fazer-se médico da alma? Está
em suas atribuições fazer-se
moralizador de seus doentes? Sim,
sem dúvida, em certos limites; é
mesmo um dever que um bom médico
jamais negligencia, desde o instante
que vê no estado da alma um
obstáculo ao restabelecimento da
saúde do corpo. O essencial é aplicar o
remédio moral com tato, prudência e
convenientemente, conforme as
circunstâncias. Deste ponto de vista,
sua ação é forçosamente circunscrita,
porque, além de ele ter sobre o seu
doente apenas uma ascendência moral,
em certa idade é difícil uma
transformação do caráter. É, pois, à
educação, e sobretudo à primeira
educação, que incumbem os cuidados
dessa natureza. Quando a educação,
desde o berço, for dirigida nesse
sentido; quando nos aplicarmos em
abafar, em seus germes, as
imperfeições morais, como fazemos
com as imperfeições físicas, o médico
não mais encontrará no temperamento
um obstáculo contra o qual a sua
ciência muitas vezes é impotente. ”
Revista Espírita 1869
18. Começamos, assim, a vislumbrar que o nosso corpo é
um material neutro, a matéria não tem vontade própria,
mas é o espírito quem a anima e organiza, de forma
harmônica ou não.
De posse deste conhecimento, temos, então a
oportunidade de adentrar neste mundo fantástico e
inquietante que é o autoconhecimento. Nosso corpo,
ferramenta divina em nossa trajetória evolutiva, é
moldado por nosso espírito. Poderíamos, então, pensar
que quanto mais belo mais evoluído? Isto seria atribuir
a matéria algo além do que ela é. Nosso corpo está
ajustado a nossa necessidade espiritual, manifestando
tendências adquiridas ao longo dos milênios e as
manifestando em inteligência, aptidões, talentos, não
se trata, assim, apenas de ser belo, mas de ser útil e
bom.
19. E são por estas razões que somos
convidados ao trabalho:
“Dentro da grade dos sentidos
fisiológicos, porém, o espírito recebe
gloriosas oportunidades de trabalho
no labor de auto-superação.
Sob as constrições naturais do plano
físico, é obrigado a lapidar-se por
dentro, a consolidar qualidades que o
santificam e, sobretudo, a estender-se
e a dilatar-se em influência,
pavimentando o caminho da própria
elevação.” Roteiro
20. Desenvolveremos aptidões e talentos, como também
iremos adquirir novos conhecimentos, angariando novo
patrimônio evolutivo a ser utilizado em nova experiência
reencarnatória. Tudo o que estamos realizando hoje, será
considerado na próxima existência...
21. Eis, então, a exata dimensão de como nos encontramos hoje:
“Aprisionado no castelo corpóreo, os sentidos são exíguas
frestas de luz, possibilitando-lhe observações convenientemente
dosadas, a fim de que valorize, no máximo, os seus recursos no
espaço e no tempo.
Na existência carnal, encontra multiplicados meios de exercício
e luta para a aquisição e fixação dos dons de que necessita para
respirar em mais altos climas.”Roteiro
Nosso espírito vive uma experiência corpórea, que o limita de
forma educativa, ensinando-o, capacitando-o, elevando-o.
22. É interessante Emmanuel usar a expressão “aprisionado no castelo
corpóreo”. Recordemos do fantástico livro deixado por Teresa
D’Avila, intitulado Castelo Interior:
“Teresa parte da idéia de que a felicidade, que ela chama de Deus,
está dentro de cada um de nós e não pode ser encontrada em nenhum
outro lugar, visto ser um estado de consciência, cujo aflorar demanda
o autoconhecimento, pois o homem – afirma – não é a idéia que tem
de si mesmo, mas uma alma ou consciência com vários graus de
perfeição que abriga no mais recôndito o verdadeiro ser. A entrada
nessa esfera de consciência, no entanto, não depende de conhecimento
intelectivo e sim de experiência direta que caracteriza o saber místico,
a verdadeira sabedoria. É pelo autoconhecimento, lastreado na
introspecção, que o ser humano consegue compreender-se e se
transformar, de ser psíquico em Eu superior, ensejando a renovação
da mente e o nascer para uma vida completamente nova, fruto de
aliança definitiva da personalidade com o homem interior, o grande
desconhecido.” (Sergio Carlos Covello)
23. Tudo o que Deus faz é fruto do seu imenso amor por
nós. Muitas vezes encontraremos na vida física
dificuldades e lutas, mas serão elas que impulsionarão o
nosso ser espiritual para patamares mais elevados.
Muitas vezes serão nossas dores quem nos conduzirão.
“Pela necessidade, o verme se arrasta das
profundezas para a luz.
Pela necessidade, a abelha se transporta a
enormes distâncias, à procura de flores que lhe
garantam o fabrico do mel.
Assim também, pela necessidade de sublimação,
o espírito atravessa extensos túneis de sombra, na
Terra, de modo a estender os poderes que lhe são
peculiares.
Sofrendo limitações, improvisa novos meios para
a subida aos cimos da luz, marcando a própria
senda com sinais de uma compreensão mais
nobre do quadro em que sonha e se agita.
Torturado pela sede de Infinito, cresce com a dor
que o repreende e com o trabalho que o
santifica.” Roteiro
24. Eis-nos, então, diante de uma mais ampla compreensão deste veículo
divino ao qual estamos ligados nesta existência, que irá nos advertir
a corrigenda, através da escola bendita da dor, mas também irá nos
impulsionar a mais elevados patamares de entendimento do mundo e
de nós mesmos, sempre que nos colocarmos em trabalho útil, que
nos torne pessoas melhores para nós e para o mundo que nos cerca.
25. Encerra a lição com os seguintes dizeres:
“As faculdades sensoriais são
insignificantes réstias de claridade
descerrando-lhe leves notícias do
prodigioso reino da luz.
E quando sabe utilizar as sombras do
palácio corporal que o aprisiona
temporariamente, no desenvolvimento
de suas faculdades divinas, meditando
e agindo no bem, pouco a pouco tece
as asas de amor e sabedoria com que,
mais tarde, desferirá venturosamente
os voos sublimes e supremos, na
direção da Eternidade.”
26. O Roteiro que iremos seguir está em nosso querer, temos as
ferramentas necessárias, sabemos o rumo que este voo sublime
e supremo nos aponta, a Eternidade, e seguiremos aprendendo
com o nosso Mestre Jesus, que mostrou-nos toda a nossa
potencialidade enquanto homens, mas sobretudo, enquanto
espíritos imortais. Ele venceu a carne.