1. ALIMENTAÇÃO DO LACTENTE
O conhecimento correto e atualizado sobre a alimentação da criança é essencial para a
avaliação e a orientação adequadas sobre sua nutrição.
A alimentação saudável deve possibilitar crescimento e desenvolvimento adequados,
otimizar o funcionamento de órgãos, sistemas e aparelhos e atuar na prevenção de doenças
em curto e longo prazo (p. ex., anemia, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis).
O leite materno é produzido especificamente para atender as necessidades nutricionais e
afetivas da criança, pois protege a criança de doenças infecciosas e diarreias permitindo o
desenvolvimento mais saudável do bebê. Além disso, o ato de amamentar representa a
ocasião em que o bebê se encontra envolvido nas delícias do afeto da mãe, recebendo amor,
carinho e proteção. Se o bebê estiver em aleitamento materno, não há necessidade de se
utilizar água, chás ou quaisquer alimentos diversos até que se complete 6 meses de idade.
Caso seja introduzido o leite artificial, pode-se iniciar a oferta de água nos intervalos das
mamadas. Nesse caso também, inicia-se a oferta de outros alimentos a partir dos 4 meses de
idade.
Idealmente o lactente (que é a criança após os primeiros 28 dias de vida (recém-nascido)
até completar o segundo ano de idade (24 meses). Que ainda mama nos seios) até os seis
meses deverá alimentar-se apenas de leite materno, mas se por algum motivo isso não é
possível, pode-se utilizar as fórmulas lácteas (leite artificial).
O bebê deve mamar sob livre demanda, ou seja, todas as vezes que quiser, sem horários
fixos ou determinados. Depois de ele esvaziar o primeiro peito, a mãe deve oferecer-lhe o
segundo; o completo esvaziamento da mama assegura a manutenção do estímulo de
produção do leite.
O tempo de esvaziamento da mama é variável para cada criança; alguns conseguem
fazê-lo em poucos minutos e outros, em até 30 minutos.
Para retirar o bebê do peito, recomenda-se introduzir gentilmente o dedo mínimo no canto
da sua boca; ele largará o peito, sem tracionar o mamilo. Após a mamada, colocá-lo para
arrotar.
Vale lembrar que o ritmo intestinal no primeiro ano de vida, sobretudo nos primeiros
meses, é diferenciado. Nos primeiros meses, a criança pode evacuar todas as vezes que
mama, devido à presença do reflexo gastrocólico, ou evacuar com intervalo muito longo, até
de dias; isso é considerado normal, desde que as fezes estejam amolecidas, não apresentem
rajas de sangue e o aumento de peso seja adequado. O ganho ponderal da criança deve ser
acompanhado, mensalmente, para monitorar o seu crescimento.
O incentivo e apoio ao aleitamento materno deve ocorrer no pré-natal, sala de parto,
alojamento conjunto e após a alta hospitalar, bem como nas unidades de alto risco que
atendem o recém-nascido. Desde 1990, com o objetivo de desenvolver mecanismos e ações
de proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno, foram definidos os
“Dez passos para o sucesso do aleitamento materno”, descritos na Iniciativa Hospital
Amigo da Criança (IHAC). Eles visam às modificações de rotinas hospitalares e à mobilização
de profissionais de saúde envolvidos, direta ou indiretamente, nos cuidados da díade mãe e
bebê:
1. Ter uma norma escrita sobre aleitamento, que deveria ser rotineiramente transmitida a toda
a equipe de cuidados de saúde.
2. Treinar toda a equipe de saúde, capacitando-a para implementar essa norma.
3. Informar todas as gestantes sobre as vantagens e o manejo do aleitamento.
2. 4. Ajudar as mães a iniciar o aleitamento na primeira meia hora após o nascimento.
5. Mostrar às mães como amamentar e manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas
de seus filhos.
6. Não dar a recém-nascidos nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não
ser que tal procedimento seja indicado pelo médico.
7. Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e bebês permaneçam juntos – 24 horas
por dia.
8. Encorajar o aleitamento sob livre demanda.
9. Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas ao seio.
10. Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio ao aleitamento, para onde as mães
deverão ser encaminhadas por ocasião da alta do hospital ou ambulatório.
Alimentação da criança para favorecer um ótimo crescimento e desenvolvimento?
Até os seis meses: apenas o Leite materno.
Àgua: até mesmo nas cidades mais quentes não há recomendação de adicionar água
na alimentação da criança até os seis meses de vida. A mãe, por outro lado, precisa
manter-se hidratada, através da ingestão de água, sucos de frutas, frutas suculentas.
Nunca pense em hidratar-se com refrigerantes e bebidas adocicadas, pois estas além
de favorecer o ganho de peso, não cumprem a função de hidratação.
Qual seria o risco de dar água para criança em aleitamento materno exclusivo?
Mesmo as águas que compramos engarrafadas podem ser de origem duvidosa e os utensílios
normalmente utilizados para fornecer água para a criança (copinhos, chuquinhas, etc.) podem
ser fontes de contaminação, mesmo sendo higienizados e guardados, por conta do manuseio
na hora de dar a água para a criança. Além disso, pelo aleitamento materno o bebê já recebe
cerca de 900 ml de água/dia, o que é completamente suficiente e, qualquer adicional seria
considerado excessivo.
Meu bebê completou seis meses de vida e até agora está em aleitamento materno
exclusivo, preciso adicionar algum alimento?
SIM. Neste momento a necessidade de adicionar outro alimento existe. Por quê? O Leite
Humano sozinho não será suficiente nesta idade, para suprir todas as necessidades
nutricionais da criança, para manter o crescimento adequado. Além disso, há a necessidade
de uma alimentação diferente da consistência líquida, para que haja o aprendizado da
mastigação, deglutição, e desenvolvimento adequado da arcada dentária e, ainda,
desenvolver um bom comportamento alimentar.
O comportamento alimentar é desenvolvido em grande parte no primeiro ano de vida.
As preferências alimentares pelo doce, salgado, cítrico, etc., são adquiridos pelo aprendizado
nesta fase da vida.
O que isso significa?
Se eu forneço para o meu bebê, refrigerantes, doces, açúcar refinado, chocolate,
salgadinhos, frituras, etc. eu estou ensinando ao meu filho a preferir estes alimentos na idade
posterior. Esse conhecimento adquirido vai influenciar na determinação da saúde atual e na
idade adulta.
Dessa forma, nós pais somos responsáveis também pelo aumento no desenvolvimento de
Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), tais como: obesidade, diabetes,
hipertensão e síndrome metabólica em nossa família e, portanto, em nosso país.
Qual o alimento que eu posso incluir na alimentação do meu filho que completou seis
meses?
1) Mantenha o aleitamento materno sobre livre demanda. Nesta idade a criança já
definiu a frequência e a duração das mamadas, de acordo com suas necessidades
fisiológicas.
Como eu saberei se esta etapa foi estabelecida de forma adequada?
3. Pelo crescimento e ganho de peso adequados da criança. Na consulta, o pediatra e/ou
nutricionista avaliará no gráfico de crescimento se o seu bebê está crescendo de acordo com
o potencial dele(a). A curva deverá ser crescente, ascendente, nunca estacionada ou
descendente.
2) Adicione a primeira papa de fruta no horário do lanche da manhã, normalmente entre
9 e 9:30h.
A primeira papa de fruta deve ser composta de fruta madura, amassada. Uma fruta deve ser
oferecida por vez.
Esta fruta deve ser oferecida durante 3 dias, observando se há sinais de intolerância ou
alergia (coceira, inchaço, vermelhidão, sintomas respiratórios, gastrointestinais). A cada três
dias, mudar o tipo de fruta.
Qual fruta eu devo oferecer?
Qualquer fruta, desde que bem higienizada. Dê preferência as frutas da época/estação que
são mais nutritivas e mais baratas.
Observação: A criança tende a empurrar com a ponta da língua a fruta amassada, por conta
de um reflexo normal que ainda está presente nesta fase – a protrusão. Não quer dizer que
ela não gosta e está rejeitando aquele alimento.
A criança não conhece o doce, salgado, o azedo, pois o leite materno tem um sabor exclusivo
que não encontramos em nenhum outro alimento. Nesta etapa é importante não tomar
decisões pela criança. Se a mesma empurra com a língua, faz caretas, não quer dizer que
não gosta. É apenas uma adaptação à novidade, um sabor novo por vez.
3) Primeira papinha “salgada” para a criança.
Recebe este nome não por conter sal em excesso, mas por diferenciar-se da papa de frutas
que tem sabor predominantemente doce.
Ela deve ser composta por um alimento de cada grupo apresentado abaixo:
Fonte : Adaptação da Sociedade Brasileira de Pediatria ( 2008).
Grupo Exemplos
Cereais, tubérculos
arroz, aipim/macaxeira/mandioca, batata-doce, macarrão, batatinha, cará,
farinhas, batata-baroa/mandioquinha, inhame, milho.
Leguminosas Feijões, lentilha, ervilha seca, soja, e grão-de-bico.
Legumes, verduras
e frutas
Folhas verdes, laranja, abóbora/jerimum, banana, beterraba, abacate, quiabo,
mamão, cenoura, melancia, tomate, manga.
Carne ou ovo Frango, peixe, pato, boi, ovo*, miúdos e vísceras.
(*) O ovo inteiro (gema e clara) cozido pode ser adicionado na alimentação da criança ao
completar seis meses, mas seu uso deve ser avaliado pelo profissional de saúde que
acompanha a criança. Deve-se levar em consideração se existe história familiar de alergia
alimentar comprovada.
ATENÇÃO! Esses alimentos devem ser fornecidos bem cozidos e amassados.
Recomendações importantes:
- Lavar bem os alimentos retirando a sujeira, larvas, insetos, etc.
- Cozinhar bem os alimentos. No caso de legumes e verduras, preferir o cozimento no vapor.
- Nunca coar, peneirar ou liquidificar.
- Nunca fazer sopa, cada alimento deve ser oferecido de forma separada, pois como posso
desenvolver o paladar para aceitação do feijão, por exemplo, se não aprendi o sabor do
feijão?
Qual a quantidade de alimentos que devo oferecer em cada refeição?
A partir de 6 meses: iniciar com 2 a 3 colheres de sopa e aumentar conforme a aceitação.
A partir dos 7 meses: 2/3 de uma xícara
De 9 a 11 meses: 3/4 de uma xícara
4. 12 a 24 meses: 1 (uma) xícara ou 250 ml.
OBS.: respeitar os sinais de fome e saciedade da criança. Crianças amamentadas
desenvolvem um controle eficaz da saciedade. Não adotar esquemas rígidos.
Adaptação da Sociedade Brasileira de Pediatria (2008).
Esquema Alimentar para crianças de seis a 12 meses de vida.
Idade Tipo de alimento
Até completar 6 meses Aleitamento materno exclusivo
Ao completar 6 meses Leite materno,1 papa de fruta e 1 papa salgada.
Ao completar 7 meses Leite materno, 1 papa de fruta e duas papas salgadas*
Ao completar 8 meses Gradativamente passar para a alimentação da família (saudável)*
Ao completar 12 meses Alimentação da família (saudável)**
(*) Duas papas salgadas, sendo uma no horário do almoço e outra no horário do jantar.
(**) A alimentação da família que se refere nesta tabela é uma alimentação com consistência
normal (livre), mas livre de frituras, não excessivamente condimentada, sem adição de
temperos prontos e gorduras (enlatados, embutidos, gordura animal).
ALIMENTAÇÃO PRÉ-ESCOLAR
A preocupação com a qualidade e quantidade da alimentação oferecida às crianças, está
ligado ao fato de escolhas erradas.
A capacidade da criança se alimentar está diretamente ligada ao desenvolvimento da
coordenação motora, cognitiva e social. O seu comportamento em relação à alimentação é
determinado pela interação com o alimento, levando-se em consideração as influências de
fatores emocionais, condição socioeconômica e cultural.
A participação da mãe ou de pessoas diretamente ligadas ao processo de alimentação da
criança, é de fundamental importância.
A boa alimentação não é instintiva, é aprendida através do hábito alimentar até os 3 anos
de idade. Considera-se pré-escolar o período de 1 a 6 anos de idade, e de escolar dos 7 anos
até a puberdade (em âmbito educativo de 7 a 14 anos).
As crianças na fase pré-escolar, caracteristicamente, apresentam o que costumamos
chamar de neofobia, isto é, a relutância em consumir novos alimentos na primeira oferta. Este
é um dos momentos em que as mães fazem o maior número de consultas porque os seus
filhos “não comem”.
A partir do primeiro ano de vida, a alimentação da criança é igual ao da família, evitando
condimentos fortes. As preferências alimentares são determinantes na escolha dos alimentos,
e é fato que, existe uma preferência nata pelo sabor doce e a rejeição pelo sabor amargo e
azedo, mas é preciso que se ofereça repetidas vezes o mesmo alimento de diversas formas
de preparo, pois as crianças estão em um processo de aprendizagem.
Nesta fase existem várias causas de inapetência como a dificuldade de reconhecimento de
paladar, maior interesse pelo meio ambiente, chantagens diante de recusas, entre outras. A
inapetência costuma coincidir com o fato de que com a ansiedade que a criança se alimente,
a mãe oferece substitutos de baixo valor nutritivo (alimentos adocicados e de fácil digestão).
Desta forma, a criança associa que, se ela não comer, obterá o que deseja.
Os pais devem ser informados que a rejeição inicial é uma resposta normal, pois reflete um
processo adaptativo.
Na fase escolar de 7 a 14 anos a maior socialização e independência levam a melhor
aceitação de preparações alimentares diferenciadas.
Os intervalos das refeições estão associados com o volume das mesmas. Grandes
refeições estão associadas com longos intervalos e pequenas refeições com intervalos mais
curtos.
5. Orientações para uma abordagem nutricional:
Respeitar a variação normal do apetite;
Estabelecer horários de refeições (intervalo de 2 a 3 horas entre a ingestão de
alimentos e a refeição principal);
Diversificar alimentos e formas de preparo, apresentando os pratos de maneira
agradável com textura própria para idade;
Evitar alimentos de alta densidade energética (excesso de frituras, gorduras) para que
na próxima refeição a criança não fique tão seletiva comprometendo a qualidade da
dieta;
Servir pequenas porções e repetir quando necessário, assim encoraja a criança a
comer;
Não utilizar subterfúgios como o famoso “aviãozinho”, pois desviam a atenção e
comprometem a percepção dos alimentos;
Não oferecer sobremesa como recompensa;
Deixar a criança autoalimentar-se;
Fracionar a dieta em 6 refeições diárias (café da manhã, lanche da manhã, almoço,
lanche da tarde, jantar e lanche da noite);
Não demonstrar irritação ou ansiedade no momento da recusa da refeição principal,
não substituir por leite. Ofereça a mesma mais tarde;
Oferecer sempre verduras e legumes mesmo que a criança não aceite, não comentar
caso os mesmos sobrem no prato;
Não oferecer líquido com as refeições;
Não utilizar guloseimas como recompensas ou castigos;
Incentivar a participação da criança na montagem do prato ou no preparo de alimentos;
Fazer as compras deixando a criança ajudar a escolher as frutas, verduras e legumes,
estimulando o conhecimento das variedades de alimentos.
Hoje em dia, a preocupação com a qualidade e quantidade da alimentação oferecida às
crianças, está ligado ao fato de escolhas erradas, por serem mais “práticas”, como por
exemplo, fast foods, pizzas, salgadinhos e etc. A vida sedentária das crianças (televisão,
computador) associada ao aumento da ingestão calórica, refletirá diretamente no crescimento
e desenvolvimento adequado, além de um ganho excessivo de peso.
Portanto a orientação é diminuir a ingestão de gorduras saturadas e colesterol que
encontramos nas frituras, milanesas, maionese, creme de leite, manteiga, chocolates,
substituindo por gorduras mais saudáveis (poliinsaturados) dando preferência às carnes
magras; remover gorduras de carnes gordurosas antes de prepará-las; usar óleos vegetais no
preparo das refeições e azeite para temperos e saladas; dar preferência às frutas como
sobremesa; evitar refrigerantes, bolachas e biscoitos principalmente os recheados; evitar
petiscos antes das refeições; dar preferência a alimentos integrais e/ou rico em fibras.
É importante salientar que não existe alimento proibido, o que se tem, são apenas limites.
A escola é uma janela de oportunidades onde tudo que a criança vê vai aprender, com isso
orientamos a constituição do lanche da seguinte forma: 01 bebida, 01 lanche salgado uma
fruta ou doce. Estes itens devem variar, na medida do possível, para que a criança tenha
vontade de comê-lo.
Ao montar o lanche em casa devemos tomar alguns cuidados com os alimentos que
necessitam de controle de temperatura, como iogurtes, leites fermentados, etc. Portanto deve-
se preparar o lanche bem próximo do horário da saída para escola e colocar em lancheiras
térmicas com o intuito de manter razoavelmente a temperatura.
A participação da mãe ou de pessoas diretamente ligadas ao processo de alimentação da
criança, é de fundamental importância.
Exemplos de lanches saudáveis para uma semana:
6. Componentes 2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira
Bebida Achocolatado
Suco a base
de soja
Suco de frutas
Leite
fermentado
Iogurte de
beber
Lanche
Bisnaguinha
com requeijão
Torradas
com cream
cheese
Pão de forma
com mussarela
e peito de peru
Bisnaga sovada
de cenoura com
queijo prato
Pão
integral
com queijo
branco
Fruta ou
Doce
Mamão picado
Bolo de
cenoura
com
chocolate
Melão picado Barra de cereal Banana
Referências bibliográficas:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção á saúde. Departamento de Atenção
Básica. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de
dois anos: um guia para profissionais de saúde na atenção básica/ Ministério da Saúde.