Por meio da análise de relatórios financeiros, o presente trabalho procura identificar ferramentas de gerenciamento do risco financeiro adotado por duas empresas de capital aberto; uma do setor de papel e celulose; e outra do segmento de petróleo e gás. Também sugere políticas de hedge, com base na mensuração de possíveis perdas relacionadas à exposição cambial.
GREEN BONDS ‐ OPORTUNIDADE PARA O SETOR DE ENERGIAS RENOVÁVEIS NO BRASIL E A...
Gestão de riscos financeiros em empresas de celulose e petróleo
1. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
GESTÃO DE RISCO FINANCEIRO
Thiago Yajima
TIA – 31340512
Turma – 3Q
Trabalho da disciplina
Instrumentos Financeiros
e Derivativos
Professor: Rudah Giasson Luccas
São Paulo
2016
2. RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar o gerenciamento de risco financeiro adotado
por uma empresa do setor de celulose e papel e outra do segmento de petróleo e derivados.
Com a identificação dos riscos econômicos e financeiros dos setores; das estratégias com
derivativos e se utilizam do método de hedge accounting; procura-se definir se as políticas de
investimentos das companhias são especulativas ou para proteção. Para atingir tal finalidade,
utiliza-se de pesquisa descritiva e, como meios, valem-se da análise de relatórios setoriais,
demonstrações financeiras e bibliografias sobre os temas: administração financeira e
contabilidade financeira.
Palavras Chave: risco, gestão de risco financeiro; derivativos e hedge accounting.
3. ABSTRACT
This study aims to analyze the financial risk management adopted by a company in the pulp
and paper industry and other in the oil and derivatives segment. With the identification of
economic and industry risks; the strategies using derivatives and the types of hedging
accounting; seeks to determine the companies' investment policies: speculative or hedge. To
achieve this purpose, it uses sectors reports, financial balances and bibliographies on financial
management and financial accountability issues.
Key Words: risk; financial risk management; derivatives and hedge accounting.
4. SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 5
2 ANÁLISE DE RISCO....................................................................................................... 6
2.1 Riscos relacionados a fatores macroeconômicos............................................................... 6
2.2 Risco financeiro ............................................................................................................... 6
2.3 Gerenciamento do risco financeiro ................................................................................... 7
2.3.1 Estrutura patrimonial..................................................................................................... 7
2.3.2 Value at Risk (VaR)....................................................................................................... 8
2.3.3 Derivativos.................................................................................................................... 8
2.3.4 Hedge accounting.......................................................................................................... 9
3 ANÁLISE DE RISCO FINANCEIRO SETORIAL ...................................................... 10
3.1 Indústria de Celulose e Papel.......................................................................................... 10
3.1.1 Suzano Papel e Celulose S.A....................................................................................... 11
3.2 Indústria de Petróleo e Derivados................................................................................... 14
3.2.1 Petrobras ..................................................................................................................... 15
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 18
5. 5
1 INTRODUÇÃO
Pode-se definir risco como a capacidade de se mensurar o estado de incerteza de uma decisão
mediante o conhecimento das probabilidades associadas à ocorrência de um evento. De forma
mais específica, a idéia de risco está associada às probabilidades de ocorrência de
determinados resultados em relação a um valor médio esperado; ou seja, é um conceito
voltado para o futuro e que revela uma possibilidade de perda (Assaf Neto, 2012).
Com base nesta definição de risco, o seu gerenciamento; no mundo corporativo, pode ser
entendido como o conjunto de processos direcionados à identificação de eventos que
poderiam ter conseqüências financeiras adversas; e posterior execução de medidas para
prevenir ou minimizar o dano causado por esses eventos (Brigham, 2012).
Além desta introdução, a segunda parte trata da análise de: 1) como variáveis
macroeconômicas afetam o desempenho das firmas (risco não estratégico1
); e 2) o risco
financeiro assumido pelas empresas decorrentes de decisões de investimento (risco
estratégico2
). Em seguida, na terceira etapa são estudadas as gestões de riscos empregadas por
duas empresas de segmentos diferentes: Suzano (celulose e papel) e Petrobrás (petróleo e
derivados). Por último, a quarta seção trata das considerações finais sobre o tema.
1
Risco não estratégico é aquele inerente a qualquer atividade econômica, sendo determinado por eventos de
ordem política, econômica e social.
2
Risco estratégico é aquele assumido voluntariamente pela firma, a fim de criar vantagem competitiva e
valorizar a empresa perante seus acionistas.
6. 6
2 ANÁLISE DE RISCO
2.1 Riscos relacionados a fatores macroeconômicos
São os riscos inerentes a qualquer atividade econômica. São determinados por eventos de
ordem política, econômica e social. São difíceis de hedgear, a não ser pela diversificação dos
negócios entre diferentes atividades e países.
Quadro 1 – Riscos macroeconômicos.
Variável Impacto
Atividade econômica Melhor atividade econômica favorece a demanda de bens e serviços.
Mercado de trabalho
Baixas taxas de desemprego em ambiente de alta da massa salarial tende
a aumentar a demanda por bens e serviços. Por outro lado, em cenário de
baixo desemprego, a pressão sobre os salários tende a elevar os custos das
empresas.
Inflação
Com a piora do poder de compra da população, as famílias tendem a
enrijecer suas cestas de consumo, afetando a demanda por produtos
finais. Pela ótica das empresas, a inflação atua na demanda por insumos.
Ademais, quanto maior a instabilidade de preços na economia, maiores
são as incertezas quanto à previsão dos preços futuros, o que prejudica o
planejamento financeiro das firmas.
Câmbio
A valorização do real tende a diminuir a competitividade da indústria
nacional frente a seus concorrentes estrangeiros. Por outro lado, a
desvalorização do real tende a encarecer insumos; como máquinas e
equipamentos, que são importados; e a elevar os gastos com transporte no
exterior; pressionando, desta maneira, os custos de produção.
Juros
O crédito se mostra uma importante fonte de financiamento à manutenção
e expansão do consumo das famílias e empresas. Assim, quando há um
aumento da taxa básica de juros, os custos; diretamente e indiretamente
(CDI e TJLP) atrelados a SELIC, de se tomar empréstimos tendem a
encarecer.
Fonte: o autor.
2.2 Risco financeiro
É o risco ligado a probabilidade de que fluxos de caixa futuros não se materializem conforme
esperados e decorre de decisões de investimentos da empresa. Está diretamente associada à
exposição da firma a outros tipos de riscos; tais como:
7. 7
a) Risco de mercado: é oriundo de movimentos nos níveis ou volatilidade3
dos preços de
mercado, como: taxa de juros, taxa de câmbio, preço das commodities, etc.
b) Risco de crédito: engloba a possibilidade de perda devido ao não pagamento de
obrigações contratuais pelas contrapartes.
c) Risco de liquidez: reflete as dificuldades que podem ser encontradas para: 1) a venda
de ativos a preços justos de mercado; e 2) o financiamento de passivos, obrigando a
firma a vender ativos a preços abaixo dos de mercado.
d) Risco operacional: advém de atos humanos (intencionais ou não), tecnológicos ou de
acidentes.
e) Risco legal: está presente quando um negócio ou atividade econômica não pode ser
amparado por lei.
f) Risco ambiental: relaciona-se aos danos causados ao meio ambiente, oriundos das
atividades da empresa e passíveis de multas.
g) Risco de passivo trabalhista: resultante de ações trabalhistas realizadas por ex-
funcionários.
2.3 Gerenciamento do risco financeiro
O objetivo da gestão do risco financeiro de uma empresa é preservar o seu valor intrínseco
(soma de todos os seus projetos e unidades de negócios) e conseqüentemente garantir o
retorno sobre o capital (ROE) de seus acionistas (Brigham, 2012).
Logo, os responsáveis pela administração dos riscos corporativos; para identificar e controlar
as ameaças ao patrimônio da companhia; procuram adotar uma série de processos, assim
sendo:
1. Identificação dos riscos aos quais a empresa está exposta;
2. Calcular o efeito potencial de cada risco;
3. Decidir como cada risco relevante deva ser tratado:
Utilizar hedge natural4
;
Transferir o risco a uma seguradora;
Deslocar a função que produz o risco a terceiros;
Comprar contratos de derivativos como hedge financeiro5
;
Adotar políticas de prevenção a fatores de risco e provisão de capital; e
Evitar totalmente atividades que propiciem o risco.
2.3.1 Estrutura patrimonial
A análise da estrutura patrimonial de uma empresa; ou seja, o estudo das fontes de recursos
financeiros junto a terceiros (passivo) e de propriedade dos acionistas (patrimônio líquido) e a
utilização desses recursos (ativo), assim como as suas evoluções ao longo do tempo; constitui-
se em uma importante ferramenta para o gerenciamento de ativos e passivos (ALM), e
3
Volatilidade é uma medida de risco e representa a variação contínua dos preços de instrumentos financeiros em
torno de uma média esperada.
4
Hedge natural ocorre quando os próprios ativos e passivos da empresa possibilitam que os riscos se anulem.
5
Hedge financeiro consiste em utilizar ativos inversamente correlacionados para que o resultado de um anule,
totalmente ou parcialmente, o resultado do outro.
8. 8
conseqüentemente para o controle de riscos. Através, da apuração de uma série de índices
econômico-financeiros, como níveis de liquidez e endividamento da firma; e da observação
dos efeitos de mudanças em certas variáveis sobre o Balanço Patrimonial (simulação de
cenários), os administradores são capazes de adotar medidas que visem à mitigação dos riscos
de curto e longo prazo (Dermine et al, 2005).
2.3.2 Value at Risk (VaR)
Quando falamos em risco de mercado uma pergunta que pode surgir é: como uma empresa
pode medir a sua exposição a este risco?
Segundo a literatura especializada a ferramenta mais adequada para a valoração monetária do
risco é o valor em risco ou value at risk. O VaR representa, dada uma determinada exposição,
a perda máxima, com determinado grau de confiança, que pode ser experimentada pela
empresa decorrente de variações ocorridas nos preços de mercado entre um intervalo de
tempo específico (Securato, 2006). Resumidamente, para a apuração do valor em risco,
devem-se levar em consideração três variáveis:
i. Exposição monetária (ativos e passivos) da firma ao fator de risco;
ii. Sensibilidade da exposição às oscilações no fator de risco; e
iii. Volatilidade temporal dos preços do fator de risco.
2.3.3 Derivativos
Além da análise da estrutura patrimonial da empresa e do valor em risco de seus ativos e
passivos, os derivativos são importantes ferramentas no auxílio dos riscos corporativos,
principalmente, da parcela do risco de mercado que não possa ser alvo de hedge natural. São
instrumentos financeiros, cujo retorno depende do valor de outro ativo tido como referência,
como ação, moeda, taxa de juros, commodity, etc. (Bodie, 2014). São negociados diretamente
entre as partes – mercado de balcão – ou através de intermediário – mercado de bolsa. Além
da proteção contra oscilações de preço (hedge) são utilizados para a obtenção de ganhos
acima do retorno de mercado com essas mesmas variações (especulação). Existem diversos
tipos de derivativos, com destaque para:
Contrato a termo: caracteriza-se por ter uma contraparte disposta a comprar uma
mercadoria a um preço específico em uma data futura e outra disposta a vender. É
negociado no mercado de balcão (OTC).
Contrato de futuros: semelhante ao termo, porém com três diferenças fundamentais: a)
são marcados a mercado diariamente; b) não há liquidação física, somente financeira
entre as partes; e 3) são instrumentos padronizados e negociados em ambiente de
bolsa.
Swap: contrato em que duas partes concordam com trocar fluxos de caixa
especificados. Podem ser negociados tanto em bolsa quanto em OTC.
Opções: são derivativos que concedem ao seu titular um direito de negociar um
determinado ativo a um preço previamente definido (strike price), mediante o
pagamento de um prêmio ao lançador da opção, que tem a obrigação, caso seja
exercido, de comprar (Put) ou vender (Call) o ativo objeto. Os tipos mais comuns são
9. 9
a americana (liquidação entre o vencimento) e européia (liquidação no vencimento).
São operadas em ambos os ambientes (OTC e bolsa).
2.3.4 Hedge accounting
O hedge accounting é um critério contábil opcional utilizado pelas empresas, cujo objetivo é
representar nas demonstrações financeiras os efeitos dos instrumentos de hedge sobre o
resultado e patrimônio líquido (Stickney, 2010).
Todo ativo e seu respectivo hedge (natural ou derivativo) devem ser marcados a mercado com
os efeitos levados a resultado. Contudo, como a forma de classificação e mensuração contábil
do hedge é muitas vezes diferente da forma do ativo protegido; podem ocorrer assimetrias no
reconhecimento de perdas e ganhos entre o hedge e o objeto protegido.
Portanto, a contabilidade de hedge tem como finalidade proporcionar o casamento das formas
de mensuração e reconhecimento de resultados dos instrumentos de hedge no mesmo período
contábil em que é apurado o valor justo dos objetos de hedge.
Além do mais, o efeito de uma variação no valor de mercado de um hedge sobre o resultado,
depende também da natureza do hedge. Desta maneira, os Princípios Contábeis Geralmente
Aceitos (PCGA) classificam-no como (Stickney, 2010):
1) Fair value hedge (hedge de valor justo): proteção de exposição oriunda de mudanças no
valor justo de ativos ou de passivos reconhecidos no balanço ou de parte deles.
Nesse tipo de hedge, tanto o instrumento quanto o objeto de hedge devem ser mensurados
a valor justo pelo resultado (VJPR);
2) Cash flow hedge (hedge de fluxo de caixa): proteção de exposição oriunda de variações no
fluxo de caixa que possa ser atribuível a um risco específico associado a ativos ou
passivos reconhecidos ou a compromissos firmes ou transações projetadas que sejam
altamente prováveis. Nesse tipo de hedge, o objeto protegido continua sendo contabilizado
da mesma forma que seria sem a estratégia de hedge accounting, porém, a parte efetiva
das variações no valor justo do derivativo é registrada no patrimônio líquido, e não no
resultado; e
3) Net investment hedge (hedge de investimento líquido no exterior): proteção de um
investimento líquido de uma atividade operacional no exterior. A forma de contabilização
dessa estratégia de hedge accounting segue a mesma lógica do cash flow hedge, ou seja, o
objeto de hedge não muda, mas o instrumento de hedge tem as variações no valor justo da
sua parcela efetiva lançados no resultado do período.
10. 10
3 ANÁLISE DE RISCO FINANCEIRO SETORIAL
Dada a estrutura de mercado em que uma empresa está inserida, existem riscos que são
intrínsecos ao ramo de sua atividade e disseminados a todos os seus players. Já as decisões de
investimento de cada firma determinarão que tipo de risco financeiro específico, além do
geral, o agente econômico estará assumindo.
3.1 Indústria de Celulose e Papel
As empresas nacionais que atuam no setor de celulose e papel estão expostas essencialmente
ao risco de mercado gerado pela volatilidade dos preços internacionais de sua principal
matéria prima, a celulose; e pela variação cambial que impacta o seu preço em reais.
Quadro 2 – Risco setorial – Celulose e Papel.
Preço
A celulose, por ser uma commodity, tem seu preço
formado internacionalmente, que por sua vez, é
determinado pela demanda e oferta global. Além
disso, sua variação é sensível as alterações na
capacidade da indústria, estoques dos produtores,
cotação do dólar norte americano, custos de produção
e transporte, e principalmente as flutuações da
atividade econômica mundial. Sendo assim, o preço
da celulose possui um caráter cíclico e está atrelada a
volatilidade normal dos mercados de commodities
agrícolas.
Fonte: LAFIS, 2016. Elaboração do autor.
Gráfico 1 - Variação mensal do preço internacional da celulose (em %).
Fonte: Banco Mundial. Elaboração própria.
-30.00
-25.00
-20.00
-15.00
-10.00
-5.00
0.00
5.00
10.00
15.00
Volatilidade histórica: 13,84 % a.a.
Média: 0,63% a.a.
11. 11
3.1.1 Suzano Papel e Celulose S.A
Segundo Relatório de Demonstrações Financeiras – 31 de dezembro de 2015 e 2014, a
empresa brasileira, em sua política de gerenciamento de riscos financeiros utiliza os
instrumentos financeiros mais líquidos e: (i) não contrata operações alavancadas ou com
outras formas de opções embutidas que alterem sua finalidade de proteção (hedge); (ii) não
possui dívida com duplo indexador ou outras formas de opções implícitas; e (iii) não tem
operações que requeiram depósito de margem ou outras formas de garantia para o risco de
crédito das contrapartes. Os principais riscos financeiros considerados pela Administração
são:
• Risco de crédito;
• Risco de liquidez;
• Risco de taxas de câmbio;
• Risco de mercado e oscilações de preços de insumos;
• Risco de taxas de juros; e
• Risco de capital.
Os instrumentos financeiros constantes nos balanços patrimoniais, tais como caixa e bancos,
empréstimos e financiamentos, apresentam-se pelos seus valores contratuais. As aplicações
financeiras e os contratos de derivativos, utilizados exclusivamente com finalidade de
proteção; encontram-se avaliados pelo seu valor justo.
Contudo, a firma não adota a modalidade de hedge accounting. Dessa forma, todos os
resultados (ganhos e perdas) apurados nas operações com derivativos e hedge natural estão
integralmente reconhecidos nas demonstrações do resultado do exercício.
Quanto à exposição ao risco de mercado, a Suzano calibra o perfil de seu endividamento, de
acordo, com a sua proporção de receita dolarizada a fim de obter o hedge natural para o risco
cambial. Adicionalmente às operações de hedge cambial, também são celebrados contratos de
swap de taxas de juros flutuantes para taxas fixas, para diminuir os efeitos das variações nas
taxas de juros sobre o valor da dívida; contratos de swap entre diferentes taxas de juros e
índices de correção, como forma de mitigar o descasamento entre diferentes ativos e passivos
financeiros; e contratos para fixação dos preços de celulose e de bunker6
de petróleo para
diminuir os efeitos destas variações sobre o fluxo de caixa da empresa, relacionados aos custos
de produção e transporte.
6
Bunker de petróleo é o óleo combustível destinado ao abastecimento de navios de grande porte.
12. 12
Figura 1 – Suzano - Endividamento: exposição por indexador (31/12/2015).
Fonte: Suzano, 2016.
Para todas as exposições – câmbio, taxa de juros e commodities - as análises de sensibilidade
consideraram quatro cenários, com variações positivas e negativas de 25% e 50%.
Logo, as informações constantes nas demonstrações financeiras da Suzano Papel e Celulose
S.A sobre a exposição da empresa a fatores de risco de mercado, sugerem que a empresa
adote uma postura de proteção (e não especulativa) em relação ao uso de derivativos.
Ademais, considerando um VaR7
[1 ano] (1-α = 99% e vol. dólar = 15,85% a.a) = R$7,4 bi para
sua exposição líquida de -R$10,8 bi e a posição em aberto de compra de dólares (NDF e
opções de moeda) no valor de R$2,6 bi; o hedge ratio8
(HR) cambial da companhia em
31/12/2015 no valor de 0,35 corrobora esta percepção.
Em conseqüência do relativo baixo HR (insuficiente para cobrir toda a exposição ao risco
cambial); uma política de elevação da posição comprada em dólares via derivativos, pode ser
uma alternativa interessante à companhia.
7
Para o cálculo do VaR, utilizou-se de um modelo paramétrico para retornos geométricos dos preços
(ln[Pt/Pt-1]), distribuídos normalmente; e cuja fórmula é:
,1 1
0
gz
eXVaR
sendo:
X0 – exposição a valor justo pelo resultado;
Z1- - constante relativa ao número de desvios padrões para o nível de confiança desejado. Neste caso Z99% = 2,33
g é a volatilidade do retorno geométrico
8
Hedge ratio mede a relação entre a posição aberta em derivativos com a exposição total líquida (ativos menos
passivos).
13. 13
Figura 2 – Suzano: exposição cambial líquida (31/12/2015).
Fonte: Suzano, 2016.
Figura 3 – Suzano: derivativos em aberto (em R$).
Fonte: Suzano, 2016.
14. 14
Gráfico 2 - Variação mensal R$/USD - venda (em %) - jan/2003 a abr/2016.
Fonte: BACEN. Elaboração própria.
3.2 Indústria de Petróleo e Derivados
A despeito dos vários riscos de mercado, sob os quais a indústria de petróleo e derivados
opera no Brasil, a cotação bastante volátil do preço internacional do barril de petróleo bruto,
constitui uma das principais fontes de risco, assim como o risco cambial que impacta o seu
valor em moeda nacional.
Quadro 3 – Risco setorial – Petróleo e Derivados.
Preço
Os tipos de petróleo (Brent, WTI e Dubai) têm seus
preços formados no mercado internacional.
Entretanto, os mercados (spot e forward) nos quais
são formados os preços de referência sofrem grande
interferência da OPEP (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo), que intervém nos preços,
através do aumento ou diminuição da oferta. Ademais,
o crescimento econômico, a demanda mundial e a
atuação especulativa também exercem influência
sobre o seu preço, tornando-o suscetível a ciclos
econômicos e a considerável volatilidade.
Fonte: LAFIS, 2016. Elaboração do autor.
-30.00
-20.00
-10.00
0.00
10.00
20.00
30.00
40.00
50.00
60.00
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Volatilidade histórica: 15,85% a.a.
Média: -0,05% a.a.
15. 15
Gráfico 3 - Variação mensal do preço internacional do petróleo9
(em %).
Fonte: FMI. Elaboração própria.
3.2.1 Petrobras
Conforme divulgado pela Petrobras em seu demonstrativo de resultados do 4T15, o
gerenciamentos dos fatores de riscos (estratégico, financeiro, conformidade, negócios e
operacionais) aos quais a firma está exposta é de responsabilidade da Gerência Executiva de
Riscos Empresariais.
No que diz respeito ao risco de mercado, a companhia possui ativos e passivos sujeitos a
variações de moedas estrangeiras, cujas principais exposições brutas são do real em relação ao
dólar norte-americano e do dólar norte-americano em relação ao euro. Existem relações de
hedge entre exportações e obrigações em dólares norte-americanos para efeitos da proteção
cambial natural (hedge natural).
Quanto à contabilização de hedge, opta-se pelo hedge accounting. Desde meados de 2013, o
método também é aplicado para proteção de exportações futuras altamente prováveis. Com a
extensão da contabilidade de hedge, ganhos ou perdas provocados por variações cambiais são
acumulados no patrimônio líquido, somente afetando o resultado na medida em que as
exportações são realizadas.
9
Média simples dos preços no mercado spot dos barris de Brent, WTI e Dubai Fateh.
-40.00
-30.00
-20.00
-10.00
0.00
10.00
20.00
30.00
40.00
50.00
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
Volatilidade histórica: 30,06 % a.a.
Média: 1,30% a.a.
16. 16
Figura 4 – Petrobras – Endividamento: exposição por indexador (31/12/2015).
Fonte: Petrobras, 2016.
Por conseguinte, com base na análise dos demonstrativos financeiros de 31/12/2015, supõe-se
que a empresa não utilize de estratégias com derivativos para efeitos de proteção, optando
somente pelo uso de hedge natural para o risco cambial.
Figura 5 – Petrobras – Exposição cambial líquida (31/12/2015).
Fonte: Petrobras, 2016.
Deste modo, considerando os riscos de mercado atrelados a sua exposição cambial passiva e
ao seu endividamento, uma política de hedge com o uso de derivativos se faz pertinente. A
negociação de contratos de swap de taxas de juros seria uma alternativa adequada. Quanto à
exposição cambial, de acordo com o VaR [1 ano] (1-α = 99% e vol. dólar = 15,85% a.a) é de
R$30,0 bi, poder-se-ia comprar dólares a termo ou futuro para proteção.
17. 17
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho analisou os riscos ao qual qualquer atividade empresarial está exposta, assim
como, os riscos assumidos pelas empresas decorrentes das escolhas de investimentos por seus
administradores e acionistas. Demonstrou também como as firmas, quando diante de situações
que ofereçam a possibilidade de perdas nos seus fluxos de caixa esperados, procuram
identificar, mensurar e controlar de maneira estratégica tais riscos. Finalmente, abaixo segue
um resumo de algumas informações pertinentes à administração do risco da Suzano Papel e
Celulose SA e Petrobras.
Quadro 4 – Resumo analítico (posição 31/12/2015).
Suzano Papel e Celulose SA Petrobras
Risco de mercado
Taxas de juros, câmbio e
commodities (celulose e bunker de
petróleo)
Taxas de juros, câmbio e
commodities (barril do petróleo
bruto)
Hedge natural Sim Sim
Derivativos em aberto Swaps, opções e outros Não
Hedge accounting Não Sim
Exposição cambial (net) -R$10,8 bi -R$43,3 bi
VaR [1 ano] R$7,4 bi R$30,0 bi
HR
0,35 (HR< 1, então posição não
especulativa)
n/a
Sugestão
Elevação da posição comprada em
dólares a termo ou futuro
Contratação de swaps de taxas de
juros e cambial
Fonte: Suzano Papel e Celulose SA e Petrobras, 2016. Elaboração do autor.
18. 18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Assaf Neto, Alexandre. Mercado Financeiro. São Paulo: Atlas, 2014.
Bodie, Zvi et al. Investimentos. Porto Alegre: AMGH, 2015.
Brigham, Eugene F. et al. Administração Financeira: teoria e prática. São Paulo: Cengage
Learning, 2012.
Dermine, Jean et al. Geranciamento de ativos e de passivos: um guia para a criação de
valor e controle de riscos. São Paulo: Atlas, 2005.
LAFIS. Novo Relatório Setorial: papel e celulose, São Paulo, 2016. Disponível em <
http://www.lafis.com.br/NovoPortalSetorial>. Acessado em 04/05/2016.
LAFIS. Novo Relatório Setorial: petróleo, São Paulo, 2016. Disponível em <
http://www.lafis.com.br/NovoPortalSetorial>. Acessado em 04/05/2016.
PETROBRAS. Divulgação de Resultados: 4T15 e exercício 2015. 22 de março de 2016.
Disponível em <http://www.investidorpetrobras.com.br/pt/resultados-financeiros#top>.
Acessado em 04/05/2016.
Securato, Jose Roberto et al. Cálculo Financeiro das Tesourarias – Bancos e Empresas.
São Paulo: Saint Paul, 2005.
Stickney, Clyde P. et al. Contabilidade Financeira: introdução aos conceitos, métodos e
aplicações. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
Suzano Papel e Celulose SA. Demonstrações Financeiras. 18 de fevereiro de 2016.
Disponível em < http://ri.suzano.com.br/ptb/s-3-ptb.html>. Acessado em 04/05/2016.