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Janusz Korczak
(por Sarita Mucinic Sarue – USP, 2011)
Filho de Joseph e Cecília, Henryk Goldszmit, nasceu em Varsóvia no dia 22 de Julho de
1878, quando a Polônia estava sob domínio russo. Foi educado por tutores dentro do
próprio lar até os sete anos, como era costume em alguns círculos restritos. Em seguida
foi estudar na escola russa elementar, onde era proibido estudar história e língua
polonesa. O sistema de educação nas escolas era autoritário e punitivo, permitia que os
alunos sofressem periodicamente agressões físicas, como puxões de orelha ou
espancamentos com régua pelo professor.
Henryk morava numa casa grande em umas das ruas mais nobres de Varsóvia. Seu lar
era constituído, em sua maioria, por mulheres: a mãe, a irmã menor, a avó materna, a
cozinheira, a arrumadeira e a babá.
Henryk e sua irmã Anna eram proibidos de brincar na rua, pois a mãe não considerava
esse comportamento adequado para crianças educadas e de bons modos.
Trancado em casa, Henryk ficava horas brincando com seus cubos de brinquedo ou
apreciando pela janela a liberdade das outras crianças brincando no pátio. O que seus pais
não sabiam era que Henryk com seu brinquedo de cubos estava construindo as torres que
no futuro iriam aparecer em seu livro O Rei Mateuzinho I, escrito em 1922.1
Eu era uma criança que "pode brincar horas a fio sozinha", a criança que "nem se sabe se
está em casa". Recebi os meus primeiros cubos aos seis anos e deixei de brincar com eles
ao quatorze. "Como, você não tem vergonha? Um rapaz da sua idade? Faça alguma coisa...
leia. Mas os cubos, ah que coisa!" Aos quinze anos fui tomado de uma fúria de leitura. Não vi
mais nada, só existiam livros.
De sua avó, Henryk recebia o carinho e o suporte de que necessitava e com ela dividia os
sonhos e revelava os pensamentos. Ela faleceu quando ele tinha quatorze anos e a família
passava por momentos difíceis devido à instabilidade emocional de seu pai. A
desestabilização familiar, ocasionada pela ausência do pai, que foi internado várias vezes
num sanatório, fez com que Henryk mergulhasse no mundo da imaginação e buscasse
consolo no túmulo da sua avó materna no cemitério judaico. Aos cinco anos, confidenciou
seus pensamentos a avó:
Papai tinha razão quando me chamou de boboca ou de simplório ou mesmo, nos momentos
particularmente tempestuosos, de imbecil ou de burro. A vovó era a única a acreditar na
minha boa estrela. Senão era sempre "preguiçoso", "chorão", "idiota", "imprestável". Eles
tinham razão, os dois, vovô e papai. Cada um pela metade. Voltaremos a falar disto.
Preguiçoso... Isto confere. Não gosto de escrever. Pensar sim, isto não me causa
dificuldade. É como se contasse histórias para mim mesmo. [...] Vovó "dizia quando me dava
uvas passas: - Você é meu filósofo."
E:
Parece que à essa altura já a iniciei, numa conversa a dois, no meu audacioso projeto,
visando a transformação do mundo. Era preciso jogar fora todo o dinheiro. Nem mais nem
menos. Como e onde jogar, o que fazer dele em seguida, eu não devia, sem duvida, saber.
Tinha então só cinco anos e o problema era de uma gravidade incômoda: o que fazer para
que não existam mais crianças sujas, esfarrapadas, esfomeadas, com quem não se tinha o
direito de brincar no pátio onde, sob a castanheira, em uma velha caixa de bombons,
repousava o primeiro morto entre meus próximos, e bem-amado amigo: o canário. Sua
morte me revelou a existência do misterioso problema da confissão.
1
Fábula infantil publicada em 1928, em que Korczak conta a história de um príncipe que, ainda menino, após a morte dos
pais, se torna rei. Na condição de rei não pode mais ter um comportamento infantil e fica, de sua janela, admirando as
crianças brincar livremente pelo jardim. No seu reinado, dispõe-se a reformar o reino em benefício das crianças e dos
adultos. Travando batalhas corajosas contra as injustiças, depara-se com sua inexperiência e ingenuidade. Sob a ótica de
uma criança, o enredo da história revela as várias decepções sofridas pelo rei Mateuzinho ao confiar nos adultos.
O primeiro contato com a sua judeidade ocorreu aos cinco anos, durante o episódio da
morte de seu canário. O que ocorreu ao menino na sequência do evento o fez entender que
ele, como judeu, seria sempre considerado inferior a quem era católico. A confissão
relatada acima e decorrente da revelação de sua religião por outra criança, acidentalmente
trazendo a tona, pela primeira vez, o dilema de ser judeu num país católico.
Eu quis colocar uma cruz no túmulo. A empregada disse que não, porque era um pássaro,
portanto bem inferior ao homem. Chorá-lo já era um pecado. Eis aí a empregada. Mas o que
o filho do zelador disse era bem pior: o canário era judeu. E eu também. Eu era judeu e ele,
polonês e católico. Ele estará um dia no paraíso; quanto a mim, com a condição de nunca
pronunciar palavras feias e levar-lhe docilmente açúcar furtado em casa, poderei entrar,
após a minha morte, em alguma coisa que não propriamente o inferno, mas onde, de toda
forma, é muito escuro. E eu tive medo do escuro. A morte - judeu - o inferno. O escuro
paraíso judeu. Dava o que pensar.
Henryk foi transferido para o ginásio russo, localizado em um subúrbio de Varsóvia, na
margem direita do rio Vistula. Não era mais uma escola de elite, já que os recursos
financeiros da família haviam sido direcionados para o tratamento psiquiátrico do pai. No
Diário do Gueto (1986), Korczak, que leu os clássicos da literatura polonesa e universal,
escreveu que a leitura foi um alento, nessa fase da vida, ele se refugiava na leitura e em
composições literárias, como as Confissões de uma Borboleta, texto romântico publicado
em 1914, com estrutura de diário pessoal:
Eu sou uma borboleta bêbada com a vida. Eu não sei onde subir, mas não permitirei que a
vida prenda minhas asas coloridas.
Em 1896, após a morte prematura do pai aos 52 anos, por suspeita de suicídio, Henryk foi
obrigado a ajudar financeiramente no sustento da casa, passando a dar aulas particulares.
Descobriu que gostava de ensinar as crianças e tinha facilidade para isso. A perda lenta e
trágica do pai foi um trauma que Korczak trouxe consigo por quase toda vida, conforme está
descrito em seu livro Diário do gueto:
A minha vida foi difícil, mas interessante. É o tipo de vida que pedi a Deus na minha
mocidade: "Meu Deus, conceda-me uma vida dura, mas bela, rica e elevada". Quando
soube que Slowacki já era autor da mesma oração, sofri assim a ideia não era minha, eu tive
um predecessor. Na idade de dezessete anos comecei a odiar a vida por medo de
enlouquecer. Tive medo que parecia pânico do hospital psiquiátrico onde meu pai foi várias
vezes internado. Filho de um alienado, eu era, pois, portador de uma tara hereditária.
Durante dezenas de anos essa ideia voltou a me atormentar periodicamente e me atormenta
ate hoje. Mas eu gosto demais da minha loucura para não ficar apavorado ante a ideia de
que alguém queira curar-me contra a minha vontade.
Atuação profissional
Entre a escola e o trabalho Henryk tinha pouco tempo para si e escreveu em seu diário,
publicado posteriormente com o título de Confissões de uma Borboleta (1914), que ele não
aspirava a ser escritor, mas desejava ser médico. Sua justificativa era de que a literatura
era apenas palavras enquanto a medicina era ação. Mesmo assim, escreveu textos sobre o
público infantil, que posteriormente foram publicados no semanário Thorns. Em 1898,
ingressou na Universidade de Medicina de Varsóvia, um privilégio conquistado por um
círculo restrito de judeus devido às leis antissemitas. Havia cotas para o ingresso de judeus
nas faculdades, e, segundo Claudie Weill (2010, p.212), a questão do ingresso dos jovens
judeus poloneses em liceus e universidades era uma das novas iniciativas em resposta à
Haskalá, pois, para participar da sociedade, era necessário ter formação em carreiras como
Medicina, Direito, entre outras.
Na Universidade, Henryk passou a ser conhecido pelo pseudônimo de Janusz Korczak.
Goldszmit escolheu este pseudônimo aos vinte anos, quando se inscreveu num concurso
literário com uma peça teatral intitulada: "Que caminho?".
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Janusz Korczak: Uma vida dedicada às crianças

  • 1. Janusz Korczak (por Sarita Mucinic Sarue – USP, 2011) Filho de Joseph e Cecília, Henryk Goldszmit, nasceu em Varsóvia no dia 22 de Julho de 1878, quando a Polônia estava sob domínio russo. Foi educado por tutores dentro do próprio lar até os sete anos, como era costume em alguns círculos restritos. Em seguida foi estudar na escola russa elementar, onde era proibido estudar história e língua polonesa. O sistema de educação nas escolas era autoritário e punitivo, permitia que os alunos sofressem periodicamente agressões físicas, como puxões de orelha ou espancamentos com régua pelo professor. Henryk morava numa casa grande em umas das ruas mais nobres de Varsóvia. Seu lar era constituído, em sua maioria, por mulheres: a mãe, a irmã menor, a avó materna, a cozinheira, a arrumadeira e a babá. Henryk e sua irmã Anna eram proibidos de brincar na rua, pois a mãe não considerava esse comportamento adequado para crianças educadas e de bons modos. Trancado em casa, Henryk ficava horas brincando com seus cubos de brinquedo ou apreciando pela janela a liberdade das outras crianças brincando no pátio. O que seus pais não sabiam era que Henryk com seu brinquedo de cubos estava construindo as torres que no futuro iriam aparecer em seu livro O Rei Mateuzinho I, escrito em 1922.1 Eu era uma criança que "pode brincar horas a fio sozinha", a criança que "nem se sabe se está em casa". Recebi os meus primeiros cubos aos seis anos e deixei de brincar com eles ao quatorze. "Como, você não tem vergonha? Um rapaz da sua idade? Faça alguma coisa... leia. Mas os cubos, ah que coisa!" Aos quinze anos fui tomado de uma fúria de leitura. Não vi mais nada, só existiam livros. De sua avó, Henryk recebia o carinho e o suporte de que necessitava e com ela dividia os sonhos e revelava os pensamentos. Ela faleceu quando ele tinha quatorze anos e a família passava por momentos difíceis devido à instabilidade emocional de seu pai. A desestabilização familiar, ocasionada pela ausência do pai, que foi internado várias vezes num sanatório, fez com que Henryk mergulhasse no mundo da imaginação e buscasse consolo no túmulo da sua avó materna no cemitério judaico. Aos cinco anos, confidenciou seus pensamentos a avó: Papai tinha razão quando me chamou de boboca ou de simplório ou mesmo, nos momentos particularmente tempestuosos, de imbecil ou de burro. A vovó era a única a acreditar na minha boa estrela. Senão era sempre "preguiçoso", "chorão", "idiota", "imprestável". Eles tinham razão, os dois, vovô e papai. Cada um pela metade. Voltaremos a falar disto. Preguiçoso... Isto confere. Não gosto de escrever. Pensar sim, isto não me causa dificuldade. É como se contasse histórias para mim mesmo. [...] Vovó "dizia quando me dava uvas passas: - Você é meu filósofo." E: Parece que à essa altura já a iniciei, numa conversa a dois, no meu audacioso projeto, visando a transformação do mundo. Era preciso jogar fora todo o dinheiro. Nem mais nem menos. Como e onde jogar, o que fazer dele em seguida, eu não devia, sem duvida, saber. Tinha então só cinco anos e o problema era de uma gravidade incômoda: o que fazer para que não existam mais crianças sujas, esfarrapadas, esfomeadas, com quem não se tinha o direito de brincar no pátio onde, sob a castanheira, em uma velha caixa de bombons, repousava o primeiro morto entre meus próximos, e bem-amado amigo: o canário. Sua morte me revelou a existência do misterioso problema da confissão. 1 Fábula infantil publicada em 1928, em que Korczak conta a história de um príncipe que, ainda menino, após a morte dos pais, se torna rei. Na condição de rei não pode mais ter um comportamento infantil e fica, de sua janela, admirando as crianças brincar livremente pelo jardim. No seu reinado, dispõe-se a reformar o reino em benefício das crianças e dos adultos. Travando batalhas corajosas contra as injustiças, depara-se com sua inexperiência e ingenuidade. Sob a ótica de uma criança, o enredo da história revela as várias decepções sofridas pelo rei Mateuzinho ao confiar nos adultos.
  • 2. O primeiro contato com a sua judeidade ocorreu aos cinco anos, durante o episódio da morte de seu canário. O que ocorreu ao menino na sequência do evento o fez entender que ele, como judeu, seria sempre considerado inferior a quem era católico. A confissão relatada acima e decorrente da revelação de sua religião por outra criança, acidentalmente trazendo a tona, pela primeira vez, o dilema de ser judeu num país católico. Eu quis colocar uma cruz no túmulo. A empregada disse que não, porque era um pássaro, portanto bem inferior ao homem. Chorá-lo já era um pecado. Eis aí a empregada. Mas o que o filho do zelador disse era bem pior: o canário era judeu. E eu também. Eu era judeu e ele, polonês e católico. Ele estará um dia no paraíso; quanto a mim, com a condição de nunca pronunciar palavras feias e levar-lhe docilmente açúcar furtado em casa, poderei entrar, após a minha morte, em alguma coisa que não propriamente o inferno, mas onde, de toda forma, é muito escuro. E eu tive medo do escuro. A morte - judeu - o inferno. O escuro paraíso judeu. Dava o que pensar. Henryk foi transferido para o ginásio russo, localizado em um subúrbio de Varsóvia, na margem direita do rio Vistula. Não era mais uma escola de elite, já que os recursos financeiros da família haviam sido direcionados para o tratamento psiquiátrico do pai. No Diário do Gueto (1986), Korczak, que leu os clássicos da literatura polonesa e universal, escreveu que a leitura foi um alento, nessa fase da vida, ele se refugiava na leitura e em composições literárias, como as Confissões de uma Borboleta, texto romântico publicado em 1914, com estrutura de diário pessoal: Eu sou uma borboleta bêbada com a vida. Eu não sei onde subir, mas não permitirei que a vida prenda minhas asas coloridas. Em 1896, após a morte prematura do pai aos 52 anos, por suspeita de suicídio, Henryk foi obrigado a ajudar financeiramente no sustento da casa, passando a dar aulas particulares. Descobriu que gostava de ensinar as crianças e tinha facilidade para isso. A perda lenta e trágica do pai foi um trauma que Korczak trouxe consigo por quase toda vida, conforme está descrito em seu livro Diário do gueto: A minha vida foi difícil, mas interessante. É o tipo de vida que pedi a Deus na minha mocidade: "Meu Deus, conceda-me uma vida dura, mas bela, rica e elevada". Quando soube que Slowacki já era autor da mesma oração, sofri assim a ideia não era minha, eu tive um predecessor. Na idade de dezessete anos comecei a odiar a vida por medo de enlouquecer. Tive medo que parecia pânico do hospital psiquiátrico onde meu pai foi várias vezes internado. Filho de um alienado, eu era, pois, portador de uma tara hereditária. Durante dezenas de anos essa ideia voltou a me atormentar periodicamente e me atormenta ate hoje. Mas eu gosto demais da minha loucura para não ficar apavorado ante a ideia de que alguém queira curar-me contra a minha vontade. Atuação profissional Entre a escola e o trabalho Henryk tinha pouco tempo para si e escreveu em seu diário, publicado posteriormente com o título de Confissões de uma Borboleta (1914), que ele não aspirava a ser escritor, mas desejava ser médico. Sua justificativa era de que a literatura era apenas palavras enquanto a medicina era ação. Mesmo assim, escreveu textos sobre o público infantil, que posteriormente foram publicados no semanário Thorns. Em 1898, ingressou na Universidade de Medicina de Varsóvia, um privilégio conquistado por um círculo restrito de judeus devido às leis antissemitas. Havia cotas para o ingresso de judeus nas faculdades, e, segundo Claudie Weill (2010, p.212), a questão do ingresso dos jovens judeus poloneses em liceus e universidades era uma das novas iniciativas em resposta à Haskalá, pois, para participar da sociedade, era necessário ter formação em carreiras como Medicina, Direito, entre outras. Na Universidade, Henryk passou a ser conhecido pelo pseudônimo de Janusz Korczak. Goldszmit escolheu este pseudônimo aos vinte anos, quando se inscreveu num concurso literário com uma peça teatral intitulada: "Que caminho?". ...