O documento resume um livro sobre redes sociais na internet. Discutem-se conceitos como atores, conexões, capital social e tipos de redes. Também aborda análise estrutural de redes, difusão de informações e comunidades virtuais.
1. Resenha por Tarcízio Silva - @tarushijio
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. PortoAlegre, Sulina, 2009. Disponível
em http://www.redessociais.net/cubocc_redessociais.pdf
Na introdução, Raquel Recuero explica que a temática do livro Redes Sociais na
Internet está historicamente situada em um crescente interesse de certos ramos da
pesquisa social em observar a sociedade com uma estrutura, um sistema ou rede. Depois
de mostrar como esta tendência, hoje, está representada na perspectiva da Análise
Estrutural de Redes Sociais, a autora inicia o primeiro capítulo falando dos principais
elementos das redes sociais: atores e conexões. O primeiro elemento, o ator social, pode
se apresentar na internet de diversas formas, desde um blog, um perfil em um site de
rede social ou comentários registrados. O outro elemento, a conexão, é, para Recuero, o
“principal foco do estudo das redes sociais, pois é sua variação que altera as estruturas
desses grupos” (p.30). Recuero busca definir interação, relações e laços sociais. A partir
de vários outros autores define interação reativa e interação mútua, que pode estabelecer
relações sociais e constituir laços se mantidas por tempo considerável.
O conceito de capital social, polêmico e amplamente discutido, é apresentado por
Raquel Recuero. A partir da apresentação e comparação entre as conceituações de
Putnam, Bourdieu e Coleman, a autora discute capital social como coletivo ou
individual, funções do capital social e seus valores. Para o estudo das redes sociais na
internet, entender capital social é importante por permitir que os tipos de relações e
conteúdo trocado seja melhor entendido.
Pra falar das topologias da rede, Recuero recorre a Paul Baran e a apropriação de seus
conceitos por Augusto de Franco. As topologias básicas possíveis seriam: centralizadas,
descentralizadas e distribuídas. Em seguida, a autora escreve sobre a teoria das redes e
suas abordagens. A proposta das redes igualitárias, de ver as redes como se fossem
formadas aleatoriamente, foi uma primeira abordagem. Em seguida, algumas
descobertas e experimentos levaram à concepção da rede como “mundo pequeno”, pois
cada ator estaria separado de qualquer outro ator por um pequeno número de conexões.
A descoberta de dinâmicas estruturais que compõem a conexão preferencial levou a um
entendimento ainda mais preciso das redes.
Para analisar as redes, Recuero propõe duas abordagens. A primeira é analisar a rede
inteira, todos seus atores e conexões. Como já foi mostrado, uma abordagem desse tipo
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poderia se estender a todo o mundo, já que é altamente conectado. Por outro lado,
analisar uma rede a partir da perspectiva ego é tomar um ator como centro – apenas para
fins de análise – e partir de suas conexões. A autora ainda descreve algumas
propriedades das redes a partir da análise estrutural: grau de conexão, densidade,
centralidade, centralização e multiplexidade.
As redes sociais não são estruturas fixas; modificam-se com o tempo através de diversas
dinâmicas. Os padrões de interação, entre cooperação, competição e conflito, podem ser
estudados nas redes sociais. Recuero explica que essas dinâmicas não devem ser vistas
de uma forma valorativa. Cooperação é necessária para a própria existência do grupo ou
rede, mas o conflito é indispensável para a evolução da estrutura. Recuero diz que a
competição aparece nos sites de redes sociais, mas de forma sutil. Exemplifica com a
busca por status ao se possuir diversas comunidades populosas no Orkut, por exemplo.
Raquel Recuero fala da agregação – ou clustering – através do qual os atores se reúnem
em torno de um interesse ou nó comum. Sobre ruptura, explica que existiria um número
máximo de conexões que um nó conseguiria suportar.
Os conceitos de adaptação e auto-organização também são importantes para o
entendimento das redes sociais. Entre o caos e a ordem das redes, a dinâmica de auto-
organização é particularmente exemplificada em situações de conflito dentro de grupos
ou comunidades online.
A segunda parte do livro, “Aspectos do Estudo das Redes Sociais na Internet”, procura
mostrar como estas redes podem ser observadas operacionalmente pelo pesquisador. O
primeiro nível de aspectos se refere aos tipos das redes. Recuero divide as redes sociais
na internet em dois tipos: redes emergentes e redes de filiação ou associativas.
As redes emergentes são aquelas que, como o nome indica, se configuram através das
interações efetivas e mútuas entre os atores. As redes de filiação são redes
predominantemente suportadas por conexões através de um sistema. É o exemplo de
redes configuradas através do Orkut, por exemplo. Criar uma conexão nesse tipo de site
é tão simples quanto dar dois cliques. As redes associativas seriam caracterizadas,
portanto, por conexões permanentes que podem significar apenas interação reativa.
Porém, Recuero deixa claro que redes emergentes podem surgir a partir de associativas
e vice-versa.
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Chegando especificamente aos sites de redes sociais, Recuero utiliza a definição das
pesquisadoras Danah Boyd e Nicole Ellison que os sefine como “sistemas que permitem
i) a construção de uma persona através de um perfil ou página pessoal; ii) a interação
através de comentários; iii) a exposição pública da rede social de cada ator.”
Recuero divide os sites de redes sociais como apropriados e como sites de redes sociais
propriamente ditos. Como exemplo deste segundo tipo estão o Orkut e o Facebook, que
são sistemas criados com foco nas conexões e relacionamento entre os atores. Outros
sites, como YouTube e Fotolog, por outro lado, tem como foco a publicação de
conteúdo, mas podem ser apropriados para que os perfis representem pessoas ou grupos
de pessoas e suas redes.
Alguns valores do capital social seriam mais facilmente trocados e construídos. O
primeiro valor é o da visibilidade. Devido às características da internet, seria muito mais
fácil que um nó fique visível na rede. O segundo valor é o da reputação. Ao ter mais
controle das impressões transmitidas, geralmente persistentes, a reputação dos atores
seria construída em torno dos perfis e suas redes. A popularidade, nos sites de redes
sociais, é um valor relacionado à audiência. Nós conectores, por exemplo, seriam
aqueles de maior popularidade. Por fim, autoridade é um valor mais qualitativamente
percebido, referindo-se à capacidade efetiva que um ator tem de influencia a rede.
A difusão de informações na redes sociais é o tema do sexto capítulo. Recuero relaciona
capital social à difusão de informações ao mostrar os diferentes tipos de memes a partir
de vários níveis analíticos e sua relação com os valores do capital social. A autora cita
Dawkins, que definiu meme como “um „gene‟ da cultura”, que pode ser replicado
através das pessoas. Os memes podem ser classificados de acordo com a fidelidade da
cópia, longevidade e alcance. Todos os tipos de memes seriam relacionados à reputação,
pois replicar um determinado conteúdo envolve influência. Em relação aos outros
níveis, é particularmente interessante a divisão dos tipos de memes em relação à
fidelidade: replicadores, miméticos e metamórficos.
O sétimo capítulo finaliza o livro tratando de comunidades em redes sociais na internet.
A primeira seção revisa amplamente o conceito de comunidades virtuais. A pesquisa
sobre comunicação mediada por dispositivos tecnológicos, que permitiu a
desterritorializaçaõ dos laços sociais remonta a McLuhan e suas considerações sobre o
telefone, televisão e a aldeia global. Cita a definição de comunidade virtual de
Rheingold, que leva em conta os agregados sociais com número considerável de pessoas
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discutindo publicamente durante determinado tempo e formando relações sociais
afetivas. Demorando-se na progressão do pensamento de Lemos sobre comunidades,
mostra como o autor considera agregados sociais duradouros. Revisando outras
concepções, Recuero entende a comunidade virtual como agregados mais densos das
redes sociais, com laços e capital social mais intenso. A partir dessa discussão, mostra
como as comunidades poderiam ser identificadas através dos clusters das redes.
Os clusters são regiões da rede caracterizadas pela maior densidade das conexões.
Citando Wasserman e Faust, Recuero fala de “grupos coesos”, que apresentariam laços
mútuos, membros próximos e freqüência alta absoluta e relativa de laços entre os
membros do grupo. Essas características contribuiriam para entender a comunidade na
perspectiva das redes sociais e, por isso, Recuero finaliza o livro falando das topologias
das comunidades nas redes sociais a partir dos conceitos de comunidades emergentes,
comunidades de associação e comunidades híbridas. As primeiras seriam compostas de
clusters com conexões densas, mútuas e bastante próximas. As segundas, criadas em
torno de sistemas ou interesses em comum, trariam conexões mais pontuais e maior
freqüência de laços fracos. Por fim, as comunidades híbridas trariam características
emergentes e associativas. Um exemplo são comunidades de blogs que interagem entre
si e possuem uma grande quantidade de leitores que, por sua vez, associam-se a este
conteúdo.
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