Defeitos dos homens apontados pelo pregador comparando-os aos peixes
1. Principais defeitos apontados aos peixes pelo pregador:
“vos comeis uns aos outros”
“os grandes comem os pequenos”
"Se os pequenoscomeramosgrandes,bastaraumgrande para muitospequenos; mas
como os grandescomemos pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um
só grande.“
“notável ignorância e cegueira” […] que leva a “perder a vida” “enganados por um
retalho de pano”
Primeiro momento do texto em que surge a identificação entre os peixes e os
homens:
Citação de Santo Agostinho,
É a ideia de “cobiça”, que é simultaneamente “má”, “perversa” e plural
(“cobiças”) e que retoma a ideia da “Nau Cobiça” da parte III, salva apenas
pela língua de António, “como rémora”.
O pregador inicia as repreensões aos peixes/homens, seguindo o método usado para os
louvores dos peixes/homens:
do geral para o particular.
Primeira Repreensão
OS PEIXES COMEM-SE UNS AOS OUTROS – OS HOMENS COMEM-SE UNS AOS OUTROS
Valorda enumeraçãointroduzidapelaformaverbal “vedes” para caracterizar as ações
humanas praticadas na cidade, e que os peixes devem observar:
A enumeração remete para a ideia de movimento, para a forma como os homens
vivem o seu dia-a-dia, para a agitação motivada pela ambição de alcançar certos
objetivos sociais.
Valor polissémico do verbo “comer”:
O verbo “comer” não significa apenas alimentar-se, ingerir alimentos (“buscando os
homens como hão de comer”); neste contexto (“como se hão de comer”) significa
usurpar o dinheiro do defunto, explorá-lo.
Os peixes / homens comem os mais pequenos
Os homens comem não só o povo, mas a sua plebe
Os homens não só se comem, mas engolem-nos e devoram-nos
Os homens devoram e comem como se se tratasse de pão
2. O estilo de Vieira nesta 1.ª parte do discurso
a. Lógica da argumentação: Observação / Exemplificação / Ampliação
b. Lógica das conclusões: Conclusões implacáveis
c. Ritmo das frases: ritmo variado: lento e repousado (frases longas, com exemplos de
paralelismo) / rápido e muito rápido (frases curtas, com sucessivas anáforas e
interrogações retóricas, vivo (exemplo do defunto e do réu), capaz de prender
facilmente os ouvintes
d. Visualismo: a repetição da forma verbal “vedes”, certamente a acompanhar o gesto
expressivo, cria na mente dos ouvintes um forte visualismo do espetáculo descrito,
assim como os deícticos e as Nominalizações/ Substantivação do infinitivo verbal
(deixa de ser uma ação limitada para ser uma situação alargada)
e. Efeitos dos deícticos demonstrativos: localizar os atos referidos.
Segunda Repreensão
A IGNORÂNCIA E CEGUEIRA DOS PEIXES
A IGNORÂNCIA E CEGUEIRA DOS HOMENS
PEIXES HOMENS
. Caem tão facilmente no engodo da isca . Enganam facilmente os indígenas (peixes que
facilmente se deixam enganar)
CONCLUSÃO
Os peixes / homens são muito cegos e ignorantes
No entanto,
SantoAntónionuncase deixouenganar pela vaidade do mundo, fazendo-se pobre e simples, e assim pescou
muitos para salvação.
Conclusão
Cap. IV – Repreensões aos peixes em geral
– comem-se uns aos outros, com a agravante de os grandes comerem os pequenos;
– ignorância, cegueira e vaidade.