SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 12
Baixar para ler offline
Método
Metodologia é a ciência que estuda os métodos utilizados no processo de
conhecimento. É, portanto,“[...] uma disciplina que se relaciona com a episte-
mologia e consiste em estudar e avaliar os vários métodos disponíveis, identi-
ficando suas limitações ou não no âmbito das implicações de suas aplicações”
(COSTA, 2001, p. 4).
O método é o caminho a ser trilhado pelo pesquisador, desde o início de
sua caminhada, com a formulação de um problema, até a comprovação da
hipótese (resposta ao problema), ao final da pesquisa. Pode ser entendido
como um conjunto de etapas que serão vencidas de forma sistematizada na
busca pela“verdade”.
Note-se que essa verdade é validada pela ciência, uma vez que, em sen-
tido absoluto, ela jamais será alcançada,“[...] pois mesmo depois de mil expe-
rimentos que produzam resultados consistentes com uma teoria científica,
basta um, apenas um resultado contrário, para derrubar uma teoria cientí-
fica“ (CRUZ; RIBEIRO, 2003, p. 33).
E, para que uma pesquisa seja considerada científica, ela deverá utilizar
um método também científico, ou seja, deve propiciar que essa busca possa
ser refeita por outros pesquisadores, os quais devem identificar com clareza e
precisão as técnicas e os raciocínios já utilizados.
Método científico
A ciência busca capturar e analisar a realidade, e é o método que faz com
que o pesquisador consiga atingir seus objetivos (DEMO, 1985, p. 20).
Não há ciência sem método; contudo, o método sozinho não consegue
produzir ciência. A disciplina do pesquisador na busca pela verdade faz com
que, juntamente com o método, respostas possíveis sejam alcançadas. Isso
Métodos de abordagem
e de procedimento
22
Metodologia da Pesquisa
porque o método é o responsável pela condução do pesquisador ao seu objetivo,
é ele quem leva o pesquisador desde o problema inicial que o motivou a pesqui-
sar até a comprovação de uma resposta, no término da pesquisa.
O método é responsável pela transparência e pela objetividade da pesquisa.
Significa, portanto, que o método traduz a forma por meio da qual o pesquisa-
dor obteve seus resultados, possibilitando a outros pesquisadores seguirem os
mesmos passos, o mesmo caminho utilizado pelo pesquisador.
Todavia, não se pode confundir método com processo. Ao primeiro é fornecida
uma abordagem mais ampla, enquanto que o processo é “[...] a aplicação espe-
cífica do plano metodológico e a forma especial de execução das ações” (CRUZ;
RIBEIRO, 2003, p. 33).
Podem-se destacar quatro práticas operacionais que consagram o método
científico:
Criação de um problema – esse é um questionamento, uma indagação, ou
seja, aquela curiosidade que o levou a pesquisar.
Indicação de uma hipótese – é uma resposta a priori ao problema desta-
cado.
Coleta de dados – busca de dados que venham responder o problema e
confirmar a hipótese.
Análise da resposta – verificação da viabilidade da hipótese encontrada.
Contudo, não é a simples utilização dessas práticas operacionais que torna
uma pesquisa científica. É preciso optar por um método específico, que será res-
ponsável pelas diferentes formas de se chegar às respostas pretendidas. Nesse
sentido, o método científico“[...] não supre os conhecimentos, etapas, decisões e
planos necessários para a investigação; no entanto, pode ser de extrema impor-
tância para que possamos ordená-los, precisá-los e enriquecê-los” (MEZZAROBA;
MONTEIRO, 2004, p. 53).
Frente a tal cenário, é possível afirmar que existem diferentes métodos que
correspondem a cada ramo da ciência e a cada tema a ser pesquisado. As classi-
ficações dos métodos são muitas. Aqui utilizaremos a classificação que divide os
métodos em de abordagem e de procedimento.
Métodos de abordagem e de procedimento
23
Métodos de abordagem
São os métodos que possuem caráter mais geral. São responsáveis pelo ra-
ciocínio utilizado no desenvolvimento da pesquisa, ou seja, “[...] procedimentos
gerais, que norteiam o desenvolvimento das etapas fundamentais de uma pes-
quisa científica”(ANDRADE, 2001, p. 130-131).
Dentre os métodos de abordagem, destacam-se: o indutivo, o dedutivo, o hipo-
tético-dedutivo e o dialético.
Método indutivo
É um método responsável pela generalização, isto é, parte-se de algo particu-
lar para uma questão mais ampla, ou seja, geral. Para Lakatos e Marconi (2003,
p. 86):
Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, sufi-
cientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes exa-
minadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é
muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam.
O seu objetivo é“[...] chegar a conclusões mais amplas do que o conteúdo es-
tabelecido pelas premissas nas quais está fundamentado” (MEZZAROBA; MON-
TEIRO, 2003, p. 63).
Essa generalização não ocorre por meio das escolhas a priori das respostas,
sendo que estas devem ser repetidas, geralmente baseadas na experimentação.
Isso significa que a indução parte de um fenômeno para chegar a uma lei geral
por meio da observação e de experimentação, descobrindo-se a relação existente
entre dois fenômenos para se generalizar.
Podem-se destacar algumas etapas para a utilização do método indutivo:
Observação – identificação de fenômenos da realidade, seja de forma na-
tural, seja de forma induzida.
Hipótese – resposta prévia.
Experimentação – análise da reação“causa-efeito”.
Comparação – classificar e analisar os dados obtidos.
Generalização – tratar de forma universal os dados obtidos.
24
Metodologia da Pesquisa
Os professores Orides Mezzaroba e Cláudia Monteiro (2003, p. 63) indicam o
cuidado que se deve ter na utilização do método indutivo:
Vamos imaginar essa situação: os jornais dão cobertura a um grande caso de corrupção de um
proeminente magistrado nacional. O cidadão leigo em Sociologia utiliza seu senso comum
para refletir e chega à seguinte conclusão: – Se aquele juiz “X” é corrupto, logo todos os juízes
também são!
Para que não sejam cometidos equívocos na utilização desse método, primei-
ramente o pesquisador deverá se certificar que a relação que se pretende genera-
lizar é verdadeira, que os fenômenos ou fatos relacionados devem ser idênticos e,
por fim, não se pode relevar o aspecto quantitativo dos fatos ou fenômenos. Apri-
morando esses cuidados, foram estipuladas algumas leis para o método indutivo
(NÉRICI apud LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 88):
[...] nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem os mesmos
efeitos;
o que é verdade de muitas partes suficientemente enumeradas de um su-
jeito, é verdade para todo esse sujeito universal.
Portanto, note-se que nesse método é imprescindível a verificação do dado
particular, assim como de sua utilização de forma geral, por meio de uma experi-
mentação ampla para que a generalização obtida seja considerada verdadeira.
Método dedutivo
O método dedutivo é o oposto do indutivo. Ele parte de uma generalização
para uma questão particularizada.
Esses argumentos gerais apresentam-se como verdadeiros, pois já foram vali-
dados pela ciência. Há, portanto, uma relação lógica entre as premissas gerais e os
particulares, pois caso a primeira seja considerada inválida a conclusão também
o será. Essa logicidade fez com que esse método fosse amplamente utilizado por
pesquisadores mais formalistas.
Esse tipo de método fundamenta-se no silogismo: partindo de uma premissa
maior, passando por outra menor e chegando a uma conclusão particular. Vamos
ver um exemplo:
Premissa maior – os empregadores são favoráveis à flexibilização das leis
trabalhistas.
Métodos de abordagem e de procedimento
25
Premissa menor – Mário é empregador.
Conclusão – logo, Mário é a favor da flexibilização das leis trabalhistas.
Note-se que, se a premissa maior for considerada falsa, a conclusão não terá
validade. “A questão fundamental da dedução está na relação lógica que deve
ser estabelecida entre as proposições apresentadas, a fim de não comprometer a
validade da conclusão”(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 65).
Para Salomon (1996, p. 30), existem duas diferenças básicas entre os métodos
indutivo e dedutivo. A primeira consiste no fato de que se todas as premissas são
verdadeiras, no método dedutivo, a conclusão deve ser verdadeira. Já no método
indutivo, se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provavelmente,
mas não necessariamente, verdadeira.
A segunda diferença é que no método indutivo a conclusão traz ideias que não
estavam presentes nas premissas, enquanto que no método dedutivo todas as
informações já estavam, mesmo que indiretamente, previstas nas premissas.
Note-se que o método dedutivo possibilita ao pesquisador caminhar do co-
nhecido para o desconhecido com uma margem pequena de erro. Todavia, esse
método é bastante limitado, uma vez que a conclusão a que se chegou não pode
ultrapassar as premissas (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 65).
Outro aspecto a ser observado em relação a esses dois métodos é que
[...] não se apresentam de forma muito clara, isto porque ambos estão fundamentados no pro-
cesso observacional. Ressalta-se, no entanto, que, se por um lado, o método dedutivo pode nos
levar à construção de novas teorias e novas leis, por outro, o método indutivo só nos possibilita
chegar a generalizações empíricas de observações. (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 66)
O pesquisador, ao escolher o método para sua pesquisa, deverá levar em con-
sideração os seus objetivos, o que e onde pretende chegar. Não se deve esquecer
também que os métodos de abordagem devem estar presentes em todos os mo-
mentos da pesquisa, independentemente da parte da monografia que está sendo
analisada.
Método hipotético-dedutivo
O método hipotético-dedutivo busca unir os dois anteriores, acrescentando a
racionalização do método dedutivo à experimentação do método indutivo.
26
Metodologia da Pesquisa
Foi desenvolvido por Karl R. Popper e consiste na eleição de hipóteses (propo-
sições hipotéticas), as quais possuem uma certa viabilidade para responder um
determinado problema de natureza científica.
Após a eleição dessas hipóteses, busca-se o falseamento delas, a fim de com-
provar sua sustentabilidade. O método encerra-se com a comprovação das hipó-
teses; caso sejam refutadas, as hipóteses deverão ser refeitas.
No entender de Soares (2003, p. 39), o método hipotético-dedutivo consistiria
[...] na construção de conjecturas, as quais deveriam ser submetidas a testes, os mais diversos
possíveis, à crítica intersubjetiva e ao controle mútuo pela discussão crítica, à publicidade crítica
e ao confronto com os fatos, para ver quais as hipóteses que sobrevivem como mais aptas na
luta pela vida, resistindo às tentativas de refutação e falseamento.
Problema
Hipóteses
Falseamento das hipóteses
Comprovação ou não das hipóteses
Figura 1 – Passos de utilização do método hipotético-dedutivo.
Para que um pesquisador refute uma hipótese, ele deverá atuar de forma crí-
tica. O próprio Popper, em suas obras A Lógica da Pesquisa Científica (1934) e Con-
jecturas e Refutações (1963), afirmou que é impossível atingir a verdade. A ciência
não trabalha nessa esfera, mas sim na esfera da probabilidade.
Isso quer dizer que uma teoria científica pode fornecer apenas soluções temporárias para os
problemas que enfrenta, pois assim que uma eventual nova teoria responder de forma diferen-
te, ou melhor, ao problema suscitado, a primeira será refutada. (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003,
p. 69)
Na área jurídica, esse fato é verificável empiricamente, pois as decisões são al-
teradas cotidianamente. Como o Direito é linguagem e depende da interpretação
dos seus operadores, será variável. Uma teoria (hipótese, no nosso caso) será vista
como adequada, para não utilizar o termo verdadeira, até que seja falseada e não
consiga se manter; será, portanto, refutada.
Métodos de abordagem e de procedimento
27
Método dialético
A primeira questão a ser pontuada é a respeito da identificação do método dia-
lético com a corrente de pensamento marxista. O método dialético não foi criado
por Marx, mas sim utilizado na criação de sua teoria. Por isso, a opção por esse
método não implica a adoção de um pensamento“de esquerda”.
Dialética é a arte de dialogar, ou seja, de argumentar e contra-argumentar
em relação a assuntos que não podem ser demonstrados. A dialética, portanto,
restringia-se, nesse caso, à emissão de opiniões, “[...] que poderiam ser conside-
radas racionais desde que fundamentadas em uma argumentação consistente”
(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 71).
Mas há também outra forma de entender o método dialético, que disciplina a
construção de conceitos para diferenciar os objetos, e examiná-los, com rigor cien-
tífico. Dessa forma, aquilo que se coloca perante o pesquisador como verdade
deve ser contraditado, confrontado com outras realidades e teorias para se obter
uma conclusão, uma nova teoria. Utilizar o método dialético como raciocínio faz
com que seja possível “[...] verificar com mais rigor os objetos de análise, justa-
mente por serem postos frente a frente com o teste de suas contradições possí-
veis”(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 72).
Mas foi com Hegel que a dialética ganhou espaço na ciência, já no século XIX.
Esse pensador identificou três momentos básicos que compõem o método dia-
lético: a tese, que constitui uma pretensão de verdade, a antítese, que vai negar a
tese apresentada, e a síntese, que surge do embate teórico entre tese e antítese. A
síntese, por sua vez, constituirá uma nova tese, à qual será proposta uma antítese,
e assim por diante. Dessa forma, o método dialético impõe movimento, pois a
conclusão será acatada como uma nova tese, dando continuidade ao método.
Vejamos como fica o esquema do método dialético:
Tese
Antítese
Síntese (Nova tese)
Figura 2 – Esquema do método dialético.
28
Metodologia da Pesquisa
Note-se que a partir desse método, o objeto é proposto para se superar me-
diante a proposição de uma antítese, originando um resultado distinto. É a partir
dessa permanente superação que podemos afirmar que o método dialético é um
método de movimento.
O que a dialética faz de diferente é captar as estruturas da dinâmica social, não da estática. Não
é, pois, um instrumental de resfriamento da história, tornando-a mera repetição estanque de
esquemas rígidos e já não reconhecendo conteúdos variados e novos, mas um instrumental
que exalte o dinamismo dos conteúdos novos, mesmo que se reconheça não haver o novo total.
(DEMO, 1985, p. 91)
Mesmo sendo um método interessantíssimo, sua utilização é complexa e ne-
cessita de um amadurecimento na pesquisa.
Métodos de procedimento ou secundários
Os métodos de procedimento constituem etapas mais concretas da pesquisa,
explicando objetos menos abstratos. Relacionam-se, portanto, especificamente
com as fases da pesquisa e não com o plano geral dela.
Método experimental
O método experimental é um método fundado na experiência. Seu objeto é
controlado para se atingir resultados pretendidos. Dessa forma, o objeto é colo-
cado sob condições ideais, reproduzidas em laboratórios ou não, selecionando-se
as hipóteses a serem verificadas.
Método estatístico
O método estatístico é empregado nas pesquisas quantitativas, uma vez que
trata de elementos de caráter matemático. Pretende fornecer uma base concreta
e segura das informações a serem analisadas. Terá gráficos e apresentações analí-
ticas das tendências características dos fenômenos pesquisados.
Método histórico
O método histórico coloca os dados da pesquisa sob uma perspectiva histórica.
Isso pode ocorrer de três formas:
comparar o conjunto dos elementos que existe hoje com suas origens his-
tóricas;
Métodos de abordagem e de procedimento
29
comparar formações anteriores que eram precursoras do que há na atuali-
dade;
acompanhar a evolução do objeto pesquisado pela história.
Método comparativo
O método comparativo consiste no confronto entre elementos, levando em
consideração seus atributos. Promove o exame dos dados a fim de obter diferen-
ças ou semelhanças que possam ser constatadas, e as devidas relações entre as
duas.
Pode ser unido ao método histórico, realizando comparações entre os dados
do presente com os do passado.
Texto complementar
A ciência procura certezas
(ACHINSTEIN, 2005)
No que toca a este critério, a ciência parece-se com a matemática e é di-
ferente da metafísica, da teologia e da astrologia, as quais, alegadamente,
nunca poderão ser senão especulativas. Nas Regulae ad Directionem Ingenii
(Regras para a Direção do Espírito, 1628) a segunda regra de Descartes diz-nos
que“importa lidar apenas com aqueles objetos para cujo conhecimento certo
e indubitável os nossos espíritos parecem ser suficientes”. Os empiristas en-
contram-se mais divididos. Newton, que rejeitou a ideia de Descartes de que
a ciência deveria procurar proposições indubitáveis, reconhece na sua quarta
regra do método científico que qualquer proposição, por muito sustentada
que seja, está sujeita a confrontar-se com exceções, à medida que novos fenô-
menos vão sendo observados. Ainda assim, os cientistas deveriam sempre se
esforçar por procurar as maiores certezas que as suas investigações empíricas
lhes permitissem. Essas certezas podem ser obtidas“deduzindo proposições a
partir dos fenômenos e generalizando-as através da indução”.
Entre os empiristas, no outro extremo oposto a Newton, estão Popper e
Laudan. Para Popper, a ciência não pode ter um elevado grau de certeza, uma
30
Metodologia da Pesquisa
vez que a utilização de quaisquer generalizações indutivas que poderia gerar
essa certeza carece de justificação. Tampouco é desejável, uma vez que os
cientistas fariam as generalizações mais fortes possível, logo, as mais imprová-
veis. Para Laudan (1977) a ciência procura oferecer soluções“adequadas”para
problemas“interessantes”, para os quais as questões da verdade, da certeza ou
mesmo da probabilidade são irrelevantes.
Uma perspectiva empirista que se situa entre estes dois extremos é a de
Carnap e de outros probabilistas. Os cientistas devem procurar provas empí-
ricas que sustentem uma dada teoria, aumentando a sua probabilidade, mas
sem que necessariamente esta probabilidade seja elevada (para uma crítica,
veja-se Achinstein, 1983).
Os cientistas seguem um método científico
Os praticantes das não-ciências não o fazem. Um método científico é um
conjunto de regras que os cientistas deveriam seguir para descobrir e testar
leis e teorias. Se tais regras existem e, assim sendo, qual é a sua formulação,
se são universais para todas as ciências ou dentro de uma dada ciência, se
mudam de uma época para a outra, são questões calorosamente disputadas.
De acordo com uma perspectiva, existem regras destinadas a testar as teo-
rias científicas que se aplicam a toda a ciência em todas as épocas. Esta pers-
pectiva foi abraçada por Descartes, que propôs 21 dessas regras; foi também
defendida por Newton (1687), que propôs quatro regras de pensamento para
a filosofia (natural), consistindo em duas para inferir causas de coisas, e duas
para produzir generalizações indutivas a partir de fenômenos observados.
As duas mais importantes posições empiristas empenhadas num método
científico universal são o hipotético-dedutivismo e o indutivismo. Perante os
dados e os problemas, o cientista começa por propor uma hipótese, a qual
não é indutiva ou dedutivamente inferida a partir dos dados ou de qualquer
outra coisa, mas simplesmente apresentada como uma conjectura. Partindo
dela e, possivelmente, de outras suposições, são deduzidas conclusões obser-
váveis, geradas por via dedutiva, utilizando a lógica e, frequentemente, a
matemática. Se as conclusões são confirmadas pela observação, a hipótese é
provisoriamente aceita. Se descobrir-se que são falsas, a hipótese é rejeitada e
é proposta outra nova hipótese. Esta é a perspectiva de Popper.
Métodos de abordagem e de procedimento
31
Contrastando com ela, os indutivistas exigem mais um passo: um argu-
mento indutivo que dê um apoio independente à hipótese ou à teoria. Este
consiste em aplicar aquilo que se observou num número limitado de casos a
todos os casos abrangidos por uma dada lei, ou em procurar causas semelhan-
tes para efeitos semelhantes. Indutivistas como Newton ou Mill rejeitaram o
método hipotético-dedutivo com a justificação de que diferentes hipóteses
incompatíveis podem implicar os mesmos dados. Aquilo de que se necessita
é que uma delas tenha um suporte indutivo independente.
A existência de um método científico universal tem sido contestada por
vários autores do século XX, especialmente a partir dos anos 1960. Thomas
Kuhn (1962), defendendo uma abordagem histórica e relativista, afirma que
numa dada época os cientistas trabalham dentro de um paradigma, o qual
consiste num conjunto de conceitos, práticas, parâmetros de avaliação, regras
de pensamento e métodos de observação que variam consideravelmente de
uma ciência e de uma época para outra. O paradigma define os problemas
que têm que ser resolvidos e os métodos para o fazer. Não há um método
científico comum a todos os paradigmas.
Para terminar, foi advogada uma abordagem sociológica da ciência (veja-
-se, por exemplo, Pinch, 1986), da qual existe uma versão forte que rejeita que
se recorra às regras metodológicas para explicar os procedimentos dos cien-
tistas. As teorias, sendo subdeterminadas pelos dados, não podem ser inferi-
das desses dados através de regras. Dever-se-ia, em vez disso, observar dentro
da comunidade científica os fatores sociais que explicam a forma como uma
teoria científica se desenvolve e o grupo“negocia”a sua aceitação.
Ampliando seus conhecimentos
Metodologia da Pesquisa Jurídica: teoria e prática da monografia para cursos de
Direito, de Eduardo C. B. Bittar, editora Saraiva.
Metodologia Científica, de Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi,
editora Atlas.
A Lógica da Pesquisa Científica, de Karl Popper, editora Cultrix.
Métodos científicos de pesquisa

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Resenha crítica modelo
Resenha crítica   modeloResenha crítica   modelo
Resenha crítica modelotaise_paz
 
Apresentação metodologia do trabalho científico
Apresentação metodologia do trabalho científicoApresentação metodologia do trabalho científico
Apresentação metodologia do trabalho científicoLarissa Almada
 
Aula 02 - Tipos de Pesquisas
Aula 02 - Tipos de PesquisasAula 02 - Tipos de Pesquisas
Aula 02 - Tipos de PesquisasGhiordanno Bruno
 
Pesquisa Qualitativa e Quantitativa
Pesquisa Qualitativa e QuantitativaPesquisa Qualitativa e Quantitativa
Pesquisa Qualitativa e Quantitativajlpaesjr
 
Tecnicas de coleta de dados e instrumentos- Material maravilhoso
Tecnicas de coleta de dados e instrumentos- Material maravilhosoTecnicas de coleta de dados e instrumentos- Material maravilhoso
Tecnicas de coleta de dados e instrumentos- Material maravilhosoRosane Domingues
 
Resumo - O que é Ciência afinal?
Resumo - O que é Ciência afinal?Resumo - O que é Ciência afinal?
Resumo - O que é Ciência afinal?Airton Fernandes
 
Métodos e tipos de pesquisa
Métodos e tipos de pesquisaMétodos e tipos de pesquisa
Métodos e tipos de pesquisaIsabella Marra
 
MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DE PESQUISA
MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DE PESQUISAMÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DE PESQUISA
MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DE PESQUISATecoluca Luiz
 
Aula 06 - Busca em Base de Dados
Aula 06 - Busca em Base de DadosAula 06 - Busca em Base de Dados
Aula 06 - Busca em Base de DadosGhiordanno Bruno
 
Pesquisa Qualitativa: Uma Introdução. Profa. Rilva
Pesquisa Qualitativa: Uma Introdução. Profa. RilvaPesquisa Qualitativa: Uma Introdução. Profa. Rilva
Pesquisa Qualitativa: Uma Introdução. Profa. RilvaRilva Lopes de Sousa Muñoz
 
Método científico
Método científicoMétodo científico
Método científicoEULER SOUZA
 
PESQUISA PARTICIPANTE (seminário)
PESQUISA PARTICIPANTE (seminário)PESQUISA PARTICIPANTE (seminário)
PESQUISA PARTICIPANTE (seminário)Virna Salgado Barra
 
Texto expositivo argumentativo
Texto expositivo argumentativoTexto expositivo argumentativo
Texto expositivo argumentativoAntonio Chimuzu
 
Metodologia de pesquisa_slides
Metodologia de pesquisa_slidesMetodologia de pesquisa_slides
Metodologia de pesquisa_slidesGerdian Teixeira
 

Mais procurados (20)

Resenha crítica modelo
Resenha crítica   modeloResenha crítica   modelo
Resenha crítica modelo
 
Introdução à Metodologia
Introdução à MetodologiaIntrodução à Metodologia
Introdução à Metodologia
 
Estudo de caso
Estudo de casoEstudo de caso
Estudo de caso
 
Apresentação metodologia do trabalho científico
Apresentação metodologia do trabalho científicoApresentação metodologia do trabalho científico
Apresentação metodologia do trabalho científico
 
Aula 02 - Tipos de Pesquisas
Aula 02 - Tipos de PesquisasAula 02 - Tipos de Pesquisas
Aula 02 - Tipos de Pesquisas
 
Pesquisa Qualitativa e Quantitativa
Pesquisa Qualitativa e QuantitativaPesquisa Qualitativa e Quantitativa
Pesquisa Qualitativa e Quantitativa
 
Textos expositivos explicativos
Textos expositivos explicativosTextos expositivos explicativos
Textos expositivos explicativos
 
Tecnicas de coleta de dados e instrumentos- Material maravilhoso
Tecnicas de coleta de dados e instrumentos- Material maravilhosoTecnicas de coleta de dados e instrumentos- Material maravilhoso
Tecnicas de coleta de dados e instrumentos- Material maravilhoso
 
Resumo - O que é Ciência afinal?
Resumo - O que é Ciência afinal?Resumo - O que é Ciência afinal?
Resumo - O que é Ciência afinal?
 
Métodos e tipos de pesquisa
Métodos e tipos de pesquisaMétodos e tipos de pesquisa
Métodos e tipos de pesquisa
 
Análises Discurso e Conteúdo (Zezé)
Análises Discurso e Conteúdo (Zezé)Análises Discurso e Conteúdo (Zezé)
Análises Discurso e Conteúdo (Zezé)
 
MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DE PESQUISA
MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DE PESQUISAMÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DE PESQUISA
MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DE PESQUISA
 
Aula 06 - Busca em Base de Dados
Aula 06 - Busca em Base de DadosAula 06 - Busca em Base de Dados
Aula 06 - Busca em Base de Dados
 
Modelo de artigo cientifico
Modelo de artigo cientificoModelo de artigo cientifico
Modelo de artigo cientifico
 
Pesquisa Qualitativa: Uma Introdução. Profa. Rilva
Pesquisa Qualitativa: Uma Introdução. Profa. RilvaPesquisa Qualitativa: Uma Introdução. Profa. Rilva
Pesquisa Qualitativa: Uma Introdução. Profa. Rilva
 
Redação científica
Redação científicaRedação científica
Redação científica
 
Método científico
Método científicoMétodo científico
Método científico
 
PESQUISA PARTICIPANTE (seminário)
PESQUISA PARTICIPANTE (seminário)PESQUISA PARTICIPANTE (seminário)
PESQUISA PARTICIPANTE (seminário)
 
Texto expositivo argumentativo
Texto expositivo argumentativoTexto expositivo argumentativo
Texto expositivo argumentativo
 
Metodologia de pesquisa_slides
Metodologia de pesquisa_slidesMetodologia de pesquisa_slides
Metodologia de pesquisa_slides
 

Semelhante a Métodos científicos de pesquisa

ii-o-metodo-cientafico.ppt
ii-o-metodo-cientafico.pptii-o-metodo-cientafico.ppt
ii-o-metodo-cientafico.pptNathanDosSantos7
 
METODOS E TECNICA DE PESQUISA.pptx
METODOS E TECNICA DE PESQUISA.pptxMETODOS E TECNICA DE PESQUISA.pptx
METODOS E TECNICA DE PESQUISA.pptxCarla Dimarães
 
MIC 2 Métod 2021.pptx
MIC 2 Métod 2021.pptxMIC 2 Métod 2021.pptx
MIC 2 Métod 2021.pptxVenncioCorreia
 
Métodos e técnicas em ciências sociais final
Métodos e técnicas em ciências sociais finalMétodos e técnicas em ciências sociais final
Métodos e técnicas em ciências sociais finalturma12c1617
 
METODOS E TECNICA DE PESQUISA pdf Istituto federal
METODOS E TECNICA DE PESQUISA pdf Istituto federalMETODOS E TECNICA DE PESQUISA pdf Istituto federal
METODOS E TECNICA DE PESQUISA pdf Istituto federalssuser4e213f1
 
3ª+aula+do+segundo+estágio
3ª+aula+do+segundo+estágio3ª+aula+do+segundo+estágio
3ª+aula+do+segundo+estágioRita Meygan
 
Métodos e técnicas de investigação da sociologia
Métodos e técnicas de investigação da sociologia Métodos e técnicas de investigação da sociologia
Métodos e técnicas de investigação da sociologia turma12d
 
Projecto de elaboração de projetos de energia renováveis
Projecto de elaboração de projetos de energia renováveisProjecto de elaboração de projetos de energia renováveis
Projecto de elaboração de projetos de energia renováveisMrioRondinho
 
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.mike wasofsky
 
Métodos e técnicas de investigação - Jéssica
Métodos e técnicas de investigação - JéssicaMétodos e técnicas de investigação - Jéssica
Métodos e técnicas de investigação - Jéssicaturma12c1617
 
Fichamento sobre Metodologia Científica
Fichamento sobre Metodologia CientíficaFichamento sobre Metodologia Científica
Fichamento sobre Metodologia CientíficaBruno Gomes Dias
 
Método estatístico
Método estatísticoMétodo estatístico
Método estatísticoPaulo Carioca
 
Métodos e técnicas de investigação de estudos em ciências sociais
Métodos e técnicas de investigação de estudos em ciências sociaisMétodos e técnicas de investigação de estudos em ciências sociais
Métodos e técnicas de investigação de estudos em ciências sociaisturma12d
 
Metodologias de investigação em sociologia
Metodologias de investigação em sociologiaMetodologias de investigação em sociologia
Metodologias de investigação em sociologiaturma12c
 
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.soraia_quaresma
 
Métodos e técnicas em ciências sociais
Métodos e técnicas em ciências sociaisMétodos e técnicas em ciências sociais
Métodos e técnicas em ciências sociaisturma12c1617
 

Semelhante a Métodos científicos de pesquisa (20)

Metodo de investigacao_cientifica (SMAM)
Metodo de investigacao_cientifica (SMAM)Metodo de investigacao_cientifica (SMAM)
Metodo de investigacao_cientifica (SMAM)
 
Trabalho de metodologia
Trabalho de metodologiaTrabalho de metodologia
Trabalho de metodologia
 
ii-o-metodo-cientafico.ppt
ii-o-metodo-cientafico.pptii-o-metodo-cientafico.ppt
ii-o-metodo-cientafico.ppt
 
METODOS E TECNICA DE PESQUISA.pptx
METODOS E TECNICA DE PESQUISA.pptxMETODOS E TECNICA DE PESQUISA.pptx
METODOS E TECNICA DE PESQUISA.pptx
 
MIC 2 Métod 2021.pptx
MIC 2 Métod 2021.pptxMIC 2 Métod 2021.pptx
MIC 2 Métod 2021.pptx
 
Métodos e técnicas em ciências sociais final
Métodos e técnicas em ciências sociais finalMétodos e técnicas em ciências sociais final
Métodos e técnicas em ciências sociais final
 
METODOS E TECNICA DE PESQUISA pdf Istituto federal
METODOS E TECNICA DE PESQUISA pdf Istituto federalMETODOS E TECNICA DE PESQUISA pdf Istituto federal
METODOS E TECNICA DE PESQUISA pdf Istituto federal
 
3ª+aula+do+segundo+estágio
3ª+aula+do+segundo+estágio3ª+aula+do+segundo+estágio
3ª+aula+do+segundo+estágio
 
Métodos e técnicas de investigação da sociologia
Métodos e técnicas de investigação da sociologia Métodos e técnicas de investigação da sociologia
Métodos e técnicas de investigação da sociologia
 
Slide métodos
Slide métodosSlide métodos
Slide métodos
 
Projecto de elaboração de projetos de energia renováveis
Projecto de elaboração de projetos de energia renováveisProjecto de elaboração de projetos de energia renováveis
Projecto de elaboração de projetos de energia renováveis
 
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
 
Métodos e técnicas de investigação - Jéssica
Métodos e técnicas de investigação - JéssicaMétodos e técnicas de investigação - Jéssica
Métodos e técnicas de investigação - Jéssica
 
Ppt0000003
Ppt0000003Ppt0000003
Ppt0000003
 
Fichamento sobre Metodologia Científica
Fichamento sobre Metodologia CientíficaFichamento sobre Metodologia Científica
Fichamento sobre Metodologia Científica
 
Método estatístico
Método estatísticoMétodo estatístico
Método estatístico
 
Métodos e técnicas de investigação de estudos em ciências sociais
Métodos e técnicas de investigação de estudos em ciências sociaisMétodos e técnicas de investigação de estudos em ciências sociais
Métodos e técnicas de investigação de estudos em ciências sociais
 
Metodologias de investigação em sociologia
Metodologias de investigação em sociologiaMetodologias de investigação em sociologia
Metodologias de investigação em sociologia
 
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
Métodos e técnicas de investigação em ciências sociais.
 
Métodos e técnicas em ciências sociais
Métodos e técnicas em ciências sociaisMétodos e técnicas em ciências sociais
Métodos e técnicas em ciências sociais
 

Último

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfAlissonMiranda22
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxSamiraMiresVieiradeM
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfJonathasAureliano1
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxssuserf54fa01
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfjanainadfsilva
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 

Último (20)

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 

Métodos científicos de pesquisa

  • 1. Método Metodologia é a ciência que estuda os métodos utilizados no processo de conhecimento. É, portanto,“[...] uma disciplina que se relaciona com a episte- mologia e consiste em estudar e avaliar os vários métodos disponíveis, identi- ficando suas limitações ou não no âmbito das implicações de suas aplicações” (COSTA, 2001, p. 4). O método é o caminho a ser trilhado pelo pesquisador, desde o início de sua caminhada, com a formulação de um problema, até a comprovação da hipótese (resposta ao problema), ao final da pesquisa. Pode ser entendido como um conjunto de etapas que serão vencidas de forma sistematizada na busca pela“verdade”. Note-se que essa verdade é validada pela ciência, uma vez que, em sen- tido absoluto, ela jamais será alcançada,“[...] pois mesmo depois de mil expe- rimentos que produzam resultados consistentes com uma teoria científica, basta um, apenas um resultado contrário, para derrubar uma teoria cientí- fica“ (CRUZ; RIBEIRO, 2003, p. 33). E, para que uma pesquisa seja considerada científica, ela deverá utilizar um método também científico, ou seja, deve propiciar que essa busca possa ser refeita por outros pesquisadores, os quais devem identificar com clareza e precisão as técnicas e os raciocínios já utilizados. Método científico A ciência busca capturar e analisar a realidade, e é o método que faz com que o pesquisador consiga atingir seus objetivos (DEMO, 1985, p. 20). Não há ciência sem método; contudo, o método sozinho não consegue produzir ciência. A disciplina do pesquisador na busca pela verdade faz com que, juntamente com o método, respostas possíveis sejam alcançadas. Isso Métodos de abordagem e de procedimento
  • 2. 22 Metodologia da Pesquisa porque o método é o responsável pela condução do pesquisador ao seu objetivo, é ele quem leva o pesquisador desde o problema inicial que o motivou a pesqui- sar até a comprovação de uma resposta, no término da pesquisa. O método é responsável pela transparência e pela objetividade da pesquisa. Significa, portanto, que o método traduz a forma por meio da qual o pesquisa- dor obteve seus resultados, possibilitando a outros pesquisadores seguirem os mesmos passos, o mesmo caminho utilizado pelo pesquisador. Todavia, não se pode confundir método com processo. Ao primeiro é fornecida uma abordagem mais ampla, enquanto que o processo é “[...] a aplicação espe- cífica do plano metodológico e a forma especial de execução das ações” (CRUZ; RIBEIRO, 2003, p. 33). Podem-se destacar quatro práticas operacionais que consagram o método científico: Criação de um problema – esse é um questionamento, uma indagação, ou seja, aquela curiosidade que o levou a pesquisar. Indicação de uma hipótese – é uma resposta a priori ao problema desta- cado. Coleta de dados – busca de dados que venham responder o problema e confirmar a hipótese. Análise da resposta – verificação da viabilidade da hipótese encontrada. Contudo, não é a simples utilização dessas práticas operacionais que torna uma pesquisa científica. É preciso optar por um método específico, que será res- ponsável pelas diferentes formas de se chegar às respostas pretendidas. Nesse sentido, o método científico“[...] não supre os conhecimentos, etapas, decisões e planos necessários para a investigação; no entanto, pode ser de extrema impor- tância para que possamos ordená-los, precisá-los e enriquecê-los” (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2004, p. 53). Frente a tal cenário, é possível afirmar que existem diferentes métodos que correspondem a cada ramo da ciência e a cada tema a ser pesquisado. As classi- ficações dos métodos são muitas. Aqui utilizaremos a classificação que divide os métodos em de abordagem e de procedimento.
  • 3. Métodos de abordagem e de procedimento 23 Métodos de abordagem São os métodos que possuem caráter mais geral. São responsáveis pelo ra- ciocínio utilizado no desenvolvimento da pesquisa, ou seja, “[...] procedimentos gerais, que norteiam o desenvolvimento das etapas fundamentais de uma pes- quisa científica”(ANDRADE, 2001, p. 130-131). Dentre os métodos de abordagem, destacam-se: o indutivo, o dedutivo, o hipo- tético-dedutivo e o dialético. Método indutivo É um método responsável pela generalização, isto é, parte-se de algo particu- lar para uma questão mais ampla, ou seja, geral. Para Lakatos e Marconi (2003, p. 86): Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, sufi- cientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes exa- minadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. O seu objetivo é“[...] chegar a conclusões mais amplas do que o conteúdo es- tabelecido pelas premissas nas quais está fundamentado” (MEZZAROBA; MON- TEIRO, 2003, p. 63). Essa generalização não ocorre por meio das escolhas a priori das respostas, sendo que estas devem ser repetidas, geralmente baseadas na experimentação. Isso significa que a indução parte de um fenômeno para chegar a uma lei geral por meio da observação e de experimentação, descobrindo-se a relação existente entre dois fenômenos para se generalizar. Podem-se destacar algumas etapas para a utilização do método indutivo: Observação – identificação de fenômenos da realidade, seja de forma na- tural, seja de forma induzida. Hipótese – resposta prévia. Experimentação – análise da reação“causa-efeito”. Comparação – classificar e analisar os dados obtidos. Generalização – tratar de forma universal os dados obtidos.
  • 4. 24 Metodologia da Pesquisa Os professores Orides Mezzaroba e Cláudia Monteiro (2003, p. 63) indicam o cuidado que se deve ter na utilização do método indutivo: Vamos imaginar essa situação: os jornais dão cobertura a um grande caso de corrupção de um proeminente magistrado nacional. O cidadão leigo em Sociologia utiliza seu senso comum para refletir e chega à seguinte conclusão: – Se aquele juiz “X” é corrupto, logo todos os juízes também são! Para que não sejam cometidos equívocos na utilização desse método, primei- ramente o pesquisador deverá se certificar que a relação que se pretende genera- lizar é verdadeira, que os fenômenos ou fatos relacionados devem ser idênticos e, por fim, não se pode relevar o aspecto quantitativo dos fatos ou fenômenos. Apri- morando esses cuidados, foram estipuladas algumas leis para o método indutivo (NÉRICI apud LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 88): [...] nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos; o que é verdade de muitas partes suficientemente enumeradas de um su- jeito, é verdade para todo esse sujeito universal. Portanto, note-se que nesse método é imprescindível a verificação do dado particular, assim como de sua utilização de forma geral, por meio de uma experi- mentação ampla para que a generalização obtida seja considerada verdadeira. Método dedutivo O método dedutivo é o oposto do indutivo. Ele parte de uma generalização para uma questão particularizada. Esses argumentos gerais apresentam-se como verdadeiros, pois já foram vali- dados pela ciência. Há, portanto, uma relação lógica entre as premissas gerais e os particulares, pois caso a primeira seja considerada inválida a conclusão também o será. Essa logicidade fez com que esse método fosse amplamente utilizado por pesquisadores mais formalistas. Esse tipo de método fundamenta-se no silogismo: partindo de uma premissa maior, passando por outra menor e chegando a uma conclusão particular. Vamos ver um exemplo: Premissa maior – os empregadores são favoráveis à flexibilização das leis trabalhistas.
  • 5. Métodos de abordagem e de procedimento 25 Premissa menor – Mário é empregador. Conclusão – logo, Mário é a favor da flexibilização das leis trabalhistas. Note-se que, se a premissa maior for considerada falsa, a conclusão não terá validade. “A questão fundamental da dedução está na relação lógica que deve ser estabelecida entre as proposições apresentadas, a fim de não comprometer a validade da conclusão”(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 65). Para Salomon (1996, p. 30), existem duas diferenças básicas entre os métodos indutivo e dedutivo. A primeira consiste no fato de que se todas as premissas são verdadeiras, no método dedutivo, a conclusão deve ser verdadeira. Já no método indutivo, se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provavelmente, mas não necessariamente, verdadeira. A segunda diferença é que no método indutivo a conclusão traz ideias que não estavam presentes nas premissas, enquanto que no método dedutivo todas as informações já estavam, mesmo que indiretamente, previstas nas premissas. Note-se que o método dedutivo possibilita ao pesquisador caminhar do co- nhecido para o desconhecido com uma margem pequena de erro. Todavia, esse método é bastante limitado, uma vez que a conclusão a que se chegou não pode ultrapassar as premissas (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 65). Outro aspecto a ser observado em relação a esses dois métodos é que [...] não se apresentam de forma muito clara, isto porque ambos estão fundamentados no pro- cesso observacional. Ressalta-se, no entanto, que, se por um lado, o método dedutivo pode nos levar à construção de novas teorias e novas leis, por outro, o método indutivo só nos possibilita chegar a generalizações empíricas de observações. (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 66) O pesquisador, ao escolher o método para sua pesquisa, deverá levar em con- sideração os seus objetivos, o que e onde pretende chegar. Não se deve esquecer também que os métodos de abordagem devem estar presentes em todos os mo- mentos da pesquisa, independentemente da parte da monografia que está sendo analisada. Método hipotético-dedutivo O método hipotético-dedutivo busca unir os dois anteriores, acrescentando a racionalização do método dedutivo à experimentação do método indutivo.
  • 6. 26 Metodologia da Pesquisa Foi desenvolvido por Karl R. Popper e consiste na eleição de hipóteses (propo- sições hipotéticas), as quais possuem uma certa viabilidade para responder um determinado problema de natureza científica. Após a eleição dessas hipóteses, busca-se o falseamento delas, a fim de com- provar sua sustentabilidade. O método encerra-se com a comprovação das hipó- teses; caso sejam refutadas, as hipóteses deverão ser refeitas. No entender de Soares (2003, p. 39), o método hipotético-dedutivo consistiria [...] na construção de conjecturas, as quais deveriam ser submetidas a testes, os mais diversos possíveis, à crítica intersubjetiva e ao controle mútuo pela discussão crítica, à publicidade crítica e ao confronto com os fatos, para ver quais as hipóteses que sobrevivem como mais aptas na luta pela vida, resistindo às tentativas de refutação e falseamento. Problema Hipóteses Falseamento das hipóteses Comprovação ou não das hipóteses Figura 1 – Passos de utilização do método hipotético-dedutivo. Para que um pesquisador refute uma hipótese, ele deverá atuar de forma crí- tica. O próprio Popper, em suas obras A Lógica da Pesquisa Científica (1934) e Con- jecturas e Refutações (1963), afirmou que é impossível atingir a verdade. A ciência não trabalha nessa esfera, mas sim na esfera da probabilidade. Isso quer dizer que uma teoria científica pode fornecer apenas soluções temporárias para os problemas que enfrenta, pois assim que uma eventual nova teoria responder de forma diferen- te, ou melhor, ao problema suscitado, a primeira será refutada. (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 69) Na área jurídica, esse fato é verificável empiricamente, pois as decisões são al- teradas cotidianamente. Como o Direito é linguagem e depende da interpretação dos seus operadores, será variável. Uma teoria (hipótese, no nosso caso) será vista como adequada, para não utilizar o termo verdadeira, até que seja falseada e não consiga se manter; será, portanto, refutada.
  • 7. Métodos de abordagem e de procedimento 27 Método dialético A primeira questão a ser pontuada é a respeito da identificação do método dia- lético com a corrente de pensamento marxista. O método dialético não foi criado por Marx, mas sim utilizado na criação de sua teoria. Por isso, a opção por esse método não implica a adoção de um pensamento“de esquerda”. Dialética é a arte de dialogar, ou seja, de argumentar e contra-argumentar em relação a assuntos que não podem ser demonstrados. A dialética, portanto, restringia-se, nesse caso, à emissão de opiniões, “[...] que poderiam ser conside- radas racionais desde que fundamentadas em uma argumentação consistente” (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 71). Mas há também outra forma de entender o método dialético, que disciplina a construção de conceitos para diferenciar os objetos, e examiná-los, com rigor cien- tífico. Dessa forma, aquilo que se coloca perante o pesquisador como verdade deve ser contraditado, confrontado com outras realidades e teorias para se obter uma conclusão, uma nova teoria. Utilizar o método dialético como raciocínio faz com que seja possível “[...] verificar com mais rigor os objetos de análise, justa- mente por serem postos frente a frente com o teste de suas contradições possí- veis”(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 72). Mas foi com Hegel que a dialética ganhou espaço na ciência, já no século XIX. Esse pensador identificou três momentos básicos que compõem o método dia- lético: a tese, que constitui uma pretensão de verdade, a antítese, que vai negar a tese apresentada, e a síntese, que surge do embate teórico entre tese e antítese. A síntese, por sua vez, constituirá uma nova tese, à qual será proposta uma antítese, e assim por diante. Dessa forma, o método dialético impõe movimento, pois a conclusão será acatada como uma nova tese, dando continuidade ao método. Vejamos como fica o esquema do método dialético: Tese Antítese Síntese (Nova tese) Figura 2 – Esquema do método dialético.
  • 8. 28 Metodologia da Pesquisa Note-se que a partir desse método, o objeto é proposto para se superar me- diante a proposição de uma antítese, originando um resultado distinto. É a partir dessa permanente superação que podemos afirmar que o método dialético é um método de movimento. O que a dialética faz de diferente é captar as estruturas da dinâmica social, não da estática. Não é, pois, um instrumental de resfriamento da história, tornando-a mera repetição estanque de esquemas rígidos e já não reconhecendo conteúdos variados e novos, mas um instrumental que exalte o dinamismo dos conteúdos novos, mesmo que se reconheça não haver o novo total. (DEMO, 1985, p. 91) Mesmo sendo um método interessantíssimo, sua utilização é complexa e ne- cessita de um amadurecimento na pesquisa. Métodos de procedimento ou secundários Os métodos de procedimento constituem etapas mais concretas da pesquisa, explicando objetos menos abstratos. Relacionam-se, portanto, especificamente com as fases da pesquisa e não com o plano geral dela. Método experimental O método experimental é um método fundado na experiência. Seu objeto é controlado para se atingir resultados pretendidos. Dessa forma, o objeto é colo- cado sob condições ideais, reproduzidas em laboratórios ou não, selecionando-se as hipóteses a serem verificadas. Método estatístico O método estatístico é empregado nas pesquisas quantitativas, uma vez que trata de elementos de caráter matemático. Pretende fornecer uma base concreta e segura das informações a serem analisadas. Terá gráficos e apresentações analí- ticas das tendências características dos fenômenos pesquisados. Método histórico O método histórico coloca os dados da pesquisa sob uma perspectiva histórica. Isso pode ocorrer de três formas: comparar o conjunto dos elementos que existe hoje com suas origens his- tóricas;
  • 9. Métodos de abordagem e de procedimento 29 comparar formações anteriores que eram precursoras do que há na atuali- dade; acompanhar a evolução do objeto pesquisado pela história. Método comparativo O método comparativo consiste no confronto entre elementos, levando em consideração seus atributos. Promove o exame dos dados a fim de obter diferen- ças ou semelhanças que possam ser constatadas, e as devidas relações entre as duas. Pode ser unido ao método histórico, realizando comparações entre os dados do presente com os do passado. Texto complementar A ciência procura certezas (ACHINSTEIN, 2005) No que toca a este critério, a ciência parece-se com a matemática e é di- ferente da metafísica, da teologia e da astrologia, as quais, alegadamente, nunca poderão ser senão especulativas. Nas Regulae ad Directionem Ingenii (Regras para a Direção do Espírito, 1628) a segunda regra de Descartes diz-nos que“importa lidar apenas com aqueles objetos para cujo conhecimento certo e indubitável os nossos espíritos parecem ser suficientes”. Os empiristas en- contram-se mais divididos. Newton, que rejeitou a ideia de Descartes de que a ciência deveria procurar proposições indubitáveis, reconhece na sua quarta regra do método científico que qualquer proposição, por muito sustentada que seja, está sujeita a confrontar-se com exceções, à medida que novos fenô- menos vão sendo observados. Ainda assim, os cientistas deveriam sempre se esforçar por procurar as maiores certezas que as suas investigações empíricas lhes permitissem. Essas certezas podem ser obtidas“deduzindo proposições a partir dos fenômenos e generalizando-as através da indução”. Entre os empiristas, no outro extremo oposto a Newton, estão Popper e Laudan. Para Popper, a ciência não pode ter um elevado grau de certeza, uma
  • 10. 30 Metodologia da Pesquisa vez que a utilização de quaisquer generalizações indutivas que poderia gerar essa certeza carece de justificação. Tampouco é desejável, uma vez que os cientistas fariam as generalizações mais fortes possível, logo, as mais imprová- veis. Para Laudan (1977) a ciência procura oferecer soluções“adequadas”para problemas“interessantes”, para os quais as questões da verdade, da certeza ou mesmo da probabilidade são irrelevantes. Uma perspectiva empirista que se situa entre estes dois extremos é a de Carnap e de outros probabilistas. Os cientistas devem procurar provas empí- ricas que sustentem uma dada teoria, aumentando a sua probabilidade, mas sem que necessariamente esta probabilidade seja elevada (para uma crítica, veja-se Achinstein, 1983). Os cientistas seguem um método científico Os praticantes das não-ciências não o fazem. Um método científico é um conjunto de regras que os cientistas deveriam seguir para descobrir e testar leis e teorias. Se tais regras existem e, assim sendo, qual é a sua formulação, se são universais para todas as ciências ou dentro de uma dada ciência, se mudam de uma época para a outra, são questões calorosamente disputadas. De acordo com uma perspectiva, existem regras destinadas a testar as teo- rias científicas que se aplicam a toda a ciência em todas as épocas. Esta pers- pectiva foi abraçada por Descartes, que propôs 21 dessas regras; foi também defendida por Newton (1687), que propôs quatro regras de pensamento para a filosofia (natural), consistindo em duas para inferir causas de coisas, e duas para produzir generalizações indutivas a partir de fenômenos observados. As duas mais importantes posições empiristas empenhadas num método científico universal são o hipotético-dedutivismo e o indutivismo. Perante os dados e os problemas, o cientista começa por propor uma hipótese, a qual não é indutiva ou dedutivamente inferida a partir dos dados ou de qualquer outra coisa, mas simplesmente apresentada como uma conjectura. Partindo dela e, possivelmente, de outras suposições, são deduzidas conclusões obser- váveis, geradas por via dedutiva, utilizando a lógica e, frequentemente, a matemática. Se as conclusões são confirmadas pela observação, a hipótese é provisoriamente aceita. Se descobrir-se que são falsas, a hipótese é rejeitada e é proposta outra nova hipótese. Esta é a perspectiva de Popper.
  • 11. Métodos de abordagem e de procedimento 31 Contrastando com ela, os indutivistas exigem mais um passo: um argu- mento indutivo que dê um apoio independente à hipótese ou à teoria. Este consiste em aplicar aquilo que se observou num número limitado de casos a todos os casos abrangidos por uma dada lei, ou em procurar causas semelhan- tes para efeitos semelhantes. Indutivistas como Newton ou Mill rejeitaram o método hipotético-dedutivo com a justificação de que diferentes hipóteses incompatíveis podem implicar os mesmos dados. Aquilo de que se necessita é que uma delas tenha um suporte indutivo independente. A existência de um método científico universal tem sido contestada por vários autores do século XX, especialmente a partir dos anos 1960. Thomas Kuhn (1962), defendendo uma abordagem histórica e relativista, afirma que numa dada época os cientistas trabalham dentro de um paradigma, o qual consiste num conjunto de conceitos, práticas, parâmetros de avaliação, regras de pensamento e métodos de observação que variam consideravelmente de uma ciência e de uma época para outra. O paradigma define os problemas que têm que ser resolvidos e os métodos para o fazer. Não há um método científico comum a todos os paradigmas. Para terminar, foi advogada uma abordagem sociológica da ciência (veja- -se, por exemplo, Pinch, 1986), da qual existe uma versão forte que rejeita que se recorra às regras metodológicas para explicar os procedimentos dos cien- tistas. As teorias, sendo subdeterminadas pelos dados, não podem ser inferi- das desses dados através de regras. Dever-se-ia, em vez disso, observar dentro da comunidade científica os fatores sociais que explicam a forma como uma teoria científica se desenvolve e o grupo“negocia”a sua aceitação. Ampliando seus conhecimentos Metodologia da Pesquisa Jurídica: teoria e prática da monografia para cursos de Direito, de Eduardo C. B. Bittar, editora Saraiva. Metodologia Científica, de Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi, editora Atlas. A Lógica da Pesquisa Científica, de Karl Popper, editora Cultrix.