Modelos de Inteligencia Emocional segundo diversos autores
Modelo editorial
1. O QUE A FOLHA PENSA
Texto não assinado que expressa a opinião da Folha
A noção do essencial
Com decreto descabido para a abertura de salões,
Bolsonaro aposta no desgoverno
Poucas cenas ilustram tão bem o desgoverno da administração
Jair Bolsonaro na crise do coronavírus quanto a reação do
ministro da Saúde, Nelson Teich, ao ser informado de que seu
chefe acabara de anunciar a inclusão de academias esportivas,
barbearias e salões de beleza no rol de serviços essenciais a
serem mantidos na pandemia.
Surpreendido pela notícia enquanto concedia uma entrevista
coletiva de imprensa na segunda-feira (11), um balbuciante
Teich ainda tentou explicar de forma constrangedora aquilo que
seria inconcebível em outros tempos —a decisão amalucada fora
tomada sem consulta a sua pasta.
Mais que impor uma humilhação ao subordinado, o decreto
presidencial deixa claro que se mantém firme a infame
estratégia bolsonarista de tentar sabotar esforços estaduais e
municipais para controlar a disseminação do Sars-CoV-2.
Em decisão recente, o Supremo Tribunal Federal firmou o
entendimento de que prefeitos e governadores gozam de
autonomia para determinar tanto medidas de quarentena como
fixar os serviços aptos a seguirem funcionando.
Em outras palavras, o presidente sabe que não possui o poder
para impor sua vontade nessa questão, e age apenas como o
provocador cínico e incendiário que sempre foi. Fomenta a
confusão, estimula a desobediência e excita as hostes que
bradam em carreatas pela reabertura do comércio.
Depois de diversos estados anunciarem que irão ignorar o
decreto, Bolsonaro voltou à carga. Sugeriu que a reação dos
governadores afronta o Estado democrático de Direito e “aflora
o indesejável autoritarismo no Brasil” —tratando com a
costumeira leviandade de valores, esses sim, essenciais.
2. Medidas e declarações desencontradas —e, sobretudo, o
descaso— do Executivo federal se enquadram naquilo que o
diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde classificou
de “séria cegueira” de certos governos, não nominados, diante
da Covid-19.
Não parece ser coincidência que, entre as dez nações com maior
número de mortes, apenas o Brasil de Jair Bolsonaro e os EUA
de Donald Trump não tenham adotado políticas de alcance
nacional.
Impossível, assim, dissociar a omissão governamental do curso
preocupante que a epidemia vem tomando no país. Como
constatou reportagem desta Folha, na semana passada o
aumento diário do número de mortes aqui se dava em taxa
superior à de países europeus em estágio similar da crise.
Nada, no entanto, que faça mudar as prioridades do presidente.
editoriais@grupofolha.com.br