O documento discute a antropologia da religião, definindo-a como o estudo do ser humano a partir de perspectivas religiosas. Apresenta brevemente a história da antropologia e como ela se desenvolveu para incluir o estudo da religião. Também define religião e antropologia, explicando como essas áreas se fundiram na antropologia da religião.
2. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
>
> Definir antropologia da religião e como ocorreu seu desenvolvimento.
>
> Reconhecer a íntima relação entre antropologia e religião.
>
> Descrever o processo de construção das características específicas da
antropologia e da religião.
Introdução
A antropologia da religião é uma ciência que busca compreender o ser humano
a partir dos fenômenos religiosos por ele produzidos ou a ele relacionados.
Para isso, o estudo antropológico da religião utiliza as mais diferentes óticas
para compreender os fatos e a pessoa em sua plenitude. Levantamentos e
dados históricos e científicos sobre o desenvolvimento do humano em meio
à religiosidade possibilitam observar questões étnico-raciais, regionais e
culturais, por exemplo.
Nestecapítulo,falaremossobreopercursohistóricopercorridoporessaciência.
Alémdisso,analisaremosaíntimarelaçãoentreaantropologiaeareligião,edelas
comoutrasciências,afimdecompreendercomoaantropologiadesenvolveusua
própria linha de pensamento.
Introdução à
antropologia
da religião
Alisson de Souza
3. Religião e antropologia
O intuito da antropologia da religião é compreender e (re)definir de que forma
as instituições religiosas se relacionam com as diversas culturas presentes na
sociedade. Para obter dados e informações verossímeis e relevantes, ela utiliza
as práticas e as crenças religiosas como objeto de estudo. A seguir, definiremos
e distinguiremos antropologia e religião, analisando como elas se fundiram em
uma única ciência, a qual se diferencia dos demais estudos sobre a religiosidade.
Religião
A religião é um sistema formado por práticas e por crenças. Essas práticas e
crenças sempre olham para um sagrado, em uma busca constante por uma
aprovação, uma benção, uma ação ou um olhar divino. Ela seria um sistema
solidário, ou seja, formado pela concordância e pela harmonia entre seus
membros e adeptos. Quando se frequenta, adere-se e participa de uma
religião, busca-se conviver de maneira harmoniosa com os demais fiéis da
mesma crença. Assim, é mantida a fé conjunta, a qual caminha em uma mesma
direção, sem que existam conflitos que venham a denegrir essa comunidade
religiosa, denominada Igreja. Ou seja, quem adere à essa fé não prejudica
nem afeta a presença dos demais (DURKHEIM, 1996).
Toda essa fé comunitária, como dissemos, é ligada a um sagrado. Segundo
Croatto (2010), o sagrado é o ato ou o símbolo humano que busca encontrar
o divino. Ou seja, quando se fala em sagrado, não se fala de Deus, mas da
expressão que se usa para Dele lembrar ou a Ele chegar ou atingir. Por exemplo,
o sagrado não seria Deus, mas o ato de orar, de rezar, de acender uma vela.
Com isso, “[...] pode-se afirmar que o sagrado não é a meta da atitude ou
da experiência religiosa. Esse fim seria o próprio transcendente” (CROATTO,
2010, p. 61).
Quando se fala do próprio Deus, o termo a ser utilizado, segundo Croatto
(2010), é transcendente, representando que é um Ser acima da Criação. Ele
pertence ao plano transcendental, não ao terreno. Portanto, o sagrado é o
ato, enquanto o transcendente é o Ser final. Quando o sentido humano de
um ato é ultrapassado, o sagrado é evidenciado (MENDONÇA, 1999).
Utiliza-se, portanto, um sagrado repleto de simbolismo para se atingir o
transcendente. E o contrário? Enquanto o sagrado define uma comunicação do
ser humano com Deus, a hierofania define a caminhada contrária. A hierofania
trata do “Deus que fala com o homem”: é a manifestação do transcendente
para com o profano, o humano (ELIADE, 1992, p. 13).
Introdução à antropologia da religião
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4. Antropologia
Para entender a antropologia religiosa, é fundamental compreender, antes de
mais nada, o que é, de fato, a antropologia por si só. A antropologia é estudo
que busca compreender o ser humano a partir de sua totalidade, utilizando
observações e levantamentos de cunho científico. Para isso, ela utiliza três
ciências (MARCONI; PRESOTTO, 2015):
1. a social, que é o fato de conhecer o homem como integrante de algum
grupo ou de uma sociedade;
2. a humana, a qual é voltada para a compreensão do que forma a totalidade
de um ser humano, como sua história, suas crenças e sua linguagem;
3. a natural, que se interessa pela evolução e pelo conhecimento psicossomá-
tico, uma percepção daquilo que é simultaneamente orgânico e psicológico.
Portanto, a antropologia aborda o ser humano e sua cultura, tendo por
objeto de estudo aspectos como questões presentes nas mais diversas
expressões a partir de seu comportamento, seu corpo e sua formação como
pessoa. Com vista a todas essas questões que podem ser estudadas, a discus-
são antropológica pode ser dimensionada em física, sociocultural, filosófica
e religiosa, por exemplo (MARCONI; PRESOTTO, 2015).
A abordagem antropológica exige que se rompa com os conhecimen-
tos abstratos e especulativos. Sua missão é estudar diretamente os
comportamentos sociais a partir das relações humanas destacadas em âmbito
social, a partir de evidências e de relatos sinceros e espontâneos daqueles que
são alvo desse estudo (LAPLANTINE, 2007).
Por fim, é importante evidenciar que a investigação antropológica utiliza
métodos comparativos para que se obtenham dados e informações impor-
tantes e relevantes e descubram-se semelhanças ou diferenças a partir de
aspectos físicos, psíquicos, sociais, culturais e religiosos. Tem por objetivo,
assim, compreender a humanidade como um todo, a partir de uma observação
global (MARCONI; PRESOTTO, 2015).
Percurso histórico da antropologia
A história da antropologia teria se iniciado na antiga Grécia, a partir de Heró-
doto (485–425 a.C.). Ele observava as diferenças culturais existentes entre os
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5. gregos e os estrangeiros com quem eles tinham contato, fosse por questões
bélicas ou comerciais. O romano Tácito (56–120 d.C.) descrevia os costumes,
o ambiente e o caráter dos povos germânicos, visando alertar Roma sobre a
força física e espiritual deles. Não os considerava corruptos, ao contrário de
outros povos bárbaros com que Roma tinha contato. Lembrando que esse
mesmo povo esteve fortemente envolvido com a queda do Império Romano
do Ocidente, em 476 d.C.
Santo Agostinho (354–430 d.C.) também tratou sobre questões lógicas
e metafísicas da vida a partir do comportamento humano (PELTO, 1975). A
metafísica é “[...] é o estudo ou o conhecimento da essência das coisas ou
do Ser real e verdadeiro das coisas, daquilo que elas são em si mesmas,
apesar das aparências que possam ter e das mudanças que possam sofrer”
(CHAUÍ, 2015, p. 230).
Na Idade Média, a partir do século XIII, a compreensão sobre o ser humano
passou a ser realizada de maneira mais ampla, auxiliando na busca por conhe-
cimentos sobre os povos e seus respectivos costumes. Marco Polo (1254–1324 )
desbravou territórios asiáticos, especialmente a China, e pesquisou sobre seus
conhecimentos e culturas. O viajante árabe Ibn Batuta (1304–1378) percorreu,
ao todo, 120 mil quilômetros e trouxe a realidade sobre povos do Ocidente
africano, da Rússia, da China, do Camboja e da Sumatra, a partir de aspectos
políticos, culturais e religiosos (PELTO, 1975).
No século XIX, houve uma virada científica no que diz respeito aos estudos
sobre o ser humano, contribuindo de maneira decisiva para o surgimento da
antropologia: passou-se a analisar, a identificar e a catalogar características
e padrões humanos. Émile Durkheim (1858–1917) e Marcel Mauss (1872–1950)
foram dois dos grandes nomes da Antropologia que guiaram o início da orga-
nização e da metodologia do pensamento antropológico (LAPLANTINE, 2007).
Durkheim propõe que os fatos humanos sejam analisados de maneira
separada de outras ciências. Para ele, as abordagens socioantropológicas não
competem a estudos que analisam questões afetivas e psicológicas desses
fatos. Portanto, os fatos sociais são objetos de estudo específicos de uma
ciência própria, uma vez esses fatos geram reflexos, que também podem ser
fatos. Ou seja, a ação gera uma reação, a qual não pode ser analisada por
outra ciência que não seja a abordagem socioantropológica. É importante
lembrar que Durkheim não emancipava, separava, a antropologia da sociologia
(LAPLANTINE, 2007).
Mauss, por sua vez, buscava a emancipação da antropologia, a fim
de que fosse reconhecida como uma ciência autônoma, separada da
sociologia. Ele entendia que, para se compreender um fato social, é
Introdução à antropologia da religião
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6. preciso observá-lo de maneira ampla, a partir de aspectos antropoló-
gicos, sociológicos, fisiológicos e psicológicos. Para ele, os eventos da
humanidade precisam ser observados em todas as dimensões possíveis,
em especial a sociológica, a histórica e a psicofisiológica. Ele entende
que a totalidade humana possui diversos aspectos e planos que são
estudados de maneira isolada, mas que exigem a compreensão do todo.
É o geral que se entende a partir do particular. O fenômeno social se
entende de dentro para fora e de fora para dentro. Ou seja, em toda sua
complexidade, observa-se a realidade de fora dela, mas se colocando
na própria realidade (LAPLANTINE, 2007).
A relação entre religião e antropologia:
entendendo a antropologia da religião
Tratando-se da antropologia da religião, pode-se afirmar que ela é um estudo
próprio da visão antropológica, a qual considera o ser humano a partir de
conceitos religiosos. Seu surgimento ocorreu no século XIX, assim com a
própria antropologia, ligado diretamente às questões ideológicas e a uma
valorização das religiões (PEREIRA, 2016).
Com o fortalecimento do pensamento e dos efeitos causados pela laici-
dade, provenientes da Revolução Francesa, em 1789, e do crescimento dos
movimentos iluministas, houve um grande movimento ligado à negação
das religiões. Surgiram vários novos pensamentos, como os de Ludwig
Feuerbach, que discutia a consciência de Deus como sendo a própria cons-
ciência humana, e os de Friedrich Nietzsche, que argumentava que Deus já
estava morto. Eles vão ao encontro de um distanciamento de Deus e, por
consequência, de um afastamento das instituições religiosa dominantes
(PEREIRA, 2016, p. 265):
Contudo, no século XIX, o cristianismo continuou a ser dominante na Europa e,
frequentemente, à boleia dos impérios coloniais desenvolveram-se movimentos
de revitalização que expandiram o cristianismo para além das fronteiras deste
continente. Neste século, associando burocracias eficazes e um elevado finan-
ciamento, as sociedades missionárias protestantes estenderam o cristianismo
protestante à maior parte do mundo não ocidental.
Assim, forma-se a antropologia da religião, que se posiciona de modo a
estudar as religiões e tudo aquilo que as envolve. Parte-se da premissa de que
a fé e a espiritualidade guiam as experiências humanas. Enquanto a religião se
baseia em uma ação coletiva, a espiritualidade possui um caráter individual,
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7. podendo, inclusive, afastar-se de formatos, de organizações coletivas e de
instituições tradicionais. Ambas são indicadores para compreender e tipificar
essa experiência (HAVILAND et al., 2011, p. 382):
Uma vez que nenhuma cultura conhecida, incluindo as das sociedades industriais
modernas, conseguiu controlar de modo absoluto as condições e as circunstân-
cias existentes ou futuras a espiritualidade e/ou a religião são importantes para
todas as culturas conhecidas. Apresentam, contudo, uma considerável variedade.
As diferentes vivências de fé intrínsecas dos diferentes povos e períodos
históricos formam uma característica importante, a qual sempre deve ser
considerada. Por exemplo, povos coletores, ligados diretamente ao contato
e à extração de recursos naturais, possuíam uma visão de mundo naturalista,
a qual se conecta diretamente a uma religião presente em seu cotidiano. Em
contrapartida, a civilização ocidental possui uma religiosidade conectada
a momentos específicos e próprios, uma vez que a complexidade social e a
sofisticação tecnológica não fazem, da religião, algo presente em seu cotidiano
(HAVILAND et al., 2011).
Além disso, é importante lembrar que as religiões são constituídas por
uma crença, que é formada por narrativas próprias. Essas crenças são cons-
tituídas por diversos aspectos específicos dentro de cada religiosidade. Por
exemplo, os membros de uma religião compartilham narrativas sagradas, as
quais explicam fundamentos da existência humana. A isso, dá-se o nome de
mito. O mito também é capaz de fornecer bases racionais para as crenças e as
práticas religiosas, estabelecendo padrões de comportamento e orientações
de fé. Desses mitos, podem surgir narrativas literárias, textos e livros que
abordam essa temática mitológica (HAVILAND et al., 2011).
Outro fator relevante a ser destacado quanto à constituição das crenças
é a existência e a presença de seres e de poderes sobrenaturais. “Para tentar
controlar por meios religiosos o que não pode ser controlado de outras formas,
os seres humanos fazem orações, sacrifícios e outros rituais religiosos ou
espirituais [recorde-se dos conceitos de sagrado e transcendência, propos-
tos anteriormente]” (HAVILAND et al., 2011, p. 385, acréscimo nosso). Assim,
pressupõe-se a existência de seres que se relacionam com o ser humano a
partir de atos que reavivem e glorifiquem sua memória. É preciso ressaltar
que a presença de seres sobrenaturais também pode ser sentida por meio
de objetos naturais considerados sagrados, como um monte, um lago ou uma
rocha extraordinária (HAVILAND et al., 2011).
Segundo Pereira (2016), as análises antropológicas realizadas a respeito desses
objetos de estudo, apresentados anteriormente, e de tantos outros possíveis,
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8. permitem dar um caráter científico a uma ciência tão complexa. Por mais que se-
jam teóricos ou ilusórios, como afirma o autor, a antropologia religiosa é baseada
nos dados criados e apresentados pelos fenômenos religiosos. Explicar a religião
não é o objetivo dessa abordagem, mas, sim, entender as relações humanas com
as religiosidades com que o homem permeia. Para isso, a antropologia precisa
de percepções provenientes de outras ciências, de forma que possa analisar e
compreender os mais diversos fatos religiosos presentes na atualidade como
as novas religiosidades, a secularização e a mobilidade religiosa.
A antropologia é uma ciência que estuda o ser humano a partir dos
mais diversos aspectos que envolvem a fenomenologia. Por isso,
a antropologia da religião apresenta respostas frente aos comportamentos
humanos que possuem caráter religioso. Assim, pode-se produzir conteúdo de
cunho religioso para questões puramente humana. Por exemplo, há vida após a
morte? Se Deus é bom, por que existem pessoas más? Se o ser humano possui
o pecado original em si, como ele pode ir para o céu?
Antropologia da religião versus outras
ciências religiosas
A antropologia da religião busca compreender a humanidade a partir de
aspectos puramente religiosos. Contudo, para atingir seus objetivos, não é
incomum que os estudos antropológicos façam o uso de observações próprias
de outras ciências. Enquanto abordagens científicas como história, psicologia
ou sociologia possuem uma visão que se limita à sua área de estudo, a an-
tropologia é capaz de buscar aspectos de cada uma delas para destrinchar
a complexidade proposta pela existência e pela convivência humanas.
Sendo a antropologia uma das ciências mais jovens a serem formadas,
sabe-se que seu desenvolvimento foi priorizado apenas após o surgimento
da geologia, da genética, da biologia e da própria sociologia. “Pode-se afirmar
que, somente após os conhecimentos da célula e da evolução terem sido
formulados e aplicados ao homem, é que a Antropologia se sistematizou e
progrediu como ciência do homem” (MARCONI; PRESOTTO, 2015, p. 8).
Quando se trata do surgimento da antropologia da religião, entende-se que
sua distância teórica e cronológica de nascimento não é tardia, em comparação
com os estudos antropológicos. Contudo, assim como ocorreu com a antropo-
logia propriamente dita, ela surge tardiamente, apenas no século XIX. Outras
abordagens científicas sobre a religião já haviam se formado e amadurecido.
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9. Lembre-se de que a antropologia da religião é uma ciência que busca es-
tudar o ser humano a partir de sua relação com a fé. Para isso, ela observa os
fenômenos religiosos a fim de compreender característica humanas que são
evidenciadas. Qual é a relação entre o ser humano a fé? Como a fé cria fenô-
menos sociais e religiosos em meio a sociedade? Como a fé se fez presente em
fatos históricos? Para cada uma dessas perguntas, a antropologia da religião
busca respostas, podendo, inclusive, utilizar argumentos de outras ciências.
Mas quais são as diferenças entre a antropologia e outros estudos científicos?
A filosofia da religião
Segundo Sweetman (2013, p. 16), "[...] a filosofia da religião pode ser definida
como a tentativa feita por filósofos de investigar a racionalidade das afir-
mações religiosas básicas”. Observe as diferenças entre os pensamentos
antropológico e filosófico sobre a religião. A filosofia da religião é um exem-
plo de estudo que busca discutir sobre questões que envolvem o ambiente
religioso. Para Sweetman (2013, p. 16), “[...] a Filosofia da Religião pode ser
definida como a tentativa feita por filósofos de investigar a racionalidade das
afirmações religiosas básicas”. Ela não prevê que aquele que pensa a respeito
de uma religiosidade seja um crente. O filósofo da religião não necessita de
determinada crença, nem precisa ter uma crença.
Dessa forma, para se compreender esse ramo da Filosofia, é necessário
que se afastar de um estudo de uma crença pura, a qual deposita total con-
fiança na existência e na ação de Deus. Para se entender a religiosidade a
partir dessa ciência, parte-se de experimentos e fenômenos sensíveis aos
sentidos. Assim, permite-se a discussão e o encontro de provas racionais
que sustentam essa ciência (SWEETMAN, 2013).
Com isso, ela se diferencia da antropologia da religião, uma vez que sua
busca se dá por conceituações racionais sobre os fenômenos, não necessa-
riamente considerando os aspectos humanos. Sua função é discutir racio-
nalmente os fenômenos religiosos, enquanto o estudo antropológico visa
observar de maneira ampla a humanidade presente em cada fato.
A sociologia da religião
A sociologia da religião, como disciplina científica, desenvolveu-se como um
meio de abordar teórica e empiricamente os fenômenos religiosos. É preciso
lembrar que Durkheim defendeu que a antropologia da religião permane-
Introdução à antropologia da religião
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10. cesse um ramo dos estudos sociológicos, enquanto Marcel Mauss propôs a
emancipação da abordagem antropológica da sociológica. Portanto, ambas
se encontram próximas histórica e teoricamente. Na atualidade, a sociologia
da religião busca compreender de maneira aprofundada fenômenos como o
embate entre secularização e dessecularização, a mercantilização e a privati-
zação da religião frente a uma “revanche divina” contra esses movimentos, e o
fenômeno da explosão de movimentos religiosos que nascem mundialmente.
Portanto, ela busca explicar as relações entre a religião e a sociedade a partir
de evidências empíricas, observando e dimensionando aspectos sociais da
religião e religiosos da sociedade (CIPRIANI, 2007).
É possível perceber que a sociologia e a antropologia trabalham conjunta-
mente em vista de um mesmo objeto: o ser humano. Contudo, considerando
a separação proposta por Mauss, percebe-se que o estudo sociológico da
religião se preocupa com as questões coletivas a respeito das religiões.
Enquanto isso, a abordagem antropológica da religião busca compreender a
comunidade a partir de uma pessoa, e uma pessoa a partir de sua comunidade,
conforme propõe o próprio Mauss.
Com base no que foi discutido neste capítulo, podemos ver que a an-
tropologia da religião é um estudo amplo, que aborda toda a complexidade
comportada no ser humano. Por isso, ela utiliza estudos diversos sobre o ser
humano, como a filosofia e a sociologia da religião, elucidadas anteriormente,
e, também, a história da religião (que busca compreender os fatos histórico
que envolvem a formação e a consolidação das crenças, dos rituais e das
religiões) e a psicologia da religião (que traz uma abordagem psicológica
sobre as crenças e as experiências religiosas de um indivíduo). Além disso, seu
estudo também se distancia de uma explicação propriamente religiosa, como
propõem a teologia (que busca observar criticamente a formação, a estrutura
e as práticas próprias de uma religiosidade) e a ciência da religião (que busca
compreender a história das religiões, investigando-as de maneira sistemática).
Referências
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
CIPRIANI, R. Manual de sociologia da religião. Tradução Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus,
2007.
CROATTO, J. S. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia
da religião. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2010.
DURKHEIM, É. As formas elementares da vida religiosa. Tradução Paulo Neves. São
Paulo: Martins Fontes, 1996.
Introdução à antropologia da religião 9
11. ELIADE, M. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
HAVILAND, W. et al. Princípios de antropologia. Tradução Elisete Paes e Lima. São Paulo:
Cengage Learning, 2011.
LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. Tradução Marie-Agnès Chauvel. São Paulo:
Brasiliense, 2007.
MARCONI, M. A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. 7. ed. São Paulo:
Atlas, 2015.
MENDONÇA, A. G. Fenomenologia da experiência religiosa. Numen, Juiz de Fora, v. 2, nº
2, 1999. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/21737.
Acesso em: 24 out. 2020.
PELTO, P. J. Iniciação ao estudo da antropologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
PEREIRA, P. Uma viagem retrospectiva à antropologia da religião. Antropología Ex-
perimental, Jaén, nº 16, p. 263-284, 2016. Disponível em: https://revistaselectronicas.
ujaen.es/index.php/rae/article/view/2441. Acesso em: 24 out. 2020.
SWEETMAN, B. Religião: conceitos-chave em filosofia. Tradução Roberto Cataldo Costa.
Porto Alegre: Penso, 2013.
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