Nesse post destacamos o tema DEFECTOLOGIA: Rompendo com o Aprisionamento Biológico - Superando Limites, cujo objetivo é discutir sobre as proposições de Vygotsky em modificar a concepção de deficiência, libertando-a do viés biologizante e limitador
Os slides constituem uma síntese das discussões que realizamos nas palestras e cursos sobre a referida temática.
2. DEFECTOLOGIA
A defectologia é o estudo do desenvolvimento e da educação
da criança com “deficiência” – Necessidades Educativas
Especiais.
Campo de estudo sobre as pessoas que apresentam algum
tipo de “defeito”– aqueles que não se enquadram nos
parâmetros da normalidade. Seja sob uma condição física ou
psicológica.
DEFECTO – defeito, anormal, déficit, deficiência
LOGIA - Elemento sufixo que indica o estudo de
determinada matéria.
3. A obra Fundamentos de Defectologia de
Vygotski é uma coletânea de textos que
tratam de diversos assuntos sobre o
ensino, aprendizagem, desenvolvimento
e sobre as características das pessoas
com deficiência, no contexto da União
Soviética.
Vygotski procurou compreender os aspectos qualitativo da
deficiência, isto é, o “funcionamento” das pessoas com
deficiência - como constitui o seu pensamento, como
interagem com o tempo espaço em que vivem, de que
modo enfrentam as dificuldades e quais alternativas são
usadas na busca de superação das mesmas.
4. A preocupação de Vygotsky era modificar a concepção de
deficiência, libertando-a do viés biologizante e limitador.
Romper com o aprisionamento biológico da psicologia e da
pedagogia, em busca de aprofundamento das questões que
tratam a perspectiva Sócio Histórica Cultural em prol da
humanização do humano.
DEFECTOLOGIA
Rompendo com o Aprisionamento Biológico
Superando limites
5. No processo de aprendizagem desenvolvimento estão
implicadas as dimensões sociais, históricas e culturais, tendo
em vista que o SER HUMANO, se constitui no lócus das
práticas sociais, históricas e culturais.
Nas interações sociais, produzimos e nos apropriamos da
cultura, dos conhecimentos e das histórias vividas, de modo
que nesse processo aprendemos e nos desenvolvemos.
Nesse processo, o sujeito aprende e se desenvolve, aprende
sobre si mesmo e sobre o mundo...
PERSPECTIVA SÓCIO HISTÓRICA CULTURAL
Indivíduo – Sujeito Singular
6. As experiências vivenciadas em um determinado tempo
espaço da história, tem implicações nas futuras experiências
a serem vividas por outras pessoas, em outras épocas.
Com base nessa ideia podemos dizer que os órgãos que
podem ser afetados pela deficiência são mais que
biológicos, são órgãos sociais.
PERSPECTIVA SÓCIO HISTÓRICA CULTURAL
Indivíduo – Sujeito Coletivo
7. DEFICIÊNCIA PRIMÁRIA – Deficiência biológica – orgânica/natural.
DEFICIÊNCIA SECUNDÁRIA – Deficiência produzida a partir do
modo como a sociedade a concebe – perda das funções sociais.
Nesse sentido...
A perda das funções sociais é consequência secundária à
deficiência orgânica (primária) – e é, também, a perda mais
significativa, tendo em vista, que a mesma compromete o
processo de inserção dos sujeitos no tempo espaço em que
vivemos – afetando o seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento, bem como, comprometendo os seus direitos
de cidadania.
Vygotski (1995) descreve o desenvolvimento em dois
planos: natural (biológico) e cultural (histórico/social)
8. Compensação Social – Alternativas utilizadas pelo sujeito, em
busca da sua inclusão – alternativas que propiciam viver no
tempo espaço do outro, produzido para o outro, dito
“normal” .
Superação Pessoal – Quando o sujeito encontra possibilidades
e se insere no tempo espaço em que vivemos, apesar das
falhas que ainda existem no sistema – contexto social e
político.
Desse modo...
A “deficiência” além de modificar a relação do sujeito com o
mundo (espaço físico), modifica também, a relação com as
outras pessoas (espaço tempo social e cultural).
Compensação Social e a Superação Pessoal
9. E ainda...
Entre o SER HUMANO e sua estrutura física (seu corpo
biológico, orgânico), encontram-se as Práticas Sociais e
Culturais, bem como a sua a História pessoal e coletiva (corpo
social, histórico e cultural).
Entre o SER HUMANO com deficiência encontram-se também
as relações que a Sociedade estabelece como padrões ao
convívio social.
Constituindo-se assim, uma Cultura de confronto entre o
sentido de normal e de “não normal”, numa relação de poder.
A criança só percebe o peso de sua deficiência a partir do
momento que é confrontada a ser como uma criança normal –
normas padronizadas na/pela cultura de uma dada sociedade.
10. A criança não se vê como deficiente.
É a sociedade que lhe coloca em uma posição social inferior.
A criança não sente diretamente seu defeito.
Mas percebe as dificuldades advindas do mesmo,
principalmente pela existência de um padrão de
normalidade imposto e pela estruturação da sociedade para
atender ou não suas necessidades.
O defeito só se torna deficiência quando a criança é privada
de ser partícipe da vida social.
Como podemos ver...
11. Inclusão: O sentido de inclusão se volta para aquelas
crianças que vêm sofrendo um processo perverso de
exclusão social e educacional.
Os estudos com base na defectologia tem nos instigado a
rever o conceito de inclusão que estão implicados os
conceitos de “não normal, deficiência, defeito, déficit”.
Rever tais conceitos exige uma visão dialética do contexto
em que vivemos – de modo que possamos compreender os
sujeitos e suas possibilidades, com vistas à sua inserção nas
práticas sociais e culturais, enquanto sujeitos de direitos.
Daí a necessidade urgente de inclusão...
12. A “deficiência”, constitui uma necessidade real.
Ela age como um incentivo para aumentar o
desenvolvimento de outras funções no organismo.
Provoca o organismo no sentido de busca por novas
possibilidades, desvelando o caráter criador da
aprendizagem desenvolvimento.
Pintores de telas que usam a boca para segurar o pincel, por
exemplo...
Reconhecimento das
necessidades reais dos sujeitos
13. Sem negar as marcas do corpo (biológico – orgânico),
precisamos compreender que o fenômeno da deficiência é
determinado no lócus das práticas sociais e culturais.
O modo como interagimos com as pessoas “deficientes”, a
forma como percebemos seu jeito de ser, a maneira como
propiciamos as experiências cotidianas e científicas têm
implicações no modo como aprendem e se desenvolvem,
além do conceito que produzem sobre si mesmas.
Por isso,
14. Com base nas reflexões anteriores, observamos a urgente
necessidade de rever o olhar tradicional, que entende o defeito
como menos, falha, deficiência...
Esse modo de ver a “deficiência”, limita a aprendizagem e o
desenvolvimento da criança.
Concebe a “deficiência” enquanto perda dessa ou daquela
função.
Daí que as práticas pedagógicas nessa perspectiva são
construídas, em geral, pelo método da subtração das funções
perdidas em relação à ideia da criança normal.
Mas o que é normal e anormal? Do ponto de vista de quem
caracterizamos um ser humano de normal e de anormal?
Revendo o sentido de normal e anormal...
15. Os estudos da defectologia, se apresentam com um novo
ponto de vista, que visa romper com as ideias que
prescrevem as características negativas da criança, isto é, as
suas faltas.
Desse modo, assume o posicionamento de promover os
aspectos da personalidade dos sujeitos com “deficiência”,
destacando-os como pessoas que produzem conhecimentos,
culturas e histórias.
Isso significa que, antes de se investigar a deficiência é
preciso conhecer a pessoa deficiente, tendo em vista que a
deficiência está contextualizada e marcada pelas condições
concretas da vida social.
Ponto de vista da defectologia...
16. A defectologia na perspectiva sócio histórica cultural se
ancora no conceito de superação, busca e produção de
conhecimentos.
Evidencia as possibilidades experimentadas em cada
experiência vivida.
Não se limita a identificar os limites que a “deficiência”
impõe ao indivíduo.
Não se compara indivíduos, mas sim, se busca conhecer
cada um, seus percursos, ritmos e modos de aprendizagem.
Daí a importância de superar o conceito de debilidade,
déficit, falha...
Sendo assim...
17. A percepção da deficiência para além da
debilidade – Dificuldades Superáveis
Subestimava-se o potencial das crianças, recorrendo a
currículos reduzidos com foco em atividades repetitivas,
habilidades motoras, representações concretas, por não
se acreditar na possibilidade de abstração.
Precisamos defender uma educação que não se adapte à
deficiência, mas que percebe que as dificuldades impostas
pelo contexto em que vivemos são superáveis.
Devemos levar em consideração que os problemas que os
sujeitos ainda não conseguem resolver hoje, podem ser
superados e resolvidos em outros tempos espaços da
história da humanidade.
18. Na defectologia, defende-se a importância de estudar os
processos de aprendizagem desenvolvimento em sua
diversidade...
Um dos objetivos da educação é promover o
desenvolvimento da inteligência – funções psicológicas
superiores (FPS).
As FPS constitui produto do desenvolvimento Histórico da
Humanidade.
Antes de serem psicológicas, são relações entre pessoas.
Daí a importância do ensino aprendizagem
em colaboração
19. Funções Psicológicas Elementares - Origem biológica,
presentes no ser humano e também nos animais, tais como
ações reflexas, reações automatizadas, etc.
A criança nasce com as funções psicológicas elementares e
a partir do aprendizado da cultura, estas funções
transformam-se em funções psicológicas superiores.
Funções Psicológicas Superiores – são funções que se
constituem no lócus das práticas sociais e culturais, entre
os humanos, em contextos de educação cotidiana e
científica.
Funções Psicológicas Elementares
e Superiores
20. Os seres da espécie humana vão aos poucos se apropriando
dos modos de funcionamento psicológicos, comportamentais
e culturais no processo de interação sócio cultural.
As Funções Psicológicas Superiores, se constituem em dois
planos:
Primeiro no plano social – entre pessoas, como categoria
interpsíquica.
Depois no plano psicológico - no interior da pessoa, como
categoria intrapsíquica.
As Funções Psicológicas Superiores e os
Aspectos Interpsíquicos e Intrapsíquicos
21. Conforme discutido anteriormente as Dificuldades
Secundárias têm relações com os aspectos sócio culturais.
As complicações secundárias provêm:
• Do isolamento em relação à coletividade e às atividades
sociais e culturais.
• Da privação das crianças em relação às experiências
vivenciadas no lócus das práticas sociais e culturais.
Essas questões afetam o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores, porque comprometem o processo de
aprendizagem.
Relações entre Funções Psicológicas Superiores
e Dificuldade Secundária
22. Relações entre Aprendizagem e
Desenvolvimento
O comprometimento de um órgão ou função, é biológico,
mas o maior ou menor grau de aprendizagem
desenvolvimento da criança é uma consequência social.
Isso porque, “todas as crianças podem aprender e se
desenvolver... As mais sérias deficiências podem ser
compensadas com ensino apropriado, pois, o aprendizado
adequadamente organizado resulta em desenvolvimento
mental“(Vigotsky)
Daí a necessidade de qualificar o processo de ensino
aprendizagem, com vistas à eficácia da aprendizagem
desenvolvimento.
23. Acreditar nas possibilidades do indivíduo e nas implicações do
aprendizado nas vivências das diversas e diferentes
possibilidades - desenvolvimento da inteligência – FPS.
Romper com a pedagogia terapêutica, que centra seus esforços
nos déficits das crianças.
Rever as situações de ensino aprendizagem propostas no
contexto escolar.
Privilegiar uma pedagogia criativa, instigadora e dialética.
Romper com o preconceito de que a pessoa com deficiência
não aprende porque é deficiente.
Ensino Aprendizagem de Qualidade,
pressupõe...
24. As Funções Psicológicas Superiores, são estruturadas não
em elementos biológicos ou na aprendizagem isolada, mas
nas experiências vivenciadas no lócus das práticas sociais e
culturais e nos diversos tempos espaços históricos.
Estamos cheios(as) de possibilidades não realizadas, que
precisam ser experimentadas.
Tudo isso, é fundamental no processo de ensino
aprendizagem que pretende qualificar a aprendizagem e o
desenvolvimento das crianças.
E ainda...
25. Em vez de centrarmos atenção na noção de déficit ou lesão que
impede ou limita o desenvolvimento, a nossa atenção deve
focalizar:
• O modo como os sujeitos com deficiência se relacionam com
o contexto social, cultural e histórico.
• A forma como o contexto atual tem considerado as pessoas
com deficiência.
• A organização do espaço tempo em que vivemos.
• O lócus das práticas sociais e culturais.
• Os diferentes percursos, ritmos, tempos e modos de
aprender.
Tais questões exigem repensar a concepção de mediação, com
vistas à garantia do acesso aos conhecimentos e à cultura.
Assim sendo,
26. Mediação Pedagógica e Semiótica
Mediação Pedagógica: Quando feita pelo OUTRO
Mediação Semiótica: Quando feita pelos SIGNOS - dentre os
quais a linguagem.
A linguagem enquanto um instrumento do pensamento – um
instrumento de mediação pedagógica.
A maneira como usamos os instrumentos faz a diferença no
processo de ensino aprendizagem e consequentemente na
aprendizagem desenvolvimento.
27. Os seres humanos, não se relacionam diretamente com o
mundo, mas sempre de forma mediada por meio de
diferentes instrumentos (ferramentas e signos).
É por isso que a inadaptação aos instrumentos mediadores
da cultura é tão danosa à pessoa com deficiência.
A “deficiência” não constitui impedimento para a
aprendizagem e o desenvolvimento, pois esse impedimento
ocorre devido à qualidade da mediação – o modo como
interagimos com o “problema”, pois negamos as
possibilidades de trocas - as relações significativas que
possibilitam o crescimento do indivíduo.
Mediação – Intervenção Pedagógica
28. [...] a criança cujo desenvolvimento foi comprometido por
alguma deficiência, não é menos desenvolvida do que as
crianças consideradas ‘normais’, porém é uma criança que
se desenvolve de outra maneira.
O desenvolvimento das funções psicológicas superiores e das
funções elementares, constitui a síntese da interação entre
os aspectos orgânicos, socioculturais e emocionais.
Essa interação é vivenciada de forma peculiar e diferenciada
na organização sociopsicológica de cada sujeito.
Por isso, não é prudente comparar as crianças com as demais
pessoas, pois cada pessoa se desenvolve de forma única e
singular.
Diante do exposto precisamos considerar que
29. O que as crianças já sabem fazer sozinhas? O que ainda não
sabem fazer sozinhas, mas conseguem realizar por meio da
mediação?
A primeira questão revela o que a criança já sabe – Nível de
Desenvolvimento Real.
A segunda nos indica quais desafios as crianças podem
vivenciar, tendo em vista que estão em processo de
compreensão das questões problematizadas – Nível de
Desenvolvimento Potencial
É nesse ponto do processo de aprendizagem desenvolvimento
que devemos focar as nossas atenções – Zona de
Desenvolvimento Proximal
No processo de mediação se faz necessário considerar
a Zona de Desenvolvimento Proximal
30. • Como está a qualidade da mediação pedagógica e dos
instrumentos a serem utilizados?
• Que tipo de interação construímos com as crianças?
• Quem interagem com quem?
• O(a) estudante com deficiência é do(a) professor(a) do AEE?
• Como o(a) professor(a) do ensino comum se implica nesse
processo?
• O que o(a) estudante com deficiência pode falar do contexto
escolar tem algum valor?
• Enfim, que tipo de cultura escolar estamos constituindo?
• Feito por quem e para quem?
Mediar com foco na Zona de Desenvolvimento
Proximal, requer algumas indagações...
31. A “dificuldade” da pessoa com deficiência em dominar
pensamentos e lógicas abstratas deriva-se da exclusão
promovida pela própria sociedade quanto ao
desenvolvimento de suas funções psíquicas mais elevadas e
ao massivo trabalho educacional voltado em sua instrução
apenas para o concreto e visual (Piccolo e Silva).
As funções psicológicas superiores se desenvolvem porque
aprendemos, e para que possamos aprender se faz
necessário considerar que a memória, a percepção e o
pensamento precisam da mediação dos signos para se
desenvolver.
Para continuar pensando...
32. REFERÊNCIAS...
CENCI, Adriane. A retomada da defectologia na compreensão da teoria histórico-cultural
de Vygotski. 37ª Reunião Nacional da ANPEd –04 a 08 de outubro de 2015, UFSC –
Florianópolis. http://www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt20-3680.pdf
COSTA, Dóris Anita Freire. Superando limites: a contribuição de Vygotsky para a
educação especial. Rev. psicopedag. vol.23 no.72, São Paulo, 2006.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862006000300007
MAIOR, Carmen Denize Souto. A teoria vygotskyana das funções psíquicas superiores e
sua influência no contexto escolar inclusivo.
https://editorarealize.com.br/revistas/cintedi/trabalhos/TRABALHO_EV060_MD1_SA12_I
D2646_13102016173601.pdf
PICCOLO, Gustavo Martins e SILVA Sandra Cassiano da. A defectologia em Vygotski: do
proposto ao pensado na Educação Especial. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos
Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/efd192/a-
defectologia-em-vygotski.htm
VIGOTSKI, Lev Semionovitch. A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da
educação da criança anormal. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 861-870, dez.
2011. www.revistas.usp.br/ep/article/view/28306
34. CONTATO - amlouzada1@gmail.com
Mestre em Educação/UFES
Orientadora Educacional
Palestrante
Consultora em Educação
Autora de vários artigos e livros na área educacional
35. Primeira Etapa do Seminário da
Educação Especial da Secretaria
Municipal de Educação de
Domingos Martins/ES.