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PARA AS CRIANÇAS
                                                                              PRIMEIRO

                                                       Estudo sobre as
Publicado em setembro de 2011 © Visão Mundial Brasil




                                                       políticas públicas
                                                       de proteção à saúde
                                                       infantil e materna
                                                       no Brasil:
                                                       um olhar especial
                                                       para os filhos
                                                       de mães adolescentes
FICHA TÉCNICA

CAMPANHA SAÚDE PARA AS CRIANÇAS PRIMEIRO | BRASIL

Coordenação nacional: Maria Carolina da Silva
Coordenação técnica: Neilza A. Buarque Costa
Assessora de comunicação: Gidália Santana

Comitê gestor da campanha:
Celso Fernandes
Karina Lira
Maria Carolina da Silva
Mauricio Cunha
Neilza A. Buarque Costa
Nilza Valéria Zacarias
Sueli Catarina
Welinton Pereira


ESTUDO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROTEÇÃO À SAÚDE INFANTIL
E MATERNA NO BRASIL | SETEMBRO DE 2011

Coordenação: Tânia Barbosa
Redação: Francisco Sadeck e Juliana Casemiro
Revisão técnica: Neilza Costa
Colaboração: Karina Lira
Diagramação: maquinavoadora dg
Ilustração: João Vaz
Fontes: As fontes bibliográficas são citadas dentro do documento

Este material não pode ser reproduzido ou comercializado sem autorização expressa.
Setembro, 2011. © Visão Mundial Brasil
SUMÁRIO
5    GLOSSÁRIO

6    RESUMO EXECUTIVO

8    APRESENTAÇÃO

9    CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

11   INTRODUÇÃO

12   CAPÍTULO 1 – Panorama de saúde no Brasil
12   1.1- Política de saúde
13   1.2 – Orçamento público em saúde
17   1.3 – Iniquidade e desigualdades regionais em saúde

20   CAPÍTULO 2 – Mortalidade infantil e materna em mães adolescentes
20   2.1 – Maternidade na adolescência
28   2.2 – Mortalidade infantil
34   2.3 – Mortalidade materna
37   2.4 – Resposta brasileira para o alcance dos ODM 4 e 5
40   2.4.1. Recursos públicos para o alcance dos ODM 4 e 5
41   2.4.2 - Principais iniciativas do governo federal para alcance dos ODM 4 e 5

44   CAPÍTULO 3 – Considerações Finais

48   NOTA TÉCNICA

50   REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil:




ÍNDICE DE GRÁFICOS
29     Gráfico 1 Gasto público federal na política de saúde e atenção básica | 2000-2010, em bilhões para 2010
37     Gráfico 2 Número médio anual de filhos por mulher por ano, por região | Brasil, 1991 a 2007
38     Gráfico 3 Nascidos vivos por ano | Brasil, 2000 a 2009
40     Gráfico 4 Taxa de fecundidade específica por grupo etário, por região | Brasil, 1996, 2000 e 2007
41     Gráfico 5 Nascidos vivos por residência da mãe, por região, gestantes adolescentes | Brasil, 2009
42     Gráfico 6 Taxa específica de fecundidade por grupo etário e por Região | Brasil, 2007
43     Gráfico 7 Distribuição percentual de nascidos vivos por cor/raça e por idade de mães adolescentes | Brasil, 2009
44     Gráfico 8 Distribuição percentual de nascidos vivos por cor/raça e por idade da mãe | Brasil, 2009
45     Gráfico 9 Distribuição percentual de nascidos vivos por escolaridade e por idade da mãe | Brasil, 2009
52     Gráfico 10 Coeficiente de mortalidade Infantil por 1.000 nascidos vivos | Brasil, 1997 a 2007
53     Gráfico 11 Coeficiente de mortalidade Infantil e seus componentes por 1.000 nascidos vivos, Brasil, 1997 a 2007
55     Gráfico 12 Evolução do número de óbitos infantis segundo idade da mãe | Brasil, 1996 - 2008
56     Gráfico 13 Distribuição proporcional de óbitos infantis por ano do óbito por idade da mãe | Brasil, 1996-2008
57     Gráfico 14 Proporção de nascidos vivos por idade da mãe e peso ao nascer | Brasil, 2008
58     Gráfico 15 Óbitos infantis segundo peso ao nascer por idade da mãe | Brasil, 2009
58     Gráfico 16 Óbitos infantis segundo duração da gestação por idade da mãe | Brasil, 2009
59     Gráfico 17 Distribuição proporcional de óbitos infantis por idade e por cor ou raça | Brasil, 2009
60     Gráfico 18 Nascidos Vivos por idade da mãe por acompanhamento pré-natal | Brasil, 2009
61     Gráfico 19 Coeficiente de mortalidade materna: óbitos maternos por 100.000 nascidos vivos | Brasil, 1990 a 2007
64     Gráfico 20 Óbitos mulheres idade fértil por faixa etária e por categoria CID-10 relacionadas a aborto | Brasil, 2008
64     Gráfico 21 Óbitos por gravidez, parto e puerpério segundo CID-10 e seus componentes relacionados ao aborto | Brasil,
2008
70     Gráfico 22 Evolução da cobertura da Estratégia Saúde da Família | Brasil, 1998-2005/2006
70     Gráfico 23 Evolução da cobertura da Estratégia Saúde da Família por região | Brasil, 1998-2005/2006
73     Gráfico 24 Humanização do SUS - 2004-2010, em milhões para 2010
77     Gráfico 25 Políticas orçamentárias identificadas como iniciativas do governo federal, em R$ milhões para 2010




ÍNDICE DE QUADROS
32     Quadro 1 Médicos, enfermeiros, leitos, partos hospitalares e domiciliares segundo região | Brasil, 2005 a 2006
33     Quadro 2 Distribuição percentual de nascidos vivos, segundo características da assistência recebida durante o pré-natal,
       segundo macrorregiões
39     Quadro 3 Percentual de nascidos vivos, segundo os grupos de idade da mãe | Brasil, 2000-2009
54     Quadro 4 Coeficiente de mortalidade infantil e seus componentes por 1.000 nascidos vivos, por região | Brasil, 2007
62     Quadro 5 Óbitos maternos por faixa etária segundo Região | Brasil, 2009
65     Quadro 6 Procedimentos hospitalares do SUS - por local de residência | Brasil, 2008 a 2010
68     Quadro 7 Proporção de consultas de pré-natal por região | Brasil, 2007
71     Quadro 8 Equipes, pessoas atendidas, famílias acompanhadas e atendimento pré-natal no PSF por região no mês de novembro
       de 2010
um olhar especial para os filhos de mães adolescentes




GLOSSÁRIO
ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias            Nasf Núcleo de Apoio à Saúde da Família
AIDPI Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância       NV Nascidos Vivos
BPN Baixo Peso ao Nascer                                         ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
CID Código Internacional de Doenças                              OMS Organização Mundial de Saúde
CMI Coeficiente de Mortalidade Infantil                          OPAS Organização Pan-americana da Saúde
CMM Coeficiente de Mortalidade Materna                           Pacs Programa de Agentes Comunitários de Saúde
Conprof Cadastro de Profissionais de Saúde                       Paics Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança
CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira       PHPN Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento
DASIS Departamento de Análises                                   PIB Produto Interno Bruto
Datasus Departamento de Informática do SUS                       PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Degerts Departamento de Gestão e de Regulação do Trabalho        PNAISM Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
 em Saúde                                                        PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde
DF Distrito Federal                                              PNI Programa Nacional de Imunização
DSS Determinantes Sociais da Saúde                               PPA Plano Plurianual
EC Emenda Constitucional                                         PSE Programa Saúde na Escola
ECA Estatuto da Criança e Adolescência                           PSF Programa Saúde da Família
ESF Estratégia Saúde da Família                                  Samu Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
Febrasgo Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia       SGTES Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
FHC Fernando Henrique Cardoso (presidente do Brasil no período   SIAB Sistema de Informação da Atenção Básica
 de 1995 a 2002)                                                 Sigplan Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento
GM/MS Gabinete do Ministro/ Ministério da Saúde                  SIH/SUS Sistema de Informações Hospitalares do SUS
HIV Human Imunodeficiency Virus (em português Vírus da           SIM Sistema de Informação de Mortalidade
 Imunodeficiência Humana)
                                                                 Sinasc Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos
IDB Indicadores de Dados Básicos
                                                                 SUS Sistema Único de Saúde da Situação de Saúde
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
                                                                 TEF Taxa Especifica de Fecundidade
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
                                                                 UCI Unidade de Cuidado Intensivo
IPCA Índice de Preços ao Consumidor Amplo
                                                                 Unicef Fundo das Nações Unidas para a Infância
Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
                                                                 UTI Unidade de Tratamento Intensivo
LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias
                                                                 VMB Visão Mundial Brasil
LOA Lei Orçamentária Anual
                                                                 WVI World Vision International
LRF Lei de Responsabilidade Fiscal
MS Ministério da Saúde
Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil:




RESUMO EXECUTIVO
Apesar dos grandes avanços alcançados pela huma-        entre 15 e 19 anos e 627 filhas de adolescentes com
nidade no último século, a distribuição de conquis-     menos de 14 anos. Somados, esses óbitos corres-
tas tem se realizado de forma desigual. A pobreza e     pondem a 20% do total de mortes. Os dados sobre
questões a ela relacionadas ainda estão presentes       a mortalidade materna para esta faixa etária revelam
de forma alarmante em várias partes do mundo, em        que em 2009 morreram em decorrência de compli-
especial nos países em desenvolvimento. Os oito         cações da gravidez, parto ou puerpério 236 gestan-
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio                 tes com menos de 19 anos (dados SIM/ Sinasc).
(ODM) foram lançados, em 2000, como forma de                 O acompanhamento adequado durante o pré-
comprometer coletivamente líderes mundiais com          natal e parto garante às gestantes adolescentes e
a redução da pobreza e de suas causas.                  seus bebês condições adequadas de sobrevivência.
    A partir dos debates e compromissos gerados              O SUS tem como grande desafio, dentre tantos
pelos oito ODM, em particular os objetivos 4 e          outros, a necessidade de pensar o atendimento uni-
5 (reduzir a mortalidade na infância e melhorar a       versal, mas tendo como eixo condutor a integrali-
saúde materna), e tendo como base o contexto            dade e a equidade. Desta forma, o enfoque na atua-
da saúde materno-infantil no país, a Visão Mundial      ção junto a gestantes adolescentes numa campanha
Brasil optou em participar também da Campa-             para a redução da mortalidade infantil e materna
nha Global Child Health Now (Saúde para                 reconhece a importância de dar visibilidade aos as-
as Crianças Agora) lançada pela Visão Mundial           pectos específicos deste grupo que hoje representa
Internacional em 2009.                                  mais de 20% das gestantes brasileiras.
    Embora a mortalidade infantil no Brasil tenha            A Visão Mundial Brasil tem convivido com an-
declinado em todas as regiões brasileiras, o que        seios, sonhos, dificuldades e contradições vivencia-
pode em muitos aspectos inspirar e incentivar           das por adolescentes e jovens brasileiros. Ao focar
outros países que compõem a campanha global,            a Campanha Saúde para as Crianças Primeiro na mor-
um olhar mais aproximado da realidade brasileira        talidade infantil de filhos de mães adolescentes, a
mostrará o quanto as desigualdades impactam ne-         VMB atua em questão relevante, atual e coerente
gativamente as possibilidades de sucesso de inter-      com o trabalho que tem realizado no país.
venções pela melhoria do quadro de mortalidade               É preciso ter garantias de que cada gestante e
infantil e materna.                                     cada criança tenha acesso a todo cuidado e tecnolo-
    A Campanha Saúde para as Crianças Pri-              gia necessários em cada caso em particular a partir
meiro no Brasil terá como foco a mortalidade            do conhecimento da rede de serviço regional. No
infantil de filhos de mães adolescentes. O cami-        âmbito local, deve ser identificada a capacidade de
nho percorrido para a identificação desse foco foi      formalizar fluxos de referência e contrarreferência,
marcado por uma questão importante: Afinal, por         incluindo a articulação com serviços de urgências e
que crianças ainda morrem por causas evitáveis no       centrais de regulação de leitos.
Brasil?                                                      O adequado acompanhamento do pré-natal, par-
    Existe um consenso de que os níveis de morta-       to e puerpério das gestantes adolescentes tem grande
lidade infantil no Brasil ainda são elevados e incom-   potencial de impacto nas reduções da mortalidade in-
patíveis com sua posição econômica. Para além de        fantil e materna, através da prevenção de intercorrên-
alcançar as metas do milênio referentes à saúde,        cias obstétricas tais como a prematuridade e o baixo
coloca-se como indispensável descobrir não só           peso ao nascer.
por que morrem estas crianças, mas também onde,              No que compete ao pré-natal, será importante
quando e como evitar tais mortes. Assim, sob as         promover diálogos no sentido de aprofundar a re-
lentes da equidade e na perspectiva da prioridade,      flexão sobre interseções e articulações dentro do
tornou-se pauta a gravidez na adolescência.             setor saúde e também com outros setores, procu-
    Dados do Ministério da Saúde demonstram que         rando Identificar o que já existe e pode ser poten-
no ano de 2009, das 42.684 crianças menores de um       cializado, criar mais pontes entre programas e ações
ano que morreram, 7.917 eram filhas de gestantes        de saúde, identificar a forma mais correta de atender

                                                                                                             6|   Visão Mundial Brasil
um olhar especial para os filhos de mães adolescentes




as especificidades da gravidez na adolescência no contexto de           Motivos para priorizar o acompanhamento
expansão da atenção básica e aprofundar ainda os debates so-            à gravidez na adolescência no Brasil:
bre o financiamento de tais ações.                                      ■ A cada cinco crianças que morrem no Brasil por ano
     É possível e necessário conciliar maternidade e paterni-             uma é filha de mãe adolescente;
dade na adolescência com um bom desempenho na escola e                  ■ Gestantes adolescentes apresentam maior risco de dar
na vida familiar, se houver apoio e orientação. Deve-se para              à luz bebês prematuros e de baixo peso;
tanto potencializar as oportunidades aos adolescentes, garan-           ■ Quando a gestação ocorre durante a adolescência todas
tindo o direito à educação, à cultura, à segurança e o direito            as repercussões da pobreza são potencializadas;
                                                                        ■ A gravidez em menores de 14 anos representa desafios
de sonhar e planejar seu futuro.
                                                                          no campo da saúde e é considerada crime se o pai da
     Quanto às gestantes menores de 14 anos, é preciso criar
                                                                          criança for adulto;
estratégias de acompanhamento específico. O serviço de saúde
                                                                        ■ A gestação na adolescência pode repercutir nas condi-
precisa estar preparado para acolher e oferecer espaço para
                                                                          ções de gestações futuras;
que essas jovens possam expressar seus sentimentos, esclare-            ■ É possível conciliar maternidade e paternidade de ado-
cer suas dúvidas e receber encaminhamentos precisos (BRA-                 lescentes e jovens com um bom desempenho na escola
SIL, 2010). A gravidez entre menores de 14 anos não pode ser              e na vida, desde que haja correto suporte;
uma preocupação apenas no setor saúde porque, em sendo                  ■ O atendimento pré-natal adequado é capaz de garan-
considerada violência sexual contra crianças e adolescentes,              tir resultados adequados da gestação na adolescência e
deverá ser tratada conforme a legislação nacional.                        prevenir a mortalidade infantil.
     Existem questões delicadas, mas de extrema relevância,
que precisam ser enfrentadas de forma mais concreta e pro-
positiva. Dentre essas, destaca-se que as tentativas de aborto      PPA 2004-2007, durante o governo do presidente Luís Inácio Lula
e repetição da gravidez durante a adolescência são questões         da Silva. Os recursos desse programa aumentaram R$ 4 bilhões em
preocupantes.                                                       6 anos, muito mais que o crescimento médio de toda a política de
     É, portanto, recomendável a criação de ações públicas es-      saúde. A Atenção Básica em Saúde, que engloba as ações do PSF,
pecíficas para cuidar da gestação na adolescência, incluindo        saúde bucal, do piso de atenção básica fixo e variável, principalmente,
atividades de educação em saúde destinadas ao planejamento          responde sozinha por 15,7% do total dos recursos investidos nessa
familiar e à promoção da saúde reprodutiva. Contudo, deve-          política de 2004 a 2010.
se atentar para a existência de uma tradição no desenvol-               Ainda que o montante destinado pelo governo federal para a polí-
vimento de ações prescritivas e, muitas vezes, autoritárias         tica de saúde tenha aumentado no período, não há informações dispo-
nesta área.                                                         níveis para avaliação da qualidade do serviço prestado. O poder público,
     Outra recomendação é ter máxima vigilância para que se-        mesmo gastando bilhões de reais na política de saúde, não consegue
jam mantidos os ganhos alcançados nos últimos anos com re-          garantir o direito humano à saúde com dignidade, que deveria obedecer
lação a mortalidade infantil pós-neonatal e que se identifiquem     aos critérios de equidade e universalidade do SUS.
os locais onde existem falhas neste sentido. Para tanto, é neces-       Os dados orçamentários indicam quanto o governo federal tem
sário atenção às ações de puericultura e pediatria, bem como        investido em ações públicas na redução da mortalidade infantil e ma-
às ações educativas e de apoio a maternidade. É fundamental         terna.Apesar dos avanços e da atenção que tais políticas têm recebido
ainda promover qualidade de vida e garantia de direitos para        na agenda federal, ainda há o que ser feito para que os ODM 4 e 5
o conjunto da população, ampliando o acesso a serviços de sa-       sejam atingidos pelo governo brasileiro.
neamento básico, de educação, de assistência social e de saúde.         Por fim, firma-se aqui o grande desafio de garantir o compromis-
     Os recursos públicos investidos na política de saúde au-       so de promover, qualificar e universalizar a atenção integral à saúde
mentaram bastante desde 1990, principalmente a partir de            da criança e da mulher. A Campanha Saúde para as Crianças Primeiro
2004, quando as políticas orçamentárias de saúde apresenta-         no Brasil adota a gravidez na adolescência como eixo condutor dos
ram maior transversalidade. Isso alterou consideravelmente os       debates sobre a garantia da qualidade da assistência à gestante e
valores investidos nos programas acompanhados nesse estudo.         criança, sem contudo, perder de vista o contexto mais global e a
     Nem o fim da CPMF, em 2007, atrapalhou o incremento            perspectiva da universalidade do direito à saúde. Equidade não é
de recursos que a política de saúde recebeu no período em           sinônimo de focalização excludente, é questão de justa prioridade a
análise. Grande responsável pelo aumento do gasto total nes-        quem mais precisa do serviço. A qualidade e integralidade do cuida-
sa política é o programa Atenção Básica em Saúde, criado no         do da gestante e da criança permanecem inscritas no direito à saúde.
Visão Mundial Brasil
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Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil:




APRESENTAÇÃO                                                                              A proposta de Promoção da Saúde
                                                                                          concebe a saúde como produção
                                                                                          social e, desta forma, engloba um
“Não se chegará jamais à paz com o mundo dividido                                         espaço de atuação que extrapola o
entre a abundância e a miséria, o luxo e a pobreza,                                       setor saúde, apontando para uma
o desperdício e a fome. É preciso acabar com essa                                         articulação com o conjunto dos
desigualdade social”                                                                      outros setores da gestão municipal e
                                                                                          para o estímulo da participação social.
                                 (Josué de Castro)



Apesar dos grandes avanços alcançados pela huma-       de acompanhamento das metas e análise situacio-
nidade no último século, a distribuição de conquis-    nal foi selecionado o período de 1990 a 2010.
tas tem se realizado de forma desigual. A pobreza e        Este documento, portanto, consiste no relatório
questões a ela relacionadas ainda estão presentes      preliminar do estudo, no qual, sob o entendimen-
de forma alarmante em várias partes do mundo, em       to de que as políticas públicas devem responder
especial nos países em desenvolvimento. Os oito        a demandas reais da sociedade, são apresentadas
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio                questões e reflexões acerca de algumas demandas
(ODM) foram lançados, em 2000, como forma de           e gargalos das ações públicas de garantia do direito
comprometer coletivamente líderes mundiais com         à saúde infantil e materna.
a redução da pobreza e de suas causas.                     Na Introdução, tem-se uma apresentação da
    A partir dos debates e compromissos gerados        situação atual das Metas e Objetivos do Milênio no
pelos oito ODM, em particular os objetivos 4 e         Brasil, da campanha no âmbito internacional e das
5 (reduzir a mortalidade na infância e melhorar a      opções e contornos da campanha brasileira.
saúde materna), e tendo como base o contexto               O Capítulo I versa sobre o Panorama da saú-
da saúde materno-infantil no país, a Visão Mundial     de no Brasil, apresentando a política pública de
Brasil optou em participar também da Campa-            saúde nacional. Reflete sobre os princípios do Sis-
nha Global Child Health Now (Saúde para                tema Único de Saúde (SUS), o contexto de saúde
as Crianças Agora) lançada pela Visão Mundial          brasileiro e apresenta dados do financiamento para
Internacional em 2009.                                 a saúde no país. Trava-se ainda um debate acerca da
    Sendo assim, a fim de fundamentar a campanha       desigualdade no Brasil, considerada como um dos
no Brasil, realizou-se um Estudo sobre as polí-        principais problemas frente à garantia do direito à
ticas públicas de proteção à saúde infantil e          saúde.
materna no Brasil, tendo como propósito apre-              A reflexão desenvolvida no Capítulo II, Morta-
sentar informações acerca das ações de atendimen-      lidade infantil e materna entre mães adoles-
to à saúde materno-infantil no país e fornecer sub-    centes, apresenta dados sobre a realidade brasilei-
sídios ao debate sobre possíveis formas de atuação     ra em relação a esse tema. Dialoga sobre as causas
frente à mortalidade infantil e materna.               da persistência de elevadas taxas de mortalidade
    Para tanto, buscou-se identificar o nível de in-   infantil e materna, sobre acesso a serviços e apre-
vestimento público em aspectos relacionados à co-      senta dados sobre a gestação na adolescência.
bertura e impacto das políticas públicas de prote-         Apresentam-se, em seguida, as Considera-
ção à saúde infantil e materna, mapeando políticas e   ções finais, com recomendações e ênfases para a
analisando causas da mortalidade infantil e materna.   campanha brasileira e suas ações de advocacy.
    A primeira fase desse estudo, apresentada nes-         Por fim, cabe acrescentar que não se tem a pre-
te documento, trata-se de uma análise documental       tensão de esgotar o tema, mas espera-se que este
a partir de publicações oficiais e de sistemas de      estudo possa contribuir para aprofundar o debate
informação públicos (dentre estes, o DATASUS e         em torno do assunto junto à sociedade civil e go-
SIGPLAN) sobre a saúde materno-infantil. Para fins     verno.

                                                                                                          8|   Visão Mundial Brasil
um olhar especial para os filhos de mães adolescentes




CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES
A análise da mortalidade infantil e materna no                         promoção da saúde e da integralidade da atenção.
Brasil apresentada neste documento parte de um                              A integralidade pressupõe a articulação do se-       “O que se opõe
conceito ampliado de saúde. A Organização Mun-                         tor saúde com outras políticas públicas com fins de       ao descuido e
dial de Saúde (OMS) vem, desde a década de 1970,                       repercutir na saúde e qualidade de vida dos indi-         ao descaso é o
                                                                       víduos. Alia-se, portanto, à proposta de Promoção
                                                                                                                                 cuidado. Cuidar
disseminando a noção de saúde como “um estado
                                                                                                                                 é mais do que
de completo bem-estar físico, mental e social”.                        da Saúde.
                                                                                                                                 um ato; é uma
    Essa perspectiva tem sido progressivamen-                               Para além deste enfoque, a integralidade passa
                                                                                                                                 atitude. Portanto,
te adotada nos discursos e práticas de saúde em                        pelo comportamento dos profissionais; pelas rela-         abrange mais que
substituição à clássica visão de saúde como “ausên-                    ções entre as equipes e com a rede de serviços;           um momento
cia de doença”. As Conferências Internacionais de                      pela formação profissional; pelas políticas públicas;     de atenção, de
Promoção da Saúde1 têm sido espaço de confirma-                        e pela organização de um sistema preparado para           zelo e de desvelo.
ção desta mudança. Neste cenário, passam a figurar                     ouvir, entender e, a partir daí, atender demandas         Representa
entre os temas prioritários nos debates de saúde                       e necessidades. Tais atributos corroboram também          uma atitude
a noção do direito, a relevância do combate à po-                      com a perspectiva da humanização da saúde, vis-           de ocupação,
breza, a promoção da justiça social e o combate às                     ta como um processo contínuo, que reflete sobre           preocupação, de
desigualdades e iniquidades, sobretudo no que diz                      atos, condutas e comportamentos.                          responsabilização
respeito ao acesso a serviços de saúde.                                     Na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde     e de envolvimento
                                                                       da Mulher, do Brasil, a noção dada à qualidade da
                                                                                                                                 afetivo com
    A partir dessa abordagem ampliada se reconhe-
                                                                                                                                 o outro.”
ce a multicausalidade do processo saúde-doença e                       atenção mostra-se diretamente relacionada à capa-
                                                                                                                                 (Boff 2000).
as análises passam a incorporar os efeitos de múl-                     cidade de garantir a humanização e a integralidade
tiplos determinantes e condicionantes que se ex-                       do cuidado. Humanização e qualidade da atenção
pressam em pelo menos três níveis:                                     são defendidas como essenciais para tornar as
    ■ Os gerais, que correspondem ao modo de                           ações resolutivas e satisfatórias, para promover a
      vida da sociedade como um todo;                                  capacidade das mulheres em identificar e reivindi-
    ■ Os particulares, que são inerentes às condi-                     car seus direitos e para a promoção do autocuida-
      ções de vida do grupo;                                           do (Brasil, 2005).
    ■ E os singulares, que estão relacionados ao es-                        Pode-se ainda ter como síntese de indicadores de
      tilo de vida pessoal.                                            qualidade de assistência à gestante e ao recém-nascido,
                                                                       aqueles contidos no Plano de Humanização do Pré-na-
    Dessa forma, as condições de saúde e o estilo                      tal e na legislação complementar que trata de assuntos
de vida de cada grupo, família e pessoa relacionam-                    afins. São exemplos desta legislação complementar a
-se às suas formas de moradia e trabalho, aos há-                      Lei 11.634/2007 que dispõe sobre o direito da gestante
bitos, normas e valores, ao nível educacional e sua                    ao conhecimento e vínculo a maternidade onde será
participação na produção e distribuição de bens e                      assistida e a Lei 11.108/2005 que garante as parturien-
serviços.                                                              tes o direito à presença de acompanhante durante o
    No bojo das transformações ocasionadas por                         trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âm-
essa mudança de concepção emergem uma nova                             bito do Sistema Único de Saúde.
concepção de cuidado, bem como a valorização da                             Humanizar a atenção e garantir qualidade im-
1
    Conferências Internacionais de Promoção da Saúde: Ottawa           plica em reconhecimento de direitos, em partilha
    (1986); Adelaide (1988); Sundsvall (1991); Jacarta (1997). Em
    1992 foi realizada em Santafé de Bogotá e teve como enfoque a      de saberes e na garantia da escuta, do acolhimento
    América Latina, destacando uma conjuntura de deterioração das      e do respeito às especificidades (Brasil, 2005). Tais
    condições de vida da maioria da população, de aumento de riscos
    para a saúde e de redução de recursos para enfrentá-los (Brasil/   aspectos estão presentes também nas Diretrizes na-
    MS, 2001).                                                         cionais para a atenção integral à saúde de adolescentes
Visão Mundial Brasil
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Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil:



e jovens na promoção, proteção e recuperação da saú-
de (Brasil/ MS, 2010).                                       Princípios e diretrizes para a estruturação do
    Tendo em vista que o foco da Campanha Saúde              Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento
para as Crianças Primeiro, no Brasil, será a mortali-        (Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000)
dade infantil de filhos de mães adolescentes, cabe
ainda uma nota acerca da definição da adolescência.          a – toda gestante tem direito ao acesso a atendimento
Segundo a OMS, adolescência compreende o perí-
                                                                 digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto
                                                                 e puerpério;
odo entre os 10 aos 19 anos de idade. Essa divisão
                                                             b – toda gestante tem direito ao acompanhamento
etária é a adotada pelo Ministério da Saúde (MS) e
                                                                  pré-natal adequado de acordo com os princípios
tem como base os ciclos de vida, visando garantia
                                                                  gerais e condições estabelecidas no Anexo I desta
de atendimento adequado às especificidades rela-                  Portaria;
cionadas ao crescimento e desenvolvimento. Para              c – toda gestante tem direito de saber e ter assegurado
fins de análises, neste estudo também será adotada               o acesso à maternidade em que será atendida no
a faixa etária de 10 a 19 anos, visto tratar-se de um            momento do parto;
estudo no campo da saúde.                                    d – toda gestante tem direito à assistência ao parto
    Cabe, contudo, destacar que a Visão Mundial                   e ao puerpério e que esta seja realizada de forma
Brasil toma como base para a definição da ado-                    humanizada e segura, de acordo com os princípios
lescência o Estatuto da Criança e do Adolescente                  gerais e condições estabelecidas no Anexo II desta
(Lei 8.069/1990), que considera a adolescência o                  Portaria;
período entre 12 a 18 anos de idade incomple-                e – todo recém-nascido tem direito à assistência
                                                                 neonatal de forma humanizada e segura;
tos. O Estatuto tem se firmado como importante
                                                             f – as autoridades sanitárias dos âmbitos federal,
instrumento na defesa de direitos da criança e do
                                                                 estadual e municipal são responsáveis pela garantia
adolescente no Brasil e insere no âmbito das polí-
                                                                 dos direitos enunciados nas alíneas acima.
ticas públicas o “princípio da prioridade absoluta”
através do qual se afirma que:

   “É dever da família, da comunidade, da sociedade
   em geral e do poder público assegurar, com
                                                           volvimento. Assim, a saúde de crianças e adolescen-
   absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
                                                           tes é um direito firmado.
   referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
                                                               No que diz respeito a garantir o direito à vida e
   educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
                                                           à saúde das crianças e dos adolescentes previsto no
   à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
                                                           ECA, o Sistema Único de Saúde (SUS) deve assumir
   convivência familiar e comunitária” (Brasil, 1990).
                                                           seu mandato mediante a atenção integral à saúde.
    A Constituição brasileira incorporou a Doutri-             Para além das diferenças na definição cronoló-
na da Proteção Integral a partir da qual as crianças       gicas da adolescência observadas entre o SUS e o
e adolescentes são considerados como cidadãos,             ECA, deve-se reforçar a atuação conjunta e articu-
sujeitos de direitos e deveres, portadores de prio-        lada. Pensando que são diversos os contextos so-
ridade absoluta na elaboração e execução de polí-          cioculturais e as realidades vividas, caberia inclusive
ticas públicas e titulares de direitos especiais – em      falar em adolescências, e não apenas em adolescên-
virtude da condição peculiar de pessoas em desen-          cia (BRASIL, 2005).




                                                                                                               10 |   Visão Mundial Brasil
um olhar especial para os filhos de mães adolescentes




INTRODUÇÃO
A Campanha Saúde para as Crianças Primeiro da Visão Mundial                               ge, o quadro brasileiro em muito se assemelha ao perfil vivenciado
Brasil também considera os dados sobre mortalidade infantil e                             em países desenvolvidos há algumas décadas.Tal perfil associa-se a
materna nos países pobres tão relevantes quanto todas as outras                           um padrão de vida e de adoecimento dito moderno, identificado
emergências humanitárias que se colocam nas manchetes mun-                                comumente aos processos de industrialização e urbanização.
diais. Apenas seis países (Índia, Nigéria, República Democrática                              Contudo, a análise deste quadro é mais complexa. Em primei-
do Congo, Paquistão, China e Etiópia) juntos somam quase cinco                            ro lugar, as conquistas geradas por este tipo de desenvolvimento
milhões de mortes de crianças todos os anos.                                              não chegam de forma equânime a todas as pessoas, e, ainda assim,
     Por trás do quadro de desigualdades em termos de mortalida-                          atualmente os brasileiros, ricos ou pobres, estão mais expostos
de infantil e materna se esconde uma história de acesso desigual à                        a doenças como diabetes, hipertensão e câncer devido a fatores
assistência médica. Reduzir as discrepâncias de saúde entre ricos                         como alimentação, estresse e ao próprio envelhecimento popula-
e pobres teria, por isso, um impacto drástico nos índices gerais                          cional. Por outro lado, destaca-se que, de maneira constrangedora,
de mortalidade.                                                                           a desigualdade no Brasil conforma bolsões de pobreza e ilhas de
     Em muitos aspectos a situação brasileira pode inspirar e in-                         invisibilidade onde persistem as doenças infecciosas e parasitárias,
centivar outros países que compõem a campanha, contudo um                                 a anemia, a desnutrição e toda sorte de problemas em saúde que
olhar mais aproximado mostrará o quanto às desigualdades im-                              já deveriam ter sido eliminados.
pacta negativamente as possibilidades de sucesso de interven-                                 Face a essa realidade, a Campanha Saúde para as Crian-
ções pela melhoria do quadro de mortalidade infantil e materna.                           ças Primeiro no Brasil parte de uma questão importante: afinal,
     A mortalidade infantil no Brasil tem declinado em todas as                           por que crianças ainda morrem por causas evitáveis no Brasil?
regiões brasileiras. Entre as décadas de 1930 e 1990 acumulou                                 A fim de responder a essa questão, coloca-se como indispen-
uma redução de 71% para o país como um todo (Simnões &                                    sável descobrir não só por que morrem estas crianças, mas tam-
Monteiro, 2006), tendo como marco da queda mais intenso a                                 bém onde, quando e como evitar tais mortes. Assim, sob as lentes
década de 1960, quando a média nacional era de 117,0/1000 Nas-                            da equidade e na perspectiva da prioridade, tornou-se pauta da
cidos Vivos (NV) passando a 50,2/1000 NV (Barreto & Carmo,                                campanha a mortalidade infantil de filhos de mães adolescentes.
2007). Este percurso foi marcado por expressiva queda da mor-                                 Dados do Ministério da Saúde demonstram que a cada cinco
talidade infantil pós-neonatal, mas com persistência de elevada                           crianças que nascem por ano, uma é filha de gestante adolescen-
mortalidade neonatal.                                                                     te. No ano de 2009, das 42.684 crianças menores de um ano que
     Segundo o Ministério da Saúde2, em 2007 o CMI brasileiro                             morreram, 7.917 eram filhas de gestantes entre 15 e 19 anos
chegou a 19,3/1000 NV e prevê que o Brasil alcançará um índice                            e 627 filhas de adolescentes com menos de 14 anos. Somados,
de 14,4/ 1000 NV até 2012. Importante ressaltar que para atingir                          estes óbitos correspondem a 20% do total de mortes. Os dados
a Meta 04 das ODM o Brasil comprometeu-se com um CMI de                                   sobre a mortalidade materna para esta faixa etária revelam que
15,7 até 2015.                                                                            em 2009 morreram em decorrência de complicações da gravi-
     No que se refere à mortalidade materna, destaca-                                     dez, parto ou puerpério 236 gestantes com menos de 19 anos
se também uma redução progressiva do Coeficiente de Mortalidade                           (dados SIM/ Sinasc).
Materna (CMM) no Brasil que em 1990 era de 140/100 mil NV e em                                O acompanhamento adequado durante o pré-natal e parto ga-
2007 diminuiu para 75/100 mil NV (Ipea,2010).A meta do Brasil para o                      rante às gestantes adolescentes e seus bebês condições adequadas
5º ODM é alcançar a marca de 35/100mil NV até 2015.                                       de sobrevivência. O SUS tem como grande desafio, dentre tantos
     Além disso, é fato que o Brasil tem vivenciado importan-                             outros, a necessidade de pensar o atendimento universal, mas ten-
tes mudanças demográficas e epidemiológicas – o aumento                                   do como eixo condutor a integralidade e a equidade. Desta forma,
da expectativa de vida, a queda da mortalidade infantil, a dimi-                          o enfoque na atuação junto a gestantes adolescentes numa cam-
nuição da mortalidade por doenças infecciosas e, ao mesmo                                 panha para a redução da mortalidade infantil e materna reconhece
tempo, o aumento da obesidade, das doenças crônicas não-                                  a importância de dar visibilidade aos aspectos específicos deste
transmissíveis e da mortalidade por causas externas.Visto de lon-                         grupo que hoje representa 20% das gestantes brasileiras.
2
  http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=32203
&janela=1 Acesso em agosto de 2010.

Visão Mundial Brasil
                                    | 11
Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil:




CAPÍTULO 1
PANORAMA DA SAÚDE
NO BRASIL
1.1 – POlítICA de SAúde                                                                                                     Esta disputa de projetos é ain-
O estabelecimento de políticas públicas universais de saúde,                                                           da na atualidade um desafio ao
através do Sistema Único de Saúde (SUS), e melhorias nas con-                                                          estabelecimento de serviços que
dições de saneamento básico foram fatores fundamentais para                                                            sejam capazes de incorporar uni-
a queda da mortalidade infantil no Brasil.                                                                             versalidade e qualidade na mesma
     Com base na legislação do SUS, a saúde no Brasil passa                                                            equação. O resgate cotidiano dos
a ser tratada como direito universal, amparada por uma vas-                                                            princípios e diretrizes doutrinários
ta legislação cujo tripé principal é formado pela Constituição                                                         tem sido útil neste sentido.
Federal de 1988, pela Lei 8.080/1990 que dispõe sobre a pro-                                                                Os princípios da regionaliza-
moção, proteção e recuperação da saúde e sobre a organiza-                             ção e hierarquização estabelecem que o planejamento das ações
ção e funcionamento dos serviços correspondentes e pela Lei                            de saúde pública deve ser feito a partir do território e dos critérios
8.142/1990 que dispõe sobre a participação da comunidade e                             epidemiológicos, em regime de cooperação e articulação dos recur-
sobre transferência de recursos intergovernamentais no SUS.                            sos disponíveis – considerando a organização dos serviços segundo
     Fruto de um amplo movimento de participação popular, a                            níveis crescentes de complexidade, garantindo acesso a serviços que
proposta do SUS surge em resposta à grave crise de assistên-                           componham toda a complexidade requerida por cada caso e esta-
cia à saúde observada no país, sobretudo na década de 19703 e                          belecendo fluxos de referência e de contrarreferência. Com os prin-
ganha força com o fim do período de ditadura militar no Brasil,                        cípios da descentralização e do comando único, sustenta-se a
quando enfim o debate sobre o dever do Estado na garantia da                           necessidade de distribuir poderes e responsabilidades entre as três
saúde da população ganha ênfase no cenário político.                                   esferas de governo e com o princípio da participação popular
     Com o SUS fundam-se novas bases institucionais para o                             garante-se a manutenção dos mecanismos legais de Controle Social.
provimento das ações e serviços de saúde e, ao mesmo tem-                                  A universalidade, a equidade e a integralidade são diretrizes dou-
po, rompe-se com a visão predominante no período de saúde                              trinárias do SUS. O acesso às ações e serviços de saúde deve ser ga-
como “ausência de doença”, incorporando-se à legislação um                             rantido a todas as pessoas (princípio da universalidade). Contudo,
conceito ampliado que iguala saúde a qualidade de vida.                                apesar de todos terem esse direito, as pessoas não são iguais e, por
     Durante a década de 1990, assistiu-se a um amplo pro-                             isso, têm necessidades diferentes. É preciso “tratar desigualmente
cesso de regulamentação do SUS traduzido, sobretudo em                                 os desiguais”, investindo mais onde a carência é maior (princípio
normas operacionais, que ora confirmaram aspectos previstos                            da equidade). A rede de serviços de saúde deve estar atenta às
em sua gênese, ora desvirtuaram o seu desenho original. Essa                           necessidades reais da população a ser atendida, considerando todas
dualidade se explicada pelo contexto de implantação desta po-                          as dimensões do indivíduo (princípio da integralidade).
lítica: de um lado a reconstrução democrática do país e o res-                             Toda e qualquer ação, programa ou política engendrada no
gate da dívida social herdada em grande medida dos anos de                             contexto da saúde pública no Brasil obedece a esses mesmos prin-
ditadura, davam suporte à expansão de direitos sociais, entre                          cípios organizativos e diretrizes doutrinárias, incluindo-se neste
estes a saúde; por outro, a conjuntura mundial era de incentivo                        escopo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher,
ao ajuste estrutural da economia e à diminuição do Estado,                             bem como na legislação pertinente à atenção integral à saúde da
prescrevendo a contenção dos gastos públicos.                                          criança e adolescente.

3
    Neste período a ênfase estava na atenção individual, assistencialista e
    especializada, em detrimento das medidas de saúde pública, de caráter
    preventivo e de interesse coletivo. Como uma de suas consequências vivenciou-
    se um período de alarmantes índices de doenças infectocontagiosas, sobretudo
    nos meios urbanos. O desenvolvimento de um complexo médico-hospitalar
    privado – em grande parte financiado com recursos públicos a fundo perdido
    – e a contratação desses serviços com pouco controle criaram condições para
    que a corrupção e a crise financeira no setor chegassem a níveis insustentáveis.

                                                                                                                             12 |       Visão Mundial Brasil
um olhar especial para os filhos de mães adolescentes




    • Saúde como direito universal: “A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
      políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
      universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.” (Art. 196 da
      Constituição Federal de 5 de outubro de 1988)
    • Saúde: um conceito ampliado: “A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros,
      a alimentação, a moradia, o saneamento básico, a educação, o transporte, o lazer e o acesso a bens e serviços
      essenciais: os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país.”(Art.2º da
      Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990)
    • Controle social da política de saúde: “O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, é um
      órgão colegiado composto por representantes do governo, dos prestadores de serviço, profissionais de saúde
      e usuários e atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância
      correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe
      do poder legalmente constituído em cada esfera de governo.” (Art. 1º da Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990)


1.2 – ORçAMeNtO PúBlICO eM SAúde                                                         Nesse sentido, as informações financeiras sobre a política
O SUS é destinado a todos os cidadãos e é financiado com recur-                      de saúde auxiliam a destacar a importância de se promover a
sos arrecadados através de impostos e contribuições sociais pa-                      Campanha Saúde para as Crianças Primeiro, com foco
gos pela população e compõem os recursos do governo federal,                         no atendimento diferenciado às gestantes adolescentes na rede
estadual e municipal. A lei 8.142/1990 dispõe sobre tais recursos                    de saúde.
e sobre a participação da comunidade para efetivo controle so-                           Os dados orçamentários presentes nesse estudo represen-
cial da política de saúde nas três esferas de governo – municipal,                   tam os recursos aplicados pelo governo federal na política de
estadual e nacional4. Desta forma, fica estabelecido que o contro-                   saúde, executada na Função Saúde, por ser o maior nível de agre-
le social, ou participação da comunidade no SUS:                                     gação da despesa pública, pois leva em conta todas as ações rea-
                                                                                     lizadas pelo governo nessa área.
     “Abrange as práticas de fiscalização e de participação
                                                                                         O período em análise foi delimitado pela alteração meto-
     nos processos deliberativos relacionados à formulação de
                                                                                     dológica que sofreu o orçamento público no ano 2000, quando
     políticas de saúde e de gestão do SUS. (...) O SUS garante aos
                                                                                     entrou de vez em vigor no Brasil6 o “orçamento programa”, que
     estados, ao Distrito Federal e aos municípios autonomia para
                                                                                     obedece aos critérios da reforma gerencial do aparelho do Es-
     administrar os recursos da Saúde. Para isso, é preciso que cada
                                                                                     tado.
     esfera de gestão tenha seu Conselho de Saúde funcionando de
                                                                                         Assim, as classificações orçamentárias sofreram alteração a
     forma adequada. Ao Ministério da Saúde (MS) e às secretarias
                                                                                     partir do ano 2000, dificultando a comparação dos dados para o
     estaduais e municipais de Saúde cabe a implementação
                                                                                     período até a década de 1990. Na década de 1990, estava em vi-
     de mecanismos para a gestão e apoio ao fortalecimento do
                                                                                     gor no Brasil uma metodologia orçamentária que se concentrava
     controle social no SUS.”5
                                                                                     no controle político do gasto público, com maior importância aos
Pela ótica do orçamento público, espera-se visualizar qual a mo-                     níveis organizacionais responsáveis pela execução das políticas e
bilização dos recursos físicos e financeiros necessários ao finan-                   os custos, ou seja, as despesas que seriam realizadas. Consistia
ciamento dos bens e serviços fornecidos pelo Estado na política                      num rol de receitas e despesas sem nenhuma preocupação mais
de saúde.                                                                            aprofundada com o planejamento e a qualidade do gasto público.
     A importância do orçamento público não é apenas econô-                              A alteração na estrutura orçamentária implicou no direciona-
mica, mas principalmente política e social. O orçamento público                      mento das verbas públicas para a realização de metas, objetivos
indica quais direitos estão previstos, quais serão garantidos, pro-                  e resultados planejados. O orçamento público passaria a refletir
movidos ou defendidos pelo setor público.                                            em seus programas anuais os planos governamentais de desen-
4
  Os mecanismos institucionalizados para participação e controle social no SUS são   volvimento econômico e social de longo prazo, como os planos
  os Conselhos de Saúde e as Conferências que devem ter composição paritária,
  ou seja, 50% das vagas são reservadas aos usuários e os outros 50% distribuídos
                                                                                     de políticas públicas discutidos em Conferências Nacionais, os
  entre trabalhadores de saúde e entre gestores e prestadores de serviços públicos   acordos e tratados nos quais o Brasil é signatário e os pactos e
  e privados. Os Conselhos são órgãos deliberativos, de caráter permanente,
  composto com a representatividade de toda sociedade e devem ser criados por        resoluções que determinam a forma de execução das políticas
  lei do respectivo âmbito de governo. As Conferências de Saúde são fóruns com       públicas.
  representação de vários segmentos sociais que se reúnem para propor diretrizes,
  avaliar a situação de saúde e ajudar na definição da política de saúde.            6
                                                                                         Para o governo federal, estados e Distrito Federal. Os municípios passam a adotar o
5
  www.saude.gov.br/susdeaz/topicos/ . Acesso em 24 de outubro de 2007.                   orçamento programa a partir de 2002. (BRASIL, 1999).

Visão Mundial Brasil
                                  | 13
Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil:



    Essa alteração proporcionou um entendimento mais simples                                   física ou jurídica o acesso a informações refe-
da lógica de programação e execução da despesa pública. Foi pos-                               rentes a (incluído pela Lei Complementar nº
sível a promoção de iniciativas que promovem a transparência e o                               131, de 2009):
acesso às informações públicas. A transparência dos atos públicos                                   I – quanto à despesa: todos os atos prati-
é considerada um dos principais instrumentos de melhoria da efi-                               cados pelas unidades gestoras no decorrer
ciência e efetividade do governo. Ela tanto previne quanto pugna a                             da execução da despesa, no momento de sua
corrupção, além de aperfeiçoar a base de conhecimentos sobre os                                realização, com a disponibilização mínima dos
quais as políticas públicas são decididas, elaboradas e executadas.                            dados referentes ao número do corresponden-
    A falta de transparência e a dificuldade de acesso às informa-                             te processo, ao bem fornecido ou ao serviço
ções públicas, bem como a inexistência de canais de participação                               prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária
da sociedade civil no processo de elaboração e discussão das                                   do pagamento e, quando for o caso, ao proce-
leis orçamentárias dificultam o monitoramento e a capacidade                                   dimento licitatório realizado (incluído pela Lei
de intervenção por parte da sociedade na elaboração e execução                                 Complementar nº 131, de 2009).
da agenda pública.                                                                                  II – quanto à receita: o lançamento e o rece-
    Os canais de participação e o acesso às informações que pro-                               bimento de toda a receita das unidades gesto-
piciam o controle social são descritos:                                                        ras, inclusive referente a recursos extraordiná-
    ■ Nos arts. 48 e 48-A da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)7:                            rios (incluído pela Lei Complementar nº 131, de
                   Art. 48. São instrumentos de transparência da                               2009). (BRASIL, 2000).
                   gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulga-
                   ção, inclusive em meios eletrônicos de acesso              ■ No Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001): o seu art. 44
                   público: os planos, orçamentos e leis de diretri-            pressupõe a participação social como condição para apro-
                   zes orçamentárias; as prestações de contas e o               vação do orçamento municipal ao afirmar que “no âmbito
                   respectivo parecer prévio; o Relatório Resumi-               municipal, a gestão orçamentária participativa incluirá a rea-
                   do da Execução Orçamentária e o Relatório de                 lização de debates, audiências e consultas públicas sobre as
                   Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses             propostas do PPA, da LDO e da LOA, como condição para
                   documentos.                                                  sua aprovação pela Câmara Municipal”.
                       Parágrafo único. A transparência será asse-            ■ No caso específico da política de saúde, a participação so-
                   gurada também mediante: (Redação dada pela                   cial também está prevista na Lei 8.142, de 28 de dezembro
                   Lei Complementar nº 131, de 2009).                           de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade
                       I – incentivo à participação popular e rea-              na gestão do SUS, e também, sobre a descentralização dos
                   lização de audiências públicas, durante os pro-              recursos financeiros na área de saúde.
                   cessos de elaboração e discussão dos planos, lei
                   de diretrizes orçamentárias e orçamentos; (In-      O sistema mais avançado e confiável de acesso às informações
                   cluído pela Lei Complementar nº 131, de 2009).      orçamentárias e financeiras do governo federal é o Siga Brasil8,
                       II – liberação ao pleno conhecimento e          implementado e alimentado pela Consultoria de Orçamento do
                   acompanhamento da sociedade, em tempo               Senado Federal. Ele permite a qualquer indivíduo, por meio da
                   real, de informações pormenorizadas sobre a         Internet, acesso amplo e facilitado a diversas informações sobre
                   execução orçamentária e financeira, em meios        o processo de elaboração e execução dos planos e orçamentos
                   eletrônicos de acesso público (incluído pela Lei    públicos do governo federal, com dados atualizados até a véspera
                   Complementar nº 131, de 2009).                      do acesso. É possível consultar dados desde o ano de 2001.
                       III – adoção de sistema integrado de admi-          Sendo assim, o período de acompanhamento do gasto públi-
                   nistração financeira e controle, que atenda a       co federal na política de saúde nesse estudo é de 2001 a 20109,
                   padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo        compreendendo a primeira década do século XXI. Para efeitos
                   Poder Executivo da União e ao disposto no art.      de comparação dos valores executados no período, os valores
                   48-A (incluído pela Lei Complementar nº 131,        foram atualizados para o ano de 2010 pela inflação média anual
                   de 2009).                                           pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mensurado
                       Art. 48-A. Para os fins a que se refere o       pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por ser
                   inciso II do parágrafo único do art. 48, os entes   o índice oficial de inflação do governo.
                   da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa     8
                                                                           www.senado.gov.br
7
    Lei complementar 101/2000.                                         9
                                                                           Valores atualizados até 10/01/2011.

                                                                                                                  14 |      Visão Mundial Brasil
um olhar especial para os filhos de mães adolescentes



    Mas de nada adiantam iniciativas de transparência do gasto             O planejamento do gasto público é expresso por meio de
público sem instâncias que promovam controle social e enfo-            programas e ações na lei do Plano Plurianual (PPA). Existe uma
quem a participação na construção da agenda pública. A popula-         grande distância entre aquilo que é descrito em planos de políti-
ção tem o dever e o direito de cobrar resultados da utilização do      cas públicas, em acordos ou definições de pactos, de resoluções
dinheiro público e garantir a implementação de ações adequadas         e como são planejados, executados e estruturados os programas
às realidades enfrentadas pela população frente à diversidade cul-     orçamentários.
tural, regional e social encontrada no Brasil. A participação social       Esse entrave administrativo dificulta bastante a participação
é fundamental para melhor alocação de recursos públicos nas            e controle social dos recursos públicos, pois não é fácil visualizar
ações governamentais.                                                  no orçamento público as iniciativas governamentais presentes
    No entanto, é necessária uma participação qualificada, capaz       em planos, pacto, resoluções etc.
de pautar as ações dos governos e não ter sua luta tolhida pelos           O financiamento da saúde é previsto na promulgação da
órgãos, ou organismos nacionais ou internacionais, para que as         Emenda Constitucional 29, de 14 de setembro de 2000. Essa
políticas públicas sociais cumpram seu papel.                          emenda alterou o Art. 167 da Constituição Federal, passando a
    Por isso, a participação social torna-se imprescindível para a     permitir a vinculação de receita de impostos às despesas com
qualidade na prestação dos serviços de saúde pelo poder público.       ações e aos serviços de saúde, e acrescentou o Art. 77 ao Ato
Apesar de a lei do SUS representar um grande avanço do ponto           das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) do texto
de vista da gestão e execução da política de saúde, somente com        constitucional para assegurar os recursos mínimos para o finan-
uma sociedade ativa, que fiscaliza seus direitos é possível promo-     ciamento das ações e serviços públicos de saúde.
ver uma política pública de saúde efetiva, que respeite os direitos        Até a final regulamentação da EC 29, o montante mínimo
humanos e os cidadãos como beneficiários do sistema público.           que o governo federal deve aplicar na política de saúde au-
    É a participação social, pautada na capacidade de mobilização      menta de um ano para o outro conforme variação nominal
da Campanha Saúde para as Crianças Primeiro, que poderá                do PIB. Para estados e Distrito Federal, os recursos mínimos
fomentar um atendimento diferenciado a gestantes adolescentes,         serão equivalentes a 12% da arrecadação de impostos e das
ajudando a prevenir a mortalidade infantil e materna nessa faixa       transferências constitucionais, deduzidas as parcelas que forem
etária específica no Brasil.                                           transferidas aos municípios. No caso dos municípios, os recur-
    Papel importante na mobilização dessa campanha é exercido          sos mínimos deverão ser equivalentes a 15% da arrecadação
pelos conselhos de saúde, de educação e da criança, como media-        de impostos e dos recursos de transferências constitucionais.
dores entre a população e estas políticas. Eles podem contribuir       A regulamentação da EC 29 está em discussão no Congresso
por meio de resoluções e nas conferências nacionais, em conso-         Nacional e ainda não há previsão para sua aprovação.
nância com a lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990 que institui             Na lógica do SUS, os recursos públicos da área de saúde são
o Conselho de Saúde e a Conferência da Saúde como canais de            executados da União para estados e municípios via fundo a fun-
participação social na gestão do SUS.                                  do, em que esses recursos são geridos pelo conselho de saúde e
    Um dos pontos centrais da Constituição Federal de 1988, art.       alocados no fundo de saúde, seja estadual ou municipal.
204, II, é o fortalecimento da participação direta da população            Ao considerar todo o gasto público na área de saúde, obser-
através de suas organizações representativas na gestão pública,        va-se no gráfico 1 que, de maneira geral, houve um aumento con-
por meio dos conselhos de políticas públicas. Se funcionarem           siderável dos recursos aplicados pelo governo federal na área de
de maneira efetiva, os conselhos possuem grande capacidade de          saúde desde o primeiro orçamento aprovado pelo governo Lula,
reduzir a desigualdade socioeconômica e cultural da população          em 2004, após oscilações durante o governo Fernando Henrique
brasileira.                                                            Cardoso (FHC).
    Caso contrário, ganham força as práticas patrimonialistas e            O primeiro ano do governo Lula, em 2003, teve o orçamento
clientelistas para acesso a recursos públicos, políticas de troca de   aprovado em 2002, pelo governo FHC. Já a partir de 2004, du-
interesses, que deixam à margem os principais beneficiários das        rante o primeiro governo Lula, as políticas orçamentárias de saú-
políticas públicas.                                                    de apresentaram maior transversalidade, alterando bastante os
    Fortalecendo a democracia participativa por meio dos conse-        valores investidos nos programas acompanhados nesse estudo.
lhos de políticas públicas, em especial de crianças e adolescentes         A partir do ciclo do PPA 2004-2007, a política de saúde no
e de saúde, para que cumpram seu papel de maneira autônoma             governo Lula responde pela atuação nos seguintes eixos: atenção
e pública, é possível conscientizar a população e promover um          básica; média e alta complexidade; vigilância em saúde; assistência
atendimento diferenciado para adolescentes gestantes na rede           farmacêutica; e gestão do SUS.
de saúde.


Visão Mundial Brasil
                            | 15
Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil:



             Gráfico 1 Gasto público federal na política de Saúde e Atenção Básica – 2000-2010, em bilhões para 2010

                                      2º Governo FHC                  1º Governo Lula                     2º Governo Lula
                 65,00                                                                                                              12,00
                                                                                                                            63,59
                                                                                                                   62,68


                 60,00                                                                                                              11,00

                                                                                                          56,68

                                                                                                 54,61
                 55,00                                                                                                              10,00




                                                                                                                                           Atenção Básica
                                                                                        50,24
             Saúde




                 50,00                                                                                                              9,00

                                                                              47,06
                                                                     45,46
                 45,00                                                                                                              8,00
                                         43,21    42,88


                              39,60                        39,93
                 40,00                                                                                                              7,00




                 35,00                                                                                                              6,00
                              2000        2001    2002     2003       2004     2005     2006      2007     2008     2009    2010
                                                            Saúde                               Atenção Básica

Fonte: Siga Brasil/ Senado Federal.


De acordo com informações dos Indicadores e Da-                    grama na política de saúde do governo federal,
dos Básicos (IDB)10, do ano de 2008, o gasto público               que engloba as ações do PSF, saúde bucal, do piso
com saúde representou, na média entre 2002 e 2006,                 de atenção básica fixo e variável, principalmente.
período em que as informações se encontram dispo-                       Os dados refletem que não houve uma queda
níveis para consulta, 3,3% do PIB por ano no período.              substancial dos recursos da saúde devido à revoga-
    A taxa média de crescimento do gasto público                   ção da Contribuição Provisória sobre Movimenta-
em saúde no final do governo FHC, no período de                    ção Financeira (CPMF) em 2007. Ao contrário, os
2000 a 2003, foi de 0,5% a.a., enquanto que em todo                recursos foram incrementados – aumentaram cerca
o governo Lula, de 2004 a 2010, essa taxa é bem                    de R$ 9 bilhões de 2007 a 2010. Assim, não é pos-
superior, atingindo 6,9% a.a., superior até à inflação             sível condicionar uma política de atendimento espe-
medida no período. No primeiro ano de planeja-                     cializado a adolescentes gestantes à necessidade de
mento orçamentário do governo Lula, 2004, o gasto                  criação de uma fonte de receita para seu financia-
público federal em saúde já era maior do que o do                  mento – recursos para isso já existem hoje em dia.
final do governo FHC.                                                   Ainda que o governo federal tenha alocado
    Grande responsável pelo aumento do gasto                       R$ 48,2 bilhões anuais, na média de 2000 a 2010,
total na política de saúde é o programa Atenção                    considerando a inflação medida pelo IPCA/IBGE
Básica em Saúde, criado no PPA 2004-2007, du-                      no período, não há informações disponíveis para
rante o governo Lula. Os recursos desse progra-                    avaliação da qualidade do serviço prestado.
ma aumentaram R$ 4 bilhões em 6 anos, com                               Mesmo com o governo federal gastando bi-
crescimento de 8,6% em média por ano, desde                        lhões de reais na política de saúde, não é possível
sua criação, muito mais que o crescimento mé-                      estimar quanto dinheiro é necessário para que a
dio de toda a política de saúde. A Atenção Básica                  política de saúde seja executada conforme o SUS,
em Saúde responde sozinha por 15,7% do total                       respeitando a universalidade e a equidade no aten-
dos recursos investidos nessa política de 2004 a                   dimento à população e garantindo qualidade a esse
2010. Isso demonstra a importância desse pro-                      atendimento para a população que demanda os
10
     www.datasus.gov.br/idb                                        serviços públicos de saúde.

                                                                                                                   16 |     Visão Mundial Brasil
um olhar especial para os filhos de mães adolescentes




           quadro 1 Médicos, enfermeiros, leitos, partos hospitalares e domiciliares segundo região | Brasil, 2005 a 2006
                     Variáveis                         Norte           Nordeste                Sudeste                 Sul            Centro-Oeste                 Brasil

     Médicos/1.000 hab (2006)                           0,92               1,06                    2,43               1,89                   1,83                    1,80
     Enfermeiros/1.000 hab (2006)                       0,90               0,67                    1,00               1,01                   1,56                    0,94
     Leitos/1.000 hab (2005)                            1,85               2,27                    2,44               2,76                   2,62                    2,41

     Proporção de partos hospitalares
                                                        91,53             96,38                   99,02               99,28                  99,22                  97,46
     (2007)

     Proporção de partos domiciliares
                                                        5,94               1,48                    0,23               0,23                   0,43                    1,24
     (2007)
Fontes: Ministério da Saúde/SGTES/Degerts/Conprof - Conselhos profissionais/2006
IBGE – Pesquisa Assistência Médico-Sanitária/2005
Ministério da Saúde – Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB/2007



1.3 – INIquIdAde e deSIguAldAdeS                                                      aleatório do momento do parto que sendo por si um fenômeno
RegIONAIS eM SAúde                                                                    natural, assume aspecto de emergência quando se considera que
Sem dúvida, o SUS representa uma vitória do ponto de vista das                        “o momento de ocorrência não pode ser perfeitamente previsto,
conquistas de políticas sociais e sua legislação tem sido referência                  e cujo processo, uma vez deflagrado, não pode ser muito pos-
para muitos países da América Latina. Contudo, no cotidiano popu-                     tergado [...]. Por outro lado, os partos também não podem ser
lar, o que se constata é que efetivar o direito à saúde de forma plena                livremente agendados” (MARINHO & CARODOSO, 2006:2).
e universal ultrapassa este estatuto legal.As desigualdades, tanto em                     Assim, um olhar atento às desigualdades de atenção e co-
termos de condições de vida quanto de oferecimento de serviços,                       bertura de serviços precisa ser incorporado. Para tomar um
ainda têm impactos constrangedores no direito à saúde no Brasil.                      exemplo, no Quadro 1 são apresentadas algumas variáveis re-
     No ano de 2006 o Ministério da Saúde lançou a série Pactos                       lacionadas a acesso a serviços e cuidados em saúde. Na região
pela Saúde (dentre estes o documento “Diretrizes para a Progra-                       Sudeste observa-se maior quantidade de médicos por 1.000 ha-
mação Pactuada e Integrada da Assistência à Saúde”11 ) como for-                      bitantes enquanto que na região Centro-Oeste observa-se maior
ma de reconhecer que passados quase 20 anos da institucionali-                        quantidade de enfermeiros por 1000 habitantes. A região Norte
zação do SUS persistiam iniquidades e desajustes no que tange à                       apresenta menor relação para médicos e para leitos por 1.000
distribuição e dimensionamento de serviços de saúde no Brasil,                        habitantes e também menor proporção de partos hospitalares.
prescrevendo uma ação reguladora do Estado para corrigir falhas                       A desigual distribuição de profissionais e equipamentos públicos
de distribuição e as desigualdades históricas entre as regiões.                       de saúde tem impactos na qualidade e quantidade da assistência
     A rede assistencial mostra-se fragmentada e desarticulada,                       prestada em algumas áreas e, desta forma, tal questão não pode
e, desta forma, a própria população “busca a solução para seus                        ser desconsiderada ao tratar-se de taxas de mortalidade.
problemas de saúde deslocando-se para os municípios-pólo das                              Com relação à saúde materno-infantil, os dados da PNDS/
regiões” (MS, 2006:7). Tais municípios acabam recebendo a de-                         200612 revelam que há um caminho no Brasil para a universa-
manda regional desordenadamente com consequente dificuldade                           lização do pré-natal e do parto hospitalar, contudo “[...] desi-
de acolhimento, inclusive das situações de urgência/emergência.                       gualdades regionais, sociais e econômicas seguem determinando
     Com relação às necessidades e intercorrências relacionadas                       importantes desigualdades na obtenção de cuidado adequado,
à gravidez, ao parto e puerpério, deve-se destacar que demoras e                      segundo parâmetros assistenciais mínimos” (Brasil, 2009a: 168).
peregrinações entre serviços podem se constituir em grave risco                           A PNDS/2006 revelou que 80% das gestantes realizaram ao
para a mãe e para o bebê. Em busca de atendimento as usuárias                         menos seis consultas ao longo do pré-natal. Quanto ao aleitamen-
podem extrapolar os limites do município de moradia seja em                           to materno, a PNDS/ 2006 demonstrou que, do total de crianças
busca de qualidade ou de pronto-atendimento. Por isso, o tempo                        pesquisadas, 95% haviam iniciado a amamentação, das quais 42,9%
de espera para atendimento é influenciado não só pelos serviços                       foram amamentadas na primeira hora. A proporção em aleitamen-
de saúde no nível municipal, mas também serão influenciados pela                      to exclusivo aos 2-3 meses aumentou de 26,4% em 1996 para
estrutura do SUS nos estados. Agrega-se a esta análise o caráter                      48,3% em 2006 (BRASIL, 2009a).
                                                                                      12
                                                                                           A terceira edição da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS/ 2006) foi
11
     Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Regulação,        realizada a partir de uma amostra representativa das cinco macrorregiões brasileiras e
     Avaliação e Controle de Sistemas. Diretrizes para a Programação Pactuada e            do contexto urbano e rural, com aproximadamente 15 mil mulheres e cerca de 5 mil
     Integrada da Assistência à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.                crianças menores de cinco anos, como amostragem. Esta pesquisa (BRASIL, 2009a).

Visão Mundial Brasil
                                    | 17
Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil:



    Essa pesquisa demonstrou ainda a persistência do modelo in-          atualmente têm sido abordadas a partir dos pressupostos dos
tervencionista de assistência ao parto, mas, ao mesmo tempo, um          Determinantes Sociais da Saúde (DSS)13. A mortalidade infantil
aumento do número de hospitais estruturados para a atenção               é um importante indicador de iniquidade no Brasil. Identifica-
humanizada. Isto é demonstrado pela alta proporção de cesa-              -se iniquidade, por exemplo, quando se verifica que uma criança
rianas no total de partos realizados no país (43,8%) e a pequena         que nasce no Nordeste tem probabilidade cinco vezes maior de

              quadro 2 Distribuição percentual de nascidos vivos, segundo características da assistência recebida
                                       durante o pré-natal, segundo macrorregiões.

          Indicador                    Norte          Nordeste         Sudeste                Sul             Centro-oeste                Brasil

 Fez pré-natal                             96,1         97,9             99,8                 99,4                  98,2                  98,7

 1a consulta no                            76,9         80,2             85,5                 87,6                  87,1                  83,6
 1º trimester
 1 ou + doses de vacina
 antitetânica na gestação                  85,0         87,8             67,6                 77,5                  79,0                  76,9
 do 1º filho

 Fez exame de sangue                       89,8         89,1             94,1                 89,2                  92,3                  91,5


 Fez exame de urina                        88,4         85,4             90,5                 76,1                  85,9                  86,6


 Tinha cartão de pré-natal                 97,1         94,1             95,7                 95,0                  92,8                  95,1

 Informada sobre a                         55,6         51,5             66,3                 73,6                  64,7                  61,9
 maternidade

 Fez 6 ou + consultas                      64,9         72,3             88,2                 87,5                  83,7                  80,9

Fonte: Brasil, 2009a/ dados da PNDS 2006


presença de acompanhante no momento do parto – menos de                  morrer antes de completar o primeiro ano de vida do que uma
10% das mulheres puderam contar com acompanhante. Chama                  criança nascida no sudeste; ou quando se observa que o filho de
a atenção ainda o fato de que uma grande parcela das gestantes           uma mulher com menos de quatro anos de estudo tem probabi-
brasileiras (mais de 40%) declarou não ter sido informada sobre          lidade três vezes maior de morrer antes dos cinco anos de idade
a maternidade em que seria atendida (Brasil, 2009a).                     do que uma criança cuja mãe tem oito anos de estudo14.
Esses dados revelam que ainda há muito no que se avançar em re-              Em termos de saúde materno-infantil examinar as iniquida-
lação à humanização do atendimento ao parto e pré-natal. Deve-se         des, estas desigualdades sistematicamente reproduzidas, precisa
reconhecer que é um grande avanço a existência de indicadores            ser um orientador permanente da análise das políticas públicas.
que permitem o monitoramento da atenção ao pré-natal e parto,            A pobreza mundial é especialmente discriminatória em relação
mas deve-se ressaltar que uma análise mais qualitativa, realizada        às mulheres e às crianças e estas ainda são altamente vulneráveis
com as usuárias dos serviços de saúde poderia trazer grandes ga-         aos avanços da pobreza.
nhos para tornar mais efetivas as ações propostas. Dentre outras             Um dos fatores que explicam a desigualdade social no país é
reflexões, um importante ponto a se problematizar é a alta cober-        a educação. Ela explica, sozinha, 48% da desigualdade de salários e
tura de atenção pré-natal, relacionando-a com sua qualidade.             cerca de 26% da desigualdade de renda. Um ano a mais de educa-
    Quanto à questão da gravidez na adolescência, os dados da            ção promove mudanças positivas na taxa de crescimento do PIB,
PNDS/ 2006, também revelam a relevância desta questão para               queda na taxa de mortalidade infantil e redução da proporção de
pensar políticas públicas e enfatizam as diferenças regionais: Nor-      pobres (Barros et al, 2001).
te e Nordeste apresentaram maior percentual de gestantes com                 O investimento em educação nos primeiros anos de vida é
menos de 20 anos (Brasil, 2009a).                                        um dos elementos centrais para redução das desigualdades so-
    Além da desigualdade de acesso aos serviços de saúde, outras         13
                                                                            Os DSS incluem as condições mais gerais socioeconômicas, culturais e ambientais
desigualdades impactam na saúde materno-infantil. No contexto               de uma sociedade, e relacionam-se com as condições de vida e trabalho de seus
                                                                            membros, como habitação, saneamento, ambiente de trabalho, serviços de saúde e
do SUS, as desigualdades decorrentes das condições sociais que
                                                                            educação, incluindo também a trama de redes sociais e comunitárias.
são injustas e inaceitáveis são tratadas como iniquidades – estas        14
                                                                            http://www.determinantes.fiocruz.br/acoes.asp

                                                                                                                     18 |        Visão Mundial Brasil
um olhar especial para os filhos de mães adolescentes



ciais, porém insuficiente se não houver articulação com outras         da erradicação da pobreza extrema e redução sustentável no
políticas públicas sociais, que gerem oportunidades de empre-          nível de desigualdade de renda brasileira.
go aos jovens, geração de renda às famílias e capazes de inserir            Para contribuir na efetivação da redução da desigualdade pe-
crianças e adolescentes em uma rede de proteção social dos seus        las políticas públicas é preciso repensar a relação entre Estado
direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais.         e sociedade civil, de forma que esta acompanhe e participe da
     A criação de oportunidades sociais por meio de serviços           elaboração, implementação e avaliação destas. A população tem
como educação básica, ou serviços de saúde, pode contribuir            o dever de cobrar resultados da utilização do dinheiro público e
para o desenvolvimento econômico e para uma redução signifi-           garantir que o Estado estabeleça metas sociais além dos já dados
cativa das taxas de mortalidade. A redução das taxas de morta-         compromissos econômicos.
lidade, por sua vez, pode ajudar a reduzir as taxas de natalidade,          Isso permitiria uma autonomia do país frente aos planos e
reforçando a influência da educação básica (em especial, alfabeti-     programas de políticas públicas impostos pelas Instituições Fi-
zação e escolaridade das mulheres) sobre o comportamento das           nanceiras Multilaterais, com a implementação de ações discutidas
taxas de fecundidade (Sen, 2000).                                      e elaboradas com o auxílio da sociedade civil, adequadas às rea-
           O combate à pobreza é outro fator que por si só tem         lidades enfrentadas pela população frente à diversidade cultural,
potencial de interferir positivamente nos índices de saúde infantil.   regional e social encontrada no Brasil. Teria ainda potencial para
As características da desigualdade brasileira, em conjunto com a       contribuir com a redução da dívida social por meio da execução
adoção de modelos neoliberais de desenvolvimento, fez surgir           de políticas públicas mais eficientes, eficazes e efetivas no com-
uma nova geração de políticas sociais, que não mais se resumiam        bate à desigualdade social em nosso país.
a ações assistencialistas pontuais, como no caso da fome e da               O Relatório Nacional de Acompanhamento dos ODM desta-
seca, mas integravam “[...] políticas e projetos que tenham efeitos    ca que a Meta 1 do Objetivo 1 (erradicação da extrema pobreza)
compensatórios àqueles que têm efeitos permanentes na renda            foi alcançada em 2007 e superada em 2008.A Meta 2 do Objetivo
dos pobres.” (Arbache, 2003: 5).                                       1 (redução à metade da proporção da população mundial que
     As políticas compensatórias representam uma das vertentes         passa fome), quando acompanhado através do indicador preconi-
de ação regulatória que visa enfrentar o mal-estar da exclusão so-     zado (baixo peso em crianças menores de quatro anos), também
cial. Essas políticas foram as grandes responsáveis pela forte queda   foi alcançada.
da desigualdade social encontrada no início da década de 2000               Segundo este documento, uma combinação de fatores con-
(Bursztyn, 2007).                                                      tribui para tais avanços: “estabilidade macroeconômica, o sistema
     Soares et al (2006) afirmam que a erradicação da pobreza e        de proteção social delineado pela Constituição de 1988 acresci-
a redução substancial dos níveis de desigualdade no Brasil dificil-    do de programas de transferência de renda que foram unificados
mente são atingidas sem que se recorra a mecanismos diretos de         e expandidos a partir de 2003/4 – e a valorização real do salário
distribuição da renda nacional.                                        mínimo” (Ipea, 2010: 30).
     No entanto, é preciso que as políticas de transferência de             Dito de outra forma e aproximando do tema em questão,
renda acompanhem políticas estruturantes efetivas, que tragam          cabe afirmar que, sem dúvida, o resultado positivo alcançado
consigo ações que promovam oportunidades para que as famílias          para o Objetivo 1 tem importante reflexo nos Objetivos 4 e 5.
beneficiadas busquem sua autonomia frente à definição do seu           Contudo, e ao mesmo tempo, deixa mais evidente a necessidade
bem-estar particular, que crie mecanismos que as levem para um         de aprimorar investimentos nas políticas públicas relacionadas
nível de renda que não mais precisem do benefício da transferên-       mais diretamente às causas imediatas da mortalidade materna e
cia de renda para garantir sua sobrevivência, contribuindo para        infantil, sobretudo a necessidade de aprimorar o atendimento ao
diminuir o número de famílias potenciais beneficiárias em busca        pré-natal, parto e puerpério.




Visão Mundial Brasil
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Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil para adolescentes
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Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil para adolescentes

  • 1. PARA AS CRIANÇAS PRIMEIRO Estudo sobre as Publicado em setembro de 2011 © Visão Mundial Brasil políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: um olhar especial para os filhos de mães adolescentes
  • 2. FICHA TÉCNICA CAMPANHA SAÚDE PARA AS CRIANÇAS PRIMEIRO | BRASIL Coordenação nacional: Maria Carolina da Silva Coordenação técnica: Neilza A. Buarque Costa Assessora de comunicação: Gidália Santana Comitê gestor da campanha: Celso Fernandes Karina Lira Maria Carolina da Silva Mauricio Cunha Neilza A. Buarque Costa Nilza Valéria Zacarias Sueli Catarina Welinton Pereira ESTUDO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROTEÇÃO À SAÚDE INFANTIL E MATERNA NO BRASIL | SETEMBRO DE 2011 Coordenação: Tânia Barbosa Redação: Francisco Sadeck e Juliana Casemiro Revisão técnica: Neilza Costa Colaboração: Karina Lira Diagramação: maquinavoadora dg Ilustração: João Vaz Fontes: As fontes bibliográficas são citadas dentro do documento Este material não pode ser reproduzido ou comercializado sem autorização expressa. Setembro, 2011. © Visão Mundial Brasil
  • 3. SUMÁRIO 5 GLOSSÁRIO 6 RESUMO EXECUTIVO 8 APRESENTAÇÃO 9 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 11 INTRODUÇÃO 12 CAPÍTULO 1 – Panorama de saúde no Brasil 12 1.1- Política de saúde 13 1.2 – Orçamento público em saúde 17 1.3 – Iniquidade e desigualdades regionais em saúde 20 CAPÍTULO 2 – Mortalidade infantil e materna em mães adolescentes 20 2.1 – Maternidade na adolescência 28 2.2 – Mortalidade infantil 34 2.3 – Mortalidade materna 37 2.4 – Resposta brasileira para o alcance dos ODM 4 e 5 40 2.4.1. Recursos públicos para o alcance dos ODM 4 e 5 41 2.4.2 - Principais iniciativas do governo federal para alcance dos ODM 4 e 5 44 CAPÍTULO 3 – Considerações Finais 48 NOTA TÉCNICA 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  • 4. Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: ÍNDICE DE GRÁFICOS 29 Gráfico 1 Gasto público federal na política de saúde e atenção básica | 2000-2010, em bilhões para 2010 37 Gráfico 2 Número médio anual de filhos por mulher por ano, por região | Brasil, 1991 a 2007 38 Gráfico 3 Nascidos vivos por ano | Brasil, 2000 a 2009 40 Gráfico 4 Taxa de fecundidade específica por grupo etário, por região | Brasil, 1996, 2000 e 2007 41 Gráfico 5 Nascidos vivos por residência da mãe, por região, gestantes adolescentes | Brasil, 2009 42 Gráfico 6 Taxa específica de fecundidade por grupo etário e por Região | Brasil, 2007 43 Gráfico 7 Distribuição percentual de nascidos vivos por cor/raça e por idade de mães adolescentes | Brasil, 2009 44 Gráfico 8 Distribuição percentual de nascidos vivos por cor/raça e por idade da mãe | Brasil, 2009 45 Gráfico 9 Distribuição percentual de nascidos vivos por escolaridade e por idade da mãe | Brasil, 2009 52 Gráfico 10 Coeficiente de mortalidade Infantil por 1.000 nascidos vivos | Brasil, 1997 a 2007 53 Gráfico 11 Coeficiente de mortalidade Infantil e seus componentes por 1.000 nascidos vivos, Brasil, 1997 a 2007 55 Gráfico 12 Evolução do número de óbitos infantis segundo idade da mãe | Brasil, 1996 - 2008 56 Gráfico 13 Distribuição proporcional de óbitos infantis por ano do óbito por idade da mãe | Brasil, 1996-2008 57 Gráfico 14 Proporção de nascidos vivos por idade da mãe e peso ao nascer | Brasil, 2008 58 Gráfico 15 Óbitos infantis segundo peso ao nascer por idade da mãe | Brasil, 2009 58 Gráfico 16 Óbitos infantis segundo duração da gestação por idade da mãe | Brasil, 2009 59 Gráfico 17 Distribuição proporcional de óbitos infantis por idade e por cor ou raça | Brasil, 2009 60 Gráfico 18 Nascidos Vivos por idade da mãe por acompanhamento pré-natal | Brasil, 2009 61 Gráfico 19 Coeficiente de mortalidade materna: óbitos maternos por 100.000 nascidos vivos | Brasil, 1990 a 2007 64 Gráfico 20 Óbitos mulheres idade fértil por faixa etária e por categoria CID-10 relacionadas a aborto | Brasil, 2008 64 Gráfico 21 Óbitos por gravidez, parto e puerpério segundo CID-10 e seus componentes relacionados ao aborto | Brasil, 2008 70 Gráfico 22 Evolução da cobertura da Estratégia Saúde da Família | Brasil, 1998-2005/2006 70 Gráfico 23 Evolução da cobertura da Estratégia Saúde da Família por região | Brasil, 1998-2005/2006 73 Gráfico 24 Humanização do SUS - 2004-2010, em milhões para 2010 77 Gráfico 25 Políticas orçamentárias identificadas como iniciativas do governo federal, em R$ milhões para 2010 ÍNDICE DE QUADROS 32 Quadro 1 Médicos, enfermeiros, leitos, partos hospitalares e domiciliares segundo região | Brasil, 2005 a 2006 33 Quadro 2 Distribuição percentual de nascidos vivos, segundo características da assistência recebida durante o pré-natal, segundo macrorregiões 39 Quadro 3 Percentual de nascidos vivos, segundo os grupos de idade da mãe | Brasil, 2000-2009 54 Quadro 4 Coeficiente de mortalidade infantil e seus componentes por 1.000 nascidos vivos, por região | Brasil, 2007 62 Quadro 5 Óbitos maternos por faixa etária segundo Região | Brasil, 2009 65 Quadro 6 Procedimentos hospitalares do SUS - por local de residência | Brasil, 2008 a 2010 68 Quadro 7 Proporção de consultas de pré-natal por região | Brasil, 2007 71 Quadro 8 Equipes, pessoas atendidas, famílias acompanhadas e atendimento pré-natal no PSF por região no mês de novembro de 2010
  • 5. um olhar especial para os filhos de mães adolescentes GLOSSÁRIO ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias Nasf Núcleo de Apoio à Saúde da Família AIDPI Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância NV Nascidos Vivos BPN Baixo Peso ao Nascer ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio CID Código Internacional de Doenças OMS Organização Mundial de Saúde CMI Coeficiente de Mortalidade Infantil OPAS Organização Pan-americana da Saúde CMM Coeficiente de Mortalidade Materna Pacs Programa de Agentes Comunitários de Saúde Conprof Cadastro de Profissionais de Saúde Paics Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira PHPN Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento DASIS Departamento de Análises PIB Produto Interno Bruto Datasus Departamento de Informática do SUS PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Degerts Departamento de Gestão e de Regulação do Trabalho PNAISM Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher em Saúde PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde DF Distrito Federal PNI Programa Nacional de Imunização DSS Determinantes Sociais da Saúde PPA Plano Plurianual EC Emenda Constitucional PSE Programa Saúde na Escola ECA Estatuto da Criança e Adolescência PSF Programa Saúde da Família ESF Estratégia Saúde da Família Samu Serviço de Atendimento Móvel de Urgência Febrasgo Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia SGTES Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde FHC Fernando Henrique Cardoso (presidente do Brasil no período SIAB Sistema de Informação da Atenção Básica de 1995 a 2002) Sigplan Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento GM/MS Gabinete do Ministro/ Ministério da Saúde SIH/SUS Sistema de Informações Hospitalares do SUS HIV Human Imunodeficiency Virus (em português Vírus da SIM Sistema de Informação de Mortalidade Imunodeficiência Humana) Sinasc Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos IDB Indicadores de Dados Básicos SUS Sistema Único de Saúde da Situação de Saúde IDH Índice de Desenvolvimento Humano TEF Taxa Especifica de Fecundidade IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística UCI Unidade de Cuidado Intensivo IPCA Índice de Preços ao Consumidor Amplo Unicef Fundo das Nações Unidas para a Infância Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada UTI Unidade de Tratamento Intensivo LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias VMB Visão Mundial Brasil LOA Lei Orçamentária Anual WVI World Vision International LRF Lei de Responsabilidade Fiscal MS Ministério da Saúde
  • 6. Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: RESUMO EXECUTIVO Apesar dos grandes avanços alcançados pela huma- entre 15 e 19 anos e 627 filhas de adolescentes com nidade no último século, a distribuição de conquis- menos de 14 anos. Somados, esses óbitos corres- tas tem se realizado de forma desigual. A pobreza e pondem a 20% do total de mortes. Os dados sobre questões a ela relacionadas ainda estão presentes a mortalidade materna para esta faixa etária revelam de forma alarmante em várias partes do mundo, em que em 2009 morreram em decorrência de compli- especial nos países em desenvolvimento. Os oito cações da gravidez, parto ou puerpério 236 gestan- Objetivos de Desenvolvimento do Milênio tes com menos de 19 anos (dados SIM/ Sinasc). (ODM) foram lançados, em 2000, como forma de O acompanhamento adequado durante o pré- comprometer coletivamente líderes mundiais com natal e parto garante às gestantes adolescentes e a redução da pobreza e de suas causas. seus bebês condições adequadas de sobrevivência. A partir dos debates e compromissos gerados O SUS tem como grande desafio, dentre tantos pelos oito ODM, em particular os objetivos 4 e outros, a necessidade de pensar o atendimento uni- 5 (reduzir a mortalidade na infância e melhorar a versal, mas tendo como eixo condutor a integrali- saúde materna), e tendo como base o contexto dade e a equidade. Desta forma, o enfoque na atua- da saúde materno-infantil no país, a Visão Mundial ção junto a gestantes adolescentes numa campanha Brasil optou em participar também da Campa- para a redução da mortalidade infantil e materna nha Global Child Health Now (Saúde para reconhece a importância de dar visibilidade aos as- as Crianças Agora) lançada pela Visão Mundial pectos específicos deste grupo que hoje representa Internacional em 2009. mais de 20% das gestantes brasileiras. Embora a mortalidade infantil no Brasil tenha A Visão Mundial Brasil tem convivido com an- declinado em todas as regiões brasileiras, o que seios, sonhos, dificuldades e contradições vivencia- pode em muitos aspectos inspirar e incentivar das por adolescentes e jovens brasileiros. Ao focar outros países que compõem a campanha global, a Campanha Saúde para as Crianças Primeiro na mor- um olhar mais aproximado da realidade brasileira talidade infantil de filhos de mães adolescentes, a mostrará o quanto as desigualdades impactam ne- VMB atua em questão relevante, atual e coerente gativamente as possibilidades de sucesso de inter- com o trabalho que tem realizado no país. venções pela melhoria do quadro de mortalidade É preciso ter garantias de que cada gestante e infantil e materna. cada criança tenha acesso a todo cuidado e tecnolo- A Campanha Saúde para as Crianças Pri- gia necessários em cada caso em particular a partir meiro no Brasil terá como foco a mortalidade do conhecimento da rede de serviço regional. No infantil de filhos de mães adolescentes. O cami- âmbito local, deve ser identificada a capacidade de nho percorrido para a identificação desse foco foi formalizar fluxos de referência e contrarreferência, marcado por uma questão importante: Afinal, por incluindo a articulação com serviços de urgências e que crianças ainda morrem por causas evitáveis no centrais de regulação de leitos. Brasil? O adequado acompanhamento do pré-natal, par- Existe um consenso de que os níveis de morta- to e puerpério das gestantes adolescentes tem grande lidade infantil no Brasil ainda são elevados e incom- potencial de impacto nas reduções da mortalidade in- patíveis com sua posição econômica. Para além de fantil e materna, através da prevenção de intercorrên- alcançar as metas do milênio referentes à saúde, cias obstétricas tais como a prematuridade e o baixo coloca-se como indispensável descobrir não só peso ao nascer. por que morrem estas crianças, mas também onde, No que compete ao pré-natal, será importante quando e como evitar tais mortes. Assim, sob as promover diálogos no sentido de aprofundar a re- lentes da equidade e na perspectiva da prioridade, flexão sobre interseções e articulações dentro do tornou-se pauta a gravidez na adolescência. setor saúde e também com outros setores, procu- Dados do Ministério da Saúde demonstram que rando Identificar o que já existe e pode ser poten- no ano de 2009, das 42.684 crianças menores de um cializado, criar mais pontes entre programas e ações ano que morreram, 7.917 eram filhas de gestantes de saúde, identificar a forma mais correta de atender 6| Visão Mundial Brasil
  • 7. um olhar especial para os filhos de mães adolescentes as especificidades da gravidez na adolescência no contexto de Motivos para priorizar o acompanhamento expansão da atenção básica e aprofundar ainda os debates so- à gravidez na adolescência no Brasil: bre o financiamento de tais ações. ■ A cada cinco crianças que morrem no Brasil por ano É possível e necessário conciliar maternidade e paterni- uma é filha de mãe adolescente; dade na adolescência com um bom desempenho na escola e ■ Gestantes adolescentes apresentam maior risco de dar na vida familiar, se houver apoio e orientação. Deve-se para à luz bebês prematuros e de baixo peso; tanto potencializar as oportunidades aos adolescentes, garan- ■ Quando a gestação ocorre durante a adolescência todas tindo o direito à educação, à cultura, à segurança e o direito as repercussões da pobreza são potencializadas; ■ A gravidez em menores de 14 anos representa desafios de sonhar e planejar seu futuro. no campo da saúde e é considerada crime se o pai da Quanto às gestantes menores de 14 anos, é preciso criar criança for adulto; estratégias de acompanhamento específico. O serviço de saúde ■ A gestação na adolescência pode repercutir nas condi- precisa estar preparado para acolher e oferecer espaço para ções de gestações futuras; que essas jovens possam expressar seus sentimentos, esclare- ■ É possível conciliar maternidade e paternidade de ado- cer suas dúvidas e receber encaminhamentos precisos (BRA- lescentes e jovens com um bom desempenho na escola SIL, 2010). A gravidez entre menores de 14 anos não pode ser e na vida, desde que haja correto suporte; uma preocupação apenas no setor saúde porque, em sendo ■ O atendimento pré-natal adequado é capaz de garan- considerada violência sexual contra crianças e adolescentes, tir resultados adequados da gestação na adolescência e deverá ser tratada conforme a legislação nacional. prevenir a mortalidade infantil. Existem questões delicadas, mas de extrema relevância, que precisam ser enfrentadas de forma mais concreta e pro- positiva. Dentre essas, destaca-se que as tentativas de aborto PPA 2004-2007, durante o governo do presidente Luís Inácio Lula e repetição da gravidez durante a adolescência são questões da Silva. Os recursos desse programa aumentaram R$ 4 bilhões em preocupantes. 6 anos, muito mais que o crescimento médio de toda a política de É, portanto, recomendável a criação de ações públicas es- saúde. A Atenção Básica em Saúde, que engloba as ações do PSF, pecíficas para cuidar da gestação na adolescência, incluindo saúde bucal, do piso de atenção básica fixo e variável, principalmente, atividades de educação em saúde destinadas ao planejamento responde sozinha por 15,7% do total dos recursos investidos nessa familiar e à promoção da saúde reprodutiva. Contudo, deve- política de 2004 a 2010. se atentar para a existência de uma tradição no desenvol- Ainda que o montante destinado pelo governo federal para a polí- vimento de ações prescritivas e, muitas vezes, autoritárias tica de saúde tenha aumentado no período, não há informações dispo- nesta área. níveis para avaliação da qualidade do serviço prestado. O poder público, Outra recomendação é ter máxima vigilância para que se- mesmo gastando bilhões de reais na política de saúde, não consegue jam mantidos os ganhos alcançados nos últimos anos com re- garantir o direito humano à saúde com dignidade, que deveria obedecer lação a mortalidade infantil pós-neonatal e que se identifiquem aos critérios de equidade e universalidade do SUS. os locais onde existem falhas neste sentido. Para tanto, é neces- Os dados orçamentários indicam quanto o governo federal tem sário atenção às ações de puericultura e pediatria, bem como investido em ações públicas na redução da mortalidade infantil e ma- às ações educativas e de apoio a maternidade. É fundamental terna.Apesar dos avanços e da atenção que tais políticas têm recebido ainda promover qualidade de vida e garantia de direitos para na agenda federal, ainda há o que ser feito para que os ODM 4 e 5 o conjunto da população, ampliando o acesso a serviços de sa- sejam atingidos pelo governo brasileiro. neamento básico, de educação, de assistência social e de saúde. Por fim, firma-se aqui o grande desafio de garantir o compromis- Os recursos públicos investidos na política de saúde au- so de promover, qualificar e universalizar a atenção integral à saúde mentaram bastante desde 1990, principalmente a partir de da criança e da mulher. A Campanha Saúde para as Crianças Primeiro 2004, quando as políticas orçamentárias de saúde apresenta- no Brasil adota a gravidez na adolescência como eixo condutor dos ram maior transversalidade. Isso alterou consideravelmente os debates sobre a garantia da qualidade da assistência à gestante e valores investidos nos programas acompanhados nesse estudo. criança, sem contudo, perder de vista o contexto mais global e a Nem o fim da CPMF, em 2007, atrapalhou o incremento perspectiva da universalidade do direito à saúde. Equidade não é de recursos que a política de saúde recebeu no período em sinônimo de focalização excludente, é questão de justa prioridade a análise. Grande responsável pelo aumento do gasto total nes- quem mais precisa do serviço. A qualidade e integralidade do cuida- sa política é o programa Atenção Básica em Saúde, criado no do da gestante e da criança permanecem inscritas no direito à saúde. Visão Mundial Brasil |7
  • 8. Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: APRESENTAÇÃO A proposta de Promoção da Saúde concebe a saúde como produção social e, desta forma, engloba um “Não se chegará jamais à paz com o mundo dividido espaço de atuação que extrapola o entre a abundância e a miséria, o luxo e a pobreza, setor saúde, apontando para uma o desperdício e a fome. É preciso acabar com essa articulação com o conjunto dos desigualdade social” outros setores da gestão municipal e para o estímulo da participação social. (Josué de Castro) Apesar dos grandes avanços alcançados pela huma- de acompanhamento das metas e análise situacio- nidade no último século, a distribuição de conquis- nal foi selecionado o período de 1990 a 2010. tas tem se realizado de forma desigual. A pobreza e Este documento, portanto, consiste no relatório questões a ela relacionadas ainda estão presentes preliminar do estudo, no qual, sob o entendimen- de forma alarmante em várias partes do mundo, em to de que as políticas públicas devem responder especial nos países em desenvolvimento. Os oito a demandas reais da sociedade, são apresentadas Objetivos de Desenvolvimento do Milênio questões e reflexões acerca de algumas demandas (ODM) foram lançados, em 2000, como forma de e gargalos das ações públicas de garantia do direito comprometer coletivamente líderes mundiais com à saúde infantil e materna. a redução da pobreza e de suas causas. Na Introdução, tem-se uma apresentação da A partir dos debates e compromissos gerados situação atual das Metas e Objetivos do Milênio no pelos oito ODM, em particular os objetivos 4 e Brasil, da campanha no âmbito internacional e das 5 (reduzir a mortalidade na infância e melhorar a opções e contornos da campanha brasileira. saúde materna), e tendo como base o contexto O Capítulo I versa sobre o Panorama da saú- da saúde materno-infantil no país, a Visão Mundial de no Brasil, apresentando a política pública de Brasil optou em participar também da Campa- saúde nacional. Reflete sobre os princípios do Sis- nha Global Child Health Now (Saúde para tema Único de Saúde (SUS), o contexto de saúde as Crianças Agora) lançada pela Visão Mundial brasileiro e apresenta dados do financiamento para Internacional em 2009. a saúde no país. Trava-se ainda um debate acerca da Sendo assim, a fim de fundamentar a campanha desigualdade no Brasil, considerada como um dos no Brasil, realizou-se um Estudo sobre as polí- principais problemas frente à garantia do direito à ticas públicas de proteção à saúde infantil e saúde. materna no Brasil, tendo como propósito apre- A reflexão desenvolvida no Capítulo II, Morta- sentar informações acerca das ações de atendimen- lidade infantil e materna entre mães adoles- to à saúde materno-infantil no país e fornecer sub- centes, apresenta dados sobre a realidade brasilei- sídios ao debate sobre possíveis formas de atuação ra em relação a esse tema. Dialoga sobre as causas frente à mortalidade infantil e materna. da persistência de elevadas taxas de mortalidade Para tanto, buscou-se identificar o nível de in- infantil e materna, sobre acesso a serviços e apre- vestimento público em aspectos relacionados à co- senta dados sobre a gestação na adolescência. bertura e impacto das políticas públicas de prote- Apresentam-se, em seguida, as Considera- ção à saúde infantil e materna, mapeando políticas e ções finais, com recomendações e ênfases para a analisando causas da mortalidade infantil e materna. campanha brasileira e suas ações de advocacy. A primeira fase desse estudo, apresentada nes- Por fim, cabe acrescentar que não se tem a pre- te documento, trata-se de uma análise documental tensão de esgotar o tema, mas espera-se que este a partir de publicações oficiais e de sistemas de estudo possa contribuir para aprofundar o debate informação públicos (dentre estes, o DATASUS e em torno do assunto junto à sociedade civil e go- SIGPLAN) sobre a saúde materno-infantil. Para fins verno. 8| Visão Mundial Brasil
  • 9. um olhar especial para os filhos de mães adolescentes CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES A análise da mortalidade infantil e materna no promoção da saúde e da integralidade da atenção. Brasil apresentada neste documento parte de um A integralidade pressupõe a articulação do se- “O que se opõe conceito ampliado de saúde. A Organização Mun- tor saúde com outras políticas públicas com fins de ao descuido e dial de Saúde (OMS) vem, desde a década de 1970, repercutir na saúde e qualidade de vida dos indi- ao descaso é o víduos. Alia-se, portanto, à proposta de Promoção cuidado. Cuidar disseminando a noção de saúde como “um estado é mais do que de completo bem-estar físico, mental e social”. da Saúde. um ato; é uma Essa perspectiva tem sido progressivamen- Para além deste enfoque, a integralidade passa atitude. Portanto, te adotada nos discursos e práticas de saúde em pelo comportamento dos profissionais; pelas rela- abrange mais que substituição à clássica visão de saúde como “ausên- ções entre as equipes e com a rede de serviços; um momento cia de doença”. As Conferências Internacionais de pela formação profissional; pelas políticas públicas; de atenção, de Promoção da Saúde1 têm sido espaço de confirma- e pela organização de um sistema preparado para zelo e de desvelo. ção desta mudança. Neste cenário, passam a figurar ouvir, entender e, a partir daí, atender demandas Representa entre os temas prioritários nos debates de saúde e necessidades. Tais atributos corroboram também uma atitude a noção do direito, a relevância do combate à po- com a perspectiva da humanização da saúde, vis- de ocupação, breza, a promoção da justiça social e o combate às ta como um processo contínuo, que reflete sobre preocupação, de desigualdades e iniquidades, sobretudo no que diz atos, condutas e comportamentos. responsabilização respeito ao acesso a serviços de saúde. Na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde e de envolvimento da Mulher, do Brasil, a noção dada à qualidade da afetivo com A partir dessa abordagem ampliada se reconhe- o outro.” ce a multicausalidade do processo saúde-doença e atenção mostra-se diretamente relacionada à capa- (Boff 2000). as análises passam a incorporar os efeitos de múl- cidade de garantir a humanização e a integralidade tiplos determinantes e condicionantes que se ex- do cuidado. Humanização e qualidade da atenção pressam em pelo menos três níveis: são defendidas como essenciais para tornar as ■ Os gerais, que correspondem ao modo de ações resolutivas e satisfatórias, para promover a vida da sociedade como um todo; capacidade das mulheres em identificar e reivindi- ■ Os particulares, que são inerentes às condi- car seus direitos e para a promoção do autocuida- ções de vida do grupo; do (Brasil, 2005). ■ E os singulares, que estão relacionados ao es- Pode-se ainda ter como síntese de indicadores de tilo de vida pessoal. qualidade de assistência à gestante e ao recém-nascido, aqueles contidos no Plano de Humanização do Pré-na- Dessa forma, as condições de saúde e o estilo tal e na legislação complementar que trata de assuntos de vida de cada grupo, família e pessoa relacionam- afins. São exemplos desta legislação complementar a -se às suas formas de moradia e trabalho, aos há- Lei 11.634/2007 que dispõe sobre o direito da gestante bitos, normas e valores, ao nível educacional e sua ao conhecimento e vínculo a maternidade onde será participação na produção e distribuição de bens e assistida e a Lei 11.108/2005 que garante as parturien- serviços. tes o direito à presença de acompanhante durante o No bojo das transformações ocasionadas por trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âm- essa mudança de concepção emergem uma nova bito do Sistema Único de Saúde. concepção de cuidado, bem como a valorização da Humanizar a atenção e garantir qualidade im- 1 Conferências Internacionais de Promoção da Saúde: Ottawa plica em reconhecimento de direitos, em partilha (1986); Adelaide (1988); Sundsvall (1991); Jacarta (1997). Em 1992 foi realizada em Santafé de Bogotá e teve como enfoque a de saberes e na garantia da escuta, do acolhimento América Latina, destacando uma conjuntura de deterioração das e do respeito às especificidades (Brasil, 2005). Tais condições de vida da maioria da população, de aumento de riscos para a saúde e de redução de recursos para enfrentá-los (Brasil/ aspectos estão presentes também nas Diretrizes na- MS, 2001). cionais para a atenção integral à saúde de adolescentes Visão Mundial Brasil |9
  • 10. Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: e jovens na promoção, proteção e recuperação da saú- de (Brasil/ MS, 2010). Princípios e diretrizes para a estruturação do Tendo em vista que o foco da Campanha Saúde Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento para as Crianças Primeiro, no Brasil, será a mortali- (Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000) dade infantil de filhos de mães adolescentes, cabe ainda uma nota acerca da definição da adolescência. a – toda gestante tem direito ao acesso a atendimento Segundo a OMS, adolescência compreende o perí- digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto e puerpério; odo entre os 10 aos 19 anos de idade. Essa divisão b – toda gestante tem direito ao acompanhamento etária é a adotada pelo Ministério da Saúde (MS) e pré-natal adequado de acordo com os princípios tem como base os ciclos de vida, visando garantia gerais e condições estabelecidas no Anexo I desta de atendimento adequado às especificidades rela- Portaria; cionadas ao crescimento e desenvolvimento. Para c – toda gestante tem direito de saber e ter assegurado fins de análises, neste estudo também será adotada o acesso à maternidade em que será atendida no a faixa etária de 10 a 19 anos, visto tratar-se de um momento do parto; estudo no campo da saúde. d – toda gestante tem direito à assistência ao parto Cabe, contudo, destacar que a Visão Mundial e ao puerpério e que esta seja realizada de forma Brasil toma como base para a definição da ado- humanizada e segura, de acordo com os princípios lescência o Estatuto da Criança e do Adolescente gerais e condições estabelecidas no Anexo II desta (Lei 8.069/1990), que considera a adolescência o Portaria; período entre 12 a 18 anos de idade incomple- e – todo recém-nascido tem direito à assistência neonatal de forma humanizada e segura; tos. O Estatuto tem se firmado como importante f – as autoridades sanitárias dos âmbitos federal, instrumento na defesa de direitos da criança e do estadual e municipal são responsáveis pela garantia adolescente no Brasil e insere no âmbito das polí- dos direitos enunciados nas alíneas acima. ticas públicas o “princípio da prioridade absoluta” através do qual se afirma que: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com volvimento. Assim, a saúde de crianças e adolescen- absoluta prioridade, a efetivação dos direitos tes é um direito firmado. referentes à vida, à saúde, à alimentação, à No que diz respeito a garantir o direito à vida e educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à saúde das crianças e dos adolescentes previsto no à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à ECA, o Sistema Único de Saúde (SUS) deve assumir convivência familiar e comunitária” (Brasil, 1990). seu mandato mediante a atenção integral à saúde. A Constituição brasileira incorporou a Doutri- Para além das diferenças na definição cronoló- na da Proteção Integral a partir da qual as crianças gicas da adolescência observadas entre o SUS e o e adolescentes são considerados como cidadãos, ECA, deve-se reforçar a atuação conjunta e articu- sujeitos de direitos e deveres, portadores de prio- lada. Pensando que são diversos os contextos so- ridade absoluta na elaboração e execução de polí- cioculturais e as realidades vividas, caberia inclusive ticas públicas e titulares de direitos especiais – em falar em adolescências, e não apenas em adolescên- virtude da condição peculiar de pessoas em desen- cia (BRASIL, 2005). 10 | Visão Mundial Brasil
  • 11. um olhar especial para os filhos de mães adolescentes INTRODUÇÃO A Campanha Saúde para as Crianças Primeiro da Visão Mundial ge, o quadro brasileiro em muito se assemelha ao perfil vivenciado Brasil também considera os dados sobre mortalidade infantil e em países desenvolvidos há algumas décadas.Tal perfil associa-se a materna nos países pobres tão relevantes quanto todas as outras um padrão de vida e de adoecimento dito moderno, identificado emergências humanitárias que se colocam nas manchetes mun- comumente aos processos de industrialização e urbanização. diais. Apenas seis países (Índia, Nigéria, República Democrática Contudo, a análise deste quadro é mais complexa. Em primei- do Congo, Paquistão, China e Etiópia) juntos somam quase cinco ro lugar, as conquistas geradas por este tipo de desenvolvimento milhões de mortes de crianças todos os anos. não chegam de forma equânime a todas as pessoas, e, ainda assim, Por trás do quadro de desigualdades em termos de mortalida- atualmente os brasileiros, ricos ou pobres, estão mais expostos de infantil e materna se esconde uma história de acesso desigual à a doenças como diabetes, hipertensão e câncer devido a fatores assistência médica. Reduzir as discrepâncias de saúde entre ricos como alimentação, estresse e ao próprio envelhecimento popula- e pobres teria, por isso, um impacto drástico nos índices gerais cional. Por outro lado, destaca-se que, de maneira constrangedora, de mortalidade. a desigualdade no Brasil conforma bolsões de pobreza e ilhas de Em muitos aspectos a situação brasileira pode inspirar e in- invisibilidade onde persistem as doenças infecciosas e parasitárias, centivar outros países que compõem a campanha, contudo um a anemia, a desnutrição e toda sorte de problemas em saúde que olhar mais aproximado mostrará o quanto às desigualdades im- já deveriam ter sido eliminados. pacta negativamente as possibilidades de sucesso de interven- Face a essa realidade, a Campanha Saúde para as Crian- ções pela melhoria do quadro de mortalidade infantil e materna. ças Primeiro no Brasil parte de uma questão importante: afinal, A mortalidade infantil no Brasil tem declinado em todas as por que crianças ainda morrem por causas evitáveis no Brasil? regiões brasileiras. Entre as décadas de 1930 e 1990 acumulou A fim de responder a essa questão, coloca-se como indispen- uma redução de 71% para o país como um todo (Simnões & sável descobrir não só por que morrem estas crianças, mas tam- Monteiro, 2006), tendo como marco da queda mais intenso a bém onde, quando e como evitar tais mortes. Assim, sob as lentes década de 1960, quando a média nacional era de 117,0/1000 Nas- da equidade e na perspectiva da prioridade, tornou-se pauta da cidos Vivos (NV) passando a 50,2/1000 NV (Barreto & Carmo, campanha a mortalidade infantil de filhos de mães adolescentes. 2007). Este percurso foi marcado por expressiva queda da mor- Dados do Ministério da Saúde demonstram que a cada cinco talidade infantil pós-neonatal, mas com persistência de elevada crianças que nascem por ano, uma é filha de gestante adolescen- mortalidade neonatal. te. No ano de 2009, das 42.684 crianças menores de um ano que Segundo o Ministério da Saúde2, em 2007 o CMI brasileiro morreram, 7.917 eram filhas de gestantes entre 15 e 19 anos chegou a 19,3/1000 NV e prevê que o Brasil alcançará um índice e 627 filhas de adolescentes com menos de 14 anos. Somados, de 14,4/ 1000 NV até 2012. Importante ressaltar que para atingir estes óbitos correspondem a 20% do total de mortes. Os dados a Meta 04 das ODM o Brasil comprometeu-se com um CMI de sobre a mortalidade materna para esta faixa etária revelam que 15,7 até 2015. em 2009 morreram em decorrência de complicações da gravi- No que se refere à mortalidade materna, destaca- dez, parto ou puerpério 236 gestantes com menos de 19 anos se também uma redução progressiva do Coeficiente de Mortalidade (dados SIM/ Sinasc). Materna (CMM) no Brasil que em 1990 era de 140/100 mil NV e em O acompanhamento adequado durante o pré-natal e parto ga- 2007 diminuiu para 75/100 mil NV (Ipea,2010).A meta do Brasil para o rante às gestantes adolescentes e seus bebês condições adequadas 5º ODM é alcançar a marca de 35/100mil NV até 2015. de sobrevivência. O SUS tem como grande desafio, dentre tantos Além disso, é fato que o Brasil tem vivenciado importan- outros, a necessidade de pensar o atendimento universal, mas ten- tes mudanças demográficas e epidemiológicas – o aumento do como eixo condutor a integralidade e a equidade. Desta forma, da expectativa de vida, a queda da mortalidade infantil, a dimi- o enfoque na atuação junto a gestantes adolescentes numa cam- nuição da mortalidade por doenças infecciosas e, ao mesmo panha para a redução da mortalidade infantil e materna reconhece tempo, o aumento da obesidade, das doenças crônicas não- a importância de dar visibilidade aos aspectos específicos deste transmissíveis e da mortalidade por causas externas.Visto de lon- grupo que hoje representa 20% das gestantes brasileiras. 2 http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=32203 &janela=1 Acesso em agosto de 2010. Visão Mundial Brasil | 11
  • 12. Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: CAPÍTULO 1 PANORAMA DA SAÚDE NO BRASIL 1.1 – POlítICA de SAúde Esta disputa de projetos é ain- O estabelecimento de políticas públicas universais de saúde, da na atualidade um desafio ao através do Sistema Único de Saúde (SUS), e melhorias nas con- estabelecimento de serviços que dições de saneamento básico foram fatores fundamentais para sejam capazes de incorporar uni- a queda da mortalidade infantil no Brasil. versalidade e qualidade na mesma Com base na legislação do SUS, a saúde no Brasil passa equação. O resgate cotidiano dos a ser tratada como direito universal, amparada por uma vas- princípios e diretrizes doutrinários ta legislação cujo tripé principal é formado pela Constituição tem sido útil neste sentido. Federal de 1988, pela Lei 8.080/1990 que dispõe sobre a pro- Os princípios da regionaliza- moção, proteção e recuperação da saúde e sobre a organiza- ção e hierarquização estabelecem que o planejamento das ações ção e funcionamento dos serviços correspondentes e pela Lei de saúde pública deve ser feito a partir do território e dos critérios 8.142/1990 que dispõe sobre a participação da comunidade e epidemiológicos, em regime de cooperação e articulação dos recur- sobre transferência de recursos intergovernamentais no SUS. sos disponíveis – considerando a organização dos serviços segundo Fruto de um amplo movimento de participação popular, a níveis crescentes de complexidade, garantindo acesso a serviços que proposta do SUS surge em resposta à grave crise de assistên- componham toda a complexidade requerida por cada caso e esta- cia à saúde observada no país, sobretudo na década de 19703 e belecendo fluxos de referência e de contrarreferência. Com os prin- ganha força com o fim do período de ditadura militar no Brasil, cípios da descentralização e do comando único, sustenta-se a quando enfim o debate sobre o dever do Estado na garantia da necessidade de distribuir poderes e responsabilidades entre as três saúde da população ganha ênfase no cenário político. esferas de governo e com o princípio da participação popular Com o SUS fundam-se novas bases institucionais para o garante-se a manutenção dos mecanismos legais de Controle Social. provimento das ações e serviços de saúde e, ao mesmo tem- A universalidade, a equidade e a integralidade são diretrizes dou- po, rompe-se com a visão predominante no período de saúde trinárias do SUS. O acesso às ações e serviços de saúde deve ser ga- como “ausência de doença”, incorporando-se à legislação um rantido a todas as pessoas (princípio da universalidade). Contudo, conceito ampliado que iguala saúde a qualidade de vida. apesar de todos terem esse direito, as pessoas não são iguais e, por Durante a década de 1990, assistiu-se a um amplo pro- isso, têm necessidades diferentes. É preciso “tratar desigualmente cesso de regulamentação do SUS traduzido, sobretudo em os desiguais”, investindo mais onde a carência é maior (princípio normas operacionais, que ora confirmaram aspectos previstos da equidade). A rede de serviços de saúde deve estar atenta às em sua gênese, ora desvirtuaram o seu desenho original. Essa necessidades reais da população a ser atendida, considerando todas dualidade se explicada pelo contexto de implantação desta po- as dimensões do indivíduo (princípio da integralidade). lítica: de um lado a reconstrução democrática do país e o res- Toda e qualquer ação, programa ou política engendrada no gate da dívida social herdada em grande medida dos anos de contexto da saúde pública no Brasil obedece a esses mesmos prin- ditadura, davam suporte à expansão de direitos sociais, entre cípios organizativos e diretrizes doutrinárias, incluindo-se neste estes a saúde; por outro, a conjuntura mundial era de incentivo escopo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, ao ajuste estrutural da economia e à diminuição do Estado, bem como na legislação pertinente à atenção integral à saúde da prescrevendo a contenção dos gastos públicos. criança e adolescente. 3 Neste período a ênfase estava na atenção individual, assistencialista e especializada, em detrimento das medidas de saúde pública, de caráter preventivo e de interesse coletivo. Como uma de suas consequências vivenciou- se um período de alarmantes índices de doenças infectocontagiosas, sobretudo nos meios urbanos. O desenvolvimento de um complexo médico-hospitalar privado – em grande parte financiado com recursos públicos a fundo perdido – e a contratação desses serviços com pouco controle criaram condições para que a corrupção e a crise financeira no setor chegassem a níveis insustentáveis. 12 | Visão Mundial Brasil
  • 13. um olhar especial para os filhos de mães adolescentes • Saúde como direito universal: “A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.” (Art. 196 da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988) • Saúde: um conceito ampliado: “A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, a educação, o transporte, o lazer e o acesso a bens e serviços essenciais: os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país.”(Art.2º da Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990) • Controle social da política de saúde: “O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, é um órgão colegiado composto por representantes do governo, dos prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários e atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera de governo.” (Art. 1º da Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990) 1.2 – ORçAMeNtO PúBlICO eM SAúde Nesse sentido, as informações financeiras sobre a política O SUS é destinado a todos os cidadãos e é financiado com recur- de saúde auxiliam a destacar a importância de se promover a sos arrecadados através de impostos e contribuições sociais pa- Campanha Saúde para as Crianças Primeiro, com foco gos pela população e compõem os recursos do governo federal, no atendimento diferenciado às gestantes adolescentes na rede estadual e municipal. A lei 8.142/1990 dispõe sobre tais recursos de saúde. e sobre a participação da comunidade para efetivo controle so- Os dados orçamentários presentes nesse estudo represen- cial da política de saúde nas três esferas de governo – municipal, tam os recursos aplicados pelo governo federal na política de estadual e nacional4. Desta forma, fica estabelecido que o contro- saúde, executada na Função Saúde, por ser o maior nível de agre- le social, ou participação da comunidade no SUS: gação da despesa pública, pois leva em conta todas as ações rea- lizadas pelo governo nessa área. “Abrange as práticas de fiscalização e de participação O período em análise foi delimitado pela alteração meto- nos processos deliberativos relacionados à formulação de dológica que sofreu o orçamento público no ano 2000, quando políticas de saúde e de gestão do SUS. (...) O SUS garante aos entrou de vez em vigor no Brasil6 o “orçamento programa”, que estados, ao Distrito Federal e aos municípios autonomia para obedece aos critérios da reforma gerencial do aparelho do Es- administrar os recursos da Saúde. Para isso, é preciso que cada tado. esfera de gestão tenha seu Conselho de Saúde funcionando de Assim, as classificações orçamentárias sofreram alteração a forma adequada. Ao Ministério da Saúde (MS) e às secretarias partir do ano 2000, dificultando a comparação dos dados para o estaduais e municipais de Saúde cabe a implementação período até a década de 1990. Na década de 1990, estava em vi- de mecanismos para a gestão e apoio ao fortalecimento do gor no Brasil uma metodologia orçamentária que se concentrava controle social no SUS.”5 no controle político do gasto público, com maior importância aos Pela ótica do orçamento público, espera-se visualizar qual a mo- níveis organizacionais responsáveis pela execução das políticas e bilização dos recursos físicos e financeiros necessários ao finan- os custos, ou seja, as despesas que seriam realizadas. Consistia ciamento dos bens e serviços fornecidos pelo Estado na política num rol de receitas e despesas sem nenhuma preocupação mais de saúde. aprofundada com o planejamento e a qualidade do gasto público. A importância do orçamento público não é apenas econô- A alteração na estrutura orçamentária implicou no direciona- mica, mas principalmente política e social. O orçamento público mento das verbas públicas para a realização de metas, objetivos indica quais direitos estão previstos, quais serão garantidos, pro- e resultados planejados. O orçamento público passaria a refletir movidos ou defendidos pelo setor público. em seus programas anuais os planos governamentais de desen- 4 Os mecanismos institucionalizados para participação e controle social no SUS são volvimento econômico e social de longo prazo, como os planos os Conselhos de Saúde e as Conferências que devem ter composição paritária, ou seja, 50% das vagas são reservadas aos usuários e os outros 50% distribuídos de políticas públicas discutidos em Conferências Nacionais, os entre trabalhadores de saúde e entre gestores e prestadores de serviços públicos acordos e tratados nos quais o Brasil é signatário e os pactos e e privados. Os Conselhos são órgãos deliberativos, de caráter permanente, composto com a representatividade de toda sociedade e devem ser criados por resoluções que determinam a forma de execução das políticas lei do respectivo âmbito de governo. As Conferências de Saúde são fóruns com públicas. representação de vários segmentos sociais que se reúnem para propor diretrizes, avaliar a situação de saúde e ajudar na definição da política de saúde. 6 Para o governo federal, estados e Distrito Federal. Os municípios passam a adotar o 5 www.saude.gov.br/susdeaz/topicos/ . Acesso em 24 de outubro de 2007. orçamento programa a partir de 2002. (BRASIL, 1999). Visão Mundial Brasil | 13
  • 14. Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: Essa alteração proporcionou um entendimento mais simples física ou jurídica o acesso a informações refe- da lógica de programação e execução da despesa pública. Foi pos- rentes a (incluído pela Lei Complementar nº sível a promoção de iniciativas que promovem a transparência e o 131, de 2009): acesso às informações públicas. A transparência dos atos públicos I – quanto à despesa: todos os atos prati- é considerada um dos principais instrumentos de melhoria da efi- cados pelas unidades gestoras no decorrer ciência e efetividade do governo. Ela tanto previne quanto pugna a da execução da despesa, no momento de sua corrupção, além de aperfeiçoar a base de conhecimentos sobre os realização, com a disponibilização mínima dos quais as políticas públicas são decididas, elaboradas e executadas. dados referentes ao número do corresponden- A falta de transparência e a dificuldade de acesso às informa- te processo, ao bem fornecido ou ao serviço ções públicas, bem como a inexistência de canais de participação prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária da sociedade civil no processo de elaboração e discussão das do pagamento e, quando for o caso, ao proce- leis orçamentárias dificultam o monitoramento e a capacidade dimento licitatório realizado (incluído pela Lei de intervenção por parte da sociedade na elaboração e execução Complementar nº 131, de 2009). da agenda pública. II – quanto à receita: o lançamento e o rece- Os canais de participação e o acesso às informações que pro- bimento de toda a receita das unidades gesto- piciam o controle social são descritos: ras, inclusive referente a recursos extraordiná- ■ Nos arts. 48 e 48-A da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)7: rios (incluído pela Lei Complementar nº 131, de Art. 48. São instrumentos de transparência da 2009). (BRASIL, 2000). gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulga- ção, inclusive em meios eletrônicos de acesso ■ No Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001): o seu art. 44 público: os planos, orçamentos e leis de diretri- pressupõe a participação social como condição para apro- zes orçamentárias; as prestações de contas e o vação do orçamento municipal ao afirmar que “no âmbito respectivo parecer prévio; o Relatório Resumi- municipal, a gestão orçamentária participativa incluirá a rea- do da Execução Orçamentária e o Relatório de lização de debates, audiências e consultas públicas sobre as Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses propostas do PPA, da LDO e da LOA, como condição para documentos. sua aprovação pela Câmara Municipal”. Parágrafo único. A transparência será asse- ■ No caso específico da política de saúde, a participação so- gurada também mediante: (Redação dada pela cial também está prevista na Lei 8.142, de 28 de dezembro Lei Complementar nº 131, de 2009). de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade I – incentivo à participação popular e rea- na gestão do SUS, e também, sobre a descentralização dos lização de audiências públicas, durante os pro- recursos financeiros na área de saúde. cessos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; (In- O sistema mais avançado e confiável de acesso às informações cluído pela Lei Complementar nº 131, de 2009). orçamentárias e financeiras do governo federal é o Siga Brasil8, II – liberação ao pleno conhecimento e implementado e alimentado pela Consultoria de Orçamento do acompanhamento da sociedade, em tempo Senado Federal. Ele permite a qualquer indivíduo, por meio da real, de informações pormenorizadas sobre a Internet, acesso amplo e facilitado a diversas informações sobre execução orçamentária e financeira, em meios o processo de elaboração e execução dos planos e orçamentos eletrônicos de acesso público (incluído pela Lei públicos do governo federal, com dados atualizados até a véspera Complementar nº 131, de 2009). do acesso. É possível consultar dados desde o ano de 2001. III – adoção de sistema integrado de admi- Sendo assim, o período de acompanhamento do gasto públi- nistração financeira e controle, que atenda a co federal na política de saúde nesse estudo é de 2001 a 20109, padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo compreendendo a primeira década do século XXI. Para efeitos Poder Executivo da União e ao disposto no art. de comparação dos valores executados no período, os valores 48-A (incluído pela Lei Complementar nº 131, foram atualizados para o ano de 2010 pela inflação média anual de 2009). pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mensurado Art. 48-A. Para os fins a que se refere o pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por ser inciso II do parágrafo único do art. 48, os entes o índice oficial de inflação do governo. da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa 8 www.senado.gov.br 7 Lei complementar 101/2000. 9 Valores atualizados até 10/01/2011. 14 | Visão Mundial Brasil
  • 15. um olhar especial para os filhos de mães adolescentes Mas de nada adiantam iniciativas de transparência do gasto O planejamento do gasto público é expresso por meio de público sem instâncias que promovam controle social e enfo- programas e ações na lei do Plano Plurianual (PPA). Existe uma quem a participação na construção da agenda pública. A popula- grande distância entre aquilo que é descrito em planos de políti- ção tem o dever e o direito de cobrar resultados da utilização do cas públicas, em acordos ou definições de pactos, de resoluções dinheiro público e garantir a implementação de ações adequadas e como são planejados, executados e estruturados os programas às realidades enfrentadas pela população frente à diversidade cul- orçamentários. tural, regional e social encontrada no Brasil. A participação social Esse entrave administrativo dificulta bastante a participação é fundamental para melhor alocação de recursos públicos nas e controle social dos recursos públicos, pois não é fácil visualizar ações governamentais. no orçamento público as iniciativas governamentais presentes No entanto, é necessária uma participação qualificada, capaz em planos, pacto, resoluções etc. de pautar as ações dos governos e não ter sua luta tolhida pelos O financiamento da saúde é previsto na promulgação da órgãos, ou organismos nacionais ou internacionais, para que as Emenda Constitucional 29, de 14 de setembro de 2000. Essa políticas públicas sociais cumpram seu papel. emenda alterou o Art. 167 da Constituição Federal, passando a Por isso, a participação social torna-se imprescindível para a permitir a vinculação de receita de impostos às despesas com qualidade na prestação dos serviços de saúde pelo poder público. ações e aos serviços de saúde, e acrescentou o Art. 77 ao Ato Apesar de a lei do SUS representar um grande avanço do ponto das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) do texto de vista da gestão e execução da política de saúde, somente com constitucional para assegurar os recursos mínimos para o finan- uma sociedade ativa, que fiscaliza seus direitos é possível promo- ciamento das ações e serviços públicos de saúde. ver uma política pública de saúde efetiva, que respeite os direitos Até a final regulamentação da EC 29, o montante mínimo humanos e os cidadãos como beneficiários do sistema público. que o governo federal deve aplicar na política de saúde au- É a participação social, pautada na capacidade de mobilização menta de um ano para o outro conforme variação nominal da Campanha Saúde para as Crianças Primeiro, que poderá do PIB. Para estados e Distrito Federal, os recursos mínimos fomentar um atendimento diferenciado a gestantes adolescentes, serão equivalentes a 12% da arrecadação de impostos e das ajudando a prevenir a mortalidade infantil e materna nessa faixa transferências constitucionais, deduzidas as parcelas que forem etária específica no Brasil. transferidas aos municípios. No caso dos municípios, os recur- Papel importante na mobilização dessa campanha é exercido sos mínimos deverão ser equivalentes a 15% da arrecadação pelos conselhos de saúde, de educação e da criança, como media- de impostos e dos recursos de transferências constitucionais. dores entre a população e estas políticas. Eles podem contribuir A regulamentação da EC 29 está em discussão no Congresso por meio de resoluções e nas conferências nacionais, em conso- Nacional e ainda não há previsão para sua aprovação. nância com a lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990 que institui Na lógica do SUS, os recursos públicos da área de saúde são o Conselho de Saúde e a Conferência da Saúde como canais de executados da União para estados e municípios via fundo a fun- participação social na gestão do SUS. do, em que esses recursos são geridos pelo conselho de saúde e Um dos pontos centrais da Constituição Federal de 1988, art. alocados no fundo de saúde, seja estadual ou municipal. 204, II, é o fortalecimento da participação direta da população Ao considerar todo o gasto público na área de saúde, obser- através de suas organizações representativas na gestão pública, va-se no gráfico 1 que, de maneira geral, houve um aumento con- por meio dos conselhos de políticas públicas. Se funcionarem siderável dos recursos aplicados pelo governo federal na área de de maneira efetiva, os conselhos possuem grande capacidade de saúde desde o primeiro orçamento aprovado pelo governo Lula, reduzir a desigualdade socioeconômica e cultural da população em 2004, após oscilações durante o governo Fernando Henrique brasileira. Cardoso (FHC). Caso contrário, ganham força as práticas patrimonialistas e O primeiro ano do governo Lula, em 2003, teve o orçamento clientelistas para acesso a recursos públicos, políticas de troca de aprovado em 2002, pelo governo FHC. Já a partir de 2004, du- interesses, que deixam à margem os principais beneficiários das rante o primeiro governo Lula, as políticas orçamentárias de saú- políticas públicas. de apresentaram maior transversalidade, alterando bastante os Fortalecendo a democracia participativa por meio dos conse- valores investidos nos programas acompanhados nesse estudo. lhos de políticas públicas, em especial de crianças e adolescentes A partir do ciclo do PPA 2004-2007, a política de saúde no e de saúde, para que cumpram seu papel de maneira autônoma governo Lula responde pela atuação nos seguintes eixos: atenção e pública, é possível conscientizar a população e promover um básica; média e alta complexidade; vigilância em saúde; assistência atendimento diferenciado para adolescentes gestantes na rede farmacêutica; e gestão do SUS. de saúde. Visão Mundial Brasil | 15
  • 16. Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: Gráfico 1 Gasto público federal na política de Saúde e Atenção Básica – 2000-2010, em bilhões para 2010 2º Governo FHC 1º Governo Lula 2º Governo Lula 65,00 12,00 63,59 62,68 60,00 11,00 56,68 54,61 55,00 10,00 Atenção Básica 50,24 Saúde 50,00 9,00 47,06 45,46 45,00 8,00 43,21 42,88 39,60 39,93 40,00 7,00 35,00 6,00 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Saúde Atenção Básica Fonte: Siga Brasil/ Senado Federal. De acordo com informações dos Indicadores e Da- grama na política de saúde do governo federal, dos Básicos (IDB)10, do ano de 2008, o gasto público que engloba as ações do PSF, saúde bucal, do piso com saúde representou, na média entre 2002 e 2006, de atenção básica fixo e variável, principalmente. período em que as informações se encontram dispo- Os dados refletem que não houve uma queda níveis para consulta, 3,3% do PIB por ano no período. substancial dos recursos da saúde devido à revoga- A taxa média de crescimento do gasto público ção da Contribuição Provisória sobre Movimenta- em saúde no final do governo FHC, no período de ção Financeira (CPMF) em 2007. Ao contrário, os 2000 a 2003, foi de 0,5% a.a., enquanto que em todo recursos foram incrementados – aumentaram cerca o governo Lula, de 2004 a 2010, essa taxa é bem de R$ 9 bilhões de 2007 a 2010. Assim, não é pos- superior, atingindo 6,9% a.a., superior até à inflação sível condicionar uma política de atendimento espe- medida no período. No primeiro ano de planeja- cializado a adolescentes gestantes à necessidade de mento orçamentário do governo Lula, 2004, o gasto criação de uma fonte de receita para seu financia- público federal em saúde já era maior do que o do mento – recursos para isso já existem hoje em dia. final do governo FHC. Ainda que o governo federal tenha alocado Grande responsável pelo aumento do gasto R$ 48,2 bilhões anuais, na média de 2000 a 2010, total na política de saúde é o programa Atenção considerando a inflação medida pelo IPCA/IBGE Básica em Saúde, criado no PPA 2004-2007, du- no período, não há informações disponíveis para rante o governo Lula. Os recursos desse progra- avaliação da qualidade do serviço prestado. ma aumentaram R$ 4 bilhões em 6 anos, com Mesmo com o governo federal gastando bi- crescimento de 8,6% em média por ano, desde lhões de reais na política de saúde, não é possível sua criação, muito mais que o crescimento mé- estimar quanto dinheiro é necessário para que a dio de toda a política de saúde. A Atenção Básica política de saúde seja executada conforme o SUS, em Saúde responde sozinha por 15,7% do total respeitando a universalidade e a equidade no aten- dos recursos investidos nessa política de 2004 a dimento à população e garantindo qualidade a esse 2010. Isso demonstra a importância desse pro- atendimento para a população que demanda os 10 www.datasus.gov.br/idb serviços públicos de saúde. 16 | Visão Mundial Brasil
  • 17. um olhar especial para os filhos de mães adolescentes quadro 1 Médicos, enfermeiros, leitos, partos hospitalares e domiciliares segundo região | Brasil, 2005 a 2006 Variáveis Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil Médicos/1.000 hab (2006) 0,92 1,06 2,43 1,89 1,83 1,80 Enfermeiros/1.000 hab (2006) 0,90 0,67 1,00 1,01 1,56 0,94 Leitos/1.000 hab (2005) 1,85 2,27 2,44 2,76 2,62 2,41 Proporção de partos hospitalares 91,53 96,38 99,02 99,28 99,22 97,46 (2007) Proporção de partos domiciliares 5,94 1,48 0,23 0,23 0,43 1,24 (2007) Fontes: Ministério da Saúde/SGTES/Degerts/Conprof - Conselhos profissionais/2006 IBGE – Pesquisa Assistência Médico-Sanitária/2005 Ministério da Saúde – Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB/2007 1.3 – INIquIdAde e deSIguAldAdeS aleatório do momento do parto que sendo por si um fenômeno RegIONAIS eM SAúde natural, assume aspecto de emergência quando se considera que Sem dúvida, o SUS representa uma vitória do ponto de vista das “o momento de ocorrência não pode ser perfeitamente previsto, conquistas de políticas sociais e sua legislação tem sido referência e cujo processo, uma vez deflagrado, não pode ser muito pos- para muitos países da América Latina. Contudo, no cotidiano popu- tergado [...]. Por outro lado, os partos também não podem ser lar, o que se constata é que efetivar o direito à saúde de forma plena livremente agendados” (MARINHO & CARODOSO, 2006:2). e universal ultrapassa este estatuto legal.As desigualdades, tanto em Assim, um olhar atento às desigualdades de atenção e co- termos de condições de vida quanto de oferecimento de serviços, bertura de serviços precisa ser incorporado. Para tomar um ainda têm impactos constrangedores no direito à saúde no Brasil. exemplo, no Quadro 1 são apresentadas algumas variáveis re- No ano de 2006 o Ministério da Saúde lançou a série Pactos lacionadas a acesso a serviços e cuidados em saúde. Na região pela Saúde (dentre estes o documento “Diretrizes para a Progra- Sudeste observa-se maior quantidade de médicos por 1.000 ha- mação Pactuada e Integrada da Assistência à Saúde”11 ) como for- bitantes enquanto que na região Centro-Oeste observa-se maior ma de reconhecer que passados quase 20 anos da institucionali- quantidade de enfermeiros por 1000 habitantes. A região Norte zação do SUS persistiam iniquidades e desajustes no que tange à apresenta menor relação para médicos e para leitos por 1.000 distribuição e dimensionamento de serviços de saúde no Brasil, habitantes e também menor proporção de partos hospitalares. prescrevendo uma ação reguladora do Estado para corrigir falhas A desigual distribuição de profissionais e equipamentos públicos de distribuição e as desigualdades históricas entre as regiões. de saúde tem impactos na qualidade e quantidade da assistência A rede assistencial mostra-se fragmentada e desarticulada, prestada em algumas áreas e, desta forma, tal questão não pode e, desta forma, a própria população “busca a solução para seus ser desconsiderada ao tratar-se de taxas de mortalidade. problemas de saúde deslocando-se para os municípios-pólo das Com relação à saúde materno-infantil, os dados da PNDS/ regiões” (MS, 2006:7). Tais municípios acabam recebendo a de- 200612 revelam que há um caminho no Brasil para a universa- manda regional desordenadamente com consequente dificuldade lização do pré-natal e do parto hospitalar, contudo “[...] desi- de acolhimento, inclusive das situações de urgência/emergência. gualdades regionais, sociais e econômicas seguem determinando Com relação às necessidades e intercorrências relacionadas importantes desigualdades na obtenção de cuidado adequado, à gravidez, ao parto e puerpério, deve-se destacar que demoras e segundo parâmetros assistenciais mínimos” (Brasil, 2009a: 168). peregrinações entre serviços podem se constituir em grave risco A PNDS/2006 revelou que 80% das gestantes realizaram ao para a mãe e para o bebê. Em busca de atendimento as usuárias menos seis consultas ao longo do pré-natal. Quanto ao aleitamen- podem extrapolar os limites do município de moradia seja em to materno, a PNDS/ 2006 demonstrou que, do total de crianças busca de qualidade ou de pronto-atendimento. Por isso, o tempo pesquisadas, 95% haviam iniciado a amamentação, das quais 42,9% de espera para atendimento é influenciado não só pelos serviços foram amamentadas na primeira hora. A proporção em aleitamen- de saúde no nível municipal, mas também serão influenciados pela to exclusivo aos 2-3 meses aumentou de 26,4% em 1996 para estrutura do SUS nos estados. Agrega-se a esta análise o caráter 48,3% em 2006 (BRASIL, 2009a). 12 A terceira edição da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS/ 2006) foi 11 Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Regulação, realizada a partir de uma amostra representativa das cinco macrorregiões brasileiras e Avaliação e Controle de Sistemas. Diretrizes para a Programação Pactuada e do contexto urbano e rural, com aproximadamente 15 mil mulheres e cerca de 5 mil Integrada da Assistência à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. crianças menores de cinco anos, como amostragem. Esta pesquisa (BRASIL, 2009a). Visão Mundial Brasil | 17
  • 18. Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: Essa pesquisa demonstrou ainda a persistência do modelo in- atualmente têm sido abordadas a partir dos pressupostos dos tervencionista de assistência ao parto, mas, ao mesmo tempo, um Determinantes Sociais da Saúde (DSS)13. A mortalidade infantil aumento do número de hospitais estruturados para a atenção é um importante indicador de iniquidade no Brasil. Identifica- humanizada. Isto é demonstrado pela alta proporção de cesa- -se iniquidade, por exemplo, quando se verifica que uma criança rianas no total de partos realizados no país (43,8%) e a pequena que nasce no Nordeste tem probabilidade cinco vezes maior de quadro 2 Distribuição percentual de nascidos vivos, segundo características da assistência recebida durante o pré-natal, segundo macrorregiões. Indicador Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste Brasil Fez pré-natal 96,1 97,9 99,8 99,4 98,2 98,7 1a consulta no 76,9 80,2 85,5 87,6 87,1 83,6 1º trimester 1 ou + doses de vacina antitetânica na gestação 85,0 87,8 67,6 77,5 79,0 76,9 do 1º filho Fez exame de sangue 89,8 89,1 94,1 89,2 92,3 91,5 Fez exame de urina 88,4 85,4 90,5 76,1 85,9 86,6 Tinha cartão de pré-natal 97,1 94,1 95,7 95,0 92,8 95,1 Informada sobre a 55,6 51,5 66,3 73,6 64,7 61,9 maternidade Fez 6 ou + consultas 64,9 72,3 88,2 87,5 83,7 80,9 Fonte: Brasil, 2009a/ dados da PNDS 2006 presença de acompanhante no momento do parto – menos de morrer antes de completar o primeiro ano de vida do que uma 10% das mulheres puderam contar com acompanhante. Chama criança nascida no sudeste; ou quando se observa que o filho de a atenção ainda o fato de que uma grande parcela das gestantes uma mulher com menos de quatro anos de estudo tem probabi- brasileiras (mais de 40%) declarou não ter sido informada sobre lidade três vezes maior de morrer antes dos cinco anos de idade a maternidade em que seria atendida (Brasil, 2009a). do que uma criança cuja mãe tem oito anos de estudo14. Esses dados revelam que ainda há muito no que se avançar em re- Em termos de saúde materno-infantil examinar as iniquida- lação à humanização do atendimento ao parto e pré-natal. Deve-se des, estas desigualdades sistematicamente reproduzidas, precisa reconhecer que é um grande avanço a existência de indicadores ser um orientador permanente da análise das políticas públicas. que permitem o monitoramento da atenção ao pré-natal e parto, A pobreza mundial é especialmente discriminatória em relação mas deve-se ressaltar que uma análise mais qualitativa, realizada às mulheres e às crianças e estas ainda são altamente vulneráveis com as usuárias dos serviços de saúde poderia trazer grandes ga- aos avanços da pobreza. nhos para tornar mais efetivas as ações propostas. Dentre outras Um dos fatores que explicam a desigualdade social no país é reflexões, um importante ponto a se problematizar é a alta cober- a educação. Ela explica, sozinha, 48% da desigualdade de salários e tura de atenção pré-natal, relacionando-a com sua qualidade. cerca de 26% da desigualdade de renda. Um ano a mais de educa- Quanto à questão da gravidez na adolescência, os dados da ção promove mudanças positivas na taxa de crescimento do PIB, PNDS/ 2006, também revelam a relevância desta questão para queda na taxa de mortalidade infantil e redução da proporção de pensar políticas públicas e enfatizam as diferenças regionais: Nor- pobres (Barros et al, 2001). te e Nordeste apresentaram maior percentual de gestantes com O investimento em educação nos primeiros anos de vida é menos de 20 anos (Brasil, 2009a). um dos elementos centrais para redução das desigualdades so- Além da desigualdade de acesso aos serviços de saúde, outras 13 Os DSS incluem as condições mais gerais socioeconômicas, culturais e ambientais desigualdades impactam na saúde materno-infantil. No contexto de uma sociedade, e relacionam-se com as condições de vida e trabalho de seus membros, como habitação, saneamento, ambiente de trabalho, serviços de saúde e do SUS, as desigualdades decorrentes das condições sociais que educação, incluindo também a trama de redes sociais e comunitárias. são injustas e inaceitáveis são tratadas como iniquidades – estas 14 http://www.determinantes.fiocruz.br/acoes.asp 18 | Visão Mundial Brasil
  • 19. um olhar especial para os filhos de mães adolescentes ciais, porém insuficiente se não houver articulação com outras da erradicação da pobreza extrema e redução sustentável no políticas públicas sociais, que gerem oportunidades de empre- nível de desigualdade de renda brasileira. go aos jovens, geração de renda às famílias e capazes de inserir Para contribuir na efetivação da redução da desigualdade pe- crianças e adolescentes em uma rede de proteção social dos seus las políticas públicas é preciso repensar a relação entre Estado direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais. e sociedade civil, de forma que esta acompanhe e participe da A criação de oportunidades sociais por meio de serviços elaboração, implementação e avaliação destas. A população tem como educação básica, ou serviços de saúde, pode contribuir o dever de cobrar resultados da utilização do dinheiro público e para o desenvolvimento econômico e para uma redução signifi- garantir que o Estado estabeleça metas sociais além dos já dados cativa das taxas de mortalidade. A redução das taxas de morta- compromissos econômicos. lidade, por sua vez, pode ajudar a reduzir as taxas de natalidade, Isso permitiria uma autonomia do país frente aos planos e reforçando a influência da educação básica (em especial, alfabeti- programas de políticas públicas impostos pelas Instituições Fi- zação e escolaridade das mulheres) sobre o comportamento das nanceiras Multilaterais, com a implementação de ações discutidas taxas de fecundidade (Sen, 2000). e elaboradas com o auxílio da sociedade civil, adequadas às rea- O combate à pobreza é outro fator que por si só tem lidades enfrentadas pela população frente à diversidade cultural, potencial de interferir positivamente nos índices de saúde infantil. regional e social encontrada no Brasil. Teria ainda potencial para As características da desigualdade brasileira, em conjunto com a contribuir com a redução da dívida social por meio da execução adoção de modelos neoliberais de desenvolvimento, fez surgir de políticas públicas mais eficientes, eficazes e efetivas no com- uma nova geração de políticas sociais, que não mais se resumiam bate à desigualdade social em nosso país. a ações assistencialistas pontuais, como no caso da fome e da O Relatório Nacional de Acompanhamento dos ODM desta- seca, mas integravam “[...] políticas e projetos que tenham efeitos ca que a Meta 1 do Objetivo 1 (erradicação da extrema pobreza) compensatórios àqueles que têm efeitos permanentes na renda foi alcançada em 2007 e superada em 2008.A Meta 2 do Objetivo dos pobres.” (Arbache, 2003: 5). 1 (redução à metade da proporção da população mundial que As políticas compensatórias representam uma das vertentes passa fome), quando acompanhado através do indicador preconi- de ação regulatória que visa enfrentar o mal-estar da exclusão so- zado (baixo peso em crianças menores de quatro anos), também cial. Essas políticas foram as grandes responsáveis pela forte queda foi alcançada. da desigualdade social encontrada no início da década de 2000 Segundo este documento, uma combinação de fatores con- (Bursztyn, 2007). tribui para tais avanços: “estabilidade macroeconômica, o sistema Soares et al (2006) afirmam que a erradicação da pobreza e de proteção social delineado pela Constituição de 1988 acresci- a redução substancial dos níveis de desigualdade no Brasil dificil- do de programas de transferência de renda que foram unificados mente são atingidas sem que se recorra a mecanismos diretos de e expandidos a partir de 2003/4 – e a valorização real do salário distribuição da renda nacional. mínimo” (Ipea, 2010: 30). No entanto, é preciso que as políticas de transferência de Dito de outra forma e aproximando do tema em questão, renda acompanhem políticas estruturantes efetivas, que tragam cabe afirmar que, sem dúvida, o resultado positivo alcançado consigo ações que promovam oportunidades para que as famílias para o Objetivo 1 tem importante reflexo nos Objetivos 4 e 5. beneficiadas busquem sua autonomia frente à definição do seu Contudo, e ao mesmo tempo, deixa mais evidente a necessidade bem-estar particular, que crie mecanismos que as levem para um de aprimorar investimentos nas políticas públicas relacionadas nível de renda que não mais precisem do benefício da transferên- mais diretamente às causas imediatas da mortalidade materna e cia de renda para garantir sua sobrevivência, contribuindo para infantil, sobretudo a necessidade de aprimorar o atendimento ao diminuir o número de famílias potenciais beneficiárias em busca pré-natal, parto e puerpério. Visão Mundial Brasil | 19