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A necessidade de uma Nova Abordagem: Gestão de Riscos e Seguro – Da Região Serrana do Rio ao
Japão
Por Flavio Seixas
Os episódios recentes na Região Serrana do Rio e no Japão (1) demonstram que situações catastróficas não
diferem economias desenvolvidas daquelas ditas em desenvolvimento, e principalmente, confirmam a
relevância da gestão de risco e do seguro em ambos países. A indústria de seguros tem por finalidade
vender segurança, e portanto, não basta restabelecer o equilíbrio econômico, mas também fazer valer sua
contribuição na análise e prevenção de riscos com o objetivo maior de preservar vidas, patrimônios e
garantir seu próprio resultado como atividade econômica. Resta-nos saber, estamos preparados?

Em 2010 estive presente no Congresso Econômico Mundial de Risco e Seguro (2) em Cingapura, onde
esteve reunido um seleto grupo de executivos, autoridades do mercado de seguros, representantes de
instituições de governo, acadêmicos, professores, alunos e pesquisadores de toda parte do globo, inclusive
com a maciça presença de nossos amigos asiáticos, muitos deles nipônicos.Infelizmente, entre mais de
300 pessoas, encontravam-se apenas dois brasileiros, eu e o professor Dr. Luiz Augusto Carneiro da
Universidade de São Paulo.

Nesta oportunidade, fui convidado pelo referido professor para participar do Fórum USP de Risco e
Seguro (3) como palestrante do painel de Seguros Patrimoniais (Automóvel e os denominados Ramos
Elementares) ao retornar para o Brasil. Naquele momento, estava entusiasmado pelos insights da rica
experiência em Cingapura e também pela recente leitura do livro "Risk Management and Insurance –
Perspectives in a Global Economy" (4) - Gerenciamento de Risco e Seguro - Perspectivas na Economia
Global - dos professores Harold D. Skipper and W. Jean Kwon.

Aproveitando desta profusão de informações, no conteúdo de minha apresentação na USP tentei explorar
o que chamei de Uma Nova Abordagem: Gestão de Risco e Seguro. Se não exatamente nova pelo fato de
serem práticas consagradas e usuais nos países mais desenvolvidos, podemos certamente considerá-la
pouco difundida no dia a dia das pessoas, empresas, governo, ou seja, na sociedade brasileira como um
todo. E, também, lamentavelmente em nosso Mercado de Seguros.

Como os riscos caminham lado a lado com o desenvolvimento econômico, uma nova abordagem
sistêmica e integrada entre Gerenciamento de Risco e Seguro é fundamental para potencializar as
oportunidades e enfrentar os desafios dos novos tempos.

O mundo globalizado enseja por conexões que ultrapassam fronteiras e envidam esforços não somente do
ponto de vista comercial, mas principalmente sob a ótica do conhecimento, da troca de informações,
experiências e boas práticas. Segundo dados da OCDE – Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, o fator conhecimento gera 55% da riqueza mundial, sendo largamente o
novo motor da economia. Neste propósito de aprendizado, países como Bangladesh, Eslovênia, Sri Lanka
e Papua-Nova Guiné participaram do encontro de Cingapura juntamente com mais 31 países.

Neste mesmo sentido, emerge a necessidade de formação adequada que amplie nossa visão e horizontes
diante das novas perspectivas da economia global, desde riscos pessoais, familiares, empresarias e de
governo até as grandes catástrofes ambientais, riscos financeiros, tecnológicos e de guerra que afetam o
mundo como um todo.

O conteúdo de Gerenciamento de Risco com aplicação no mercado de seguros possui ampla dimensão,
tais como questões relacionadas a perspectiva nacional e internacional de risco e seguro, percepções do
risco e reações no processo de tomada de decisões das pessoas, das empresas e dos governos até o
comércio internacional. Faz-se indispensável o entendimento dos fatores de formação do ambiente de
risco, riscos sociais e de catástrofes (sejam naturais, de infraestrutura crítica, terrorismo e outros),
transformação demográfica, mercado de trabalho, mercado financeiro, funcionamento e falhas do setor
público, regulação de serviços financeiros, ambiente legal e efeitos sócio-culturais, etc. Enfim, na sua
maioria temas fora da realidade de qualificação de grande parte das corporações e profissionais de
seguros de nosso país.

Não obstante a tal conclusão, vale reconhecer que a gestão de risco empresarial destaca-se com soluções
mais condizentes com as chamadas boas práticas de mitigação de riscos e alternativas de financiamento
de perdas internas e externas, seja por força de exigências legais ou por meras iniciativas que visam a
preservação de seus ativos e lucros. Em contrapartida, temos alguns preocupantes desdobramentos
provenientes da ausência de resposta do mercado de seguros, como podemos observar na baixa
penetração de seguros empresariais, no auto-seguro (e retenção inconsciente do risco) e nas alternativas
de transferência de riscos (ART- alternative risk transfer), tais como o surgimento de Cativas (5) nas
grandes corporações e o associativismo para formação de fundos que visam cobrir perdas sem o adequado
lastro financeiro e base atuarial (reservas matemáticas), entre outros exemplos.

O fato é que não temos a cultura da prevenção. Como temos presenciado em nosso cotidiano as medidas
preventivas são pós-catástrofes. Seja sob o ponto de vista ético-social ou pelo aspecto meramente
financeiro relacionado a preservação de seus resultados, o mercado precisa reagir e se preparar para novos
tempos de riscos com efeitos globais.

Os últimos acontecimentos daqui e do mundo reforçam que além do interesse e responsabilidade com a
sustentabilidade, o Mercado de Seguros pode e deve desempenhar um papel importante na difusão do
gerenciamento de risco e seus processos: identificação e mapeamento, qualificação e quantificação,
métodos de prevenção e respostas, monitoramento e controle, divulgação de lições aprendidas e dados
estatísticos. Para isto, precisamos nos preparar e qualificar nossos profissionais para prestar apoio
consultivo à sociedade. Afinal, os riscos são a razão de ser da instituição Seguro.
(1) Japão: Antes do Tsunami, segundo relatos da Agência de Serviços Financeiros do Japão, os principais problemas enfrentados pelas Companhias de Seguro no Japão foram
decorrentes da prolongada recessão econômica que ocasionou o encolhimento do mercado interno, spreads negativos e grande exposição em ações, bem como sua estrutura de
custos que apresenta elevado custo de distribuição (o modelo de agentes é o predominante no país). Segundo dados de 2009 da Swiss Re, seu mercado de seguros representa
9,8% do PIB e possui elevada concentração em prêmios de seguro de vida.

(2) Congresso Econômico Mundial de Risco e Seguro: O Segundo Congresso Mundial, realizado em 25-29 julho de 2010, contou com 345 participantes de 35 países. Foram
seis sessões plenárias e apresentações de 204 trabalhos de pesquisa em sete sessões simultâneas. O Congresso Econômico Mundial de Risco e Seguro (o "Congresso Mundial")
foi criado para estimular a sensibilização das empresas e interesse na investigação de risco associados, e proporcionar um fórum de articulação entre acadêmicos e profissionais
da indústria e do governo mundial. O Congresso Mundial é aberto a "todas as pessoas", que compartilham um interesse comum na promoção da educação e pesquisa nas áreas
de grandes riscos e seguros.

(3) Fórum USP de Risco e Seguro : O Fórum USP de Risco e Seguro teve como objetivo principal contextualizar as perspectivas de cada mercado dentro de uma visão global,
considerando o alinhamento estratégico corporativo e pessoal nos mercados de seguro, resseguro, previdência e planos de saúde. O Fórum contou com apresentações de
acadêmicos e profissionais que discorreram pelo panorama das áreas e os participantes puderam interagir e discutir sobre as oportunidades e dificuldades que se espera para os
setores frente à atual fase da economia brasileira e mundial. Coordenação do Prof. Dr. Luiz Augusto Carneiro e participações: Srs. Flávio Seixas, Luis Cozac, Roberto Lago,
Ronald Poon Affat, Bruno Martins e Dr. Manoel Antonio Peres

(4) Risk Management and Insurance – Perspectives in a Global Economy (Gerenciamento de Risco e Seguro - Perspectivas na Economia Global) dos professores Harold
D. Skipper and W. Jean Kwon (este último um professor que conheci quando de minha visita ao College of Insurance de Nova York, uma pessoa engajada em promover a
educação e pesquisa em gestão de riscos e seguro),

(5) Cativas: São pequenas seguradoras dentro das grandes organizações, geralmente instaladas em paraísos fiscais. Bermudas é o principal porto seguro destas empresas. No
geral, as grandes corporações multinacionais adotam este sistema por possuírem elevado valor em risco que justificam a adoção do modelo. As seguradoras cativas são criadas
por empresas, associações ou grupos de empresas para fazer o auto-seguro de riscos que geralmente tem um custo elevado ou que não são aceitos pelas companhias de seguro
tradicionais. Um programa Cativo pode ser definido como “uma companhia de seguros especial para aceitar os riscos de uma organização-mãe, podendo incluir entidades do seu
grupo, detida e gerida pela organização-mãe. O objetivo da construção do regime de cativas é, em geral, para ser uma ferramenta útil de fortalecimento do sistema de gestão de
risco de uma organização, envolvendo questões de Mérito Fiscal (No momento da declaração de imposto, o prêmio pago para a Cativa é considerado como imposto
dedutível),Cobertura de Risco Alternativa (No caso de uma seguradora comercial não oferecer a Cobertura para determinados riscos e/ou prêmios acessíveis, os segurados
podem obtê-lo de sua Cativa), Função de Investimento (O prêmio retido pelas Cativas podem ser investidos durante o tempo anterior ao cumprimento das obrigações
provenientes dos riscos garantidos) e acesso direto ao mercado de resseguros (para fins de obtenção de maior limite e coberturas mais amplas, a Cativa poderá negociar
diretamente com o Mercado Internacional de Resseguros).

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  • 1. A necessidade de uma Nova Abordagem: Gestão de Riscos e Seguro – Da Região Serrana do Rio ao Japão Por Flavio Seixas Os episódios recentes na Região Serrana do Rio e no Japão (1) demonstram que situações catastróficas não diferem economias desenvolvidas daquelas ditas em desenvolvimento, e principalmente, confirmam a relevância da gestão de risco e do seguro em ambos países. A indústria de seguros tem por finalidade vender segurança, e portanto, não basta restabelecer o equilíbrio econômico, mas também fazer valer sua contribuição na análise e prevenção de riscos com o objetivo maior de preservar vidas, patrimônios e garantir seu próprio resultado como atividade econômica. Resta-nos saber, estamos preparados? Em 2010 estive presente no Congresso Econômico Mundial de Risco e Seguro (2) em Cingapura, onde esteve reunido um seleto grupo de executivos, autoridades do mercado de seguros, representantes de instituições de governo, acadêmicos, professores, alunos e pesquisadores de toda parte do globo, inclusive com a maciça presença de nossos amigos asiáticos, muitos deles nipônicos.Infelizmente, entre mais de 300 pessoas, encontravam-se apenas dois brasileiros, eu e o professor Dr. Luiz Augusto Carneiro da Universidade de São Paulo. Nesta oportunidade, fui convidado pelo referido professor para participar do Fórum USP de Risco e Seguro (3) como palestrante do painel de Seguros Patrimoniais (Automóvel e os denominados Ramos Elementares) ao retornar para o Brasil. Naquele momento, estava entusiasmado pelos insights da rica experiência em Cingapura e também pela recente leitura do livro "Risk Management and Insurance – Perspectives in a Global Economy" (4) - Gerenciamento de Risco e Seguro - Perspectivas na Economia Global - dos professores Harold D. Skipper and W. Jean Kwon. Aproveitando desta profusão de informações, no conteúdo de minha apresentação na USP tentei explorar o que chamei de Uma Nova Abordagem: Gestão de Risco e Seguro. Se não exatamente nova pelo fato de serem práticas consagradas e usuais nos países mais desenvolvidos, podemos certamente considerá-la pouco difundida no dia a dia das pessoas, empresas, governo, ou seja, na sociedade brasileira como um todo. E, também, lamentavelmente em nosso Mercado de Seguros. Como os riscos caminham lado a lado com o desenvolvimento econômico, uma nova abordagem sistêmica e integrada entre Gerenciamento de Risco e Seguro é fundamental para potencializar as oportunidades e enfrentar os desafios dos novos tempos. O mundo globalizado enseja por conexões que ultrapassam fronteiras e envidam esforços não somente do ponto de vista comercial, mas principalmente sob a ótica do conhecimento, da troca de informações, experiências e boas práticas. Segundo dados da OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o fator conhecimento gera 55% da riqueza mundial, sendo largamente o novo motor da economia. Neste propósito de aprendizado, países como Bangladesh, Eslovênia, Sri Lanka e Papua-Nova Guiné participaram do encontro de Cingapura juntamente com mais 31 países. Neste mesmo sentido, emerge a necessidade de formação adequada que amplie nossa visão e horizontes diante das novas perspectivas da economia global, desde riscos pessoais, familiares, empresarias e de governo até as grandes catástrofes ambientais, riscos financeiros, tecnológicos e de guerra que afetam o mundo como um todo. O conteúdo de Gerenciamento de Risco com aplicação no mercado de seguros possui ampla dimensão, tais como questões relacionadas a perspectiva nacional e internacional de risco e seguro, percepções do risco e reações no processo de tomada de decisões das pessoas, das empresas e dos governos até o comércio internacional. Faz-se indispensável o entendimento dos fatores de formação do ambiente de risco, riscos sociais e de catástrofes (sejam naturais, de infraestrutura crítica, terrorismo e outros), transformação demográfica, mercado de trabalho, mercado financeiro, funcionamento e falhas do setor público, regulação de serviços financeiros, ambiente legal e efeitos sócio-culturais, etc. Enfim, na sua maioria temas fora da realidade de qualificação de grande parte das corporações e profissionais de seguros de nosso país. Não obstante a tal conclusão, vale reconhecer que a gestão de risco empresarial destaca-se com soluções mais condizentes com as chamadas boas práticas de mitigação de riscos e alternativas de financiamento de perdas internas e externas, seja por força de exigências legais ou por meras iniciativas que visam a
  • 2. preservação de seus ativos e lucros. Em contrapartida, temos alguns preocupantes desdobramentos provenientes da ausência de resposta do mercado de seguros, como podemos observar na baixa penetração de seguros empresariais, no auto-seguro (e retenção inconsciente do risco) e nas alternativas de transferência de riscos (ART- alternative risk transfer), tais como o surgimento de Cativas (5) nas grandes corporações e o associativismo para formação de fundos que visam cobrir perdas sem o adequado lastro financeiro e base atuarial (reservas matemáticas), entre outros exemplos. O fato é que não temos a cultura da prevenção. Como temos presenciado em nosso cotidiano as medidas preventivas são pós-catástrofes. Seja sob o ponto de vista ético-social ou pelo aspecto meramente financeiro relacionado a preservação de seus resultados, o mercado precisa reagir e se preparar para novos tempos de riscos com efeitos globais. Os últimos acontecimentos daqui e do mundo reforçam que além do interesse e responsabilidade com a sustentabilidade, o Mercado de Seguros pode e deve desempenhar um papel importante na difusão do gerenciamento de risco e seus processos: identificação e mapeamento, qualificação e quantificação, métodos de prevenção e respostas, monitoramento e controle, divulgação de lições aprendidas e dados estatísticos. Para isto, precisamos nos preparar e qualificar nossos profissionais para prestar apoio consultivo à sociedade. Afinal, os riscos são a razão de ser da instituição Seguro. 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O Congresso Econômico Mundial de Risco e Seguro (o "Congresso Mundial") foi criado para estimular a sensibilização das empresas e interesse na investigação de risco associados, e proporcionar um fórum de articulação entre acadêmicos e profissionais da indústria e do governo mundial. O Congresso Mundial é aberto a "todas as pessoas", que compartilham um interesse comum na promoção da educação e pesquisa nas áreas de grandes riscos e seguros. (3) Fórum USP de Risco e Seguro : O Fórum USP de Risco e Seguro teve como objetivo principal contextualizar as perspectivas de cada mercado dentro de uma visão global, considerando o alinhamento estratégico corporativo e pessoal nos mercados de seguro, resseguro, previdência e planos de saúde. O Fórum contou com apresentações de acadêmicos e profissionais que discorreram pelo panorama das áreas e os participantes puderam interagir e discutir sobre as oportunidades e dificuldades que se espera para os setores frente à atual fase da economia brasileira e mundial. Coordenação do Prof. Dr. Luiz Augusto Carneiro e participações: Srs. Flávio Seixas, Luis Cozac, Roberto Lago, Ronald Poon Affat, Bruno Martins e Dr. Manoel Antonio Peres (4) Risk Management and Insurance – Perspectives in a Global Economy (Gerenciamento de Risco e Seguro - Perspectivas na Economia Global) dos professores Harold D. Skipper and W. Jean Kwon (este último um professor que conheci quando de minha visita ao College of Insurance de Nova York, uma pessoa engajada em promover a educação e pesquisa em gestão de riscos e seguro), (5) Cativas: São pequenas seguradoras dentro das grandes organizações, geralmente instaladas em paraísos fiscais. Bermudas é o principal porto seguro destas empresas. No geral, as grandes corporações multinacionais adotam este sistema por possuírem elevado valor em risco que justificam a adoção do modelo. As seguradoras cativas são criadas por empresas, associações ou grupos de empresas para fazer o auto-seguro de riscos que geralmente tem um custo elevado ou que não são aceitos pelas companhias de seguro tradicionais. Um programa Cativo pode ser definido como “uma companhia de seguros especial para aceitar os riscos de uma organização-mãe, podendo incluir entidades do seu grupo, detida e gerida pela organização-mãe. O objetivo da construção do regime de cativas é, em geral, para ser uma ferramenta útil de fortalecimento do sistema de gestão de risco de uma organização, envolvendo questões de Mérito Fiscal (No momento da declaração de imposto, o prêmio pago para a Cativa é considerado como imposto dedutível),Cobertura de Risco Alternativa (No caso de uma seguradora comercial não oferecer a Cobertura para determinados riscos e/ou prêmios acessíveis, os segurados podem obtê-lo de sua Cativa), Função de Investimento (O prêmio retido pelas Cativas podem ser investidos durante o tempo anterior ao cumprimento das obrigações provenientes dos riscos garantidos) e acesso direto ao mercado de resseguros (para fins de obtenção de maior limite e coberturas mais amplas, a Cativa poderá negociar diretamente com o Mercado Internacional de Resseguros).