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Além da estreia da temporada do grupo no Municipal,
diretor Ismael Ivo prevê atividades fora do teatro
Mineira Mimulus Cia.
apresenta trabalho
inspirado no surgimento
das músicas e danças
populares brasileiras
Balé da Cidade
fortalece conexões
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le. Negro, de família humilde e
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naartedadançacomoinspiração
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tar.Atualmente,aos62anos,co-
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grafite(leiamaissobreoespetácu-
lonoboxaolado).Ivocontaqueo
temasurgiujustamentedapolê-
micasobrepichaçãoegrafite,lo-
go depois que João Doria assu-
miu a prefeitura de São Paulo.
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nuncaaartedografitefoitãoco-
mentadaabertamente.Éummo-
mento de ouro para os artistas
dografite.Nuncaeles foramtão
debatidos, valorizados”, acredi-
taIvo.“Estouvoltandoparaami-
nhacidade,estouvendoesentin-
dooqueéessacidadehoje,oque
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ver, e eu vejo o Balé da Cidade
não só produzindo balés, que
têmumaimportâncianoseure-
pertórioatualoufuturo,masser
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logacomacidade.”
Segundoeleexplica,essarela-
ção não envolve apenas levar o
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bémlevaracompanhiaparaou-
trosespaços públicos,comobi-
bliotecas e teatros municipais.
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dar oficinas abertas em várias
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rânea, clássica, moderna. Esta-
mos preparando várias oficinas
atendendoadolescentes,crian-
ças, genitores.”
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panhia,Ivodizqueseimpressio-
noucomoaltoníveldosbailari-
nos. E, desde o início, mudou a
rotina deles. “Todos os dias,
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criar, descobrir coisas novas. O
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se pesquisa – porque a arte é
uma pesquisa constante –, mas
quedepoisapresentaumarefle-
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um novo início”, observa ele.
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ram: sempre fomos encarados
como uma elite distante. E hoje
eu digo assim: não, vocês têm
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des,segurandonabarradebalé.
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Juliana Ravelli
ESPECIAL PARA O ESTADO
A origem de músicas e danças
brasileiras no século 19 está na
rua, ainda hoje, palco essencial
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Cia. de Dança tirou inspiração
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Quem Sobe, que estará até hoje,
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O coreógrafo Jomar Mesqui-
tadesenvolveuaobraem2006.
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Virtuosismo e romantismo
se unem para celebrar expres-
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çõeseuropeias.Édessamistura
quesurgemo choro,o samba,o
maxixe. “Apesar de ser inspira-
do nesse período, não é um es-
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ta.“Digoqueéparatodososgos-
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pularesdaAméricaLatina.“Es-
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groeobranco.Elassurgemnes-
semesmoperíodoeestãoespa-
lhadas pelo País.”
E, se tudo acontece nas ruas,
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gada à obra. Na Rua Ituiutaba,
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ta. “O título vem desse nosso
lugar na cidade. Quando a gen-
te vai explicar onde a Mimulus
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Ituiutaba, continuação da Au-
gusto de Lima, e nós estamos
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sobe. Outro significado mais
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querdo de quem sobe o corpo
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a arte que nasceu
no meio das ruas
l Ismael Ivo faz mistério sobre
Risco. Não quer entregar tudo an-
tes da estreia desta sexta, 24. Vai
dando alguns detalhes, a conta-
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nos para o espaço urbano. “Cada
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fite e criou uma dança na improvi-
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teiro Jean-Michel Basquiat. O es-
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Dança
AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO
BALÉ DA CIDADE
Teatro Municipal. Pça. Ramos de
Azevedo, s/n. Estreia hoje (24), 20h.
4ª, 16h; 5ª, 6ª e sáb., 20h; dom., 17h.
R$ 35 / R$ 100. Até 1°/4
Ismael Ivo. ‘O
artista traduz na
sua arte o que
está vivendo’
‘Risco’eareferência
aoartistaBasquiat
GUTO MUNIZ
DO LADO ESQUERDO
DE QUEM SOBE
Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme,
195. Tel.: 3095-9400. Hoje (24/3),
21h. R$ 12 / R$ 40
Culturas. Virtuosismo e romantismo se unem na coreografia
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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2017 Caderno 2 C7

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  • 1. Além da estreia da temporada do grupo no Municipal, diretor Ismael Ivo prevê atividades fora do teatro Mineira Mimulus Cia. apresenta trabalho inspirado no surgimento das músicas e danças populares brasileiras Balé da Cidade fortalece conexões com São Paulo Adriana Del Ré Quando era adolescente, Ismael Ivolembraquepassavanafrente do Teatro Municipal, no centro deSãoPaulo,olhavapara aquele edifício histórico e não imagina- vaqueumdiapoderiaentrarne- le. Negro, de família humilde e morandonazonaleste,Ivofocou naartedadançacomoinspiração e depositou nela todas as suas perspectivasdesonhar,deacredi- tar.Atualmente,aos62anos,co- reógrafo e bailarino consagrado, com uma carreira internacional consolidada nas últimas três dé- cadas,IsmaelIvoéonovodiretor do Balé da Cidade de São Paulo, corpo de 34bailarinos do Teatro Municipal–noexatolugaronde, aliatrás,eleachouquenuncairia conseguirpisar.Oconvitepartiu do secretário da Cultura de São Paulo,AndréSturm. Nopalco,suagestãoseráinau- gurada, assim como a tempora- da 2017 da companhia, com o programa Corpo Cidade, que es- treianestasexta-feira,24,às20h, reunindo duas coreografias: a inédita Risco e a reapresentação de Adastra. “Risco é o primeiro movimento do braço, de iniciar uma obra de arte. Para mim, a dançaéumdocumentodonosso tempo,danossacidade,dereno- vação,dequestionamento,deco- moculturaeartesãoacessíveis”, conceitua Ismael Ivo, que rece- beu o Estado no Municipal – e dizisso com um leve sotaque de quem morou muitos anos fora do País e passou grande parte desse tempo falando os outros cincoidiomasqueaprendeu. Enquanto conta sobre a com- panhia e o trabalho que iniciou comosbailarinos,seusolhosbri- lhamesuasmãos gesticulamno ar de forma quase cênica, entre movimentos suaves e mais con- tundentes. Ivo reforça, a cada momento, a forte relação que o BalédaCidade assumecomSão Pauloapartirdeagora.ERiscojá trava essa conexão com a cida- de. A começar pela inspiração que o espetáculo tem na arte do grafite(leiamaissobreoespetácu- lonoboxaolado).Ivocontaqueo temasurgiujustamentedapolê- micasobrepichaçãoegrafite,lo- go depois que João Doria assu- miu a prefeitura de São Paulo. “Isso é um grande privilégio, nuncaaartedografitefoitãoco- mentadaabertamente.Éummo- mento de ouro para os artistas dografite.Nuncaeles foramtão debatidos, valorizados”, acredi- taIvo.“Estouvoltandoparaami- nhacidade,estouvendoesentin- dooqueéessacidadehoje,oque é importante se discutir, se re- ver, e eu vejo o Balé da Cidade não só produzindo balés, que têmumaimportâncianoseure- pertórioatualoufuturo,masser tambémumorganismoquedia- logacomacidade.” Segundoeleexplica,essarela- ção não envolve apenas levar o público para dentro do teatro, por meio de ensaios abertos e projetos especiais, mas tam- bémlevaracompanhiaparaou- trosespaços públicos,comobi- bliotecas e teatros municipais. “Porexemplo,osbailarinosvão dar oficinas abertas em várias bibliotecas:dedançacontempo- rânea, clássica, moderna. Esta- mos preparando várias oficinas atendendoadolescentes,crian- ças, genitores.” Ao assumir a direção da com- panhia,Ivodizqueseimpressio- noucomoaltoníveldosbailari- nos. E, desde o início, mudou a rotina deles. “Todos os dias, elesfazem ioga, meditação,e só depoisobalé.Eudisseparaeles: achoqueéummomentodedar- mosaoportunidadedezerareaí criar, descobrir coisas novas. O Balé da Cidade, para mim, é um laboratório vivo, em que não só se pesquisa – porque a arte é uma pesquisa constante –, mas quedepoisapresentaumarefle- xão,eissodeuparaacompanhia um novo início”, observa ele. “Os próprios bailarinos disse- ram: sempre fomos encarados como uma elite distante. E hoje eu digo assim: não, vocês têm que viver essa cidade, ver o que está acontecendo. O bailarino não se faz só entre quatro pare- des,segurandonabarradebalé. O artista traduz na sua arte o que eleestá vivendo.” Juliana Ravelli ESPECIAL PARA O ESTADO A origem de músicas e danças brasileiras no século 19 está na rua, ainda hoje, palco essencial para trocas de ideias e criações de artistas populares. É dessa históriaqueamineiraMimulus Cia. de Dança tirou inspiração para criar Do Lado Esquerdo de Quem Sobe, que estará até hoje, às 21h, no Sesc Pinheiros. O coreógrafo Jomar Mesqui- tadesenvolveuaobraem2006. Naquele ano, foi apresentada na Bienal da Dança de Lyon, na França.Em2007,estevenaedi- çãode75anosdoJacob’sPillow Dance Festival, nos Estados Unidos. Há algum tempo sem dançarotrabalho,ogrupodeci- diuremontá-lonoanopassado, quando também passou por ci- dades francesas. Virtuosismo e romantismo se unem para celebrar expres- sões culturais que nasceram após a abolição da escravatura, quando negros tentavam se in- serir em uma sociedade urbana segregadora e agarrada a tradi- çõeseuropeias.Édessamistura quesurgemo choro,o samba,o maxixe. “Apesar de ser inspira- do nesse período, não é um es- petáculodeépoca”,dizMesqui- ta.“Digoqueéparatodososgos- tos. Para quem gosta de samba, de Brasil. Mas não é um Brasil com cara para turistas. É um Brasil contemporâneo.” A trilha é quase toda instru- mental, composta ou executa- da por Yamandú Costa. Aexce- ção é Rosa, de Pixinguinha, gra- vada à capela por João Baptista Mesquita, pai de Jomar. Em 2004, Yamandú havia lançado com Paulo Moura o álbum El Negro del Blanco, que revela a miscigenação nas músicas po- pularesdaAméricaLatina.“Es- seCDédeumariquezamaravi- lhosa.Pegamosmuitasmúsicas dele, mas também outras com- posições”, conta o coreógrafo. Esse encontro entre as dife- rentes culturas também apare- ce nos figurinos e no cenário, inspirado nas calçadas portu- guesas.“Sãocompostasporpe- draspretasebrancasque,coin- cidência ou não, juntam o ne- groeobranco.Elassurgemnes- semesmoperíodoeestãoespa- lhadas pelo País.” E, se tudo acontece nas ruas, umadelasestáespecialmenteli- gada à obra. Na Rua Ituiutaba, em Belo Horizonte, fica a esco- ladedançadesalãocriadapelos pais de Mesquita há 27 anos e que deu origem à companhia profissional em 2000. “A gente está sempre com a porta aberta. As pessoas que passamnarua,àsvezes,param, olhamoensaio.Algumasseani- mam a entrar. É uma relação muito próxima e que nos lem- bra o que ocorria na época em que o samba, o maxixe e o cho- ro surgiram e eram tocados e dançados nos passeios, sob os alpendres, nos quintais, nas portas das casas”, diz Mesqui- ta. “O título vem desse nosso lugar na cidade. Quando a gen- te vai explicar onde a Mimulus está, fala: ‘Você pega a Rua Ituiutaba, continuação da Au- gusto de Lima, e nós estamos ali do lado esquerdo de quem sobe. Outro significado mais metafórico,poético,noladoes- querdo de quem sobe o corpo está o coração.” Espetáculo celebra a arte que nasceu no meio das ruas l Ismael Ivo faz mistério sobre Risco. Não quer entregar tudo an- tes da estreia desta sexta, 24. Vai dando alguns detalhes, a conta- gotas. Ele diz que levou os bailari- nos para o espaço urbano. “Cada um deles escolheu um ponto da cidade onde tinha uma arte do gra- fite e criou uma dança na improvi- sação.” Isso será levado ao pal- co, assim como suas observações da cidade e as referências ao grafi- teiro Jean-Michel Basquiat. O es- petáculo começa com um bailari- no parecido com Basquiat. Como um morador de rua, ele entra no palco e “descobre São Paulo e descobre a arte”. /A.D.R. Dança AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO BALÉ DA CIDADE Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/n. Estreia hoje (24), 20h. 4ª, 16h; 5ª, 6ª e sáb., 20h; dom., 17h. R$ 35 / R$ 100. Até 1°/4 Ismael Ivo. ‘O artista traduz na sua arte o que está vivendo’ ‘Risco’eareferência aoartistaBasquiat GUTO MUNIZ DO LADO ESQUERDO DE QUEM SOBE Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195. Tel.: 3095-9400. Hoje (24/3), 21h. R$ 12 / R$ 40 Culturas. Virtuosismo e romantismo se unem na coreografia %HermesFileInfo:C-7:20170324: O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2017 Caderno 2 C7