O documento discute a tendinite em equinos, uma lesão comum nos tendões que causa dor e reduz o desempenho dos animais. Ele explica a anatomia dos tendões, as causas da tendinite, como o diagnóstico é feito por ultrassom, e as opções de tratamento incluindo anti-inflamatórios, fisioterapia e células-tronco. O prognóstico varia, mas a recuperação completa pode levar de 4 a 12 meses.
1. Saudações
Hoje irei abranger de maneira sucinta a tendinite, patologia muito comum na rotina do
clínico de equinos; que causa inúmeras perdas econômicas, reduzindo por vezes a vida útil do
animal na atividade esportiva a qual este se dedica, bem como infringindo diretamente o bem-
estar animal.
O tendão nada mais é do que uma faixa espessa de tecido conjuntivo fibroso que age
como intermediário na ligação do musculo ao osso, diferenciando-se dos ligamentos, que são
faixas similares de tecido conjuntivo que conectam ossos.
Os tendões constituem-se de várias unidades arranjadas longitudinalmente em três
níveis (feixe tendíneo primário, secundário e terciário). Os componentes básicos da estrutura
tendínea são as fibrilas de colágeno, a matriz extracelular e as fileiras de tenoblástos
(fibroblastos), células responsáveis por secretar substâncias necessárias a formação da matriz. A
figura 1 exemplifica a organização estrutural de um tendão. Simplificando; imaginemos que o
tendão seja uma corda e que dentro dessa corda existam vários filamentos de corda menos
espessos que se agrupam para formar o que seria a corda propriamente dita; o que é
possível de se visualizar quando se corta essa corda ao meio e se a observa de cima.
Os tendões possuem uma grande resistência a tração e tem baixa extensibilidade, uma
tensão que leve a um estiramento de 8-12% no comprimento das fibras tendíneas é capaz de
causar alterações que podem culminar com a ruptura de fibras. Assim nas diversas atividades
equestres, muitas vezes o tendão trabalha no seu limite fisiológico.
Ondulações presentes nas fibras colágenas permitem
o estiramento do tendão. Tensões que aumentem em
até 3% (fase elástica) o comprimento do tendão não
comprometem sua funcionalidade por não alterar o
aspecto ondulado das fibras colágenas. A partir de 5%
(fase viscoelástica) de aumento na extensão do
tendão, a tensão se encontra no limite fisiológico
levando a perda do aspecto ondulado. Quando a
tensão leva a 8%-12% (ruptura) de extensão pode
ocorrer ruptura de fibras.
3%
5%
≥8%
Fonte: STASHACK,
2. - Causas de tendinite
A tendinite está relacionada na maior parte das vezes a hiperextensões bruscas do
tendão durante trabalho, ou lesões que se acumulam ao longo do tempo causando desarranjo na
estrutura do tendão; em menor escala a lesão resulta de traumas infringidos diretamente sobre o
mesmo e correlacionados a casqueamento, ferrageamento e aprumos inadequados.
Por suportarem maior carga de tensão durante a locomoção, os membros torácicos são
geralmente os afetados (cerca de 60 a 65% do peso do equino está sustentado nos membros
torácicos); o TFDS trabalha no limite de sua resistência tênsil aumentando ainda mais o risco de
acometimento e sendo este o tendão envolvido na maioria dos casos de tendinite.
- Diagnóstico e Monitoramento das tendinites
Assim como em qualquer outra patologia o diagnóstico envolve uma boa anamnese e
um bom exame clínico, e torna-se indispensável um exame ultrassonográfico para melhor
acurácia desse diagnóstico. O exame ultrassonográfico torna-se importante não só em um
primeiro momento, mas também, para o monitoramento da recuperação tendínea, ajudando a
estabelecer melhor o prognóstico.
Os graus de claudicação apresentados na tendinite são variáveis; pode se observar um
aumento de volume local, calor e dor; sinais característicos de inflamação. A palpação fica por
muitas vezes difícil estabelecer um limite entre o TFDS e o TFDP, parecendo que os mesmos
se “fundem” em uma única estrutura.
Na ultrassonografia podem ser observadas alterações no tamanho, formato, textura,
posição e alinhamento das fibras tendíneas. Deve-se avaliar a região em um corte transversal e
em um corte longitudinal. Por muitas vezes “falhas” no tendão são perceptíveis como áreas
anecóicas; como se fossem um buraco em uma rodovia, variando essa falha em dimensão e
formato. Podem-se perceber também falhas no alinhamento das fibras. Imaginem cordas de
um violão onde cada uma delas deve estar devidamente alinhada para propagar o som de
maneira adequada, de maneira que quando uma está demasiadamente folgada ou
“trincada” o som não se propaga corretamente. No caso do tendão as cordas seriam as
fibras e o som seria a energia mecânica, assim com fibras rompidas (cordas trincadas), a
energia mecânica não se distribui igualitariamente. Tendo em vista que o tendão é uma
estrutura que recebe tensão do musculo e a distribui ao osso, o funcionamento da locomoção do
animal fica assim comprometido.
3. - Tratamento
O tratamento nem sempre é simples, sendo oneroso e demorado, chegando em muitos
casos a ter que afastar o animal das atividades esportivas por um ano.
As principais opções terapêuticas incluem o uso de antiinflamatórios não esteroídes
(AINE´s), glicosaminoglicanos, terapia com Plasma Rico em Plaquetas – PRP e células tronco
mesenquimais-CTM’s. A fisioterapia também é muito importante no tratamento e inclui
massagens com pomadas detentoras de princípios ativos antiinflamatórios, uso de Ultrassom
terapêutico e como opção mais efetiva o “Shock Wave”. Durante o período de tratamento
emprega-se a restrição do movimento e manutenção do animal em baia de cama macia, areia ou
maravalha. Existem opções cirúrgicas para casos de tendinite aguda, sob as quais não irei entrar
em detalhes.
-Prognóstico
Em torno de 20 a 60% dos animais tratados voltam as atividades esportivas, porém o
índice de recidiva é alto podendo chegar a 80%. Por isso deve-se conscientizar o proprietário da
imprevisibilidade do problema. Em muitos casos quando se tem éguas acometidas e o
prognóstico envolve uma recuperação lenta, de 4 a 6 meses, recomendo particularmente que o
proprietário a encaminhe para reprodução durante o tratamento, pois assim garante-se que o
animal fique pelo menos 12 a 15 meses sem atividade e se minimiza a perda econômica.
-
Égua, 13 anos, QM. Havia corrido prova de
vaquejada a cerca de uma semana e
apresentou após isso aumento de volume
na região palmar do metacarpo.
No exame clinico foi possível
constatar dor a palpação, presença
de edema e calor.
Dificuldade para distinguir o TFDS e
o TFDP
Animal com membro suspenso
maior parte do tempo
Fonte:ArquivoPessoal
4. Corte ultrassonográfico longitudinal
da região, mostrando lesão do TFDS
(área anecoíca)
Fonte:ArquivoPessoalFonte:ArquivoPessoal
Uso de ultrassom terapêutico em
animal com lesão de TFDS em
membro posterior