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Choque cultural
Estranhamento
ETNOCENTRISMO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Arte alegórica. As gravuras que analisaremos são alegorias da América,
produzidas por artistas europeus que, em sua maioria, nunca estiveram
neste território.
A palavra alegoria vem do grego allos, “outro”, e agoreuein, “falar em
público”. A alegoria é uma figura de linguagem. A fábula e a parábola são
exemplos de alegorias. Carregam uma mensagem transmitida em um
sentido figurado e muitas vezes acompanhada de uma moral: diz-se “a”
para dizer “b”. Ou seja, fala-se sobre uma coisa através de outra coisa.
Quando colocamos uma coisa no lugar de outra temos... um símbolo. O
símbolo, assim, é a representação de algo.
Embora a alegoria seja uma figura de linguagem, não se expressa
somente através do texto escrito. Pode dirigir-se aos olhos e,
frequentemente, manifesta-se na pintura, na escultura, na gravura, em
fantasias carnavalescas etc como as gravuras que vocês verão a seguir!
América, P. Galle, 1579-1600
No século XVI, o critério religioso
ainda estava muito presente nas
representações que os europeus
faziam do Novo Mundo, incluindo
seus habitantes. Perguntavam-se:
os selvagens têm ou não alma? São
ou não descendentes de Adão?
Estão ou não sujeitos ao pecado
original? É possível levar-lhes a
revelação?
Afinal, como avaliar tudo isto
sendo eles... canibais?
América, P. Galle, 1579-1600
d
“América”, Phillipe Galle, 1579-1600.
Aqui a América é representada como a
deusa da caça (Ártemis, na mitologia
grega; Diana, na romana). Por que os
artistas europeus utilizaram este símbolo,
a deusa da caça, como referência para
se referirem à América?
Lembrem-se que entre alguns povos
tribais do Novo Mundo encontrava-se a
prática da antropofagia ritual. Este ritual
relacionava-se à guerra: consistia em
sacrificar o inimigo e comer sua carne
para obter sua força e coragem. Para um
guerreiro tupi, era uma honra ser
sacrificado, porém os europeus não
compreenderam o simbolismo desta
prática e classificaram os nativos
americanos como canibais.
“América”, Theodore Galle e Jan van der Straet, 1589.
“América”, Theodore Galle e Jan van der Straet, 1589. Aqui Colombo “anuncia” a civilização
ocidental, com sua tecnologia (naus, vestimentas, técnicas de navegação) e suas instituições
sociais (Estado, Igreja), para uma América associada ao canibalismo, ao paganismo, à
animalidade, à improdutividade, enfim, à irracionalidade social e econômica. Aqui temos uma
“anunciação” da civilização à América, considerada pelos europeus um “vazio” (“são povos sem fé,
sem lei, sem rei”). A América será, segundo as representações europeias, preenchida (fecundada)
pelos benefícios civilizacionais portados (anunciados) pelos europeus.
Anunciação, Sandro Botticelli (1445-1510). O tema religioso da “Anunciação”
serviu de base para a gravura que analisamos anteriormente. Maria recebe a visita
do anjo Gabriel, que vem anunciar que ela dará à luz o Filho de Deus. Maria será
preenchida (“fecundada” ) pelo Espírito Santo.
América, Theodore de Bry, 1592. Esta aquarela ilustra o livro de Hans
Staden, Duas viagens ao Brasil. Hans está no alto e também à direita,
próximo do corpo que está sendo esquartejado no ritual de
antropofagia.
América, Étiene Delaune, 1575. América mais uma vez representada
como a deusa da caça.
América, Adriaen Collaert e Marten de Vos, 1600. A América agora aparece associada à
deusa Athena/Minerva (Guerra, Sabedoria e Artes). Estas gravuras foram feitas por artistas
que não vieram para a América, mas a representaram a partir de opiniões e julgamentos
comuns à sua época. Será preciso esperar o século XVIII para que se constitua o projeto de
fundar uma Ciência do Homem, ou seja, para que o homem se torne “objeto do
conhecimento” em sua existência concreta (social e cultural) através da observação.
Albert Eckhout, século XVII. Aqui encontramos o tema da conversão do nativo ao
cristianismo. Antes da conversão, a nativa está associada ao imaginário do
canibalismo; depois da conversão, aparece associada à maternidade, à proteção e
ao trabalho produtivo. Mau selvagem x Bom civilizado.
Habitação dos Apiacás no Rio Arinos, Hercule Florence, 1828. Aquarela do século
XIX de artista francês que integrou a Expedição Langsdorf. Esta já é uma obra
naturalista, que se propõe mostrar de forma objetiva o meio e o homem,
reproduzindo com maior fidelidade os dados coletados através da observação. Na
passagem do século XVIII para o XIX surgiu a Sociedade dos Observadores do
Homem (1799-1805). Compare esta obra com as gravuras (alegorias) do século XVI.
Critérios utilizados para julgar se os habitantes do Novo Mundo eram ou
não seres humanos semelhantes aos europeus:
a. critério religioso (existência ou inexistência de alma; monoteísmo);
b. utilização ou não de vestimentas;
c. hábitos alimentares semelhantes aos dos homens ou aos dos animais;
d. presença ou ausência de linguagem articulada;
e. presença ou ausência de escrita;
f. existência ou inexistência de pensamento racional;
g. existência ou inexistência de leis (sistema jurídico);
h. existência ou inexistência de sistema econômico baseado na propriedade
privada (mercadoria, lucro);
i. existência ou inexistência de uma sociedade civil politicamente organizada
(Estado);
j. existência ou inexistência de família monogâmica;
l. existência ou inexistência de tecnologia.
Tribunal de Valladolid, Espanha, século XVI
Foi montado, em 1550, na cidade de Valladolid,
Espanha, um tribunal para discutir se os nativos
americanos eram seres humanos iguais aos europeus,
se viviam em sociedades com uma vida civil
organizada e possuíam pensamento racional.
São dois oponentes dominicanos: Frei Bartolomeu de
Las Casas e Sepulvera.
Vejamos trechos deste debate.
“Aqueles que superam os outros em
prudência e razão, mesmo que não
sejam superiores em força física, são,
por natureza, os senhores; ao
contrário, porém, os preguiçosos, os
espíritos lentos, mesmo que tenham
as forças físicas para cumprir todas
as tarefas necessárias, são por
natureza servos. E é justo e útil que
sejam servos, e vemos isso
sancionado pela própria lei divina.
Tais são as nações bárbaras e
desumanas, estranhas à vida civil e
aos costumes pacíficos.”
Yanomami, Cláudia Andujar
Mulher Kayapó, G. Prokop, 2002
“E será sempre justo (...) que essas
pessoas estejam submetidas ao
império de príncipes e de nações
mais cultas e humanas, de modo
que, graças às virtudes destas e à
prudência de suas leis, eles
abandonem a barbárie e se
conformem a uma vida mais
humana e ao culto da virtude. E se
eles recusarem esse império, pode-
se impô-lo por meio das armas e
essa guerra será justa, bem como o
declara o direito natural que os
homens honrados (...) dominem
aqueles que não têm essas virtudes.“
Sepulvera, 1550, Valladolid,
Espanha.
O discurso de Sepulvera é claramente
eurocêntrico e preconceituoso. Atribui
valor positivo somente à organização
social e ao sistema de valores próprios
da sua cultura (europeia),
desqualificando e inferiorizando as
culturas americanas (Novo Mundo).
Esta é uma visão etnocêntrica.
Etnocentrismo (Willian G. Summer,
1906): “visão segundo a qual nosso
próprio grupo é o centro de todas as
coisas e todos os outros grupos são
medidos e avaliados em relação a ele”.
Vejamos a seguir uma opinião seme-
lhante. Cláudia Andujar, moça Yanomami.
“É a grande glória e a honra de nossos reis e dos espanhóis
(...) terem feito aceitarem os índios um único Deus, uma
única fé e um único batismo e terem tirado deles a
idolatria, os sacrifícios humanos, o canibalismo, a sodomia
(...). Da mesma forma tiramos deles a poligamia, velho
costume e prazer de todos esses homens sensuais;
mostramos-lhes o alfabeto, sem o qual os homens são
como animais, e o uso do ferro que é tão necessário ao
homem. (...) Tudo isso (...) vale mais que as penas, as
pérolas, o ouro que tomamos deles, ainda mais porque
não utilizavam esses metais como moedas.”
Gomara, História Geral dos Índios, séc. XVI
A visão de Las Casas, no caso da América e
dos nativos americanos, não é etnocêntrica.
Frei Bartolomeu de Las Casas viveu na
América e reconheceu que os costumes e
valores da população asteca formavam um
sistema que fazia sentido para os membros
daquela sociedade. Las Casas foi o opositor
de Sepulvera no Tribunal de Valladolid.
Quanto à África e aos nativos africanos, Las
Casas não sustentava essa opinião...
Yanomami, Claudia Andujar
Diante da diversidade cultural (alteridade), qual é a atitude que se
contrapõe ao etnocentrismo? O relativismo cultural.
O relativismo cultural, enquanto princípio metodológico, é a visão que
considera que todo conjunto cultural tem autonomia simbólica e
coerência interna que lhe conferem seu caráter original e singular.
Somente se pode analisar um traço cultural relacionando-o ao sistema
social ao qual pertence e que lhe dá sentido.
“Àqueles que pretendem
que os índios são bárbaros,
responderemos que estas
pessoas têm aldeias, vilas,
cidades, reis, senhores e
uma ordem política que,
em alguns reinos, é melhor do que a nossa. (...) Assim, igualavam-se
aos gregos e romanos, e até, em alguns de seus costumes, os
superavam. Eles superavam também a Inglaterra, a França e
algumas de nossas regiões da Espanha. (...) Pois a maioria dessas
nações do mundo, senão todas, foram muito mais pervertidas,
irracionais e depravadas e deram mostra de muito menos prudência
e sagacidade em sua forma de se governarem e exercerem as
virtudes morais.”

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  • 2. Arte alegórica. As gravuras que analisaremos são alegorias da América, produzidas por artistas europeus que, em sua maioria, nunca estiveram neste território. A palavra alegoria vem do grego allos, “outro”, e agoreuein, “falar em público”. A alegoria é uma figura de linguagem. A fábula e a parábola são exemplos de alegorias. Carregam uma mensagem transmitida em um sentido figurado e muitas vezes acompanhada de uma moral: diz-se “a” para dizer “b”. Ou seja, fala-se sobre uma coisa através de outra coisa. Quando colocamos uma coisa no lugar de outra temos... um símbolo. O símbolo, assim, é a representação de algo. Embora a alegoria seja uma figura de linguagem, não se expressa somente através do texto escrito. Pode dirigir-se aos olhos e, frequentemente, manifesta-se na pintura, na escultura, na gravura, em fantasias carnavalescas etc como as gravuras que vocês verão a seguir!
  • 4. No século XVI, o critério religioso ainda estava muito presente nas representações que os europeus faziam do Novo Mundo, incluindo seus habitantes. Perguntavam-se: os selvagens têm ou não alma? São ou não descendentes de Adão? Estão ou não sujeitos ao pecado original? É possível levar-lhes a revelação? Afinal, como avaliar tudo isto sendo eles... canibais? América, P. Galle, 1579-1600 d
  • 5. “América”, Phillipe Galle, 1579-1600. Aqui a América é representada como a deusa da caça (Ártemis, na mitologia grega; Diana, na romana). Por que os artistas europeus utilizaram este símbolo, a deusa da caça, como referência para se referirem à América? Lembrem-se que entre alguns povos tribais do Novo Mundo encontrava-se a prática da antropofagia ritual. Este ritual relacionava-se à guerra: consistia em sacrificar o inimigo e comer sua carne para obter sua força e coragem. Para um guerreiro tupi, era uma honra ser sacrificado, porém os europeus não compreenderam o simbolismo desta prática e classificaram os nativos americanos como canibais.
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  • 8. “América”, Theodore Galle e Jan van der Straet, 1589.
  • 9. “América”, Theodore Galle e Jan van der Straet, 1589. Aqui Colombo “anuncia” a civilização ocidental, com sua tecnologia (naus, vestimentas, técnicas de navegação) e suas instituições sociais (Estado, Igreja), para uma América associada ao canibalismo, ao paganismo, à animalidade, à improdutividade, enfim, à irracionalidade social e econômica. Aqui temos uma “anunciação” da civilização à América, considerada pelos europeus um “vazio” (“são povos sem fé, sem lei, sem rei”). A América será, segundo as representações europeias, preenchida (fecundada) pelos benefícios civilizacionais portados (anunciados) pelos europeus.
  • 10. Anunciação, Sandro Botticelli (1445-1510). O tema religioso da “Anunciação” serviu de base para a gravura que analisamos anteriormente. Maria recebe a visita do anjo Gabriel, que vem anunciar que ela dará à luz o Filho de Deus. Maria será preenchida (“fecundada” ) pelo Espírito Santo.
  • 11. América, Theodore de Bry, 1592. Esta aquarela ilustra o livro de Hans Staden, Duas viagens ao Brasil. Hans está no alto e também à direita, próximo do corpo que está sendo esquartejado no ritual de antropofagia.
  • 12. América, Étiene Delaune, 1575. América mais uma vez representada como a deusa da caça.
  • 13. América, Adriaen Collaert e Marten de Vos, 1600. A América agora aparece associada à deusa Athena/Minerva (Guerra, Sabedoria e Artes). Estas gravuras foram feitas por artistas que não vieram para a América, mas a representaram a partir de opiniões e julgamentos comuns à sua época. Será preciso esperar o século XVIII para que se constitua o projeto de fundar uma Ciência do Homem, ou seja, para que o homem se torne “objeto do conhecimento” em sua existência concreta (social e cultural) através da observação.
  • 14. Albert Eckhout, século XVII. Aqui encontramos o tema da conversão do nativo ao cristianismo. Antes da conversão, a nativa está associada ao imaginário do canibalismo; depois da conversão, aparece associada à maternidade, à proteção e ao trabalho produtivo. Mau selvagem x Bom civilizado.
  • 15. Habitação dos Apiacás no Rio Arinos, Hercule Florence, 1828. Aquarela do século XIX de artista francês que integrou a Expedição Langsdorf. Esta já é uma obra naturalista, que se propõe mostrar de forma objetiva o meio e o homem, reproduzindo com maior fidelidade os dados coletados através da observação. Na passagem do século XVIII para o XIX surgiu a Sociedade dos Observadores do Homem (1799-1805). Compare esta obra com as gravuras (alegorias) do século XVI.
  • 16. Critérios utilizados para julgar se os habitantes do Novo Mundo eram ou não seres humanos semelhantes aos europeus: a. critério religioso (existência ou inexistência de alma; monoteísmo); b. utilização ou não de vestimentas; c. hábitos alimentares semelhantes aos dos homens ou aos dos animais; d. presença ou ausência de linguagem articulada; e. presença ou ausência de escrita; f. existência ou inexistência de pensamento racional; g. existência ou inexistência de leis (sistema jurídico); h. existência ou inexistência de sistema econômico baseado na propriedade privada (mercadoria, lucro); i. existência ou inexistência de uma sociedade civil politicamente organizada (Estado); j. existência ou inexistência de família monogâmica; l. existência ou inexistência de tecnologia.
  • 17. Tribunal de Valladolid, Espanha, século XVI Foi montado, em 1550, na cidade de Valladolid, Espanha, um tribunal para discutir se os nativos americanos eram seres humanos iguais aos europeus, se viviam em sociedades com uma vida civil organizada e possuíam pensamento racional. São dois oponentes dominicanos: Frei Bartolomeu de Las Casas e Sepulvera. Vejamos trechos deste debate.
  • 18. “Aqueles que superam os outros em prudência e razão, mesmo que não sejam superiores em força física, são, por natureza, os senhores; ao contrário, porém, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo que tenham as forças físicas para cumprir todas as tarefas necessárias, são por natureza servos. E é justo e útil que sejam servos, e vemos isso sancionado pela própria lei divina. Tais são as nações bárbaras e desumanas, estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos.” Yanomami, Cláudia Andujar
  • 19. Mulher Kayapó, G. Prokop, 2002 “E será sempre justo (...) que essas pessoas estejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultas e humanas, de modo que, graças às virtudes destas e à prudência de suas leis, eles abandonem a barbárie e se conformem a uma vida mais humana e ao culto da virtude. E se eles recusarem esse império, pode- se impô-lo por meio das armas e essa guerra será justa, bem como o declara o direito natural que os homens honrados (...) dominem aqueles que não têm essas virtudes.“ Sepulvera, 1550, Valladolid, Espanha.
  • 20. O discurso de Sepulvera é claramente eurocêntrico e preconceituoso. Atribui valor positivo somente à organização social e ao sistema de valores próprios da sua cultura (europeia), desqualificando e inferiorizando as culturas americanas (Novo Mundo). Esta é uma visão etnocêntrica. Etnocentrismo (Willian G. Summer, 1906): “visão segundo a qual nosso próprio grupo é o centro de todas as coisas e todos os outros grupos são medidos e avaliados em relação a ele”. Vejamos a seguir uma opinião seme- lhante. Cláudia Andujar, moça Yanomami.
  • 21. “É a grande glória e a honra de nossos reis e dos espanhóis (...) terem feito aceitarem os índios um único Deus, uma única fé e um único batismo e terem tirado deles a idolatria, os sacrifícios humanos, o canibalismo, a sodomia (...). Da mesma forma tiramos deles a poligamia, velho costume e prazer de todos esses homens sensuais; mostramos-lhes o alfabeto, sem o qual os homens são como animais, e o uso do ferro que é tão necessário ao homem. (...) Tudo isso (...) vale mais que as penas, as pérolas, o ouro que tomamos deles, ainda mais porque não utilizavam esses metais como moedas.” Gomara, História Geral dos Índios, séc. XVI
  • 22. A visão de Las Casas, no caso da América e dos nativos americanos, não é etnocêntrica. Frei Bartolomeu de Las Casas viveu na América e reconheceu que os costumes e valores da população asteca formavam um sistema que fazia sentido para os membros daquela sociedade. Las Casas foi o opositor de Sepulvera no Tribunal de Valladolid. Quanto à África e aos nativos africanos, Las Casas não sustentava essa opinião... Yanomami, Claudia Andujar Diante da diversidade cultural (alteridade), qual é a atitude que se contrapõe ao etnocentrismo? O relativismo cultural. O relativismo cultural, enquanto princípio metodológico, é a visão que considera que todo conjunto cultural tem autonomia simbólica e coerência interna que lhe conferem seu caráter original e singular. Somente se pode analisar um traço cultural relacionando-o ao sistema social ao qual pertence e que lhe dá sentido.
  • 23. “Àqueles que pretendem que os índios são bárbaros, responderemos que estas pessoas têm aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem política que, em alguns reinos, é melhor do que a nossa. (...) Assim, igualavam-se aos gregos e romanos, e até, em alguns de seus costumes, os superavam. Eles superavam também a Inglaterra, a França e algumas de nossas regiões da Espanha. (...) Pois a maioria dessas nações do mundo, senão todas, foram muito mais pervertidas, irracionais e depravadas e deram mostra de muito menos prudência e sagacidade em sua forma de se governarem e exercerem as virtudes morais.”