1) O documento analisa a representação de negros em livros didáticos de história, dividindo as imagens em três categorias: submissão, trabalho e autonomia. A maioria das imagens retrata negros de forma submissa ou como mão-de-obra sem qualificação.
2) Poucas imagens mostram a autonomia ou o patrimônio cultural de negros. Quando retratados de forma autônoma, recebem descrições preconceituosas.
3) O autor conclui que as imagens são usadas sem compromis
34. Olhar iconográfico : representação do negro no livro didático de história. Para análise de estudo, tomei como parâmetro o livro de TOLEDO, Eliete et DREGUER, Ricardo. História: cotidiano e mentalidades. São Paulo, Atual, 1995. V. 2, 3 e 4. Realmente, a mentalidade encontrada é contundente, muitas vezes, equivocada e carente de referências. Para estruturar a análise iconográfica das imagens, dividi o estudo em três grandes blocos: 1 – Representação da submissão, 2 – Representação do trabalho e 3 – representação da autonomia.
35. Foi observado que o autor na maioria das vezes se apropriou indevidamente do uso das imagens, sem fazer referencial sobre a origem, data e autor das obras e local de preservação das mesmas. Parece que o mesmo possui um acervo particular das imagens que lhe dão o direito de usá-las como bem entende. Em relação a imagem e conteúdo existe na maioria das vezes um distanciamento vertiginoso, as imagens aparecem como forma de ocultar a verdade não escrita, o conteúdo, até porque o autor não faz nenhuma referencia bibliográfica no rodapé final do texto.
36. 1 – Representação da submissão: o ser humano da raça negra aparece apanhando, fugindo como se fosse um preguiçoso, flagelo humano da fome (apesar do referencial grego dos pintores acadêmicos) a visão eurocêntrica, muitas vezes apresentando-os fortes, nutridos e com muita energia para gastar, bem vestidos. “Justificando o tratamento do seu senhor”, sabemos que na prática a realidade era cruel. Faz referência ao termo África contemporânea e apresenta um agricultor trabalhando na roça - a enxada e a lavoura são os meios da modernidade, que para um bom observador de crítica apurada vai entender como insinuação tendenciosa, mas transparece ingênua no primeiro olhar. Pois contemporaneidade nos transporta ao mundo das tecnologias de ponta, que pela imagem apresentada contradiz ao termo usado.
37. 2 – Representação do trabalho: o negro é representado como mão-de-obra inferior, trabalhador de terceira, vendedor de carne de porco, ou seja, de produtos de sobrevivência, de utilitários, mercadoria humana, força bruta sem qualificação, mentalidade de trabalho forçado nas mineradoras. O autor não representa o negro como fator primordial da economia brasileira, mão-de-obra importante na construção cultural e econômica do nosso país. 2.1 – Imagem tendenciosa: apesar de todo o sofrimento, o negro brinca, se diverte, é feliz, gosta de suas tradições e quando adere a outra cultura é discriminado, pois nasceu para ser personagem folclórica e cultuar suas origens, qualquer mudança de comportamento é vista como fora do padrão, não combina com a raça, pois mudança não é para todos.
38. 3 – Representação da autonomia: felizmente, as poucas referências iconográficas ao patrimônio cultural do negro podemos constar uma escultura de uma mulher rica negra. Pouca referência a arte e a religião dos grandes impérios africanos. Por outro lado, é colocada uma obra de arte que faz referência a um fato histórico nacional com imagem do negro, porém, sem comentário por parte do autor. As imagens aparecem ora deslocadas do contexto, ora imortaliza o preconceito estampado e explícito. Quando o negro se interessa pela pesquisa científica é titulado como aventureiro e não como estudioso.
39. Em síntese, pude concluir que não houve por parte do autor um prévio tratamento multidisciplinar do uso das imagens, carentes de referencial historiográfico e o tamanho das imagens dão maior destaque ao sofrimento e ao trabalho banal, o negro é tratado como força bruta ou mercadoria. Pouca referência ao poder de conhecimento e poderio econômico dos grandes impérios. Apesar dos castigos e punições ainda são alegres, encontram tempo para brincadeiras e rodas de samba, ou seja, negro é feliz apesar da miséria e da exploração.
40. Este estudo ofereceu oportunidade para aprender a aprender observar o livro didático de história como um excelente recurso didático pedagógico a serviço do professor instrumentalizado por um conhecimento multidisciplinar. Foi possível enxergar na pesquisa, imagens muitas vezes usadas sem “compromisso”, mas carregadas de exclusão que somatizam e nutrem o inconsciente coletivo, a desigualdade conformista. A aceitação impotente da transformação em virtude dos séculos de exploração, é normal, ou seja, imoral. Professor GILSON CRUZ NUNES Campina Grande, 20 de junho de 2005.
41. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ARAÚJO, Emanoel (Org.) A mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. São Paulo, Tenenge, 1988. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo, Perspectiva, 1996. BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo, Ática, 1995. BERGER, John. Modos de ver: arte e comunicação. São Paulo, Martins fontes, 1972. DONDIS, Donis A. Síntese da linguagem visual. São Paulo, Martins Fontes, 1991. DREGUER, Ricardo et TOLEDO, Eliete. História: cotidiano e mentalidades. V. 2 – Contato entre civilizações: do século V ao XVI, 6ª Série; V. 3 – A afirmação européia: séculos XVII e XVIII, 7 ª Série; V. 4 – Da hegemonia burguesa à era das incertezas: séculos XIX e XX, 8ª Série, São Paulo, Atual, 1995. HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo, Selo Negro, 2005. MUNANGA, Kabengele (Org.) Arte afro-brasileira. São Paulo, Fundação Nacional de São Paulo, 2000. PILLAR, Analice Dutra (Org.) A educação do olhar: no ensino das artes. Porto Alegre, Mediação, 1999. PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo, Perspectiva, 1991. RIBON, Michel. Arte e a natureza. Campinas, Papirus, 1991. TREVISAN, Armindo. Como apreciar a arte. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1990.