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1
ABRATHEO
Pr. A. Carlos G. Bentes
DOUTOR EM TEOLOGIA
PhD em Teologia Sistemática
2
ÍNDICE
O QUE É PSICOLOGIA? 3
Breve história da psicologia 3
Psicologia e Profissão 7
ACONSELHAMENTO BÍBLICO 9
DEFINIÇÃO DE ACONSELHAMENTO BÍBLICO 9
Aconselhamento noutético 13
QUAIS COMPROMISSOS TEOLÓGICOS SÃO ESSENCIAIS PARA O MÉTODO NOUTÉTICO DE
ACONSELHAMENTO? 22
A Teologia no Aconselhamento Bíblico. 22
O valor do aconselhamento bíblico. 24
ASPECTOS FÍSICOS E ESPIRITUAIS DO ACONSELHAMENTO 25
COMPARAÇÃO DE MODELOS DE ACONSELHAMENTO 29
PSICOTEOLOGIA I: Onde psicologia e teologia se reencontram 35
NEUROTEOLOGIA 41
NEUROTEOLOGIA E ANATOMIA DO CÉREBRO 61
O SISTEMA LÍMBICO E A EQUAÇÃO MENTE-CÉREBRO 77
O cérebro e o corpo 84
ONDE ESTÁ DEUS NO CÉREBRO? 85
Busca espiritual ativa diferentes regiões do cérebro, indicam estudos 86
BIBLIOGRAFIA 89
Biografia do autor 90
3
O QUE É PSICOLOGIA?
Você sabe o que quer dizer Psicologia? O que faz um psicólogo ou psicóloga?
Podemos começar definindo a palavra psicologia. A definição de psicologia
poderia ser dada por sua origem grega: Ψυχολογία = Psychê + logia. Psychê quer dizer
alma ou mente e também era o nome da Deusa “Psiquê”, que na mitologia grega era
esposa de Eros, o nosso famoso cupido. Note que a primeira letra, Ψ (psi), é o símbolo da
Psicologia, a figura acima.
Logia vem de logos, que quer dizer: discurso, conhecimento, ciência. Deste modo
Psicologia é a ciência da alma e da mente. É a ciência que estuda a mente e o
comportamento.
A palavra psicologia significa estudo da psiquê e a palavra psiquê significa mente
ou alma. No Microsoft Thesaurus, encontramos com referencia psique: "eu: atman, alma,
espírito; subjetividade: eu superior, eu espiritual, espírito". O leitor é lembrado, mais uma
vez, de que as raízes da psicologia se estendem pelas profundezas da alma e do espírito
humanos.
A palavra psique ou sua equivalente tem fontes antigas, remontando a, pelo menos,
vários milênios antes de Cristo. Nessa Época, ela em geral significava a força ou o
espírito que animava o corpo ou veiculo material. Em dado momento, na Alemanha do
século XVI, psique foi conjugada a logos - palavra ou estudo - para formar psicologia, o
estudo da alma ou do espírito, conforme aparecem nos seres humanos. Ainda se discute
quem teria utilizado pela primeira vez a palavra psicologia; alguns dizem que foi
Melanchton; outros dizem que foi Freigius; outros ainda, que foi Goclenius de Marburgo.
Porém, por volta de 1730, ela já estava sendo utilizada num sentido mais moderno por
Wolff, na Alemanha; por Hartley na Inglaterra; por Bonnet, na França - e mesmo nessa
ocasião, psicologia ainda significava, como a New Princeton Review de 1888 a definia,
"a ciência da psique ou da alma".1
A psicologia é tanto um campo de estudos acadêmicos (em Universidades e
faculdades) como um campo de aplicação dos conhecimentos: consultórios, hospitais,
clínicas de saúde mental, em empresas e organizações.
Deste modo, a psicologia é uma ciência (campo de conhecimentos) e uma
profissão, que foi regulamentada no Brasil em 1962.
O objetivo principal dos psicólogos e psicólogas é entender e explicar o
pensamento, a emoção e o comportamento das pessoas. Quanto à área de aplicação da
psicologia, podemos dizer que qualquer lugar onde se encontre uma pessoa, poderíamos
ter um psicólogo atuando – dada a definição anterior. Clínicas, hospitais, escolas,
empresas, indústrias, laboratórios são áreas nas quais os psicólogos trabalham.
Breve história da psicologia
Resumo da História da Psicologia com as Principais Abordagens
Em certo sentido, pode-se dizer que a psicologia existiu desde o nascimento da
filosofia grega. Obras de Platão e Aristóteles já contém estudos sobre a alma humana.
1
WILBER Ken. PSICOLOGIA INTEGRAL. São Paulo, SP. EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA, 2009, p. 7.
4
Assim, ao longo da filosofia como um todo, desde a Antiguidade, passando pela Idade
Média e moderna, encontramos livros relacionados aos temas da psicologia: estudos
sobre os humores, temperamentos, sofrimentos, ética.
Mas existe um autor que é considerado o pai da moderna psicologia: seu nome
é Wilhelm Maximilian Wundt. Ele é considerado o fundador da psicologia enquanto
ciência por ter criado o primeiro laboratório de psicologia, em Leipiz, na Alemanha em
1879.
Wilhelm Maximilian Wundt foi um médico, filósofo e psicólogo alemão. É
considerado um dos fundadores da moderna psicologia experimental junto com Ernst
Heinrich Weber e Gustav Theodor Fechner.
O laboratório fundado por Wundt:
[...] significou o desligamento das ideias psicológicas de ideias abstratas e
espiritualistas, que defendiam a existência de uma alma nos homens, a qual seria a sede
da vida psíquica. A partir daí, a história da psicologia é de fortalecimento de seu vínculo
com os princípios e métodos científicos. A ideia de um homem autônomo, capaz de se
responsabilizar pelo seu próprio desenvolvimento e pela sua vida, também vai se
fortalecendo a partir desse momento (Bock, 1999, p. 26).
O grande mérito de Wundt foi o fato de encontrar nas reações orgânicas do homem
a explicação para muitas das atividades mentais e comportamentos, antes considerados
originários da alma:
Wundt desenvolve a concepção do paralelismo psicofísico, segundo a qual aos
fenômenos mentais correspondem fenômenos orgânicos. Por exemplo, uma estimulação
física, como uma picada de agulha na pele de um indivíduo, teria uma correspondência na
mente deste indivíduo, Wundt teria um método que denomina introspeccionismo. Nesse
método, o experimentador pergunta ao sujeito, especialmente treinado para a auto-
observação, os caminhos percorridos no seu interior por uma estimulação sensorial (a
picada da agulha, por exemplo) (Bock, 1999, p. 43).
Wundt abriu dois grandes campos de pesquisa para a psicologia: a pesquisa
experimental (em laboratório) e a psicologia social ou psicologia dos povos – em alemão
Völkerpsychologie.
5
Abordagens da psicologia
Até os dias atuais, os psicólogos contemporâneos dividem a psicologia em três
grandes abordagens: a psicanálise, o behaviorismo (comportamentalismo) e humanismo.
Existem três grandes abordagens dentro da psicologia:
I. A psicanálise;
II. O behaviorismo (comportamentalismo);
III. O humanismo.
Sem elas, não podemos contar a história da psicologia nem explicar “o que é
psicologia”. Além destas três forças, que serão explicadas abaixo, existem outras
abordagens da psicologia como a psicologia transpessoal e a PNL, Programação
Neurolinguística.
A psicanálise
O pai da psicanálise foi Sigmund Freud, neurólogo austríaco nascido em 1859. A
ideia central da psicanálise (análise da psiquê) é a ideia de inconsciente. Embora seja um
conceito complexo, podemos entendê-lo como uma “parte” de nossa mente que o eu, a
consciência, não controla.
Com a ideia de inconsciente, Freud explicou os sonhos, sintomas, atos falhos2
,
piadas e doenças psíquicas. De suas amplas pesquisa que procuraram abordar a psiquê,
surgiu o ditado “Freud explica”.
Outros teóricos como Alfred Adler, C. J. Jung e Reich discordaram em alguns
pontos da teoria de Freud e criaram suas próprias linhas de pesquisa. Mas como todas não
abandonam a ideia de inconsciente, podemos dizer que todas surgiram a partir da
psicanálise.
O behaviorismo
O termo behaviorismo vem do inglês behavior, comportamento. Em português,
podemos dizer tanto behaviorismo como comportamentalismo.
O comportamentalismo define a psicologia como a ciência que estuda o
comportamento. Autores como Pavlov, Watson e B. F Skinner deram grandes
contribuições para o desenvolvimento desta abordagem da psicologia.
Pavlov estudava o comportamento de salivação de cães. Em seu laboratório de
pesquisa, ele criou um experimento que o tornou mundialmente famoso: Toda vez que ele
dava comida ao cão ele tocava uma sineta. Depois de certo tempo, apenas tocando a
sineta, o cão salivava. Ou seja, ele provou o condicionamento animal, que explica a causa
de certas fobias em humanos.
2
Ato falho é um equívoco na fala, na memória, em uma atuação física, provocada hipoteticamente pelo inconsciente, isto é,
através do ato falho o desejo do inconsciente é realizado. Isto explica o fato de que nenhum gesto, pensamento ou palavra
acontece acidentalmente. Os atos falhos são diferentes do erro comum, pois este é resultado da ignorância ou conveniência.
6
Skinner aprofundou as pesquisas da área, inaugurando o que chamou de
behaviorismo radical. Fazendo uso também de experimentos com animais, ele
desenvolveu o conceito de condicionamento operante.
A grosso modo, podemos resumir este conceito da seguinte forma: o
comportamento tem probabilidade de acontecer dada sua relação com os fenômenos
anteriores e posteriores.
Em outras palavras: um comportamento vai ser controlado pelo que aconteceu
antes e pelo que pode acontecer depois. Por exemplo, posso adorar comer chocolate. Mas
se antes de comer chocolate, eu tiver comido muito chocolate, se você me oferecer –
mesmo gostando muito de chocolate – provavelmente eu não vou aceitar.
O humanismo
Na década de 1950, houve uma forte reação contra estas duas abordagens da
psicologia: a psicanálise e o behaviorismo. Esta reação ficou conhecida como
humanismo ou psicologia humanista e tem dois importantes teóricos: Carl Rogers e
Abraham Maslow.
Em 1962, Maslow publicou o livro Toward a Psychology of being (Em Direção a
uma Psicologia do Ser), em que defendia a existência de uma força dentro da Psicologia:
o humanismo.
Um dos conceitos mais conhecidos de Maslow é a de hierarquia de necessidades.
Maslow desenhou uma pirâmide, muito utilizada nos estudos de motivação, sobre a
ordem de prioridades de satisfação do homem.
7
Em outras palavras, primeiro buscamos satisfazer:
a) necessidades fisiológicas – como fome e sono;
b) segurança – emprego, família, saúde;
c) amizade, relacionamentos amorosos;
d) necessidades de estima e;
e) realização pessoal.
Psicologia e Profissão
A psicologia possui um vasto campo de atuação. Se você deseja cursar a faculdade
de psicologia ou se você deseja simplesmente saber mais sobre as áreas de atuação, esta
lição é para você.
No curso de psicologia estudamos diversos assuntos, desde matérias iniciais e
gerais como História da Filosofia, Anatomia, Sociologia e Antropologia até matérias
específicas sobre as forças da psicologia e disciplinas práticas.
Como a psicologia se relaciona com os campos citados acima, especialmente a
biologia, filosofia e sociologia, é uma área que exige constante atualização.
Psicologia Clínica
Compreende a maior área de atuação dos profissionais da psicologia e é também a
área que as pessoas mais conhecem e associam com os psicólogos. Geralmente, pensa-se
na profissão de psicologia: um consultório com divã.
A psicologia clínica vai sofrer influência das grandes forças da psicologia e de
outras áreas mais recentes como a Psicologia Transpessoal e PNL (programação
neurolinguística), bem como da medicina (psiquiatria) e de terapias corporais.
8
Os psicólogos nesta área buscam tratar o sofrimento mental e psíquico dos
pacientes, diagnosticando as doenças mentais e realizando uma intervenção de acordo
com as necessidades de cada caso.
Psicologia do Desenvolvimento (Infância e adolescência)
Estudo e pesquisa do desenvolvimento mental e emocional de crianças e
adolescentes. Mas não só: são também estudados as mudanças provocadas pela meia
idade e pelo advento da terceira idade.
Psicologia Social
Estudo e intervenção dos indivíduos em contextos grupais. Ou seja, como o
indivíduo se relaciona com grupos (família, escola, amigos, multidões).
Nesta área, o psicólogo pode trabalhar em comunidades, grupos de autoajuda e no
governo.
Psicologia Organizacional (Empresas)
Foi uma das primeiras áreas de atuação dos psicólogos no início do século XX.
Muitos testes de personalidade surgiram através das necessidades das empresas na hora
de selecionar e contratar funcionários.
O profissional que trabalha em Organizações e Empresas pode prestar serviços de
Recrutamento e Seleção de Pessoal, sendo o único profissional capacitado a aplicar,
corrigir e analisar testes psicológicos.
Psicologia da Personalidade
Estuda os padrões de pensamentos, sentimentos e comportamentos dos indivíduos,
que fazem com que cada pessoa seja única e diferente de todas as demais. Influencia
fortemente as práticas da Psicologia Clínica.
TEOPSICOTERAPIA
Teo/psico/terapia:
Deus Psicologia Saúde
União da Palavra de Deus com a Psicologia
para obtenção da saúde
9
ACONSELHAMENTO BÍBLICO 3
DEFINIÇÃO DE ACONSELHAMENTO BÍBLICO
O que não é aconselhamento bíblico.
O aconselhamento bíblico não é função de um especialista. O aconselhamento
bíblico é uma obrigação de todos os membros que estão bem solidificados, uma
preocupação não apenas dos pastores, mas de toda a igreja de Deus em prover base sólida
para o crescimento cristão.
Já que várias distorções da verdade têm surgido com o nome de aconselhamento
bíblico, antes de definirmos com precisão o que é aconselhamento bíblico precisamos
saber o que não é aconselhamento bíblico.
Em primeiro lugar, o aconselhamento bíblico não é uma atividade reservada para os
especialistas. Paulo, em Rm 15, nos diz que o que um conselheiro cristão precisa é estar
em comunhão com Cristo, nos versos de 1 a 13 ele mostra o que Cristo fez por nós e no
14, como consequência disso diz: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso
respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para
vos admoestardes uns aos outros”. Deixando claro que o que precisamos para sermos
bons conselheiros é sermos salvos.
Em segundo lugar devemos notar que o aconselhamento bíblico não é uma
atividade opcional para a Igreja. Podemos ver na atitude de Paulo que ele dava grande
ênfase ao aconselhamento. Em At 20.31 ele nos mostra a intensidade com a qual ele
realizava este serviço dizendo que o fazia dia e noite, e o fazia até o ponto de chorar por
eles. Em Cl 1.28 ele nos mostra a amplitude desta obra quando diz que anunciou a todo
homem.
Por último devemos notar que o propósito do aconselhamento bíblico não é o bem-
estar do homem, mas a glória de Deus. Numa época em que a felicidade do homem esta
3
ALMEIDA, Marcos Emanoel P. de. O ACONSELHAMENTO BÍBLICO.
10
acima de tudo, devemos notar que, ao contrário do que faz a psicologia, que se preocupa
em como o homem pode alcançar o bem-estar, o aconselhamento noutético tem o
propósito de glorificar a Deus. Paulo nos Adverte quanto a isso em Cl 1.28,29 dizendo:
“O qual nós anunciamos, advertindo (νουθετοῦντες - nouthetountes)4
a todo homem e
ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem
perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais
possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim”.
Podemos notar aqui o propósito de suas admoestações era “apresentar todo homem
perfeito em Cristo” e não que todo homem alcance felicidade aqui na terra, isto poderia
até acontecer, mas é apenas a consequência de uma vida vivida dentro dos padrões que
agradam a Deus.
O que é aconselhamento bíblico.
Rm12.8: “... ou que exorta, use esse dom em exortar...”
“No período do Novo Testamento, os que tinham o dom da exortação (Rm 12.8 -
παρακαλῶν - parakalōn) eram orientados a desenvolvê-lo com esmero, dando ao corpo de
Cristo a capacidade de desenvolvimento harmonioso”.5
Parakalōn é uma declinação de
parakaleō que por sua vez vem do substantivo paraklētos.
O aconselhamento é um serviço ao próximo.
“Anatole Bailly define conselheiro ou terapeuta (θεραπεύω)6
como alguém que se
dispõe a “servir”, “servir ao outro”, “servir a qualquer um”; é aquele que se envolve com
o outro, dispensando-lhe cuidado e atenção; que percebe o outro que se apresenta
desprotegido, sem direção e impossibilitado de perceber um rumo para viver; é aquele
que se envolve com aplicação e investe tempo para auxiliar quem se apresenta com
demandas insolúveis. Esse terapeuta vai aplicar-se no auxílio do necessitado, doando-se
em cuidado”.7
Ap 22.2: “No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da
vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são
para a cura (θεραπείαν - therapeían) das nações”.
4
νουθετέω [nouthetéō]. Admoestar, instruir, aconselhar At 20.31; Rm 15.14; 1Co 4.14; Cl 1.28; 3.16; 1Ts 5.12,14; 2Ts 3.15;
Tt 1.11. Dar instrução quanto à fé e a vida correta – “instruir, ensinar, instrução, ensino.
5
SILAS, Molochenco. Curso Vida Nova de Teologia Básica – Aconselhamento: São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 18.
6
Θεραπεύω, servir At 17.25. Cuidar de, daí curar, restaurar Mt 4.23s; Mc 3.2, 10; Lc 4.23, 40; 14.3; Ap 13.3. [terapêutico].
7
SILAS, Molochenco. Op. Cit., p. 21,22.
11
Um dia, após o Milênio, na Nova Terra, todas as nações serão curadas, física,
psíquica e espiritualmente ao comerem das folhas da árvore da vida. O Supremo
Terapeuta – Jesus Cristo trará cura holística.
Aconselhamento Noutético
A abordagem de Jay Adams é conhecida pela designação que ele próprio cunhou de
‘aconselhamento noutético’. A palavra vem do grego e é traduzida no NT como ‘exortar’,
‘admoestar’, embora tenha outros sentidos. Adams prefere usa o termo grego
transliterado para descrever sua abordagem por considera difícil traduzir o termo grego
em uma única palavra.
A proposta básica de Adams é que o conselheiro deve ocupar uma função de
orientador e exortador do aconselhando. Para isso, Adams rompe com o conceito da
pessoa em conflito como ‘doente mental’ que, segundo ele, torna o indivíduo não
responsável pelo seu comportamento e atitudes, e trata todo distúrbio como enraizado no
pecado. Para Adams as pessoas perturbadas precisam ser confrontadas com a Palavra de
Deus e, em última análise, assumir responsabilidade pessoal através de
confissão de seus atos (1986, pp. 55-56).
O método de Adams é uma reação aos desenvolvimentos das ciências psicológicas
da década de 1960, principalmente sua objeção às abordagens freudianas e rogerianas.
Para Adams, o papel do conselheiro não deve ser como simples aliviador de sentimentos
de culpa falsos que perturbam o indivíduo (cf. Freud) ou da busca de satisfação ou
realização pessoal (cf. Roger). Para Adams, as pessoas precisam ser confrontadas com o
pecado. Não só isso, o conselheiro deve ter parte ativa em apontar para o aconselhando
onde ele/ela está agindo fora da Palavra de Deus.
Adams descreve a ‘confrontação noutética’ como contendo três elementos
principais: o ensino ou instrução com propósito de provocar mudança de conduta e
personalidade; a confrontação verbal; e a correção em amor. Nessa abordagem, a Bíblia
se torna instrumento básico do aconselhamento.
O próprio Adams expressa bem a essência de sua abordagem ao indicar que no
aconselhamento noutético não se preocupa com o por quê dos problemas, mas com o quê.
Segundo ele, o por quê já se sabe “antes de iniciar-se o aconselhamento” e acrescenta
ainda que, “A razão pela qual as pessoas se envolvem em problemas em suas relações
com Deus e com o próximo está em sua natureza pecaminosa. Os seres humanos já
nascem pecadores” (1986, p. 61). Assim, a ênfase do aconselhamento é determinar o quê
aconteceu e o quê se deve fazer.
12
Cl 3.16: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria;
ensinai-vos [διδάσκοντες - didaskontes]8
e admoestai-vos [νουθετοῦντες - nuthetutes]9
uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão
em vossos corações”.
As palavras “noutéticas” no Novo Testamento são derivadas de nouthetéō que
ocorre oito vezes e nouthesia três.
O verbo “aconselhar”, em Cl 3.16, no grego, é νουθετέω - nouthetéō e significa,
especificamente, admoestar, advertir e exortar. Com base em tal palavra, surgiu o
conceito de aconselhamento noutético [leia-se nutético], isto é, de que os cristãos devem
se ajudar mutuamente, não apenas os ministros, a fim de que possamos nos desenvolver
espiritualmente.
Duas palavras gregas são usadas na Bíblia para o aconselhamento bíblico νουθετέω
(nouthetéō) e παρακαλέω (parakaleō). Parakaleō ocorre 109 vezes e paraklēsis 29.
Baseados nos usos destes dois termos tentaremos formular nossa definição de
aconselhamento bíblico.
O primeiro termo (nouthetéō)10
tem três significados básicos:
1. Admoestar (At 20.31; Rm 15.14; 1 Co 4.14; 1Ts 5.12,14);
2. Aconselhar (Cl 3.16) e;
3. Advertir (Cl 1.28; 2Ts 3.15).
E sempre dá a ideia de mostrar ao irmão o seu erro através da Palavra de Deus e
auxiliá-lo na correção deste.
O segundo termo (parakaleō), de acordo com Walter Bauer, tem cinco significados.
1. Chamar alguém ao lado (At 28.20).
2. Nos dá a ideia de convidar (Lc 8.41; At 8.31; 13.42; 28.20).
3. Um terceiro significado é o de requerer, apelar para, rogar (Mt 8.31,34; Lc 7.4;
Rm 12.1; 1 Co 15.16).
4. O quarto significado é o de confortar, encorajar, incentivar (Lc 16.25; At 16.40;
2Co 1.4; Cl 2.2).
5. O último significado é o de consolar, conciliar, falar de maneira amigável (Mt
5.4; Lc 15.28; 1Co 4.13; 14.31; Ef 6.22).
8
διδάσκω, ensinar (Mc 1.21; At 15.35; 1Co 11.14; Cl 3.16; Ap 2.14).
9
νουθετοῦντες. Verbo particípio presente voz ativa nominativo masculino plural de νουθετέω [nouthetéō].
10
Nouthetéō (νουθετέω). νουθετῶν, νουθετεῖν, νουθετοῦντας, νουθετεῖτε, νουθετοῦντες. admoestar, advertir, exortar.
13
Paracletos11
No grego secular, do século IV a.C. em diante, o substantivo paraklētos referia-se a
uma “pessoa chamada a ajudar, convocada para dar assistência”. Podia ser entendido
como “alguém que ajuda no tribunal”, em correspondência com a palavra latina
advocatus. No Antigo Testamento, a noção de “uma advocacia do Espírito divino a favor
do homem nas circunstâncias da sua vida terrena” está mais clara no livro de Jó (Jó 5.1;
16.19; 19.25-27). No Novo Testamento, essa ideia de um “Deus-Mediador-Go’el é vista,
por exemplo, na maneira por que tanto o Espírito Santo quanto o Senhor assunto aos céus
intercedem por nós “no tribunal celestial” (Rm 8.26,27,34).
A palavra Paráclētos literalmente significa em grego, alguém chamado para estar ao
lado de outra ou para o seu auxílio. Era usada com referência a um assistente legal,
conselheiro ou advogado. Descreve fortemente alguém que defende a causa de outra.
Paráclētos é traduzido na Bíblia King James como advogado e a nota de rodapé nos
informa:
“A palavra advogado vem do latim advocatus que é equivalente exato do adjetivo
verbal passivo grego paráklētos (Jo 14.16; 1 Jo 2.1), formado pelas palavras gregas para
(ao lado de) e klētos (chamado). Usado de forma única por João para se referir ao Espírito
Santo, e cujo amplo significado inclui: Conselheiro, Ajudador, Consolador,
Encorajador.12
Baseados nestes usos podemos dizer que o verdadeiro aconselhamento bíblico
envolve ensinar ao irmão a viver de maneira a agradar a Deus aqui na terra, confortando-
o em suas dificuldades, incentivando-o a permanecer firme em Cristo, visando o pleno
desenvolvimento do irmão e a glória de Deus através deste.
Aconselhamento noutético13
Um dos principais escritos de Adams foi “Conselheiro Capaz” (1970).
Adams experimentou frustração ao aconselhar cristãos carentes com métodos
freudianos e rogerianos; Aquiesce ao abandono, por parte de O. Hobart Mowrer, do
“modelo médico” de “doença mental”, e propõe um “modelo moral” que destaca a culpa
real e a responsabilidade pessoal.
Pressuposições:
11
HURDING, Roger F. A ÁRVORE DA CURA. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 444,445.
12
Bíblia King James. Novo Testamento. Editoras: SRG Publicações, SBIA e Abba, 2007, p. 256.
13
http://exposicaoteologica.blogspot.com.br/2009/11/aconselhamento-noutetico-noutetico-vem.html.
14
Adams: “a metodologia do aconselhamento necessariamente deve originar-se do
ponto de vista bíblico de Deus, do homem e da criação, sempre apropriando-se do
mesmo” (Adams, O manual do Conselheiro Cristão). Com base nisto, Adams sustenta
que só há dois conselhos: o conselho divino e o conselho demoníaco – Postura de
exclusão, ou posição do tipo “Cristo contra a cultura”, que reflete bem a dicotomia
tertuliana.
A dicotomia de Adams faz com que admita que os problemas humanos derivam ou
do pecado (são hamartogênicos), ou de uma disfunção física. Não existe “meio-termo”
que justifique a ideia de doença mental, ou problemas psicológicos; chega a considerar
malignas a psicologia e a psicanálise.
A afirmação de Adams — que diz que o pecado é a causa de todos os problemas
— faz com que sua antropologia baseie-se no fato de que o homem jaz na depravação
total (Agostinho X Pelágio). A confissão auricular seria, então, a base do seu
aconselhamento, pois parte do pressuposto de que o feedback será positivo. O homem não
é visto holisticamente.
Todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de
escolher o bem em questões espirituais. Para reforçarmos um pouco mais segue o que
Thomas Paul Simmons, D.Th escreve sobre o assunto. “As Escrituras ensinam que a
extensão do pecado no ser humano é total. Isto é o significado de depravação total”.
A depravação total quer dizer que o pecado permeou cada faculdade do ser humano
assim como uma gota de veneno permeia cada molécula de um copo de água. O pecado
urdiu cada faculdade no homem e assim ele polui todo ato seu.
Isso não quer dizer que todas as pessoas são tão más quanto elas poderiam ser.
Significa, antes, que todos os seres humanos são afetados pelo pecado em todo campo do
pensamento e da conduta, de forma que nada do que vem de alguém, separado da graça
regeneradora de Deus, pode agradá-lo. À medida que nosso relacionamento com Deus é
afetado, nós somos tão destruídos pelo pecado, que ninguém consegue entender
adequadamente Deus ou os caminhos de Deus. Tampouco somos nós que buscamos
Deus, e, sim, é ele quem primeiramente age dentro de nós para levar-nos a agir assim
A Bíblia, portanto, é suficiente, e responde diretamente ao ser humano.
A luz da tríade da cosmovisão cristã (Criação, Queda e Redenção) Adams tem
razão. Na Criação não havia qualquer tipo de doença, nem física, nem psicológica e nem
15
espiritual. Depois da Queda, surge a primeira paranoia – fobia de Deus (teofobia).14
Depois o corpo começou a morrer e segue-se a diversidade de doenças nas três
dimensões: somática, psicológica e pneumática.
"A Bíblia, e não a psicologia, deveria determinar as categorias para a compreensão
da teologia e da antropologia. por exemplo, As Escrituras nãoi contém qualquer indício
de que o homem luta contra uma "visão negativa de si mesmo" ou contra a "baixa
autoestima'. No entanto, essa ideia tem sido o tema de uma quantia considerável da
psicologia popular cristã. O material teórico veio não da Bíblia, mas de psicólogos
seculares como William James, Erich Fromm, Karen Horney e Abraham Maslow. Na
verdade, a antropologia bíblica ensina que o homem ama demais a si mesmo e que, se ele
amasse a Deus e aos outros tanto quanto já se ama, teria uma vida melhor".
"Segundo Viktor Frankl, existe no ser humano um desejo e uma vontade de
"sentido". Ele percebe que seus pacientes não sofrem exclusivamente de frustrações
sexuais (Freud) ou de complexos como o de inferioridade (Adler), mas também do que
reputa ser o vazio existencial. Para o analista, a neurose revelaria antes de mais nada um
ser frustrado de sentido, o que o levou a concluir que a exigência fundamental do homem
não é nem a emancipação sexual, nem a valorização do self, mas a "plenitude de sentido".
Segundo Frankl, a compensação sexual não seria nada além de um Ersatz para com a
falta de sentido existencial. E não existe maior sentido do que Deus o Todo Poderoso".
Os Objetivos Noutéticos:
“Adams frequentemente se refere ao objetivo geral na ajuda aos outros como o de
‘mudança bíblica’. Reconhecendo-se que todo homem, mulher ou criança que busca
conselho pertence ou ao reino da luz ou ao reino das trevas, então a ‘mudança bíblica’
significa o processo de santificação, para os que pertencem ao primeiro, e a realidade da
conversão, para os do segundo” (HURDING, p. 320).
Admite uma espécie de pré-aconselhamento para aqueles que ainda não são
cristãos (“confrontar os não salvos com a oferta universal do evangelho”).
Adams diz que “O propósito da pregação e do aconselhamento é alimentar o amor
a Deus e o amor ao próximo, como Deus manda”. O amor é visto como um
“relacionamento condicionado pela [...] observância responsável dos mandamentos de
Deus”. Ao dizer isso, expõe a necessidade de mudança de comportamento. E, quando diz
que “... o crente assevera jubilosamente a possibilidade de uma mudança rápida e
14
Teofobia. Medo de Deus: Teo = Deus; Fobia= Medo. É um neologismo para referir-se ao sentimento de aversão a Deus e
aos princípios da religião (Wikipédia).
16
completa”, crê que a transformação individual desse comportamento pode ser
instantânea.
O Método:
Adams parece estabelecer as Escrituras, bem como a atividade do Espírito, como
fundamentos para o aconselhamento. Ele diz: “O ponto que é preciso estabelecer é que,
uma vez que o Espírito Santo emprega Sua Palavra como o meio principal pelo qual os
cristãos podem crescer em santificação, o aconselhamento não pode ser eficaz (no sentido
bíblico do termo) isolado das Escrituras. A realidade do Espírito Santo presente no
aconselhamento implica, portanto, na presença das Escrituras Sagradas também”. E
adverte: “Aconselhamento feito sem as Escrituras só se pode esperar que será
aconselhamento sem o Espírito Santo”. Portanto, não há outro método eficaz.
Para Adams, sua metodologia resume-se basicamente na “técnica bíblica”, e para
ele esta consiste no que denomina aconselhamento noutético. Muito mais do que apenas
explicar em que consiste o seu método, Adams parece fazer uma apologia de tal modo
que procura absolutizar seu modelo moral. A “técnica bíblica” de Adams pode ser
evidenciada em suas palavras: “... quanto mais diretivo eu me tornava (simplesmente
dizendo aos consulentes o que Deus exigia deles), mais ajuda real as pessoas recebiam”.
Essa postura ignora, também, a advertência de muitos quanto à prática de dar conselhos
em dificuldades mais sérias que exigiriam o encaminhamento.
Adams sugere um transplante do “vocábulo grego para a língua portuguesa” a fim
de que esse conceito se estabeleça com mais clareza. Entretanto, arrisca os termos
“admoestar”, “exortar” e “ensinar”, como equivalentes mais próximos.
Na confrontação noutética, existe pelo menos três elementos básicos:
a) – efetuar mudança de conduta e de personalidade;
b) – confrontação verbal pessoa a pessoa (nesse momento Adams faz um destaque
especial à ênfase noutética em torno do “o quê”, no lugar do “por quê” [este muito
presente nos “métodos comuns de aconselhamento”], uma vez que já se sabe o “por
quê”); e;
c) – a noutétese motivada pelo amor, para o bem do cliente e para glória de Deus.
A Pedra de toque do aconselhamento bíblico: 2Tm 3.15-17: “15 e que desde a
infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há
em Cristo Jesus. 16 Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar,
17
para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; 17 para que o homem de Deus seja
perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra”.
Todos os cristãos, enquanto Corpo de Cristo, devem ocupar-se com a atividade
noutética segundo Cl 3.16: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a
sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos [νουθετοῦντες] uns aos outros, com salmos, hinos
e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações”.
Abordagem exclusivamente diretiva de Adams: o aconselhamento noutético (por
ser bíblico) deve ser visto como autoritativo, uma vez que mede a “autoridade de Deus”.
Além disto, também é disciplinador por desafiar o indivíduo à uma mudança de
comportamento.
O Método: Como se dá?
“Na primeira sessão, o cliente preenche um ‘formulário de dados pessoais’, para
dar ao conselheiro um ponto de partida factual sobre sua saúde, formação religiosa, tipo
de personalidade, estado civil, histórico familiar e percepção do ‘problema principal’.
Antes de esse ‘problema principal’ ser tratado, quer um casamento em ruína, quer
sentimentos de inferioridade, quer inclinações homossexuais, verifica-se qual a condição
do cliente diante de Deus.
“Caso seja um cristão, o aconselhamento pode prosseguir; senão, o evangelho é
primeiramente oferecido, porque, no que diz respeito ao incrédulo”:
1. “Deus não nos autorizou a reformar o exterior das pessoas”;
2. “Agir assim seria distorcer a verdadeira natureza de sua esplêndida redenção em
Cristo”;
3. “Os clientes podem confiar em qualquer mudança externa ‘com a falsa
segurança de que os problemas foram resolvidos’”.
Até onde se pode perceber, o método usado no aconselhamento noutético
exclusivisa os aspectos cognitivo e comportamental. Mudança noutética seria, então,
mudança na forma de pensar e no comportamento. O seu “método iceberg de dar
prioridade ao visível”, desconsidera os sentimentos para focalizar apenas o
comportamento. Adams ignora qualquer possibilidade de que haja algo por detrás dos
fatos. Para ele, a doença tem que ser vista como doença.
Gostaríamos de ressaltar, ainda, uma nota de rodapé exposta na página “13” do seu
livro “Conselheiro Capaz”. Ao dirigir terapias de grupo, sete horas por dia, em sua
experiência ao lado de Mowrer, Adams conclui: “Cheguei depois à conclusão de que esse
tipo de atividade com grupos de pessoas é antibíblico e, portanto prejudicial”.
18
Sendo a Psicologia Pastoral, de primeira mão, destinada à Igreja, concordamos com
Adams à luz da Cosmovisão Cristã. Porém, reconhecemos um universo desconhecido da
mente humana e além da Bíblia, usaremos todos os recursos científicos nesta viagem
noética para ajudar aquele que procura aconselhamento.
Roger F.Hurding afirma:
“Será que precisamos adotar essas posturas excludentes sobre a personalidade
humana? Aqui, o pensamento de Adams parece ser o resultado de excluir fatores
psicológicos e emocionais, por não se encaixarem em seu esquema. Tais perspectivas
inconvenientes devem de alguma maneira estar ligadas à esfera do físico ou do
comportamental – se problemáticos, têm de ser logo relacionadas a uma doença orgânica
ou a um pecado. Essa camisa de força parece estar bem distante do complexo
entrelaçamento de sentimentos, experiências, pensamentos e ações encontrados em
alguns dos ditos provérbios, como: “A ansiedade no coração do homem o abate, mas a
boa palavra o alegra” (Pv 12.25), “A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o
desejo cumprido é árvore de vida” (Pv 13.12) e “O coração alegre aformoseia o rosto,
mas com a tristeza do coração o espírito se abate” (Pv 15.13)”.15
Adams esquece dentro do conceito da cosmovisão (Criação) o pensamento sobre a
igualdade de todos os seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus.
“Outro princípio subjacente da Criação é a igualdade. Se todos partem do mesmo
Criador, não há razão e muito menos justificativa para um ser humano seja considerado
superior ou inferior ao outro, por isso a premissa judaico-cristã que todos merecem ser
tratados sem distinção, independentemente da cor, raça, sexo, etnia ou religião. O
fundamento do tratamento igualitário é o próprio Deus que não faz acepção de pessoas
(At 10.34). Por esse motivo, o apóstolo Paulo escreve: Nisto não há judeu nem grego; não
há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus
(Gl 3.28). Dinesh D´Souza lembra que “o caráter precioso e a igualdade de valor de cada
vida humana é um conceito cristão”. Os cristãos sempre acreditaram que Deus atribui a
cada vida humana que cria um valor infinito e que ama a cada pessoa de igual modo. No
Cristianismo, você não é salvo por meio de sua família, tribo ou cidade”.
Noutético vem da palavra de origem grega “νουθεσία - nouthesia”16
, que
literalmente significa “O ato de pôr em mente” (formado de nous (νοῦς), “mente”, e
15
HURDING, Roger F. A ÁRVORE DA CURA. 1ª ed. São Paulo, SP: SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA
NOVA, 1995, p. 331.
16
νουθεσία, ας, ή admoestação, instrução, recomendação (1Co 10.11; Ef 6.4; Tt 3.10).
19
títhemi (τίθημι), “pôr”)17
. O termo nouthesia é “o treinamento pela palavra”, quer por
incentivo, ou, se necessário, por reprovação ou reclamação. Em contraste com isso, o
sinônimo “παιδεία - Paideia”18
enfatiza treinar por ação, embora as palavras sejam usadas
em cada aspecto.
O aconselhamento Noutético é um tipo de admoestação cujo objetivo é
proporcionar orientação para uma vida correta diante de Deus. O que subentende também
correção e a denúncia a qualquer padrão que seja incoerente com o viver cristão. A
atividade noutética conforme ensina o Novo Testamento, indica que todos os cristãos, e
não somente os pastores, devem ocupar-se no ensino e confrontar-se mutuamente (Rm
15.14). Porém, a atividade noutética caracteriza-se principalmente como parte integrante
do ministério pastoral. Ao se despedir dos presbíteros de Éfeso, Paulo descreve, em (Atos
20.31 - νουθετῶν), a atividade que desenvolvera enquanto estivera com eles, e os exortou
a continuarem a mesma obra entre o povo.
Paulo foi um missionário, e onde quer que demorasse um pouco mais, atirava-se à
sólida obra pastoral necessária para a edificação das pessoas na fé, sendo a atividade
noutética parte proeminente dessa obra, razão porque suas cartas estão cheias de nomes
de pessoas específicas, com as quais se envolvera muito intimamente. Ele não se limitava
a pregar nas praças, mas lidava com as pessoas como indivíduos, grupos e famílias,
confrontando-as nouteticamente. Existem três elementos da confrontação noutética que
precisamos considerar aqui. Quais sejam:
1 – A atividade noutética e a sua conjunção com “didaskō.19
Didaskō [διδάσκω] é
uma palavra grega e significa “Dar instrução”, “Ensino” (Cl 3.16). Em outros textos,
contudo, o termo vai além do conceito de “ensino”. A confrontação noutética sempre
envolve um problema e pressupõe um obstáculo que tem que ser vencido. A palavra
didaskō não envolve, necessariamente, um problema. Sugere, simplesmente, a
comunicação de informação. Não inclui coisa alguma que diga respeito ao ouvinte, mas
se refere exclusivamente à atividade do instrutor. A pessoa que está sendo ensinada pode
estar ansiosa ou não por receber a instrução. Pode ter gastado razoável quantia ou ter
percorrido longas distâncias para recebê-las ou então pode reagir como o típico aluno
recalcitrante.
A noutese localiza aquele que faz a confrontação e aquele que a sofre, pressupondo,
especificamente, a necessidade que se verifique mudança na pessoa confrontada, a qual
17
Τίθημι e τιθέω — ativo e passivo — pôr, colocar, constituir — a. genericamente pôr, colocar Mt 12.18;27.60;
Mc 16.6; Lc 11.33;14.29; Jo 11.34; At 3.2;13.29; Rm 9.33;14.13; 2Co3.13 ; 2Pe2.6.
18
παιδεία, ας, ή treinamento, disciplina (Ef 6.4; 2Tm 3.16; Hb 12.5,7,8,11).
19
Didaskō - διδάσκω, ensinar (Mc 1.21; At 15.35; 1Co 11.14; Cl 3.16; Ap 2.14). ύμας διδάξει πάντα – ele vos instruirá em
todas as coisas (Jo14.26).
20
pode opor ou não alguma resistência. A ideia de alguma coisa errada, algum pecado,
alguma obstrução, algum problema, alguma necessidade que precise ser reconhecida e
tratada, é uma ideia fundamental. O propósito básico da noutese é o de efetuar mudança
de conduta e de personalidade.
2 - A atividade noutética e a sua conjunção com a “Palavra”. O segundo elemento
inerente ao conceito de confrontação noutética é que os problemas são resolvidos por
meios verbais. É o treinamento mediante a palavra de encorajamento, quando isso basta,
ou de admoestação, de reprovação, de censura, quando estas se fazem necessárias. Assim,
ao conceito de noutese deve-se acrescentar a dimensão adicional de confrontação verbal
pessoa a pessoa, cujo objetivo é realizar mudança de comportamento e de caráter no
consulente. No seu uso cristão, visa pôr em ordem o indivíduo, mediante a mudança de
seus esquemas de conduta, de modo que estes se enquadrem nos padrões bíblicos. A
mudança de personalidade, segundo as Escrituras, envolve confissão, arrependimento e o
desenvolvimento de novos padrões de conduta. Tudo entendido como obra do Espírito
Santo, pois tudo o que constitui esse ministério é por Ele tornado eficaz. Os métodos
comuns de aconselhamento recomendam longas “excursões” retrospectivas rumo às
confusões dos porquês e para-quês da conduta. O aconselhamento noutético aplica-se
intensamente à discussão do o quê. O que foi feito? O que precisa ser feito para corrigi-
lo? O que deverá constituir as futuras reações e respostas? A ênfase é no o quê, visto que
já se sabe o “porquê’, antes de iniciar-se o aconselhamento. A razão pela qual as pessoas
se envolvem em problemas em suas relações com Deus e com o próximo está em sua
natureza pecaminosa.
3 - A atividade noutética e a sua conjunção com o “benefício ou ajuda”. O motivo
subjacente à atividade noutética é que sempre se tem em mente que a correção verbal visa
beneficiar o interessado. Esse terceiro elemento implica em mudar aquilo que, na vida do
consulente, o está ferindo. A meta deve ser a de enfrentar diretamente os obstáculos e
vencê-los verbalmente, não com o fim de puni-lo, mas sim o de ajudá-lo. A ideia de
castigo, mesmo o de cunho disciplinar, não é contemplada no conceito de confrontação
noutética. A noutese é motivada pelo amor e profundo interesse, sendo que os
consulentes são aconselhados e corrigidos por meios verbais para seu bem. O objetivo
final é que Deus seja glorificado.
No seu uso bíblico, a confrontação Noutética visa a pôr em ordem o
individual mediante a mudança de seus esquemas de conduta de modo que estes se
enquadrem nos padrões bíblicos, ou seja; levando o a uma mudança de personalidade, ao
que segundo as Escrituras envolve confissão, arrependimento e consequentemente o
21
desenvolvimento de novos comportamentos e padrões bíblico, sendo tudo isso entendido
como obra do Espírito Santo.
Exemplos bíblicos dessa atividade Noutética nas confrontações de Natã com Davi,
depois do pecado que este cometeu quanto a Urias e Bate Seba (2Samuel 12) e de Jesus
com Pedro (João 21). Na censurável conduta de Eli registrada em (1Sm 3.13), vemos um
caso de fracasso; justamente pela negligência da confrontação Noutética. Ele de falar com
urgência suficiente, com rigor suficiente, e com a seriedade suficiente, para produzir
genuínas mudanças neles. Já em (1Sm 2.22), há o fato, o registro de uma última tentativa
fraca e fútil, feita tardiamente.
PSICOLOGIA ACONSELHAMENTO
- Não orientador (como psicólogo a pessoa é como
um espelho). Rebate os problemas levando a
pessoa a achar sua própria resposta.
- Orientador. Vai ao centro da verdade bíblica.
A base para a verdade que rege todas as
esferas de comportamento é a Bíblia.
- Eu construo a minha personalidade. “As suas
respostas estão em você mesmo”.
- Deus me constrói. (1Pe 2.5). Jesus é o
cumprimento profético do “Eu sou”. As respostas
que precisamos estão em Jesus.
- Eu trabalho na minha personalidade. Eu descanso em Deus (Sl 23)
- Eu defendo minha personalidade. - Deus é minha defesa e proteção.
- “Eu sou rei e eu reino” (Síndrome de
Nabucodonosor).
- Importa . que . Ele (Jesus) cresça e eu diminua.
(Jo 3.30).
- Sou vulnerável em face do acusador. A tentativa
de suprimir a culpa só piora nossa situação em
relação a ataques demoníacos.
- Vencemos o acusador (Rm 8.37). Obedecer a
consciência provendo ajustes necessários na nossa
vida nos preserva em perfeita paz e autoridade.
- O alvo é sentir bem. Amar os prazeres é o
princípio da falência da alma.
- Chegar à obediência de Cristo. A felicidade é
apenas um efeito colateral desta motivação.
Os aconselhadores pastorais são fluentemente bilíngues:20
“Os aconselhadores pastorais são capazes de falar as linguagens da psicologia e da
fé (bíblica). Por um lado, eles devem conhecer a linguagem da psicologia e do
aconselhamento. Portanto, aconselhadores pastorais devem familiarizar-se e fazer uso de
conceitos e recursos psicológicos relacionados ao desenvolvimento humano, à
20
SCHIPANI, Daniel S. O Caminho da Sabedoria no Aconselhamento Pastoral. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2003, p. 76.
22
personalidade e à psicopatologia, além de contribuições de outras ciências humanas. Por
outro lado, os aconselhadores pastorais devem ser hábeis na linguagem da fé e da
teologia. Por isso, devem ser capazes de realizar diagnósticos pastorais de questões
espirituais e auxiliar as pessoas a formularem e compreenderem autoavaliações e
discernimentos espirituais”.
COMPROMISSOS TEOLÓGICOS ESSENCIAIS NO NOUTÉTICO
ACONSELHAMENTO21
Em geral, o conselheiro bíblico procura afirmar as doutrinas fundamentais da fé na
tradição da Reforma Protestante.
Embora a abordagem noutética não seja integracionista, há uma diversidade
teológica e denominacional entre os seus defensores. Por exemplo, há conselheiros
dispensacionalistas, aliancistas, episcopais, presbiterianos, batistas, etc. O
aconselhamento bíblico não é sectário e é interdenominacional. Mas as doutrinas acima
apresentadas são o marco distintivo daqueles que se intitulam conselheiros bíblicos.
A Teologia no Aconselhamento Bíblico.
O aconselhamento bíblico, por definição, tem como base as Escrituras, e uma vez
que a Teologia é a ciência que busca sistematizar o conteúdo bíblico em tópicos, faz-se
claro que o aconselhamento bíblico e a Teologia Sistemática devem andar lado a lado.
Devemos notar que as duas se completam. A Teologia é a fonte de conteúdo para o
aconselhamento bíblico, e o aconselhamento bíblico é onde a Teologia Sistemática entra
em prática. Esta seção visa demonstrar a ligação entre as várias doutrinas e o
aconselhamento bíblico.
No estudo da Teologia Sistemática há um fio de prata. Ele liga todos os módulos da
Teologia Sistemática: Bibliologia, Teontologia, Cristologia, Antropologia, Angelologia,
Hamartiologia, Soteriologia, Eclesiologia, Pneumatologia e Escatologia. O fio de prata da
Teologia Sistemática é a doutrina da Redenção, doutrina esta balizada na Pessoa
Teantrópica do Redentor – Goel - ‫גאל‬ - O Parente Remidor.
Rompendo-se o fio de prata da Teologia da Sistemática esta morre. O fio de prata
da teologia é o Plano da Redenção alicerçado na Doutrina do Parente Remidor – O Go’el
- Jesus Cristo, o Resgatador dos Judeus, dos Gentios, da Igreja e do Cosmos.
Os três grandes atos da Santa Trindade na recuperação da humanidade perdida são:
eleição por parte do Pai, redenção por parte do Filho, chamada por parte do Espírito
21
http://prcarlosmendes.blogspot.com.br/2009/10/quais-compromissos-teologicos-sao.html
23
Santo - como sendo dirigidos às mesmas pessoas, garantindo infalivelmente a salvação
delas.
A Cosmovisão Cristã é a base profunda sobre a qual as outras doutrinas da
redenção estão alicerçadas. E a tríade da Cosmovisão Cristã: Criação, Queda e Redenção
é a pedra angular da doutrina da redenção.
A redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição.
Esta eleição envolve os três povos (Judeus, Gentios e Igreja).
Esta Redenção é eterna: Cl 1.14: “Em quem temos a redenção, a saber, a remissão
dos pecados”; Hb 9.12: “e não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio
sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção”.
O plano da redenção é o âmago da teologia. Deus veio para remir: o homem, o
planeta Terra, Israel e o Cosmos.
A. Bibliologia.
De nosso estudo de bibliologia descobrimos que a Bíblia é a Palavra inspirada de
Deus, inerrante em seu conteúdo, a revelação da vontade de Deus para o homem.
Conclui-se que, como fonte de nosso aconselhamento devemos recorrer a ela para
sabermos como fazer a vontade de Deus, que é o propósito do aconselhamento. E que
podemos Ter a certeza de que encontraremos nela tudo o que precisamos para um
aconselhamento eficaz.
B. Teontologia.
A Teontologia nos leva a reconhecer que só existe um Deus que merece todo o
nosso louvor, pois Ele é o criador e mantenedor de todo o universo. Logo, devemos Ter
em mente que nosso aconselhamento deve levar o homem a conhecer e se relacionar de
forma harmônica com este Deus.
C. Cristologia.
Na doutrina de Cristo entramos em contato com o plano redentor de Deus para o
homem, e com a solução proposta por Deus para o mal que se enraizou no ser humano a
partir de sua queda. Concluímos que a única solução possível para o mal do homem se
encontra na pessoa e obra do nosso Senhor Jesus Cristo e não em nada de bom que o
homem possa fazer.
D. Pneumatologia.
Estudando acerca do Espírito Santo vemos que é ele quem convence o mundo do
pecado, que é o real problema da humanidade, inferimos daí que não se não estivermos
na dependência do Espírito Santo nada do nosso esforço terá resultado.
24
E. Antropologia.
A doutrina do homem nos fala acerca do homem criado por Deus em estado de
perfeição, e da ansiedade do homem por não mais poder desfrutar de um relacionamento
aberto com Deus. Então nosso aconselhamento deve levá-lo a desejar a restauração deste
dois elementos.
F. Hamartiologia.
É no estudo da doutrina do pecado que encontramos a descrição perfeita do estado
do homem e de suas necessidades. Um aconselhamento que leva em conta o fator pecado,
e todo o mal que ele causou, na vida do homem está mais apto para conseguir a solução
para o problema do homem. A Queda afetou o homem em todas as dimensões: material e
imaterial.
G. Soteriologia.
Um aconselhamento que já mostrou ao homem a sua condição, através da doutrina
do pecado, mostra também a grandiosidade da transformação que precisa sofrer. É na
doutrina da salvação que está a cura para o mal do homem, a esperança para a sua vida. A
redenção é holística, restaurando tudo aquilo que foi degenerado.
H. Eclesiologia.
A doutrina da igreja nos mostra a necessidade que o homem tem de participar do
corpo de Cristo, e crescer junto com este corpo, o aconselhamento cristão levará o
homem a reconhecer a necessidade de comunhão com outros que, como ele, buscam a
glória de Deus em suas vidas.
I. Escatologia.
A doutrina das ultimas coisas dá ao fiel a certeza da restauração que ele precisa e
que irá acontecer um dia, quando Cristo voltar.
O valor do aconselhamento bíblico.
O valor do aconselhamento bíblico reside exatamente no que ele discorda da
psicologia moderna, suas concepções acerca da natureza do homem, do problema que ele
enfrenta e da solução para este.
Enquanto a psicologia vê o homem como inerentemente bom, que só precisa de
bons estímulos, e de que o mal da sociedade que o cerca seja afastado para não
influenciar seu comportamento. A Bíblia o descreve como um ser inteiramente
corrompido, que só busca o que é mal aos olhos de Deus e incapaz de fazer o bem.
Partindo de uma perspectiva correta, uma vez que é dada por Deus, ela pode ajudar
melhor o homem e não torná-lo cada vez mais desesperado, como podemos ver no
príncipe do existencialismo, Jean Paul Sartre: “O homem está condenado a liberdade”. A
25
Bíblia oferece a solução para o homem sim, mas não para um “homem bom”, mas para
um homem totalmente depravado.
Para a psicologia o problema do homem está em sua falta de autoafirmação, ou no
meio ambiente corrompido em que ele habita. A Bíblia apresenta o pecado como
problema maior do homem e isto é que gera sua falta de autoafirmação e um meio
ambiente pervertido pelo próprio homem.
A cura para o mal do homem está na reestruturação do meio ambiente, como nos
diz a psicologia moderna, ou em qualquer outro fator que esteja ao alcance do homem.
Mas a Bíblia nos fala de uma transformação radical que não pode ser feita pelo próprio
homem, mas tem que ser operada por Deus, aonde ele vai se despojar do velho homem e
se revestir de um novo homem, uma transformação total, não uma mera correção de
atitudes mas uma transformação de essência.
ASPECTOS FÍSICOS E ESPIRITUAIS DO ACONSELHAMENTO
Para podermos auxiliar alguém em seus problemas é necessária uma perspectiva
correta acerca da natureza do problema que aquela pessoa esta enfrentando.
Nossa posição acerca da natureza do próprio homem influi diretamente em nossa atitude
ao tratar dos problemas do homem.
Se nós cremos que o homem é moralmente bom, com o desejo de fazer as coisas
certas e que o atrapalha é uma sociedade corrompida, um meio ambiente desfavorável ou
falta de recursos para que possa agir do modo correto, nosso esforço deve ser empregado
em corrigir os defeitos e falhas da sociedade, melhorar o meio ambiente em que o homem
vive e dar-lhe recursos para que ele consiga agir de modo correto.
Mas se cremos que o homem é inerentemente mau, que o seu coração está
totalmente revoltado contra Deus e que ele não quer e não pode fazer nada de bom, nosso
esforço será em levar o homem a reconhecer a sua incapacidade e colocar sua vida aos
pés dAquele que pode fazer uma transformação total na sua vida.
Se nós cremos que por trás de todo mau comportamento do homem há algum fator
biológico que o esteja pressionando a agir de determinada maneira, nossa atitude deve ser
a de curar o corpo físico do indivíduo para que ele possa voltar a agir dentro dos padrões
corretos.
Mas se, por outro lado, não aceitamos o que os psicólogos chamam de “doença
mental”, mas vemos por trás de atitudes como depressão maníaca, esquizofrenia e outros
pecados encobertos na vida das pessoas, nosso alvo deve ser o de levar estas pessoas a
26
confrontarem os seus pecados com o auxílio do nosso Senhor Jesus Cristo.
Vamos analisar os dois lados do problema (físico e espiritual), com episódios ocorridos
na vida do nosso Senhor para podermos buscar o discernimento necessário para
reconhecer o que é doença verdadeiramente e o que vem como resultado e até pecado
direto na vida da pessoa.
O primeiro caso é o do cego de nascença curado pelo Senhor (Jo 9). É importante
para o nosso estudo aqui a pergunta inicial feita pelos discípulos ao Mestre: “Mestre,
quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” podemos inferir daqui uma
pressuposição importante para nossa análise, os discípulos criam que havia doenças que
eram resultados de pecados. E devemos notar também que Cristo não combateu esta ideia
deles, o que era de se esperar se ela não fosse verdadeira, então podemos inferir que
Cristo também acreditava que havia doenças que eram decorrentes do pecado, mas aquele
não era o caso e o próprio Cristo não o recriminou por pecado algum, apenas efetuou a
sua cura física, sem colocar no cego mais sofrimento, afirmando que ele estava sofrendo
por causa de seu pecado quando não era.
O segundo caso que nós vamos analisar é o caso do paralítico do tanque de Betesda
(Jo 5). Neste caso podemos ver de novo a crença de Jesus de que havia doenças que eram
decorrentes de pecado, e que neste caso, o paralítico, provavelmente estava naquela
situação exatamente por causa de seu pecado, pois Cristo o advertiu a não pecar mais para
que não sucedesse a ele coisa pior. Note que Cristo não ousou confrontar o pecado do
pecador quando foi o caso, mas ele não o fez na outra ocasião. Logo, nós, como
conselheiros devemos estar em constante dependência de Deus para não nos tornarmos
como os amigos de Jó que só aumentaram ainda mais seu sofrimento, acusando-o de um
pecado que ele não tinha cometido, mas também não devemos tratar tudo como causas
naturais, pois é nosso dever guiar as pessoas em pecado a restauração com Deus.
O PROCESSO BÍBLICO DE MUDANÇA
Para entendermos o processo bíblico de mudança faz-se necessário Ter uma visão
correta do que a Bíblia diz ser a condição do homem.
Para isso vamos passar pela história do homem desde a sua criação.
Deus criou um homem perfeito, com capacidades de se relacionar com outros seres, com
capacidade para dominar sobre a criação e com a necessidade de se relacionar com Ele.
Neste relacionamento homem Deus, havia papéis definidos que deveriam
ser respeitados para um relacionamento saudável. Deus como criador tinha muito a
ensinar ao homem, era seu conselheiro por excelência, um dos conselhos mais
importantes era, você não deve comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas
27
o homem não gostou de receber conselhos apenas de Deus e buscou outro conselheiro,
como um ser livre, ele teria responsabilidades sobre suas ações e colheria as
consequências delas, e a consequência desta escolha do homem foi a perda de vários dos
privilégios que o homem tinha com Deus.
Algumas delas são: ele ganhou o conhecimento do bem e do mal, mas não podia
mas escolher entre eles pois seu desejo agora só se voltaria para o mal; ele sofreu
consequências físicas, a partir dali o homem começara a morrer física e espiritualmente;
O homem também perdera o relacionamento tão precioso que tinha com Deus, para se
tornar seu inimigo, e devemos notar que esta é uma das maiores consequências para um
ser que foi criado para se relacionar com Deus, isto trouxe frustração profunda ao
homem, mesmo que ele não saiba disso, pois uma de suas necessidades básicas não
estava mais sendo atendidas.
Desde então o homem tem se degenerado cada dia mais e o que podemos ver é
sociedade totalmente frustrada por não se relacionar com Deus, voltando-se para práticas
místicas, pois estão descobrindo que eles têm sede de algo espiritual, o ateísmo não
resolveu o problema do homem, agora ele se volta ao misticismo, que também falhará.
A mudança que o homem precisa, de acordo com a Bíblia, não é uma restauração
das estruturas sociais, Cristo não pregou um evangelho de igualdade social, mas pregou
um evangelho de transformação radical.
O homem não precisa de um pequeno retoque para se tornar aceitável diante de
Deus, ele precisa ser totalmente transformado, precisa que o seu coração de pedra seja
arrancado e seja colocado um coração de carne.
A tarefa de transformar vidas não é algo fácil que o próprio homem pode conseguir,
nem mesmo os melhores métodos de transformação já desenvolvidos pelo homem pode
levá-lo a transformação que ele precisa, nem a maior força de vontade que já foi vista
sobre a terra é útil na restauração que o homem precisa sofrer. Jeremias nos mostra a
grandeza de tal tarefa quando afirma: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o
leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumado a fazer o
mal”. Esta é a situação do homem, totalmente acostumado a fazer o mal, com o seu
coração totalmente corrompido de forma que não pode mais escolher entre o bem e o mal.
Mas no meio de todo este quadro há uma esperança para o homem, uma transformação
tão radical quanto a que ele precisa, uma transformação que vai mudar toda a sua
essência, que vai trocar todos os seus valores.
Cristo descreve esta transformação em Jo 3, quando fala de um novo nascimento,
nada dessa velha vida serve para ser reaproveitado então o homem tem que nascer de
28
novo. O processo de mudança também é bem explicado pelo apóstolo Paulo, dizendo:
“No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis22
do velho homem, que se
corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso
entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade”. A Bíblia Jerusalém traduz: “A remover o vosso modo de vida
anterior — o homem velho, que se corrompe ao sabor das concupiscências enganosas.”.
Podemos ver descrito aqui o que cremos ser o processo correto para a
transformação na vida daquele que é tocado por Deus. Podemos ver que ele tem que
abandonar as velhas práticas que antes faziam parte de seu viver diário, o que nós
podemos chamar, usando a terminologia bíblica, de despojar. E uma vez despojado, ou
seja, retirado tudo aquilo que estava contaminado no homem, toda a sua velha natureza,
ele pode agora ser revestido de uma nova natureza, uma natureza agora capaz de novo de
se relacionar com Deus, e auxiliada pelo Espírito Santo a poder de novo escolher a fazer
o bem.
Assim o homem consegue esta transformação, primeiro sendo transformado pelo
Espírito Santo, dando a ele nova vida e depois agindo em cooperação com Espírito Santo
buscando uma vida de santificação, ou seja, sendo de novo restaurado a imagem de
Cristo, como fora criado. A melhor definição de santificação dada é a do apóstolo Paulo,
quando ele afirma: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por
espelho, a glória do Senhor, somos transformados [µεταµορφούµεθα -
µεταµορφόοµαι]23
, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o
Espírito”. Podemos notar aqui todos os passos da transformação. Primeiro nosso rosto foi
desvendado, foi restaurada a nossa visão, ocorreu a nossa regeneração. E em seguida nós
somos auxiliados pelo Espírito Santo a nos tornarmos a imagem de Cristo de forma
gradual (2Co 3.18).
Só o processo bíblico de remover, renovar e revestir pode realmente provocar a
mudança que o homem precisa, e nós podemos ver isto desde a conversão onde o pecador
é despojado da velha natureza e revestido de uma nova natureza. Temos também o apoio
do próprio Senhor Jesus Cristo, no episódio da expulsão dos demônios quando ele explica
que:
Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando
repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, tendo voltado, a
encontra varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do
22
Despojar. ἀποθέσθαι. άπόθεσις, εως, ή remoção,despojamento, deixar (1Pe 3.21; 2Pe 1.14).
23
µεταµορφόοµαι – metamorfóomai. Μεταμορφοω – metamorfoō: mudar de forma, transformar, transfigurar.
29
que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o
primeiro.
Note que ali havia apenas transformação exterior, mas não havia revestimento,
então a sua situação se tornara pior, mas a verdadeira transformação não deixa a casa
vazia, mas a enche com o Espírito Santo, dando assim condições de haver mudança real.
COMPARAÇÃO DE MODELOS DE ACONSELHAMENTO
Quando defendemos o método do aconselhamento bíblico, pressupomos que em
comparação com os outros métodos ele apresenta vantagens que vão realmente fazer uma
grande diferença, que eles têm pressupostos diferentes e que os pressupostos do
aconselhamento bíblico estão mais de acordo com a realidade do homem como o
descreve a Bíblia. Esta seção visa fazer uma comparação entre o aconselhamento bíblico
e os outros tipos de aconselhamento.
I. Comparando a epistemologia dos conselheiros.
A maioria absoluta dos conselheiros de hoje vivem em uma cosmovisão totalmente
ateísta que não pretende levar Deus a sério, eles estão tão secularizados que não
conseguem enxergar nada que vá além deste mundo algo que não esteja ligado apenas
com o físico, mas algo que nos una a um Deus, que é transcendente e imanente ao mesmo
tempo, ao Deus real. Logo, sua fonte de epistemologia esta totalmente ligada aos seus
estudos, ao que eles podem descobrir através dos sentidos, ou teorias produzidas pela
razão humana, ou ainda, algo ligado a suas intuições, mas descartam completamente
qualquer fonte de revelação exterior.
Os conselheiros bíblicos, ao contrário, têm ao seu dispor, além da verdadeira
ciência, a verdadeira fonte de informação acerca dos homens, e assim podem fazer uma
melhor análise de sua situação real. Esta fonte pode ser dividida em duas áreas, que nós
chamamos geral e especial.
A fonte de revelação geral é o que Deus colocou a disposição de todos os homens
de todas as épocas e lugares para que eles possam saber como viver uma vida que agrada
a Deus, mesmo sem conhecer a este Deus. Como agentes dessa revelação nós temos a
natureza, o salmista nos mostra todas as pessoas da terra têm acesso a este conhecimento:
“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.
Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há
linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a
terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma
tenda para o sol, o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a
30
percorrer o seu caminho. Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu
percurso; e nada refoge ao seu calor”.
Deus se revelou a todos os homens para que todos pudessem ter o direito de
conhecê-lo, mas o homem não valorizou este conhecimento trocando-o por várias outras
fontes de sabedoria mundana, o apóstolo Paulo nos mostra o que o homem fez com esta
revelação de Deus:
“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que
detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto
entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o
seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem,
desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas.
Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.18-20).
Aqui o apóstolo deixa claro que Deus deixou ao homem a verdadeira fonte de
conhecimento, mas ele perverteu esta fonte com a sua injustiça, e por isso eles não têm
desculpas a apresentar diante de Deus, como se não conhecessem a verdade, porque
foram eles que apagaram a verdade divina de suas vidas.
Há ainda a segunda área de revelação, que é a revelação geral. Que a manifestação
de Deus a homens específicos em tempos e lugares específicos, esta revelação tem o
propósito salvífico de restaurar a comunhão entre Deus e o homem fazendo com que o
homem conheça a salvação providenciada por Deus para ele. Esta é a mais completa
fonte de conhecimento do homem, pois nela encontramos tudo para que possamos viver
uma vida agradável a Deus, enquanto a primeira nos leva a reconhecer que estamos
perdidos sem Deus, esta nos apresenta o Deus que pode nos salvar. Paulo descreve assim
seu valor:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para
a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra”.
Neste texto podemos ver seu alto valor para o aconselhamento bíblico, ela é útil
para: ensinar, repreender, corrigir e educar. E ainda tem o mesmo propósito do
aconselhamento bíblico que é o de levar todo homem a maturidade em Cristo visando a
glória de Deus.
II. Comparando os métodos dos conselheiros.
Os métodos utilizados pelos conselheiros são contrastantes com o método bíblico,
nesta seção iremos analisar os métodos utilizados a luz das Sagradas Escrituras.
31
A. Psicologia profunda.
Criado por Sigmund Freud, defende que o homem é um animal que age
instintivamente, o homem é dividido em id, ego e superego. Como animal o homem não
tem nenhuma responsabilidade sobre suas ações e o sentimento de culpa é apenas fruto de
padrões impostos pelos outros homens. Freud defendia que a solução para o problema do
homem era tornar todo o seu potencial real, fortalecendo o seu ego. Esta posição tem uma
perspectiva errada acerca do homem, pois não o retrata como totalmente depravado,
exalta o homem em si mesmo como alguém bom que só precisa de uma pequena
reformulação de conceitos.
B. Neo-Adlerianos.
Criado por Alfred Adler, desenvolveu a psicologia individual. Para Adler o
homem é um animal socialmente governado e seu problema é o complexo de
inferioridade só que a responsabilidade deste problema não é individual, mas da
sociedade. São erros nos pensamentos e valores da sociedade, e falta de confiança em si
mesmo que fazem o homem se sentir culpado. Então o homem precisa buscar a
superioridade e controlar o seu próprio destino, para isso ele tem que mudar a maneira de
pensar para sentir-se e comportar-se melhor. Esta posição está totalmente baseada em
princípios antibíblicos como o orgulho e a ideia de que o homem é uma vítima, quando a
Bíblia afirma claramente que o homem não tem nada em que se gloriar, ele é um pecador
desesperado e só pode ser transformado por Jesus Cristo, tem ainda uma visão errada da
condição do homem achando que ele pode se curar apenas mudando seus pensamentos,
quando o que ele precisa é de uma verdadeira regeneração.
C. Comportamental.
Desenvolvida por Burrhus Frederic Skinner, esta teoria vê o homem como um
animal que pode ser condicionado para fazer tanto o bem como o mal, ele defende a ideia
de “tabula rasa”, o grande problema do homem é a falha ambiental e, portanto ele não
deve ser responsabilizado, na verdade Skinner vê o homem como um ser amoral. O
tratamento indicado para Skinner é que o meio ambiente do homem seja mudado, uma
vez que é ele que condiciona o homem. A culpa para Skinner não é real, uma vez que o
homem é amoral e que não há mal absoluto então a solução para o problema da culpa é
modificar o padrão do homem de acordo com suas necessidades. Esta teoria esta em
contraste gritante com o padrão bíblico, pois ela ignora o homem como um ser espiritual
e tira do homem todo o senso de liberdade e responsabilidade que Deus atribuiu a ele,
também cria no homem uma mentalidade de que o homem é vítima do que lhe acontece
já que é o meio ambiente que é o responsável o que também contraria o ensino bíblico. E
ainda defende uma teoria acerca do homem que o transforma em mero produto do meio
32
ambiente, quando o que nós vemos na Bíblia é que é o homem que levou o meio
ambiente para o mal quando caiu (Gn 3.17).
D. Teoria racional-emotiva.
Criada por Albert Ellis. Ellis Vê o homem como basicamente bom e com muito
potencial interno. O problema do homem é que ele é vítima de crenças falhas e irracionais
acerca de si mesmo que foram implantadas nele desde a sua infância, então a culpa não é
do homem, mas do sistema de crenças deste, que é quem cria no homem um pensamento
errôneo de que ele é culpado e este pensamento resulta em comportamento neurótico que
prejudicam o homem, logo, o homem deve eliminar esta visão de errônea da vida e
adquirir uma visão real, de acordo com a sua razão de sua vida, ele tem que mudar
ativamente o seu conceito de vida para poder desfrutar todo o seu potencial interno. Esta
cosmovisão é totalmente antibíblica e humanística, que engana o homem dando a ele a
esperança de encontrar mudanças em conceitos dentro de si mesmo quando o único lugar
que existe solução real é junto a Jesus Cristo. Também contradiz a declaração bíblica de
que o homem está totalmente corrompido pelo pecado e não pode fazer nada, em si
mesmo, para mudar este quadro, esta mudança que é muito mais radical do que a mera
troca de conceitos só pode ser efetuada por Deus.
E. Terceira força.
Teoria desenvolvida por Carl Ransom Rogers. Rogers foi profundamente
influenciado pela cosmovisão otimista de sua época e cria que o homem poderia
transformar toda a sociedade em redor, via o homem como bom, com muito potencial
interior e em estado de maturidade, pronto para dar novos frutos, o problema é que ele
vivia em um meio ambiente que atrapalhava seu desenvolvimento, logo, a
responsabilidade pelos problemas da sociedade não é do homem já que é apenas uma
vítima do meio ambiente e em consequência disso a visão da culpa humana não era
importante. O tratamento para o seu problema era uma buscar uma solução interna
ajudando o homem a transformar todo o seu potencial em realidade, o homem não
deveria sentir culpa já que tudo o que ele fizesse para estar confortável consigo mesmo
era certo e até mesmo necessário. Esta teoria contradiz o padrão bíblico no que diz
respeito a fonte da cura, não podemos encontrar cura para os nossos problemas em nós
mesmos porque nós é que somos a fonte dos nossos problemas, nossa cura não é externa
mas vem do Senhor Jesus Cristo, ainda não podemos fazer tudo o que quisermos para o
nosso bem-estar pois nosso propósito aqui não é o de buscar prazeres mas buscar a glória
de Deus.
F. Sistemas de Famílias.
Desenvolvido por Ackerman, sua visão do homem é que ele é o produto de
relacionamentos defeituosos e falhos, não só os relacionamentos do homem são falhos,
33
mas eles o soam porque todo o sistema é falho e o homem está apenas, casualmente,
seguindo o círculo, cumprindo sua função dentro do sistema, logo, a culpa não é do
homem, pois ele é apenas um peão do universo. O tratamento a ser seguido é descrito
como alterar a maneira como os diversos relacionamentos são desenvolvidos. Esta
cosmovisão não esta de acordo com os dados bíblicos porque, mais uma vez, ela troca os
efeitos pela causa, os relacionamentos defeituosos são os efeitos do mal que existe no
homem e não a causa deste, e a cura para estes relacionamentos defeituosos não se
encontram no homem natural, mas só podem começar a serem experimentados por
aqueles que foram regenerados.
G. Bíblico.
O modelo bíblico foi desenvolvido pela maior autoridade antropológica existente, o
criador do próprio homem, e que por isso conhece o homem como mais ninguém. Neste
modelo o homem é tido como um ser criado para glorificar a Deus e seu problema
consiste em que ele se desviou de seu propósito original e agora é pecador por escolha
própria e encontra-se em rebelião total contra Deus, como foi o homem se desviou por
escolha própria ele é responsável por seus atos e a visão da culpa que ele tem é real e
resulta de seus pecados. O tratamento oferecido não é encontrado no próprio homem, mas
é uma justificação baseada na fé em Deus, seguida por uma santificação progressiva que
irá gradativamente restaurando o homem a sua condição original, para resolver o seu
problema o homem tem que admitir a sua culpar e buscar a resposta em Deus.
III. Comparando as pressuposições dos conselheiros.
Uma das áreas em que nasce todas as diferenças entre os modelos de
aconselhamento são as pressuposições. Podemos notar claramente que é tolice tentar unir
estas correntes com o cristianismo porque suas diferenças não são apenas interpretações
de fatos que não concordam, mas são pressuposições que são totalmente divergentes,
logo, é impossível haver união entre elas.
Os psicólogos, em geral, pressupõe que Deus não existe, que o homem deve se
preocupar apenas com as causas naturais, defendem o reducionismo e o individualismo,
são relativistas pragmáticos e buscam apenas os prazeres desta vida, se consideram
vítimas da situação e tem tendências gnósticas.
Nenhumas dessas pressuposições podem ser aceitas por cristãos que busca
glorificar a Deus acima de tudo, pois elas tiram o homem de seu lugar apropriado, o
inocenta de suas culpas e responsabilidades, despreza Deus a algo incerto e buscam
encontrar realização penas nesta vida sem si importar com a vida porvir.
34
IV. Comparando as teorias de motivação dos conselheiros.
Outra área contrastante entre o modelo de aconselhamento bíblico e os outros
modelos são as teorias de motivação que eles usam com seus aconselhados.
Os outros modelos de aconselhamento usam motivações puramente humanísticas
para despertar os seus aconselhados a realizarem-se plenamente, entre estas motivações
podemos notar que a vida do corpo é algo muito valorizado por eles enquanto que o
padrão bíblico é que devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e ele cuidará de
tudo o que necessitamos (Mt 6.33). Outra fonte de motivação muito usada é o sexo, mas o
padrão bíblico é que devemos possuir nosso corpo em santificação, pois ele é santuário
do Espírito Santo. Há ainda um apelo as posses materiais quando Deus ordena que nós
devemos ser ricos para com Deus (Lc 12.20). Outra fonte de motivação são as causas
sociais e mais uma vez a Bíblia nos ensina que nós devemos nos preocupar mais com a
glória de Deus do que com a dos homens (Jo 12.43). Uma Quinta fonte de motivação é o
poder para realizar coisas, mas de novo a Bíblia nos ensina que o maior no reino dos céus
é o servo (Lc 22.26). A autoestima também é uma grande fonte de motivação, mas de
novo podemos ver que a Bíblia diz que devemos nos colocar aos pés de Jesus para segui-
lo (Lc 9.23). Também é utilizada a sede do homem de buscar significado para a vida e a
Bíblia nos ensina que o significado da vida está em temer a Deus (Ec 12.13). O homem
também busca, a todo custo, evitar a dor e conseguir prazer, mas o ensino bíblico é que
passaremos por problemas enquanto estivermos aqui na terra, mas temos a certeza de que
um dia não mais veremos a dor e o sofrimento (Ap 22.1-5).
Logo, torna-se evidente que a motivação humana, por mais atraente que possa
parecer aos nossos olhos, não é eficaz e nem pode ser alcançada enquanto nós vivermos
aqui nesta terra, cabe, portanto, ao conselheiro bíblico desviar a visão do aconselhado do
supostos benefícios que ele pode conseguir enquanto estiver aqui na terra para levá-lo a
contemplar as recompensas dadas por Deus para aqueles que creem nele.
Finalizamos este tópico citando frases de Valério Albisetti:
“Após tantos anos estudando a psiquê humana, cheguei à seguinte conclusão: quem
não sofre, não experimenta medo, não toma iniciativas, não quer mudar, não discute e
não arrisca nada e no final das contas, morre psiquicamente”.
“Na vida sempre vale a pena arriscar, seja lá como for”.24
“Sei, também, que se começa a viver no instante em que se decide não mais fugir
do sofrimento, não buscando mais satisfação das necessidades pessoais, mas aceitando o
imponderável, o mistério, a insatisfação, a incapacidade, o insucesso, as oposições, as
diferenças, e Deus”.25
24
ALBISETTI, Valério. De Freud a Deus. São Paulo: Paulinas, 1997, p. 37.
25
Ibid, p. 94.
35
PSICOTEOLOGIA I: Onde psicologia e teologia se reencontram26
Gilson de Almeida Pinho (2012)
Objetivo geral
Analisar as razões da aproximação entre psicologia e teologia.
Objetivos específicos
1. Conceituar psicoteologia.
2. Identificar a importância da psicoteologia.
3. Identificar alguns motivos do antagonismo entre cristianismo e psicologia.
4. Identificar o motivo da aproximação entre cristianismo e psicologia.
Psicoteologia é a área do conhecimento humano que tem sua fundamentação
teórica em três fontes principais: (1) na teologia e na religião; (2) na psicologia, filosofia
e nas ciências sociais (sociologia, antropologia, ética etc.); e (3) nas neurociências
(neurologia, neuroanatomia, neurofisiologia, psicofisiologia, psiquiatria, psicossomática
etc.) e na bioética; sendo sua aplicação voltada para três focos principais: (1) o estudo dos
fenômenos espirituais sob uma óptica científica, com mais rigor técnico; (2) o estudo da
alma humana como elo entre o corpo e o espírito, e como fator de saúde global; e
principalmente (3) na aplicação da prática do aconselhamento pastoral com maior rigor
ético e manejo técnico científico.
A teologia estuda as revelações de Deus (ou deuses) aos homens e as
manifestações dos grupos sociais em relação a Deus ou às suas divindades (religião). A
psicologia estuda basicamente o comportamento humano como manifestação da mente
e/ou personalidade humana, focando no homem como ser biopsicossocial. A
psicoteologia estuda o homem em sua dimensão biopsicossocial e espiritual.
1. A importância da psicoteologia
A psicoteologia é uma área muito nova de estudo, pois só começou a partir da
década de 1990, e isso ocorreu graças às novas descobertas das neurociências sobre o
cérebro e a mente humana. Atualmente muitas faculdades teológicas oferecem cursos de
pós-graduação em psicoteologia. Algumas enfatizam mais os aspectos teológicos, outras
26
PINHO, Gilson de Almeida. Pós-graduação em Ciência da Religião Módulo I. Londrina, PR: Seminário Teológico Hosana,
2013.
36
enfatizam os aspectos psicológicos, outras enfatizam os aspectos neurocientíficos, e
outras enfatizam sua aplicação na prática da psicoterapia pastoral.
O mundo atual tem passado por transformações rápidas e radicais, e o que não
faltam às pessoas são os problemas decorrentes da vida moderna: problemas de saúde
física, problemas emocionais, familiares, sociais, de moradia, de segurança, financeiros,
políticos, espirituais etc. Esses problemas são agravados pelas mudanças de costumes,
novos padrões éticos e morais, crise nas crenças e valores etc. Com tudo isso, o estresse,
a angústia, a depressão, a ansiedade, o pânico etc. se alastram como epidemia, deixando
as pessoas desorientadas e precisando de ajuda para sobreviver, para enxergar seus
problemas, enxergar a si mesmas e precisando de orientação pessoal. Os conselheiros e
cuidadores sociais, sejam eles profissionais seculares (psicólogos, educadores, terapeutas,
consultores e outros) ou líderes religiosos (pastores, padres e outros orientadores
espirituais), precisam de mais conhecimentos de suas profissões e de suas áreas de
atuação, de mais conhecimentos gerais e de melhor manejo técnico-científico para ajudar
seus pacientes, clientes ou ovelhas de seu rebanho, e outras mais que vem de fora na
busca de explicações ou de uma razão para se viver.
Os profissionais seculares, ao ignorarem o homem como ser espiritual, nem sempre
dão as respostas mais eficazes para os problemas que lhe são trazidos. Os líderes
espirituais, por ignorarem o homem como ser biopsicossocial, e porque nem sempre
sabem fazer o manejo técnico correto em seus atendimentos, acabam caindo no mesmo
erro. Nas igrejas, o aconselhamento pastoral tradicional tem se mostrado insuficiente e
muitas vezes ineficaz porque as condições ambientais e circunstanciais mudaram.
De nada adianta aos cristãos sinceros (mas incultos) criticarem os líderes que
buscam novas fontes de conhecimento, em especial na psicologia, pois cedo ou tarde eles
mesmos ou alguém de seu conhecimento enfrentarão situações onde o simples
aconselhamento poderá não ser suficiente, por mais correto que seja. E não adiantará
dizer que basta focar somente na Bíblia ou na ação do Espírito Santo para realizar um
aconselhamento eficaz, eficiente e efetivo. Por mais fé que se demonstre ter, é preciso
buscar algo mais. É como um bom músico ou cantor cristão, por mais dom artístico e
unção espiritual que tenham, eles precisam estudar, treinar e aprimorar sua técnica.
No passado, as igrejas insensatamente se posicionaram contra a vida moderna e
caíram em ridículo, como, por exemplo, ao criticarem a invenção dos veículos de
transporte (em especial a construção de ferrovias e o uso de aviões); ou criticarem os
meios de comunicação (muitos ainda se lembram como os cristãos combateram a
televisão e o computador como instrumentos do Diabo); ou criticarem as descobertas
médicas (transfusão de sangue, transplante de órgãos, métodos anticoncepcionais etc.) e
37
muitas outras coisas tão comuns na vida moderna e de uso frequente dentro das próprias
igrejas. Muitos cristãos se opuseram a tudo isso, mas por fim, todos acabaram aderindo a
esses confortos. O mesmo está ocorrendo atualmente com relação ao conceito de
psicoteologia, mas logo essa crítica cairá no esquecimento.
É importante lembrar que a psicologia, a psicanálise, a psicoterapia e outras áreas
afins nasceram dentro do ambiente judaico-cristão, mas infelizmente, e de modo
ignorante e radical, muitos cristãos tomaram uma atitude precipitada de oposição a elas.
Consequentemente tais áreas do conhecimento evoluíram à margem da vida religiosa e,
muitas vezes, até mesmo de modo antagônico às práticas religiosas. Conceitos como
transferência (comunhão), mudança de paradigmas (conversão), terapia (cura da alma)
etc., os quais poderiam continuar vinculados à vida religiosa, hoje só têm conceituação
fora da religião. O radicalismo dos religiosos fez com que perdessem o direito à autoria
de tais conceitos.
É importante também destacar que, em 1948, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) definiu “Saúde é um estado completo de bem estar físico, mental e social, e não
simplesmente a ausência de doenças e enfermidades”. Em 1983, a OMS ampliou esse
conceitos para: “Saúde é um estado dinâmico de bem estar físico, mental, espiritual e
social, e não simplesmente a ausência de doenças e enfermidades”. Ou seja, hoje, a
espiritualidade é vista como um fator importante para a saúde das pessoas, sendo
estudada pela Psicologia Existencialista, Psicologia da Saúde, Psicologia Positiva e outras
abordagens psicológicas. Quem está tirando vantagem disso são os budistas e os espíritas,
enquanto que os cristãos estão limitados em sua atuação devido ao posicionamento que
assumiram num passado recente.
A psicoteologia busca conhecer a espiritualidade humana de maneira mais crítica,
mas de modo algum quer desmistificar a religião, ao contrário, busca conhecer o
misticismo humano e os fenômenos religiosos, sem se deixar levar pelos fanatismos ou
pelo radicalismo dos pré-conceitos religiosos. A psicoteologia de maneira alguma visa
menosprezar a ação do Espírito Santo na vida do crente, nem tampouco é uma
denominação ou linha filosófico doutrinária, é, sim, um instrumento a mais para os
cristãos melhor desempenharem seu ministério e explicar sua fé: “... estando sempre
preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em
vós” (1Pe 3.15b).
2. Cristianismo versus psicologia
Quando a psicologia surgiu como ciência em fins do séc. 19, o relacionamento
com o cristianismo não foi dos melhores devido aos posicionamentos adotados pela nova
38
ciência, mas também não era de antagonismo declarado, e muitos psicólogos eram
cristãos, como o caso de Karl Gustav Jung (1875-1961) e Paul Tillich (1886-1965).
Merece destaque o caso de um amigo íntimo de Freud chamado Oskar Pfister (1873-
1956), pastor da igreja reformada suíça e psicanalista. Freud e Pfister mantiveram
correspondência entre 1909 e 1939, quando Freud morreu. Ambos divergiam em suas
ideias religiosas, mas se respeitavam.
Logo a situação de atrito entre religião e psicologia se tornaria inevitável e
agressiva. Em parte isso ocorreu devido às críticas de Freud, e vários psicólogos contra as
manifestações religiosas, responsabilizando-as por muitas das manifestações
psicopatológicas de seus pacientes. Albert Ellis (1913-2007) dizia que a religião
geralmente é a causa de desequilíbrio psicológico, e sempre é um sintoma dele. Ele
propunha como solução para os problemas psicológicos ajudar as pessoas e a sociedade a
abandonarem tais crenças religiosas.
O atrito não ocorreu só por parte dos psicólogos, mas também por causa das
reações radicais dos religiosos contra vários conceitos psicológicos, sem mesmo se
darem ao trabalho de analisarem a validade ou não dos mesmos. Por exemplo, muitos
casos que no passado eram vistos como possessão demoníaca, hoje são classificados
como alguma forma de psicopatologia ou sintoma de alguma psicopatologia (alucinação,
delírio, comportamento bizarro etc.). Quantas vezes os cristão criticaram o uso de
medicamentos antipsicóticos, e hoje muitos deles fazem uso de tais medicamentos.
Mas havia um terceiro elemento responsável por esse atrito, o qual normalmente é
ignorado: a ação da teologia liberal dos sécs. 19 e 20. Essa linha teológica tendia a aceitar
as conclusões da ciência moderna com relação a assuntos de natureza religiosa, isso
incluía a psicologia. Se houvesse algum atrito entre o que a ciência dizia e o que a
religião pregava, prevalecia a palavra da ciência. Com isso, os cristãos conservadores se
opuseram a tudo que os teólogos liberais criam e acreditavam, isso incluía a psicologia.
Tem sido difícil para os cristãos não responder de modo defensivo a semelhantes
desafios. Para muitas pessoas, a psicologia parece ser a inimiga da fé.
Semelhantemente, a religião tem considerado muitos psicólogos como inimigos do
bem-estar pessoal. A psicologia e o cristianismo são inimigos mútuos, na ideia
dessas pessoas (Benner, 1988, vol. III, p. 200).
3. A aproximação entre cristianismo e psicologia
Se por um lado, as diferenças entre cristianismo e psicologia são enormes, por
outro lado, elas têm muitos pontos em comum, por exemplo: ambas entendem que os
39
homens são seres espirituais e morais, e, portanto, não podem ser reduzidos a um
conjunto simples de reações neurológicas. Vários conceitos teológicos podem ajudar a
entender conceitos psicológicos, e vice-versa (por exemplo: a eterna discussão entre
predestinação e livre arbítrio, a conversão e a mudança de vida, a diferença entre
conversão e adesão a uma igreja etc.), bem como, podem promover o desenvolvimento
psicológico, e vice-versa.
Os primeiros defensores da união psicologia teologia foram Seward Hiltner (1910-
84), professor do seminário presbiteriano de Princeton, e John Sanford (1929-2005),
ministro episcopal.
Hiltner cunhou o conceito do “aconselhamento pastoral”, em 1948, ao buscar a
ajuda das técnicas psicoterapêuticas aliadas à fundamentação bíblica para a cura interior
das pessoas. Hiltner, Wayne Edward Oates (1917-99), Paul Johnson (1928-) e Granger
Westberg (1913-99) fundaram, em 1963, a Associação Americana de Conselheiros
Pastorais (American Association of Pastoral Counselors – AAPC), cuja missão é “trazer
cura, esperança e integridade aos indivíduos, famílias e comunidades, ampliando e
equipando o cuidado espiritualmente e psicologicamente fundamentada no
aconselhamento e na psicoterapia”. Fundaram também a Associação de Educação
Pastoral Clínica (Association for Clinical Pastoral Education – ACPE), cujo objetivo é o
treinamento clínico de pastores e capelães para a atuação na clínica psicoterápica com
fundamentação bíblica. Graças a essas entidades, e outras congêneres que surgiram
posteriormente, é cada vez maior o número de clérigos que passaram a servir nos
hospitais e nos órgãos de saúde mental.
Além de entidades como as mencionadas acima, também surgiram jornais revistas
dedicados a divulgar a ação conjunta da psicologia e da religião, tais como The Journal
of Religion and Health (Jornal da Religião e Saúde), em 1961, e The Journal for the
Scientific Study of Religion (Jornal do Estudo Científico da Religião).
Ao procurarem essa verdade integrada, esses cristãos têm sustentado fortemente a
autoridade final das Escrituras, mas sem temer uma confrontação direta com os
aparentes pontos de tensão em conflito. Paul Tournier e Gary Collins são dois
escritores bem conhecidos dessa tradição. The Journal of Psychology and
Theology e The Journal of Psychology and Christianity contêm os escritos de
muitos outros. Várias organizações também estão associadas a essa posição. A
Associação Cristã para Estudos Psicológicos é um, grupo internacional de mais de
mil profissionais cristãos no ramo da saúde mental, dedicados à integração entre a
psicologia e a teologia. De modo semelhante, vários programas de pós-graduação
foram desenvolvidos desde 1960, com o alvo explícito de fornecer treinamento
dentro do contexto da integração entre a psicologia e a teologia cristã (Benner,
1988, vol. III, pp. 200-201).
40
4. Os objetivos comuns da psicologia e da religião
O foco da psicoteologia está em ver o homem como um ser completo:
biopsicossocial e espiritual.
A psicoteologia é vista como uma área nova de estudo, mas na realidade não é algo
novo e, sim, um diálogo entre a psicologia e a teologia, as quais haviam se separado pelas
desavenças criadas no início da história da psicologia científica, em fins do séc. 19 e ao
longo da maior parte do séc. 20, mas que estão se reencontrando graças à atuação de
pessoas mais tolerantes de ambas as linhas de pensamento, graças às descobertas das
neurociências e, principalmente, pelo fato de que ambas têm muitos pontos em comum,
entre os quais está o desenvolvimento global do ser humano.
Obviamente há divergências entre ambas, e muitas das quais são irreconciliáveis,
mas nada que o respeito mútuo às suas respectivas áreas de atuação, sem radicalismos,
não possa contornar. O diálogo entre teologia e psicologia tem muito mais a oferecer a
ambas, ao homem e ao cristianismo.
Embora haja tensões entre a teologia e a psicologia, devemos continuar a procurar
maneiras de as duas se encaixarem [...] Cada disciplina tem sua tarefa sem igual e
deve respeitar os domínios da outra. Ao mesmo tempo, há uma relação
interessante e íntima entre a tarefa de salvar e curar almas e a tarefa de salvar
mentes, psiquês e personalidades das garras do desespero. Isto realmente é
pertinente, porque a igreja deve ocupar-se com a totalidade da personalidade. A
psicologia da religião, portanto, procura introduzir no estudo científico da religião
e/ou da fé um respeito mútuo para com as percepções tanto da teologia como da
psicologia, a fim de compreender a natureza e o comportamento do homem de
modo mais completo (Butman, 1988, vol. III, p. 206).
41
NEUROTEOLOGIA
O que é a neuroteologia? E como são feitos seus estudos?
É o estudo das áreas cerebrais envolvidas cem mecanismos da fé e da meditação.
"A neuroteologia, também conhecida como bioteologia ou neurociência
espiritual, é uma disciplina científica que estuda os processo cognitivos que produzem
experiências subjetivas tradicionalmente categorizadas como religiosas ou espirituais,
relacionando-os com padrões de atividades no cérebro, descobrindo como e porque
evoluíram nos humanos, e os seus benefícios. O assunto tem formado a base de vários
livros de ciência popular".27
Foram feitas experiências com monges e freiras em clausura mostrando como e
quando áreas cerebrais se alteravam durante a meditação e a oração. Viu-se que, em
estado meditativo, eles apresentam alterações reais e detectáveis. Há mudanças na
química do sangue e das ondas cerebrais.
Áreas de estudo da Neuroteologia
O MRI scanner é um instrumento que ajuda a estudar o cérebro em funcionamento.
E um instrumento de grande ajuda para a Neuroteologia.
Existem varias áreas de estudo dentro da neuroteologia. Algumas delas são:
1. Estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído para produzir
experiências (Neuroteologia evolutiva).
27
https://pt.wikipedia.org/wiki/Neuroteologia.
42
2. Estudo do desenvolvimento espiritual, do sentido de Deus e do Sagrado, e de
experiências religiosas em crianças. Do nascimento ate a infância (Neuroteologia
desenvolvimental).
3. Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça humana por toda a
história, e de ancestrais de humanos como o Homo habilis e o Homo erectus, e espécies
próximas como o Homo de Neanderthal (Neuroteoantropologia).
4. Estudo do comportamento religioso e experiências religiosas em primatas e
outros mamíferos com inteligências avançada (Zooneuroteologia) Principais dúvidas
dentro da Neuroteologia.
A meditação pode levar a pessoa a ter emoções religiosas, como a sensação de estar
em contato com Deus.
Evolução - Porque e como as experiências espirituais evoluíram?
Idade – Bebês ou crianças podem ter experiências espirituais? Quando o cérebro
humano fica apto a ter experiências espirituais? Existe alguma relação neurológica com o
fato de que a maioria dos líderes religiosos tiveram suas epifanias nos seus 30 anos?
Alucinógenos e Enteógenos – Porque algumas substâncias causam experiências
espirituais?
Sexo – Como as experiências espirituais se diferem entre homens e mulheres?
Podemos estabelecer uma relação entre essas diferenças com o Dimorfismo sexual do
cérebro da espécie humana?
Sonhos - Qual é a relação entre experiências espirituais e sonhos? O indivíduo
pode ter experiências espirituais enquanto dorme?
Hipnose – A experiência espiritual compartilha mecanismos com a hipnose?
Música - Cerimônias religiosas quase sempre envolvem música, e música pode
gerar sentimentos religiosos, e experiências espirituais. Porque isso acontece?
Genética – A herança genética pode influenciar na facilidade de ter experiências
espirituais. O gene o (VMAT2) chamado de gene divino da ao ser humano a
predisposição de ter experiências espirituais?
Espécies – Primatas e mamíferos com inteligência avançada como o elefante ou
golfinhos podem ter experiências espirituais? Humanos primitivos podiam ter
experiências espirituais, elas eram semelhantes a de humanos modernos??
Definindo e medindo a experiência e sentimentos espirituais/religiosos
Neuroteologia tenta explicar a atual base neurológica para aquelas experiências,
que são popularmente chamadas de espirituais, religiosas, ou místicas (e outros termos)
para formas anormais de cognição, que quase sempre envolvem um ou mais dos
seguintes itens:
A gravura de Flammarion é usada frequentemente para ilustrar a experiência
religiosa.
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Introdução à Psicologia, Aconselhamento Bíblico e Neuroteologia

  • 1. 1 ABRATHEO Pr. A. Carlos G. Bentes DOUTOR EM TEOLOGIA PhD em Teologia Sistemática
  • 2. 2 ÍNDICE O QUE É PSICOLOGIA? 3 Breve história da psicologia 3 Psicologia e Profissão 7 ACONSELHAMENTO BÍBLICO 9 DEFINIÇÃO DE ACONSELHAMENTO BÍBLICO 9 Aconselhamento noutético 13 QUAIS COMPROMISSOS TEOLÓGICOS SÃO ESSENCIAIS PARA O MÉTODO NOUTÉTICO DE ACONSELHAMENTO? 22 A Teologia no Aconselhamento Bíblico. 22 O valor do aconselhamento bíblico. 24 ASPECTOS FÍSICOS E ESPIRITUAIS DO ACONSELHAMENTO 25 COMPARAÇÃO DE MODELOS DE ACONSELHAMENTO 29 PSICOTEOLOGIA I: Onde psicologia e teologia se reencontram 35 NEUROTEOLOGIA 41 NEUROTEOLOGIA E ANATOMIA DO CÉREBRO 61 O SISTEMA LÍMBICO E A EQUAÇÃO MENTE-CÉREBRO 77 O cérebro e o corpo 84 ONDE ESTÁ DEUS NO CÉREBRO? 85 Busca espiritual ativa diferentes regiões do cérebro, indicam estudos 86 BIBLIOGRAFIA 89 Biografia do autor 90
  • 3. 3 O QUE É PSICOLOGIA? Você sabe o que quer dizer Psicologia? O que faz um psicólogo ou psicóloga? Podemos começar definindo a palavra psicologia. A definição de psicologia poderia ser dada por sua origem grega: Ψυχολογία = Psychê + logia. Psychê quer dizer alma ou mente e também era o nome da Deusa “Psiquê”, que na mitologia grega era esposa de Eros, o nosso famoso cupido. Note que a primeira letra, Ψ (psi), é o símbolo da Psicologia, a figura acima. Logia vem de logos, que quer dizer: discurso, conhecimento, ciência. Deste modo Psicologia é a ciência da alma e da mente. É a ciência que estuda a mente e o comportamento. A palavra psicologia significa estudo da psiquê e a palavra psiquê significa mente ou alma. No Microsoft Thesaurus, encontramos com referencia psique: "eu: atman, alma, espírito; subjetividade: eu superior, eu espiritual, espírito". O leitor é lembrado, mais uma vez, de que as raízes da psicologia se estendem pelas profundezas da alma e do espírito humanos. A palavra psique ou sua equivalente tem fontes antigas, remontando a, pelo menos, vários milênios antes de Cristo. Nessa Época, ela em geral significava a força ou o espírito que animava o corpo ou veiculo material. Em dado momento, na Alemanha do século XVI, psique foi conjugada a logos - palavra ou estudo - para formar psicologia, o estudo da alma ou do espírito, conforme aparecem nos seres humanos. Ainda se discute quem teria utilizado pela primeira vez a palavra psicologia; alguns dizem que foi Melanchton; outros dizem que foi Freigius; outros ainda, que foi Goclenius de Marburgo. Porém, por volta de 1730, ela já estava sendo utilizada num sentido mais moderno por Wolff, na Alemanha; por Hartley na Inglaterra; por Bonnet, na França - e mesmo nessa ocasião, psicologia ainda significava, como a New Princeton Review de 1888 a definia, "a ciência da psique ou da alma".1 A psicologia é tanto um campo de estudos acadêmicos (em Universidades e faculdades) como um campo de aplicação dos conhecimentos: consultórios, hospitais, clínicas de saúde mental, em empresas e organizações. Deste modo, a psicologia é uma ciência (campo de conhecimentos) e uma profissão, que foi regulamentada no Brasil em 1962. O objetivo principal dos psicólogos e psicólogas é entender e explicar o pensamento, a emoção e o comportamento das pessoas. Quanto à área de aplicação da psicologia, podemos dizer que qualquer lugar onde se encontre uma pessoa, poderíamos ter um psicólogo atuando – dada a definição anterior. Clínicas, hospitais, escolas, empresas, indústrias, laboratórios são áreas nas quais os psicólogos trabalham. Breve história da psicologia Resumo da História da Psicologia com as Principais Abordagens Em certo sentido, pode-se dizer que a psicologia existiu desde o nascimento da filosofia grega. Obras de Platão e Aristóteles já contém estudos sobre a alma humana. 1 WILBER Ken. PSICOLOGIA INTEGRAL. São Paulo, SP. EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA, 2009, p. 7.
  • 4. 4 Assim, ao longo da filosofia como um todo, desde a Antiguidade, passando pela Idade Média e moderna, encontramos livros relacionados aos temas da psicologia: estudos sobre os humores, temperamentos, sofrimentos, ética. Mas existe um autor que é considerado o pai da moderna psicologia: seu nome é Wilhelm Maximilian Wundt. Ele é considerado o fundador da psicologia enquanto ciência por ter criado o primeiro laboratório de psicologia, em Leipiz, na Alemanha em 1879. Wilhelm Maximilian Wundt foi um médico, filósofo e psicólogo alemão. É considerado um dos fundadores da moderna psicologia experimental junto com Ernst Heinrich Weber e Gustav Theodor Fechner. O laboratório fundado por Wundt: [...] significou o desligamento das ideias psicológicas de ideias abstratas e espiritualistas, que defendiam a existência de uma alma nos homens, a qual seria a sede da vida psíquica. A partir daí, a história da psicologia é de fortalecimento de seu vínculo com os princípios e métodos científicos. A ideia de um homem autônomo, capaz de se responsabilizar pelo seu próprio desenvolvimento e pela sua vida, também vai se fortalecendo a partir desse momento (Bock, 1999, p. 26). O grande mérito de Wundt foi o fato de encontrar nas reações orgânicas do homem a explicação para muitas das atividades mentais e comportamentos, antes considerados originários da alma: Wundt desenvolve a concepção do paralelismo psicofísico, segundo a qual aos fenômenos mentais correspondem fenômenos orgânicos. Por exemplo, uma estimulação física, como uma picada de agulha na pele de um indivíduo, teria uma correspondência na mente deste indivíduo, Wundt teria um método que denomina introspeccionismo. Nesse método, o experimentador pergunta ao sujeito, especialmente treinado para a auto- observação, os caminhos percorridos no seu interior por uma estimulação sensorial (a picada da agulha, por exemplo) (Bock, 1999, p. 43). Wundt abriu dois grandes campos de pesquisa para a psicologia: a pesquisa experimental (em laboratório) e a psicologia social ou psicologia dos povos – em alemão Völkerpsychologie.
  • 5. 5 Abordagens da psicologia Até os dias atuais, os psicólogos contemporâneos dividem a psicologia em três grandes abordagens: a psicanálise, o behaviorismo (comportamentalismo) e humanismo. Existem três grandes abordagens dentro da psicologia: I. A psicanálise; II. O behaviorismo (comportamentalismo); III. O humanismo. Sem elas, não podemos contar a história da psicologia nem explicar “o que é psicologia”. Além destas três forças, que serão explicadas abaixo, existem outras abordagens da psicologia como a psicologia transpessoal e a PNL, Programação Neurolinguística. A psicanálise O pai da psicanálise foi Sigmund Freud, neurólogo austríaco nascido em 1859. A ideia central da psicanálise (análise da psiquê) é a ideia de inconsciente. Embora seja um conceito complexo, podemos entendê-lo como uma “parte” de nossa mente que o eu, a consciência, não controla. Com a ideia de inconsciente, Freud explicou os sonhos, sintomas, atos falhos2 , piadas e doenças psíquicas. De suas amplas pesquisa que procuraram abordar a psiquê, surgiu o ditado “Freud explica”. Outros teóricos como Alfred Adler, C. J. Jung e Reich discordaram em alguns pontos da teoria de Freud e criaram suas próprias linhas de pesquisa. Mas como todas não abandonam a ideia de inconsciente, podemos dizer que todas surgiram a partir da psicanálise. O behaviorismo O termo behaviorismo vem do inglês behavior, comportamento. Em português, podemos dizer tanto behaviorismo como comportamentalismo. O comportamentalismo define a psicologia como a ciência que estuda o comportamento. Autores como Pavlov, Watson e B. F Skinner deram grandes contribuições para o desenvolvimento desta abordagem da psicologia. Pavlov estudava o comportamento de salivação de cães. Em seu laboratório de pesquisa, ele criou um experimento que o tornou mundialmente famoso: Toda vez que ele dava comida ao cão ele tocava uma sineta. Depois de certo tempo, apenas tocando a sineta, o cão salivava. Ou seja, ele provou o condicionamento animal, que explica a causa de certas fobias em humanos. 2 Ato falho é um equívoco na fala, na memória, em uma atuação física, provocada hipoteticamente pelo inconsciente, isto é, através do ato falho o desejo do inconsciente é realizado. Isto explica o fato de que nenhum gesto, pensamento ou palavra acontece acidentalmente. Os atos falhos são diferentes do erro comum, pois este é resultado da ignorância ou conveniência.
  • 6. 6 Skinner aprofundou as pesquisas da área, inaugurando o que chamou de behaviorismo radical. Fazendo uso também de experimentos com animais, ele desenvolveu o conceito de condicionamento operante. A grosso modo, podemos resumir este conceito da seguinte forma: o comportamento tem probabilidade de acontecer dada sua relação com os fenômenos anteriores e posteriores. Em outras palavras: um comportamento vai ser controlado pelo que aconteceu antes e pelo que pode acontecer depois. Por exemplo, posso adorar comer chocolate. Mas se antes de comer chocolate, eu tiver comido muito chocolate, se você me oferecer – mesmo gostando muito de chocolate – provavelmente eu não vou aceitar. O humanismo Na década de 1950, houve uma forte reação contra estas duas abordagens da psicologia: a psicanálise e o behaviorismo. Esta reação ficou conhecida como humanismo ou psicologia humanista e tem dois importantes teóricos: Carl Rogers e Abraham Maslow. Em 1962, Maslow publicou o livro Toward a Psychology of being (Em Direção a uma Psicologia do Ser), em que defendia a existência de uma força dentro da Psicologia: o humanismo. Um dos conceitos mais conhecidos de Maslow é a de hierarquia de necessidades. Maslow desenhou uma pirâmide, muito utilizada nos estudos de motivação, sobre a ordem de prioridades de satisfação do homem.
  • 7. 7 Em outras palavras, primeiro buscamos satisfazer: a) necessidades fisiológicas – como fome e sono; b) segurança – emprego, família, saúde; c) amizade, relacionamentos amorosos; d) necessidades de estima e; e) realização pessoal. Psicologia e Profissão A psicologia possui um vasto campo de atuação. Se você deseja cursar a faculdade de psicologia ou se você deseja simplesmente saber mais sobre as áreas de atuação, esta lição é para você. No curso de psicologia estudamos diversos assuntos, desde matérias iniciais e gerais como História da Filosofia, Anatomia, Sociologia e Antropologia até matérias específicas sobre as forças da psicologia e disciplinas práticas. Como a psicologia se relaciona com os campos citados acima, especialmente a biologia, filosofia e sociologia, é uma área que exige constante atualização. Psicologia Clínica Compreende a maior área de atuação dos profissionais da psicologia e é também a área que as pessoas mais conhecem e associam com os psicólogos. Geralmente, pensa-se na profissão de psicologia: um consultório com divã. A psicologia clínica vai sofrer influência das grandes forças da psicologia e de outras áreas mais recentes como a Psicologia Transpessoal e PNL (programação neurolinguística), bem como da medicina (psiquiatria) e de terapias corporais.
  • 8. 8 Os psicólogos nesta área buscam tratar o sofrimento mental e psíquico dos pacientes, diagnosticando as doenças mentais e realizando uma intervenção de acordo com as necessidades de cada caso. Psicologia do Desenvolvimento (Infância e adolescência) Estudo e pesquisa do desenvolvimento mental e emocional de crianças e adolescentes. Mas não só: são também estudados as mudanças provocadas pela meia idade e pelo advento da terceira idade. Psicologia Social Estudo e intervenção dos indivíduos em contextos grupais. Ou seja, como o indivíduo se relaciona com grupos (família, escola, amigos, multidões). Nesta área, o psicólogo pode trabalhar em comunidades, grupos de autoajuda e no governo. Psicologia Organizacional (Empresas) Foi uma das primeiras áreas de atuação dos psicólogos no início do século XX. Muitos testes de personalidade surgiram através das necessidades das empresas na hora de selecionar e contratar funcionários. O profissional que trabalha em Organizações e Empresas pode prestar serviços de Recrutamento e Seleção de Pessoal, sendo o único profissional capacitado a aplicar, corrigir e analisar testes psicológicos. Psicologia da Personalidade Estuda os padrões de pensamentos, sentimentos e comportamentos dos indivíduos, que fazem com que cada pessoa seja única e diferente de todas as demais. Influencia fortemente as práticas da Psicologia Clínica. TEOPSICOTERAPIA Teo/psico/terapia: Deus Psicologia Saúde União da Palavra de Deus com a Psicologia para obtenção da saúde
  • 9. 9 ACONSELHAMENTO BÍBLICO 3 DEFINIÇÃO DE ACONSELHAMENTO BÍBLICO O que não é aconselhamento bíblico. O aconselhamento bíblico não é função de um especialista. O aconselhamento bíblico é uma obrigação de todos os membros que estão bem solidificados, uma preocupação não apenas dos pastores, mas de toda a igreja de Deus em prover base sólida para o crescimento cristão. Já que várias distorções da verdade têm surgido com o nome de aconselhamento bíblico, antes de definirmos com precisão o que é aconselhamento bíblico precisamos saber o que não é aconselhamento bíblico. Em primeiro lugar, o aconselhamento bíblico não é uma atividade reservada para os especialistas. Paulo, em Rm 15, nos diz que o que um conselheiro cristão precisa é estar em comunhão com Cristo, nos versos de 1 a 13 ele mostra o que Cristo fez por nós e no 14, como consequência disso diz: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros”. Deixando claro que o que precisamos para sermos bons conselheiros é sermos salvos. Em segundo lugar devemos notar que o aconselhamento bíblico não é uma atividade opcional para a Igreja. Podemos ver na atitude de Paulo que ele dava grande ênfase ao aconselhamento. Em At 20.31 ele nos mostra a intensidade com a qual ele realizava este serviço dizendo que o fazia dia e noite, e o fazia até o ponto de chorar por eles. Em Cl 1.28 ele nos mostra a amplitude desta obra quando diz que anunciou a todo homem. Por último devemos notar que o propósito do aconselhamento bíblico não é o bem- estar do homem, mas a glória de Deus. Numa época em que a felicidade do homem esta 3 ALMEIDA, Marcos Emanoel P. de. O ACONSELHAMENTO BÍBLICO.
  • 10. 10 acima de tudo, devemos notar que, ao contrário do que faz a psicologia, que se preocupa em como o homem pode alcançar o bem-estar, o aconselhamento noutético tem o propósito de glorificar a Deus. Paulo nos Adverte quanto a isso em Cl 1.28,29 dizendo: “O qual nós anunciamos, advertindo (νουθετοῦντες - nouthetountes)4 a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim”. Podemos notar aqui o propósito de suas admoestações era “apresentar todo homem perfeito em Cristo” e não que todo homem alcance felicidade aqui na terra, isto poderia até acontecer, mas é apenas a consequência de uma vida vivida dentro dos padrões que agradam a Deus. O que é aconselhamento bíblico. Rm12.8: “... ou que exorta, use esse dom em exortar...” “No período do Novo Testamento, os que tinham o dom da exortação (Rm 12.8 - παρακαλῶν - parakalōn) eram orientados a desenvolvê-lo com esmero, dando ao corpo de Cristo a capacidade de desenvolvimento harmonioso”.5 Parakalōn é uma declinação de parakaleō que por sua vez vem do substantivo paraklētos. O aconselhamento é um serviço ao próximo. “Anatole Bailly define conselheiro ou terapeuta (θεραπεύω)6 como alguém que se dispõe a “servir”, “servir ao outro”, “servir a qualquer um”; é aquele que se envolve com o outro, dispensando-lhe cuidado e atenção; que percebe o outro que se apresenta desprotegido, sem direção e impossibilitado de perceber um rumo para viver; é aquele que se envolve com aplicação e investe tempo para auxiliar quem se apresenta com demandas insolúveis. Esse terapeuta vai aplicar-se no auxílio do necessitado, doando-se em cuidado”.7 Ap 22.2: “No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a cura (θεραπείαν - therapeían) das nações”. 4 νουθετέω [nouthetéō]. Admoestar, instruir, aconselhar At 20.31; Rm 15.14; 1Co 4.14; Cl 1.28; 3.16; 1Ts 5.12,14; 2Ts 3.15; Tt 1.11. Dar instrução quanto à fé e a vida correta – “instruir, ensinar, instrução, ensino. 5 SILAS, Molochenco. Curso Vida Nova de Teologia Básica – Aconselhamento: São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 18. 6 Θεραπεύω, servir At 17.25. Cuidar de, daí curar, restaurar Mt 4.23s; Mc 3.2, 10; Lc 4.23, 40; 14.3; Ap 13.3. [terapêutico]. 7 SILAS, Molochenco. Op. Cit., p. 21,22.
  • 11. 11 Um dia, após o Milênio, na Nova Terra, todas as nações serão curadas, física, psíquica e espiritualmente ao comerem das folhas da árvore da vida. O Supremo Terapeuta – Jesus Cristo trará cura holística. Aconselhamento Noutético A abordagem de Jay Adams é conhecida pela designação que ele próprio cunhou de ‘aconselhamento noutético’. A palavra vem do grego e é traduzida no NT como ‘exortar’, ‘admoestar’, embora tenha outros sentidos. Adams prefere usa o termo grego transliterado para descrever sua abordagem por considera difícil traduzir o termo grego em uma única palavra. A proposta básica de Adams é que o conselheiro deve ocupar uma função de orientador e exortador do aconselhando. Para isso, Adams rompe com o conceito da pessoa em conflito como ‘doente mental’ que, segundo ele, torna o indivíduo não responsável pelo seu comportamento e atitudes, e trata todo distúrbio como enraizado no pecado. Para Adams as pessoas perturbadas precisam ser confrontadas com a Palavra de Deus e, em última análise, assumir responsabilidade pessoal através de confissão de seus atos (1986, pp. 55-56). O método de Adams é uma reação aos desenvolvimentos das ciências psicológicas da década de 1960, principalmente sua objeção às abordagens freudianas e rogerianas. Para Adams, o papel do conselheiro não deve ser como simples aliviador de sentimentos de culpa falsos que perturbam o indivíduo (cf. Freud) ou da busca de satisfação ou realização pessoal (cf. Roger). Para Adams, as pessoas precisam ser confrontadas com o pecado. Não só isso, o conselheiro deve ter parte ativa em apontar para o aconselhando onde ele/ela está agindo fora da Palavra de Deus. Adams descreve a ‘confrontação noutética’ como contendo três elementos principais: o ensino ou instrução com propósito de provocar mudança de conduta e personalidade; a confrontação verbal; e a correção em amor. Nessa abordagem, a Bíblia se torna instrumento básico do aconselhamento. O próprio Adams expressa bem a essência de sua abordagem ao indicar que no aconselhamento noutético não se preocupa com o por quê dos problemas, mas com o quê. Segundo ele, o por quê já se sabe “antes de iniciar-se o aconselhamento” e acrescenta ainda que, “A razão pela qual as pessoas se envolvem em problemas em suas relações com Deus e com o próximo está em sua natureza pecaminosa. Os seres humanos já nascem pecadores” (1986, p. 61). Assim, a ênfase do aconselhamento é determinar o quê aconteceu e o quê se deve fazer.
  • 12. 12 Cl 3.16: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos [διδάσκοντες - didaskontes]8 e admoestai-vos [νουθετοῦντες - nuthetutes]9 uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações”. As palavras “noutéticas” no Novo Testamento são derivadas de nouthetéō que ocorre oito vezes e nouthesia três. O verbo “aconselhar”, em Cl 3.16, no grego, é νουθετέω - nouthetéō e significa, especificamente, admoestar, advertir e exortar. Com base em tal palavra, surgiu o conceito de aconselhamento noutético [leia-se nutético], isto é, de que os cristãos devem se ajudar mutuamente, não apenas os ministros, a fim de que possamos nos desenvolver espiritualmente. Duas palavras gregas são usadas na Bíblia para o aconselhamento bíblico νουθετέω (nouthetéō) e παρακαλέω (parakaleō). Parakaleō ocorre 109 vezes e paraklēsis 29. Baseados nos usos destes dois termos tentaremos formular nossa definição de aconselhamento bíblico. O primeiro termo (nouthetéō)10 tem três significados básicos: 1. Admoestar (At 20.31; Rm 15.14; 1 Co 4.14; 1Ts 5.12,14); 2. Aconselhar (Cl 3.16) e; 3. Advertir (Cl 1.28; 2Ts 3.15). E sempre dá a ideia de mostrar ao irmão o seu erro através da Palavra de Deus e auxiliá-lo na correção deste. O segundo termo (parakaleō), de acordo com Walter Bauer, tem cinco significados. 1. Chamar alguém ao lado (At 28.20). 2. Nos dá a ideia de convidar (Lc 8.41; At 8.31; 13.42; 28.20). 3. Um terceiro significado é o de requerer, apelar para, rogar (Mt 8.31,34; Lc 7.4; Rm 12.1; 1 Co 15.16). 4. O quarto significado é o de confortar, encorajar, incentivar (Lc 16.25; At 16.40; 2Co 1.4; Cl 2.2). 5. O último significado é o de consolar, conciliar, falar de maneira amigável (Mt 5.4; Lc 15.28; 1Co 4.13; 14.31; Ef 6.22). 8 διδάσκω, ensinar (Mc 1.21; At 15.35; 1Co 11.14; Cl 3.16; Ap 2.14). 9 νουθετοῦντες. Verbo particípio presente voz ativa nominativo masculino plural de νουθετέω [nouthetéō]. 10 Nouthetéō (νουθετέω). νουθετῶν, νουθετεῖν, νουθετοῦντας, νουθετεῖτε, νουθετοῦντες. admoestar, advertir, exortar.
  • 13. 13 Paracletos11 No grego secular, do século IV a.C. em diante, o substantivo paraklētos referia-se a uma “pessoa chamada a ajudar, convocada para dar assistência”. Podia ser entendido como “alguém que ajuda no tribunal”, em correspondência com a palavra latina advocatus. No Antigo Testamento, a noção de “uma advocacia do Espírito divino a favor do homem nas circunstâncias da sua vida terrena” está mais clara no livro de Jó (Jó 5.1; 16.19; 19.25-27). No Novo Testamento, essa ideia de um “Deus-Mediador-Go’el é vista, por exemplo, na maneira por que tanto o Espírito Santo quanto o Senhor assunto aos céus intercedem por nós “no tribunal celestial” (Rm 8.26,27,34). A palavra Paráclētos literalmente significa em grego, alguém chamado para estar ao lado de outra ou para o seu auxílio. Era usada com referência a um assistente legal, conselheiro ou advogado. Descreve fortemente alguém que defende a causa de outra. Paráclētos é traduzido na Bíblia King James como advogado e a nota de rodapé nos informa: “A palavra advogado vem do latim advocatus que é equivalente exato do adjetivo verbal passivo grego paráklētos (Jo 14.16; 1 Jo 2.1), formado pelas palavras gregas para (ao lado de) e klētos (chamado). Usado de forma única por João para se referir ao Espírito Santo, e cujo amplo significado inclui: Conselheiro, Ajudador, Consolador, Encorajador.12 Baseados nestes usos podemos dizer que o verdadeiro aconselhamento bíblico envolve ensinar ao irmão a viver de maneira a agradar a Deus aqui na terra, confortando- o em suas dificuldades, incentivando-o a permanecer firme em Cristo, visando o pleno desenvolvimento do irmão e a glória de Deus através deste. Aconselhamento noutético13 Um dos principais escritos de Adams foi “Conselheiro Capaz” (1970). Adams experimentou frustração ao aconselhar cristãos carentes com métodos freudianos e rogerianos; Aquiesce ao abandono, por parte de O. Hobart Mowrer, do “modelo médico” de “doença mental”, e propõe um “modelo moral” que destaca a culpa real e a responsabilidade pessoal. Pressuposições: 11 HURDING, Roger F. A ÁRVORE DA CURA. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 444,445. 12 Bíblia King James. Novo Testamento. Editoras: SRG Publicações, SBIA e Abba, 2007, p. 256. 13 http://exposicaoteologica.blogspot.com.br/2009/11/aconselhamento-noutetico-noutetico-vem.html.
  • 14. 14 Adams: “a metodologia do aconselhamento necessariamente deve originar-se do ponto de vista bíblico de Deus, do homem e da criação, sempre apropriando-se do mesmo” (Adams, O manual do Conselheiro Cristão). Com base nisto, Adams sustenta que só há dois conselhos: o conselho divino e o conselho demoníaco – Postura de exclusão, ou posição do tipo “Cristo contra a cultura”, que reflete bem a dicotomia tertuliana. A dicotomia de Adams faz com que admita que os problemas humanos derivam ou do pecado (são hamartogênicos), ou de uma disfunção física. Não existe “meio-termo” que justifique a ideia de doença mental, ou problemas psicológicos; chega a considerar malignas a psicologia e a psicanálise. A afirmação de Adams — que diz que o pecado é a causa de todos os problemas — faz com que sua antropologia baseie-se no fato de que o homem jaz na depravação total (Agostinho X Pelágio). A confissão auricular seria, então, a base do seu aconselhamento, pois parte do pressuposto de que o feedback será positivo. O homem não é visto holisticamente. Todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de escolher o bem em questões espirituais. Para reforçarmos um pouco mais segue o que Thomas Paul Simmons, D.Th escreve sobre o assunto. “As Escrituras ensinam que a extensão do pecado no ser humano é total. Isto é o significado de depravação total”. A depravação total quer dizer que o pecado permeou cada faculdade do ser humano assim como uma gota de veneno permeia cada molécula de um copo de água. O pecado urdiu cada faculdade no homem e assim ele polui todo ato seu. Isso não quer dizer que todas as pessoas são tão más quanto elas poderiam ser. Significa, antes, que todos os seres humanos são afetados pelo pecado em todo campo do pensamento e da conduta, de forma que nada do que vem de alguém, separado da graça regeneradora de Deus, pode agradá-lo. À medida que nosso relacionamento com Deus é afetado, nós somos tão destruídos pelo pecado, que ninguém consegue entender adequadamente Deus ou os caminhos de Deus. Tampouco somos nós que buscamos Deus, e, sim, é ele quem primeiramente age dentro de nós para levar-nos a agir assim A Bíblia, portanto, é suficiente, e responde diretamente ao ser humano. A luz da tríade da cosmovisão cristã (Criação, Queda e Redenção) Adams tem razão. Na Criação não havia qualquer tipo de doença, nem física, nem psicológica e nem
  • 15. 15 espiritual. Depois da Queda, surge a primeira paranoia – fobia de Deus (teofobia).14 Depois o corpo começou a morrer e segue-se a diversidade de doenças nas três dimensões: somática, psicológica e pneumática. "A Bíblia, e não a psicologia, deveria determinar as categorias para a compreensão da teologia e da antropologia. por exemplo, As Escrituras nãoi contém qualquer indício de que o homem luta contra uma "visão negativa de si mesmo" ou contra a "baixa autoestima'. No entanto, essa ideia tem sido o tema de uma quantia considerável da psicologia popular cristã. O material teórico veio não da Bíblia, mas de psicólogos seculares como William James, Erich Fromm, Karen Horney e Abraham Maslow. Na verdade, a antropologia bíblica ensina que o homem ama demais a si mesmo e que, se ele amasse a Deus e aos outros tanto quanto já se ama, teria uma vida melhor". "Segundo Viktor Frankl, existe no ser humano um desejo e uma vontade de "sentido". Ele percebe que seus pacientes não sofrem exclusivamente de frustrações sexuais (Freud) ou de complexos como o de inferioridade (Adler), mas também do que reputa ser o vazio existencial. Para o analista, a neurose revelaria antes de mais nada um ser frustrado de sentido, o que o levou a concluir que a exigência fundamental do homem não é nem a emancipação sexual, nem a valorização do self, mas a "plenitude de sentido". Segundo Frankl, a compensação sexual não seria nada além de um Ersatz para com a falta de sentido existencial. E não existe maior sentido do que Deus o Todo Poderoso". Os Objetivos Noutéticos: “Adams frequentemente se refere ao objetivo geral na ajuda aos outros como o de ‘mudança bíblica’. Reconhecendo-se que todo homem, mulher ou criança que busca conselho pertence ou ao reino da luz ou ao reino das trevas, então a ‘mudança bíblica’ significa o processo de santificação, para os que pertencem ao primeiro, e a realidade da conversão, para os do segundo” (HURDING, p. 320). Admite uma espécie de pré-aconselhamento para aqueles que ainda não são cristãos (“confrontar os não salvos com a oferta universal do evangelho”). Adams diz que “O propósito da pregação e do aconselhamento é alimentar o amor a Deus e o amor ao próximo, como Deus manda”. O amor é visto como um “relacionamento condicionado pela [...] observância responsável dos mandamentos de Deus”. Ao dizer isso, expõe a necessidade de mudança de comportamento. E, quando diz que “... o crente assevera jubilosamente a possibilidade de uma mudança rápida e 14 Teofobia. Medo de Deus: Teo = Deus; Fobia= Medo. É um neologismo para referir-se ao sentimento de aversão a Deus e aos princípios da religião (Wikipédia).
  • 16. 16 completa”, crê que a transformação individual desse comportamento pode ser instantânea. O Método: Adams parece estabelecer as Escrituras, bem como a atividade do Espírito, como fundamentos para o aconselhamento. Ele diz: “O ponto que é preciso estabelecer é que, uma vez que o Espírito Santo emprega Sua Palavra como o meio principal pelo qual os cristãos podem crescer em santificação, o aconselhamento não pode ser eficaz (no sentido bíblico do termo) isolado das Escrituras. A realidade do Espírito Santo presente no aconselhamento implica, portanto, na presença das Escrituras Sagradas também”. E adverte: “Aconselhamento feito sem as Escrituras só se pode esperar que será aconselhamento sem o Espírito Santo”. Portanto, não há outro método eficaz. Para Adams, sua metodologia resume-se basicamente na “técnica bíblica”, e para ele esta consiste no que denomina aconselhamento noutético. Muito mais do que apenas explicar em que consiste o seu método, Adams parece fazer uma apologia de tal modo que procura absolutizar seu modelo moral. A “técnica bíblica” de Adams pode ser evidenciada em suas palavras: “... quanto mais diretivo eu me tornava (simplesmente dizendo aos consulentes o que Deus exigia deles), mais ajuda real as pessoas recebiam”. Essa postura ignora, também, a advertência de muitos quanto à prática de dar conselhos em dificuldades mais sérias que exigiriam o encaminhamento. Adams sugere um transplante do “vocábulo grego para a língua portuguesa” a fim de que esse conceito se estabeleça com mais clareza. Entretanto, arrisca os termos “admoestar”, “exortar” e “ensinar”, como equivalentes mais próximos. Na confrontação noutética, existe pelo menos três elementos básicos: a) – efetuar mudança de conduta e de personalidade; b) – confrontação verbal pessoa a pessoa (nesse momento Adams faz um destaque especial à ênfase noutética em torno do “o quê”, no lugar do “por quê” [este muito presente nos “métodos comuns de aconselhamento”], uma vez que já se sabe o “por quê”); e; c) – a noutétese motivada pelo amor, para o bem do cliente e para glória de Deus. A Pedra de toque do aconselhamento bíblico: 2Tm 3.15-17: “15 e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus. 16 Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar,
  • 17. 17 para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; 17 para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra”. Todos os cristãos, enquanto Corpo de Cristo, devem ocupar-se com a atividade noutética segundo Cl 3.16: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos [νουθετοῦντες] uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações”. Abordagem exclusivamente diretiva de Adams: o aconselhamento noutético (por ser bíblico) deve ser visto como autoritativo, uma vez que mede a “autoridade de Deus”. Além disto, também é disciplinador por desafiar o indivíduo à uma mudança de comportamento. O Método: Como se dá? “Na primeira sessão, o cliente preenche um ‘formulário de dados pessoais’, para dar ao conselheiro um ponto de partida factual sobre sua saúde, formação religiosa, tipo de personalidade, estado civil, histórico familiar e percepção do ‘problema principal’. Antes de esse ‘problema principal’ ser tratado, quer um casamento em ruína, quer sentimentos de inferioridade, quer inclinações homossexuais, verifica-se qual a condição do cliente diante de Deus. “Caso seja um cristão, o aconselhamento pode prosseguir; senão, o evangelho é primeiramente oferecido, porque, no que diz respeito ao incrédulo”: 1. “Deus não nos autorizou a reformar o exterior das pessoas”; 2. “Agir assim seria distorcer a verdadeira natureza de sua esplêndida redenção em Cristo”; 3. “Os clientes podem confiar em qualquer mudança externa ‘com a falsa segurança de que os problemas foram resolvidos’”. Até onde se pode perceber, o método usado no aconselhamento noutético exclusivisa os aspectos cognitivo e comportamental. Mudança noutética seria, então, mudança na forma de pensar e no comportamento. O seu “método iceberg de dar prioridade ao visível”, desconsidera os sentimentos para focalizar apenas o comportamento. Adams ignora qualquer possibilidade de que haja algo por detrás dos fatos. Para ele, a doença tem que ser vista como doença. Gostaríamos de ressaltar, ainda, uma nota de rodapé exposta na página “13” do seu livro “Conselheiro Capaz”. Ao dirigir terapias de grupo, sete horas por dia, em sua experiência ao lado de Mowrer, Adams conclui: “Cheguei depois à conclusão de que esse tipo de atividade com grupos de pessoas é antibíblico e, portanto prejudicial”.
  • 18. 18 Sendo a Psicologia Pastoral, de primeira mão, destinada à Igreja, concordamos com Adams à luz da Cosmovisão Cristã. Porém, reconhecemos um universo desconhecido da mente humana e além da Bíblia, usaremos todos os recursos científicos nesta viagem noética para ajudar aquele que procura aconselhamento. Roger F.Hurding afirma: “Será que precisamos adotar essas posturas excludentes sobre a personalidade humana? Aqui, o pensamento de Adams parece ser o resultado de excluir fatores psicológicos e emocionais, por não se encaixarem em seu esquema. Tais perspectivas inconvenientes devem de alguma maneira estar ligadas à esfera do físico ou do comportamental – se problemáticos, têm de ser logo relacionadas a uma doença orgânica ou a um pecado. Essa camisa de força parece estar bem distante do complexo entrelaçamento de sentimentos, experiências, pensamentos e ações encontrados em alguns dos ditos provérbios, como: “A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra” (Pv 12.25), “A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é árvore de vida” (Pv 13.12) e “O coração alegre aformoseia o rosto, mas com a tristeza do coração o espírito se abate” (Pv 15.13)”.15 Adams esquece dentro do conceito da cosmovisão (Criação) o pensamento sobre a igualdade de todos os seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus. “Outro princípio subjacente da Criação é a igualdade. Se todos partem do mesmo Criador, não há razão e muito menos justificativa para um ser humano seja considerado superior ou inferior ao outro, por isso a premissa judaico-cristã que todos merecem ser tratados sem distinção, independentemente da cor, raça, sexo, etnia ou religião. O fundamento do tratamento igualitário é o próprio Deus que não faz acepção de pessoas (At 10.34). Por esse motivo, o apóstolo Paulo escreve: Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3.28). Dinesh D´Souza lembra que “o caráter precioso e a igualdade de valor de cada vida humana é um conceito cristão”. Os cristãos sempre acreditaram que Deus atribui a cada vida humana que cria um valor infinito e que ama a cada pessoa de igual modo. No Cristianismo, você não é salvo por meio de sua família, tribo ou cidade”. Noutético vem da palavra de origem grega “νουθεσία - nouthesia”16 , que literalmente significa “O ato de pôr em mente” (formado de nous (νοῦς), “mente”, e 15 HURDING, Roger F. A ÁRVORE DA CURA. 1ª ed. São Paulo, SP: SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1995, p. 331. 16 νουθεσία, ας, ή admoestação, instrução, recomendação (1Co 10.11; Ef 6.4; Tt 3.10).
  • 19. 19 títhemi (τίθημι), “pôr”)17 . O termo nouthesia é “o treinamento pela palavra”, quer por incentivo, ou, se necessário, por reprovação ou reclamação. Em contraste com isso, o sinônimo “παιδεία - Paideia”18 enfatiza treinar por ação, embora as palavras sejam usadas em cada aspecto. O aconselhamento Noutético é um tipo de admoestação cujo objetivo é proporcionar orientação para uma vida correta diante de Deus. O que subentende também correção e a denúncia a qualquer padrão que seja incoerente com o viver cristão. A atividade noutética conforme ensina o Novo Testamento, indica que todos os cristãos, e não somente os pastores, devem ocupar-se no ensino e confrontar-se mutuamente (Rm 15.14). Porém, a atividade noutética caracteriza-se principalmente como parte integrante do ministério pastoral. Ao se despedir dos presbíteros de Éfeso, Paulo descreve, em (Atos 20.31 - νουθετῶν), a atividade que desenvolvera enquanto estivera com eles, e os exortou a continuarem a mesma obra entre o povo. Paulo foi um missionário, e onde quer que demorasse um pouco mais, atirava-se à sólida obra pastoral necessária para a edificação das pessoas na fé, sendo a atividade noutética parte proeminente dessa obra, razão porque suas cartas estão cheias de nomes de pessoas específicas, com as quais se envolvera muito intimamente. Ele não se limitava a pregar nas praças, mas lidava com as pessoas como indivíduos, grupos e famílias, confrontando-as nouteticamente. Existem três elementos da confrontação noutética que precisamos considerar aqui. Quais sejam: 1 – A atividade noutética e a sua conjunção com “didaskō.19 Didaskō [διδάσκω] é uma palavra grega e significa “Dar instrução”, “Ensino” (Cl 3.16). Em outros textos, contudo, o termo vai além do conceito de “ensino”. A confrontação noutética sempre envolve um problema e pressupõe um obstáculo que tem que ser vencido. A palavra didaskō não envolve, necessariamente, um problema. Sugere, simplesmente, a comunicação de informação. Não inclui coisa alguma que diga respeito ao ouvinte, mas se refere exclusivamente à atividade do instrutor. A pessoa que está sendo ensinada pode estar ansiosa ou não por receber a instrução. Pode ter gastado razoável quantia ou ter percorrido longas distâncias para recebê-las ou então pode reagir como o típico aluno recalcitrante. A noutese localiza aquele que faz a confrontação e aquele que a sofre, pressupondo, especificamente, a necessidade que se verifique mudança na pessoa confrontada, a qual 17 Τίθημι e τιθέω — ativo e passivo — pôr, colocar, constituir — a. genericamente pôr, colocar Mt 12.18;27.60; Mc 16.6; Lc 11.33;14.29; Jo 11.34; At 3.2;13.29; Rm 9.33;14.13; 2Co3.13 ; 2Pe2.6. 18 παιδεία, ας, ή treinamento, disciplina (Ef 6.4; 2Tm 3.16; Hb 12.5,7,8,11). 19 Didaskō - διδάσκω, ensinar (Mc 1.21; At 15.35; 1Co 11.14; Cl 3.16; Ap 2.14). ύμας διδάξει πάντα – ele vos instruirá em todas as coisas (Jo14.26).
  • 20. 20 pode opor ou não alguma resistência. A ideia de alguma coisa errada, algum pecado, alguma obstrução, algum problema, alguma necessidade que precise ser reconhecida e tratada, é uma ideia fundamental. O propósito básico da noutese é o de efetuar mudança de conduta e de personalidade. 2 - A atividade noutética e a sua conjunção com a “Palavra”. O segundo elemento inerente ao conceito de confrontação noutética é que os problemas são resolvidos por meios verbais. É o treinamento mediante a palavra de encorajamento, quando isso basta, ou de admoestação, de reprovação, de censura, quando estas se fazem necessárias. Assim, ao conceito de noutese deve-se acrescentar a dimensão adicional de confrontação verbal pessoa a pessoa, cujo objetivo é realizar mudança de comportamento e de caráter no consulente. No seu uso cristão, visa pôr em ordem o indivíduo, mediante a mudança de seus esquemas de conduta, de modo que estes se enquadrem nos padrões bíblicos. A mudança de personalidade, segundo as Escrituras, envolve confissão, arrependimento e o desenvolvimento de novos padrões de conduta. Tudo entendido como obra do Espírito Santo, pois tudo o que constitui esse ministério é por Ele tornado eficaz. Os métodos comuns de aconselhamento recomendam longas “excursões” retrospectivas rumo às confusões dos porquês e para-quês da conduta. O aconselhamento noutético aplica-se intensamente à discussão do o quê. O que foi feito? O que precisa ser feito para corrigi- lo? O que deverá constituir as futuras reações e respostas? A ênfase é no o quê, visto que já se sabe o “porquê’, antes de iniciar-se o aconselhamento. A razão pela qual as pessoas se envolvem em problemas em suas relações com Deus e com o próximo está em sua natureza pecaminosa. 3 - A atividade noutética e a sua conjunção com o “benefício ou ajuda”. O motivo subjacente à atividade noutética é que sempre se tem em mente que a correção verbal visa beneficiar o interessado. Esse terceiro elemento implica em mudar aquilo que, na vida do consulente, o está ferindo. A meta deve ser a de enfrentar diretamente os obstáculos e vencê-los verbalmente, não com o fim de puni-lo, mas sim o de ajudá-lo. A ideia de castigo, mesmo o de cunho disciplinar, não é contemplada no conceito de confrontação noutética. A noutese é motivada pelo amor e profundo interesse, sendo que os consulentes são aconselhados e corrigidos por meios verbais para seu bem. O objetivo final é que Deus seja glorificado. No seu uso bíblico, a confrontação Noutética visa a pôr em ordem o individual mediante a mudança de seus esquemas de conduta de modo que estes se enquadrem nos padrões bíblicos, ou seja; levando o a uma mudança de personalidade, ao que segundo as Escrituras envolve confissão, arrependimento e consequentemente o
  • 21. 21 desenvolvimento de novos comportamentos e padrões bíblico, sendo tudo isso entendido como obra do Espírito Santo. Exemplos bíblicos dessa atividade Noutética nas confrontações de Natã com Davi, depois do pecado que este cometeu quanto a Urias e Bate Seba (2Samuel 12) e de Jesus com Pedro (João 21). Na censurável conduta de Eli registrada em (1Sm 3.13), vemos um caso de fracasso; justamente pela negligência da confrontação Noutética. Ele de falar com urgência suficiente, com rigor suficiente, e com a seriedade suficiente, para produzir genuínas mudanças neles. Já em (1Sm 2.22), há o fato, o registro de uma última tentativa fraca e fútil, feita tardiamente. PSICOLOGIA ACONSELHAMENTO - Não orientador (como psicólogo a pessoa é como um espelho). Rebate os problemas levando a pessoa a achar sua própria resposta. - Orientador. Vai ao centro da verdade bíblica. A base para a verdade que rege todas as esferas de comportamento é a Bíblia. - Eu construo a minha personalidade. “As suas respostas estão em você mesmo”. - Deus me constrói. (1Pe 2.5). Jesus é o cumprimento profético do “Eu sou”. As respostas que precisamos estão em Jesus. - Eu trabalho na minha personalidade. Eu descanso em Deus (Sl 23) - Eu defendo minha personalidade. - Deus é minha defesa e proteção. - “Eu sou rei e eu reino” (Síndrome de Nabucodonosor). - Importa . que . Ele (Jesus) cresça e eu diminua. (Jo 3.30). - Sou vulnerável em face do acusador. A tentativa de suprimir a culpa só piora nossa situação em relação a ataques demoníacos. - Vencemos o acusador (Rm 8.37). Obedecer a consciência provendo ajustes necessários na nossa vida nos preserva em perfeita paz e autoridade. - O alvo é sentir bem. Amar os prazeres é o princípio da falência da alma. - Chegar à obediência de Cristo. A felicidade é apenas um efeito colateral desta motivação. Os aconselhadores pastorais são fluentemente bilíngues:20 “Os aconselhadores pastorais são capazes de falar as linguagens da psicologia e da fé (bíblica). Por um lado, eles devem conhecer a linguagem da psicologia e do aconselhamento. Portanto, aconselhadores pastorais devem familiarizar-se e fazer uso de conceitos e recursos psicológicos relacionados ao desenvolvimento humano, à 20 SCHIPANI, Daniel S. O Caminho da Sabedoria no Aconselhamento Pastoral. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2003, p. 76.
  • 22. 22 personalidade e à psicopatologia, além de contribuições de outras ciências humanas. Por outro lado, os aconselhadores pastorais devem ser hábeis na linguagem da fé e da teologia. Por isso, devem ser capazes de realizar diagnósticos pastorais de questões espirituais e auxiliar as pessoas a formularem e compreenderem autoavaliações e discernimentos espirituais”. COMPROMISSOS TEOLÓGICOS ESSENCIAIS NO NOUTÉTICO ACONSELHAMENTO21 Em geral, o conselheiro bíblico procura afirmar as doutrinas fundamentais da fé na tradição da Reforma Protestante. Embora a abordagem noutética não seja integracionista, há uma diversidade teológica e denominacional entre os seus defensores. Por exemplo, há conselheiros dispensacionalistas, aliancistas, episcopais, presbiterianos, batistas, etc. O aconselhamento bíblico não é sectário e é interdenominacional. Mas as doutrinas acima apresentadas são o marco distintivo daqueles que se intitulam conselheiros bíblicos. A Teologia no Aconselhamento Bíblico. O aconselhamento bíblico, por definição, tem como base as Escrituras, e uma vez que a Teologia é a ciência que busca sistematizar o conteúdo bíblico em tópicos, faz-se claro que o aconselhamento bíblico e a Teologia Sistemática devem andar lado a lado. Devemos notar que as duas se completam. A Teologia é a fonte de conteúdo para o aconselhamento bíblico, e o aconselhamento bíblico é onde a Teologia Sistemática entra em prática. Esta seção visa demonstrar a ligação entre as várias doutrinas e o aconselhamento bíblico. No estudo da Teologia Sistemática há um fio de prata. Ele liga todos os módulos da Teologia Sistemática: Bibliologia, Teontologia, Cristologia, Antropologia, Angelologia, Hamartiologia, Soteriologia, Eclesiologia, Pneumatologia e Escatologia. O fio de prata da Teologia Sistemática é a doutrina da Redenção, doutrina esta balizada na Pessoa Teantrópica do Redentor – Goel - ‫גאל‬ - O Parente Remidor. Rompendo-se o fio de prata da Teologia da Sistemática esta morre. O fio de prata da teologia é o Plano da Redenção alicerçado na Doutrina do Parente Remidor – O Go’el - Jesus Cristo, o Resgatador dos Judeus, dos Gentios, da Igreja e do Cosmos. Os três grandes atos da Santa Trindade na recuperação da humanidade perdida são: eleição por parte do Pai, redenção por parte do Filho, chamada por parte do Espírito 21 http://prcarlosmendes.blogspot.com.br/2009/10/quais-compromissos-teologicos-sao.html
  • 23. 23 Santo - como sendo dirigidos às mesmas pessoas, garantindo infalivelmente a salvação delas. A Cosmovisão Cristã é a base profunda sobre a qual as outras doutrinas da redenção estão alicerçadas. E a tríade da Cosmovisão Cristã: Criação, Queda e Redenção é a pedra angular da doutrina da redenção. A redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição. Esta eleição envolve os três povos (Judeus, Gentios e Igreja). Esta Redenção é eterna: Cl 1.14: “Em quem temos a redenção, a saber, a remissão dos pecados”; Hb 9.12: “e não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção”. O plano da redenção é o âmago da teologia. Deus veio para remir: o homem, o planeta Terra, Israel e o Cosmos. A. Bibliologia. De nosso estudo de bibliologia descobrimos que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, inerrante em seu conteúdo, a revelação da vontade de Deus para o homem. Conclui-se que, como fonte de nosso aconselhamento devemos recorrer a ela para sabermos como fazer a vontade de Deus, que é o propósito do aconselhamento. E que podemos Ter a certeza de que encontraremos nela tudo o que precisamos para um aconselhamento eficaz. B. Teontologia. A Teontologia nos leva a reconhecer que só existe um Deus que merece todo o nosso louvor, pois Ele é o criador e mantenedor de todo o universo. Logo, devemos Ter em mente que nosso aconselhamento deve levar o homem a conhecer e se relacionar de forma harmônica com este Deus. C. Cristologia. Na doutrina de Cristo entramos em contato com o plano redentor de Deus para o homem, e com a solução proposta por Deus para o mal que se enraizou no ser humano a partir de sua queda. Concluímos que a única solução possível para o mal do homem se encontra na pessoa e obra do nosso Senhor Jesus Cristo e não em nada de bom que o homem possa fazer. D. Pneumatologia. Estudando acerca do Espírito Santo vemos que é ele quem convence o mundo do pecado, que é o real problema da humanidade, inferimos daí que não se não estivermos na dependência do Espírito Santo nada do nosso esforço terá resultado.
  • 24. 24 E. Antropologia. A doutrina do homem nos fala acerca do homem criado por Deus em estado de perfeição, e da ansiedade do homem por não mais poder desfrutar de um relacionamento aberto com Deus. Então nosso aconselhamento deve levá-lo a desejar a restauração deste dois elementos. F. Hamartiologia. É no estudo da doutrina do pecado que encontramos a descrição perfeita do estado do homem e de suas necessidades. Um aconselhamento que leva em conta o fator pecado, e todo o mal que ele causou, na vida do homem está mais apto para conseguir a solução para o problema do homem. A Queda afetou o homem em todas as dimensões: material e imaterial. G. Soteriologia. Um aconselhamento que já mostrou ao homem a sua condição, através da doutrina do pecado, mostra também a grandiosidade da transformação que precisa sofrer. É na doutrina da salvação que está a cura para o mal do homem, a esperança para a sua vida. A redenção é holística, restaurando tudo aquilo que foi degenerado. H. Eclesiologia. A doutrina da igreja nos mostra a necessidade que o homem tem de participar do corpo de Cristo, e crescer junto com este corpo, o aconselhamento cristão levará o homem a reconhecer a necessidade de comunhão com outros que, como ele, buscam a glória de Deus em suas vidas. I. Escatologia. A doutrina das ultimas coisas dá ao fiel a certeza da restauração que ele precisa e que irá acontecer um dia, quando Cristo voltar. O valor do aconselhamento bíblico. O valor do aconselhamento bíblico reside exatamente no que ele discorda da psicologia moderna, suas concepções acerca da natureza do homem, do problema que ele enfrenta e da solução para este. Enquanto a psicologia vê o homem como inerentemente bom, que só precisa de bons estímulos, e de que o mal da sociedade que o cerca seja afastado para não influenciar seu comportamento. A Bíblia o descreve como um ser inteiramente corrompido, que só busca o que é mal aos olhos de Deus e incapaz de fazer o bem. Partindo de uma perspectiva correta, uma vez que é dada por Deus, ela pode ajudar melhor o homem e não torná-lo cada vez mais desesperado, como podemos ver no príncipe do existencialismo, Jean Paul Sartre: “O homem está condenado a liberdade”. A
  • 25. 25 Bíblia oferece a solução para o homem sim, mas não para um “homem bom”, mas para um homem totalmente depravado. Para a psicologia o problema do homem está em sua falta de autoafirmação, ou no meio ambiente corrompido em que ele habita. A Bíblia apresenta o pecado como problema maior do homem e isto é que gera sua falta de autoafirmação e um meio ambiente pervertido pelo próprio homem. A cura para o mal do homem está na reestruturação do meio ambiente, como nos diz a psicologia moderna, ou em qualquer outro fator que esteja ao alcance do homem. Mas a Bíblia nos fala de uma transformação radical que não pode ser feita pelo próprio homem, mas tem que ser operada por Deus, aonde ele vai se despojar do velho homem e se revestir de um novo homem, uma transformação total, não uma mera correção de atitudes mas uma transformação de essência. ASPECTOS FÍSICOS E ESPIRITUAIS DO ACONSELHAMENTO Para podermos auxiliar alguém em seus problemas é necessária uma perspectiva correta acerca da natureza do problema que aquela pessoa esta enfrentando. Nossa posição acerca da natureza do próprio homem influi diretamente em nossa atitude ao tratar dos problemas do homem. Se nós cremos que o homem é moralmente bom, com o desejo de fazer as coisas certas e que o atrapalha é uma sociedade corrompida, um meio ambiente desfavorável ou falta de recursos para que possa agir do modo correto, nosso esforço deve ser empregado em corrigir os defeitos e falhas da sociedade, melhorar o meio ambiente em que o homem vive e dar-lhe recursos para que ele consiga agir de modo correto. Mas se cremos que o homem é inerentemente mau, que o seu coração está totalmente revoltado contra Deus e que ele não quer e não pode fazer nada de bom, nosso esforço será em levar o homem a reconhecer a sua incapacidade e colocar sua vida aos pés dAquele que pode fazer uma transformação total na sua vida. Se nós cremos que por trás de todo mau comportamento do homem há algum fator biológico que o esteja pressionando a agir de determinada maneira, nossa atitude deve ser a de curar o corpo físico do indivíduo para que ele possa voltar a agir dentro dos padrões corretos. Mas se, por outro lado, não aceitamos o que os psicólogos chamam de “doença mental”, mas vemos por trás de atitudes como depressão maníaca, esquizofrenia e outros pecados encobertos na vida das pessoas, nosso alvo deve ser o de levar estas pessoas a
  • 26. 26 confrontarem os seus pecados com o auxílio do nosso Senhor Jesus Cristo. Vamos analisar os dois lados do problema (físico e espiritual), com episódios ocorridos na vida do nosso Senhor para podermos buscar o discernimento necessário para reconhecer o que é doença verdadeiramente e o que vem como resultado e até pecado direto na vida da pessoa. O primeiro caso é o do cego de nascença curado pelo Senhor (Jo 9). É importante para o nosso estudo aqui a pergunta inicial feita pelos discípulos ao Mestre: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” podemos inferir daqui uma pressuposição importante para nossa análise, os discípulos criam que havia doenças que eram resultados de pecados. E devemos notar também que Cristo não combateu esta ideia deles, o que era de se esperar se ela não fosse verdadeira, então podemos inferir que Cristo também acreditava que havia doenças que eram decorrentes do pecado, mas aquele não era o caso e o próprio Cristo não o recriminou por pecado algum, apenas efetuou a sua cura física, sem colocar no cego mais sofrimento, afirmando que ele estava sofrendo por causa de seu pecado quando não era. O segundo caso que nós vamos analisar é o caso do paralítico do tanque de Betesda (Jo 5). Neste caso podemos ver de novo a crença de Jesus de que havia doenças que eram decorrentes de pecado, e que neste caso, o paralítico, provavelmente estava naquela situação exatamente por causa de seu pecado, pois Cristo o advertiu a não pecar mais para que não sucedesse a ele coisa pior. Note que Cristo não ousou confrontar o pecado do pecador quando foi o caso, mas ele não o fez na outra ocasião. Logo, nós, como conselheiros devemos estar em constante dependência de Deus para não nos tornarmos como os amigos de Jó que só aumentaram ainda mais seu sofrimento, acusando-o de um pecado que ele não tinha cometido, mas também não devemos tratar tudo como causas naturais, pois é nosso dever guiar as pessoas em pecado a restauração com Deus. O PROCESSO BÍBLICO DE MUDANÇA Para entendermos o processo bíblico de mudança faz-se necessário Ter uma visão correta do que a Bíblia diz ser a condição do homem. Para isso vamos passar pela história do homem desde a sua criação. Deus criou um homem perfeito, com capacidades de se relacionar com outros seres, com capacidade para dominar sobre a criação e com a necessidade de se relacionar com Ele. Neste relacionamento homem Deus, havia papéis definidos que deveriam ser respeitados para um relacionamento saudável. Deus como criador tinha muito a ensinar ao homem, era seu conselheiro por excelência, um dos conselhos mais importantes era, você não deve comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas
  • 27. 27 o homem não gostou de receber conselhos apenas de Deus e buscou outro conselheiro, como um ser livre, ele teria responsabilidades sobre suas ações e colheria as consequências delas, e a consequência desta escolha do homem foi a perda de vários dos privilégios que o homem tinha com Deus. Algumas delas são: ele ganhou o conhecimento do bem e do mal, mas não podia mas escolher entre eles pois seu desejo agora só se voltaria para o mal; ele sofreu consequências físicas, a partir dali o homem começara a morrer física e espiritualmente; O homem também perdera o relacionamento tão precioso que tinha com Deus, para se tornar seu inimigo, e devemos notar que esta é uma das maiores consequências para um ser que foi criado para se relacionar com Deus, isto trouxe frustração profunda ao homem, mesmo que ele não saiba disso, pois uma de suas necessidades básicas não estava mais sendo atendidas. Desde então o homem tem se degenerado cada dia mais e o que podemos ver é sociedade totalmente frustrada por não se relacionar com Deus, voltando-se para práticas místicas, pois estão descobrindo que eles têm sede de algo espiritual, o ateísmo não resolveu o problema do homem, agora ele se volta ao misticismo, que também falhará. A mudança que o homem precisa, de acordo com a Bíblia, não é uma restauração das estruturas sociais, Cristo não pregou um evangelho de igualdade social, mas pregou um evangelho de transformação radical. O homem não precisa de um pequeno retoque para se tornar aceitável diante de Deus, ele precisa ser totalmente transformado, precisa que o seu coração de pedra seja arrancado e seja colocado um coração de carne. A tarefa de transformar vidas não é algo fácil que o próprio homem pode conseguir, nem mesmo os melhores métodos de transformação já desenvolvidos pelo homem pode levá-lo a transformação que ele precisa, nem a maior força de vontade que já foi vista sobre a terra é útil na restauração que o homem precisa sofrer. Jeremias nos mostra a grandeza de tal tarefa quando afirma: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumado a fazer o mal”. Esta é a situação do homem, totalmente acostumado a fazer o mal, com o seu coração totalmente corrompido de forma que não pode mais escolher entre o bem e o mal. Mas no meio de todo este quadro há uma esperança para o homem, uma transformação tão radical quanto a que ele precisa, uma transformação que vai mudar toda a sua essência, que vai trocar todos os seus valores. Cristo descreve esta transformação em Jo 3, quando fala de um novo nascimento, nada dessa velha vida serve para ser reaproveitado então o homem tem que nascer de
  • 28. 28 novo. O processo de mudança também é bem explicado pelo apóstolo Paulo, dizendo: “No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis22 do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”. A Bíblia Jerusalém traduz: “A remover o vosso modo de vida anterior — o homem velho, que se corrompe ao sabor das concupiscências enganosas.”. Podemos ver descrito aqui o que cremos ser o processo correto para a transformação na vida daquele que é tocado por Deus. Podemos ver que ele tem que abandonar as velhas práticas que antes faziam parte de seu viver diário, o que nós podemos chamar, usando a terminologia bíblica, de despojar. E uma vez despojado, ou seja, retirado tudo aquilo que estava contaminado no homem, toda a sua velha natureza, ele pode agora ser revestido de uma nova natureza, uma natureza agora capaz de novo de se relacionar com Deus, e auxiliada pelo Espírito Santo a poder de novo escolher a fazer o bem. Assim o homem consegue esta transformação, primeiro sendo transformado pelo Espírito Santo, dando a ele nova vida e depois agindo em cooperação com Espírito Santo buscando uma vida de santificação, ou seja, sendo de novo restaurado a imagem de Cristo, como fora criado. A melhor definição de santificação dada é a do apóstolo Paulo, quando ele afirma: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados [µεταµορφούµεθα - µεταµορφόοµαι]23 , de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Podemos notar aqui todos os passos da transformação. Primeiro nosso rosto foi desvendado, foi restaurada a nossa visão, ocorreu a nossa regeneração. E em seguida nós somos auxiliados pelo Espírito Santo a nos tornarmos a imagem de Cristo de forma gradual (2Co 3.18). Só o processo bíblico de remover, renovar e revestir pode realmente provocar a mudança que o homem precisa, e nós podemos ver isto desde a conversão onde o pecador é despojado da velha natureza e revestido de uma nova natureza. Temos também o apoio do próprio Senhor Jesus Cristo, no episódio da expulsão dos demônios quando ele explica que: Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, tendo voltado, a encontra varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do 22 Despojar. ἀποθέσθαι. άπόθεσις, εως, ή remoção,despojamento, deixar (1Pe 3.21; 2Pe 1.14). 23 µεταµορφόοµαι – metamorfóomai. Μεταμορφοω – metamorfoō: mudar de forma, transformar, transfigurar.
  • 29. 29 que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro. Note que ali havia apenas transformação exterior, mas não havia revestimento, então a sua situação se tornara pior, mas a verdadeira transformação não deixa a casa vazia, mas a enche com o Espírito Santo, dando assim condições de haver mudança real. COMPARAÇÃO DE MODELOS DE ACONSELHAMENTO Quando defendemos o método do aconselhamento bíblico, pressupomos que em comparação com os outros métodos ele apresenta vantagens que vão realmente fazer uma grande diferença, que eles têm pressupostos diferentes e que os pressupostos do aconselhamento bíblico estão mais de acordo com a realidade do homem como o descreve a Bíblia. Esta seção visa fazer uma comparação entre o aconselhamento bíblico e os outros tipos de aconselhamento. I. Comparando a epistemologia dos conselheiros. A maioria absoluta dos conselheiros de hoje vivem em uma cosmovisão totalmente ateísta que não pretende levar Deus a sério, eles estão tão secularizados que não conseguem enxergar nada que vá além deste mundo algo que não esteja ligado apenas com o físico, mas algo que nos una a um Deus, que é transcendente e imanente ao mesmo tempo, ao Deus real. Logo, sua fonte de epistemologia esta totalmente ligada aos seus estudos, ao que eles podem descobrir através dos sentidos, ou teorias produzidas pela razão humana, ou ainda, algo ligado a suas intuições, mas descartam completamente qualquer fonte de revelação exterior. Os conselheiros bíblicos, ao contrário, têm ao seu dispor, além da verdadeira ciência, a verdadeira fonte de informação acerca dos homens, e assim podem fazer uma melhor análise de sua situação real. Esta fonte pode ser dividida em duas áreas, que nós chamamos geral e especial. A fonte de revelação geral é o que Deus colocou a disposição de todos os homens de todas as épocas e lugares para que eles possam saber como viver uma vida que agrada a Deus, mesmo sem conhecer a este Deus. Como agentes dessa revelação nós temos a natureza, o salmista nos mostra todas as pessoas da terra têm acesso a este conhecimento: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol, o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a
  • 30. 30 percorrer o seu caminho. Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor”. Deus se revelou a todos os homens para que todos pudessem ter o direito de conhecê-lo, mas o homem não valorizou este conhecimento trocando-o por várias outras fontes de sabedoria mundana, o apóstolo Paulo nos mostra o que o homem fez com esta revelação de Deus: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.18-20). Aqui o apóstolo deixa claro que Deus deixou ao homem a verdadeira fonte de conhecimento, mas ele perverteu esta fonte com a sua injustiça, e por isso eles não têm desculpas a apresentar diante de Deus, como se não conhecessem a verdade, porque foram eles que apagaram a verdade divina de suas vidas. Há ainda a segunda área de revelação, que é a revelação geral. Que a manifestação de Deus a homens específicos em tempos e lugares específicos, esta revelação tem o propósito salvífico de restaurar a comunhão entre Deus e o homem fazendo com que o homem conheça a salvação providenciada por Deus para ele. Esta é a mais completa fonte de conhecimento do homem, pois nela encontramos tudo para que possamos viver uma vida agradável a Deus, enquanto a primeira nos leva a reconhecer que estamos perdidos sem Deus, esta nos apresenta o Deus que pode nos salvar. Paulo descreve assim seu valor: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. Neste texto podemos ver seu alto valor para o aconselhamento bíblico, ela é útil para: ensinar, repreender, corrigir e educar. E ainda tem o mesmo propósito do aconselhamento bíblico que é o de levar todo homem a maturidade em Cristo visando a glória de Deus. II. Comparando os métodos dos conselheiros. Os métodos utilizados pelos conselheiros são contrastantes com o método bíblico, nesta seção iremos analisar os métodos utilizados a luz das Sagradas Escrituras.
  • 31. 31 A. Psicologia profunda. Criado por Sigmund Freud, defende que o homem é um animal que age instintivamente, o homem é dividido em id, ego e superego. Como animal o homem não tem nenhuma responsabilidade sobre suas ações e o sentimento de culpa é apenas fruto de padrões impostos pelos outros homens. Freud defendia que a solução para o problema do homem era tornar todo o seu potencial real, fortalecendo o seu ego. Esta posição tem uma perspectiva errada acerca do homem, pois não o retrata como totalmente depravado, exalta o homem em si mesmo como alguém bom que só precisa de uma pequena reformulação de conceitos. B. Neo-Adlerianos. Criado por Alfred Adler, desenvolveu a psicologia individual. Para Adler o homem é um animal socialmente governado e seu problema é o complexo de inferioridade só que a responsabilidade deste problema não é individual, mas da sociedade. São erros nos pensamentos e valores da sociedade, e falta de confiança em si mesmo que fazem o homem se sentir culpado. Então o homem precisa buscar a superioridade e controlar o seu próprio destino, para isso ele tem que mudar a maneira de pensar para sentir-se e comportar-se melhor. Esta posição está totalmente baseada em princípios antibíblicos como o orgulho e a ideia de que o homem é uma vítima, quando a Bíblia afirma claramente que o homem não tem nada em que se gloriar, ele é um pecador desesperado e só pode ser transformado por Jesus Cristo, tem ainda uma visão errada da condição do homem achando que ele pode se curar apenas mudando seus pensamentos, quando o que ele precisa é de uma verdadeira regeneração. C. Comportamental. Desenvolvida por Burrhus Frederic Skinner, esta teoria vê o homem como um animal que pode ser condicionado para fazer tanto o bem como o mal, ele defende a ideia de “tabula rasa”, o grande problema do homem é a falha ambiental e, portanto ele não deve ser responsabilizado, na verdade Skinner vê o homem como um ser amoral. O tratamento indicado para Skinner é que o meio ambiente do homem seja mudado, uma vez que é ele que condiciona o homem. A culpa para Skinner não é real, uma vez que o homem é amoral e que não há mal absoluto então a solução para o problema da culpa é modificar o padrão do homem de acordo com suas necessidades. Esta teoria esta em contraste gritante com o padrão bíblico, pois ela ignora o homem como um ser espiritual e tira do homem todo o senso de liberdade e responsabilidade que Deus atribuiu a ele, também cria no homem uma mentalidade de que o homem é vítima do que lhe acontece já que é o meio ambiente que é o responsável o que também contraria o ensino bíblico. E ainda defende uma teoria acerca do homem que o transforma em mero produto do meio
  • 32. 32 ambiente, quando o que nós vemos na Bíblia é que é o homem que levou o meio ambiente para o mal quando caiu (Gn 3.17). D. Teoria racional-emotiva. Criada por Albert Ellis. Ellis Vê o homem como basicamente bom e com muito potencial interno. O problema do homem é que ele é vítima de crenças falhas e irracionais acerca de si mesmo que foram implantadas nele desde a sua infância, então a culpa não é do homem, mas do sistema de crenças deste, que é quem cria no homem um pensamento errôneo de que ele é culpado e este pensamento resulta em comportamento neurótico que prejudicam o homem, logo, o homem deve eliminar esta visão de errônea da vida e adquirir uma visão real, de acordo com a sua razão de sua vida, ele tem que mudar ativamente o seu conceito de vida para poder desfrutar todo o seu potencial interno. Esta cosmovisão é totalmente antibíblica e humanística, que engana o homem dando a ele a esperança de encontrar mudanças em conceitos dentro de si mesmo quando o único lugar que existe solução real é junto a Jesus Cristo. Também contradiz a declaração bíblica de que o homem está totalmente corrompido pelo pecado e não pode fazer nada, em si mesmo, para mudar este quadro, esta mudança que é muito mais radical do que a mera troca de conceitos só pode ser efetuada por Deus. E. Terceira força. Teoria desenvolvida por Carl Ransom Rogers. Rogers foi profundamente influenciado pela cosmovisão otimista de sua época e cria que o homem poderia transformar toda a sociedade em redor, via o homem como bom, com muito potencial interior e em estado de maturidade, pronto para dar novos frutos, o problema é que ele vivia em um meio ambiente que atrapalhava seu desenvolvimento, logo, a responsabilidade pelos problemas da sociedade não é do homem já que é apenas uma vítima do meio ambiente e em consequência disso a visão da culpa humana não era importante. O tratamento para o seu problema era uma buscar uma solução interna ajudando o homem a transformar todo o seu potencial em realidade, o homem não deveria sentir culpa já que tudo o que ele fizesse para estar confortável consigo mesmo era certo e até mesmo necessário. Esta teoria contradiz o padrão bíblico no que diz respeito a fonte da cura, não podemos encontrar cura para os nossos problemas em nós mesmos porque nós é que somos a fonte dos nossos problemas, nossa cura não é externa mas vem do Senhor Jesus Cristo, ainda não podemos fazer tudo o que quisermos para o nosso bem-estar pois nosso propósito aqui não é o de buscar prazeres mas buscar a glória de Deus. F. Sistemas de Famílias. Desenvolvido por Ackerman, sua visão do homem é que ele é o produto de relacionamentos defeituosos e falhos, não só os relacionamentos do homem são falhos,
  • 33. 33 mas eles o soam porque todo o sistema é falho e o homem está apenas, casualmente, seguindo o círculo, cumprindo sua função dentro do sistema, logo, a culpa não é do homem, pois ele é apenas um peão do universo. O tratamento a ser seguido é descrito como alterar a maneira como os diversos relacionamentos são desenvolvidos. Esta cosmovisão não esta de acordo com os dados bíblicos porque, mais uma vez, ela troca os efeitos pela causa, os relacionamentos defeituosos são os efeitos do mal que existe no homem e não a causa deste, e a cura para estes relacionamentos defeituosos não se encontram no homem natural, mas só podem começar a serem experimentados por aqueles que foram regenerados. G. Bíblico. O modelo bíblico foi desenvolvido pela maior autoridade antropológica existente, o criador do próprio homem, e que por isso conhece o homem como mais ninguém. Neste modelo o homem é tido como um ser criado para glorificar a Deus e seu problema consiste em que ele se desviou de seu propósito original e agora é pecador por escolha própria e encontra-se em rebelião total contra Deus, como foi o homem se desviou por escolha própria ele é responsável por seus atos e a visão da culpa que ele tem é real e resulta de seus pecados. O tratamento oferecido não é encontrado no próprio homem, mas é uma justificação baseada na fé em Deus, seguida por uma santificação progressiva que irá gradativamente restaurando o homem a sua condição original, para resolver o seu problema o homem tem que admitir a sua culpar e buscar a resposta em Deus. III. Comparando as pressuposições dos conselheiros. Uma das áreas em que nasce todas as diferenças entre os modelos de aconselhamento são as pressuposições. Podemos notar claramente que é tolice tentar unir estas correntes com o cristianismo porque suas diferenças não são apenas interpretações de fatos que não concordam, mas são pressuposições que são totalmente divergentes, logo, é impossível haver união entre elas. Os psicólogos, em geral, pressupõe que Deus não existe, que o homem deve se preocupar apenas com as causas naturais, defendem o reducionismo e o individualismo, são relativistas pragmáticos e buscam apenas os prazeres desta vida, se consideram vítimas da situação e tem tendências gnósticas. Nenhumas dessas pressuposições podem ser aceitas por cristãos que busca glorificar a Deus acima de tudo, pois elas tiram o homem de seu lugar apropriado, o inocenta de suas culpas e responsabilidades, despreza Deus a algo incerto e buscam encontrar realização penas nesta vida sem si importar com a vida porvir.
  • 34. 34 IV. Comparando as teorias de motivação dos conselheiros. Outra área contrastante entre o modelo de aconselhamento bíblico e os outros modelos são as teorias de motivação que eles usam com seus aconselhados. Os outros modelos de aconselhamento usam motivações puramente humanísticas para despertar os seus aconselhados a realizarem-se plenamente, entre estas motivações podemos notar que a vida do corpo é algo muito valorizado por eles enquanto que o padrão bíblico é que devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e ele cuidará de tudo o que necessitamos (Mt 6.33). Outra fonte de motivação muito usada é o sexo, mas o padrão bíblico é que devemos possuir nosso corpo em santificação, pois ele é santuário do Espírito Santo. Há ainda um apelo as posses materiais quando Deus ordena que nós devemos ser ricos para com Deus (Lc 12.20). Outra fonte de motivação são as causas sociais e mais uma vez a Bíblia nos ensina que nós devemos nos preocupar mais com a glória de Deus do que com a dos homens (Jo 12.43). Uma Quinta fonte de motivação é o poder para realizar coisas, mas de novo a Bíblia nos ensina que o maior no reino dos céus é o servo (Lc 22.26). A autoestima também é uma grande fonte de motivação, mas de novo podemos ver que a Bíblia diz que devemos nos colocar aos pés de Jesus para segui- lo (Lc 9.23). Também é utilizada a sede do homem de buscar significado para a vida e a Bíblia nos ensina que o significado da vida está em temer a Deus (Ec 12.13). O homem também busca, a todo custo, evitar a dor e conseguir prazer, mas o ensino bíblico é que passaremos por problemas enquanto estivermos aqui na terra, mas temos a certeza de que um dia não mais veremos a dor e o sofrimento (Ap 22.1-5). Logo, torna-se evidente que a motivação humana, por mais atraente que possa parecer aos nossos olhos, não é eficaz e nem pode ser alcançada enquanto nós vivermos aqui nesta terra, cabe, portanto, ao conselheiro bíblico desviar a visão do aconselhado do supostos benefícios que ele pode conseguir enquanto estiver aqui na terra para levá-lo a contemplar as recompensas dadas por Deus para aqueles que creem nele. Finalizamos este tópico citando frases de Valério Albisetti: “Após tantos anos estudando a psiquê humana, cheguei à seguinte conclusão: quem não sofre, não experimenta medo, não toma iniciativas, não quer mudar, não discute e não arrisca nada e no final das contas, morre psiquicamente”. “Na vida sempre vale a pena arriscar, seja lá como for”.24 “Sei, também, que se começa a viver no instante em que se decide não mais fugir do sofrimento, não buscando mais satisfação das necessidades pessoais, mas aceitando o imponderável, o mistério, a insatisfação, a incapacidade, o insucesso, as oposições, as diferenças, e Deus”.25 24 ALBISETTI, Valério. De Freud a Deus. São Paulo: Paulinas, 1997, p. 37. 25 Ibid, p. 94.
  • 35. 35 PSICOTEOLOGIA I: Onde psicologia e teologia se reencontram26 Gilson de Almeida Pinho (2012) Objetivo geral Analisar as razões da aproximação entre psicologia e teologia. Objetivos específicos 1. Conceituar psicoteologia. 2. Identificar a importância da psicoteologia. 3. Identificar alguns motivos do antagonismo entre cristianismo e psicologia. 4. Identificar o motivo da aproximação entre cristianismo e psicologia. Psicoteologia é a área do conhecimento humano que tem sua fundamentação teórica em três fontes principais: (1) na teologia e na religião; (2) na psicologia, filosofia e nas ciências sociais (sociologia, antropologia, ética etc.); e (3) nas neurociências (neurologia, neuroanatomia, neurofisiologia, psicofisiologia, psiquiatria, psicossomática etc.) e na bioética; sendo sua aplicação voltada para três focos principais: (1) o estudo dos fenômenos espirituais sob uma óptica científica, com mais rigor técnico; (2) o estudo da alma humana como elo entre o corpo e o espírito, e como fator de saúde global; e principalmente (3) na aplicação da prática do aconselhamento pastoral com maior rigor ético e manejo técnico científico. A teologia estuda as revelações de Deus (ou deuses) aos homens e as manifestações dos grupos sociais em relação a Deus ou às suas divindades (religião). A psicologia estuda basicamente o comportamento humano como manifestação da mente e/ou personalidade humana, focando no homem como ser biopsicossocial. A psicoteologia estuda o homem em sua dimensão biopsicossocial e espiritual. 1. A importância da psicoteologia A psicoteologia é uma área muito nova de estudo, pois só começou a partir da década de 1990, e isso ocorreu graças às novas descobertas das neurociências sobre o cérebro e a mente humana. Atualmente muitas faculdades teológicas oferecem cursos de pós-graduação em psicoteologia. Algumas enfatizam mais os aspectos teológicos, outras 26 PINHO, Gilson de Almeida. Pós-graduação em Ciência da Religião Módulo I. Londrina, PR: Seminário Teológico Hosana, 2013.
  • 36. 36 enfatizam os aspectos psicológicos, outras enfatizam os aspectos neurocientíficos, e outras enfatizam sua aplicação na prática da psicoterapia pastoral. O mundo atual tem passado por transformações rápidas e radicais, e o que não faltam às pessoas são os problemas decorrentes da vida moderna: problemas de saúde física, problemas emocionais, familiares, sociais, de moradia, de segurança, financeiros, políticos, espirituais etc. Esses problemas são agravados pelas mudanças de costumes, novos padrões éticos e morais, crise nas crenças e valores etc. Com tudo isso, o estresse, a angústia, a depressão, a ansiedade, o pânico etc. se alastram como epidemia, deixando as pessoas desorientadas e precisando de ajuda para sobreviver, para enxergar seus problemas, enxergar a si mesmas e precisando de orientação pessoal. Os conselheiros e cuidadores sociais, sejam eles profissionais seculares (psicólogos, educadores, terapeutas, consultores e outros) ou líderes religiosos (pastores, padres e outros orientadores espirituais), precisam de mais conhecimentos de suas profissões e de suas áreas de atuação, de mais conhecimentos gerais e de melhor manejo técnico-científico para ajudar seus pacientes, clientes ou ovelhas de seu rebanho, e outras mais que vem de fora na busca de explicações ou de uma razão para se viver. Os profissionais seculares, ao ignorarem o homem como ser espiritual, nem sempre dão as respostas mais eficazes para os problemas que lhe são trazidos. Os líderes espirituais, por ignorarem o homem como ser biopsicossocial, e porque nem sempre sabem fazer o manejo técnico correto em seus atendimentos, acabam caindo no mesmo erro. Nas igrejas, o aconselhamento pastoral tradicional tem se mostrado insuficiente e muitas vezes ineficaz porque as condições ambientais e circunstanciais mudaram. De nada adianta aos cristãos sinceros (mas incultos) criticarem os líderes que buscam novas fontes de conhecimento, em especial na psicologia, pois cedo ou tarde eles mesmos ou alguém de seu conhecimento enfrentarão situações onde o simples aconselhamento poderá não ser suficiente, por mais correto que seja. E não adiantará dizer que basta focar somente na Bíblia ou na ação do Espírito Santo para realizar um aconselhamento eficaz, eficiente e efetivo. Por mais fé que se demonstre ter, é preciso buscar algo mais. É como um bom músico ou cantor cristão, por mais dom artístico e unção espiritual que tenham, eles precisam estudar, treinar e aprimorar sua técnica. No passado, as igrejas insensatamente se posicionaram contra a vida moderna e caíram em ridículo, como, por exemplo, ao criticarem a invenção dos veículos de transporte (em especial a construção de ferrovias e o uso de aviões); ou criticarem os meios de comunicação (muitos ainda se lembram como os cristãos combateram a televisão e o computador como instrumentos do Diabo); ou criticarem as descobertas médicas (transfusão de sangue, transplante de órgãos, métodos anticoncepcionais etc.) e
  • 37. 37 muitas outras coisas tão comuns na vida moderna e de uso frequente dentro das próprias igrejas. Muitos cristãos se opuseram a tudo isso, mas por fim, todos acabaram aderindo a esses confortos. O mesmo está ocorrendo atualmente com relação ao conceito de psicoteologia, mas logo essa crítica cairá no esquecimento. É importante lembrar que a psicologia, a psicanálise, a psicoterapia e outras áreas afins nasceram dentro do ambiente judaico-cristão, mas infelizmente, e de modo ignorante e radical, muitos cristãos tomaram uma atitude precipitada de oposição a elas. Consequentemente tais áreas do conhecimento evoluíram à margem da vida religiosa e, muitas vezes, até mesmo de modo antagônico às práticas religiosas. Conceitos como transferência (comunhão), mudança de paradigmas (conversão), terapia (cura da alma) etc., os quais poderiam continuar vinculados à vida religiosa, hoje só têm conceituação fora da religião. O radicalismo dos religiosos fez com que perdessem o direito à autoria de tais conceitos. É importante também destacar que, em 1948, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu “Saúde é um estado completo de bem estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doenças e enfermidades”. Em 1983, a OMS ampliou esse conceitos para: “Saúde é um estado dinâmico de bem estar físico, mental, espiritual e social, e não simplesmente a ausência de doenças e enfermidades”. Ou seja, hoje, a espiritualidade é vista como um fator importante para a saúde das pessoas, sendo estudada pela Psicologia Existencialista, Psicologia da Saúde, Psicologia Positiva e outras abordagens psicológicas. Quem está tirando vantagem disso são os budistas e os espíritas, enquanto que os cristãos estão limitados em sua atuação devido ao posicionamento que assumiram num passado recente. A psicoteologia busca conhecer a espiritualidade humana de maneira mais crítica, mas de modo algum quer desmistificar a religião, ao contrário, busca conhecer o misticismo humano e os fenômenos religiosos, sem se deixar levar pelos fanatismos ou pelo radicalismo dos pré-conceitos religiosos. A psicoteologia de maneira alguma visa menosprezar a ação do Espírito Santo na vida do crente, nem tampouco é uma denominação ou linha filosófico doutrinária, é, sim, um instrumento a mais para os cristãos melhor desempenharem seu ministério e explicar sua fé: “... estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15b). 2. Cristianismo versus psicologia Quando a psicologia surgiu como ciência em fins do séc. 19, o relacionamento com o cristianismo não foi dos melhores devido aos posicionamentos adotados pela nova
  • 38. 38 ciência, mas também não era de antagonismo declarado, e muitos psicólogos eram cristãos, como o caso de Karl Gustav Jung (1875-1961) e Paul Tillich (1886-1965). Merece destaque o caso de um amigo íntimo de Freud chamado Oskar Pfister (1873- 1956), pastor da igreja reformada suíça e psicanalista. Freud e Pfister mantiveram correspondência entre 1909 e 1939, quando Freud morreu. Ambos divergiam em suas ideias religiosas, mas se respeitavam. Logo a situação de atrito entre religião e psicologia se tornaria inevitável e agressiva. Em parte isso ocorreu devido às críticas de Freud, e vários psicólogos contra as manifestações religiosas, responsabilizando-as por muitas das manifestações psicopatológicas de seus pacientes. Albert Ellis (1913-2007) dizia que a religião geralmente é a causa de desequilíbrio psicológico, e sempre é um sintoma dele. Ele propunha como solução para os problemas psicológicos ajudar as pessoas e a sociedade a abandonarem tais crenças religiosas. O atrito não ocorreu só por parte dos psicólogos, mas também por causa das reações radicais dos religiosos contra vários conceitos psicológicos, sem mesmo se darem ao trabalho de analisarem a validade ou não dos mesmos. Por exemplo, muitos casos que no passado eram vistos como possessão demoníaca, hoje são classificados como alguma forma de psicopatologia ou sintoma de alguma psicopatologia (alucinação, delírio, comportamento bizarro etc.). Quantas vezes os cristão criticaram o uso de medicamentos antipsicóticos, e hoje muitos deles fazem uso de tais medicamentos. Mas havia um terceiro elemento responsável por esse atrito, o qual normalmente é ignorado: a ação da teologia liberal dos sécs. 19 e 20. Essa linha teológica tendia a aceitar as conclusões da ciência moderna com relação a assuntos de natureza religiosa, isso incluía a psicologia. Se houvesse algum atrito entre o que a ciência dizia e o que a religião pregava, prevalecia a palavra da ciência. Com isso, os cristãos conservadores se opuseram a tudo que os teólogos liberais criam e acreditavam, isso incluía a psicologia. Tem sido difícil para os cristãos não responder de modo defensivo a semelhantes desafios. Para muitas pessoas, a psicologia parece ser a inimiga da fé. Semelhantemente, a religião tem considerado muitos psicólogos como inimigos do bem-estar pessoal. A psicologia e o cristianismo são inimigos mútuos, na ideia dessas pessoas (Benner, 1988, vol. III, p. 200). 3. A aproximação entre cristianismo e psicologia Se por um lado, as diferenças entre cristianismo e psicologia são enormes, por outro lado, elas têm muitos pontos em comum, por exemplo: ambas entendem que os
  • 39. 39 homens são seres espirituais e morais, e, portanto, não podem ser reduzidos a um conjunto simples de reações neurológicas. Vários conceitos teológicos podem ajudar a entender conceitos psicológicos, e vice-versa (por exemplo: a eterna discussão entre predestinação e livre arbítrio, a conversão e a mudança de vida, a diferença entre conversão e adesão a uma igreja etc.), bem como, podem promover o desenvolvimento psicológico, e vice-versa. Os primeiros defensores da união psicologia teologia foram Seward Hiltner (1910- 84), professor do seminário presbiteriano de Princeton, e John Sanford (1929-2005), ministro episcopal. Hiltner cunhou o conceito do “aconselhamento pastoral”, em 1948, ao buscar a ajuda das técnicas psicoterapêuticas aliadas à fundamentação bíblica para a cura interior das pessoas. Hiltner, Wayne Edward Oates (1917-99), Paul Johnson (1928-) e Granger Westberg (1913-99) fundaram, em 1963, a Associação Americana de Conselheiros Pastorais (American Association of Pastoral Counselors – AAPC), cuja missão é “trazer cura, esperança e integridade aos indivíduos, famílias e comunidades, ampliando e equipando o cuidado espiritualmente e psicologicamente fundamentada no aconselhamento e na psicoterapia”. Fundaram também a Associação de Educação Pastoral Clínica (Association for Clinical Pastoral Education – ACPE), cujo objetivo é o treinamento clínico de pastores e capelães para a atuação na clínica psicoterápica com fundamentação bíblica. Graças a essas entidades, e outras congêneres que surgiram posteriormente, é cada vez maior o número de clérigos que passaram a servir nos hospitais e nos órgãos de saúde mental. Além de entidades como as mencionadas acima, também surgiram jornais revistas dedicados a divulgar a ação conjunta da psicologia e da religião, tais como The Journal of Religion and Health (Jornal da Religião e Saúde), em 1961, e The Journal for the Scientific Study of Religion (Jornal do Estudo Científico da Religião). Ao procurarem essa verdade integrada, esses cristãos têm sustentado fortemente a autoridade final das Escrituras, mas sem temer uma confrontação direta com os aparentes pontos de tensão em conflito. Paul Tournier e Gary Collins são dois escritores bem conhecidos dessa tradição. The Journal of Psychology and Theology e The Journal of Psychology and Christianity contêm os escritos de muitos outros. Várias organizações também estão associadas a essa posição. A Associação Cristã para Estudos Psicológicos é um, grupo internacional de mais de mil profissionais cristãos no ramo da saúde mental, dedicados à integração entre a psicologia e a teologia. De modo semelhante, vários programas de pós-graduação foram desenvolvidos desde 1960, com o alvo explícito de fornecer treinamento dentro do contexto da integração entre a psicologia e a teologia cristã (Benner, 1988, vol. III, pp. 200-201).
  • 40. 40 4. Os objetivos comuns da psicologia e da religião O foco da psicoteologia está em ver o homem como um ser completo: biopsicossocial e espiritual. A psicoteologia é vista como uma área nova de estudo, mas na realidade não é algo novo e, sim, um diálogo entre a psicologia e a teologia, as quais haviam se separado pelas desavenças criadas no início da história da psicologia científica, em fins do séc. 19 e ao longo da maior parte do séc. 20, mas que estão se reencontrando graças à atuação de pessoas mais tolerantes de ambas as linhas de pensamento, graças às descobertas das neurociências e, principalmente, pelo fato de que ambas têm muitos pontos em comum, entre os quais está o desenvolvimento global do ser humano. Obviamente há divergências entre ambas, e muitas das quais são irreconciliáveis, mas nada que o respeito mútuo às suas respectivas áreas de atuação, sem radicalismos, não possa contornar. O diálogo entre teologia e psicologia tem muito mais a oferecer a ambas, ao homem e ao cristianismo. Embora haja tensões entre a teologia e a psicologia, devemos continuar a procurar maneiras de as duas se encaixarem [...] Cada disciplina tem sua tarefa sem igual e deve respeitar os domínios da outra. Ao mesmo tempo, há uma relação interessante e íntima entre a tarefa de salvar e curar almas e a tarefa de salvar mentes, psiquês e personalidades das garras do desespero. Isto realmente é pertinente, porque a igreja deve ocupar-se com a totalidade da personalidade. A psicologia da religião, portanto, procura introduzir no estudo científico da religião e/ou da fé um respeito mútuo para com as percepções tanto da teologia como da psicologia, a fim de compreender a natureza e o comportamento do homem de modo mais completo (Butman, 1988, vol. III, p. 206).
  • 41. 41 NEUROTEOLOGIA O que é a neuroteologia? E como são feitos seus estudos? É o estudo das áreas cerebrais envolvidas cem mecanismos da fé e da meditação. "A neuroteologia, também conhecida como bioteologia ou neurociência espiritual, é uma disciplina científica que estuda os processo cognitivos que produzem experiências subjetivas tradicionalmente categorizadas como religiosas ou espirituais, relacionando-os com padrões de atividades no cérebro, descobrindo como e porque evoluíram nos humanos, e os seus benefícios. O assunto tem formado a base de vários livros de ciência popular".27 Foram feitas experiências com monges e freiras em clausura mostrando como e quando áreas cerebrais se alteravam durante a meditação e a oração. Viu-se que, em estado meditativo, eles apresentam alterações reais e detectáveis. Há mudanças na química do sangue e das ondas cerebrais. Áreas de estudo da Neuroteologia O MRI scanner é um instrumento que ajuda a estudar o cérebro em funcionamento. E um instrumento de grande ajuda para a Neuroteologia. Existem varias áreas de estudo dentro da neuroteologia. Algumas delas são: 1. Estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído para produzir experiências (Neuroteologia evolutiva). 27 https://pt.wikipedia.org/wiki/Neuroteologia.
  • 42. 42 2. Estudo do desenvolvimento espiritual, do sentido de Deus e do Sagrado, e de experiências religiosas em crianças. Do nascimento ate a infância (Neuroteologia desenvolvimental). 3. Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça humana por toda a história, e de ancestrais de humanos como o Homo habilis e o Homo erectus, e espécies próximas como o Homo de Neanderthal (Neuroteoantropologia). 4. Estudo do comportamento religioso e experiências religiosas em primatas e outros mamíferos com inteligências avançada (Zooneuroteologia) Principais dúvidas dentro da Neuroteologia. A meditação pode levar a pessoa a ter emoções religiosas, como a sensação de estar em contato com Deus. Evolução - Porque e como as experiências espirituais evoluíram? Idade – Bebês ou crianças podem ter experiências espirituais? Quando o cérebro humano fica apto a ter experiências espirituais? Existe alguma relação neurológica com o fato de que a maioria dos líderes religiosos tiveram suas epifanias nos seus 30 anos? Alucinógenos e Enteógenos – Porque algumas substâncias causam experiências espirituais? Sexo – Como as experiências espirituais se diferem entre homens e mulheres? Podemos estabelecer uma relação entre essas diferenças com o Dimorfismo sexual do cérebro da espécie humana? Sonhos - Qual é a relação entre experiências espirituais e sonhos? O indivíduo pode ter experiências espirituais enquanto dorme? Hipnose – A experiência espiritual compartilha mecanismos com a hipnose? Música - Cerimônias religiosas quase sempre envolvem música, e música pode gerar sentimentos religiosos, e experiências espirituais. Porque isso acontece? Genética – A herança genética pode influenciar na facilidade de ter experiências espirituais. O gene o (VMAT2) chamado de gene divino da ao ser humano a predisposição de ter experiências espirituais? Espécies – Primatas e mamíferos com inteligência avançada como o elefante ou golfinhos podem ter experiências espirituais? Humanos primitivos podiam ter experiências espirituais, elas eram semelhantes a de humanos modernos?? Definindo e medindo a experiência e sentimentos espirituais/religiosos Neuroteologia tenta explicar a atual base neurológica para aquelas experiências, que são popularmente chamadas de espirituais, religiosas, ou místicas (e outros termos) para formas anormais de cognição, que quase sempre envolvem um ou mais dos seguintes itens: A gravura de Flammarion é usada frequentemente para ilustrar a experiência religiosa.