Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo apresentam dois balés emotivos: "Lecuona", inspirado nas músicas do cubano Ernesto Lecuona, e "Dança Sinfônica", uma homenagem aos 40 anos do Grupo Corpo com trilha composta especialmente. Os balés expressam os sentimentos latinos de paixão a vingança em "Lecuona" e prestam tributo à história e pessoas da companhia em "Dança Sinfônica".
Dança Sinfônica' e 'Lecuona' celebram memória e emoção no Grupo Corpo
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C8 Caderno 2 QUINTA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2016 O ESTADO DE S. PAULO
Juliana Ravelli
ESPECIAL PARA O ESTADO
Muito se fala sobre como Ro-
drigo Pederneiras conseguiu
criar um vocabulário próprio
paraadançaquetraduzabrasi-
lidade.Oquetalvez,observan-
do mais profundamente, seja
possível perceber é que o co-
reógrafo mineiro transforma
em passos os mais genuínos
dos sentimentos. E são dois de
seus balés mais emotivos, Le-
cuona e Dança Sinfônica, que o
GrupoCorpoexibeapartirdes-
ta quinta-feira (4) no Teatro
Alfa,emSãoPaulo.Asapresen-
tações,queintegramaTempo-
rada de Dança, seguem até o
dia14.Nopróximomês,acom-
panhia, que completou 40
anos em 2015, dança em Belo
Horizonte e no Rio.
Segundo Rodrigo, há pelo
menos seis anos, Lecuona não
era apresentado. O balé, que
estreou originalmente em
2004,enveredou-seporumca-
minho diferente dos trabalhos
que o coreógrafo vinha fazen-
do desde 1992, quando o Cor-
popassouausarapenastrilhas
especialmente compostas.
Nos anos 1980, o jornalista e
crítico de arte João Cândido
Galvão (1937-1995) deu para
Rodrigo uma fita cassete com
músicasdocubanoErnestoLe-
cuona(1895-1963).Afitaestra-
gou.Duranteanos,ocoreógra-
fo tentou encontrar o álbum,
mas não conseguiu.
Vinte anos depois, quando
Rodrigo andava por São Fran-
cisco,nosEstadosUnidos,de-
cidiu entrar na Amoeba Mu-
sic, uma loja independente
com milharesde álbuns novos
e usados, no fim da famosa
Haight Street. “Do nada, me
deparei com um único CD que
tinha lá do Lecuona. Nem ti-
nha muita certeza de que
eram as mesmas canções.
Quando cheguei em casa e vi
que eram, enlouqueci. São
quatro intérpretes diferentes,
mas todas com o próprio Le-
cuonaao piano e tocandocom
a orquestra dele”, recorda.
A missão, em seguida, foi
convencer o irmão Paulo Pe-
derneiras, diretor artístico do
Corpo, que um balé tinha de
nascer dali. Deu certo. “Fize-
mos e foi tão gostoso. Talvez
seja o balé que as pessoas mais
gostem. Acho que é porque ele
pega muita coisa, tem aquele
drama cubano das letras e que,
às vezes, passa do limite e fica
até engraçado. Então, tem um
lado engraçado, um lado que é
muito romântico, um muito
sensual. Mistura um monte de
coisas que acho que deu uma
sopaboa”,afirmaRodrigo.Do-
ze pas de deux manifestam as
diferentes nuances dos amo-
res latinos, da paixão à vingan-
ça. Os casais só se reúnem no
fim, em uma grande valsa.
Celebração. Rodrigo é apaixo-
nado por música. “Desde no-
vo, eu queria mesmo era ser
músico. Acho que não fui por-
que era muito preguiçoso (ri-
sos). Não sei trabalhar sem
música. Aliás, não vivo sem
ela.” E é a música que sempre
guia o coreógrafo durante as
criações. Foi para celebrar os
40anosdo Corpo,no ano pas-
sado,queRodrigoePaulopen-
saram em uma trilha grandio-
sa para Dança Sinfônica. Mar-
co Antônio Guimarães (fun-
dador do grupo Uakti) com-
pôs a obra, gravada pela Or-
questra Filarmônica de Mi-
nas Gerais, sob regência do
maestro Fábio Mechetti.
Obalééumagrandehomena-
gem à memória e tradição da
companhia mineira. Rodrigo
uniu ideias antigas guardadas
na memória e movimentações
novas para criar a coreografia.
Presta alguns tributos a pes-
soas que passaram pelo Corpo
e aos que ainda estão na trupe.
Masquemnãoviveuessasqua-
tro décadas de história dentro
dogrupodificilmentereconhe-
ceessasreferências. O mesmo
ocorrecomocenário,compos-
to por mais de mil fotos – tira-
das por muita gente que este-
ve com a companhia desde
1975.Daplateia,nãoépossível
enxergar os detalhes. É preci-
so estar no palco. Dança Sin-
fônica é uma obra muito pes-
soal e, também por isso, tão
emotiva. Para o público, não é
necessário saber de onde vem
cada passo nem conhecer os
homenageados para sentir-se
parte de tudo aquilo.
No ano passado, o Corpo
também estreou outro balé:
Suíte Branca, de Cassi Abran-
ches. Desde o fim dos anos
1980, Rodrigo era o único co-
reógrafoda companhia. Apau-
lista – que foi bailarina do gru-
po durante 12 anos – é aponta-
da por ele como sua sucessora.
“Aquilo foi só o início de uma
coisa que terá continuidade. O
que não quer dizer que eu vá
cair fora de uma vez. Acho que
éprecisoteresserevezamento
mais progressivo até a coisa se
concretizar. Acho legal a vinda
da‘loirinha’(Cassi),porquees-
tou ficando velho e acabado”,
comenta entre risos.
Planejamento e organização
são duas das características
que fizeram do Corpo a maior
companhia de dança do Brasil.
E, em tempos de crise, é o pro-
fissionalismocomque ogrupo
é administrado que permite
que ele continue criando. “A
gente não quer deixar a coisa
parar. Agora, estamos traba-
lhando com o pessoal da Fun-
dação Dom Cabral, aprenden-
do com eles que sabem admi-
nistrardeverdade.Colocamos
um pessoal aqui dentro e esta-
mos organizando as coisas
mais ainda. A gente tenta não
deixar a peteca cair.”
Até o fim deste ano, o Corpo
vai se apresentar nos Estados
Unidos,Alemanha,Luxembur-
go,França eSuíça. Justamente
por causa da agenda interna-
cionalcheia,desde1999acom-
panhia estreia um balé só a ca-
da dois anos. Segundo Rodri-
go, haverá um novo trabalho
no ano que vem. No entanto,
como o compositor da trilha
aindanãofoidefinido,ocoreó-
grafo não determinou o tema.
Porque, afinal de contas, tudo
depende da música.
Com ‘Dança Sinfônica’ (2015) e ‘Lecuona’
(2004), Rodrigo Pederneiras e o Grupo
Corpo transformam sentimentos em passos
Dança
“I
diota” já foi um elogio. No
seusentidooriginalgregosig-
nificava uma pessoa privada
(não, não uma pessoa vaso sanitá-
rio,vocêsabeoqueeuquerodizer).
Alguém que tinha seus próprios va-
lores e seus próprios caprichos (daí
“idiossincrasia”) independente-
mente dos valores públicos e das
convenções sociais. Com o tempo,
passou-seaenfatizarocontrasteen-
treoprivado,ofechadoemsi,eopúbli-
co, e “idiota” passou a ser o que não
participavadavidacomunitária,poral-
guma deficiência ou por escolha. Co-
mo não participava da vida comunitá-
ria,eraignorante.Vemdaíosentidode
infensoà política eo sentido moderno
de simples, burro ou desligado. Mas,
durante muito tempo, na Grécia anti-
ga,“idiota”eraoque,nãoseinteressan-
do por política, desdenhava da políti-
ca.Oopostodecidadão.Aprimeiravez
que se xingou alguém de “idiota” foi
para criticar suaomissão,pois, para os
gregos,eranaparticipaçãopolíticaque
o homem exercia sua cidadania, assu-
mia sua liberdade e se distinguia dos
servos e dos bichos – e das mulheres,
diga-se de passagem.
CortaparaoBrasildehoje–ou,pen-
sandobem,paraqualquerpaísdomun-
do atual. Idiota, lhe dirá qualquer elei-
tor desencantado, é quem se deixa le-
varpelapolíticaepelospolíticos.Hou-
veummomento,nahistóriarecenteda
humanidade, em que “idiota” perdeu
seu sentido de infenso à política e ga-
nhouseusignificadomodernodeludi-
briadopelapolítica.Nãodáparapreci-
sarquandoissoaconteceu,noBrasil.O
desencantocompolíticostalveztenha
começado,oupelomenosseagravado,
com a renúncia de Jânio Quadros. As
frustrações de hoje são apenas as mais
recentes de uma sucessão de blefes
que foram liquidando com nossas for-
çascívicas.Assimcomoafaltadecalo-
rias vai nos imbecilizando, a privação
política vai nos idiotizando. Muita
gentegostariaderesgatarosignifica-
dooriginaldapalavraparapoderdi-
zer que é idiota no bom sentido, no
sentidodequemsóseinteressapela
administração do próprio umbigo.
“Blefe”,eisoutrapalavrademúlti-
plossentidos.Nopôquer,blefarsig-
nificadaraentenderquesetemcar-
tas na mão que realmente não se
tem.Foradopôquer,oblefeperdea
sua, digamos assim, respeitabilida-
de.Geralmenteéaplicadoapessoas
que não são o que pareciam ser. A
históriapolíticadoBrasiltemsidoa
de um blefe depois de outro.
SEGUNDA-FEIRA
LÚCIA GUIMARÃES
VANESSA BARBARA
TERÇA-FEIRA
HUMBERTO WERNECK
ARNALDO JABOR
QUARTA-FEIRA
ROBERTO DAMATTA
QUINTA-FEIRA
LUIS FERNANDO
VERISSIMO
SEXTA-FEIRA
IGNÁCIO DE LOYOLA
BRANDÃO
MILTON HATOUM
SÁBADO
MARCELO RUBENS
PAIVA
SÉRGIO AUGUSTO
DOMINGO
VERISSIMO
LEANDRO KARNALVERISSIMO
‘Dança
Sinfônica’.
Uma grande
homenagem
à memória e
tradição da
companhia
mineira
Dimensões
do amor
FOTOS JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS/DIVULGAÇÃO
Idiotas
1° Leilão Online
06/08
A partir das 16h
Exposição:
01 a 05 de agosto, das 10 às 18h.
06 de agosto, das 9h às 13h.
Acesse o site para ver as peças e dar seus lances:
www.miltonsayeghleiloes.com.br
Rua Oscar Freire, 213 | 11 3062.2999
ESTÚDIOMEZANINO
GRUPO CORPO
Teatro Alfa. Rua Bento Branco
de Andrade Filho, 722, Santo
Amaro, tel. 5693-4000. 4ª e 5ª,
às 21h; sáb., às 20h; dom., às 18h.
Ingressos: R$ 50/ R$ 150.
Até 14/8. Estreia hoje.
‘Lecuona’.
Um balé
emotivo
nascido das
músicas
do cubano
Ernesto
Lecuona