Educação Ambiental na perspectiva de Mauro Guimarães
1. GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental da educação. 7.ed. Campinas,SP: Papirus, 2005. (Coleção
Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
NOTA INTRODUTÓRIA
O autor realiza pequena retrospectiva histórica da Educação Ambiental à página 09 do livro.
O livro é sua monografia apresentada ao fim de um curso de especialização em Ciências Ambientais na
UFRRJ em 1992, onde buscou discutir e elaborar análises de uma prática pedagógica vinculada à causa
ambiental (no período de 1988 a 1992) numa escola pública de 1o
. grau em Nova Friburgo (RJ).
O autor tem a proposta de ajudar os educadores e futuros educadores que desejam começar a caminhada na
Educação Ambiental.
CAPITULO 1 – POR QUE EDUCAÇÃO AMBIENTAL?
Natureza ou meio ambiente refere-se ao “conjunto de elementos vivos ou não vivos que constituem o
planeta Terra. Todos esses elementos relacionam-se influenciando e sofrendo influência entre si, em um
equilíbrio dinâmico”. (p. 11) Neste jogo de forças, acontece a evolução de uma miríade de espécies viventes
num planeta em movimento.
“Sob esse contexto, o ser humano primitivo surgiu fazendo parte integrante deste todo – a natureza”. (p.
11)
No decorrer do tempo, a espécie humana vai tecendo uma consciência individualizada, que pouco a pouco
não se sente integrada ao todo e se percebe como parte da natureza. O afastamento do ser humano em relação à
natureza nas sociedades atuais se agudiza, chegando ao individualismo exacerbado. “Age de forma totalmente
desarmônica sobre o ambiente, causando grandes desequilíbrios ambientais”. (p. 12)
A dicotomia impregna toda a produção humana, principalmente o saber construído por este protótipo de
sociedade.
A fragmentação do saber, representado pelas especializações do conhecimento, aprofundou a
compreensão das partes”. (p. 12) No entanto, o ambiente é unidade, cuja harmonia dinâmica deverá ser
compreendida por meio do conhecimento interdisciplinar.
A cosmovisão e o sentimento de dominação, presentes na sociedade moderna, têm contaminado a atitude da
humanidade diante da natureza, o que remete às relações de classe altamente excludentes. “É esse modelo que
apresenta como caminho o crescimento econômico baseado na extração ilimitada de recursos naturais,
renováveis ou não, na acumulação contínua de capitais, na produção ampliada de bens” (p. 13),
desconsiderando as inter-relações resultantes de tais intervenções e o ambiente. Tal sociedade consumista tem
se mostrado voraz e dilapidadora do ambiente, capitais e bens.
O final do século XX foi marcado pelo início de uma crise mundial, complexa, de faces intelecutais, morais,
espirituais, em larga escala, afetando várias dimensões da vida humana. Tudo indica a urgência do repensar o
modelo civilizatório, afirmando uma nova ética ambiental e social, que suplante os atuais valores consumistas e
egocêntricos, fundamentos do atual momento social.
Nesse contexto, “a Educação Ambiental como uma dimensão do processo educativo voltada para a
participação de seus atores, educandos e educadores, na construção de um novo paradigma que contemple as
aspirações populares de melhor qualidade de vida socioeconômica e um mundo ambientalmente sadio” (p. 14).
Face aos problemas ecológicos emergentes, a inserção da Educação Ambiental nos vários níveis de ensino foi
estabelecida pela última Constituição Brasileira (1988). Por isso, “a Educação Ambiental tem o importante
papel de fomentar a percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambiente” (p.15).
CAPITULO 2 – O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL?
O entendimento do conceito de Educação Ambiental tem sido gestado nas discussões e práticas presentes
no Brasil e fora dele.
Para adequada compreensão histórica da Educação Ambiental, deve-se retroceder à década de 70. Lá, no
panorama internacional, o problema ambiental passou a ter destaque com a Conferência das Nações Unidas
sobre o meio ambiente (1972) ocorrida em Estocolmo. O ano de 1995 foi marcado pelo Seminário Internacional
sobre Educação Ambiental em Belgrado, que discutiu as finalidades da Educação Ambiental e determinou o seu
caráter contínuo e multidisciplinar, além de sua integração regional e centralidade na problematização sobre o
tipo de desenvolvimento econômico.
Após esses acontecimentos, muitos outros eventos ocorreram, por exemplo, no Peru e Colômbia em 1976,
na ex-URSS em 1977.
2. Já em âmbito nacional, o Educação Ambiental ainda era mantida em fase germinativa, onde ocorreram
pequenos atos isolados sem grandes repercussões. Somente nos anos 80 houve produção de trabalhos
acadêmicos sobre o tema no país, dos quais se sobressaíram: Maria José Lima (Ecologia Humana – 1984),
Dalva Gonçalves (Educação Ambiental, garantia de vida – 1984), Ernesto Jacob Keim (Abordagem das
relações entre os componentes ambientais nos livros didáticos – 1984).
No início dos anos 90, com a Eco 92 ocorrida no Rio de Janeiro, a Educação Ambiental se firma diante da
sociedade brasileira, apesar de ainda ter conceituação pouco explícita para educadores e população em geral.
Nesse momento, Dalva Gonçalves (1990) com seu trabalho “Educação Ambiental e Ensino Básico”
apresentado nos Anais do IV Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente em Florianópolis
entende a Educação Ambiental como projeto de escola envolvido num processo continuado de aprendizagem,
com envolvimento participativo da escola, família e comunidade em torno da busca de solução alternativa para
problemas ambientais da comunidade local.
Assim, “pode-se perceber por estes relatos que a Educação Ambiental vem sendo definida como
eminentemente interdisciplinar, orientada para a resolução de problemas locais. É participativa, comunitária,
criativa e valoriza a ação. (...). É transformadora de valores e atitudes através da construção de novos hábitos
e conhecimentos, criadora de uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações integradas
ser humano/sociedade/natureza, objetivando o equilíbrio local e global... “ (p.28)
CAPITULO 3 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA QUÊ?
Nesse capítulo, o autor procura responder à questão: Qual é o papel do educador e seus caminhos de atuação?
3.1 O educador e a Educação Ambiental
“O educador deve tomar a precaução para não se colocar na posição pessimista em que alguns já
afirmam: o homem definitivamente rompe o equilíbrio ecológico e seria melhor deixar de existir” (p. 30). A
disseminação de visão catastrófica é perniciosa, nefasta e tão fragmentada quanto a visão arrogante do
antropocentrismo moderno. “É necessário que se elabore a visão que comporta tanto a rosa quanto o espinho:
a visão da roseira”. (p. 30)
O educador deverá trabalhar bastante e de modo positivo a integração homem-ambiente, entendendo que ser
humano é natureza e não somente parte dela.
A pressuposição da unidade deverá conduzir à valorização das atitudes individuais e das ações coletivas.
Para Mauro Guimarães, há uma relação fundamental, vital do homem com o ambiente, visto que a todo
instante inspira o ar que o abraça, degusta o alimento, bebe água, assimila e manifesta sentimentos para com
tudo, seres vivos e inanimados.
“No trabalho de conscientização é preciso estar claro que conscientizar não é simplesmente transmitir
valores ‘verdes’ do educador para o educando; essa é a lógica da educação ‘tradicional’” (p. 31). Em
Educação Ambiental, o papel do educador se centra no auxílio ao educando da análise crítica dos valores
sociais e do próprio educador, com vista a uma síntese pessoal madura que impulsionará novas atitudes. Nesse
processo, também o educador ambiental se desenvolverá em seu processo individual, por meio de atitudes
reflexivas associadas à sua ação e prática. Por isso, seu envolvimento deverá ser integral, tanto afetiva como
cognitivamente, com a situação apresentada, imbuído de u-topia e compromisso pessoal.
Para Guimarães, muito além da transformação superficial da tecnologia em “ecológica”, o que não
redundará em mudanças significativas, há que haver a alteração da lógica do modelo econômico. “Portanto, a
Educação Ambiental postula (...) a ampliação para uma consciência planetária, comprometida com a melhoria
da qualidade do ambiente. Entende-se aqui que uma melhor qualidade da vida humana está intrinsecamente
relacionada a um ambiente equilibrado tanto no nível local quanto no nível global”. (p. 38)
3.2 Educação Ambiental urbana x rural?
CAPITULO 4 – COMO FAZER EDUCAÇÃO AMBIENTAL?
O autor traz exemplificações de certos procedimentos para o desenvolvimento da Educação Ambiental, de
modo a estruturas certas idéias discutidas. Sendo de cunho geral, tais orientações deverão ser adaptadas a
necessidades locais.
4.1 O planejamento participativo, ação pedagógica essencial.
Professores, alunos, grupos da comunidade e agentes sociais deverão ser ouvidos em suas experiências
acumuladas, sua cosmovisão e desejos, deixando emergir as contradições. Dentro de uma proposta de cidadania
3. planetária, a participação deve ser ativa através da construção teórica e prática das ações visando a resolução
dos problemas. Por isso, o planejamento deverá partir da realidade local inserindo-a na globalidade da
realidade.
“No planejamento da Educação Ambiental deve-se considerar que os conteúdos das diferentes áreas de
conhecimento serão o ponto de partida para proceder-se a reelaboração com vistas à produção de novos
conhecimentos, aplicados à realidade no sentido de transforma-la” (p. 42).
Os objetivos gerais que perpassam o planejamento educacional para a Educação Ambiental são: “a ação de
planejar implica a participação ativa de todos os elementos envolvidos no processo de ensino; deve priorizar a
busca de unidade entre a teoria e a prática; o planejamento deve partir da realidade concreta (alunos, escola,
contextos social...); deve estar voltado para atingir o fim mais amplo da educação”. (p. 43)
A definição da participação ativa de todos no processo de planejamento ressalta a importância da
interdisciplinaridade, o que de per si já questiona um dos pressupostos da crise ambiental: a compartimentação
do saber, aprisionamento do conhecimento nas categorias disciplinares. “Essa noção de totalidade é
fundamental para a compreensão e para a ação equilibrada no ambiente, que é inteiro e não fragmentado”. (p.
44) A prática escolar, fortemente marcada por essa fragmentação,, traz em si a ausência de integração entre os
diversos saberes científicos, que das ciências exatas, humana e biológicas, o que obstaculiza um melhor
entendimento da realidade, totalidade complexa.
Aí se encontra um dos mais complicados desafios a ser transposto pela Educação Ambiental.
O autor divide o Planejamento em três fases, como forma de melhor sistematização:
Fase 1- Procede-se à realização do levantamento da realidade local, seu diagnóstico e as vinculações da
escola com a situação ambiental, com o envolvimento da comunidade intra e extra-escolar.
Fase 2 – Plano de Ação: Em conformidade com os objetivos específicos definidos após a diagnose, deverão
ser estabelecidos os procedimentos necessários para aquisição, reestruturação de conhecimentos a serem
aprendidos e buscados pelos educados. Tais procedimentos deverão propiciar aos participantes no processo uma
vivência profunda, por meio da elaboração de novos conhecimentos, valores e atitudes que englobarão a
multiplicidade da situação enfrentada. Destaca-se aqui que os procedimentos não devem ser ações mecânicas,
mas ações sensibilizadoras com as quais o educando estabeleça uma relação prazerosa, lúdica e criativa.
Fase 3 – Execução.
4.2 Relato de uma experiência
O autor expõe sinteticamente o relato da experiência implementada numa escola publica de 1o
. grau durante
um ano letivo, denominada “Projeto Coéma Etê” de Educação Ambiental (p.49 a ), em seus tópicos principais:
localização, objetivos, justificativas, procedimentos, atividades desenvolvidas pelo projeto.
O projeto não se configurou como um programa acabado e pronto, mas somente um cronograma de
sugestões, instigando iniciativas que se incorporassem ao processo global educativo da escola, visando uma
Educação Ambiental. Dentro desse pressuposto, não foi proposta a execução da proposta por uma disciplina
responsável pela Educação Ambiental, mas criou-se uma coordenação capaz de aglutinar todo o grupo nas
ações e debates do tema. Também se procurou, pelo projeto, recuperar da participação prazerosa de alunos e
professores no ambiente escolar.
O projeto foi desenvolvido a partir de quatro temas básicos, a serem trabalhados bimestramente, resultando
em atividades festivas coletivas que reuniram as ações desenvolvidas pelas turmas em cada período. Também
cabe destacar que as datas cívicas do calendário (Dia do Índio, Dia da Terra, Dia da Independência) foram
integradas ao tema do bimestre, sendo celebradas com a comunidade. O sete de setembro foi transformado emm
passeata ecológica, onde cada turma desenvolveu um tema pertinente ao desequilíbrio ambiental, por meio de
produções artísticas (adereços, desenhos, faixas e cartazes). Os temas básicos abordados foram: desequilíbrio
ecológico, lixo, sociedade moderna de consumo e preservação ambiental.
Em todos os temas abrangidos houve composição de teorização, ações na comunidade e eventos festivos
pedagógicos, como o levantamento do diagnóstico dos problemas ambientais locais; proposição e
implementação da coleta seletiva de lixo, primeiramente para a escola e depois para a comunidade; produção de
papel reciclado artesanal; preparação de composto orgânico para horta escolar; separação de produtos
inorgânicos recicláveis para possível comercialização; realização de gincana ecológica, confecção de placas de
madeiras com frases ecológicas, frisando participação de alunos em ações escolares e da comunidade.
Para cada tema foi montada uma série de atividades através de apresentação de filmes, literatura infantil,
jogos didáticos, encenações, feira de Ciências (oficinas, desenhos, atividades pedagógicas), “pesquisas de
opinião pública, passeios, teatros de bonecos, jornal mural, replantios, exposições artísticas e fotográficas,
4. produção de papel reciclado, coleta seletiva de lixo, pátio agrícola (...), gincana ecológica, eventos festivos”.
(p. 55)
O autor pontua diversas dificuldades enfrentadas no desenrolar do projeto, tais como: ausência de grêmio
estudantil e outros modos de associacionismo estudantil, inexistência de horário para reuniões, presença de
forte cultura de isolamento das áreas de conhecimento e falta de motivação dos educadores.
4.3 Atividades pedagógicas numa perspectiva interdisciplinar
Mauro Guimarães disponibiliza duas atividades interdisciplinares, a titulo de exemplificação pedagógica,
passiveis de serem utilizadas tanto com professores como com alunos em trabalho integrado das varias
disciplinas: tabuleiro de histórias (poderá servir como atividade para captação de questões e temas geradores ou
reflexão coletiva) e júri simulado (atividade de abordagem de uma situação-problema, na qual professores das
diversas disciplinas possibilitarão análise multifocal à questão).
4.4 Uma proposta para sala de aula (ONU)
Nesse item, o autor apresenta da página 62 à 102, o manual “Meio Ambiente e Desenvolvimento: seu
ensino” produzido pela Organização das Nações Unidas em 1991. O material propõe diversos exemplos para
sala de aula (I, II e II), contendo: tema geral, objetivos, temas/textos de debate para os estudantes, atividades
pedagógicas. Cada exemplo para sala de aula corresponde às etapas previstas pelo Planejamento Participativo,
proposto no início deste capitulo (levantamento e diagnóstico da realidade local, montagem do plano de ação e
execução dos procedimentos e avaliação do processo).