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ARTICULAÇÃO TEORIA-PRÁTICA
        ELOGIO DA PRÁTICA COMO FONTE DE TEORIA


                                                            Helena Neves Almeida

     O interesse pelas questões epistemológicas da pesquisa em serviço
social acompanha a ainda recente trajectória de confirmação de uma cultura de
investigação neste domínio. O reconhecimento do grau de licenciatura e o
esforço de formação pós-graduada empreendida a nível nacional a partir dos
anos 80-90 com os cursos de mestrado e de doutoramento, veio impulsionar as
preocupações com a génese, natureza e conceptualização dos conhecimentos
aplicados e produzidos no campo da prática profissional. No entanto, este
empreendimento      é   ainda   residual,   permanecendo      actual   o      discurso
denunciador do fosso existente entre a teoria e a prática. Segundo os
profissionais, as Universidades e Institutos ensinam teoria por vezes de forma
desfasada da realidade de desempenho profissional, sem a necessária
aproximação ao mercado de trabalho e às contingências da prática profissional,
enquanto do lado dos estabelecimentos de ensino se reconhece a necessária
articulação   com   o   campo    da    prática,   através    dos   estágios     e   do
desenvolvimento de espaços teórico-práticos que permitam a partilha de
conhecimentos, mas sempre com o reforço do valor da teoria como guia da
prática. Esta questão não é recente.

     Pesquisas efectuadas no Reino Unido sobre o uso de teorias pelos
práticos sugerem que eles raramente usam uma teoria particular identificável,
mas sim uma “teoria prática” (Banks, 1995, 52), isto é, conhecimento
apreendido da prática e partes de corpos teóricos e técnicos adquiridos no
trabalho (Curnock e Hardicker, 1979; Roberts, 1990). As actividades e os
papéis são tão variados e os contextos tão diversos, que é difícil estabelecer
um corpo teórico único para a intervenção social. Interessa, pois, saber se o
trabalhador social se reduz a um mero utilizador de conhecimentos, ou até que
ponto os conhecimentos teóricos influenciam a sua prática reflexiva (Schön,
1987) e empenhada (Ronnby, 1992), contribuindo dessa maneira para a
produção de novos conhecimentos. Colocam-se então várias questões, que
importa analisar:

      I - Qual a relação entre teoria e prática no processo de intervenção
social?
      II – Quais as características da prática profissional em serviço
social?
      III - Em que medida a prática se constitui como fonte de teoria?

      A responsabilidade das instituições universitárias na confirmação
(afirmação, desenvolvimento e consolidação) de uma “cultura de investigação”
que aproxime os discursos da teoria e da prática é acrescida, fazendo e
ensinando a fazer investigação, superando os limites da esfera universitária e
investindo numa interacção com a esfera profissional. A relação com o campo
da intervenção permite renovar conhecimentos, aproximar estratégias e
valorizar saberes.



                                  NOTA BIOGRÁFICA

        Helena Neves Almeida é licenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior de
Serviço Social de Coimbra. Em 1996 obteve o título de Mestre em Psicologia , área de
especialização em Psicologia Pedagógica, na Faculdade de Psicologia e Ciências da
Educação da Universidade de Coimbra, com a dissertação “Concepções Educativas Parentais
e Aproveitamento Escolar: Um estudo no Concelho de Coimbra”, e em 2000 doutorou-se em
Letras, Trabalho Social, na Universidade de Fribourg, Suiça, com a tese “Conceptions et
Pratiques de la Médiation Sociale. Les modèles de médiation dans le quotidien professionnel
des assistants sociaux" (publicada).
        É professora desde 1976, primeiro no Instituto Superior de Serviço Social de Coimbra e
actualmente no Instituto Superior Bissaya-Barreto. Da sua experiência académica constam
actividades diversas, desde a leccionação à coordenação científica em cursos de formação
superior de base e pós-graduada em Serviço Social e Ciências Sociais, à coordenação geral e
supervisão de estágios (nas áreas da educação e da saúde) e coordenação de investigação,
dedicando-se à orientação de pesquisas no domínio das lógicas e procedimentos de
intervenção social. Possui diversa produção escrita, de onde se salientam os trabalhos mais
recentes no domínio da Mediação. Actualmente é também Investigadora do Centro Europeu de
Investigação em Condutas e Instituições (CEICI) e Presidente do Conselho Pedagógico do
Instituto Superior Bissaya-Barreto.

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Articulação teoria prática- resumo

  • 1. ARTICULAÇÃO TEORIA-PRÁTICA ELOGIO DA PRÁTICA COMO FONTE DE TEORIA Helena Neves Almeida O interesse pelas questões epistemológicas da pesquisa em serviço social acompanha a ainda recente trajectória de confirmação de uma cultura de investigação neste domínio. O reconhecimento do grau de licenciatura e o esforço de formação pós-graduada empreendida a nível nacional a partir dos anos 80-90 com os cursos de mestrado e de doutoramento, veio impulsionar as preocupações com a génese, natureza e conceptualização dos conhecimentos aplicados e produzidos no campo da prática profissional. No entanto, este empreendimento é ainda residual, permanecendo actual o discurso denunciador do fosso existente entre a teoria e a prática. Segundo os profissionais, as Universidades e Institutos ensinam teoria por vezes de forma desfasada da realidade de desempenho profissional, sem a necessária aproximação ao mercado de trabalho e às contingências da prática profissional, enquanto do lado dos estabelecimentos de ensino se reconhece a necessária articulação com o campo da prática, através dos estágios e do desenvolvimento de espaços teórico-práticos que permitam a partilha de conhecimentos, mas sempre com o reforço do valor da teoria como guia da prática. Esta questão não é recente. Pesquisas efectuadas no Reino Unido sobre o uso de teorias pelos práticos sugerem que eles raramente usam uma teoria particular identificável, mas sim uma “teoria prática” (Banks, 1995, 52), isto é, conhecimento apreendido da prática e partes de corpos teóricos e técnicos adquiridos no trabalho (Curnock e Hardicker, 1979; Roberts, 1990). As actividades e os papéis são tão variados e os contextos tão diversos, que é difícil estabelecer um corpo teórico único para a intervenção social. Interessa, pois, saber se o trabalhador social se reduz a um mero utilizador de conhecimentos, ou até que ponto os conhecimentos teóricos influenciam a sua prática reflexiva (Schön, 1987) e empenhada (Ronnby, 1992), contribuindo dessa maneira para a
  • 2. produção de novos conhecimentos. Colocam-se então várias questões, que importa analisar: I - Qual a relação entre teoria e prática no processo de intervenção social? II – Quais as características da prática profissional em serviço social? III - Em que medida a prática se constitui como fonte de teoria? A responsabilidade das instituições universitárias na confirmação (afirmação, desenvolvimento e consolidação) de uma “cultura de investigação” que aproxime os discursos da teoria e da prática é acrescida, fazendo e ensinando a fazer investigação, superando os limites da esfera universitária e investindo numa interacção com a esfera profissional. A relação com o campo da intervenção permite renovar conhecimentos, aproximar estratégias e valorizar saberes. NOTA BIOGRÁFICA Helena Neves Almeida é licenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior de Serviço Social de Coimbra. Em 1996 obteve o título de Mestre em Psicologia , área de especialização em Psicologia Pedagógica, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com a dissertação “Concepções Educativas Parentais e Aproveitamento Escolar: Um estudo no Concelho de Coimbra”, e em 2000 doutorou-se em Letras, Trabalho Social, na Universidade de Fribourg, Suiça, com a tese “Conceptions et Pratiques de la Médiation Sociale. Les modèles de médiation dans le quotidien professionnel des assistants sociaux" (publicada). É professora desde 1976, primeiro no Instituto Superior de Serviço Social de Coimbra e actualmente no Instituto Superior Bissaya-Barreto. Da sua experiência académica constam actividades diversas, desde a leccionação à coordenação científica em cursos de formação superior de base e pós-graduada em Serviço Social e Ciências Sociais, à coordenação geral e supervisão de estágios (nas áreas da educação e da saúde) e coordenação de investigação, dedicando-se à orientação de pesquisas no domínio das lógicas e procedimentos de intervenção social. Possui diversa produção escrita, de onde se salientam os trabalhos mais recentes no domínio da Mediação. Actualmente é também Investigadora do Centro Europeu de Investigação em Condutas e Instituições (CEICI) e Presidente do Conselho Pedagógico do Instituto Superior Bissaya-Barreto.