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O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler – 3ºPERÍODO
O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler é um livro intenso, pois, para
além da violência que foi a matança de cerca de dois mil cristãos-novos no Rossio, na
Páscoa de 1506, sente-se o medo, a desconfiança, o cheiro do lixo e da sujidade da
cidade de Lisboa. Sente-se o fumo das fogueiras da Inquisição quando aqueles judeus
que haviam sido forçados a converter-se terem sido queimados e terem sido os
primeiros a conhecer, com a morte, o ódio da intolerância. Sente-se violência inaudita
e gratuita, quando homens, cães e abutres disputam os cadáveres. Um livro tão realista
que me cativou desde a primeira página.
O relato que constitui este livro é feito a partir de uns manuscritos encontrados
numa velha casa de Istambul onde se fala do massacre de Lisboa de 1506. Neles conta-
se a odisseia vivida pela família de Berequias Zarco naquele período de convulsão.
Então, Berequias, Pedro por batismo forçado, um dos sobreviventes do massacre
do Rossio, decidiu fugir para Constantinopla quando percebeu que em Portugal não
havia futuro para si e para a sua família, pelo facto de serem judeus. O relato escrito
dessa terrível experiência em Lisboa esteve interrompido durante vários anos, mas em
1530 quis terminá-lo quando decidiu regressar a Lisboa, na sequência de uma visão do
seu grande mestre, o tio Abraão Zarco.
A narrativa gira em torno de um clima tenso e sufocante, pois assiste-se à história
da matança dos judeus de Lisboa, dos judeus anónimos, mas também dos amigos,
vizinhos, familiares de Berequias, mas, sobretudo, a estranha morte do tio Abraão Zarco,
respeitado membro da escola cabalística de Lisboa e com quem Berequias trabalhava
decorando com iluminuras os manuscritos que a tia Ester copiava.
Berequias não descansa enquanto não resolve o enigma da morte do tio. Quem
poderia ter morto aquele homem encontrado sem vida com uma jovem na cave, que
servia de templo secreto desde que a sinagoga fora encerrada? Ali, onde faziam as
iluminuras e os rituais da sua religião? As respostas a estas questões fizeram-me querer
ler rapidamente para poder desvendar o enigma de Berequias, mas, ao mesmo tempo,
também a minha curiosidade. Portanto, só poderia ter sido alguém muito próximo que
conhecia aquele espaço secreto, um traidor que roubara um valioso manuscrito
iluminado, o assassino do tio e da rapariga? E qual a relação entre os dois? Berequias e
o seu melhor amigo Farid, um surdo mudo com quem se relaciona através de gestos, é
o interlocutor que lhe permite comunicar de forma mais profunda e é o seu aliado mais
perspicaz na busca do caminho para descobrir o enigma da morte do tio.
Abraão aparece morto num esconderijo secreto, conhecido apenas por um
restrito círculo de iniciados na Cabala, degolado de uma forma ritual só conhecida pelos
judeus. De imediato, Berequias coloca de lado a hipótese cristã e dirige as suas
desconfianças para o diminuto grupo de iniciados. As suas investigações levam-no a
descobrir que o tio, pressentindo a violência que se abateria sobre os portugueses de
confissão judaica, se dedicava a fazer sair do país, através de uma rede de passadores
clandestinos, importantes manuscritos para a fé hebraica. Desvenda, então, que é um
destes contrabandistas que, por dinheiro e medo, trai e mata o velho Abraão.
Consequentemente, Berequias, no processo dos motins e da matança no Rossio,
perde a fé em Deus e nos homens. A perda do tio, o desaparecimento do irmãozinho
Judas cujo rasto nunca se chegou a conhecer, o confronto com a fragilidade da vida em
condições de violência extrema contra a sua comunidade que o obriga a fugir com a
família levam-no à descrença. No final, ele afirma “Muita da minha fé evadiu-se-me
juntamente com o sangue de meu tio”, por isso afirma mesmo que “sente-se como uma
árvore cujos ramos principais foram cortados por um cutelo”. Com a família que lhe
restava foge de Portugal e acaba os seus dias em Constantinopla.
Em suma, importa destacar que este livro decorre numa época da História
portuguesa que envergonha qualquer cidadão provido do mais elementar sentido de
justiça, pois considero inaceitável a violência e a intolerância religiosa da época, tendo
mesmo provocado em mim algum desconforto. Infelizmente, evidencia um claro retrato
histórico e rigoroso de uma época que marcou o nosso país. Uma memória sobre a
intolerância religiosa.
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  • 1. O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler – 3ºPERÍODO O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler é um livro intenso, pois, para além da violência que foi a matança de cerca de dois mil cristãos-novos no Rossio, na Páscoa de 1506, sente-se o medo, a desconfiança, o cheiro do lixo e da sujidade da cidade de Lisboa. Sente-se o fumo das fogueiras da Inquisição quando aqueles judeus que haviam sido forçados a converter-se terem sido queimados e terem sido os primeiros a conhecer, com a morte, o ódio da intolerância. Sente-se violência inaudita e gratuita, quando homens, cães e abutres disputam os cadáveres. Um livro tão realista que me cativou desde a primeira página. O relato que constitui este livro é feito a partir de uns manuscritos encontrados numa velha casa de Istambul onde se fala do massacre de Lisboa de 1506. Neles conta- se a odisseia vivida pela família de Berequias Zarco naquele período de convulsão. Então, Berequias, Pedro por batismo forçado, um dos sobreviventes do massacre do Rossio, decidiu fugir para Constantinopla quando percebeu que em Portugal não havia futuro para si e para a sua família, pelo facto de serem judeus. O relato escrito dessa terrível experiência em Lisboa esteve interrompido durante vários anos, mas em 1530 quis terminá-lo quando decidiu regressar a Lisboa, na sequência de uma visão do seu grande mestre, o tio Abraão Zarco. A narrativa gira em torno de um clima tenso e sufocante, pois assiste-se à história da matança dos judeus de Lisboa, dos judeus anónimos, mas também dos amigos, vizinhos, familiares de Berequias, mas, sobretudo, a estranha morte do tio Abraão Zarco, respeitado membro da escola cabalística de Lisboa e com quem Berequias trabalhava decorando com iluminuras os manuscritos que a tia Ester copiava. Berequias não descansa enquanto não resolve o enigma da morte do tio. Quem poderia ter morto aquele homem encontrado sem vida com uma jovem na cave, que servia de templo secreto desde que a sinagoga fora encerrada? Ali, onde faziam as iluminuras e os rituais da sua religião? As respostas a estas questões fizeram-me querer ler rapidamente para poder desvendar o enigma de Berequias, mas, ao mesmo tempo, também a minha curiosidade. Portanto, só poderia ter sido alguém muito próximo que conhecia aquele espaço secreto, um traidor que roubara um valioso manuscrito iluminado, o assassino do tio e da rapariga? E qual a relação entre os dois? Berequias e
  • 2. o seu melhor amigo Farid, um surdo mudo com quem se relaciona através de gestos, é o interlocutor que lhe permite comunicar de forma mais profunda e é o seu aliado mais perspicaz na busca do caminho para descobrir o enigma da morte do tio. Abraão aparece morto num esconderijo secreto, conhecido apenas por um restrito círculo de iniciados na Cabala, degolado de uma forma ritual só conhecida pelos judeus. De imediato, Berequias coloca de lado a hipótese cristã e dirige as suas desconfianças para o diminuto grupo de iniciados. As suas investigações levam-no a descobrir que o tio, pressentindo a violência que se abateria sobre os portugueses de confissão judaica, se dedicava a fazer sair do país, através de uma rede de passadores clandestinos, importantes manuscritos para a fé hebraica. Desvenda, então, que é um destes contrabandistas que, por dinheiro e medo, trai e mata o velho Abraão. Consequentemente, Berequias, no processo dos motins e da matança no Rossio, perde a fé em Deus e nos homens. A perda do tio, o desaparecimento do irmãozinho Judas cujo rasto nunca se chegou a conhecer, o confronto com a fragilidade da vida em condições de violência extrema contra a sua comunidade que o obriga a fugir com a família levam-no à descrença. No final, ele afirma “Muita da minha fé evadiu-se-me juntamente com o sangue de meu tio”, por isso afirma mesmo que “sente-se como uma árvore cujos ramos principais foram cortados por um cutelo”. Com a família que lhe restava foge de Portugal e acaba os seus dias em Constantinopla. Em suma, importa destacar que este livro decorre numa época da História portuguesa que envergonha qualquer cidadão provido do mais elementar sentido de justiça, pois considero inaceitável a violência e a intolerância religiosa da época, tendo mesmo provocado em mim algum desconforto. Infelizmente, evidencia um claro retrato histórico e rigoroso de uma época que marcou o nosso país. Uma memória sobre a intolerância religiosa.