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O Intelecto Ativo e a alma humana intelectiva na visão de Santo
                                  Tomás de Aquino
                                                                                              1
                                                                         José Fernando Vieira




Resumo: Este trabalho nos remete a uma breve noção de possibilidades de
conhecimento sob o olhar de Tomás de Aquino, mais especificamente a
finalidade do conhecimento em si, a possibilidade de conhecer a Deus, e o
desenvolvimento do processo cognitivo humano. Percebendo o caminho
percorrido da noção tomista de gnosiologia que advém do aristotelismo e
adquire certa transmutação que o faz se não diretamente, mas indiretamente
se organizar e se sistematizar a partir do ser.

Palavra chave: Intelecto. Abstração. Percepção. Ato. Composto. Inteligível.
Alma. Sensível. Apreensão. Potência.

Introdução: Neste trabalho iremos explorar a posição aristotélica tomista sobre
a maneira pela qual o intelecto forma o conhecimento com a noção de
participação do intelecto humano no intelecto divino, tendo este como sua
origem e finalidade. Percebendo o processo de abstração da realidade e a
atuação da alma nos passos hierárquicos de tal conhecimento.




A estrutura do pensamento tomista

       Para Compreender Tomás de Aquino temos que ter em mente que Deus
existe e subsiste em si mesmo, sendo definido conceitualmente como Ser. O
sistema tomista elaborado em torno do “ser” consiste numa base de distinção e
hierarquização entre o ente que é, na medida em que participa do Ser.2


1
  José Fernando Vieira – Graduando em filosofia. 3° período. -FAF- (Faculdade Arquidiocesana de
Curitiba) 06/2010.
2
  Segundo Etienne Gilson em sua obra Deus e a Filosofia, diante da pergunta: O que é o ser?
“Ao responder a esta que é a mais difícil de todas as questões metafísicas, devemos distinguir
cuidadosamente o significado de duas palavras que são diferentes, mas que estão, no entanto,
intimamente relacionadas: ens, ou <<ente>>, e esse, ou <<ser>>. À pergunta: o que é o ente?,
a resposta correta seria: o ente é aquele que é ou existe. [...] Mas esse, ou <<ser>>, é algo
mais e muito mais difícil de compreender porque está profundamente oculto na estrutura

                                              [1]
Segundo Tomás de Aquino: “O ser em si é mais perfeito de todos por
atualizar a todos; pois, nenhum ser atual senão enquanto existente. Por onde,
o ser em si é o que atualiza todos os outros e, mesmo, as próprias formas.”
(AQUINO, 1980, Vol. I, Quest. IV; Art. II, p. 34).”
        Aqui a novidade da metafísica tomista que consiste na elaboração da
perfeição do ser. Este por sua vez é Puro Ato de Ser, ou seja, Deus; cujo tudo
o que existe é causa do próprio ser de Deus. 3 É por isso que as criaturas
existem e recebem uma essência que os fazem ser o ser próprio e distinto de
cada um. Por exemplo, o homem como homem primeiramente existe, depois
contém a essência de homem e todas as suas propriedades. É a partir desses
teoremas apontados acima que iremos perceber o raciocínio tomista e sua
elaboração no que diz respeito à maneira de conhecer do homem e sua
capacidade de se relacionar com Deus.



O homem é capaz de conhecer a Deus

        Nas propriedades do homem temos uma característica própria de sua
natureza que queremos aprofundar, a racionalidade ou, a capacidade de
apreender aquilo que está a sua volta, é a noção de saber que sabe, é a
passagem marcante da humanidade conhecida como a evolução para o homo
sapiens. Neste contexto se intenta uma questão inicial: O homem é capaz de
pensar Deus?
        É daqui que desejamos partir para o conhecimento de Deus em Tomás
de Aquino e perceber a maneira pela qual o homem o conhece e percebe a
existência de um Ser externo a ele.
        Partindo do pressuposto de que o homem é um animal racional,
queremos agora investigar como se é possível conhecer a Deus racionalmente.


metafísica da realidade. A palavra <<ente>>, como substantivo, designa uma substância; a
palavra <<ser>> - ou esse – é um verbo porque designa um ato. (GILSON, 2002, p. 54 – 55).

3
  Temos que destacar que segundo o comentário de Etienne Gilson deve-se fazer uma
distinção clara no que diz respeito ao pensamento de Tomás de Aquino de que “a essência e a
existência são distintas no ente. Elas se confundem e se unem somente no Puro Ato de Ser
(Deus). Assim, o ente finito pode ser concebido como um ente cujo ato existencial é limitado
pela própria essência que ele possui (...) a essência de um ente finito, fazendo-o ser aquilo que
ele é, impede-o de ser o próprio Deus”. (GILSON, 1962, p.39)


                                               [2]
Para Tomás de Aquino é possível conhecer a Deus utilizando-se de
instrumentos racionais como, por exemplo, a filosofia, mas tendo em vista que
essa possibilidade é real porque é Deus quem se permite ser alcançado pela
razão, e não um processo onde a razão “intui” a Deus, ou o projeta pura e
simplesmente.




Duas maneiras pela qual Deus é conhecido


        Se existem duas maneiras de conhecer a Deus, logicamente a primeira
pergunta a ser feita é: Deus existe? Para Tomás de Aquino, esta pergunta já
pressupõe a resposta, tendo em vista que nós homens primeiro existimos e
depois somos racionais, e conseqüentemente capazes de se questionar a
respeito de Deus. Isso implica já estar lançado no “ato de existir” e
naturalmente nos “re-tornar” a uma causa primeira, origem ontológica de todo o
existir e ser. Pois do nada, nada existe, e se existimos temos uma causa
externa, o próprio Deus. Portanto, Deus não só é realidade, mas também é o
Ato Puro de Ser, de tudo aquilo que existe e fonte última no sentido tanto
ontológico causal, como no âmbito de finalidade extrínseca e intrínseca da
realidade. Aqui nos deteremos no movimento racional da criatura para Deus.
        Deus, organizado estruturalmente no conceito de ser tomista pode e
deve ser percebido pelo intelecto de tal maneira que o ser é ser na medida em
que é pensado, pois o próprio pensamento é, e por isso é ser pensamento,
logo contém o ser.4
        Contudo Deus pode ser conhecido por si de duas maneiras; segundo
Tomás de Aquino:


                           De dois modos pode uma coisa ser conhecida por si: Absolutamente,
                          e não relativamente a nós; e absolutamente e relativamente a nós.
                          Pois qualquer proposição é conhecida por si, quando o predicado se
                          inclui em a noção do sujeito, por exemplo: O homem é animal,
                          pertencendo animal a noção de homem. Se portanto for conhecido de

4
   Neste sentido vale a explicação de Aniceto Molinaro em sua obra Metafísica – Curso
sistemático, ao alertar-nos: “O ser na sua totalidade é, portanto, inteligência e inteligível. E por
que o ser é atualidade pura e intranscendível, a inteligência e a inteligibilidade vêm a se
identificar na atualidade da intelecção, e vice e versa. Isto significa que entre a inteligência e a
inteligibilidade existe uma correlação essencial e inseparável: uma, a inteligência, não pode
subsistir sem a outra, a inteligibilidade. (MOLINARO, 2004, p. 82)

                                                [3]
todos o que é o predicado e o sujeito, tal preposição será para todos
                        evidente (...) Mas para quem não souber o que são o predicado e o
                        sujeito, a proposição não será evidente, embora o seja, considerada
                        em si mesma. (AQUINO, 1980, Vol. I, Quest. II, Art. I, p. 16).


       Assim percebemos que Deus pode ser conhecido de maneira absoluta
por intuição,5 contudo este conhecimento intuitivo é por si só um efeito objetivo
e, se a percepção num primeiro nível é subjetiva, a “externalização”, ou
“objetificação”6 de tal conhecimento nos leva as provas da existência de Deus
baseadas no teorema de que “do nada não se pode criar nada”, pode nos levar
a deduzir mesmo sem conhecer e de maneira lógica, que o mundo existe, junto
com tudo o que contém.
        Percebe-se também que é necessária uma causa última originária,
assim uma pessoa sem necessariamente ter tido contato com qualquer
doutrina é capaz de intuir a Deus apoiado simplesmente nas causas primeiras;
foi assim que ocorreu com Aristóteles ao deduzir o primeiro motor imóvel.
       Mas o conhecimento de Deus pode também ser transmitido como
doutrina; isso ocorre no cristianismo, fazendo com que o predicado seja
conhecido racionalmente e reconhecido empiricamente, (experiência de Deus).
        Assim, segundo o doutor angélico esta outra maneira de conhecer a
Deus é dada;
                        [...] pelo efeito, que é chamada a posteriori, embora se baseie no que
                        é primeiro para nós; quando um efeito nos é mais manifesto que a
                        sua causa, por ele chegamos ao conhecimento desta. Ora, podemos
                        demonstrar e existência da causa própria de um efeito, sempre que
                        este nos é mais conhecido que aquele; porque, dependendo os
                        efeitos da causa, a existência deles, supõe, necessariamente a
                        preexistência desta. Por onde não nos sendo evidente, a existência
                        de Deus é demonstrável pelos efeitos que conhecemos. (AQUINO,
                        1980, vol. I Quest. II, art. II, p. 17)


       Entendemos que segundo Tomás, essencialmente é Deus quem se dá a
conhecer; isso tanto no âmbito da Revelação7 como também no terreno
filosófico.

5
  Entendemos junto com Tomás que o caminho da intuição está incutido na natureza humana
que “clama” a Deus quase que instintivamente e de maneira subjetiva.
6
   Tanto o termo “externalização” como “objetificação” indicam em nosso contexto uma
capacidade de expressar (jogar para fora) certezas que dizem respeito ao nosso conhecimento
subjetivo e corroborá-los objetivamente na realidade.
7
  Na doutrina cristã da Revelação a verdade do “Verbo Encarnado” onde Deus se faz homem e
resgata a humanidade, ou seja, é de todo o conhecido que a Verdade Suprema que vai para
além de toda a filosofia e transcende o âmbito racional é a de que Deus autor sumo da

                                            [4]
Percebemos que tanto no âmbito da Revelação como também na
especulação filosófica existe no homem uma capacidade estrutural e racional
que o permite compreender e distinguir tais verdades, essa estrutura do
conhecimento humano é dado pelo intelecto do homem que apreende a
verdade do ser.
        Aqui utilizamos da definição do termo intelecto. Este termo é entendido
no sentido aristotélico, onde: “o intelecto é aquilo graças a que a alma raciona e
compreende. (...) atividade pensante, capaz de escolher, coordenar e
subordinar”. (ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia. p. 655).
        Mas podemos estender este conceito e o aproximá-lo do senso comum,
sendo assim entendido como: estrutura biológica (inteligência) que todo ser
humano adulto possui de maneira desenvolvida e acompanhada pela
percepção consciente. A inteligência vê o inteligível no sensível, tal como é
representado diretamente na percepção do sentido interno e remontadamente
nos sentidos externos, sem perder o contato direto com a realidade.



Como se dá o conhecimento na operação de abstração do intelecto

        Para entendermos o intelecto na visão tomista, permaneceremos sob a
luz de toda a problemática que envolve o intelecto ativo elaborado por
Aristóteles.
        Para Aristóteles percebemos que o Intelecto contém duas partes: 8 seria
o Intelecto ativo e o intelecto passivo. O Intelecto passivo recebe as formas, 9


verdade, e mais, Verdade em si, se revela ao homem. A partir deste ocorrido histórico inferido
na realidade humana e nela constatado, toda e qualquer verdade coerente (na visão cristã)
deve caminhar nestes pressupostos. Em Tomás de Aquino não é diferente, a verdade
especulativa embora seja autônoma, sempre será um meio para um fim, ou seja, para
encontrar Deus como princípio e causa de tudo. E o caráter de validade desta mesma verdade
está intimamente ligado a esse processo.
8
  E assim, tal como em toda a natureza há, por um lado, algo que é matéria para cada gênero
(e isso é o que é em potência todas as coisas) e, por outro, algo diverso que é a causa e o fator
produtivo, por produzir tudo, como a técnica em relação à matéria que modifica, é necessário
que na alma ocorra tais diferenças. E tal é o intelecto, de um lado, por tornar-se todas as
coisas e, de outro, por produzir todas as coisas, como uma certa disposição,, por exemplo,
como a luz. Pois de certo modo a luz faz cores em potências cores em atividade. E este
intelecto é separado, impassível e sem mistura, sendo por substância atividade.
(ARISTÓTELES, 2006, livro III, art. V, par. 430a 10, p. 116)
9
  “Formas” para Aristóteles é a essência das coisas que no ato compreendido e atual, faz com
que a coisas seja aquilo que ela é em si mesma. Segundo Abbagnano, a noção de forma em
Aristóteles é a “essência necessária ou substância das coisas que têm matéria [...] neste
sentido a forma não só se opõe a matéria como a pressupõe”. (ABBAGNANO, 2007, p. 543).

                                               [5]
que correspondem a todas as coisas, numa espécie de captação, ou,
apreensão da realidade. Já o intelecto ativo faz com que o primeiro
entendimento (a recepção, ou apreensão das “formas” que se apresentam) se
faça todas as coisas, no sentido de reconhecer aquilo que foi apreendido pelo
primeiro intelecto.
        Assim, num primeiro momento, o Intelecto contém tudo em si, porém
esse conter é em potência, por isso quando o Intelecto atualiza, ele conhece.
Conhece por aquilo que ele já possui, mas possui em potência.
        No inicio desta abstração, esse conhecimento é gerado no âmbito do
Intelecto, aqui os cinco sentidos percebem os objetos externos separadamente,
essa percepção vai, para um sentido interno que é a imaginação; que por sua
vez, unifica as percepções dos cinco sentidos e as apresenta para o Intelecto
(que contém tudo em potência) e este, faz o papel de reconhecimento do que
lhe foi apresentado, por meio de atualização.
        Sendo assim, na linguagem reflexiva do Estagirita, o intelecto conhece
por reconhecimento, atualizando o que ele contém em potência. Em outras
palavras, o inteligível é “iluminado” pelo Intelecto Agente. Isso ocorre também
na doutrina tomista do conhecimento, porém Tomás de Aquino faz uma
inversão da ordem do processo de intelecção, onde a imagem ativa é dada
pelo intelecto possível, ou seja, temos a doutrina da abstração.10
        Em outras palavras, os sentidos para Aristóteles são válidos na medida
em que são “iluminados” pelo intelecto Agente, mas segundo o tomismo o
“mérito” não se encontra tão e somente no inteligir refletido do intelecto agente,
mas também são necessários os sentidos para a elaboração dos fantasmas
(imagens) que se apresentam ao intelecto.


Tomás em sua obra O Ente e a Essência, ao comentar a noção de “forma”, escreve: “(...) o
relacionamento da matéria e da forma dá ser à matéria e, deste modo, é impossível que haja
matéria sem alguma forma; no entanto, não é impossível haver alguma forma sem matéria. Der
fato a forma, por ser forma, não tem dependência com a matéria”. (AQUINO, 2010, cap. IV, par.
48, p. 32)
10
   De maneira singela nos imitamos a apenas indicar como funciona a teoria da abstração do
conhecimento, devido a sua extensão e a limitação própria deste trabalho. Essa doutrina é
baseada no processo do intelecto humano que distinto da realidade é capaz de apreender de
maneira objetiva a realidade do objeto que se lhe apresenta. Essa apreensão se dá em um
primeiro momento pela ordem dos sentidos que captam a realidade externa, depois é impresso
pela imaginação no intelecto passivo, que recebe a atuação do intelecto ativo, ou intelecto
agente, e o formula no juízo para o ato de inteligir. O resultado mais expressivo de tal processo
é a capacidade de elaborar conceitos abstratos, não mais no sentido do essencialismo
aristotélico, mas na universalização do ato existencial do ser.

                                               [6]
Assim:

                         O intelecto humano, unido ao corpo, tem como objeto próprio a
                         qüididade ou natureza existente na matéria corpórea; e, por tais
                         naturezas, do conhecimento das coisas visíveis ascende a um certo
                         conhecimento das coisas invisíveis. Ora, é da essência de tal
                         natureza existir num indivíduo o qual não existe sem matéria
                         corpórea, como é da essência da natureza da pedra existir numa
                         determinada pedra (...) Por onde, a natureza da pedra ou de qualquer
                         outra coisa material, não pode ser conhecida completa e
                         verdadeiramente senão enquanto conhecida como existente num ser
                         particular. Ora este nós aprendemos pelo sentido e pela imaginação.
                         E por isso, é necessário, que o intelecto se valha dos fantasmas, a
                         fim de conhecer a natureza universal existente no particular.
                         (AQUINO, 1980, Vol. II, Quest. LXXXIV; Art. VII, p. 753).



       Tendo em vista o olhar de Tomás de Aquino é possível distinguir a
importância dos sentidos e sua função de apreensão da realidade e sua
inteligibilidade.11

       Contudo a questão em relação ao processo pelo qual o homem conhece
(o ato próprio da inteligibilidade) tem um caráter duplo: Por um lado os sentidos
são colocados como “fonte externa” de captação do objeto que se apresenta na
realidade, onde há o processo de reclinar-se sob a realidade, este processo
consiste numa primeira etapa. Por outro lado temos a função de inteligir que
segundo Abbagnano contém uma função essencial:

                         (...) o substantivo intelecto implica certo conhecimento íntimo;
                         intelligere é como „ler dentro‟ (intus legere). Isso é evidente a quem
                         considera a diferença entre o intelecto e os sentidos: o conhecimento
                         sensível concerne às qualidades sensíveis externas; o conhecimento
                         intelectivo penetra até a essência da coisa. (ABBAGNANO, 2007, p.
                         656).



       Aqui há uma síntese12 da capacidade do homem de conhecer alguma
coisa da essência da realidade. Onde além da distinção feita por Aristóteles 13

11
   Ato de tornar a realidade inteligível e perceptível a nossa compreensão.
12
   Para compreendermos esta síntese temos que perceber que Aristóteles está diante de uma
questão já levantada por outros pensadores anteriores a ele. O conhecimento está entre a
concepção idealista (Platão) e o sensualismo materialista de Demócrito. Assim, segundo
Gardeil em as obra Iniciação a Filosofia de Santo Tomás de Aquino – Psicologia, o autor
descreve tal ambigüidade: “Como o conjunto de psicologia, manifesta-se a doutrina do
conhecimento em Aristóteles como uma via média entre o sensualismo materialista,
representado na antiguidade por Demócrito e o intelectualismo extremo, iniciado por Platão”.
(GARDEIL, 1987, p. 79)
13
   E qual foi à solução dada por Aristóteles a este dualismo gnosiológico? “o intelecto humano,
no aristotelismo, é originariamente uma pura potência passiva frente aos inteligíveis. Não há

                                              [7]
entre o intelecto e os sentidos, nós temos com Tomás de Aquino uma
conjunção enquanto relação de ambos para o processo do conhecimento,
assim:

                       o sentido não tem, sem comunicação do corpo, operação própria; de
                       modo que sentir não é ato só da alma, mas do conjunto (...) pois, não
                       há inconveniência em que os sensíveis, exteriores a alma, cause
                       alguma coisa ao conjunto (AQUINO, 1980, Vol. II, Quest. LXXXIV;
                       Art. VI, p. 751).



         Em fim este composto cognoscitivo é manifestado no inteligir humano,
estruturado pelos sentidos que captam a realidade, pelos fantasmas, como
processo decorrente dos sentidos externos, e sua formulação das imagens,
que é configurada e reconhecida pelo intelecto, no processo conclusivo da
inteligência. Dado que estas etapas são quase que instantâneas ao indivíduo.




O Intelecto Agente

         Este intelecto já existente em Aristóteles, além de fazer parte da alma é
também necessidade de participação no ato do inteligir e em todo o processo
do conhecimento.

         Percebendo tsi importância da existência deste intelecto, Tomás de
Aquino parte da teoria de Aristóteles complementando-a com o Intelecto
Agente na defesa da relação de necessidade e admissão para com este
intelecto superior:

                       (...) é necessário admitir-se, além da alma intelectiva humana, a
                       existência de um intelecto superior, do qual a alma obtém a virtude de
                       inteligir. Pois, sempre, o ser participante, móvel, imperfeito, preexiste
                       algo de anterior a si, que seja tal, por essência, imóvel e perfeito. Ora,
                       a alma humana é intelectiva, por participação da virtude intelectual.
                       (AQUINO, 1980, Vol. II, Quest. LXXIX; Art. IV, p. 701).


formas ou idéias inatas. É preciso, pois, para que entre em atividade, receber seu objeto.
Donde este poderá vir? Não pode ser de um modo transcendente, de idéias separadas ou de
inteligências superiores: um Atal hipótese não é verdadeiramente fundada e vai contra a
experiência. Resta que nossas idéias procedam do conhecimento sensível. Mais aqui surge
uma dificuldade precedentemente equivocada: como objetos materiais poderão imprimir-se em
uma faculdade puramente espiritual? No caso da percepção sensível, explica-se que tais
objetos pudessem ser recebidos pois que os sentidos, pelos seus órgãos estão em
continuidade com o mundo dos corpos”. (GARDEIL, 1987, p. 103) esta questão segue num
estado de aporia, pois os caminhos podem ser muitos e o foram ao longo da história da
filosofia, porém estão muito longe de serem resolvidos.

                                             [8]
Assim, o foco principal é a participação na perfeição do inteligir, que é
realizado pelo intelecto agente, que podemos entender como parte imaterial de
nossa inteligência e que preexiste como estrutura essencial para a atuação do
inteligir humano, sem o qual seria impossível que este processo se realizasse.

      Contudo na concepção de Tomás de Aquino o Intelecto Agente é
separado da inteligência humana, e fonte de todo inteligir, ou seja, é Deus
mesmo, contudo não se reduz a compreensão aristotélica, onde se deduz o
Intelecto Agente como uma parte do inteligir humano, ele torna-se para além do
homem, ao ponto deste ser pensante conter o Intelecto Agente.

                     Assim, há um intelecto que está para o ser universal como o ato do
                     ser total. E tal é o intelecto divino, que é a essência de Deus, no qual
                     original e virtualmente todo ser preexiste como na causa primeira; por
                     isso, o intelecto divino não é potencia, mas ato puro. E nenhum
                     intelecto criado pode ser ato em relação ao ser universal total porque,
                     então, deveria ser infinito. Por onde, todo intelecto criado, pelo fato
                     mesmo de o ser, não pode ser ato de todos os inteligíveis, mas está
                     para eles como a potência para o ato. (AQUINO, 1980, Vol. II, Quest.
                     LXXIX; Art. II, p. 696).


      Neste sentido aristotélico tomista o Intelecto Agente passa a ser
sinônimo de Ato puro de ser (esse), subsistente e causa de tudo o que existe,
ou seja, Deus.

      Para Tomás tudo o que existe é, por que recebe a existência do ser,
inclusive o intelecto humano. Aqui temos uma distinção de terminologias sendo
que segundo o raciocínio de Aristóteles, os homens teriam uma alma intelectiva
humana, que faz parte da mente, contudo para Tomás isso é possível, porém
torna-se necessário admitir um intelecto superior, como foi observado acima.

Conclusão

      É impossível ou pelo menos não recomendável pensar Tomás de Aquino
sem buscar perceber seu sistema estrutural filosófico e metafísico do (esse), e
sua teologia racional que fundamentalmente nos levará a possibilidade real do
conhecimento de Deus. É a partir da existência de Deus como Ato Puro de Ser,
donde tudo o que existe é efeito deste ser.



                                          [9]
É a partir deste teorema que se desenvolve o todo no pensamento deste autor.
Contudo temos que ressaltar a compreensão que Tomás de Aquino teve de
Aristóteles e a reformulação e complementação de muitos aspectos.

        Temos também as duas maneiras de conhecer a Deus, pela Revelação
e pela especulação filosófica, ou razão natural, onde o processo da razão se
faz ao apreender os “rastros” de Deus que ao mesmo tempo de revela. Tal
processo se manifesta de maneira única pelas “leis” inscritas na realidade (as
cinco vias tomistas),14 ou pela experiência com o Deus revelado.

        Contudo este processo de conhecer a Deus se dá pelo processo de
abstração do intelecto ativo, onde nos é dado à realidade pelos sentidos e a




14
   As cinco vias tomistas estão fundadas na ordem da especulação da razão natural de tal
maneira que através dos efeitos e a partir deles Tomás tenta acender até Deus. As provas da
existência de Deus ou as vias, no sentido de acesso ou caminho ser percorrido conservam
entre si uma estrutura de relação intrínseca e seus efeitos estão ligados extrinsecamente.
Contudo, elas se mantêm distintas em seus argumentos... São cinco vias e não uma única via
dividida em cinco partes. A primeira via retirada da doutrina do ato e potência de Aristóteles se
faz fundamental e por vezes a mais genuínas de todas as vias, pois é a que se estrutura de
maneira brilhante e infere mais que a necessidade de haver um princípio primeiro que chamam
Deus; ela nos proíbe caminhar ao infinito de tal maneira que sustentada na existência, dado
fenomênico e universal, pelo movimento de atuação do Ser, somos obrigados pela
necessidade lógica do argumento a inferir a existência e atuação do Ser (Deus). Assim, temos
abaixo um esquema que indica os caminhos das cinco vias elaboradas por Tomás. 1°
Movimento: Esta teoria está fundada na base aristotélica da passagem da potência ao ato,
onde os entes podem “vir a ser”. Aqui subjaz a teoria do Motor Imóvel de Aristóteles, a
necessidade de não “reduzir ao infinito”, pois nada existe do nada. Também nota-se que há
uma finalidade, ou ainda uma intencionalidade no movimento das coisas. 2° Causas
Eficientes: É impossível que uma coisa se faça causa de si mesma (pois, então, precederia a
própria existência), as causas eficientes acham-se em conexão de complementaridade e
interdependência, tendo em vista que na especulação das causas é necessário “parar” e não
reduzir ao infinito, pois nada provém do de nada. 3° Pelo contingente e pelo necessário:
Falar em mudança é falar em contingência, assim uma coisa ou é em razão a sua razão, ou em
razão de outra coisa, tendo fora de si à razão de sua existência. Assim tudo o que existe não
encontra em si a razão de seu existir e deve recorrer a “algo” externo e originário. 4° Graus de
perfeição: Onde se há a percepção de maior e menor, ou de mais e menos temos por
dedução um grau superior que nos orienta e serve de base para nosso juízo. Assim se há certo
grau de bondade nas coisas, existe um grau máximo de bondade em si que é Deus. 5° Ordem
das coisas: Todas as coisas estão comprometidas num sistema de relações regulares e
orientadas num sentido estavelmente definido, isso demonstra não o acaso, mas sim uma
intencionalidade e orientação intrínseca que atrai todas as coisas a sua finalidade. (em relação
à última via, é fato que a natureza segue uma ordem que converge em um sentido, por
exemplo, há um movimento ordenado e sistematizado que a permite progredir e evidenciar leis
próprias que são seguidas. Neste sentido a ordem cósmica e cosmológica é manifestada na
natureza, bastando uma observação apurada da razão especulativa para a comprovação desta
via). Cf. MARITAIN, Jacques. Caminhos para Deus. BH. Itatiaia, 1962. Ainda fica alertado que
Maritain elaborou uma sexta via que se fundamenta nas cinco vias tomistas e perpassa pela
elaboração da “intuição” ate um possível sexto caminho para se inferir Deus.


                                              [10]
partir do conhecimento gerado realizando uma atualização no intelecto, como
processo de reconhecimento e assimilação das coisas.

      Tomás de Aquino separa o intelecto do homem, conhecido como alma
intelectiva, ou seja, ao homem foi dada a capacidade de inteligir (conhecer a
realidade das coisas), do intelecto Ativo, este por sua vez é o próprio intelecto
divino que age no humano e o ilumina. O intelecto Ativo é Ato Puro de Ser, ou
seja, é o ser manifesto e atuante no pensamento humano de tal forma que o
pensar e a realidade tornam-se um único movimento e expressão da existência
do ser. Assim o inteligir humano não é outra coisa se não a atuação em
potência daquilo que o intelecto Ativo é em Ato.

      Assim percebemos que para além de Aristóteles temos o tomismo com
sua estrutura de causa no ser donde tudo o que há, deriva e conserva, se
manifestando por excelência no sistema gnosiológico humano. O fato é que se
o homem é capaz de conhecer, a finalidade de tal conhecimento, para o
Aquinate, está na possibilidade real de conhecer a Deus, ou neste sentido, a
verdade primeira das coisas e finalidade ultima do próprio conhecimento.




                                      [11]
Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes,
2007.

AQUINO, Tomás. Suma teológica. Primeira parte. Questões 1- 49. 2° ed. RS.
Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Universidade de Caxias
do Sul. Grafosul – Indústria Gráfica Editora Ltda. Co – Edição, 1980.

AQUINO, Tomás. Suma teológica. Primeira parte. Questões 50- 119. 2° ed.
RS. Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Universidade de
Caxias do Sul. Grafosul – Indústria Gráfica Editora Ltda. Co – Edição, 1980.

AQUINO, Tomás. O Ente e a Essência. Rio de Janeiro: 2010.

ARISTÓTELES. De Anima. São Paulo: Editora 34. 2006
GARDEIL, H. D. Iniciação a Filosofia de Santo Tomás de Aquino.
Psicologia, 1987.

GILSON, Etienne. A Existência na filosofia de S. Tomás de Aquino. Livraria
Duas Cidades, SP. 1962.
GILSON, Etienne. Deus e a filosofia. Lisboa: Edições 70, 2002.
MARITAIN, Jacques. Caminhos para Deus. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada,
1962.
MOLINARO, Aniceto. Metafísica. Curso Sistemático. 2° Ed. São Paulo: Paulus,
2004.




                                    [12]

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O conhecimento de Deus segundo Tomás de Aquino

  • 1. O Intelecto Ativo e a alma humana intelectiva na visão de Santo Tomás de Aquino 1 José Fernando Vieira Resumo: Este trabalho nos remete a uma breve noção de possibilidades de conhecimento sob o olhar de Tomás de Aquino, mais especificamente a finalidade do conhecimento em si, a possibilidade de conhecer a Deus, e o desenvolvimento do processo cognitivo humano. Percebendo o caminho percorrido da noção tomista de gnosiologia que advém do aristotelismo e adquire certa transmutação que o faz se não diretamente, mas indiretamente se organizar e se sistematizar a partir do ser. Palavra chave: Intelecto. Abstração. Percepção. Ato. Composto. Inteligível. Alma. Sensível. Apreensão. Potência. Introdução: Neste trabalho iremos explorar a posição aristotélica tomista sobre a maneira pela qual o intelecto forma o conhecimento com a noção de participação do intelecto humano no intelecto divino, tendo este como sua origem e finalidade. Percebendo o processo de abstração da realidade e a atuação da alma nos passos hierárquicos de tal conhecimento. A estrutura do pensamento tomista Para Compreender Tomás de Aquino temos que ter em mente que Deus existe e subsiste em si mesmo, sendo definido conceitualmente como Ser. O sistema tomista elaborado em torno do “ser” consiste numa base de distinção e hierarquização entre o ente que é, na medida em que participa do Ser.2 1 José Fernando Vieira – Graduando em filosofia. 3° período. -FAF- (Faculdade Arquidiocesana de Curitiba) 06/2010. 2 Segundo Etienne Gilson em sua obra Deus e a Filosofia, diante da pergunta: O que é o ser? “Ao responder a esta que é a mais difícil de todas as questões metafísicas, devemos distinguir cuidadosamente o significado de duas palavras que são diferentes, mas que estão, no entanto, intimamente relacionadas: ens, ou <<ente>>, e esse, ou <<ser>>. À pergunta: o que é o ente?, a resposta correta seria: o ente é aquele que é ou existe. [...] Mas esse, ou <<ser>>, é algo mais e muito mais difícil de compreender porque está profundamente oculto na estrutura [1]
  • 2. Segundo Tomás de Aquino: “O ser em si é mais perfeito de todos por atualizar a todos; pois, nenhum ser atual senão enquanto existente. Por onde, o ser em si é o que atualiza todos os outros e, mesmo, as próprias formas.” (AQUINO, 1980, Vol. I, Quest. IV; Art. II, p. 34).” Aqui a novidade da metafísica tomista que consiste na elaboração da perfeição do ser. Este por sua vez é Puro Ato de Ser, ou seja, Deus; cujo tudo o que existe é causa do próprio ser de Deus. 3 É por isso que as criaturas existem e recebem uma essência que os fazem ser o ser próprio e distinto de cada um. Por exemplo, o homem como homem primeiramente existe, depois contém a essência de homem e todas as suas propriedades. É a partir desses teoremas apontados acima que iremos perceber o raciocínio tomista e sua elaboração no que diz respeito à maneira de conhecer do homem e sua capacidade de se relacionar com Deus. O homem é capaz de conhecer a Deus Nas propriedades do homem temos uma característica própria de sua natureza que queremos aprofundar, a racionalidade ou, a capacidade de apreender aquilo que está a sua volta, é a noção de saber que sabe, é a passagem marcante da humanidade conhecida como a evolução para o homo sapiens. Neste contexto se intenta uma questão inicial: O homem é capaz de pensar Deus? É daqui que desejamos partir para o conhecimento de Deus em Tomás de Aquino e perceber a maneira pela qual o homem o conhece e percebe a existência de um Ser externo a ele. Partindo do pressuposto de que o homem é um animal racional, queremos agora investigar como se é possível conhecer a Deus racionalmente. metafísica da realidade. A palavra <<ente>>, como substantivo, designa uma substância; a palavra <<ser>> - ou esse – é um verbo porque designa um ato. (GILSON, 2002, p. 54 – 55). 3 Temos que destacar que segundo o comentário de Etienne Gilson deve-se fazer uma distinção clara no que diz respeito ao pensamento de Tomás de Aquino de que “a essência e a existência são distintas no ente. Elas se confundem e se unem somente no Puro Ato de Ser (Deus). Assim, o ente finito pode ser concebido como um ente cujo ato existencial é limitado pela própria essência que ele possui (...) a essência de um ente finito, fazendo-o ser aquilo que ele é, impede-o de ser o próprio Deus”. (GILSON, 1962, p.39) [2]
  • 3. Para Tomás de Aquino é possível conhecer a Deus utilizando-se de instrumentos racionais como, por exemplo, a filosofia, mas tendo em vista que essa possibilidade é real porque é Deus quem se permite ser alcançado pela razão, e não um processo onde a razão “intui” a Deus, ou o projeta pura e simplesmente. Duas maneiras pela qual Deus é conhecido Se existem duas maneiras de conhecer a Deus, logicamente a primeira pergunta a ser feita é: Deus existe? Para Tomás de Aquino, esta pergunta já pressupõe a resposta, tendo em vista que nós homens primeiro existimos e depois somos racionais, e conseqüentemente capazes de se questionar a respeito de Deus. Isso implica já estar lançado no “ato de existir” e naturalmente nos “re-tornar” a uma causa primeira, origem ontológica de todo o existir e ser. Pois do nada, nada existe, e se existimos temos uma causa externa, o próprio Deus. Portanto, Deus não só é realidade, mas também é o Ato Puro de Ser, de tudo aquilo que existe e fonte última no sentido tanto ontológico causal, como no âmbito de finalidade extrínseca e intrínseca da realidade. Aqui nos deteremos no movimento racional da criatura para Deus. Deus, organizado estruturalmente no conceito de ser tomista pode e deve ser percebido pelo intelecto de tal maneira que o ser é ser na medida em que é pensado, pois o próprio pensamento é, e por isso é ser pensamento, logo contém o ser.4 Contudo Deus pode ser conhecido por si de duas maneiras; segundo Tomás de Aquino: De dois modos pode uma coisa ser conhecida por si: Absolutamente, e não relativamente a nós; e absolutamente e relativamente a nós. Pois qualquer proposição é conhecida por si, quando o predicado se inclui em a noção do sujeito, por exemplo: O homem é animal, pertencendo animal a noção de homem. Se portanto for conhecido de 4 Neste sentido vale a explicação de Aniceto Molinaro em sua obra Metafísica – Curso sistemático, ao alertar-nos: “O ser na sua totalidade é, portanto, inteligência e inteligível. E por que o ser é atualidade pura e intranscendível, a inteligência e a inteligibilidade vêm a se identificar na atualidade da intelecção, e vice e versa. Isto significa que entre a inteligência e a inteligibilidade existe uma correlação essencial e inseparável: uma, a inteligência, não pode subsistir sem a outra, a inteligibilidade. (MOLINARO, 2004, p. 82) [3]
  • 4. todos o que é o predicado e o sujeito, tal preposição será para todos evidente (...) Mas para quem não souber o que são o predicado e o sujeito, a proposição não será evidente, embora o seja, considerada em si mesma. (AQUINO, 1980, Vol. I, Quest. II, Art. I, p. 16). Assim percebemos que Deus pode ser conhecido de maneira absoluta por intuição,5 contudo este conhecimento intuitivo é por si só um efeito objetivo e, se a percepção num primeiro nível é subjetiva, a “externalização”, ou “objetificação”6 de tal conhecimento nos leva as provas da existência de Deus baseadas no teorema de que “do nada não se pode criar nada”, pode nos levar a deduzir mesmo sem conhecer e de maneira lógica, que o mundo existe, junto com tudo o que contém. Percebe-se também que é necessária uma causa última originária, assim uma pessoa sem necessariamente ter tido contato com qualquer doutrina é capaz de intuir a Deus apoiado simplesmente nas causas primeiras; foi assim que ocorreu com Aristóteles ao deduzir o primeiro motor imóvel. Mas o conhecimento de Deus pode também ser transmitido como doutrina; isso ocorre no cristianismo, fazendo com que o predicado seja conhecido racionalmente e reconhecido empiricamente, (experiência de Deus). Assim, segundo o doutor angélico esta outra maneira de conhecer a Deus é dada; [...] pelo efeito, que é chamada a posteriori, embora se baseie no que é primeiro para nós; quando um efeito nos é mais manifesto que a sua causa, por ele chegamos ao conhecimento desta. Ora, podemos demonstrar e existência da causa própria de um efeito, sempre que este nos é mais conhecido que aquele; porque, dependendo os efeitos da causa, a existência deles, supõe, necessariamente a preexistência desta. Por onde não nos sendo evidente, a existência de Deus é demonstrável pelos efeitos que conhecemos. (AQUINO, 1980, vol. I Quest. II, art. II, p. 17) Entendemos que segundo Tomás, essencialmente é Deus quem se dá a conhecer; isso tanto no âmbito da Revelação7 como também no terreno filosófico. 5 Entendemos junto com Tomás que o caminho da intuição está incutido na natureza humana que “clama” a Deus quase que instintivamente e de maneira subjetiva. 6 Tanto o termo “externalização” como “objetificação” indicam em nosso contexto uma capacidade de expressar (jogar para fora) certezas que dizem respeito ao nosso conhecimento subjetivo e corroborá-los objetivamente na realidade. 7 Na doutrina cristã da Revelação a verdade do “Verbo Encarnado” onde Deus se faz homem e resgata a humanidade, ou seja, é de todo o conhecido que a Verdade Suprema que vai para além de toda a filosofia e transcende o âmbito racional é a de que Deus autor sumo da [4]
  • 5. Percebemos que tanto no âmbito da Revelação como também na especulação filosófica existe no homem uma capacidade estrutural e racional que o permite compreender e distinguir tais verdades, essa estrutura do conhecimento humano é dado pelo intelecto do homem que apreende a verdade do ser. Aqui utilizamos da definição do termo intelecto. Este termo é entendido no sentido aristotélico, onde: “o intelecto é aquilo graças a que a alma raciona e compreende. (...) atividade pensante, capaz de escolher, coordenar e subordinar”. (ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia. p. 655). Mas podemos estender este conceito e o aproximá-lo do senso comum, sendo assim entendido como: estrutura biológica (inteligência) que todo ser humano adulto possui de maneira desenvolvida e acompanhada pela percepção consciente. A inteligência vê o inteligível no sensível, tal como é representado diretamente na percepção do sentido interno e remontadamente nos sentidos externos, sem perder o contato direto com a realidade. Como se dá o conhecimento na operação de abstração do intelecto Para entendermos o intelecto na visão tomista, permaneceremos sob a luz de toda a problemática que envolve o intelecto ativo elaborado por Aristóteles. Para Aristóteles percebemos que o Intelecto contém duas partes: 8 seria o Intelecto ativo e o intelecto passivo. O Intelecto passivo recebe as formas, 9 verdade, e mais, Verdade em si, se revela ao homem. A partir deste ocorrido histórico inferido na realidade humana e nela constatado, toda e qualquer verdade coerente (na visão cristã) deve caminhar nestes pressupostos. Em Tomás de Aquino não é diferente, a verdade especulativa embora seja autônoma, sempre será um meio para um fim, ou seja, para encontrar Deus como princípio e causa de tudo. E o caráter de validade desta mesma verdade está intimamente ligado a esse processo. 8 E assim, tal como em toda a natureza há, por um lado, algo que é matéria para cada gênero (e isso é o que é em potência todas as coisas) e, por outro, algo diverso que é a causa e o fator produtivo, por produzir tudo, como a técnica em relação à matéria que modifica, é necessário que na alma ocorra tais diferenças. E tal é o intelecto, de um lado, por tornar-se todas as coisas e, de outro, por produzir todas as coisas, como uma certa disposição,, por exemplo, como a luz. Pois de certo modo a luz faz cores em potências cores em atividade. E este intelecto é separado, impassível e sem mistura, sendo por substância atividade. (ARISTÓTELES, 2006, livro III, art. V, par. 430a 10, p. 116) 9 “Formas” para Aristóteles é a essência das coisas que no ato compreendido e atual, faz com que a coisas seja aquilo que ela é em si mesma. Segundo Abbagnano, a noção de forma em Aristóteles é a “essência necessária ou substância das coisas que têm matéria [...] neste sentido a forma não só se opõe a matéria como a pressupõe”. (ABBAGNANO, 2007, p. 543). [5]
  • 6. que correspondem a todas as coisas, numa espécie de captação, ou, apreensão da realidade. Já o intelecto ativo faz com que o primeiro entendimento (a recepção, ou apreensão das “formas” que se apresentam) se faça todas as coisas, no sentido de reconhecer aquilo que foi apreendido pelo primeiro intelecto. Assim, num primeiro momento, o Intelecto contém tudo em si, porém esse conter é em potência, por isso quando o Intelecto atualiza, ele conhece. Conhece por aquilo que ele já possui, mas possui em potência. No inicio desta abstração, esse conhecimento é gerado no âmbito do Intelecto, aqui os cinco sentidos percebem os objetos externos separadamente, essa percepção vai, para um sentido interno que é a imaginação; que por sua vez, unifica as percepções dos cinco sentidos e as apresenta para o Intelecto (que contém tudo em potência) e este, faz o papel de reconhecimento do que lhe foi apresentado, por meio de atualização. Sendo assim, na linguagem reflexiva do Estagirita, o intelecto conhece por reconhecimento, atualizando o que ele contém em potência. Em outras palavras, o inteligível é “iluminado” pelo Intelecto Agente. Isso ocorre também na doutrina tomista do conhecimento, porém Tomás de Aquino faz uma inversão da ordem do processo de intelecção, onde a imagem ativa é dada pelo intelecto possível, ou seja, temos a doutrina da abstração.10 Em outras palavras, os sentidos para Aristóteles são válidos na medida em que são “iluminados” pelo intelecto Agente, mas segundo o tomismo o “mérito” não se encontra tão e somente no inteligir refletido do intelecto agente, mas também são necessários os sentidos para a elaboração dos fantasmas (imagens) que se apresentam ao intelecto. Tomás em sua obra O Ente e a Essência, ao comentar a noção de “forma”, escreve: “(...) o relacionamento da matéria e da forma dá ser à matéria e, deste modo, é impossível que haja matéria sem alguma forma; no entanto, não é impossível haver alguma forma sem matéria. Der fato a forma, por ser forma, não tem dependência com a matéria”. (AQUINO, 2010, cap. IV, par. 48, p. 32) 10 De maneira singela nos imitamos a apenas indicar como funciona a teoria da abstração do conhecimento, devido a sua extensão e a limitação própria deste trabalho. Essa doutrina é baseada no processo do intelecto humano que distinto da realidade é capaz de apreender de maneira objetiva a realidade do objeto que se lhe apresenta. Essa apreensão se dá em um primeiro momento pela ordem dos sentidos que captam a realidade externa, depois é impresso pela imaginação no intelecto passivo, que recebe a atuação do intelecto ativo, ou intelecto agente, e o formula no juízo para o ato de inteligir. O resultado mais expressivo de tal processo é a capacidade de elaborar conceitos abstratos, não mais no sentido do essencialismo aristotélico, mas na universalização do ato existencial do ser. [6]
  • 7. Assim: O intelecto humano, unido ao corpo, tem como objeto próprio a qüididade ou natureza existente na matéria corpórea; e, por tais naturezas, do conhecimento das coisas visíveis ascende a um certo conhecimento das coisas invisíveis. Ora, é da essência de tal natureza existir num indivíduo o qual não existe sem matéria corpórea, como é da essência da natureza da pedra existir numa determinada pedra (...) Por onde, a natureza da pedra ou de qualquer outra coisa material, não pode ser conhecida completa e verdadeiramente senão enquanto conhecida como existente num ser particular. Ora este nós aprendemos pelo sentido e pela imaginação. E por isso, é necessário, que o intelecto se valha dos fantasmas, a fim de conhecer a natureza universal existente no particular. (AQUINO, 1980, Vol. II, Quest. LXXXIV; Art. VII, p. 753). Tendo em vista o olhar de Tomás de Aquino é possível distinguir a importância dos sentidos e sua função de apreensão da realidade e sua inteligibilidade.11 Contudo a questão em relação ao processo pelo qual o homem conhece (o ato próprio da inteligibilidade) tem um caráter duplo: Por um lado os sentidos são colocados como “fonte externa” de captação do objeto que se apresenta na realidade, onde há o processo de reclinar-se sob a realidade, este processo consiste numa primeira etapa. Por outro lado temos a função de inteligir que segundo Abbagnano contém uma função essencial: (...) o substantivo intelecto implica certo conhecimento íntimo; intelligere é como „ler dentro‟ (intus legere). Isso é evidente a quem considera a diferença entre o intelecto e os sentidos: o conhecimento sensível concerne às qualidades sensíveis externas; o conhecimento intelectivo penetra até a essência da coisa. (ABBAGNANO, 2007, p. 656). Aqui há uma síntese12 da capacidade do homem de conhecer alguma coisa da essência da realidade. Onde além da distinção feita por Aristóteles 13 11 Ato de tornar a realidade inteligível e perceptível a nossa compreensão. 12 Para compreendermos esta síntese temos que perceber que Aristóteles está diante de uma questão já levantada por outros pensadores anteriores a ele. O conhecimento está entre a concepção idealista (Platão) e o sensualismo materialista de Demócrito. Assim, segundo Gardeil em as obra Iniciação a Filosofia de Santo Tomás de Aquino – Psicologia, o autor descreve tal ambigüidade: “Como o conjunto de psicologia, manifesta-se a doutrina do conhecimento em Aristóteles como uma via média entre o sensualismo materialista, representado na antiguidade por Demócrito e o intelectualismo extremo, iniciado por Platão”. (GARDEIL, 1987, p. 79) 13 E qual foi à solução dada por Aristóteles a este dualismo gnosiológico? “o intelecto humano, no aristotelismo, é originariamente uma pura potência passiva frente aos inteligíveis. Não há [7]
  • 8. entre o intelecto e os sentidos, nós temos com Tomás de Aquino uma conjunção enquanto relação de ambos para o processo do conhecimento, assim: o sentido não tem, sem comunicação do corpo, operação própria; de modo que sentir não é ato só da alma, mas do conjunto (...) pois, não há inconveniência em que os sensíveis, exteriores a alma, cause alguma coisa ao conjunto (AQUINO, 1980, Vol. II, Quest. LXXXIV; Art. VI, p. 751). Em fim este composto cognoscitivo é manifestado no inteligir humano, estruturado pelos sentidos que captam a realidade, pelos fantasmas, como processo decorrente dos sentidos externos, e sua formulação das imagens, que é configurada e reconhecida pelo intelecto, no processo conclusivo da inteligência. Dado que estas etapas são quase que instantâneas ao indivíduo. O Intelecto Agente Este intelecto já existente em Aristóteles, além de fazer parte da alma é também necessidade de participação no ato do inteligir e em todo o processo do conhecimento. Percebendo tsi importância da existência deste intelecto, Tomás de Aquino parte da teoria de Aristóteles complementando-a com o Intelecto Agente na defesa da relação de necessidade e admissão para com este intelecto superior: (...) é necessário admitir-se, além da alma intelectiva humana, a existência de um intelecto superior, do qual a alma obtém a virtude de inteligir. Pois, sempre, o ser participante, móvel, imperfeito, preexiste algo de anterior a si, que seja tal, por essência, imóvel e perfeito. Ora, a alma humana é intelectiva, por participação da virtude intelectual. (AQUINO, 1980, Vol. II, Quest. LXXIX; Art. IV, p. 701). formas ou idéias inatas. É preciso, pois, para que entre em atividade, receber seu objeto. Donde este poderá vir? Não pode ser de um modo transcendente, de idéias separadas ou de inteligências superiores: um Atal hipótese não é verdadeiramente fundada e vai contra a experiência. Resta que nossas idéias procedam do conhecimento sensível. Mais aqui surge uma dificuldade precedentemente equivocada: como objetos materiais poderão imprimir-se em uma faculdade puramente espiritual? No caso da percepção sensível, explica-se que tais objetos pudessem ser recebidos pois que os sentidos, pelos seus órgãos estão em continuidade com o mundo dos corpos”. (GARDEIL, 1987, p. 103) esta questão segue num estado de aporia, pois os caminhos podem ser muitos e o foram ao longo da história da filosofia, porém estão muito longe de serem resolvidos. [8]
  • 9. Assim, o foco principal é a participação na perfeição do inteligir, que é realizado pelo intelecto agente, que podemos entender como parte imaterial de nossa inteligência e que preexiste como estrutura essencial para a atuação do inteligir humano, sem o qual seria impossível que este processo se realizasse. Contudo na concepção de Tomás de Aquino o Intelecto Agente é separado da inteligência humana, e fonte de todo inteligir, ou seja, é Deus mesmo, contudo não se reduz a compreensão aristotélica, onde se deduz o Intelecto Agente como uma parte do inteligir humano, ele torna-se para além do homem, ao ponto deste ser pensante conter o Intelecto Agente. Assim, há um intelecto que está para o ser universal como o ato do ser total. E tal é o intelecto divino, que é a essência de Deus, no qual original e virtualmente todo ser preexiste como na causa primeira; por isso, o intelecto divino não é potencia, mas ato puro. E nenhum intelecto criado pode ser ato em relação ao ser universal total porque, então, deveria ser infinito. Por onde, todo intelecto criado, pelo fato mesmo de o ser, não pode ser ato de todos os inteligíveis, mas está para eles como a potência para o ato. (AQUINO, 1980, Vol. II, Quest. LXXIX; Art. II, p. 696). Neste sentido aristotélico tomista o Intelecto Agente passa a ser sinônimo de Ato puro de ser (esse), subsistente e causa de tudo o que existe, ou seja, Deus. Para Tomás tudo o que existe é, por que recebe a existência do ser, inclusive o intelecto humano. Aqui temos uma distinção de terminologias sendo que segundo o raciocínio de Aristóteles, os homens teriam uma alma intelectiva humana, que faz parte da mente, contudo para Tomás isso é possível, porém torna-se necessário admitir um intelecto superior, como foi observado acima. Conclusão É impossível ou pelo menos não recomendável pensar Tomás de Aquino sem buscar perceber seu sistema estrutural filosófico e metafísico do (esse), e sua teologia racional que fundamentalmente nos levará a possibilidade real do conhecimento de Deus. É a partir da existência de Deus como Ato Puro de Ser, donde tudo o que existe é efeito deste ser. [9]
  • 10. É a partir deste teorema que se desenvolve o todo no pensamento deste autor. Contudo temos que ressaltar a compreensão que Tomás de Aquino teve de Aristóteles e a reformulação e complementação de muitos aspectos. Temos também as duas maneiras de conhecer a Deus, pela Revelação e pela especulação filosófica, ou razão natural, onde o processo da razão se faz ao apreender os “rastros” de Deus que ao mesmo tempo de revela. Tal processo se manifesta de maneira única pelas “leis” inscritas na realidade (as cinco vias tomistas),14 ou pela experiência com o Deus revelado. Contudo este processo de conhecer a Deus se dá pelo processo de abstração do intelecto ativo, onde nos é dado à realidade pelos sentidos e a 14 As cinco vias tomistas estão fundadas na ordem da especulação da razão natural de tal maneira que através dos efeitos e a partir deles Tomás tenta acender até Deus. As provas da existência de Deus ou as vias, no sentido de acesso ou caminho ser percorrido conservam entre si uma estrutura de relação intrínseca e seus efeitos estão ligados extrinsecamente. Contudo, elas se mantêm distintas em seus argumentos... São cinco vias e não uma única via dividida em cinco partes. A primeira via retirada da doutrina do ato e potência de Aristóteles se faz fundamental e por vezes a mais genuínas de todas as vias, pois é a que se estrutura de maneira brilhante e infere mais que a necessidade de haver um princípio primeiro que chamam Deus; ela nos proíbe caminhar ao infinito de tal maneira que sustentada na existência, dado fenomênico e universal, pelo movimento de atuação do Ser, somos obrigados pela necessidade lógica do argumento a inferir a existência e atuação do Ser (Deus). Assim, temos abaixo um esquema que indica os caminhos das cinco vias elaboradas por Tomás. 1° Movimento: Esta teoria está fundada na base aristotélica da passagem da potência ao ato, onde os entes podem “vir a ser”. Aqui subjaz a teoria do Motor Imóvel de Aristóteles, a necessidade de não “reduzir ao infinito”, pois nada existe do nada. Também nota-se que há uma finalidade, ou ainda uma intencionalidade no movimento das coisas. 2° Causas Eficientes: É impossível que uma coisa se faça causa de si mesma (pois, então, precederia a própria existência), as causas eficientes acham-se em conexão de complementaridade e interdependência, tendo em vista que na especulação das causas é necessário “parar” e não reduzir ao infinito, pois nada provém do de nada. 3° Pelo contingente e pelo necessário: Falar em mudança é falar em contingência, assim uma coisa ou é em razão a sua razão, ou em razão de outra coisa, tendo fora de si à razão de sua existência. Assim tudo o que existe não encontra em si a razão de seu existir e deve recorrer a “algo” externo e originário. 4° Graus de perfeição: Onde se há a percepção de maior e menor, ou de mais e menos temos por dedução um grau superior que nos orienta e serve de base para nosso juízo. Assim se há certo grau de bondade nas coisas, existe um grau máximo de bondade em si que é Deus. 5° Ordem das coisas: Todas as coisas estão comprometidas num sistema de relações regulares e orientadas num sentido estavelmente definido, isso demonstra não o acaso, mas sim uma intencionalidade e orientação intrínseca que atrai todas as coisas a sua finalidade. (em relação à última via, é fato que a natureza segue uma ordem que converge em um sentido, por exemplo, há um movimento ordenado e sistematizado que a permite progredir e evidenciar leis próprias que são seguidas. Neste sentido a ordem cósmica e cosmológica é manifestada na natureza, bastando uma observação apurada da razão especulativa para a comprovação desta via). Cf. MARITAIN, Jacques. Caminhos para Deus. BH. Itatiaia, 1962. Ainda fica alertado que Maritain elaborou uma sexta via que se fundamenta nas cinco vias tomistas e perpassa pela elaboração da “intuição” ate um possível sexto caminho para se inferir Deus. [10]
  • 11. partir do conhecimento gerado realizando uma atualização no intelecto, como processo de reconhecimento e assimilação das coisas. Tomás de Aquino separa o intelecto do homem, conhecido como alma intelectiva, ou seja, ao homem foi dada a capacidade de inteligir (conhecer a realidade das coisas), do intelecto Ativo, este por sua vez é o próprio intelecto divino que age no humano e o ilumina. O intelecto Ativo é Ato Puro de Ser, ou seja, é o ser manifesto e atuante no pensamento humano de tal forma que o pensar e a realidade tornam-se um único movimento e expressão da existência do ser. Assim o inteligir humano não é outra coisa se não a atuação em potência daquilo que o intelecto Ativo é em Ato. Assim percebemos que para além de Aristóteles temos o tomismo com sua estrutura de causa no ser donde tudo o que há, deriva e conserva, se manifestando por excelência no sistema gnosiológico humano. O fato é que se o homem é capaz de conhecer, a finalidade de tal conhecimento, para o Aquinate, está na possibilidade real de conhecer a Deus, ou neste sentido, a verdade primeira das coisas e finalidade ultima do próprio conhecimento. [11]
  • 12. Referências ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. AQUINO, Tomás. Suma teológica. Primeira parte. Questões 1- 49. 2° ed. RS. Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Universidade de Caxias do Sul. Grafosul – Indústria Gráfica Editora Ltda. Co – Edição, 1980. AQUINO, Tomás. Suma teológica. Primeira parte. Questões 50- 119. 2° ed. RS. Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Universidade de Caxias do Sul. Grafosul – Indústria Gráfica Editora Ltda. Co – Edição, 1980. AQUINO, Tomás. O Ente e a Essência. Rio de Janeiro: 2010. ARISTÓTELES. De Anima. São Paulo: Editora 34. 2006 GARDEIL, H. D. Iniciação a Filosofia de Santo Tomás de Aquino. Psicologia, 1987. GILSON, Etienne. A Existência na filosofia de S. Tomás de Aquino. Livraria Duas Cidades, SP. 1962. GILSON, Etienne. Deus e a filosofia. Lisboa: Edições 70, 2002. MARITAIN, Jacques. Caminhos para Deus. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1962. MOLINARO, Aniceto. Metafísica. Curso Sistemático. 2° Ed. São Paulo: Paulus, 2004. [12]