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UNIDADE 1 – FILOSOFIA ANTIGA
CAPÍTULO 1 – ORIGEM DA FILOSOFIA
Para uma melhor compreensão da matéria, é
importante deixar bem claro que é um erro chamar as
póleis gregas de cidades-estados, dentre tantos motivos
destacarei apenas dois. O primeiro é a imprecisão
histórica; o termo cidade é romano (civitas em latim), e o
Estado é invenção da modernidade, ainda não existindo
nesse tempo.
Alguns podem retrucar e argumentar que isso não
tem importância. Para eles eu destaco o segundo
motivo, que é a carga de preconceitos que esses termos
carregam. E quando uso o termo preconceito não estou
usando-o de forma pejorativa, mas em seu sentido literal,
isto é, de ideias preconcebidas, sem reflexão.
Quando se fala em “cidade” imaginamos nossas
formas de aglomeração humana em um mesmo espaço,
uma arena em que cada indivíduo procura o seu bem, se
dar bem sem prejudicar a busca do bem do outro, estejam
esses bens correlacionados ou não. O termo “bem”, aqui,
não está sendo usado no sentido metafísico, mas no
sentido de propriedade mesmo, seja ele (bem) posses
materiais, fama, dinheiro ou poder.
Noutra vertente, quando usamos o termo
“estado” vem à nossa cabeça um poder exterior a nós que
por meio de um governo, quer se intrometer em nossas
vidas, quer seja positivando/regulando nossas relações
sociais, quer seja tributanto nossos salários ou negócios,
quer seja ditando quando, onde, e como será gasto nossas
riquezas.
Quando se fala em estado, temos um governo,
uma sociedade civil (organizada ou não) e uma
democracia representativa. Uns que comandam e outros
que são comandados.
Como veremos a seguir, a Grécia, melhor
dizendo, a Atenas da época clássica, gerou uma forma de
organização da vida humana que serviu de base durante
esses milênios para nossas sociedades. Mas é importante
deixar claro que usar o termo “cidade-estado” para
designar essa forma de organização político-social dos
gregos é uma monstruosidade que precisa ser corrigida
pelos manuais do ensino médio.
Continuar com isso é permanecer no erro de
olhar o outro pelo nosso umbigo, querer entender suas
formas de expressão a partir das nossas. Esse tipo de
pensamento é que causa discórdia e não aceitação do
outro, o que gera guerras e mais guerras.
CONTEXTO HISTÓRICO
Na antiguidade a região conhecida como Grécia
não era um estado unificado, com poder centralizado,
governo único, e suas cidades-estados (póleis) obedecendo
a esse poder. Era na verdade, uma região que por suas
peculiaridades históricas e geográficas abrigava povos de
origem, costumes e crenças comuns, unidos por uma
mesma língua.
A história desse povo na antiguidade é dividida
em quatro períodos. A sua formação se dá pela união das
civilizações Cretense e Micênica no período que ficou
convencionado chamar de pré-homérico (Secs. XX a
XII a. C.), cujo fim ocorre com a invasão dórica que
ocasionou a primeira diáspora grega, quando eles
ocuparam todas as áreas banhadas pelo mar Egeu na
forma de pequenos núcleos rurais.
Começa a partir de então o período
homérico (Secs. XII a VIII a. C.), que leva esse nome
por causa das obras do grande poeta Homero, que nos
conta, por meio da Ilíada e Odisseia, como foi essa época.
Os pequenos núcleos
rurais deram origem aos genos
que, comandado por um pater,
eram formados por pessoas que
acreditavam ser de uma mesma
descendência. Apesar de terem
um líder, a terra era de
propriedade de todos.
Nesse período, houve um grande
aumento populacional que não foi acompanhado pela
produção de alimentos, pois haviam poucas terras férteis.
Muitos genos se dividiram, houve disputas e
distribuição desigual de terras que passaram a ser
propriedade privada. Foi um período de turbulência e
muitas pessoas ficaram marginalizadas.
Desse modo, a sociedade, que era essencialmente
agrária e patriarcal, ficou estruturada da seguinte forma:
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1) Eupátridas = os paters e seus parentes mais
próximos que detinham as maiores e melhores
terras;
2) Demiurgos = trabalhadores livres
3) Georgoi = pequenos proprietários de terras;
4) Thetas = homens livres, mas marginalizados por
que sobraram na divisão e disputas por terras;
5) Escravos
Essa instabilidade gerou a necessidade de alguns
genos se aliarem. Dessas alianças resultaram as fratrias,
e da união destas, as tribos. O poder do pater passou a
ser exercido por grupos de latifundiários bem nascidos
conhecidos como eupátridas. Até que finalmente foram
formados os demos que tinha como líder o basileu
(rei), que era o mais fodão dos eupátridas.
Para sobreviver, muitos gregos tiveram que
buscar terras férteis para o cultivo de alimentos. Eles se
lançaram ao mar à procura dessas regiões e se
estabeleceram, além do Mar Egeu, por quase toda região
europeia banhada pelo Mar Mediterrâneo
(principalmente no sul da península itálica e na região da
Sicília, que ficou conhecida como Magna Grécia),
adentrando também na região do Mar Negro fundando
apoikias (novos demos - colônias) em todos esses
territórios. Essa busca de novas terras foi Segunda
Diáspora grega.
Foi basicamente nessa época que houve o
ressurgimento da escrita entre os gregos, quando eles
adaptaram o alfabeto fenício à sua língua.
A Ilíada e a Odisseia descrevem vários aspectos
da cultura e as diversas formas de relacionamento social
dessa época, e mais importante, influenciaram muito as
várias gerações gregas que tiveram o guerreiro bom e
belo como um ideal de formação a ser alcançado.
O MITO
Antes mesmo do advento da Filosofia o homem
tinha já possuía a curiosidade de saber sobre a origem das
coisas, e mesmo sem ter a tecnologia de que dispomos
hoje, eles tinham a imaginação trabalhando a todo vapor.
Com ela criaram diversas histórias que foram
passadas de forma oral por várias gerações. A palavra
grega mythos significa contar, narrar, conversar.
O mito é uma narrativa fantasiosa que visa dar
uma explicação para a origem de determinada coisa, seja
ela o homem, o amor, a doença, o mundo, os deuses, etc.
Mas além disso, é também uma forma de
justificação da estrutura social da época. Dito de outro
jeito, o mito é uma forma de ver não só o mundo natural,
como também de entender e aceitar a divisão e
funcionamento da sociedade.
Tanto é que os mitos se sustentam apenas na
autoridade de quem os conta. O poeta-rapsodo, tem
autoridade inquestionável, seja porque recebeu a
narrativa de uma tradição oral respeitada, seja porque é
considerado alguém escolhido pelos deuses para receber
uma revelação e passá-la aos outros. Esses devem receber
a informação como verdade inquestionável.
Desse modo, os mitos não dão espaço para
questionamentos e nem reflexão, perpetuando a forma
de ver e entender tanto o mundo natural quanto o social.
Perceba que os grandes reis (basileu) são protegidos ou
escolhidos pelos deuses e os grandes guerreiros, como
Aquiles, possuem vínculos com eles. Você se atreveria a
discutir com eles, ou questionar sua autoridade? Fica
difícil, não é?
Os mitos sobre a origem do mundo são as
cosmogonias (cosmos = mundo ordenado + gonia =
gerar), já os que narram a origem dos deuses são as
teogonias (theos = seres divinos + gonia = gerar.
Admitem incoerências, contradições e são muito
limitados deixando vários questionamentos em aberto.
No entanto, sucessivos acontecimentos acabaram
derrubando muitas dessas explicações e uma nova forma
de ver o mundo (incluindo a sociedade) precisava ser
criada.
A PÓLIS E O SURGIMENTO DA FILOSOFIA
Com a segunda diáspora, começa o período
arcaico (Sécs. VIII a VI a. C.), quando tivemos a
formação de vários demos espalhados por todo o
mediterrâneo, intensificando as trocas de mercadorias e
fazendo florescer novamente o comércio. É importante
destacar que nessa época surge a moeda como um meio
de facilitar as transações comerciais.
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A partir daí, foi só questão de tempo para que os
demos se unissem e formassem as póleis (eram mais de
1000), que foram governadas por conselhos de
eupátridas (proprietários de terras) dando início aos
regimes oligárquicos (governo de poucos). Eles
desenvolveram leis, distribuíam a justiça, e ditavam a
divindade a ser cultuada.
Agora, com um número muito maior de póleis, e
várias delas sendo importantes centros comerciais e
portos estratégicos para a navegação, a principal atividade
econômica deixou de ser a agricultura, e o comércio passa
a ser o seu principal fator de desenvolvimento
econômico.
Esse desenvolvimento econômico proporcionou
uma melhora significativa na qualidade de vida material
da população. A partir daí os gregos passaram a ter tempo
para fazer algo além de comercializar, eles agora iriam
pensar.
A consolidação das póleis seguido de uma relativa
estabilidade política e econômica, e um longo período de
prosperidade foi o terreno fértil para o nascimento da
Filosofia. Algumas invenções e atividades que se
desenvolveram, ou foram criadas, juntamente com a polis
foram cruciais para o seu surgimento. São elas:
 As navegações – ao desbravarem os mares os
gregos iriam realmente descobrir se existiam os
monstros e sereias que os mitos contavam.
 A invenção do calendário – isso proporcionou
aos gregos verem que as estações do ano não
eram vontade dos deuses mas fenômenos
naturais que podiam ser previstos.
 A moeda – Você certamente sabe quanto custa
uma caneta, um caderno ou uma meia. Mas você
sabe quanto vale um real? Sabe porque um real
vale um real, e cem reais vale cem reais? Pois é,
esse é um exercício de abstração que requerem
cálculos complexo. Os gregos deixaram de trocar
as coisas e passaram a usar a moeda quando
adquiriam essa capacidade de abstração.
 A escrita alfabética – se eu desenhar um
homem e te mostrar, você vai saber que aquilo
representa um homem. Mas se eu te mostrar esse
símbolo
A política – Esse ponto é bastante importante
porque marca uma ruptura no modo de encarar a
organização social. A pólis é um lugar onde os
homens decidem o seu próprio destino, e não
mais os deuses.
E esse governo dos homens só era possível
porque eles eram livres para criarem suas próprias
leis, que eram fruto do debate público, ou seja, da
palavra que era posta sob questionamento.
E esse tipo de discurso proporcionado pela
atividade política foi fundamental para o
surgimento do discurso filosófico, que nasceu
como diálogo. A palavra que sempre pode ser
debatida e questionada. Lembrem-se que no
mito, a palavra era inquestionável.
Nas póleis gregas não havia muita diferença de
riqueza entre os cidadãos e a monarquia não era a forma
de governo predominante entre eles.
Todos eram responsáveis pela defesa da pólis,
então, não fazia sentido não terem participação na
tomada de decisões sobre os rumos da mesma. Foi assim
que nasceu a política na forma de democracia.
Os gregos acreditavam que um homem livre que
vivia em pleno gozo de suas faculdades mentais e
corporais deveria viver em uma comunidade política que
se autodeterminava por leis que ela mesma criava por
meio do debate, e não por um homem (rei) ou alguma
divindade.
A vida na pólis era voltada para que eles
desenvolvessem plenamente suas capacidades humanas,
fruto de sua natureza. Cada cidadão era estimulado a
exercitar as virtudes e reprimir os vícios. E a justiça
necessária para controlar esse lado ruim só pode ser
encontrada em uma comunidade bem ordenada, de
homens virtuosos, justos e livres, que governam a si
mesmos, ou seja, na pólis.
Essa visão histórica da formação da sociedade
grega desde os núcleos rurais até a formação das póleis,
nos ajuda a entender não apenas o surgimento da
filosofia, mas o por que dela ter sido uma invenção grega.
Ela não foi um “milagre” repentino desse povo, mas o
resultado de uma gestação que vinha acontecendo no
seio das transformações ocorridas na sociedade grega
durante séculos.
PRÉ-SOCRÁTICOS – OS PRIMEIROS
FILÓSOFOS
Tendo Sócrates como a grande referência na
filosofia antiga, os historiadores consentiram em chamar
esse primeiro período filosófico de pré-socrático.
É de se ressaltar que essa convenção tem como
critério não apenas uma ordem cronológica, mas a linha
de investigação filosófica, pois ao tempo de Sócrates
ainda haviam pré-socráticos.
Esses primeiros filósofos se preocuparam em
tentar explicar a physis (natureza/mundo/universo) de
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uma forma racional (cosmologia), dando uma explicação
diferente da dos mitos, que recorriam aos deuses.
Diferentemente da explicação mítica que dizia
que o universo havia sido criado do nada, para eles o
universo havia sido gerado de um princípio universal. E
descobrir essa arché seria a chave para entender todas as
coisas.
Eles acreditavam que a physis apesar de estar em
constante movimento (devir) possuía um elemento de
permanência e que este seria o seu princípio originador,
seu fundamento, e explicaria a causa da mudança.
Dentre esses filósofos haviam os que acreditavam
que a arché era um único elemento, estes eram os
monistas. Mais tardiamente, outros pré-socráticos
começaram a defender que eram vários, e ficaram
conhecidos como pluralistas.
Tales de Mileto (640-546 a. C.),
que talvez tenha sido o primeiro
filósofo, e estava na lista dos sete
sábios da Grécia, acreditava que a
água era a origem de tudo.
Anaximandro (610-547 a.
C.) dizia que o princípio criador
não poderia ser conhecido pelos
sentidos, mas somente pelo
intelecto já que ele é o apeiron
(indeterminado).
Anaxímenis (588-524 a.
C.) argumentava que o ar seria esse
princípio originador de tudo.
Pitágoras de Samos
(570-490 a. C.) creditava aos
números a origem de tudo, mas
desde que entendidos como
harmonia e proporção. Ou seja,
tudo na natureza é proporcional
e harmônico.
Heráclito de Éfeso
(535-475 a. C.), um dos filósofos
mais importantes desse período,
atribuía ao fogo a origem das
coisas, já que para ele a
realidade/physis é uma eterna
luta de contrários que tem esse
elemento como sua causa.
Autor da famosa frase que caracteriza bem o seu
pensamento: “Um homem não pode se banhar duas vezes no
mesmo rio, porque na segunda vez o rio e o homem não serão os
mesmos.”
Para ele, o universo está em constante mudança,
tudo flui, tudo está em transformação constante. E isso é
assim porque todas as coisas possuem os oposto em
constante guerra. O real é a mudança e a permanência é
ilusória.
Você já não é tão jovem quanto quando começou
a ler essas palavras, mas ainda é jovem, mas está
envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está
envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está
envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está
envelhecendo.
Parmênides (510-470 a.
C.) de Eleia, rompe com os
filósofos que o precederam na
maneira de pensar o mundo. E
por isso não se adequa a
classificação de monista ou
pluralista.
Ele afirmava que o
elemento de permanência, de
origem, de fundamento, das coisas/mundo (physis) não
pode ser encontrado na sua mutabilidade constante.
Melhor dizendo, não se pode encontrar o
princípio (arché) imutável do universo na sua própria
mudança, ainda mais quando a investigação é conduzida
pelos sentidos.
Para ele a mudança seria apenas uma ilusão dos
sentidos, e o que é essencial nas coisas só pode ser
captado pelo pensamento. Por esse motivo, é que haviam
tantas opiniões contrárias sobre o Ser das coisas, porque
os filósofos estavam trilhando um caminho errado que
só os levava à ilusão.
A mudança (devir) não existe, é uma ilusão dos
sentidos, Heráclito estava errado. “O Ser é e o não ser
não é”. O Ser é o Logos (razão), a permanência, é
imutável e sem contradições.
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Continuaremos a estudar os outros filósofos pré-
socráticos (pluralistas) quando adentrarmos no período
clássico, por que contextualizando-os socialmente
poderemos entender melhor suas teorias e a influência
delas em seu meio social.
CAPÍTULO 2 – FILOSOFIA CLÁSSICA
A maturação e desenvolvimento da filosofia
clássica ocorre em Atenas devido a uma série de
acontecimentos que passaremos a analisar a seguir.
É importante entendermos o contexto histórico
para que as teorias filosóficas desse período possam fazer
sentido, pois a Filosofia como construção humana está
limitada a seu tempo e contexto social, embora muitos
queria fazer parecer que não.
ATENAS EM QUESTÃO
Atenas foi fundada pelos jônios na região da
Ática. Inicialmente esteve sob o regime monárquico, e
depois oligárquico. Era governada pelos Eupátridas
(bem nascidos), que além de possuírem as maiores e
melhores terras, ainda tinham como escravos outros
atenienses, que foram pequenos proprietários de terras
que não conseguiram saldar suas dívidas.
Sem um solo propício para agricultura, e com um
porto (Pireu) estrategicamente localizado no
Mediterrâneo, os Atenienses se lançaram ao mar.
Tornaram-se grandes marinheiros e desenvolveram o
comércio de forma significativa.
O comércio enriqueceu muitos atenienses que
não tinham o sangue azul dos eupátridas e estavam
doidos por participação política. A isso, some a
insatisfação dos escravizados por dívidas, dos
potencialmente escravos, e ainda, rebeliões provocadas
por estes. Pronto, o barril de pólvora estava cheio e
prestes a explodir.
Dracon em 620 a. C., tentou acalmar os ânimos
tornando públicas por meio da escrita, as leis da pólis,
que antes eram conhecidas só pelos eupátridas. Não
adiantou muita coisa.
Agora pasmem, em 594 a. C., os grupos
dominantes da época, decidiram eleger um homem sábio
para fazer reformas que pudessem colocar fim ao clima
de guerra que afligia a sociedade ateniense.
Escolheram Sólon, um dos sete sábio da Grécia,
que instituiu profundas reformas na sociedade. Dentre as
quais podemos citar:
 Perdoou a dívida dos atenienses escravizados, e
acabou com a escravidão por dívidas;
 Limitou o tamanho da propriedade;
 Modificou o critério de classificação social, do
nascimento para a riqueza;
 Com isso, modificou o critério para participação
nos cargos públicos (magistraturas), permitindo
a participação dos comerciantes na política;
 Permitiu a participação de todos os atenienses na
Assembleia (Eclésia), mesmo o mais pobre;
 Criou a boulé, que era um conselho de 400
membros escolhidos pela Eclésia, e que tinha a
função de criar projetos de leis para serem
votados por esta;
 Deu cidadania a todo aquele que contribuísse
com a pólis.
Ficou decidido que, o que Sólon fizesse não
poderia ser modificado por 10 anos. Então, depois de
fazer essas reformas Sólon deixou Atenas, tanto para não
perder sua vida, quanto para não usar de seu prestígio e
tornar-se um tirano.
Apesar de profundas, essas reformas trouxeram
ainda mais tensões. E de toda insatisfação emergiu em
546 a. C. o primeiro tirano de Atenas, Pisístrato.
Nessa época o termo tirano não tinha toda a carga
negativa que tem hoje, e designava apenas uma forma
ilegítima de governo. Não é que o tirano fosse cruel e
mandasse cortar a cabeça de quem olhasse torto pra ele,
é que ele não chegou ao poder com o apoio dos que
detinham o poder.
Pisístrato foi até um bom governante, manteve
inalteradas as leis de Sólon, construiu grandes obras,
patrocinou as artes, os jogos e os festivais, e projetou
Atenas como grande centro comercial e cultural da
Grécia.
Seus sucessores foram uns bocós e não souberam
se manter no poder, abrindo espaço novamente para
conflitos internos, quando Clístenes toma o poder em
510 a. C.
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Clístenes governou
Atenas de 510 a 507 a. C, e ousou
muito ao dividir o território da
Ática em 10 tribos, e cada tribo
em 03 DEMOS. Com isso ele
queria acabar com a influência
das tradicionais famílias
nobres aristocráticas.
É claro que para ocupar cargos públicos ainda era
necessário ter uma certa quantidade de riqueza, como
Sólon havia estipulado. Mas cada vez menos isso
dependia da família a que se pertencia.
A boulé (que criava projeto de lei) passou a ter
500 membros. Cada DEMO elegia 50, e cada tribo a
presidia sucessivamente durante o ano. Perceba o salto
qualitativo nesse regime de participação política que mais
tarde viária a ser chamado de DEMOCRACIA.
A Eclésia (assembleia popular) passou também a,
além de votar, discutir os projetos de lei. Provavelmente
a boulé tinha mais poderes que a Eclésia no início do
processo de construção desse novo regime, mas com o
tempo a situação se inverteu.
O OSTRACISMO foi uma instituição muito
famosa criada também por ele. Não era uma pena, mas
uma forma de defender o novo regime contra
levantes tirânicos. Se uma pessoa estava se tornando
demasiadamente famosa, prestigiada, e influente, ela era
banida da pólis por um período de 10 anos e depois
retornava como se nada tivesse acontecido.
Pense bem. Num regime onde todos devem ser
iguais, não deve haver essas grandes personalidades,
senão, não haveria isonomia, que era a base do sistema.
As reformas de Clístenes no sistema político de
Atenas acabou influenciando toda a Grécia, e seu
governo foi a transição entre o período arcaico e o
clássico.
No período clássico (Sec. V ao IV a. C.), as
Guerras Médicas (os medos faziam parte do povo Persa,
daí o nome) foram o pano de fundo para um maior
destaque de Atenas dentre todas as póleis gregas. Eles já
estavam se sentido os maiorais por terem suas
instituições como modelo do que de melhor se poderia
ter. Agora, iam colocar os músculos para trabalharem.
Diante dessas invasões as póleis gregas,
persuadidas por Atenas, fizeram uma aliança militar
conhecida como Liga de Delos. Claro que isso tinha um
custo, e que ninguém era obrigado a participar. No
entanto, seria bom contar com uma certa segurança não
é mesmo?
Inicialmente os recursos obtidos ficaram na ilha
de Delos (por isso o nome), mas com o tempo foram
transferidos para Atenas. Mesmo com o fim das ameaças
externas a Liga permaneceu, e ninguém mais poderia dela
se desligar, pois Atenas logo interferia. O que antes não
era obrigação, tornou-se submissão.
Dessa maneira, portanto, Atenas, sob a liderança
de um líder democrático, construiria com as riquezas dos
outros a sua ERA DE OURO. Foi nessa época que a
cidade foi embelezada com grandes templos e obras
públicas. Só para se ter uma ideia, o Partenon, um dos
maiores feitos de arquitetura da humanidade, foi erguido
nesta época.
É inegável que toda a glória alcançada por Atenas
teve como sustentação material a submissão das outras
póleis.
No entanto, deve-se deixar bem claro que apesar
da relação dos atenienses com os outros fosse de
hostilidade, entre eles, imperava os ideais mais nobres
como igualdade, liberdade e justiça. Em virtude disso, a
forma de governo que tem por base esses ideais pôde
florescer em sua plenitude.
Em Atenas o exercício da atividade política era
básico, algo comum na vida de seus habitantes. A
participação na tomada de decisões dos assuntos que
dizem respeito à administração da pólis era a principal e
mais nobre atividade que um homem livre poderia se
dedicar.
Foi nessa época que surgiu na cena política
ateniense um grande orador, de família aristocrática, e
excelente estrategista militar.
Péricles (495 – 429 a.C.) liderou Atenas em seu
esplendor (não é à toa que esse século recebeu seu nome),
quando na assembleia, juntamente com seus
concidadãos, aprimorou o regime democrático a ponto
de afirmar o seguinte em seu discurso fúnebre:
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“Nosso regime político
não se propõe tomar como modelo as
leis de outros: antes somos modelos
que imitadores. Como tudo nesse
regime depende não de poucos, mas
da maioria, seu nome é democracia.
Nela, enquanto no tocante às leis
todos são iguais para a solução de
suas divergências particulares, no
que se refere à atribuição de
honrarias o critério se baseia no
mérito e não na categoria a que se
pertence...”
O primeiro cidadão ateniense instituiu a
mistoforia, que era uma justa quantia em dinheiro para
que mesmo o mais lascado dos homens livres pudesse
participar diretamente da administração da cidade. Agora,
não precisava mais nem ser de família nobre, e nem ter
riqueza suficiente para ocupar determinado cargo.
Tal salário era necessário porque esses gregos
acreditavam que todos os cidadãos eram iguais
(isonomia) e por esta razão, tinham direito de se
expressar (isegoria) na assembleia, e de ter participação
no poder (isocracia). Para eles não havia outra maneira,
a única forma de DEMOCRACIA era a DIRETA.
Basicamente, a estrutura política estava
arquitetada da seguinte forma:
ASSEMBLÉIA – Conselho de cidadãos que
tomavam as decisões mais importantes da pólis. Eles se
reuniam no monte Pnyx (imagem abaixo). Claro que não
tinham essas cadeiras, mas olhe a vista que eles tinham da
acrópole. Imagine os atenienses tomando as decisões da
pólis com a vista das maravilhas que eles foram capazes
de fazer. Era mesmo algo grandioso.
BOULÉ – Conselho de 500 cidadãos que
propunham as leis.
ESTRATEGO – 10 generais com mandatos de
01 ano.
Para todos os cargo públicos uma pessoa só
podia ser eleita uma única vez na vida, para dar
oportunidade para outros participarem do poder. Na
boulé podia-se eleger duas vezes, e para estrategos podia
ser indefinidas vezes, isso por que esse cargo exigia
habilidades especiais de guerra.
Somente podiam participar desses cargos os
homems filhos de pais atenienses maiores de 20 anos,
pois apenas eles eram considerados Zoôn politikons. Eram
membros de famílias aristocráticas, pequenos
proprietários de terras, comerciantes e artesãos.
Mas a sociedade ateniense não era formada
apenas por eles; haviam também os que eram excluidos
da cidadania. Nesse grupo temos os metecos, que eram
os estrangeiros residentes ou não na pólis; as mulheres,
que serviam basicamente para cuidar da casa e
reproduzir; e finalmente os escravos, que eram os
prisioneiros de guerra.
Não por coincidencia, os escravos começaram a
aumentar quando a democracia estava em seu auge. Ora,
para haver tempo livre para os cidadãos se dedicarem à
política alguem tinha que ficar trabalhando. Estimasse
que eles fossem ¼ da popolação, no máximo.
Em Atenas não havia tratamento duro com os
escravos, não existiam pessoas acorrentadas andando
pelas ruas, chicotadas e esquartejamentos em praça
pública. Pelo contrário, era muito comum os escravos
serem libertados.
Habitantes de outras póleis estranhavam quando
andavam nas ruas de Atenas e viam escravos andando na
rua como se fossem livres.
Nas fazendas e no mercado eles trabalhavam lado
a lado com o seu senhor. Não há nenhum registro de
rebeliam de escravos em Atenas. A possibilidade de
conquista da liberdade que estava no horizonte,
abrandava a relação entre senhor e escravo.
OS PLURALISTAS
Nesse período a filosofia
continuou progredindo com os
filósofos pré-socrático. O próprio
Péricles tinha um desses sábios
como mestre, seu nome era
Anaxágoras (499-428 a. C.). Ele
defendia que o princípio gerador
de todas as coisas não é único, que
a physis era formada de várias partículas (sementes –
espermatas) ordenadas por uma inteligência universal.
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Diferentemente dele,
Empédocles (490-430 a. C.)
acreditava que os elementos
água, terra, ar e fogo eram os
princípios criadores, que
formavam as coisas pela
união e repulsão, pelo amor e
ódio.
Demócrito (460-370
a. C.) era contemporâneo de
Sócrates, mas como o objeto
de sua investigação ainda era
a physis, ele é considerado um
pré-socrático.
Segundo ele, o mundo
é formado por partículas invisíveis e indivisíveis
chamadas átomos, que se chocavam ao acaso no vazio
para formar os corpos percebidos pelos nossos sentidos.
Percebam que esses pré-socráticos do período
clássico, defendem não um, mas vários os elementos
criadores do universo.
Será coincidência eles defenderem isso no tempo
em que a constituição da pólis, ou seja, do mundo social,
dependesse de muitos e não de um só? Ou terá sido essa
forma de organização social fundamentada nessa nova
visão da constituição do universo?
Independentemente da resposta, o fato é que
havia agora uma nova visão do mundo, seja ele físico ou
social, e em ambos não havia mais o predomínio de uma
arché que a tudo governava, mas, a relação entre vários
elementos que regidos por leis constituíam o cosmos.
No mundo da physis cabia aos homens
descobrirem essas leis, no mundo da pólis cabia a eles
criarem-na. E essa atividade divina de criarem as leis, que
trariam ordem ao caos, era feita no espaço público da
pólis, na ÁGORA (praça central onde se discutiam
diversos assuntos), por meio da palavra, através do
discurso.
SOFISTAS
É também nesse contexto de valorização do
humano, da palavra, de se expressar bem e de convencer
o público por meio da oratória para se sair bem no
cenário político, que surgiram os sofistas, um conjunto
de sábios que ensinavam retórica (arte de falar bem e
persuadir o público).
A palavra sofista vem do grego sophós e quer dizer
sábio. Eles eram homens que viviam viajando entre as
póleis vendendo seu conhecimento, pois não eram ricos
para se manter no ócio intelectual.
Protágoras (480-410 a. C.) foi o primeiro e mais
ilustre dos sofistas. Nascido em Abdera, mudou-se para
Atenas onde se tornou muito famoso e requisitado pelas
famílias ricas.
Defendia que não havia um conhecimento e uma
verdade absolutas sobre as coisas, e que o mundo era
relativo ao que os homens percebiam dele. Daí sua
famosa frase: “o homem é a medida de todas as coisas”.
Sua doutrina relativista impossibilitava a
construção de um saber objetivo no qual se pudesse
chegar a critérios que estabelecessem e diferenciassem o
verdadeiro do falso, o certo do errado. Tudo dependia de
quem ou que grupo estava falando. As regras sociais, bem
como a própria pólis são convenções, e como tal, mudam
de acordo com que as convencionou, sendo, portanto,
relativas.
O maior crédito que se deve atribuir aos sofistas
foi o de ter voltado o debate filosófico da cosmologia,
para a área do humano, da pólis, da ética, da política. Pois
foi por se contrapor a eles que Sócrates deu início ao
conhecimento filosófico herdado pelo ocidente.
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QUESTÕES
1. A construção de uma cosmologia que desse uma
explicação racional e sistemática das características do
universo, em substituição à cosmogonia, que tentava
explicar a origem do universo baseada nos mitos, foi uma
preocupação da Filosofia
a) medieval.
b) antiga.
c) iluminista.
d) contemporânea.
2. No contexto da polis grega, as leis comuns nasciam de
uma convenção entre cidadãos, definida pelo confronto
de suas opiniões em um verdadeiro espaço público, a
ágora, confronto esse que concedia a essas convenções a
qualidade de instituições públicas.
MAGDALENO. F. S. A territorialidade da representação política:
vínculos territoriais de compromisso dos deputados fluminenses.
São Paulo: Annablume, 2010.
No texto, está relatado um exemplo de exercício da
cidadania associado ao seguinte modelo de prática
democrática:
A) direta.
B) sindical.
C) socialista.
D) corporativista.
E) representativa.
3. Nas práticas arcaicas, o discurso não constata o real,
ele performativamente o faz ser. (...) No discurso
"racional" diz-se que as coisas são tais; logo, diz-se a
verdade: subordina-se a verdade ao real que ela enuncia.
(...) A passagem às práticas racionais de veridicidade
pode, portanto, ser descrita como uma inversão: da
autoridade do mestre como abonador da realidade
daquilo que ele fala à autoridade da realidade como
abonadora da veridicidade do que diz o locutor.
No texto supracitado, Francis Wolff aponta uma das
várias diferenças fundamentais entre o discurso racional
e o discurso arcaico ou mítico. A partir dele, é correto
dizer que no discurso
A) racional a verdade e a realidade estão subordinadas a
seu enunciador.
B) mítico a verdade impõe-se a partir da realidade das
coisas, a despeito do mestre que o profere.
C) racional a verdade depende de práticas rituais que
instituem a própria realidade.
D) racional a realidade é instituída performativamente
pelo elocutor.
E) racional a verdade é subordinada à realidade das coisas
que se busca descrever.
4. De fato, é no plano político que a Razão, na Grécia,
primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se.
Essa frase de Vernant é uma síntese de sua tese, segundo
a qual
A) a racionalidade, da forma que a conhecemos, só existe
a partir da filosofia política de Platão.
B) o surgimento da filosofia tem profunda conexão com
o desenvolvimento da vida pública das cidades gregas.
C) a preocupação com a ciência política é o ponto em
comum entre as doutrinas pré-socráticas.
D) a democracia ateniense surge como produto da ética
e da filosofia política dos séculos VII e VI a. C..
E) o desenvolvimento da Razão se deve ao intenso
envolvimento político dos filósofos do período
helenístico.
5. A atividade intelectual que se instalou na Grécia a
partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada
num exercício especulativo-racional. De fato, “[...] não é
mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe
serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade
regrada a partir de um comportamento epistêmico de
tipo próprio: empírico e racional”.
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p.
32.
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Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na
Grécia, assinale a alternativa correta.
a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica
de um intelecto primitivo, próprio de sociedades
selvagens.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como
base da sua especulação teórica e adotando a sua
metodologia.
c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio
importante de difusão e manutenção de um saber prático
fundamental para a vida cotidiana.
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões
culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada,
crítica e radical, baseada no logos.
6. “Para referir-se à palavra e à linguagem, os gregos
possuíam duas palavras: mythos e lógos. Diferentemente
do mythos, lógos é uma síntese de três ideias:
fala/palavra, pensamento/ideia e realidade/ser. Lógos é
a palavra racional em que se exprime o pensamento que
conhece o real. É discurso (ou seja, argumento e prova),
pensamento (ou seja, raciocínio e demonstração) e
realidade (ou seja, as coisas e os nexos e as ligações
universais e necessárias entre os seres). [...] Essa dupla
dimensão da linguagem (como mythos e lógos) explica
por que, na sociedade ocidental, podemos comunicar-
nos e interpretar o mundo sempre em dois registros
contrários e opostos: o da palavra solene, mágica,
religiosa, artística e o da palavra leiga, científica, técnica,
puramente racional e conceitual.”
(CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011, p. 187- 188).
A partir do texto, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
01) O mythos é uma linguagem que comunica saberes e
conhecimentos.
02) As coisas próprias do domínio religioso são inefáveis,
ou seja, não podem ser pronunciadas e ditas pela
linguagem humana.
04) O mythos não possui o mesmo poder de
convencimento e de persuasão que o lógos.
08) O lógos é, ao mesmo tempo, o exercício da razão e
sua enunciação para os seres humanos.
16) O lógos é muito mais do que a palavra, é a expressão
das qualidades essenciais do ser, a possibilidade de
conhecer as coisas nos seus fundamentos primeiros.
7.O ser humano, desde sua origem, em sua existência
cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa e aprova
coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por
meio dos quais procura orientar seu comportamento
teórico e prático. Entretanto, houve um momento em
sua evolução histórico-social em que o ser humano
começa a conferir um caráter filosófico às suas
indagações e perplexidades, questionando racionalmente
suas crenças, valores e escolhas.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia
a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que,
por meio da elaboração dos sentimentos, das percepções
e dos anseios humanos, procura consolidar nossas
crenças e opiniões.
b) existe desde que existe o ser humano, não havendo um
local ou uma época específica para seu nascimento, o que
nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é
também filosófica e exige o trabalho da razão.
c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e
as certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição
e pela sociedade, visando educar o ser humano como
cidadão.
d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e
justificações racionais que validam ou invalidam suas
crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da
verdade revelada pela codificação mítica.
8. O surgimento da filosofia entre os gregos (Séc. VII
a.C.) é marcado por um crescente processo de
racionalização da vida na cidade, em que o ser humano
abandona a verdade revelada pela codificação mítica e
passa a exigir uma explicação racional para a
compreensão do mundo humano e do mundo natural.
Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente,
destaca-se:
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a) a concepção política expressa em A República, de
Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar sob
um regime político oligárquico.
b) a criação de instituições universitárias como a
Academia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles.
c) a filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-nos
como legado a recusa de uma fé inabalável na razão
humana e a crença de que sempre devemos acreditar nos
sentimentos.
d) a recusa em apresentar explicações preestabelecidas
mediante a exigência de que, para cada fato, ação ou
discurso, seja encontrado um fundamento racional.
9. “Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéricos,
segundo a qual o Oceano é a origem de todas as coisas,
difere da concepção de Tales, que considera a água o
princípio original do mundo; seja como for, é evidente
que a representação do mar inesgotável colaborou para a
sua expressão. Em todas as partes da Teogonia, de
Hesíodo, reina a vontade expressa de uma compreensão
construtiva e uma perfeita coerência na ordem racional e
na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua
cosmologia ainda apresenta uma irreprimível pujança de
criação mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre
as doutrinas dos “fisiólogos”, nos primórdios da filosofia
“científica”, e sem a qual não se poderia conceber a
atividade prodigiosa que se expande na criação das
concepções filosóficas do período mais antigo da
ciência”
Werner Jaeger.
Considerando o texto acima sobre o surgimento da
filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo:
I. O surgimento da filosofia não coincide com o início do
uso do pensamento racional.
II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim do
uso do pensamento mítico.
III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água
como princípio original do mundo, rompe,
definitivamente, com o pensamento mítico.
IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de
Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o mito do
julgamento das almas.
V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré-
socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da
natureza (Physis).
Das afirmativas feitas acima
a) apenas a afirmação V está correta.
b) apenas as afirmações III e V estão corretas.
c) apenas as afirmações II e IV estão corretas.
d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas.
e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas.
10. “É no plano político que a Razão, na Grécia,
primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A
experiência social pode tornar-se entre os gregos o objeto
de uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade,
a um debate público de argumentos. O declínio do mito
data do dia em que os primeiros Sábios puseram em
discussão a ordem humana, procuraram defini-la em si
mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis a sua
inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida.
Assim se destacou e se definiu um pensamento
propriamente político, exterior a religião, com seu
vocabulário, seus conceitos, seus princípios, suas vistas
teóricas. Este pensamento marcou profundamente a
mentalidade do homem antigo; caracteriza uma
civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva,
de considerar a vida pública como o coroamento da
atividade humana”.
Considerando a citação acima, extraída do livro As
origens do pensamento grego, de Jean Pierre Vernant, e
os conhecimentos da relação entre mito e filosofia, é
incorreto afirmar que
a) os filósofos gregos ocupavam-se das matemáticas e
delas se serviam para constituir um ideal de pensamento
que deveria orientar a vida pública do homem grego.
b) a discussão racional dos Sábios que traduziu a ordem
humana em fórmulas acessíveis a inteligência causou o
abandono do mito e, com ele, o fim da religião e a
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decorrente exclusividade do pensamento racional na
Grécia.
c) a atividade humana grega, desde a invenção da política,
encontrava seu sentido principalmente na vida pública,
na qual o debate de argumentos era orientado por
princípios racionais, conceitos e vocabulário próprios.
d) a política, por valorizar o debate público de
argumentos que todos os cidadãos podem compreender
e discutir, comunicar e transmitir, se distancia dos
discursos compreensíveis apenas pelos iniciados em
mistérios sagrados e contribui para a constituição do
pensamento filosófico orientado pela Razão.
e) ainda que o pensamento filosófico prime pela
racionalidade, alguns filósofos, mesmo após o declínio do
pensamento mitológico, recorreram a narrativas
mitológicas para expressar suas ideias; exemplo disso e o
“Mito de Er” utilizado por Platão para encerrar sua
principal obra, A República.
11. “A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados
e espantados com a realidade, insatisfeitos com as
explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer
perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando
que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos
materiais e as ações dos seres humanos podem ser
conhecidos pela razão humana”
(CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32).
Considerando o exposto, assinale o que for correto.
01) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C..
Apesar de seu nascimento ser considerado o “milagre
grego”, é conhecida a frequentação de Atenas por outros
sábios que viveram no século VI a.C., como Confúcio e
Lao Tse (provenientes da China), Buda (proveniente da
Índia) e Zaratustra (proveniente da Pérsia), fazendo da
filosofia grega uma espécie de comunhão dos saberes da
antiguidade.
02) O surgimento da filosofia é coetâneo ao advento da
pólis (cidade). Novas estruturas sociais e políticas
permitiram o desenvolvimento de formas de
racionalidade, modificadoras da prática do mito.
04) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica, os
sofistas representam, indiscutivelmente, o ponto mais
alto da filosofia clássica grega (séculos V e IV a.C.),
ultrapassando Sócrates, Platão e Aristóteles.
08) Filósofo é aquele que busca certezas sem garantias de
possuí-las efetivamente. Por essa razão, o filósofo deseja
o conhecimento do mundo e das práticas humanas por
meio de critérios aproximativos e compartilhados (de
aceitação comum), através do debate.
16) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras
habilidades, pela capacidade de generalização e produção
de conceitos, encontrando, sob a multiplicidade de
objetos do mundo, relações de semelhança e de
identidade.
12. No início do século XX, estudiosos esforçaram-se
em mostrar a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito
e filosofia, opondo-se a teses anteriores, que advogavam
a descontinuidade entre ambos. A continuidade entre
mito e filosofia, no entanto, não foi entendida
univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e
Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem
do mundo e das coisas haviam sido respondidas pelos
mitos e pela filosofia nascente, dado que os primeiros
filósofos haviam suprimido os aspectos antropomórficos
e fantásticos dos mitos. Ainda no século XX, Vernant,
mesmo aceitando certa continuidade entre mito e
filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de
que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o
mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre a
especificidade da filosofia em relação ao mito foi
retomada.
Considerando o breve histórico acima, concernente à
relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a
opção que expressa, de forma mais adequada, essa
relação na Grécia Antiga.
a) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade
arcaica, e a filosofia corresponde ao advento da razão
liberada da religiosidade.
b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo é
apresentada imaginativamente, e a filosofia caracteriza-se
como explicação racional que retoma questões presentes
no mito.
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c) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico e
irracional, e a filosofia, também fundamentada no rito,
corresponde ao surgimento da razão na Grécia Antiga.
d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a
origem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a
partir do dilema insuperável entre caos e medida.
13. A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi
fruto de um amadurecimento lento e processual. Por
muito tempo, essas duas maneiras de explicação do real
conviveram sem que se traçasse um corte temporal mais
preciso. Com base nessa afirmativa, é correto afirmar:
a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a
passagem do Mito ao Logos.
b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi
responsabilidade dos tiranos de Siracusa.
c) A economia grega estava baseada na industrialização,
e isso facilitou a passagem do Mito ao Logos.
d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com
outros povos com as mesmas preocupações e culturas, o
que contribuiu para a passagem do Mito ao Logos.
e) A atividade comercial e as constantes viagens
oportunizaram a troca de informações/conhecimentos, a
observação/assimilação dos modos de vida de outros
povos, contribuindo, assim, de modo decisivo, para a
construção da passagem do Mito ao Logos.
14. No mundo grego, podemos encontrar uma série de
relatos mitológicos sobre diversos aspectos da vida
humana, da natureza, dos deuses e do universo. Dois
tipos de relatos merecem destaque: as cosmogonias e
teogonias. Os relatos citados tratam da
a) origem dos homens e das plantas.
b) origem do cosmo e dos deuses.
c) origem dos deuses e dos homens.
d) origem do cosmo e das plantas.
15. A filosofia surge na Grécia por volta do século VI
a.C. Mudanças sociais, políticas e econômicas
favoreceram o seu surgimento. Dentre estas mudanças,
pode-se mencionar:
a) A estruturação do mundo rural, desenvolvimento do
sistema escravagista e o estabelecimento de uma
aristocracia proprietária de terras.
b) A expansão da economia local fundada no
desenvolvimento do artesanato, o fortalecimento dos
“demos” e da organização familiar patriarcal.
c) As disputas entre Atenas e Esparta, o desenvolvimento
de Mecenas e do comércio jônico.
d) O uso da escrita alfabética, as viagens marítimas e a
evolução do comércio e do artesanato.
e) O predomínio do pensamento mítico.
16. A palavra não é mais o termo ritual, a fórmula justa,
mas o debate contraditório, a discussão, a argumentação.
Supõe um público ao qual ela se dirige, como a um juiz
que decide em última instância, de mãos erguidas, entre
os dois partidos que lhes são apresentados; é essa escolha
puramente humana que mede a força de persuasão
respectiva dos dois discursos, assegurando a vitória de
um dos oradores sobre seus adversários.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego.
São Paulo: Bertrand Brasil, 1992. p. 34-35.
O texto citado refere-se ao exercício da cidadania nas
cidades gregas da Antiguidade clássica. Segundo Jean-
Pierre Vernant, o “universo espiritual” das pólis gregas
contribuiu decisivamente para o surgimento da filosofia.
Assinale a alternativa que relaciona corretamente
cidadania e filosofia na Grécia Antiga.
a) Entre a filosofia e a prática da cidadania há uma relação
de necessidade causal, posto que a vida política das
sociedades gregas foi gerada pela reflexão filosófica, que,
ao criar um pensamento distinto das narrativas
mitológicas, destituiu o poder monárquico de sua
fundamentação teórica e lançou, assim, as condições
suficientes para a comunidade cívica.
b) Nas cidades gregas, o desenvolvimento da atividade
política dos cidadãos instaurou um pensamento exterior
à religiosidade, favorecendo a busca por explicações
exclusivamente racionais sobre os fenômenos cósmicos,
naturais e humanos, ou seja, a substituição das narrativas
míticas pelas investigações filosóficas.
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c) A atividade política dos cidadãos gregos, orientada
para os problemas práticos da vida, consistiu em
obstáculo para o desenvolvimento da reflexão filosófica,
pois a filosofia, com sua natureza estritamente
contemplativa, afasta os homens de sua realidade
cotidiana, desvirtuando-os para temas cosmológicos
irrelevantes.
d) A filosofia e a política são sinônimos entre os gregos
antigos, pois a prática da cidadania nas assembleias era
tomada como pura especulação filosófica, ao mesmo
tempo que a reflexão filosófica, desde suas origens,
concentra-se unicamente nos problemas políticos
atinentes à humanidade
e) O desenvolvimento da atividade política, com seus
intermináveis e desgastantes debates, fomentou a
filosofia, à medida que os cidadãos procuravam nas teses
filosóficas de procedência espiritualista um consolo para
suas aflições cotidianas, bem como nelas depositavam
suas esperanças de recompensa pelos infortúnios do
mundo terreno na eternidade de um paraíso isento de
conflitos.
17."Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as
duas ordens de fenômenos os vínculos são demasiado
estreitos para que o pensamento racional não apareça, em
suas origens, solidário das estruturas sociais e mentais
próprias da cidade grega. Assim recolocada na história, a
filosofia despoja-se desse caráter de revelação absoluta
que às vezes lhe foi atribuído, saudando, na jovem ciência
dos jônios, a razão intemporal que veio encarnar-se no
Tempo. A escola de Mileto não viu nascer a Razão; ela
construiu uma razão, uma primeira forma de
racionalidade".
Jean Pierre Vernant.
Sobre a Filosofia seguem as seguintes afirmações:
I. Ela foi revelada pela deusa Razão a Tales de Mileto
quando este afirmou que o princípio de tudo é a água.
II. Ela foi inventada pelos gregos e decorre do advento
da Polis, a cidade organizada por leis e instituições que,
por meio delas, eliminou todo tipo de disputa.
III. Ela rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes
divinos na explicação dos fenômenos; problematiza,
discute e põe em questão até mesmo as teorias racionais
elaboradas com rigor filosófico.
IV. Surgiu no século VI a.C. nas colônias gregas da
Magna Grécia e da Jônia, apenas no século seguinte
deslocou-se para Atenas.
V. Ocupa-se com os princípios, as causas e condições do
conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro;
põe em questão e problematiza valores morais, políticos,
religiosos, artísticos e culturais.
Das afirmações feitas acima
a) I, III e V são corretas.
b) I e II são incorretas.
c) II, IV e V são corretas.
d) todas são corretas.
e) todas são incorretas.
18. Leia o texto e as assertivas abaixo a respeito das
relações entre o nascimento da filosofia e a mitologia.
O nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela
passagem da cosmogonia para a cosmologia. A cosmogonia,
típica do pensamento mítico, é descritiva e explica como
do caos surge o cosmos, a partir da geração dos deuses,
identificados às forças da natureza. Na cosmologia, as
explicações rompem com a religiosidade: a arché
(princípio) não se encontra mais na ordem do tempo
mítico, mas significa princípio teórico, enquanto
fundamento de todas as coisas. Daí a diversidade de
escolas filosóficas, dando origem a fundamentações
conceituais (e portanto abstratas) muito diferentes entre
si.
ARANHA, M. L. A; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1993,
p. 93.
I - Uma corrente de pensamento afirma que houve
ruptura completa entre mito e filosofia, tal corrente é a
que defende a tese do milagre grego.
II - Outra corrente de pensamento afirma que não houve
ruptura completa entre mito e filosofia, mas certa
continuidade, é a que defende a tese do mito noético.
Assinale a alternativa correta.
A) I é falsa e II verdadeira.
B) I é verdadeira e II falsa.
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C) I e II são verdadeiras.
D) I e II são falsas.
19. Dentre as teorias que explicam o nascimento da
filosofia na Grécia Antiga, há uma que enfatiza o seu
surgimento político. Qual característica da polis grega teria
contribuído para o nascimento da filosofia?
A) A proeminência, no espaço público, do pensamento e
da reflexão sobre a palavra.
B) Com a polis advém uma revolução social na Grécia: o
surgimento da nova classe dirigente dos sábios ou Reis
filósofos.
C) A existência de um discurso público e dialogado,
baseado na troca de opiniões e no desenvolvimento de
argumentos persuasivos.
D) A fundação de um cosmo social laico, expulsando,
dos domínios da polis, a religião, o sagrado e os
sacerdotes.
20. Em nós, manifesta-se sempre uma e a mesma coisa,
vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice. Pois a
mudança de um dá o outro e reciprocamente.
Heráclito, fragmento 88. ln: BornHeim, g. a. (org.). Os filósofos
pré-socráticos. São Paulo: editora cultrix, 1998. P. 41.
Assinale a alternativa que explica o fragmento de
Heráclito.
A) A oposição é a afirmação da força irracional que
sustenta o mundo e explica a constante mudança de tudo
que existe.
B) A oposição dos contrários nada mais é que o equilíbrio
das forças, pois no mundo tudo é “uno e constante, tudo
mais é apenas ilusão.
C) A mudança permiteafirmar que a constância do
mundo das ideias é a única realidade, na qual as essências
determinam tudo.
D) A oposição é a confirmação de que a realidade é o
eterno fluxo de mudanças, e da tensão dos contrários
nasce a harmonia e a unidade do mundo.
21. De um modo geral, o conceito de physis no mundo
pré-socrático expressa um princípio de movimento por
meio do qual tudo o que existe é gerado e se corrompe.
A doutrina de Parmênides, no entanto, tal como relatada
pela tradição, aboliu esse princípio e provocou,
consequentemente, um sério conflito no debate
filosófico posterior, em relação ao modo como conceber
o ser.
Para Parmênides e seus discípulos:
A) A imobilidade é o princípio do não-ser, na medida em
que o movimento está em tudo o que existe.
B) O movimento é princípio de mudança e a
pressuposição de um não-ser.
C) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é
fruto de imaginação especulativa.
D) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso
a realidade empírica é puro ser, ainda que em movimento.
22. Leia o texto abaixo:
“Afasta o pensamento desse caminho de busca e que o
hábito nascido de muitas experiências humanas não te
force, nesse caminho, a usar o olho que não vê, o ouvido
que retumba e a língua: mas, com o pensamento, julga a
prova que te foi fornecida com múltiplas refutações. Um
só caminho resta ao discurso: que o ser existe.”
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga.
Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 35.
Com base no pensamento de Parmênides, assinale a
alternativa correta.
A) Os sentidos atestam e conduzem à verdade absoluta
do ser.
B) O ser é o eterno devir, mas o devir é de alguma
maneira regido pelo Logos.
C) O discurso se move por teses e antíteses, pois essas
são representações exatas do devir.
D) Quem afirma que “o ser não existe” anda pelo
caminho do erro.
23. O surgimento da filosofia entre os gregos (Séc. VII
a.C.) é marcado por um crescente processo de
racionalização da vida na cidade, em que o ser humano
abandona a verdade revelada pela codificação mítica e
passa a exigir uma explicação racional para a
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compreensão do mundo humano e do mundo natural.
Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente,
destaca-se:
a) a concepção política expressa em A República, de
Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar sob
um regime político oligárquico.
b) a criação de instituições universitárias como a
Academia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles.
c) a filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-nos
como legado a recusa de uma fé inabalável na razão
humana e a crença de que sempre devemos acreditar nos
sentimentos.
d) a recusa em apresentar explicações preestabelecidas
mediante a exigência de que, para cada fato, ação ou
discurso, seja encontrado um fundamento racional.
24. Observe a figura a seguir e responda à questão.
Figura: Cidade de Atenas
A figura mostra Atenas na atualidade. Observam-se as
ruínas da Acrópolis – onde ficavam os templos como o
Parthenon –, o Teatro de Dionísio e a Asthy – com a
Ágora (Mercado/Praça Pública) e as casas dos
moradores.
Sobre a relação entre a organização da cidade de Atenas,
a ideia de pólis e o aparecimento da filosofia na Grécia
Clássica, considere as afirmativas a seguir.
I. A filosofia surgiu simultaneamente à cidade-Estado,
ambiente em que predominava o discurso público
baseado na troca de opiniões e no desenvolvimento da
argumentação.
II. A filosofia afastava-se das preocupações imediatas da
aparência sensível e voltava-se para as questões do
espírito.
III. O discurso proferido pelo filósofo era dirigido a
pequenos grupos, o que o distanciava da vida pública.
IV. O discurso da filosofia no contexto da pólis
restringia-se ao mesmo tipo de discurso dos guerreiros e
dos políticos ao desejar convencer em vez de proferir a
verdade.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
25. Observe a figura a seguir e responda à questão.
A escultura Discóbolo de Míron, do século V a. C.,
expressa o ideal de homem na pólis ateniense. Com base
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Página | 17
nos valores deste ideal clássico, considere as afirmativas
a seguir.
I. Ao cidadão, cabia tempo livre para se dedicar
integralmente ao que era próprio do ser político, como a
especulação filosófica e a prática desportiva, visando à
realização do humano.
II. Na pólis governada por juristas apoiados por atletas
com poder de comando das tropas, o cidadão
considerava a igualdade econômica como a realização do
ser humano.
III. O cidadão era o elemento que integrava a pólis à
natureza e tal integração era representada pela corpolatria
e pelas atividades físicas impostas pelo Senado.
IV. O ideal do cidadão era expresso pela sua participação
nas ações e decisões da pólis, o que incluía a busca da
beleza e do equilíbrio entre as formas.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
26. O homem é a medida de todas as coisas. Das coisas
que são o que são e das coisas que não são o que não são.
A frase acima é atribuída a Protágoras, um dos mais
celébres sofistas. A partir dela deve-se inferir que um dos
traços distintivos de sua filosofia é o
A) positivismo.
B) relativismo.
C) dogmatismo.
D) humanismo.
E) niilismo.
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Página | 18
GABARITO
1. b
2. a
3. e
4. b
5. c
6. 1/8/16
7. d
8. d
9. d
10. b
11. 2/8/16
12. b
13. e
14. b
15. d
16. b
17. b
18. c
19. c
20. d
21. b
22. d
23. d
24. a
25. a
26. b

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A origem da filosofia na Grécia Antiga

  • 1. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 1 UNIDADE 1 – FILOSOFIA ANTIGA CAPÍTULO 1 – ORIGEM DA FILOSOFIA Para uma melhor compreensão da matéria, é importante deixar bem claro que é um erro chamar as póleis gregas de cidades-estados, dentre tantos motivos destacarei apenas dois. O primeiro é a imprecisão histórica; o termo cidade é romano (civitas em latim), e o Estado é invenção da modernidade, ainda não existindo nesse tempo. Alguns podem retrucar e argumentar que isso não tem importância. Para eles eu destaco o segundo motivo, que é a carga de preconceitos que esses termos carregam. E quando uso o termo preconceito não estou usando-o de forma pejorativa, mas em seu sentido literal, isto é, de ideias preconcebidas, sem reflexão. Quando se fala em “cidade” imaginamos nossas formas de aglomeração humana em um mesmo espaço, uma arena em que cada indivíduo procura o seu bem, se dar bem sem prejudicar a busca do bem do outro, estejam esses bens correlacionados ou não. O termo “bem”, aqui, não está sendo usado no sentido metafísico, mas no sentido de propriedade mesmo, seja ele (bem) posses materiais, fama, dinheiro ou poder. Noutra vertente, quando usamos o termo “estado” vem à nossa cabeça um poder exterior a nós que por meio de um governo, quer se intrometer em nossas vidas, quer seja positivando/regulando nossas relações sociais, quer seja tributanto nossos salários ou negócios, quer seja ditando quando, onde, e como será gasto nossas riquezas. Quando se fala em estado, temos um governo, uma sociedade civil (organizada ou não) e uma democracia representativa. Uns que comandam e outros que são comandados. Como veremos a seguir, a Grécia, melhor dizendo, a Atenas da época clássica, gerou uma forma de organização da vida humana que serviu de base durante esses milênios para nossas sociedades. Mas é importante deixar claro que usar o termo “cidade-estado” para designar essa forma de organização político-social dos gregos é uma monstruosidade que precisa ser corrigida pelos manuais do ensino médio. Continuar com isso é permanecer no erro de olhar o outro pelo nosso umbigo, querer entender suas formas de expressão a partir das nossas. Esse tipo de pensamento é que causa discórdia e não aceitação do outro, o que gera guerras e mais guerras. CONTEXTO HISTÓRICO Na antiguidade a região conhecida como Grécia não era um estado unificado, com poder centralizado, governo único, e suas cidades-estados (póleis) obedecendo a esse poder. Era na verdade, uma região que por suas peculiaridades históricas e geográficas abrigava povos de origem, costumes e crenças comuns, unidos por uma mesma língua. A história desse povo na antiguidade é dividida em quatro períodos. A sua formação se dá pela união das civilizações Cretense e Micênica no período que ficou convencionado chamar de pré-homérico (Secs. XX a XII a. C.), cujo fim ocorre com a invasão dórica que ocasionou a primeira diáspora grega, quando eles ocuparam todas as áreas banhadas pelo mar Egeu na forma de pequenos núcleos rurais. Começa a partir de então o período homérico (Secs. XII a VIII a. C.), que leva esse nome por causa das obras do grande poeta Homero, que nos conta, por meio da Ilíada e Odisseia, como foi essa época. Os pequenos núcleos rurais deram origem aos genos que, comandado por um pater, eram formados por pessoas que acreditavam ser de uma mesma descendência. Apesar de terem um líder, a terra era de propriedade de todos. Nesse período, houve um grande aumento populacional que não foi acompanhado pela produção de alimentos, pois haviam poucas terras férteis. Muitos genos se dividiram, houve disputas e distribuição desigual de terras que passaram a ser propriedade privada. Foi um período de turbulência e muitas pessoas ficaram marginalizadas. Desse modo, a sociedade, que era essencialmente agrária e patriarcal, ficou estruturada da seguinte forma:
  • 2. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 2 1) Eupátridas = os paters e seus parentes mais próximos que detinham as maiores e melhores terras; 2) Demiurgos = trabalhadores livres 3) Georgoi = pequenos proprietários de terras; 4) Thetas = homens livres, mas marginalizados por que sobraram na divisão e disputas por terras; 5) Escravos Essa instabilidade gerou a necessidade de alguns genos se aliarem. Dessas alianças resultaram as fratrias, e da união destas, as tribos. O poder do pater passou a ser exercido por grupos de latifundiários bem nascidos conhecidos como eupátridas. Até que finalmente foram formados os demos que tinha como líder o basileu (rei), que era o mais fodão dos eupátridas. Para sobreviver, muitos gregos tiveram que buscar terras férteis para o cultivo de alimentos. Eles se lançaram ao mar à procura dessas regiões e se estabeleceram, além do Mar Egeu, por quase toda região europeia banhada pelo Mar Mediterrâneo (principalmente no sul da península itálica e na região da Sicília, que ficou conhecida como Magna Grécia), adentrando também na região do Mar Negro fundando apoikias (novos demos - colônias) em todos esses territórios. Essa busca de novas terras foi Segunda Diáspora grega. Foi basicamente nessa época que houve o ressurgimento da escrita entre os gregos, quando eles adaptaram o alfabeto fenício à sua língua. A Ilíada e a Odisseia descrevem vários aspectos da cultura e as diversas formas de relacionamento social dessa época, e mais importante, influenciaram muito as várias gerações gregas que tiveram o guerreiro bom e belo como um ideal de formação a ser alcançado. O MITO Antes mesmo do advento da Filosofia o homem tinha já possuía a curiosidade de saber sobre a origem das coisas, e mesmo sem ter a tecnologia de que dispomos hoje, eles tinham a imaginação trabalhando a todo vapor. Com ela criaram diversas histórias que foram passadas de forma oral por várias gerações. A palavra grega mythos significa contar, narrar, conversar. O mito é uma narrativa fantasiosa que visa dar uma explicação para a origem de determinada coisa, seja ela o homem, o amor, a doença, o mundo, os deuses, etc. Mas além disso, é também uma forma de justificação da estrutura social da época. Dito de outro jeito, o mito é uma forma de ver não só o mundo natural, como também de entender e aceitar a divisão e funcionamento da sociedade. Tanto é que os mitos se sustentam apenas na autoridade de quem os conta. O poeta-rapsodo, tem autoridade inquestionável, seja porque recebeu a narrativa de uma tradição oral respeitada, seja porque é considerado alguém escolhido pelos deuses para receber uma revelação e passá-la aos outros. Esses devem receber a informação como verdade inquestionável. Desse modo, os mitos não dão espaço para questionamentos e nem reflexão, perpetuando a forma de ver e entender tanto o mundo natural quanto o social. Perceba que os grandes reis (basileu) são protegidos ou escolhidos pelos deuses e os grandes guerreiros, como Aquiles, possuem vínculos com eles. Você se atreveria a discutir com eles, ou questionar sua autoridade? Fica difícil, não é? Os mitos sobre a origem do mundo são as cosmogonias (cosmos = mundo ordenado + gonia = gerar), já os que narram a origem dos deuses são as teogonias (theos = seres divinos + gonia = gerar. Admitem incoerências, contradições e são muito limitados deixando vários questionamentos em aberto. No entanto, sucessivos acontecimentos acabaram derrubando muitas dessas explicações e uma nova forma de ver o mundo (incluindo a sociedade) precisava ser criada. A PÓLIS E O SURGIMENTO DA FILOSOFIA Com a segunda diáspora, começa o período arcaico (Sécs. VIII a VI a. C.), quando tivemos a formação de vários demos espalhados por todo o mediterrâneo, intensificando as trocas de mercadorias e fazendo florescer novamente o comércio. É importante destacar que nessa época surge a moeda como um meio de facilitar as transações comerciais.
  • 3. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 3 A partir daí, foi só questão de tempo para que os demos se unissem e formassem as póleis (eram mais de 1000), que foram governadas por conselhos de eupátridas (proprietários de terras) dando início aos regimes oligárquicos (governo de poucos). Eles desenvolveram leis, distribuíam a justiça, e ditavam a divindade a ser cultuada. Agora, com um número muito maior de póleis, e várias delas sendo importantes centros comerciais e portos estratégicos para a navegação, a principal atividade econômica deixou de ser a agricultura, e o comércio passa a ser o seu principal fator de desenvolvimento econômico. Esse desenvolvimento econômico proporcionou uma melhora significativa na qualidade de vida material da população. A partir daí os gregos passaram a ter tempo para fazer algo além de comercializar, eles agora iriam pensar. A consolidação das póleis seguido de uma relativa estabilidade política e econômica, e um longo período de prosperidade foi o terreno fértil para o nascimento da Filosofia. Algumas invenções e atividades que se desenvolveram, ou foram criadas, juntamente com a polis foram cruciais para o seu surgimento. São elas:  As navegações – ao desbravarem os mares os gregos iriam realmente descobrir se existiam os monstros e sereias que os mitos contavam.  A invenção do calendário – isso proporcionou aos gregos verem que as estações do ano não eram vontade dos deuses mas fenômenos naturais que podiam ser previstos.  A moeda – Você certamente sabe quanto custa uma caneta, um caderno ou uma meia. Mas você sabe quanto vale um real? Sabe porque um real vale um real, e cem reais vale cem reais? Pois é, esse é um exercício de abstração que requerem cálculos complexo. Os gregos deixaram de trocar as coisas e passaram a usar a moeda quando adquiriam essa capacidade de abstração.  A escrita alfabética – se eu desenhar um homem e te mostrar, você vai saber que aquilo representa um homem. Mas se eu te mostrar esse símbolo A política – Esse ponto é bastante importante porque marca uma ruptura no modo de encarar a organização social. A pólis é um lugar onde os homens decidem o seu próprio destino, e não mais os deuses. E esse governo dos homens só era possível porque eles eram livres para criarem suas próprias leis, que eram fruto do debate público, ou seja, da palavra que era posta sob questionamento. E esse tipo de discurso proporcionado pela atividade política foi fundamental para o surgimento do discurso filosófico, que nasceu como diálogo. A palavra que sempre pode ser debatida e questionada. Lembrem-se que no mito, a palavra era inquestionável. Nas póleis gregas não havia muita diferença de riqueza entre os cidadãos e a monarquia não era a forma de governo predominante entre eles. Todos eram responsáveis pela defesa da pólis, então, não fazia sentido não terem participação na tomada de decisões sobre os rumos da mesma. Foi assim que nasceu a política na forma de democracia. Os gregos acreditavam que um homem livre que vivia em pleno gozo de suas faculdades mentais e corporais deveria viver em uma comunidade política que se autodeterminava por leis que ela mesma criava por meio do debate, e não por um homem (rei) ou alguma divindade. A vida na pólis era voltada para que eles desenvolvessem plenamente suas capacidades humanas, fruto de sua natureza. Cada cidadão era estimulado a exercitar as virtudes e reprimir os vícios. E a justiça necessária para controlar esse lado ruim só pode ser encontrada em uma comunidade bem ordenada, de homens virtuosos, justos e livres, que governam a si mesmos, ou seja, na pólis. Essa visão histórica da formação da sociedade grega desde os núcleos rurais até a formação das póleis, nos ajuda a entender não apenas o surgimento da filosofia, mas o por que dela ter sido uma invenção grega. Ela não foi um “milagre” repentino desse povo, mas o resultado de uma gestação que vinha acontecendo no seio das transformações ocorridas na sociedade grega durante séculos. PRÉ-SOCRÁTICOS – OS PRIMEIROS FILÓSOFOS Tendo Sócrates como a grande referência na filosofia antiga, os historiadores consentiram em chamar esse primeiro período filosófico de pré-socrático. É de se ressaltar que essa convenção tem como critério não apenas uma ordem cronológica, mas a linha de investigação filosófica, pois ao tempo de Sócrates ainda haviam pré-socráticos. Esses primeiros filósofos se preocuparam em tentar explicar a physis (natureza/mundo/universo) de
  • 4. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 4 uma forma racional (cosmologia), dando uma explicação diferente da dos mitos, que recorriam aos deuses. Diferentemente da explicação mítica que dizia que o universo havia sido criado do nada, para eles o universo havia sido gerado de um princípio universal. E descobrir essa arché seria a chave para entender todas as coisas. Eles acreditavam que a physis apesar de estar em constante movimento (devir) possuía um elemento de permanência e que este seria o seu princípio originador, seu fundamento, e explicaria a causa da mudança. Dentre esses filósofos haviam os que acreditavam que a arché era um único elemento, estes eram os monistas. Mais tardiamente, outros pré-socráticos começaram a defender que eram vários, e ficaram conhecidos como pluralistas. Tales de Mileto (640-546 a. C.), que talvez tenha sido o primeiro filósofo, e estava na lista dos sete sábios da Grécia, acreditava que a água era a origem de tudo. Anaximandro (610-547 a. C.) dizia que o princípio criador não poderia ser conhecido pelos sentidos, mas somente pelo intelecto já que ele é o apeiron (indeterminado). Anaxímenis (588-524 a. C.) argumentava que o ar seria esse princípio originador de tudo. Pitágoras de Samos (570-490 a. C.) creditava aos números a origem de tudo, mas desde que entendidos como harmonia e proporção. Ou seja, tudo na natureza é proporcional e harmônico. Heráclito de Éfeso (535-475 a. C.), um dos filósofos mais importantes desse período, atribuía ao fogo a origem das coisas, já que para ele a realidade/physis é uma eterna luta de contrários que tem esse elemento como sua causa. Autor da famosa frase que caracteriza bem o seu pensamento: “Um homem não pode se banhar duas vezes no mesmo rio, porque na segunda vez o rio e o homem não serão os mesmos.” Para ele, o universo está em constante mudança, tudo flui, tudo está em transformação constante. E isso é assim porque todas as coisas possuem os oposto em constante guerra. O real é a mudança e a permanência é ilusória. Você já não é tão jovem quanto quando começou a ler essas palavras, mas ainda é jovem, mas está envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está envelhecendo. Parmênides (510-470 a. C.) de Eleia, rompe com os filósofos que o precederam na maneira de pensar o mundo. E por isso não se adequa a classificação de monista ou pluralista. Ele afirmava que o elemento de permanência, de origem, de fundamento, das coisas/mundo (physis) não pode ser encontrado na sua mutabilidade constante. Melhor dizendo, não se pode encontrar o princípio (arché) imutável do universo na sua própria mudança, ainda mais quando a investigação é conduzida pelos sentidos. Para ele a mudança seria apenas uma ilusão dos sentidos, e o que é essencial nas coisas só pode ser captado pelo pensamento. Por esse motivo, é que haviam tantas opiniões contrárias sobre o Ser das coisas, porque os filósofos estavam trilhando um caminho errado que só os levava à ilusão. A mudança (devir) não existe, é uma ilusão dos sentidos, Heráclito estava errado. “O Ser é e o não ser não é”. O Ser é o Logos (razão), a permanência, é imutável e sem contradições.
  • 5. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 5 Continuaremos a estudar os outros filósofos pré- socráticos (pluralistas) quando adentrarmos no período clássico, por que contextualizando-os socialmente poderemos entender melhor suas teorias e a influência delas em seu meio social. CAPÍTULO 2 – FILOSOFIA CLÁSSICA A maturação e desenvolvimento da filosofia clássica ocorre em Atenas devido a uma série de acontecimentos que passaremos a analisar a seguir. É importante entendermos o contexto histórico para que as teorias filosóficas desse período possam fazer sentido, pois a Filosofia como construção humana está limitada a seu tempo e contexto social, embora muitos queria fazer parecer que não. ATENAS EM QUESTÃO Atenas foi fundada pelos jônios na região da Ática. Inicialmente esteve sob o regime monárquico, e depois oligárquico. Era governada pelos Eupátridas (bem nascidos), que além de possuírem as maiores e melhores terras, ainda tinham como escravos outros atenienses, que foram pequenos proprietários de terras que não conseguiram saldar suas dívidas. Sem um solo propício para agricultura, e com um porto (Pireu) estrategicamente localizado no Mediterrâneo, os Atenienses se lançaram ao mar. Tornaram-se grandes marinheiros e desenvolveram o comércio de forma significativa. O comércio enriqueceu muitos atenienses que não tinham o sangue azul dos eupátridas e estavam doidos por participação política. A isso, some a insatisfação dos escravizados por dívidas, dos potencialmente escravos, e ainda, rebeliões provocadas por estes. Pronto, o barril de pólvora estava cheio e prestes a explodir. Dracon em 620 a. C., tentou acalmar os ânimos tornando públicas por meio da escrita, as leis da pólis, que antes eram conhecidas só pelos eupátridas. Não adiantou muita coisa. Agora pasmem, em 594 a. C., os grupos dominantes da época, decidiram eleger um homem sábio para fazer reformas que pudessem colocar fim ao clima de guerra que afligia a sociedade ateniense. Escolheram Sólon, um dos sete sábio da Grécia, que instituiu profundas reformas na sociedade. Dentre as quais podemos citar:  Perdoou a dívida dos atenienses escravizados, e acabou com a escravidão por dívidas;  Limitou o tamanho da propriedade;  Modificou o critério de classificação social, do nascimento para a riqueza;  Com isso, modificou o critério para participação nos cargos públicos (magistraturas), permitindo a participação dos comerciantes na política;  Permitiu a participação de todos os atenienses na Assembleia (Eclésia), mesmo o mais pobre;  Criou a boulé, que era um conselho de 400 membros escolhidos pela Eclésia, e que tinha a função de criar projetos de leis para serem votados por esta;  Deu cidadania a todo aquele que contribuísse com a pólis. Ficou decidido que, o que Sólon fizesse não poderia ser modificado por 10 anos. Então, depois de fazer essas reformas Sólon deixou Atenas, tanto para não perder sua vida, quanto para não usar de seu prestígio e tornar-se um tirano. Apesar de profundas, essas reformas trouxeram ainda mais tensões. E de toda insatisfação emergiu em 546 a. C. o primeiro tirano de Atenas, Pisístrato. Nessa época o termo tirano não tinha toda a carga negativa que tem hoje, e designava apenas uma forma ilegítima de governo. Não é que o tirano fosse cruel e mandasse cortar a cabeça de quem olhasse torto pra ele, é que ele não chegou ao poder com o apoio dos que detinham o poder. Pisístrato foi até um bom governante, manteve inalteradas as leis de Sólon, construiu grandes obras, patrocinou as artes, os jogos e os festivais, e projetou Atenas como grande centro comercial e cultural da Grécia. Seus sucessores foram uns bocós e não souberam se manter no poder, abrindo espaço novamente para conflitos internos, quando Clístenes toma o poder em 510 a. C.
  • 6. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 6 Clístenes governou Atenas de 510 a 507 a. C, e ousou muito ao dividir o território da Ática em 10 tribos, e cada tribo em 03 DEMOS. Com isso ele queria acabar com a influência das tradicionais famílias nobres aristocráticas. É claro que para ocupar cargos públicos ainda era necessário ter uma certa quantidade de riqueza, como Sólon havia estipulado. Mas cada vez menos isso dependia da família a que se pertencia. A boulé (que criava projeto de lei) passou a ter 500 membros. Cada DEMO elegia 50, e cada tribo a presidia sucessivamente durante o ano. Perceba o salto qualitativo nesse regime de participação política que mais tarde viária a ser chamado de DEMOCRACIA. A Eclésia (assembleia popular) passou também a, além de votar, discutir os projetos de lei. Provavelmente a boulé tinha mais poderes que a Eclésia no início do processo de construção desse novo regime, mas com o tempo a situação se inverteu. O OSTRACISMO foi uma instituição muito famosa criada também por ele. Não era uma pena, mas uma forma de defender o novo regime contra levantes tirânicos. Se uma pessoa estava se tornando demasiadamente famosa, prestigiada, e influente, ela era banida da pólis por um período de 10 anos e depois retornava como se nada tivesse acontecido. Pense bem. Num regime onde todos devem ser iguais, não deve haver essas grandes personalidades, senão, não haveria isonomia, que era a base do sistema. As reformas de Clístenes no sistema político de Atenas acabou influenciando toda a Grécia, e seu governo foi a transição entre o período arcaico e o clássico. No período clássico (Sec. V ao IV a. C.), as Guerras Médicas (os medos faziam parte do povo Persa, daí o nome) foram o pano de fundo para um maior destaque de Atenas dentre todas as póleis gregas. Eles já estavam se sentido os maiorais por terem suas instituições como modelo do que de melhor se poderia ter. Agora, iam colocar os músculos para trabalharem. Diante dessas invasões as póleis gregas, persuadidas por Atenas, fizeram uma aliança militar conhecida como Liga de Delos. Claro que isso tinha um custo, e que ninguém era obrigado a participar. No entanto, seria bom contar com uma certa segurança não é mesmo? Inicialmente os recursos obtidos ficaram na ilha de Delos (por isso o nome), mas com o tempo foram transferidos para Atenas. Mesmo com o fim das ameaças externas a Liga permaneceu, e ninguém mais poderia dela se desligar, pois Atenas logo interferia. O que antes não era obrigação, tornou-se submissão. Dessa maneira, portanto, Atenas, sob a liderança de um líder democrático, construiria com as riquezas dos outros a sua ERA DE OURO. Foi nessa época que a cidade foi embelezada com grandes templos e obras públicas. Só para se ter uma ideia, o Partenon, um dos maiores feitos de arquitetura da humanidade, foi erguido nesta época. É inegável que toda a glória alcançada por Atenas teve como sustentação material a submissão das outras póleis. No entanto, deve-se deixar bem claro que apesar da relação dos atenienses com os outros fosse de hostilidade, entre eles, imperava os ideais mais nobres como igualdade, liberdade e justiça. Em virtude disso, a forma de governo que tem por base esses ideais pôde florescer em sua plenitude. Em Atenas o exercício da atividade política era básico, algo comum na vida de seus habitantes. A participação na tomada de decisões dos assuntos que dizem respeito à administração da pólis era a principal e mais nobre atividade que um homem livre poderia se dedicar. Foi nessa época que surgiu na cena política ateniense um grande orador, de família aristocrática, e excelente estrategista militar. Péricles (495 – 429 a.C.) liderou Atenas em seu esplendor (não é à toa que esse século recebeu seu nome), quando na assembleia, juntamente com seus concidadãos, aprimorou o regime democrático a ponto de afirmar o seguinte em seu discurso fúnebre:
  • 7. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 7 “Nosso regime político não se propõe tomar como modelo as leis de outros: antes somos modelos que imitadores. Como tudo nesse regime depende não de poucos, mas da maioria, seu nome é democracia. Nela, enquanto no tocante às leis todos são iguais para a solução de suas divergências particulares, no que se refere à atribuição de honrarias o critério se baseia no mérito e não na categoria a que se pertence...” O primeiro cidadão ateniense instituiu a mistoforia, que era uma justa quantia em dinheiro para que mesmo o mais lascado dos homens livres pudesse participar diretamente da administração da cidade. Agora, não precisava mais nem ser de família nobre, e nem ter riqueza suficiente para ocupar determinado cargo. Tal salário era necessário porque esses gregos acreditavam que todos os cidadãos eram iguais (isonomia) e por esta razão, tinham direito de se expressar (isegoria) na assembleia, e de ter participação no poder (isocracia). Para eles não havia outra maneira, a única forma de DEMOCRACIA era a DIRETA. Basicamente, a estrutura política estava arquitetada da seguinte forma: ASSEMBLÉIA – Conselho de cidadãos que tomavam as decisões mais importantes da pólis. Eles se reuniam no monte Pnyx (imagem abaixo). Claro que não tinham essas cadeiras, mas olhe a vista que eles tinham da acrópole. Imagine os atenienses tomando as decisões da pólis com a vista das maravilhas que eles foram capazes de fazer. Era mesmo algo grandioso. BOULÉ – Conselho de 500 cidadãos que propunham as leis. ESTRATEGO – 10 generais com mandatos de 01 ano. Para todos os cargo públicos uma pessoa só podia ser eleita uma única vez na vida, para dar oportunidade para outros participarem do poder. Na boulé podia-se eleger duas vezes, e para estrategos podia ser indefinidas vezes, isso por que esse cargo exigia habilidades especiais de guerra. Somente podiam participar desses cargos os homems filhos de pais atenienses maiores de 20 anos, pois apenas eles eram considerados Zoôn politikons. Eram membros de famílias aristocráticas, pequenos proprietários de terras, comerciantes e artesãos. Mas a sociedade ateniense não era formada apenas por eles; haviam também os que eram excluidos da cidadania. Nesse grupo temos os metecos, que eram os estrangeiros residentes ou não na pólis; as mulheres, que serviam basicamente para cuidar da casa e reproduzir; e finalmente os escravos, que eram os prisioneiros de guerra. Não por coincidencia, os escravos começaram a aumentar quando a democracia estava em seu auge. Ora, para haver tempo livre para os cidadãos se dedicarem à política alguem tinha que ficar trabalhando. Estimasse que eles fossem ¼ da popolação, no máximo. Em Atenas não havia tratamento duro com os escravos, não existiam pessoas acorrentadas andando pelas ruas, chicotadas e esquartejamentos em praça pública. Pelo contrário, era muito comum os escravos serem libertados. Habitantes de outras póleis estranhavam quando andavam nas ruas de Atenas e viam escravos andando na rua como se fossem livres. Nas fazendas e no mercado eles trabalhavam lado a lado com o seu senhor. Não há nenhum registro de rebeliam de escravos em Atenas. A possibilidade de conquista da liberdade que estava no horizonte, abrandava a relação entre senhor e escravo. OS PLURALISTAS Nesse período a filosofia continuou progredindo com os filósofos pré-socrático. O próprio Péricles tinha um desses sábios como mestre, seu nome era Anaxágoras (499-428 a. C.). Ele defendia que o princípio gerador de todas as coisas não é único, que a physis era formada de várias partículas (sementes – espermatas) ordenadas por uma inteligência universal.
  • 8. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 8 Diferentemente dele, Empédocles (490-430 a. C.) acreditava que os elementos água, terra, ar e fogo eram os princípios criadores, que formavam as coisas pela união e repulsão, pelo amor e ódio. Demócrito (460-370 a. C.) era contemporâneo de Sócrates, mas como o objeto de sua investigação ainda era a physis, ele é considerado um pré-socrático. Segundo ele, o mundo é formado por partículas invisíveis e indivisíveis chamadas átomos, que se chocavam ao acaso no vazio para formar os corpos percebidos pelos nossos sentidos. Percebam que esses pré-socráticos do período clássico, defendem não um, mas vários os elementos criadores do universo. Será coincidência eles defenderem isso no tempo em que a constituição da pólis, ou seja, do mundo social, dependesse de muitos e não de um só? Ou terá sido essa forma de organização social fundamentada nessa nova visão da constituição do universo? Independentemente da resposta, o fato é que havia agora uma nova visão do mundo, seja ele físico ou social, e em ambos não havia mais o predomínio de uma arché que a tudo governava, mas, a relação entre vários elementos que regidos por leis constituíam o cosmos. No mundo da physis cabia aos homens descobrirem essas leis, no mundo da pólis cabia a eles criarem-na. E essa atividade divina de criarem as leis, que trariam ordem ao caos, era feita no espaço público da pólis, na ÁGORA (praça central onde se discutiam diversos assuntos), por meio da palavra, através do discurso. SOFISTAS É também nesse contexto de valorização do humano, da palavra, de se expressar bem e de convencer o público por meio da oratória para se sair bem no cenário político, que surgiram os sofistas, um conjunto de sábios que ensinavam retórica (arte de falar bem e persuadir o público). A palavra sofista vem do grego sophós e quer dizer sábio. Eles eram homens que viviam viajando entre as póleis vendendo seu conhecimento, pois não eram ricos para se manter no ócio intelectual. Protágoras (480-410 a. C.) foi o primeiro e mais ilustre dos sofistas. Nascido em Abdera, mudou-se para Atenas onde se tornou muito famoso e requisitado pelas famílias ricas. Defendia que não havia um conhecimento e uma verdade absolutas sobre as coisas, e que o mundo era relativo ao que os homens percebiam dele. Daí sua famosa frase: “o homem é a medida de todas as coisas”. Sua doutrina relativista impossibilitava a construção de um saber objetivo no qual se pudesse chegar a critérios que estabelecessem e diferenciassem o verdadeiro do falso, o certo do errado. Tudo dependia de quem ou que grupo estava falando. As regras sociais, bem como a própria pólis são convenções, e como tal, mudam de acordo com que as convencionou, sendo, portanto, relativas. O maior crédito que se deve atribuir aos sofistas foi o de ter voltado o debate filosófico da cosmologia, para a área do humano, da pólis, da ética, da política. Pois foi por se contrapor a eles que Sócrates deu início ao conhecimento filosófico herdado pelo ocidente.
  • 9. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 9 QUESTÕES 1. A construção de uma cosmologia que desse uma explicação racional e sistemática das características do universo, em substituição à cosmogonia, que tentava explicar a origem do universo baseada nos mitos, foi uma preocupação da Filosofia a) medieval. b) antiga. c) iluminista. d) contemporânea. 2. No contexto da polis grega, as leis comuns nasciam de uma convenção entre cidadãos, definida pelo confronto de suas opiniões em um verdadeiro espaço público, a ágora, confronto esse que concedia a essas convenções a qualidade de instituições públicas. MAGDALENO. F. S. A territorialidade da representação política: vínculos territoriais de compromisso dos deputados fluminenses. São Paulo: Annablume, 2010. No texto, está relatado um exemplo de exercício da cidadania associado ao seguinte modelo de prática democrática: A) direta. B) sindical. C) socialista. D) corporativista. E) representativa. 3. Nas práticas arcaicas, o discurso não constata o real, ele performativamente o faz ser. (...) No discurso "racional" diz-se que as coisas são tais; logo, diz-se a verdade: subordina-se a verdade ao real que ela enuncia. (...) A passagem às práticas racionais de veridicidade pode, portanto, ser descrita como uma inversão: da autoridade do mestre como abonador da realidade daquilo que ele fala à autoridade da realidade como abonadora da veridicidade do que diz o locutor. No texto supracitado, Francis Wolff aponta uma das várias diferenças fundamentais entre o discurso racional e o discurso arcaico ou mítico. A partir dele, é correto dizer que no discurso A) racional a verdade e a realidade estão subordinadas a seu enunciador. B) mítico a verdade impõe-se a partir da realidade das coisas, a despeito do mestre que o profere. C) racional a verdade depende de práticas rituais que instituem a própria realidade. D) racional a realidade é instituída performativamente pelo elocutor. E) racional a verdade é subordinada à realidade das coisas que se busca descrever. 4. De fato, é no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. Essa frase de Vernant é uma síntese de sua tese, segundo a qual A) a racionalidade, da forma que a conhecemos, só existe a partir da filosofia política de Platão. B) o surgimento da filosofia tem profunda conexão com o desenvolvimento da vida pública das cidades gregas. C) a preocupação com a ciência política é o ponto em comum entre as doutrinas pré-socráticas. D) a democracia ateniense surge como produto da ética e da filosofia política dos séculos VII e VI a. C.. E) o desenvolvimento da Razão se deve ao intenso envolvimento político dos filósofos do período helenístico. 5. A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício especulativo-racional. De fato, “[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.
  • 10. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 10 Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta. a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens. b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua metodologia. c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático fundamental para a vida cotidiana. d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada, crítica e radical, baseada no logos. 6. “Para referir-se à palavra e à linguagem, os gregos possuíam duas palavras: mythos e lógos. Diferentemente do mythos, lógos é uma síntese de três ideias: fala/palavra, pensamento/ideia e realidade/ser. Lógos é a palavra racional em que se exprime o pensamento que conhece o real. É discurso (ou seja, argumento e prova), pensamento (ou seja, raciocínio e demonstração) e realidade (ou seja, as coisas e os nexos e as ligações universais e necessárias entre os seres). [...] Essa dupla dimensão da linguagem (como mythos e lógos) explica por que, na sociedade ocidental, podemos comunicar- nos e interpretar o mundo sempre em dois registros contrários e opostos: o da palavra solene, mágica, religiosa, artística e o da palavra leiga, científica, técnica, puramente racional e conceitual.” (CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011, p. 187- 188). A partir do texto, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01) O mythos é uma linguagem que comunica saberes e conhecimentos. 02) As coisas próprias do domínio religioso são inefáveis, ou seja, não podem ser pronunciadas e ditas pela linguagem humana. 04) O mythos não possui o mesmo poder de convencimento e de persuasão que o lógos. 08) O lógos é, ao mesmo tempo, o exercício da razão e sua enunciação para os seres humanos. 16) O lógos é muito mais do que a palavra, é a expressão das qualidades essenciais do ser, a possibilidade de conhecer as coisas nos seus fundamentos primeiros. 7.O ser humano, desde sua origem, em sua existência cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por meio dos quais procura orientar seu comportamento teórico e prático. Entretanto, houve um momento em sua evolução histórico-social em que o ser humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações e perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e escolhas. Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio da elaboração dos sentimentos, das percepções e dos anseios humanos, procura consolidar nossas crenças e opiniões. b) existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou uma época específica para seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é também filosófica e exige o trabalho da razão. c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição e pela sociedade, visando educar o ser humano como cidadão. d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e justificações racionais que validam ou invalidam suas crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da verdade revelada pela codificação mítica. 8. O surgimento da filosofia entre os gregos (Séc. VII a.C.) é marcado por um crescente processo de racionalização da vida na cidade, em que o ser humano abandona a verdade revelada pela codificação mítica e passa a exigir uma explicação racional para a compreensão do mundo humano e do mundo natural. Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente, destaca-se:
  • 11. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 11 a) a concepção política expressa em A República, de Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar sob um regime político oligárquico. b) a criação de instituições universitárias como a Academia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles. c) a filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-nos como legado a recusa de uma fé inabalável na razão humana e a crença de que sempre devemos acreditar nos sentimentos. d) a recusa em apresentar explicações preestabelecidas mediante a exigência de que, para cada fato, ação ou discurso, seja encontrado um fundamento racional. 9. “Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as coisas, difere da concepção de Tales, que considera a água o princípio original do mundo; seja como for, é evidente que a representação do mar inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas as partes da Teogonia, de Hesíodo, reina a vontade expressa de uma compreensão construtiva e uma perfeita coerência na ordem racional e na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia ainda apresenta uma irreprimível pujança de criação mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre as doutrinas dos “fisiólogos”, nos primórdios da filosofia “científica”, e sem a qual não se poderia conceber a atividade prodigiosa que se expande na criação das concepções filosóficas do período mais antigo da ciência” Werner Jaeger. Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo: I. O surgimento da filosofia não coincide com o início do uso do pensamento racional. II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim do uso do pensamento mítico. III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água como princípio original do mundo, rompe, definitivamente, com o pensamento mítico. IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o mito do julgamento das almas. V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré- socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da natureza (Physis). Das afirmativas feitas acima a) apenas a afirmação V está correta. b) apenas as afirmações III e V estão corretas. c) apenas as afirmações II e IV estão corretas. d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas. e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas. 10. “É no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência social pode tornar-se entre os gregos o objeto de uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem humana, procuraram defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis a sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida. Assim se destacou e se definiu um pensamento propriamente político, exterior a religião, com seu vocabulário, seus conceitos, seus princípios, suas vistas teóricas. Este pensamento marcou profundamente a mentalidade do homem antigo; caracteriza uma civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva, de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana”. Considerando a citação acima, extraída do livro As origens do pensamento grego, de Jean Pierre Vernant, e os conhecimentos da relação entre mito e filosofia, é incorreto afirmar que a) os filósofos gregos ocupavam-se das matemáticas e delas se serviam para constituir um ideal de pensamento que deveria orientar a vida pública do homem grego. b) a discussão racional dos Sábios que traduziu a ordem humana em fórmulas acessíveis a inteligência causou o abandono do mito e, com ele, o fim da religião e a
  • 12. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 12 decorrente exclusividade do pensamento racional na Grécia. c) a atividade humana grega, desde a invenção da política, encontrava seu sentido principalmente na vida pública, na qual o debate de argumentos era orientado por princípios racionais, conceitos e vocabulário próprios. d) a política, por valorizar o debate público de argumentos que todos os cidadãos podem compreender e discutir, comunicar e transmitir, se distancia dos discursos compreensíveis apenas pelos iniciados em mistérios sagrados e contribui para a constituição do pensamento filosófico orientado pela Razão. e) ainda que o pensamento filosófico prime pela racionalidade, alguns filósofos, mesmo após o declínio do pensamento mitológico, recorreram a narrativas mitológicas para expressar suas ideias; exemplo disso e o “Mito de Er” utilizado por Platão para encerrar sua principal obra, A República. 11. “A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos materiais e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana” (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32). Considerando o exposto, assinale o que for correto. 01) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C.. Apesar de seu nascimento ser considerado o “milagre grego”, é conhecida a frequentação de Atenas por outros sábios que viveram no século VI a.C., como Confúcio e Lao Tse (provenientes da China), Buda (proveniente da Índia) e Zaratustra (proveniente da Pérsia), fazendo da filosofia grega uma espécie de comunhão dos saberes da antiguidade. 02) O surgimento da filosofia é coetâneo ao advento da pólis (cidade). Novas estruturas sociais e políticas permitiram o desenvolvimento de formas de racionalidade, modificadoras da prática do mito. 04) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica, os sofistas representam, indiscutivelmente, o ponto mais alto da filosofia clássica grega (séculos V e IV a.C.), ultrapassando Sócrates, Platão e Aristóteles. 08) Filósofo é aquele que busca certezas sem garantias de possuí-las efetivamente. Por essa razão, o filósofo deseja o conhecimento do mundo e das práticas humanas por meio de critérios aproximativos e compartilhados (de aceitação comum), através do debate. 16) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras habilidades, pela capacidade de generalização e produção de conceitos, encontrando, sob a multiplicidade de objetos do mundo, relações de semelhança e de identidade. 12. No início do século XX, estudiosos esforçaram-se em mostrar a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito e filosofia, opondo-se a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade entre ambos. A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi entendida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia nascente, dado que os primeiros filósofos haviam suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos. Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando certa continuidade entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em relação ao mito foi retomada. Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga. a) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade arcaica, e a filosofia corresponde ao advento da razão liberada da religiosidade. b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo é apresentada imaginativamente, e a filosofia caracteriza-se como explicação racional que retoma questões presentes no mito.
  • 13. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 13 c) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico e irracional, e a filosofia, também fundamentada no rito, corresponde ao surgimento da razão na Grécia Antiga. d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a origem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a partir do dilema insuperável entre caos e medida. 13. A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi fruto de um amadurecimento lento e processual. Por muito tempo, essas duas maneiras de explicação do real conviveram sem que se traçasse um corte temporal mais preciso. Com base nessa afirmativa, é correto afirmar: a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a passagem do Mito ao Logos. b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi responsabilidade dos tiranos de Siracusa. c) A economia grega estava baseada na industrialização, e isso facilitou a passagem do Mito ao Logos. d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com outros povos com as mesmas preocupações e culturas, o que contribuiu para a passagem do Mito ao Logos. e) A atividade comercial e as constantes viagens oportunizaram a troca de informações/conhecimentos, a observação/assimilação dos modos de vida de outros povos, contribuindo, assim, de modo decisivo, para a construção da passagem do Mito ao Logos. 14. No mundo grego, podemos encontrar uma série de relatos mitológicos sobre diversos aspectos da vida humana, da natureza, dos deuses e do universo. Dois tipos de relatos merecem destaque: as cosmogonias e teogonias. Os relatos citados tratam da a) origem dos homens e das plantas. b) origem do cosmo e dos deuses. c) origem dos deuses e dos homens. d) origem do cosmo e das plantas. 15. A filosofia surge na Grécia por volta do século VI a.C. Mudanças sociais, políticas e econômicas favoreceram o seu surgimento. Dentre estas mudanças, pode-se mencionar: a) A estruturação do mundo rural, desenvolvimento do sistema escravagista e o estabelecimento de uma aristocracia proprietária de terras. b) A expansão da economia local fundada no desenvolvimento do artesanato, o fortalecimento dos “demos” e da organização familiar patriarcal. c) As disputas entre Atenas e Esparta, o desenvolvimento de Mecenas e do comércio jônico. d) O uso da escrita alfabética, as viagens marítimas e a evolução do comércio e do artesanato. e) O predomínio do pensamento mítico. 16. A palavra não é mais o termo ritual, a fórmula justa, mas o debate contraditório, a discussão, a argumentação. Supõe um público ao qual ela se dirige, como a um juiz que decide em última instância, de mãos erguidas, entre os dois partidos que lhes são apresentados; é essa escolha puramente humana que mede a força de persuasão respectiva dos dois discursos, assegurando a vitória de um dos oradores sobre seus adversários. VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. São Paulo: Bertrand Brasil, 1992. p. 34-35. O texto citado refere-se ao exercício da cidadania nas cidades gregas da Antiguidade clássica. Segundo Jean- Pierre Vernant, o “universo espiritual” das pólis gregas contribuiu decisivamente para o surgimento da filosofia. Assinale a alternativa que relaciona corretamente cidadania e filosofia na Grécia Antiga. a) Entre a filosofia e a prática da cidadania há uma relação de necessidade causal, posto que a vida política das sociedades gregas foi gerada pela reflexão filosófica, que, ao criar um pensamento distinto das narrativas mitológicas, destituiu o poder monárquico de sua fundamentação teórica e lançou, assim, as condições suficientes para a comunidade cívica. b) Nas cidades gregas, o desenvolvimento da atividade política dos cidadãos instaurou um pensamento exterior à religiosidade, favorecendo a busca por explicações exclusivamente racionais sobre os fenômenos cósmicos, naturais e humanos, ou seja, a substituição das narrativas míticas pelas investigações filosóficas.
  • 14. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 14 c) A atividade política dos cidadãos gregos, orientada para os problemas práticos da vida, consistiu em obstáculo para o desenvolvimento da reflexão filosófica, pois a filosofia, com sua natureza estritamente contemplativa, afasta os homens de sua realidade cotidiana, desvirtuando-os para temas cosmológicos irrelevantes. d) A filosofia e a política são sinônimos entre os gregos antigos, pois a prática da cidadania nas assembleias era tomada como pura especulação filosófica, ao mesmo tempo que a reflexão filosófica, desde suas origens, concentra-se unicamente nos problemas políticos atinentes à humanidade e) O desenvolvimento da atividade política, com seus intermináveis e desgastantes debates, fomentou a filosofia, à medida que os cidadãos procuravam nas teses filosóficas de procedência espiritualista um consolo para suas aflições cotidianas, bem como nelas depositavam suas esperanças de recompensa pelos infortúnios do mundo terreno na eternidade de um paraíso isento de conflitos. 17."Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as duas ordens de fenômenos os vínculos são demasiado estreitos para que o pensamento racional não apareça, em suas origens, solidário das estruturas sociais e mentais próprias da cidade grega. Assim recolocada na história, a filosofia despoja-se desse caráter de revelação absoluta que às vezes lhe foi atribuído, saudando, na jovem ciência dos jônios, a razão intemporal que veio encarnar-se no Tempo. A escola de Mileto não viu nascer a Razão; ela construiu uma razão, uma primeira forma de racionalidade". Jean Pierre Vernant. Sobre a Filosofia seguem as seguintes afirmações: I. Ela foi revelada pela deusa Razão a Tales de Mileto quando este afirmou que o princípio de tudo é a água. II. Ela foi inventada pelos gregos e decorre do advento da Polis, a cidade organizada por leis e instituições que, por meio delas, eliminou todo tipo de disputa. III. Ela rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos; problematiza, discute e põe em questão até mesmo as teorias racionais elaboradas com rigor filosófico. IV. Surgiu no século VI a.C. nas colônias gregas da Magna Grécia e da Jônia, apenas no século seguinte deslocou-se para Atenas. V. Ocupa-se com os princípios, as causas e condições do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; põe em questão e problematiza valores morais, políticos, religiosos, artísticos e culturais. Das afirmações feitas acima a) I, III e V são corretas. b) I e II são incorretas. c) II, IV e V são corretas. d) todas são corretas. e) todas são incorretas. 18. Leia o texto e as assertivas abaixo a respeito das relações entre o nascimento da filosofia e a mitologia. O nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela passagem da cosmogonia para a cosmologia. A cosmogonia, típica do pensamento mítico, é descritiva e explica como do caos surge o cosmos, a partir da geração dos deuses, identificados às forças da natureza. Na cosmologia, as explicações rompem com a religiosidade: a arché (princípio) não se encontra mais na ordem do tempo mítico, mas significa princípio teórico, enquanto fundamento de todas as coisas. Daí a diversidade de escolas filosóficas, dando origem a fundamentações conceituais (e portanto abstratas) muito diferentes entre si. ARANHA, M. L. A; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1993, p. 93. I - Uma corrente de pensamento afirma que houve ruptura completa entre mito e filosofia, tal corrente é a que defende a tese do milagre grego. II - Outra corrente de pensamento afirma que não houve ruptura completa entre mito e filosofia, mas certa continuidade, é a que defende a tese do mito noético. Assinale a alternativa correta. A) I é falsa e II verdadeira. B) I é verdadeira e II falsa.
  • 15. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 15 C) I e II são verdadeiras. D) I e II são falsas. 19. Dentre as teorias que explicam o nascimento da filosofia na Grécia Antiga, há uma que enfatiza o seu surgimento político. Qual característica da polis grega teria contribuído para o nascimento da filosofia? A) A proeminência, no espaço público, do pensamento e da reflexão sobre a palavra. B) Com a polis advém uma revolução social na Grécia: o surgimento da nova classe dirigente dos sábios ou Reis filósofos. C) A existência de um discurso público e dialogado, baseado na troca de opiniões e no desenvolvimento de argumentos persuasivos. D) A fundação de um cosmo social laico, expulsando, dos domínios da polis, a religião, o sagrado e os sacerdotes. 20. Em nós, manifesta-se sempre uma e a mesma coisa, vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice. Pois a mudança de um dá o outro e reciprocamente. Heráclito, fragmento 88. ln: BornHeim, g. a. (org.). Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: editora cultrix, 1998. P. 41. Assinale a alternativa que explica o fragmento de Heráclito. A) A oposição é a afirmação da força irracional que sustenta o mundo e explica a constante mudança de tudo que existe. B) A oposição dos contrários nada mais é que o equilíbrio das forças, pois no mundo tudo é “uno e constante, tudo mais é apenas ilusão. C) A mudança permiteafirmar que a constância do mundo das ideias é a única realidade, na qual as essências determinam tudo. D) A oposição é a confirmação de que a realidade é o eterno fluxo de mudanças, e da tensão dos contrários nasce a harmonia e a unidade do mundo. 21. De um modo geral, o conceito de physis no mundo pré-socrático expressa um princípio de movimento por meio do qual tudo o que existe é gerado e se corrompe. A doutrina de Parmênides, no entanto, tal como relatada pela tradição, aboliu esse princípio e provocou, consequentemente, um sério conflito no debate filosófico posterior, em relação ao modo como conceber o ser. Para Parmênides e seus discípulos: A) A imobilidade é o princípio do não-ser, na medida em que o movimento está em tudo o que existe. B) O movimento é princípio de mudança e a pressuposição de um não-ser. C) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é fruto de imaginação especulativa. D) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso a realidade empírica é puro ser, ainda que em movimento. 22. Leia o texto abaixo: “Afasta o pensamento desse caminho de busca e que o hábito nascido de muitas experiências humanas não te force, nesse caminho, a usar o olho que não vê, o ouvido que retumba e a língua: mas, com o pensamento, julga a prova que te foi fornecida com múltiplas refutações. Um só caminho resta ao discurso: que o ser existe.” REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 35. Com base no pensamento de Parmênides, assinale a alternativa correta. A) Os sentidos atestam e conduzem à verdade absoluta do ser. B) O ser é o eterno devir, mas o devir é de alguma maneira regido pelo Logos. C) O discurso se move por teses e antíteses, pois essas são representações exatas do devir. D) Quem afirma que “o ser não existe” anda pelo caminho do erro. 23. O surgimento da filosofia entre os gregos (Séc. VII a.C.) é marcado por um crescente processo de racionalização da vida na cidade, em que o ser humano abandona a verdade revelada pela codificação mítica e passa a exigir uma explicação racional para a
  • 16. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 16 compreensão do mundo humano e do mundo natural. Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente, destaca-se: a) a concepção política expressa em A República, de Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar sob um regime político oligárquico. b) a criação de instituições universitárias como a Academia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles. c) a filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-nos como legado a recusa de uma fé inabalável na razão humana e a crença de que sempre devemos acreditar nos sentimentos. d) a recusa em apresentar explicações preestabelecidas mediante a exigência de que, para cada fato, ação ou discurso, seja encontrado um fundamento racional. 24. Observe a figura a seguir e responda à questão. Figura: Cidade de Atenas A figura mostra Atenas na atualidade. Observam-se as ruínas da Acrópolis – onde ficavam os templos como o Parthenon –, o Teatro de Dionísio e a Asthy – com a Ágora (Mercado/Praça Pública) e as casas dos moradores. Sobre a relação entre a organização da cidade de Atenas, a ideia de pólis e o aparecimento da filosofia na Grécia Clássica, considere as afirmativas a seguir. I. A filosofia surgiu simultaneamente à cidade-Estado, ambiente em que predominava o discurso público baseado na troca de opiniões e no desenvolvimento da argumentação. II. A filosofia afastava-se das preocupações imediatas da aparência sensível e voltava-se para as questões do espírito. III. O discurso proferido pelo filósofo era dirigido a pequenos grupos, o que o distanciava da vida pública. IV. O discurso da filosofia no contexto da pólis restringia-se ao mesmo tipo de discurso dos guerreiros e dos políticos ao desejar convencer em vez de proferir a verdade. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 25. Observe a figura a seguir e responda à questão. A escultura Discóbolo de Míron, do século V a. C., expressa o ideal de homem na pólis ateniense. Com base
  • 17. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 17 nos valores deste ideal clássico, considere as afirmativas a seguir. I. Ao cidadão, cabia tempo livre para se dedicar integralmente ao que era próprio do ser político, como a especulação filosófica e a prática desportiva, visando à realização do humano. II. Na pólis governada por juristas apoiados por atletas com poder de comando das tropas, o cidadão considerava a igualdade econômica como a realização do ser humano. III. O cidadão era o elemento que integrava a pólis à natureza e tal integração era representada pela corpolatria e pelas atividades físicas impostas pelo Senado. IV. O ideal do cidadão era expresso pela sua participação nas ações e decisões da pólis, o que incluía a busca da beleza e do equilíbrio entre as formas. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas II e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 26. O homem é a medida de todas as coisas. Das coisas que são o que são e das coisas que não são o que não são. A frase acima é atribuída a Protágoras, um dos mais celébres sofistas. A partir dela deve-se inferir que um dos traços distintivos de sua filosofia é o A) positivismo. B) relativismo. C) dogmatismo. D) humanismo. E) niilismo.
  • 18. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br Página | 18 GABARITO 1. b 2. a 3. e 4. b 5. c 6. 1/8/16 7. d 8. d 9. d 10. b 11. 2/8/16 12. b 13. e 14. b 15. d 16. b 17. b 18. c 19. c 20. d 21. b 22. d 23. d 24. a 25. a 26. b