2. Como surgiu a literatura infantil?
Uma literatura que se moldasse a partir dos princípios burgueses de
comportamento e transmissão de valores surgiu por meio da adaptação de
contos da tradição oral e influência dos escritos da Antiguidade Clássica.
Os textos sofreram significativas transformações para atender aos propósitos
pedagógicos dessa literatura, de onde se percebe uma concepção de infância e
de valores a serem transmitidos e consolidados.
Três séculos já decorreram desde que os contos de fadas foram inaugurados
como narrativa infantil em 1697, com a publicação, em Paris, da coleção pioneira
de Charles Perrault (1628-1703), Contos da Mamãe Gansa.
O primeiro repertório de literatura para infância foi as fábulas e os contos de
fadas. Esses gêneros foram devidamente adaptados para “educar” as crianças
nos moldes burgueses.
3. Até o século XV não havia uma concepção de infância conforme a que
conhecemos hoje.
As crianças eram tratadas como “pequenos adultos” marcados pela
incompetência e falta de habilidades.
Não havendo diferenciação nítida entre as fases da vida humana,
crianças e adultos compartilhavam comportamentos que, hoje,
consideramos restritos à idade adulta.
Miniatura otoniana do século XI, que
retrata a passagem bíblica “Deixai vir
a mim as criancinhas” do Evangeliário
de Oto e da Bible moralisée de Saint
Louis:
4. • Com o advento da Revolução Industrial, surgiu, na metade do
século XVIII, as primeiras obras para consumo destinadas ao
público infantil.
• Reconhecimento da fase infantil e descoberta da criança
como ser individualizado, que necessita de cuidados cívicos,
espirituais, éticos e intelectuais específicos.
• Devido ao crescente processo de industrialização e do
consequente aumento do consumo, a literatura infantil
assumiu, desde o começo, a condição de mercadoria.
•Cabia à escola a responsabilidade de subsidiar valores e
comportamentos os quais a burguesia pretendia perpetuar,
sendo, portanto, a principal promotora de acesso à literatura
5. Literatura Infantil no Brasil
No Brasil, a literatura, sobretudo a classificada como infantil, teve início no
final do século XIX e sofreu forte influência dos clássicos infantis europeus.
No início, o que existia, era uma circulação de livros precária e irregular,
representada principalmente por edições portuguesas
As traduções que eram feitas no Brasil também revelavam o caráter
conservador que se alinhava a propostas pedagógicas da época.
As obras de Monteiro Lobato são consideradas um marco para a literatura
infantil brasileira, por romperem com a perspectiva utilitarista e pedagógica.
6. Nos anos de 70 e 80, eclode significativa ampliação de
autores e obras, época que ficou conhecida como “surto de
criatividade” e “boom da literatura infantil” decorrente do
crescimento e interesse na produção e publicação de livros
para crianças no Brasil, impulsionada por projetos de
promoção e incentivo à leitura no país. Entre os vários
autores que se destacaram na década de 70 por sua
produção inovadora, vale mencionar: Ana Maria Machado,
Bartolomeu Campos de Queirós, Lygia Bojunga Nunes,
Rachel de Queiroz, Ruth Rocha e Ziraldo. Na década de 80,
destacam-se as produções de: Marina Colasanti, Pedro
Bandeira, Ricardo Azevedo, Tatiana Belink. A literatura
passou, então, com maior visibilidade nessa época, a
fortalecer a qualidade literária dos livros que se ofereciam a
crianças.
8. Alguns esclarecimentos:
Não há intenção em falar de leitura como
ferramenta para ser mais competente no
sentido acadêmico, embora seja
evidente que o contato precoce com a
literatura repercute na qualidade da
educação.
A leitura não é fomentada para exibir
bebês superdotados, e sim para
garantir em igualdade de condições o
direito a todo ser humano de se
transformar e transformar o mundo. E
de exercer as possibilidades que
proporcionam o pensamento, a
criatividade e a imaginação
9. OS ALICERCES DA CASA: LER NA PRIMEIRA INFÂNCIA?
Por que e para que oferecer leitura aos bebês se há tanto o
que se fazer com eles?
Há um consenso acerca da importância da primeira infância e,
especificamente, do período entre zero e três anos como a etapa
de maiores possibilidades quanto a maturação e à aprendizagem.
10. Pesquisas científicas comprovam que
a maleabilidade ou a plasticidade do
cérebro infantil é praticamente
ilimitada e que durante a etapa
intrauterina e os 3 primeiros anos de
vida se registram um crescimento
neurônico acelerado.
O cérebro do bebê tem um número
muitíssimo maior de neurônios que
o adulto e está habilitado a
estabelecer inúmeras conexões , em
razão das experiências que o meio
lhe oferece.
11. Os neurônios estimulados com maior
frequência continuam funcionando e os que
não o são perdem sua sinapse. No início
muitos desses circuitos disponíveis não são
usados.
O cérebro se desenvolve a partir da
interação entre o capital genético e as
experiências propiciadas aos infantes,
sendo a qualidade dos estímulos decisiva
no desenvolvimento de suas capacidades
presentes e futuras.
A variedade, o desafio e a qualidade dos
estímulos alteram o cérebro tanto quanto os
processos socioemocionais.
12. No âmbito da linguagem já
se demonstrou que a criança
depende quase que
completamente da
influência de seu meio. Os
modelos apresentados pelos
adultos próximos serão
decisivos .
Oferecer ambientes
estimulantes para o
desenvolvimento de
habilidades de linguagem
podem reduzir de modo
considerável os problemas
de repetência e evasão
escolar.
13. O bebê ingressa na língua materna pelas vias: sonora, emotiva, poética.
Embora ainda não caminhe, nosso leitor já conta com um bagagem básica
para encarar a aventura interpretativa que constitui a essência de toda
leitura.
14. Por intermédio do triângulo amoroso entre adulto, livro e leitor, a
criança descobre que existe um outro mundo e que as ilustrações
não são a realidade e sim sua representação. O jogo vai muito
longe, pois não se limita a descrever cada página em separado, e
“ensina” ao bebê que as imagens se encadeiam para construir
histórias.
15. Graças à companhia dos adultos, as histórias vão se tornando mais
complexas e os simples livros de banho ou os de capa dura que mostravam
imagens similares ao do contexto infantil - a família, a hora de comer de
tomar banho – dão lugar aos que exploram mundos da mente.
O texto verbal e a ilustração tecem um diálogo que lhe permite conversar
com seu pai a respeito de sensações conhecidas e de coisas guardadas em
sua mente, que a linguagem dos livros ajuda a nomear.
16. Não faz mal ler para as crianças histórias que assustam.
Não faz mal ler palavras desconhecidas. Não faz mal ler
palavras que consideramos inadequadas para crianças.
Embora pareça paradoxal, é na escuta atenta da narração
oral que a criança se encontra com as leis da escritura e
interioriza uma forma diferente de organização dos feitos.
17. Precisamos considerar a
literatura infantil como ARTE
• Considerar a escolha do livro
1
Em sua maioria os professores recusam o
trabalho com temas que considerem
delicados, polêmicos, perigosos, ousados, ao
promoverem uma verdadeira assepsia
temática e, por fim, proíbem a discussão dos
enigmas da existência humana e da
complexidade das relações sociais.
Simplificam os
conflitos infantis e
subestimam a
capacidade da
criança lidar com a
realidade.
18. As escolhas sobre o que ler para as crianças devem ser
ancoradas na concepção de que as crianças são inteligentes,
competentes e possuem grande curiosidade e interesse em
conhecer.
• Observar às imagens e o projeto
gráfico dos livros
2
Propiciar contato com livros que
utilizam técnicas variadas:
desenho, colagem, pintura,
recortes etc.
19. A escolha dos textos literários, em grande
medida, revela o que as professoras pensam
sobre as crianças, a infância, a aprendizagem e
o processo educativo.
Precisamos garantir
variedade de:
-Gêneros literários
- Autores
- Projetos gráficos
- Temáticas
- Tipos de roda de
leitura
- De locais para a
leitura
O momento da leitura deve
ser sistematizado e diário.
20. Durante os anos em que a criança adquire aos poucos a capacidade
para decodificar e assumir plena competência leitora, não conta com
ferramentas suficientes para ler os livros que seu desejo de
conhecimento ou seu coração exigem.
É preciso continuar lendo bons livros, sem abandonar as crianças na
metade do caminho. O fato de a criança já manejar o código
elementar da leitura-escrita não é razão para “expulsá-la do paraíso”
da leitura compartilhada.
21. Leitura também é experimentação
O contato sensorial faz parte da experiência leitora e é
importante que ele exista, sem limites, permitindo que a
criança vivencie e signifique o momento, saboreando
aquilo que lhe for desejável.
O objeto livro não pode ser cultuado como algo que não
se possa tocar ou que se manuseia com extremo cuidado
e o seu valor não pode ser considerado a ponto de
cercear a liberdade da criança de manipulá-lo.
A empatia entre leitor e livro talvez seja o primeiro passo
para a construção de uma relação verdadeira e
duradoura.
22. O papel do mediador para experiências
significativas de leitura
Um mediador de leitura saberá criar momentos oportunos e
atmosfera propícia para facilitar o encontro entre livros e leitores.
Nesse sentido, pode-se afirmar que
um mediador de leitura não lê apenas
livros, ele também lê os seus leitores,
o que eles desejam, o que sonham e,
por meio disso, tentam descobrir quais
serão os livros que conseguirão ir ao
encontro dos seus anseios e
perguntas dos seus leitores.
23. Necessidade de se assegurar à criança o contato com a diversidade literária para
torná-la capaz de gostar ou não de um livro e/ou de uma leitura.
A literatura para a Educação Infantil não deve ser encarada como um artifício para
distrair, passar o tempo, servir como mero adorno, ou simplesmente garantir o
contato das crianças com o suporte livro.
A relação que o professor tiver com a leitura literária influenciará potencialmente na
formação leitora do infante.
É necessário que o professor estabeleça critérios para a escolha dos livros que serão
lidos para as crianças.
Independente da atividade que o professor se propor a fazer é necessário que ele
prepare a atividade previamente.
24. Técnicas para o contador de histórias:
Saber começar uma história é muito
importante. O tradicional “Era uma vez...”
funciona sempre, pois existe magia na
expressão, que tem o poder de nos
transportar para um outro tempo, que não é
o presente, nem o passado, nem o futuro,
mas um tempo encantado, onde tudo pode
acontecer.
Para começo de conversa...
25. Criar uma forma de identificação da “Hora da leitura” de
forma que todas as vezes que as crianças escutarem o
barulho tal ou o movimento tal, saberão que acontecerá
uma leitura literária.
Da mesma forma, criar algum elemento que sinalize o
término da história ou da atividade relacionada à leitura.
Brandão e Rosa (2011) abordam a necessidade do
momento da roda de leitura ter uma finalidade, e
também a importância de que essa prática seja
preparada antecipadamente, desde a leitura prévia
da obra, seus desdobramentos e seu modo de
finalização. Se a dinâmica envolver um momento
de conversa após a leitura da história, é necessário
planejar o que conversar.
26. Os segredos da interpretação oral
• Nunca falar no mesmo tom
1ª regra
• Alternar voz forte e voz suave
2ª regra
• Alternar a duração da palavra
conforme o sentimento que
ela expressa.
3ª regra
27. Ler ou contar histórias?
Ler
Valoriza o suporte
livro
Valoriza a
linguagem
literária
Contar
Implica improviso,
maior contato
visual e interação
com as crianças.
Utiliza elementos
da linguagem oral
28. Bons livros literários não são escritos para ensinar alguma
coisa. O leitor pode até aprender algo com eles, mas essa
não deve ser a principal justificativa para a existência de
uma obra. Por isso, professores e mediadores de leitura
devem atentar à forma como alguns temas são tratados
nos livros, evitando abordagens moralistas, didáticas,
previsíveis, maniqueístas, paternalistas, simplistas ou
estereotipadas que subestimam a inteligência dos leitores
e lhes ofereçam uma visão limitada da experiência
humana
29. Bons textos apresentam vocabulário rico e fazem
uso inteligente da linguagem. Interpelam,
provocam, fazem pensar e não subestimam a
capacidade de compreensão dos leitores. Pelo
contrário: desafiam a descobrir o que se revela por
trás das palavras e convidam ao assombro e ao
deleite estético pelo modo como exploram temas
diversos, pela forma como dizem o que dizem e
pelas experiências que são capazes de provocar nos
leitores.
Depois desses precursores, vieram outros importantes escritores, dos quais se destacam os alemães Jacob e Wilhelm, mais conhecidos como os Irmãos Grimm, autores de contos mundialmente conhecidos, como A bela Adormecida, Branca de Neve, Cinderela, João e Maria, Rapunzel, Os sete corvos. E as histórias do dinamarquês Hans Christian Andersen, como, por exemplo, O patinho feio, O soldadinho de chumbo, A roupa nova do rei, A pequena vendedora de fósforos, entre outros. Assim, os acervos da tradição oral, que em sua origem não se destinavam às crianças, foram reelaborados e transformados em clássicos infantis, conforme os padrões culturais vigentes.
Destaca-se, assim, a primeira escrita para o público infantil em 1920 “A menina do Narizinho Arrebitado”, que teve forte entrada em escolas brasileiras. Esse autor rompeu com os paradigmas da época, ao escrever histórias perspicazes e descoladas dos princípios pedagógicos.
O que anteriormente se conhecia como “preparação na pré-leitura” cede lugar ao reconhecimento do ser humano como leitor pleno e completo, na qualidade de construtor de significado, desde o início de seus dias. A leitura é concebida atualmente como um processo permanente de diálogo e negociação de sentidos e um leitor com toda uma bagagem de experiências prévias, de motivações, de atitudes, de perguntas e de vozes de outros.
Seus primeiros textos são a voz e o rosto humano, onde ele aprende a base verbal e não verbal da interação social sobre a qual se construirá paulatinamente uma infinidade de leituras . E o fato é que no fundo ler é “se ver” no outro e recorrer a estruturas visíveis para “lidar” com o invisível. Pode-se dizer que a criança é um leitor poético, ou mais exatamente, um ouvidor poético desde o começo da vida e que seu encontro primordial com a literatura pela poesia se baseia no ritmo, na sonoridade e na conotação. O bebe está imerso desde essa época aos estímulos de linguagem. Certamente o feto não entende nada do que ouve. Em troca aprende a reconhecer a melodia e os ritmos da linguagem. O que importa é a música e o som, não a letra.
Além de ser portadora de história e de nutrição infantil, a carga de matizes e entonações que a voz adulta transporta também oferece à infância um texto para uma escuta cada vez mais sutil e para o ensaio da sua própria voz. Os adultos, se constituem no modelo por excelência para a criança que se inicia na língua materna: os tons, os encadeamentos e os novos vocábulos que eles transmitem, proporcionam um treinamento auditivo que fortalece a consciência metalinguística infantil, ou seja, a capacidade para “pensar” na linguagem. Quando ela descobre que ao lado dos livros é possível manter os pais em suspense e que eles ficam literalmente submetidos entre as páginas, sem se distrair em ocupações adultas, passa a pedir que leiam uma e outra vez
Tal comunicação requer, portanto, planejamento e conexões temporais e causais deliberadas que tem bastante a ver com o mundo da gramática e do texto escrito.