O documento descreve o primeiro museu de Itaúna, pertencente ao comerciante Cel. Francisco Manoel Franco, que continha artefatos históricos valiosos. Franco participava ativamente de eventos relacionados à história local e foi uma figura importante no desenvolvimento inicial de Itaúna. Infelizmente, sua coleção foi levada para São Paulo após sua morte e seu paradeiro atual é desconhecido.
1. Primeiro Museu
PRIMEIRO MUSEU DE ITAÚNA
O primeiro museu de Itaúna pertenceu ao comerciante Cel. Francisco Manoel Franco,
mais conhecido como Chico Franco, cujo acervo situava-se em sua própria residência,
no antigo beco do Padre João (hoje Rua cel. Francisco Manoel Franco, esquina com
avenida Getúlio Vargas).
O historiador João Dornas Filho informa em seu livro Efemérides Itaunenses que: não
deixando nunca de atender à sua vocação de antiquário inteligente e arguto, o que
lhe permitiu organizar um pequeno museu, no qual se encontravam peças de elevado
valor histórico e real, como belíssima coleção de moedas de cobre do Império
Romano e da Colônia do Brasil , e moedas de prata e ouro do Império brasileiro;
2. uma lança autêntica usada pelos cavaleiros da Idade Média; uma curiosíssima
miniatura da primeira Constituição do Império, contida numa boceta circular para
se trazer no bolso; louças da China e da Índia; armas antigas desde o arco e flecha
dos selvagens brasileiros até colubrinas e fuzis mais recentes; quadros, bustos,
bibelôs, joias, etc.
Sendo o Curador de seu próprio museu, Chico Franco participava de vários eventos
relacionados à exibição de objetos de valores histórico, cultural e artísticos. No ano de
1885 em sua cidade natal, Sabará, o antiquário participou de uma Exposição Regional
Sabarense, sendo presenteado com uma medalha de prata e menção honrosa por
apresentar os seguintes artefatos: Uma bengala de madeira feita a canivete, uma
caveira de veado com chifres cobertos de pelo, dois machados de pedra indígena e
uma palma marítima [1].
No livro Itaúna: Contribuição Para a História do Município, o historiador João
Dornas Filho exibe uma fotografia [2] referente a dois instrumentos de tortura para
escravos, que pertenceram ao museu do Chico Franco, sendo estes: uma Peia de
Ferro[3] e um Libambo [4].
O cel. Franco, segundo o historiador itaunense Guaracy de Castro Nogueira, foi uma
das personalidades mais atuantes do distrito de Sant’Ana do São João Acima (hoje
Itaúna), nas duas últimas décadas do século passado. No ano de 1857, aos 6 de janeiro,
nascia Francisco Manoel Franco, que mais tarde se casou, em primeiras núpcias, com
a senhora dona Amélia Gonçalves de Sousa, vindo a falecer em 1885. Ainda no mesmo
ano, desposou a senhora dona Aurora Gonçalves de Sousa, irmã da falecida.
No ano de 1878, chegava à Sant’Ana de São João Acima (hoje Itaúna), o cel. Franco,
tornando-se um comerciante bem-sucedido na cidade, onde conseguiu adquirir um
bom patrimônio e fortuna, todavia, prestou à sua terra adotiva os mais assinalados
serviços. No ano de 1889, em 21 de abril, diretamente vinculado ao Centro
Republicano de Ouro Preto, o cel. Franco foi eleito primeiro-secretário. Aos 20 de
julho de 1890, segundo informa o historiador Guaracy, o cel. Chico Franco era um
grande apreciador das belas artes e organizou, juntamente com outros companheiros,
a Companhia de Teatro Santanense, tendo o objetivo de construir um prédio destinado
a apresentações teatrais e outras diversões públicas.
Comerciante bem estruturado na cidade e de visão empreendedora, já no ano de 1891
aos 23 de outubro, em casa do cidadão Antônio Pereira de Matos, situada à rua Direita
(hoje Getúlio Vargas), com vários acionistas presentes e demais autoridades da cidade,
assinavam e declaravam constituída a primeira Acta da Assembleia Geral de
Instalação da Companhia de Tecidos Santannense [5]. Neste momento, o cel.
Francisco Franco era empossado no Conselho Fiscal da empresa, mediante o estatuto
da companhia, no Capítulo VIII, Art.40, sendo também, um dos acionistas com o
número de 50 ações.
Alcançada a emancipação política e instalado o município em 2 de janeiro de 1902, foi
nomeado Coletor Federal, cargo este, que exerceu durante várias épocas até a sua
aposentadoria. Participou, em 14 de abril de 1918 da fundação do Clube Itaunense,
precursor do atual Automóvel Clube, cujo objetivo era proporcionar diversão aos seus
associados e manter um salão para leitura. O cel. Francisco Manoel Franco veio a
falecer no dia 27 de novembro de 1941, com 84 anos de idade.
3. Guaracy de Castro Nogueira — História Oral [6]
Segundo Ilca Dornas de Araújo, neta do cel. Francisco Manoel Franco, quando este
morreu, o interventor do Estado Benedito Valadares Ribeiro (hoje seria o cargo de
Governador do Estado de Minas Gerais) não quis deixar o acervo do coronel saísse do
Estado de Minas Gerais. Foi quando veio a Itaúna um conde siciliano e a referida
coleção foi negociada verbalmente e levada para São Paulo. Naquela ocasião, porque a
amante do conde tinha fugido com outro e levado do mesmo o dinheiro disponível,
este ficou desesperado e suicidou-se. Então, ao invés do acervo voltar ao seu local de
origem, foi deixado lá, tomando rumo ignorado. De tudo, ficou esta história talvez não
verdadeira, mas bem bolada, como dizem os italianos.
Apreciando a relação das referidas peças, feita pelo escritor João Dornas Filho,
concluímos que as mesmas se realçavam principalmente por ser cunho curioso.
Portanto ligavam-se sob dado aspecto à arte e História e não condiziam com nosso
contexto local e regional, valorizando o que era autenticamente nosso. Numa reunião
ocorrida no gabinete do prefeito Osmando Pereira da Silva, foi de nossa iniciativa a
proposta de dar ao atual Museu Municipal de Itaúna o ilustre nome de Francisco
Manoel Franco.
Acervo do Museu
4. Família Franco
01 – Francisco Manuel Franco
02 – Aurora Gonçalves Franco
03 – Cezostre Gonçalves Franco
04 – Modestino Gonçalves Franco
5. 05 – Círio Gonçalves Franco
06 – Avelino Gonçalves Franco
07 – Cícero Gonçalves Franco
08 – Ordalia Gonçalves Franco
09 – Maria Gonçalves Franco
10 – Democratino Gonçalves Franco
Referências:
Biblioteca Nacional. Disponível em :
< http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html >
FGV: Fundação Getúlio Vargas: Disponível
em< http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral
FILHO. João Dornas. Itaúna: Contribuição para história do município. 1936,p.34.
FILHO. João Dornas. Efemérides Itaunenses,1951, p.13-14
LOPES. Nei: Dicionário Afro-Brasileiro, p.133.
MOURA. Clóvis: Dicionário da escravidão negra no Brasil, p.164
Jornal: O Estado de Minas. Ouro Preto, 17 de novembro de 1891. Nº 248
Jornal: Província de Minas. Ouro Preto, 5 de dezembro de 1885 N° 294
[1] Jornal: A Província de Minas, p.1.
[2] A fotografia destes instrumentos poderá ser vista também no site da Biblioteca
Nacional no endereço do Link :< http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html >,
com o título: Instrumentos de tortura para os escravos [iconográfico], do Museu do
cel. Francisco Manoel Franco.
[3] Peia de Ferro: Instrumento para tortura de escravos. Constava de uma espécie
de algema ou corrente que prendia os pés do escravo. LOPES, Nei: Dicionário Afro-
Brasileiro, p.133.
[4] Libambo: Que em língua bunda significa corrente que era colocado ao pescoço.
Nesta corrente de ferro, vai-se perdendo de pouco em pouco espaço cada um dos
pretos escravos da maneira seguinte: pelo anel da corrente no espaço competente
fazem os sertanejos, e os do comboio passar um pedaço de ferro e com ele à força de
pancada fazem outro anel; e sobrepondo as pontas de ferro uma a outra, fica a mão do
escravo presa, e metida nesta nova argola.
6. De ordinário é o libambo lançado na mão direita; porque temem os fundidores que,
ficando livre a mão direita, podem os escravos com outro ferro, ou ainda abrir com
pau o anel que os prende. O libambo das escravas é outro; em separado; e soltas as
crianças, a que se dá o nome de crias. MOURA. Clóvis: Dicionário da escravidão negra
no Brasil, p.164.
[5] Jornal: O Estado de Minas. Ouro Preto, 17 de novembro de 1891. Nº 248
[6] O QUE É HISTÓRIA ORAL?
A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas
gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas,
instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. No Brasil, a
metodologia foi introduzida na década de 1970, quando foi criado o Programa de
História Oral do CPDOC.
As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a compreensão do
passado, ao lado de documentos escritos, imagens e outros tipos de registro.
Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador
procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de consumado o fato ou
a conjuntura que se quer investigar.
Além disso, fazem parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao
lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos
experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um
grupo ou da sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e
próximo, facilitando a apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão
das experiências vividas por outros.
Fundação Getúlio Vargas: Disponível em> http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral
Pesquisa e Organização: Charles Aquino. Pós-Graduação em andamento pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para o curso de História e Cultura no
Brasil Contemporâneo. Possui graduação em História pela Universidade do Estado de
Minas Gerais (UEMG) – Divinópolis MG
Acervo: Prof. Marco Elísio, Família Franco, Instituto Cultural Maria de Castro
Nogueira