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07/04/2017 OS SETE ANÕES EM ITAÚNA ~ Itaúna Décadas ...
http://itaunaemdecadas.blogspot.com.br/2017/04/os­sete­anoes­em­itauna.html 1/2
OS SETE ANÕES EM ITAÚNA
 19:43:00
 
CHARLES AQUINO
 NO COMMENTS
OS SETE ANÕES EM ITAÚNA & BRANCA DE NEVE
*Urtigão
A vida das professoras primárias e das diretoras de grupo escolar era dura. Nada de
verbas de qualquer espécie para merenda escolar. O dinheiro tinha de ser angariado com rifas,
tômbolas, jantares festivos e contribuições de pais de alunos mais abastados.
Havia  uma  diferença  dos  dias  de  hoje.  Só  recebiam  merenda  os  alunos
comprovadamente  pobres.  Normalmente  era  sopa,  bem  rica,  de  macarrão  "goela  de  pato"
com  carne  picada,  legumes,  etc.  Se  não  era  macarrão,  era  um  belo  engrossado  de  fubá,
comprado  no  moinho  do  Serjobes.  Tinha  broa  de  fubá,  broa  de  canjica  com  melado  de
rapadura, broa feita com coalhada. Quem fazia a merenda era a Merendeira, uma funcionaria
destacada para a função. Os outros alunos, " não pobres" levavam merenda de casa.
Lembro­me bem de um teatro organizado pelas professoras do Grupo Escolar " José de
Melo", onde fiz o primeiro ano primário. Coisa bem­feita. 
A  peça  teatral  apresentada  foi  a  história  da  Branca  de  Neve  e  os  Sete  Anões,  com
números de canto e dança, orquestra de violões e violinos de uns ciganos estabelecidos em
Itaúna. Eles eram ciganos fixos. Tinham uma fábrica de máquinas de moer carne. Tinham
fama de bonitões e as professoras solteiras suspiravam por um deles. Por azar delas, só se
casavam com mulheres “ciganas”.
07/04/2017 OS SETE ANÕES EM ITAÚNA ~ Itaúna Décadas ...
http://itaunaemdecadas.blogspot.com.br/2017/04/os­sete­anoes­em­itauna.html 2/2
Ia me esquecendo de dizer: as apresentações foram no antigo Cine Sant'ana, na rua
Silva Jardim. Espetáculo com ingresso pago. O dinheiro arrecadado serviria para reforçar a
Caixa Escolar.
Os  ciganos  tocavam  de  graça,  bem  como,  todos  os  "artistas"  se  apresentavam  sem
cachê. Fantasia também por conta dos pais. Já narrei em outra parte deste blog que eu e meu
irmão mais velho, éramos nanicos. Ele foi escolhido para ser o Zangado. Fazia bem o seu
tipo.  Baixinho,  marrento  e  enfezado.  Eu  era  de  boa  paz.  Deram­me  o  papel  de  Feliz.
Entrávamos  no  palco,  com  pás  e  picaretas  nas  costas  a  cantar  as  canções  conhecidas  de
gerações  e  gerações.  Barbas  de  algodão  a  fazer  cócegas  e  todos  nós  compenetrados  da
responsabilidade que nos cabia.
Na casinha bem arrumada, encontramos Branca de Neve, adormecida, encantada pela
feiticeira invejosa. Era bonita. Se não me falha a memória, o papel coube a Eleusa Moreira, já
desaparecida. Um alvoroço entre os anões. O chefe era o Irdevan Nogueira, dava ordens com
precisão.
Branca de Neve jazia na cama, adormecida para sempre. O que fazer. Aflição, clima de
" barata voa"!!!!!
Nos contos de fada, sempre há final feliz. Eis que surge o Príncipe Encantado, vestido
de veludo azul, com alamares e botões dourados. Chapéu com plumas, parecendo um mestre
sala de escola de samba, tamanha a imponência. Era o Aires Bastos. Muito branco, com a
palidez realçada pela luz indireta e pelas roupas azuis. Beija a Branca de Neve no rosto e o
feitiço desaparece.
Aplausos retumbantes. Mesuras e mais mesuras para a plateia. Fecham­se as cortinas.
As palmas não cessam. Os toscos artistas reaparecem. Mais aplausos. As mães orgulhosas "
lambem as crias”. Nada de assobios e os gritinhos histéricos tão comuns nas apresentações
atuais. Sucesso absoluto. Três dias de casa lotada. Só não houve prorrogação da temporada
em razão de compromissos dos donos do cinema com as distribuidoras de filmes.
Um segredo: para os artistas mirins o que fez sucesso mesmo foram as maçãs. Coisa
tão rara no interior que foram mandadas buscar em Belo Horizonte. Compradas num empório
de nome" Estâncias California". Ficava na escadaria dos edifícios Sulacap e Sulamerica.
A  cada  anão,  coube  uma  maçã  à  guisa  de  cachê.  Embrulhadas  em  um  papel  azul,
vermelhas e perfumadas. Uma beleza.
 
*Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas
décadas de 50 e 60. Tudo que narrei acima é verdade. É meio piegas, mas sai um pouco do
"modelo" Urtigão!
 
Crônica escrita e enviada especialmente para o blog Itaúna Décadas em 06/04/2017.

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  • 1. 07/04/2017 OS SETE ANÕES EM ITAÚNA ~ Itaúna Décadas ... http://itaunaemdecadas.blogspot.com.br/2017/04/os­sete­anoes­em­itauna.html 1/2 OS SETE ANÕES EM ITAÚNA  19:43:00   CHARLES AQUINO  NO COMMENTS OS SETE ANÕES EM ITAÚNA & BRANCA DE NEVE *Urtigão A vida das professoras primárias e das diretoras de grupo escolar era dura. Nada de verbas de qualquer espécie para merenda escolar. O dinheiro tinha de ser angariado com rifas, tômbolas, jantares festivos e contribuições de pais de alunos mais abastados. Havia  uma  diferença  dos  dias  de  hoje.  Só  recebiam  merenda  os  alunos comprovadamente  pobres.  Normalmente  era  sopa,  bem  rica,  de  macarrão  "goela  de  pato" com  carne  picada,  legumes,  etc.  Se  não  era  macarrão,  era  um  belo  engrossado  de  fubá, comprado  no  moinho  do  Serjobes.  Tinha  broa  de  fubá,  broa  de  canjica  com  melado  de rapadura, broa feita com coalhada. Quem fazia a merenda era a Merendeira, uma funcionaria destacada para a função. Os outros alunos, " não pobres" levavam merenda de casa. Lembro­me bem de um teatro organizado pelas professoras do Grupo Escolar " José de Melo", onde fiz o primeiro ano primário. Coisa bem­feita.  A  peça  teatral  apresentada  foi  a  história  da  Branca  de  Neve  e  os  Sete  Anões,  com números de canto e dança, orquestra de violões e violinos de uns ciganos estabelecidos em Itaúna. Eles eram ciganos fixos. Tinham uma fábrica de máquinas de moer carne. Tinham fama de bonitões e as professoras solteiras suspiravam por um deles. Por azar delas, só se casavam com mulheres “ciganas”.
  • 2. 07/04/2017 OS SETE ANÕES EM ITAÚNA ~ Itaúna Décadas ... http://itaunaemdecadas.blogspot.com.br/2017/04/os­sete­anoes­em­itauna.html 2/2 Ia me esquecendo de dizer: as apresentações foram no antigo Cine Sant'ana, na rua Silva Jardim. Espetáculo com ingresso pago. O dinheiro arrecadado serviria para reforçar a Caixa Escolar. Os  ciganos  tocavam  de  graça,  bem  como,  todos  os  "artistas"  se  apresentavam  sem cachê. Fantasia também por conta dos pais. Já narrei em outra parte deste blog que eu e meu irmão mais velho, éramos nanicos. Ele foi escolhido para ser o Zangado. Fazia bem o seu tipo.  Baixinho,  marrento  e  enfezado.  Eu  era  de  boa  paz.  Deram­me  o  papel  de  Feliz. Entrávamos  no  palco,  com  pás  e  picaretas  nas  costas  a  cantar  as  canções  conhecidas  de gerações  e  gerações.  Barbas  de  algodão  a  fazer  cócegas  e  todos  nós  compenetrados  da responsabilidade que nos cabia. Na casinha bem arrumada, encontramos Branca de Neve, adormecida, encantada pela feiticeira invejosa. Era bonita. Se não me falha a memória, o papel coube a Eleusa Moreira, já desaparecida. Um alvoroço entre os anões. O chefe era o Irdevan Nogueira, dava ordens com precisão. Branca de Neve jazia na cama, adormecida para sempre. O que fazer. Aflição, clima de " barata voa"!!!!! Nos contos de fada, sempre há final feliz. Eis que surge o Príncipe Encantado, vestido de veludo azul, com alamares e botões dourados. Chapéu com plumas, parecendo um mestre sala de escola de samba, tamanha a imponência. Era o Aires Bastos. Muito branco, com a palidez realçada pela luz indireta e pelas roupas azuis. Beija a Branca de Neve no rosto e o feitiço desaparece. Aplausos retumbantes. Mesuras e mais mesuras para a plateia. Fecham­se as cortinas. As palmas não cessam. Os toscos artistas reaparecem. Mais aplausos. As mães orgulhosas " lambem as crias”. Nada de assobios e os gritinhos histéricos tão comuns nas apresentações atuais. Sucesso absoluto. Três dias de casa lotada. Só não houve prorrogação da temporada em razão de compromissos dos donos do cinema com as distribuidoras de filmes. Um segredo: para os artistas mirins o que fez sucesso mesmo foram as maçãs. Coisa tão rara no interior que foram mandadas buscar em Belo Horizonte. Compradas num empório de nome" Estâncias California". Ficava na escadaria dos edifícios Sulacap e Sulamerica. A  cada  anão,  coube  uma  maçã  à  guisa  de  cachê.  Embrulhadas  em  um  papel  azul, vermelhas e perfumadas. Uma beleza.   *Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Tudo que narrei acima é verdade. É meio piegas, mas sai um pouco do "modelo" Urtigão!   Crônica escrita e enviada especialmente para o blog Itaúna Décadas em 06/04/2017.