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O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL EM
LOCKE E PARFIT (E TALVEZ EM GALEN
STRAWSON)
Prof. Dr. Lucas M. Dalsotto
Contato: lmdalsotto@hotmail.com
“Identidade e Diversidade” - John Locke
Em que a identidade consiste (§1)?
(a) uma coisa não pode ter dois inícios de existência;
(b) nem duas coisas podem ter um único início;
(c) é impossível duas coisas da mesma espécie ser ou existir ao mesmo tempo no mesmo lugar;
(d) é impossível que uma e mesma coisa seja ou exista ao mesmo tempo em lugares diferentes;
Identidade de substâncias (§2):
(a) Deus
(b) inteligências finitas
(c) corpos
“Identidade e Diversidade” - John Locke
Principium individuationis (§3): um átomo e ele mesmo e nada mais em um determinado lugar e deve
manter-se assim enquanto sua existência se mantiver. O mesmo raciocínio se aplica se dois ou mais átomos
forem unidos um ao outro em uma mesma massa.
Em relação às criaturas vivas, sua identidade não depende de uma massa das mesmas partículas (i.e., um
potro que se tornou cavalo é ainda o mesmo cavalo, embora mais gordo ou magro que antes);
Identidade de vegetais (§4): uma planta é aquilo que tem uma certa organização de partes num corpo
coerente, compartilhando uma vida comum, ela continua a ser a mesma planta enquanto compartilhar a
mesma vida;
Identidade de animais (§5): um animal possui uma organização adequada, ou estruturação de partes, para
um certo fim, que, quando uma força (interna) suficiente lhe é acrescentada, ela é capaz de atingir;
Identidade do homem (§6): consiste apenas na participação da mesma vida contínua, mantida por
partículas de matéria constantemente cambiantes, em sucessão, vitalmente unidas ao mesmo corpo
organizado.
“Identidade e Diversidade” - John Locke
A unidade de substância não compreende todos os tipos de identidade. É preciso analisar que ideia a palavra
que a ela se aplica representa (§7).
(a) a mesma substância
(b) o mesmo homem
(c) a mesma identidade
Mesmo homem (§8): o mesmo corpo sucessivo, que não é alterado todo de uma vez, deve, assim como o
mesmo espírito imaterial, contribuir para a constituição do mesmo homem.
Identidade Pessoal (§9): Pessoa é um ser pensante inteligente que tem razão e reflexão e pode considerar a
si mesmo como si mesmo (a mesma coisa pensante em diferentes tempos em lugares);
A identidade pessoal consiste na mesmidade do ser racional. A identidade de uma pessoa tem um alcance tão
grande quando a consciência puder ser estendida retrospectivamente a uma ação ou pensamento do passado;
“Identidade e Diversidade” - John Locke
Ontologicamente falando, uma pessoa (P) é:
(i) um corpo material humano como um todo (M);
(ii) um espírito imaterial (I);
(iii) um conjunto de ações (incluindo pensamentos e talvez outras experiências) (A);
P = M + I + A
A consciência constitui a identidade pessoal (§10). O problema que surge é que a consciência sempre pode
ser interrompida pelo esquecimento, de modo que podemos nos perder a visão de nossos eus passados. Mas
isso não diz respeito a identidade pessoal, pois a questão é sobre se somos a mesma substância;
A identidade pessoa depende somente da consciência que faz o homem ser ele mesmo para ele mesmo. Um
ser inteligente é o mesmo eu pessoal tanto quanto puder repetir a ideia de qualquer ação passada com a
mesma consciência que teve dela originalmente (Teoria do conhecimento de Locke);
“Identidade e Diversidade” - John Locke
A identidade pessoal permanece com a mudança de substâncias (§11). Um homem que tem seu braço
amputado pode variar em sua substância sem qualquer mudança em sua identidade pessoal;
E no caso de mudança de substâncias pensantes?
(i) Se a mesma consciência pensante puder ser transferida de uma substância pensante para outra,
será possível que duas substâncias pensantes possam constituir uma única pessoa (§13);
(ii) a mesma substância imaterial sem a mesma consciência não constitui a mesma pessoa (§14);
O eu depende da consciência (§17). Aquilo com que a consciência dessa coisa pensante presente pode unir a si
mesma perfaz a mesma pessoa e é um eu com ela e com nada mais;
Na ideia de identidade pessoal está fundada todo direito e justiça de recompensas e punições; de felicidade e
miséria (§18)
“Identidade e Diversidade” - John Locke
Portanto, a identidade pessoal consiste não na identidade de substância, mas na identidade de consciência
(§19). Se o mesmo Sócrates desperto e dormindo não compartilham a mesma consciência, Sócrates desperto
e dormindo não são a mesma pessoa, e punir Sócrates desperto pelo que Sócrates dormindo pensou, e do que
Sócrates desperto nunca esteve consciente, não seria mais correto do que punir um gêmeo pelo que seu
irmão fez;
Mas retorno o problema (§22): Se um homem bêbado e sóbrio não são a mesma pessoa, por que ele é
punido pelo fato cometido como bêbado, embora nunca esteja consciente dele? A justiça pune om Justiça
nesse caso em virtude de sua forma de conhecer o fato: não é possível distinguir o que é real é o que é
inventado. Isso é trabalho para o Dia do Grande Juízo Final.
Em toda essa explicação do eu não se considera que a mesma substância numérica constitua o mesmo eu, mas
a mesma consciência contínua, à qual muitas substâncias podem ter sido unidas, e novamente dela separadas,
as quais, enquanto se mantiveram numa união vital com aquilo em que a consciência então residia,
constituíram uma parte daquele mesmo eu
O conceito de pessoa não é apenas um sortal, mas é principalmente um conceito forense (atribuição de
responsabilidade e de reconhecimento);
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
O problema: O conceito de identidade realmente importa em discussões sobre sobrevivência (existência
contínua)? Dito de outro modo, ‘sobreviver’ implica necessariamente ‘identidade’?
A tese: Há casos, como os de transplante cerebrais, de teletransporte ou de fissões, em que falar sobre
identidade pessoal é simplesmente implausível. A análise destes casos revela que na existência contínua de
uma pessoa o que importa são relações de grau e não propriamente a identidade de uma personalidade.
Os alvos: duas crenças comumente associadas ao problema da identidade pessoal:
(1) A primeira é sobre natureza (especial) da identidade pessoal. Essa crença faz com que se assuma que o
princípio do autointeresse é o mais racional de todos os princípios morais;
(2) A segunda é sobre a importância da identidade pessoal. Essa crença faz com que se acredite que, a menos
que a pergunta sobre a identidade tenha uma resposta, não poderemos responder certas questões
importantes (sobre sobrevivência, memória, e responsabilidade);
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
Os argumentos contra 1 e 2:
(i) Embora Parfit acredite não ser possível negar a crença (1), ele entende que é possível ao menos torná-la
implausível;
(ii) Apesar da resposta a crença (2) depender de que a crença (1) tenha uma resposta, é possível responder
àquela na medida em que a libertarmos de tal pressuposição, tornando, assim, a crença (1) sem qualquer
importância filosófica;
O exemplo de Wiggins: Vamos imaginar que o cérebro de João seja dividido e que cada metade seja posta em
um novo corpo. Ambos os corpos que receberam cada qual metade de cérebro de João possuem continuidade
psicológica com ele. Para isso, vamos assumir que João sobreviva nos dois corpos.
João-1 João-2
João-0
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
Três possibilidade: (a) João-0 não sobrevive
(b) João-0 em apenas uma das duas pessoas
(c) João-0 sobrevive em ambas as pessoas
(a) e (b) parecem altamente implausíveis.
Por que não (c)? Bom, se “sobreviver” implica “identidade”, então (c) não faz sentido.
O Caso de Wiggins é desconcertante para todas as três possibilidades
A sugestão de Parfit é abandonar a linguagem da identidade. É possível dizer que sobrevivi como duas pessoas
distintas sem com isso implicar que eu seja essa pessoa.
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
Mas por que devemos abandonar a linguagem da identidade?
Identidade é uma relação de-um-para-um (é tudo ou nada), ao passo que o caso de Wiggins mostra que o que
importa na sobrevivência não precisa ser de um-para-um (pode ser de-um-para-muitos);
X = Y – x é o mesmo que y se e somente se todo o predicado de x for igualmente verdadeiro com respeito a y (Lei de Leibniz);
A maioria das relações que importam na sobrevivência são relações de grau;
Nos debates recentes, a maioria das relações que importam podem ser referidas pelo título de continuidade
psicológica (que inclui continuidade causal), de modo que usamos a linguagem da identidade para implicar tal
continuidade;
O problema é que continuidade psicológica não é uma relação de-um-para-um, como o caso de Wiggins mostra.
Então, parece apropriado dizer que a continuidade psicológica pode assumir a forma de ramificação;
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
Um dos conceitos que importa em questões de sobrevivência é a memória. Mas é uma verdade lógica que
podemos nos recordar apenas de nossas próprias experiências. Como posso, então, recordar de algo que não
foi eu quem fez?
Q-Memória: (1) tenho uma crença sobre uma experiência passada que se parece com uma crença da
memória; (2) alguém teve uma tal experiência; (3) minha crença é dependente dessa experiência;
O conceito de q-memória possibilita descrever a relação entre uma experiência e a memória de uma
experiência de modo que não pressuponha que a experiência foi tida pela mesma pessoa;
O mesmo raciocínio se aplica à intenção (q-intenção vs ação posterior). No exemplo de Wiggins, seria possível
que João-0 intencionasse que Joao-1 fosse um engenheiro e que João-2 fosse um advogado.
Desse modo, um homem que pode q-lembrar poderia q-reconhecer, e ser uma q-testemunha do que nunca
viu; e um homem que pode q-pretender poderia ter q-ambições, fazer q-promessas e ser q-responsável.
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
O exemplo da fusão: Se a divisão serve para mostrar que sobrevivência não precisa ser de-um-para-um, a
fusão serve para mostrar que ela pode ser uma questão de grau;
Note-se, porém, que a psicologia da fusão é mais complexa. Tendo os indivíduos originários desejos e
intenções diferentes, como eles poderão ser combinados em uma pessoa?
(a) Caso de compatibilidade: Gosto de Palladio e pretendo visitar Veneza. A pessoa com a qual irei me fundir
gosta de Giotto e pretende visitar Pádua.
(b) Caso de incompatibilidade: Odeio cabelo ruivo e sempre voto no Partido Trabalhista, enquanto a outra
pessoa adora cabelo ruivo e sempre vota no Partido Conservador. Posso saber que a pessoa que me tornarei
será indiferente à cor do cabelo e será uma pessoa flutuante.
Analogia com o casamento: alguém que está prestes a se fundir pode ter, de antemão, tanto “controle
intencional” sobre as ações do indivíduo que resulta desse processo quanto alguém que está prestes a se casar
pode ter, de antemão, sobre as ações do casal que resultar.
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
Exemplo de seres imaginários:
Cada divisão simples é uma instância do caso de Wiggins. Assim, a relação de A com B+1 e B+2 é tão boa
quanto a sobrevivência. Mas e quanto a relação de A com B+30?
Continuidade psicológica requer cadeias sobrepostas de relações psicológicas diretas. Ela é transitiva, de
modo que A é psicologicamente contínuo com B+30. Isso significa dizer que A tem controle q-intencional
sobre B+2, B+2 tem controle q-intencional sobre B+6, e assim por diante até B+30;
Espaço —'
+ 15
B+
7
Tempo
Mais tarde
Mais cedo
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
A adequação psicológica é o que é mais importante na sobrevivência. Mas o que exatamente vem a ser isso?
Adequação psicológica: requer que essas relações psicológicas diretas se sustentem e não é transitiva.
Assim, se X q-recorda-se da maior parte da vida de Y, e se Y q-recorda-se da maior parte da vida de Z, disso
não se segue que X q-recorda-se da maior parte da vida de Z.
Disso se segue que A não pode ser psicologicamente conectado a B+30, uma vez que adequação psicológica
requer relações diretas.
Em geral, A manterá cada vez menos relações psicológicas diretas com um indivíduo em sua “árvore” quanto
mais remoto esse indivíduo lhe for. E se o indivíduo for (como B+30) suficientemente remoto, pode não haver
entre os dois quaisquer relações psicológicas diretas.
Isso possibilita que B+30 refira-se a A como sendo um de seus “eus ancestrais” mais remotos sem implicar
identidade de personalidade. Por isso, o exemplo de Proust parace expressar corretamente essa impressão:
Enquanto estamos apaixonados, somos incapazes de agir como predecessores adequados das próximas pessoas que teremos
nos tornado quanto não estivermos mais apaixonados...
“Identidade Pessoal” - Derek Parfit
Conclusão final: o que importa na existência contínua de uma pessoa são relações de grau;
Duas consequências:
(a) O princípio do autointeresse não tem força, pois há somente dois competidores genuínos: (i) o
princípio de racionalidade instrumental e (ii) o princípio da imparcialidade;
(b) O egoísmo, o medo da morte próxima e o arrependimento de que muito da vida já se passou são
reforçados pela crença (falsa) de que a identidade pessoal possui uma natureza especial;

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  • 3. “Identidade e Diversidade” - John Locke Em que a identidade consiste (§1)? (a) uma coisa não pode ter dois inícios de existência; (b) nem duas coisas podem ter um único início; (c) é impossível duas coisas da mesma espécie ser ou existir ao mesmo tempo no mesmo lugar; (d) é impossível que uma e mesma coisa seja ou exista ao mesmo tempo em lugares diferentes; Identidade de substâncias (§2): (a) Deus (b) inteligências finitas (c) corpos
  • 4. “Identidade e Diversidade” - John Locke Principium individuationis (§3): um átomo e ele mesmo e nada mais em um determinado lugar e deve manter-se assim enquanto sua existência se mantiver. O mesmo raciocínio se aplica se dois ou mais átomos forem unidos um ao outro em uma mesma massa. Em relação às criaturas vivas, sua identidade não depende de uma massa das mesmas partículas (i.e., um potro que se tornou cavalo é ainda o mesmo cavalo, embora mais gordo ou magro que antes); Identidade de vegetais (§4): uma planta é aquilo que tem uma certa organização de partes num corpo coerente, compartilhando uma vida comum, ela continua a ser a mesma planta enquanto compartilhar a mesma vida; Identidade de animais (§5): um animal possui uma organização adequada, ou estruturação de partes, para um certo fim, que, quando uma força (interna) suficiente lhe é acrescentada, ela é capaz de atingir; Identidade do homem (§6): consiste apenas na participação da mesma vida contínua, mantida por partículas de matéria constantemente cambiantes, em sucessão, vitalmente unidas ao mesmo corpo organizado.
  • 5. “Identidade e Diversidade” - John Locke A unidade de substância não compreende todos os tipos de identidade. É preciso analisar que ideia a palavra que a ela se aplica representa (§7). (a) a mesma substância (b) o mesmo homem (c) a mesma identidade Mesmo homem (§8): o mesmo corpo sucessivo, que não é alterado todo de uma vez, deve, assim como o mesmo espírito imaterial, contribuir para a constituição do mesmo homem. Identidade Pessoal (§9): Pessoa é um ser pensante inteligente que tem razão e reflexão e pode considerar a si mesmo como si mesmo (a mesma coisa pensante em diferentes tempos em lugares); A identidade pessoal consiste na mesmidade do ser racional. A identidade de uma pessoa tem um alcance tão grande quando a consciência puder ser estendida retrospectivamente a uma ação ou pensamento do passado;
  • 6. “Identidade e Diversidade” - John Locke Ontologicamente falando, uma pessoa (P) é: (i) um corpo material humano como um todo (M); (ii) um espírito imaterial (I); (iii) um conjunto de ações (incluindo pensamentos e talvez outras experiências) (A); P = M + I + A A consciência constitui a identidade pessoal (§10). O problema que surge é que a consciência sempre pode ser interrompida pelo esquecimento, de modo que podemos nos perder a visão de nossos eus passados. Mas isso não diz respeito a identidade pessoal, pois a questão é sobre se somos a mesma substância; A identidade pessoa depende somente da consciência que faz o homem ser ele mesmo para ele mesmo. Um ser inteligente é o mesmo eu pessoal tanto quanto puder repetir a ideia de qualquer ação passada com a mesma consciência que teve dela originalmente (Teoria do conhecimento de Locke);
  • 7. “Identidade e Diversidade” - John Locke A identidade pessoal permanece com a mudança de substâncias (§11). Um homem que tem seu braço amputado pode variar em sua substância sem qualquer mudança em sua identidade pessoal; E no caso de mudança de substâncias pensantes? (i) Se a mesma consciência pensante puder ser transferida de uma substância pensante para outra, será possível que duas substâncias pensantes possam constituir uma única pessoa (§13); (ii) a mesma substância imaterial sem a mesma consciência não constitui a mesma pessoa (§14); O eu depende da consciência (§17). Aquilo com que a consciência dessa coisa pensante presente pode unir a si mesma perfaz a mesma pessoa e é um eu com ela e com nada mais; Na ideia de identidade pessoal está fundada todo direito e justiça de recompensas e punições; de felicidade e miséria (§18)
  • 8. “Identidade e Diversidade” - John Locke Portanto, a identidade pessoal consiste não na identidade de substância, mas na identidade de consciência (§19). Se o mesmo Sócrates desperto e dormindo não compartilham a mesma consciência, Sócrates desperto e dormindo não são a mesma pessoa, e punir Sócrates desperto pelo que Sócrates dormindo pensou, e do que Sócrates desperto nunca esteve consciente, não seria mais correto do que punir um gêmeo pelo que seu irmão fez; Mas retorno o problema (§22): Se um homem bêbado e sóbrio não são a mesma pessoa, por que ele é punido pelo fato cometido como bêbado, embora nunca esteja consciente dele? A justiça pune om Justiça nesse caso em virtude de sua forma de conhecer o fato: não é possível distinguir o que é real é o que é inventado. Isso é trabalho para o Dia do Grande Juízo Final. Em toda essa explicação do eu não se considera que a mesma substância numérica constitua o mesmo eu, mas a mesma consciência contínua, à qual muitas substâncias podem ter sido unidas, e novamente dela separadas, as quais, enquanto se mantiveram numa união vital com aquilo em que a consciência então residia, constituíram uma parte daquele mesmo eu O conceito de pessoa não é apenas um sortal, mas é principalmente um conceito forense (atribuição de responsabilidade e de reconhecimento);
  • 9.
  • 10. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit O problema: O conceito de identidade realmente importa em discussões sobre sobrevivência (existência contínua)? Dito de outro modo, ‘sobreviver’ implica necessariamente ‘identidade’? A tese: Há casos, como os de transplante cerebrais, de teletransporte ou de fissões, em que falar sobre identidade pessoal é simplesmente implausível. A análise destes casos revela que na existência contínua de uma pessoa o que importa são relações de grau e não propriamente a identidade de uma personalidade. Os alvos: duas crenças comumente associadas ao problema da identidade pessoal: (1) A primeira é sobre natureza (especial) da identidade pessoal. Essa crença faz com que se assuma que o princípio do autointeresse é o mais racional de todos os princípios morais; (2) A segunda é sobre a importância da identidade pessoal. Essa crença faz com que se acredite que, a menos que a pergunta sobre a identidade tenha uma resposta, não poderemos responder certas questões importantes (sobre sobrevivência, memória, e responsabilidade);
  • 11. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit Os argumentos contra 1 e 2: (i) Embora Parfit acredite não ser possível negar a crença (1), ele entende que é possível ao menos torná-la implausível; (ii) Apesar da resposta a crença (2) depender de que a crença (1) tenha uma resposta, é possível responder àquela na medida em que a libertarmos de tal pressuposição, tornando, assim, a crença (1) sem qualquer importância filosófica; O exemplo de Wiggins: Vamos imaginar que o cérebro de João seja dividido e que cada metade seja posta em um novo corpo. Ambos os corpos que receberam cada qual metade de cérebro de João possuem continuidade psicológica com ele. Para isso, vamos assumir que João sobreviva nos dois corpos. João-1 João-2 João-0
  • 12. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit Três possibilidade: (a) João-0 não sobrevive (b) João-0 em apenas uma das duas pessoas (c) João-0 sobrevive em ambas as pessoas (a) e (b) parecem altamente implausíveis. Por que não (c)? Bom, se “sobreviver” implica “identidade”, então (c) não faz sentido. O Caso de Wiggins é desconcertante para todas as três possibilidades A sugestão de Parfit é abandonar a linguagem da identidade. É possível dizer que sobrevivi como duas pessoas distintas sem com isso implicar que eu seja essa pessoa.
  • 13. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit Mas por que devemos abandonar a linguagem da identidade? Identidade é uma relação de-um-para-um (é tudo ou nada), ao passo que o caso de Wiggins mostra que o que importa na sobrevivência não precisa ser de um-para-um (pode ser de-um-para-muitos); X = Y – x é o mesmo que y se e somente se todo o predicado de x for igualmente verdadeiro com respeito a y (Lei de Leibniz); A maioria das relações que importam na sobrevivência são relações de grau; Nos debates recentes, a maioria das relações que importam podem ser referidas pelo título de continuidade psicológica (que inclui continuidade causal), de modo que usamos a linguagem da identidade para implicar tal continuidade; O problema é que continuidade psicológica não é uma relação de-um-para-um, como o caso de Wiggins mostra. Então, parece apropriado dizer que a continuidade psicológica pode assumir a forma de ramificação;
  • 14. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit Um dos conceitos que importa em questões de sobrevivência é a memória. Mas é uma verdade lógica que podemos nos recordar apenas de nossas próprias experiências. Como posso, então, recordar de algo que não foi eu quem fez? Q-Memória: (1) tenho uma crença sobre uma experiência passada que se parece com uma crença da memória; (2) alguém teve uma tal experiência; (3) minha crença é dependente dessa experiência; O conceito de q-memória possibilita descrever a relação entre uma experiência e a memória de uma experiência de modo que não pressuponha que a experiência foi tida pela mesma pessoa; O mesmo raciocínio se aplica à intenção (q-intenção vs ação posterior). No exemplo de Wiggins, seria possível que João-0 intencionasse que Joao-1 fosse um engenheiro e que João-2 fosse um advogado. Desse modo, um homem que pode q-lembrar poderia q-reconhecer, e ser uma q-testemunha do que nunca viu; e um homem que pode q-pretender poderia ter q-ambições, fazer q-promessas e ser q-responsável.
  • 15. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit O exemplo da fusão: Se a divisão serve para mostrar que sobrevivência não precisa ser de-um-para-um, a fusão serve para mostrar que ela pode ser uma questão de grau; Note-se, porém, que a psicologia da fusão é mais complexa. Tendo os indivíduos originários desejos e intenções diferentes, como eles poderão ser combinados em uma pessoa? (a) Caso de compatibilidade: Gosto de Palladio e pretendo visitar Veneza. A pessoa com a qual irei me fundir gosta de Giotto e pretende visitar Pádua. (b) Caso de incompatibilidade: Odeio cabelo ruivo e sempre voto no Partido Trabalhista, enquanto a outra pessoa adora cabelo ruivo e sempre vota no Partido Conservador. Posso saber que a pessoa que me tornarei será indiferente à cor do cabelo e será uma pessoa flutuante. Analogia com o casamento: alguém que está prestes a se fundir pode ter, de antemão, tanto “controle intencional” sobre as ações do indivíduo que resulta desse processo quanto alguém que está prestes a se casar pode ter, de antemão, sobre as ações do casal que resultar.
  • 16. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit Exemplo de seres imaginários: Cada divisão simples é uma instância do caso de Wiggins. Assim, a relação de A com B+1 e B+2 é tão boa quanto a sobrevivência. Mas e quanto a relação de A com B+30? Continuidade psicológica requer cadeias sobrepostas de relações psicológicas diretas. Ela é transitiva, de modo que A é psicologicamente contínuo com B+30. Isso significa dizer que A tem controle q-intencional sobre B+2, B+2 tem controle q-intencional sobre B+6, e assim por diante até B+30; Espaço —' + 15 B+ 7 Tempo Mais tarde Mais cedo
  • 17. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit A adequação psicológica é o que é mais importante na sobrevivência. Mas o que exatamente vem a ser isso? Adequação psicológica: requer que essas relações psicológicas diretas se sustentem e não é transitiva. Assim, se X q-recorda-se da maior parte da vida de Y, e se Y q-recorda-se da maior parte da vida de Z, disso não se segue que X q-recorda-se da maior parte da vida de Z. Disso se segue que A não pode ser psicologicamente conectado a B+30, uma vez que adequação psicológica requer relações diretas. Em geral, A manterá cada vez menos relações psicológicas diretas com um indivíduo em sua “árvore” quanto mais remoto esse indivíduo lhe for. E se o indivíduo for (como B+30) suficientemente remoto, pode não haver entre os dois quaisquer relações psicológicas diretas. Isso possibilita que B+30 refira-se a A como sendo um de seus “eus ancestrais” mais remotos sem implicar identidade de personalidade. Por isso, o exemplo de Proust parace expressar corretamente essa impressão: Enquanto estamos apaixonados, somos incapazes de agir como predecessores adequados das próximas pessoas que teremos nos tornado quanto não estivermos mais apaixonados...
  • 18. “Identidade Pessoal” - Derek Parfit Conclusão final: o que importa na existência contínua de uma pessoa são relações de grau; Duas consequências: (a) O princípio do autointeresse não tem força, pois há somente dois competidores genuínos: (i) o princípio de racionalidade instrumental e (ii) o princípio da imparcialidade; (b) O egoísmo, o medo da morte próxima e o arrependimento de que muito da vida já se passou são reforçados pela crença (falsa) de que a identidade pessoal possui uma natureza especial;