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C6 Caderno 2 QUINTA-FEIRA, 30 DE MARÇO DE 2017 O ESTADO DE S. PAULO
VEJA TAMBÉM
Cassino
CASINO.(EUA,1995.)DIR.DEMARTINSCORSE-
SE,COMROBERTDENIRO,SHARONSTONE,JOE
PESCI,JAMESWOODS.
Scorsese já ia ladeira abaixo com es-
sa (quase) sequência de Os Bons Com-
panheiros, em que De Niro vai dirigir
cassino em Las Vegas, mas a mulher
e o amigo acabam com ele.
TCM,22H.REPRISE,COLORIDO,182MIN.
INFANTIL
Tartarugas Ninja 2 – Fo-
ras das Sombras
Donatello, Leonardo, Miche-
langelo e Rafael ganham ajuda
de amigos humanos para en-
frentar alienígena que ameaça
destruir Nova York.
TEL. PIPOCA, 18H. COLORIDO, 112 MIN.
No primeiro filme da franquia
dirigido por uma mulher – An-
na Foerster –, Kate Beckinsale
continua espetacular como Se-
lene, a vampira sempre no cen-
tro dos embates entre lobiso-
mens e o seu povo, que a traiu.
Também com Theo James. Vio-
lento, estilizado e chique.
Frankie e Johnny
FRANKIEANDJOHNNY.(EUA,1991.)DIR.
DEGARRYMARSHALL,COMALPACINO,MI-
CHELLEPFEIFFER,HECTORELIZONDO.
A irresistível história de amor do
chapeiro com a garçonete de uma
lanchonete. E com direito a Clair
de Lune na trilha – um verdadeiro
regalo para os românticos.
PARAMOUNT,1H10.REPR.,COL.,118MIN.
MatteoGarronee
otomfantásticode
seuscontosbarrocos
Luis Ferron estreia com Luis Arrieta
o espetáculo ‘Os Corvos’ em SP
No palco,
a morte se
transforma
em poesia
COM POTENTE MÚSICA AO VIVO, ELENCO
MOSTRA O QUE SABE FAZER BEM
Juliana Ravelli
ESPECIAL PARA O ESTADO
Em2006,obailarinoecoreógra-
foLuisFerroniniciouumcami-
nho sem retorno. Ao visitar os
pais idosos, percebeu que eles
estavamchegandopertodofim
da vida. Após pouco mais de
uma década, envelhecimento,
doença e morte se transfor-
mamempoesiacomoespetácu-
lo Os Corvos, que estreia hoje
(30), às 21h, no Sesc Pompeia,
onde segue em curta tempora-
da até 9 de abril.
Ferrondivideopalcocomou-
tro Luis e também veterano da
dança, Arrieta. Ferron conta
queArrieta foisua primeiraop-
ção quando imaginou a obra.
“O trabalho tem uma relação
muito forte com memórias.
Gosto de trabalhar com pes-
soasquetenhamverdadenoas-
sunto.Nãopoderiapegarumjo-
vem para fazer isso. O Arrieta
veio de cara, por toda a admira-
ção que tenho por ele, desde os
anos1980.Semprefoiumarefe-
rência para mim como coreó-
grafo e artista.”
Arrieta e Ferron são mais do
que corvos no palco. Ora são
idosos, ora cuidadores. Tudo
envoltopormuitabelezaedeli-
cadeza. “Os corvos têm essa
fama de pássaros da passa-
gem, da morte, do trânsito en-
tre dois mundos. Era mais ou
menos assim que eu via meus
pais. Mesmo eles estando pre-
sentes, parecia que já pressen-
tiam um outro espaço, um ou-
tro mundo que não apalpavam
ainda. Mas era nítido na rea-
ção deles, em como lidavam
com a vida”, diz Ferron. A mãe
docoreógrafomorreuem2012
e o pai, em 2013.
Exorcismo. Mas Os Corvos não
éumtrabalho sobredor. Ferron
tinha sentido isso durante todo
o processo em que cuidou dos
pais. Conta que estava disposto
aolharparaamortedeumama-
neira diferente, mais natural. A
dançadeFerroneArrieta,acredi-
tamosartistas,serviuparaexor-
cizarosofrimento.
Foram cerca de seis meses de
conversas profundas e trabalho
noestúdioparaconceberOsCor-
vos. Depois dessa experiência,
Ferron afirma que já não chora
mais por perdas. Consegue
olhar para a morte como um
acontecimento inevitável. “É a
certezadequeissoexiste.Éaúlti-
maliçãoquetivedosmeuspais.”
Segundo Arrieta, a morte é
um desses temas intocáveis
que,assimcomoosexo,sãodifí-
ceisdeabordarcomalgunsgru-
pos. Apesar disso, acredita que
ela esteja em todas as obras, di-
reta ou indiretamente. “Se falo
de amor, estou falando de algo
que está vivo e, consequente-
mente,vaideixardeviver”,afir-
ma.“EckhartTolle(escritorale-
mão)pergunta:‘Qualéocontrá-
rio da morte?’. E a pessoa sem-
prerespondequeéavida.Masé
um grande erro. O contrário da
morte é o nascimento. A vida é
infinitaeeterna.Quandopassa-
mos a compreender profunda-
mente isso, não temos mais a
sensação de fim”, diz Arrieta.
OmodocomoArrietaolhapa-
raavidaelevaseusdiaséomes-
mo como encara a morte. Diz
quegosta de sesentir como um
bambu oco e cheio de buracos,
pelo qual o vento passa, produ-
zindomúsica.“Achomaravilho-
sa a capacidade de me esvaziar.
Quanto mais me esvazio, mais
possopermitir.Talvezesseseja
o lado da dança que mais me
cativou sempre”, diz. “Muitos
filósofos falam que, na hora da
passagem, esquecemos para
aprendermos tudo de novo”,
afirma Arrieta.
Comumpianoeumviolonce-
loaovivo,ArrietaeFerrondan-
çam ao som do quarto movi-
mentodaSinfonian.º6,conheci-
da como Patética, a última obra
queTchaikovskiestreou,emou-
tubro de 1893, menos de um
mês antes de morrer. “Patética
vemdapalavrapathos.Usamos
mal a palavra. Usamos patético
comoalgoengraçado,meiover-
gonhoso. Patético é algo que
não teria outro destino a não
ser esse”, diz Arrieta. Na trilha,
háaindaoadágiodoConcertoen
Sol,deMauriceRavel,eaSerena-
ta, de Schubert.
Como artistas – dois dos no-
mes mais importantes da dan-
ça contemporânea no País –,
Ferron e Arrieta talvez tenham
uma percepção mais clara de
como o corpo envelhece. A ex-
periência, no entanto, não os
assombra.Naverdade,osinspi-
ra. “Se luto contra, me dói. Se
aceito,virocriançadenovo.Re-
nasço”, afirma Arrieta. “Para
mim,émuitodivertido.Émara-
vilhoso. É tanto conhecimento
que menos é mais e não tem
tempo para hoje, é para on-
tem”, diz Ferron.
‘Risco’, primeiro passo da nova
identidade do Balé da Cidade
CRÍTICA
‘De Férias
Com o Ex’
MTV/21h
Série
‘Conviction’
Fox Life/22h
DRAMA
‘Sentimentos que Curam’
Cameron é um pai que sofre de
transtorno bipolar e quer re-
conquistar sua ex-esposa Zoe e
as filhas. Emociona do começo
ao fim.
TELECINE PLAY, 2014, 86 MIN.
AÇÃO
‘À Beira do Abismo’
Um ex-policial resolve se ma-
tar pulando de um prédio, en-
quanto a polícia tenta fazer
com que ele desista da decisão.
No meio do processo, porém,
uma policial psicóloga percebe
que há muito mais por trás da
história.
NETFLIX,2012,102MIN.
DRAMA
‘Cidade de Deus’
Clássicodocinemabrasileiro,
CidadedeDeusacompanhaaroti-
naeastransformaçõesdaspes-
soasemumafavelabrasileira.
ITUNES,2002,129MIN.
Matheus Mans
Helena Katz
ESPECIAL PARA O ESTADO
Otemaanunciadoparaatempo-
rada é Corpo Antropofágico e a
obra que a inaugura se chama
Risco, em cartaz até sábado, 1.º,
no Theatro Municipal de São
Paulo, com trilha sonora que
reúne Os Planetas (Marte), de
GustavHolst,eFestasRomanas,
de Otorino Respighi.
Criadaedançadapelosbaila-
rinos do Balé da Cidade de São
Paulo (BCSP), com direção de
Sérgio Ferrara, anuncia a “no-
va identidade” que seu recém-
empossado diretor artístico,
Ismael Ivo, em texto publica-
do no programa de março do
teatro (vendido a R$10) decla-
rapretendernelaconstruir.Se-
gundo ele, trata-se de uma
“inéditainstalaçãocoreográfi-
ca de dança”, que usa o “direi-
to de exercer uma licença poé-
ticadançante”e“transcendeo
mero exercício de estéticas”.
Resguardado o direito a im-
plantaroperfilquedeseja,cabe
considerar o que dele resultou
nesta primeira iniciativa. Em
primeiro lugar, ponderar a res-
peitodo“inédita”,umavezque
a estrutura escolhida para esta
composição(partirdacolabora-
ção criativa dos bailarinos)
ecoa, por exemplo, e quase 20
anos depois, à de Baile na Roça,
Coreografias para Portinari, de
1998,dirigidaporJoséPossiNe-
to no período em que coman-
dou a companhia (1997-1999).
Comdireito,inclusive,aumaes-
pécie de “reedição” da cena do
banho, com cabelos esvoaçan-
do água ao redor.
Todavia,essa não éa questão
central.Oquechamaaatenção
são as fragilidades que jorram
paraforadaclassificaçãoesco-
lhida para a obra. ‘Instalação
coreográfica’ poderia salva-
guardá-la de uma apreciação
que a tratasse como mais uma
produçãodoBCSP.Mastalpos-
sibilidade se inviabiliza por-
que a dramaturgia de Risco se
organiza sobre o entendimen-
to de coreografia que alinhava
asuahistória.Talvezdesejasse
seruma‘instalaçãocoreográfi-
ca’,masnãoguardafamiliarida-
de com esse tipo de produção,
e sim com os hábitos produzi-
dos pelo repertório no qual os
bailarinos têm sido formados.
Assim,oespaçosemantémco-
mo um lugar já dado, a ser
“preenchido” por ações que o
“decoram”,masnãooconfigu-
ram. E as dinâmicas dessas
ações recolhem, aqui e ali, das
concepções coreográficas que
os bailarinos já dançaram. Tu-
do isso poderia ser forte e po-
tente, caso o corpo-tema pro-
metidoentrasseemcenaprati-
cando a antropofagia que, no
entanto, não compareceu.
Como o elenco não demons-
tra familiaridade com propos-
tas de movimento que não re-
produzam demandas técnicas
comasquaistecemseucotidia-
noartístico, cobre-se defragili-
dades que, geralmente, não são
associadas a seu desempenho.
Nesse sentido, o programa
escolhidopodeestaranuncian-
do algo a ser levado em conta,
na medida em que faz coabitar
Risco e o tipo de produção que
vinhapavimentando o percur-
so do Balé da Cidade (Adastra,
de Cayetano Soto, de 2015,
com música de Ezio Bosso).
Apresenta o elenco mostran-
do o que sabe fazer bem e, ao
mesmo tempo, comunica um
“de onde venho, para onde
vou”, mas sem abandonar o
quejáfui.Aguardemosasegun-
da temporada, anunciada para
16 a 25 de junho.
Vale sublinhar a importân-
cia da música ao vivo, condi-
ção importante para o desen-
volvimento artístico de uma
companhia do porte dessa.
Que a continuidade da parce-
ria com a Orquestra Sinfônica
Municipal,regidaporLuisGus-
tavo Petri, se mantenha.
Programa
‘Mulheres’
TV Gazeta/14h
“
Dança Em Cartaz
Luiz Carlos Merten
O Conto dos Contos
TALEOFTALES.(ITÁLIA,2015.)DIR.DEMAT-
TEOGARRONE,COMSALMAHAYEK,JOHNC.
REILLY,VINCENTCASSEL,TOBYJONES.
Duas vezes premiado em Cannes por
filmes realistas como Gomorra e Rea-
lity – A Grande Ilusão, o italiano Garro-
nemudaotomepropõeaquiumaadap-
tação de contos de Giambattista Basi-
le, escritor barroco que viveu no sécu-
lo17.Sãofábulasfantasiosasesangren-
tas sobre rainha que precisa comer o
coração de um monstro para engravi-
dar,umreiqueseapaixonapormulher
misteriosa (e a revelação da identida-
de dela é um choque) e outro rei cujo
sangue alimenta uma mosca que não
para de crescer. A crítica não gostou
muito,atéporqueoaltocustoobrigou
o cineasta a uma coprodução interna-
cional, falada em inglês, mas o visual é
suntuosoevalelembrarqueaabertura
de Reality, com aquela carruagem, já
tinha algo de irreal, ou fantástico, pre-
nunciando esses contos. Garrone ga-
nhou o Oscar italiano, o Prêmio David
di Donatello, de melhor diretor.
TEL. CULT, 22 H. REPR., COLORIDO, 134 MIN,
Filmes na TV Streaming
Na web. Acompanhe
a cobertura cultural do
‘Caderno 2’ na internet
‘O Juízo
Final’
History/22h40
Salma Hayek. A rainha do primeiro conto: obsessão de ser mãe
DVD
O contrário da morte é o
nascimento. A vida é infinita
e eterna. Quando passamos a
compreender isso, não temos
mais a sensação de fim”
Luis Arrieta, BAILARINO
Crianças
estadao.com.br/cultura
Controle
na mão
CLARISSA LAMBERT
OS CORVOS
Sesc Pompeia. Teatro. Rua Clé-
lia, 93, tel. 3871-7700. De 5ª a
sáb., às 21h; dom., às 19h. Ingres-
sos: R$ 6 a R$ 20. Até 9/4.
Arrieta e Ferron. Dois dos nomes mais importantes da dança contemporânea no País
Dança Estreia
ANJOS DA
NOITE 5 –
GUERRAS DE
SANGUE
EUA, 2016.
Sony.
R$ 37,90
RAI CINEMA
BALÉDACIDADEDESÃOPAULO
Teatro Municipal. Praça Ramos
de Azevedo s/nº, tel. 3053-2100.
De 5ª a sáb., às 20h; dom., às 17h.
R$ 35 a R$ 100. Até 1º/4.