1. É T I C A
E RESPONSABILIDADE
SOCIAL NOS NEGÓCIOS
í• 1 rofeu |
^ c u l t u r a
1 e c o n ô m i c a
2 edição
Patrícia Almeida Ashley (coordenação)
Adele Queiroz
Alexandre Jorge Gaia Cardoso
Andréa Alcione de Souza
Antonio Rodrigues Alves
Armindo dos Santos de Souza Teodósio
Benilson Borinelli
ElviraCruvinel Ferreira Ventura
Jorge Bezerra Lopes Chaves
Letícia Helena M. Veloso
Lilian Mara Aligleri
Paulo Rogério Santos Lima
Roberto do Nascimento Ferreira
PI Editora
P Saraivawww.saraivauni.com.br
2.
3.
4. AUTORES
Adele Queiroz; Alexandre Jorge G. Cardoso; Andréa Alcione de Souza;
Antonio Rodrigues Alves; Armindo dos Santos de Souza Teodósio; Benilson Borinelli;
Elvira Cruvinel Ferreira Ventura; Jorge Bezerra Lopes Chaves;
Letícia Helena Medeiros Veloso; Lilian Aligleri; Patricia Almeida Ashley;
Paulo Rogério dos Santos Lima; Roberto do Nascimento Ferreira
ÉTICAe responsabilidade
social nos negócios
COORDENAÇÃO
Patricia Almeida Ashley
APRESENTAÇÃO
Maria Cecília Arruda
Coordenadora do Centro de Estudos sobre Ética nas Organizações, professora da FGV/EAESP
e presidente da International Society of Business, Economics and Ethics (ISBEE)
Peter Nadas
Presidente da Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (Fides)
2a EDIÇÃO
P- Editora
P Saraiva
www.saraivauni.com.br
6. A o s nossos filhos, fontes da Luz e m nosso caminho.
Às nossas famílias, laços de afeto e m nossa passagem,
A o s que p o r Ele prosseguirem, d o V e r b o se faça a Luz.
A Euclydes, guia especial
"Amanhã será outro dia. Vamos recomeçar agora e sempre.
Nunca desanimar é o lema. Cada dia é diferente.
Tudo é novo, quando assim consideramos."
Euclydes Pinheiro Fernandes (1908-1997)
7.
8. Agradecimentos
A o s q u e nos antecederam, nossa gratidão e respeito.
A Editora Saraiva, pelo apoio, orientação e confiança.
U m agradecimento especial na Editora Saraiva a Rita de Cássia da Silva, Flávia
Helena D a n t e Alves, Valéria Z a n n o c c o e ao Carlos A l b e r t o d e M a t t o s Pereira, sem-
pre p r o n t o s para apoiar e orientar.
A o C e n t r o d e Estudos de Ética nas Organizações, da FGV-Eaesp (Escola de
A d m i n i s t r a ç ã o d e Empresas d e São Paulo da Fundação G e t u l i o Vargas), pela r e d e
d e pesquisadores q u e v e m a p o i a n d o no Brasil e n o exterior, na f o r m a de eventos
acadêmicos e publicações, e pelo a p o i o à criação da Á r e a de G e s t ã o Social e A m -
biental n o E n c o n t r o da Associação Nacional dos Programas de P ó s - G r a d u a ç ã o e m
A d m i n i s t r a ç ã o (Enanpad).
A o C e n t r o d e Excelência n o Varejo da FGV-Eaesp pelo P r o g r a m a d e Res-
ponsabilidade Social n o Varejo, q u e p r o m o v e a d e m a n d a n o m e r c a d o d e bens e
serviços p r o d u z i d o s de f o r m a socialmente responsável.
A s revistas a c a d ê m i c a s na área de A d m i n i s t r a ç ã o , e m especial à R A E
(Revista de Administração de Empresas) e à Rausp (Revista de Administração
da Universidade de São Paulo), pela publicação d e a r t i g o s r e f l e x i v o s na t e m á -
tica da r e s p o n s a b i l i d a d e social empresarial.
A t o d a s as pessoas à f r e n t e das instituições d e ensino s u p e r i o r q u e v ê m p r o -
m o v e n d o a inserção da t e m á t i c a da responsabilidade social na f o r m a ç ã o de nível
superior, t a n t o na graduação q u a n t o na pós-graduação.
A o s gestores e empresários que v ê m a d o t a n d o a c o m p e t i t i v i d a d e c o m
base n o d e s e m p e n h o financeiro, social e ambiental c o m o critério d e sucesso
empresarial.
9.
10. íÉSobre os Autores
A D E L E Q U E I R O Z
Mestre e m Administração (FGV-Eaesp) e doutoranda na área de Ética, Ambiente
de Negócios e Políticas Públicas (Escola de Administração da Universidade de Pittsburgh,
Estados Unidos). Suas atuais áreas de interesse acadêmico e prático são a Responsabilidade
Social das Empresas, a Cidadania Empresarial Global e a Teoria dos Stakeholders.
A L E X A N D R E J O R G E G. C A R D O S O
Mestre e m Administração (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo —
PUC-SP) e professor d o Instituto de Estudos Superiores da A m a z ô n i a (lesam) e da
Faculdade d o Pará (FAP).
A N D R É A A L C I O N E D E S O U Z A
Mestre e m Administração (Universidade Federal de Minas Gerais — U F M G ) ,
doutoranda e m Economia Social e d o Trabalho (Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho — Unicamp ) e professora da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais ( P U C - M G ) .
A N T O N I O R O D R I G U E S ALVES
Mestre e m Administração (Universidade Estácio de Sá), especializado e m A d m i -
nistração de Sistemas de Informações (Universidade Federal Fluminense — UFF),
graduado e m Administração (Universidade Estácio de Sá) e professor da UFF e da
Universidade Salgado de Oliveira — Universo, além de consultor e m estratégias e m -
presariais para o meio ambiente.
A R M I N D O D O S S A N T O S D E S O U Z A T E O D Ó S I O
Graduado e m Economia (UFMG), mestre e m Gestão de Cidades/Ciências So-
ciais ( P U C - M G ) , professor e pesquisador da P U C - M G nos cursos de Administração e
Relações Internacionais, além de consultor especializado e m gestão de projetos sociais
e responsabilidade social corporativa.
11. B E N I L S O N BORINELLI
D o u t o r a n d o em Ciências Sociais e professor do Departamento de Adminis-
tração da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Graduado e m Administração e
mestre e m Política e Planejamento Governamental (Universidade Federal de Santa
Catarina — UFSC).
ELVIRA C R U V I N E L FERREIRA V E N T U R A
D o u t o r a n d a e m Administração (Escola Brasileira de Administração Pública
da Fundação Getulio Vargas — Ebap-FGV). Mestre e m Administração Pública pela
Ebape/FGV-RJ e graduada e m Administração Pública pela Eaesp/FGVSP. Entre os
seus interesses de pesquisa estão responsabilidade social das organizações, teoria
institucional e campos organizacionais, discursos organizacionais, p o d e r e controle
nas (e das) organizações, terceiro setor e desenvolvimento sustentável e adminis-
tração pública.
J O R G E BEZERRA LOPES C H A V E S
Graduado e m Administração de Empresas, com pós-graduação e m Docência Su-
perior e mestrado e m Administração, professor universitário e consultor organizacional,
prestando serviços a empresas de pequeno, médio e grande porte e a O N G s .
LETÍCIA H E L E N A M E D E I R O S V E L O S O
D o u t o r a e mestre e m Antropologia (Universidade de Chicago, Estados Unidos).
Atualmente, se encontra e m processo de obtenção de bolsa de fixação de pesquisa-
d o r (recém-doutorado), e m universidade no Rio de Janeiro.
LILIAN ALIGLERI
Graduada e m Administração de Empresas (UEL) c o m láurea acadêmica, mestre
e m Gestão de Negócios (UEL e Universidade Estadual de Maringá — UEM), docente
da graduação e da pós-graduação da UEL, da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná — PUC-PR e da Faculdade Paranaense.
P A T R Í C I A A L M E I D A A S H L E Y
D o u t o r a e m Administração de Empresas (Pontifícia Universidade Católica do
Rio de janeiro — PUC-RJ), mestre em Gestão de Serviços Públicos (Aston University,
Reino Unido), especializada em Análise e Projeto de Sistemas (Instituto Brasileiro de
Administração Municipal — Ibam) e graduada e m Ciências Econômicas (UFRJ). Atual-
mente, é professora-adjunta da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) e
consultora para educação e pesquisa sobre racionalidades empresariais apropriadas ao
desenvolvimento de mercados responsáveis e comunidades sustentáveis.
12. P A U L O R O G É R I O D O S S A N T O S L I M A
Bacharel e m C o m p u t a ç ã o e mestre e m Administração (PUC-SP). Atualmente,
é professor d o C e n t r o Universitário N o v e de Julho (Uninove), t e n d o c o m o disci-
plina de trabalho o t e m a Princípios Éticos no Marketing, no Curso de Tecnologia e m
Gestão de Marketing, T a m b é m é assessor de Responsabilidade Social da Secretaria
Municipal de Assistência Social de São Paulo, sendo responsável pela política de
parcerias da Secretaria c o m a iniciativa privada; c o o r d e n a d o r d o Seio Empresa
Cidadã da Câmara Municipal de São Paulo e parecerista d o lQ Prêmio FGV-Eaesp de
Responsabilidade Social no Varejo e da 3a Edição do Prêmio Valor Social d o Jornal
Valor Econômico.
R O B E R T O D O N A S C I M E N T O FERREIRA
Mestre e m Administração (Universidade Federal de Lavras), e especializado
e m Administração Financeira e e m Engenharia Econômica (UFSJ), graduado e m Ciên-
cias Contábeis (Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas de
Barbacena — Universidade Presidente A n t ô n i o Carlos — Unipac) e professor na
UFSJ. Atua nas áreas de Contabilidade e Finanças.
C o n t a t o c o m os autores: pashley@editorasaraiva.com.br
13.
14. ^ É Prefácio da 2â Edição
E
com satisfação que os 13 autores de Ética e responsabilidade social nos
negócios reúnem-se novamente e, nesta segunda edição, acompanha-
dos de mais um membro no grupo, consolidam a perspectiva ampla
e sistêmica com que já vinham abordando o conceito da responsabilidade social
empresarial.
Mais amadurecidos, os autores adotam uma abordagem reflexiva ao movi-
mento em torno das novas práticas de gestão nas organizações, tanto nas de fms
privados quanto nas de fins públicos. Desde a primeira edição, diversas pesquisas
dos autores foram concluídas e novas iniciadas, todas em torno da temática da ética
e da responsabilidade social empresarial.
O grupo de 13 autores desta segunda edição vem participando ativamente
da educação de alunos de graduação e pós-graduação; da orientação de novas pes-
quisas; da assessoria a organizações públicas e privadas; de bancas de examinadores
de artigos para concursos e para revistas e eventos acadêmicos; de eventos públi-
cos e no meio acadêmico, tanto como organizadores quanto como palestrantes e
debatedores; da construção de projetos pedagógicos de cursos de graduação que
incorporem o tema da ética e responsabilidade social empresarial como abor-
dagem transversal a todas as matérias — a exemplo do implantado no Centro
Universitário São Camilo — Espírito Santo; enfim, da construção e ampliação de
redes interinstitucionais nacionais e internacionais para uma reflexão crítica sobre
os limites e as oportunidades da incorporação da responsabilidade social pelas or-
ganizações empresariais.
Seguindo a receptividade da primeira edição, tanto no meio acadêmico
quanto entre os gestores de organizações públicas e privadas, apresentamos esta
segunda edição, estruturada segundo aquela perspectiva ampla e sistêmica que ca-
racterizou a primeira. Nesse sentido, o livro está dividido em oito partes, as quais
organizam os 14 capítulos desta segunda edição.
15. A primeira parte — "Responsabilidade social empresarial: a fundamen-
tação na ética e na explicitação de princípios e valores"—justifica e fundamenta o
conceito de responsabilidade social empresarial na ética, como raiz que precisa ser
analisada e cuidada, antes de se recorrer à imediata aplicação de ferramentas geren-
ciais.Tais ferramentas gerenciais voltadas para a responsabilidade social empresarial,
antes de aplicadas e para verificar a compatibilidade com a perspectiva ética que
se quer adotar na empresa, precisam ser previamente analisadas quanto às suas
finalidades, quanto aos segmentos sociais da sociedade local e internacional que são
representados pelos que contribuíram para a sua elaboração e aplicação, quanto a
como é medido quantitativa ou qualitativamente o conceito que é objeto da fer-
ramenta gerencial, e quanto aos fundamentos conceituais e, a partir daí, quanto ao
que é incluído e o que é excluído do arcabouço conceituai.
A segunda parte — " O contexto histórico na mudança do sentido e a agenda
em expansão: mantendo-se a visão crítica" (visão crítica esta necessária a qualquer
edição que trate do tema objeto deste livro) — apresenta um histórico sobre o
conceito de responsabilidade social empresarial e como vem sendo incorporado no
contexto brasileiro. A formação de grupos de pesquisa em instituições de ensino
superior dedicados a esse tema, por exemplo, é um destaque que não pode mais ser
desconsiderado quando se avalia o grau de difusão na formação de conhecimento
próprio ao contexto brasileiro. Passou a fase de carência de artigos e produção cien-
tífica no Brasil, o que já é reconhecido internacionalmente nos eventos acadêmicos
voltados para o tema da responsabilidade social empresarial.
Por adotarmos uma perspectiva ampla e sistêmica para a responsabilidade
social empresarial, não comungamos do reducionismo do tema à perspectiva do
investimento social privado, ainda divulgado por consultores, autores e jornalistas
como sendo a definição de responsabilidade social empresarial. Por que tem havido
esse reducionismo é uma questão para debate amplo na sociedade brasileira. Pode-
-se argumentar que esse tipo de investimento é mais fácil de ser implementado
pelas empresas e mais visível na mídia — à semelhança da preferência que muitos
prefeitos têm por obras viárias e novas praças e canteiros, em vez de transparência
e qualidade na gestão dos serviços públicos e no orçamento governamental.
Nesse sentido, a terceira parte — " O recorte dos modelos para a responsabili-
dade social empresarial" — discute a aplicabilidade de tais modelos ao contexto
brasileiro e propõe uma linguagem multidimensional, relacionai e multidirecional
para a responsabilidade social empresarial. C o m tal linguagem unificada, será pos-
sível orientar a análise de ferramentas gerenciais e apoiar o desenvolvimento de
uma orientação estratégica apropriada aos desafios éticos, cuja adoção na atividade
empresarial se propõe.
Partindo-se, então, de um conceito de empresa como rede de relações ne-
gócio-sociedade, algumas dessas relações são tratadas da quarta à sétima partes do
16. livro: as relações comunitárias; as relações financeiras e de capital; as relações traba-
lhistas; e as relações comerciais.
Finalmente, indicando que o conceito de responsabilidade social empre-
sarial precisa, para a sua difusão e legitimidade interinstitucional, ser aplicado e
fomentado também na gestão pública, é apresentada a última parte — " O recor-
te da prestação de contas e democracia nos modelos de gestão da organização
pública e privada". Nela, vê-se que a democracia organizacional será uma neces-
sária vertente para as organizações do século X X I .
A segunda edição estruturou-se como uma síntese da contribuição de seus
13 autores, de maneira que se construísse uma obra coletiva, havendo um entre-
laçamento entre as contribuições, seja pela citação de casos, seja pela consolidação
de textos que tratassem da contextualização do tema objeto do livro. Entretanto,
cabe ressaltar as partes e os capítulos em que cada um dos 13 autores contribuiu
mais efetivamente:
Parte I — Responsabilidade social empresarial: a fundamentação na ética e
na explicitação de princípios e valores
Capítulo I: Letícia Helena M e d e i r o s Veloso
Capítulo 2: Jorge Bezerra Lopes Chaves e Patrícia A l m e i d a Ashley
Parte 2 — O c o n t e x t o histórico na mudança do sentido e a agenda e m ex-
pansão: mantendo-se a visão crítica
Capítulo 3: Patrícia A l m e i d a Ashley
Capítulo 4: Paulo Rogério dos Santos Lima, Lilian Aligleri, Benilson
Borinelii e Patrícia A l m e i d a Ashley
Parte 3 — O recorte dos modelos para a responsabilidade social empresarial
Capítulo 5: A d e l e Q u e i r o z
Capítulo 6: Patrícia A l m e i d a Ashley
Parte 4 — O r e c o r t e das relações comunitárias
Capítulo 7: Benilson Borinelii e Lilian Aligleri
Capítulo 8: A l e x a n d r e Jorge G. C a r d o s o
Parte 5 — O r e c o r t e das relações financeiras e de capital
Capítulo 9: R o b e r t o d o N a s c i m e n t o Ferreira
Capítulo 10: A n t o n i o Rodrigues Alves
Parte 6 — O r e c o r t e das relações trabalhistas
Capítulo II: A n d r é a A l c i o n e de Souza e A r m i n d o d o s Santos d e
Sousa T e o d ó s i o
17. Parte 7 — O r e c o r t e das relações de comércio
Capítulo 12: Patricia A l m e i d a Ashley
Parte 8 — O r e c o r t e da prestação de contas e democracia nos modelos
de gestão da organização pública e privada
Capítulo 13: Elvira Cruvinel Ferreira V e n t u r a
Capítulo 14: A r m i n d o dos Santos d e Sousa T e o d ó s i o e Patricia
A l m e i d a Ashley
Quanto ao material de apoio a professores, na forma de slides; casos, com
perguntas sugeridas; banco de testes e suplemento, contendo temas para pesquisa
e sugestão de metodologia; tudo pode ser acessado no site www.saraivauni.com.br.
Sendo material extenso, o seu acesso é facilitado por esse meio digital que a Editora
Saraiva vem proporcionar aos professores.
Os capítulos da primeira edição que não constam da segunda edição tam-
bém estão disponíveis no mesmo site. Dessa forma, a complementação do meio
digital a este meio impresso permite a redução dos custos de produção, sem perda
de conteúdo para os leitores.
Esperamos que esta segunda edição venha consolidar a reflexão crítica
quanto aos fundamentos, desafios e oportunidades da incorporação da responsa-
bilidade social empresarial nos critérios de competitividade a serem apreciados
pelo mercado e pelo Estado, tanto em suas decisões de seleção e compra de bens e
serviços, quanto em suas decisões de oferta de crédito e de investimento. Mercados
responsáveis são o que a responsabilidade social empresarial mais precisa que as fa-
mílias, empresas, bancos e organizações públicas e estatais, nacionais e estrangeiras,
formem. Somente isso a legitimará como novo paradigma de gestão das organiza-
ções empresariais.
Os autores
18. ^ A p r e s e n t a ç ã o
P
oucos trabalhos de peso sobre a responsabilidade social no âmbito das
empresas nos são oferecidos no mercado brasileiro. Patrícia Almeida
Ashley e uma séria equipe de colegas que vêm militando na área, seja
academicamente seja junto a organizações, brindam-nos agora com uma contri-
buição ainda mais aprimorada que a da primeira edição, em 2003.
E m apenas um ano após o lançamento deste livro, coisas importantes pas-
saram a nos chamar muito a atenção. Primeiro, todos os autores parecem ter dado
um grande passo à frente em suas respectivas carreiras. Esse é um sinal claro de
que a disciplina Responsabilidade Social Corporativa (RSC) não é um modismo, mas
é estudada cientificamente e tratada com dedicação, com vistas à sua aplicação
indispensável na empresa do século X X I . A criação de cursos específicos de R S C
em nível de pós-graduação, mestrado e doutorado, em todo o mundo, sinaliza que
as organizações não a podem ignorar. Novas dissertações e teses substanciais foram
defendidas, indicando que ainda há muito campo para se avançar. A Academia
procura se antecipar o quanto pode e acompanhar sempre o movimento da R S C ,
ajudando as organizações a concretizar seus esforços da forma mais correta e ética
possível, focando-os na mesma direção que o resto do mundo.
E m segundo lugar, uma onda de escândalos em empresas tidas como líderes
em ética nos negócios surgiu como exemplo de que a ética e a responsabilidade
social não podem ser usadas como instrumento de relações públicas ou marketing.
O próprio governo se adianta na busca de princípios e processos mais transpa-
rentes, de accountability em seu trabalho e na exigência de que o setor privado se
mobilize. N o campo financeiro, por exemplo, o Banco Central do Brasil foi pio-
neiro na exigência de criação de controles de ética e compliance nas instituições.
Em terceiro lugar, mecanismos de apoio e de mensuração vão sendo criados
em todo o mundo, sendo agora levados a sério pelas organizações que não têm
vergonha de trabalhar bem. Os princípios da Organisation for Econouiic Co-operatiori
19. and Development (OECD), ainda que não contem com a adesão de muitos gover-
nos, têm servido de inspiração a um grande número de instituições que desejam
ser bem-sucedidas sem ferir a ética ou a responsabilidade social. Na Organização
das Nações Unidas (ONU), o Global Compact vem gerando iniciativas de valor
em grandes empresas multinacionais. Uma dessas iniciativas foi a Global Reporting
Initiative (GRI), segundo a qual os registros nas organizações devem servir para seu
controle e para estudos de evolução.
Muitas outras poderiam ser mencionadas, mas não é nosso objetivo esgo-
tar aqui a informação. O importante é notar que a preocupação com a ética e a
responsabilidade social saiu do foro interno de uma organização bem-intencio-
nada para se institucionalizar como obrigação moral das empresas.
E m quarto lugar, um genuíno sentido de cidadania ganhou importância
com a criação ou desenvolvimento sensível de organizações não governamentais
(ONGs) e com campanhas específicas. Continua sendo muito difícil aceitar que
o Brasil, país tão jovem e rico em recursos humanos e naturais, tenha de enfrentar
limitações tão graves como a fome.
Neste ano que transcorreu desde o lançamento da primeira edição de Ética
e responsabilidade social nos negócios, a campanha Fome Zero ganhou apoio da popu-
lação, das empresas, dos órgãos governamentais e de um sem-número de ONGs.
Se a ética estivesse presente em todos os cidadãos e autoridades envolvidos no pro-
grama, sem dúvida grande parte do problema estaria já resolvida. Não está. Ainda
faltam muita ética e responsabilidade social.
Mais uma vez é de esperar que a liderança de muitas ações em prol da
comunidade — carente dos mais básicos valores e de direitos humanos fun-
damentais — venha do setor privado. Não como função precípua, mas como
exemplo de responsabilidade social madura. Sem honradez e competência, di-
ficilmente projetos governamentais de envergadura alcançam seus objetivos. A
iniciativa privada precisará tomar a dianteira, porque o setor público não pare-
ce estar tão compenetrado da sua responsabilidade. As Parcerias Público-Privadas
(PPPs) chegam para mostrar que o governo brasileiro hoje precisa e — por que
não dizer? — depende da empresa para alcançar suas metas e fazer o que deve. A
parceria não pode se restringir ao uso do capital privado, como muitos pretendem,
mas deve servir ao governo de aprendizado a respeito de planejamento, trabalho
duro e sério, cumprimento de leis, normas e regras para alcançar as metas propostas.
A ética e a responsabilidade social nos negócios, se bem vividas pelas organizações
privadas envolvidas nas PPPs, constituem esperança de grandes mudanças no País,
pois estarão estabelecendo padrões elevados de integridade e competência.
Desejamos à professora doutora Patricia Almeida Ashley e aos demais auto-
res muito sucesso em mais esta edição de Ética e responsabilidade social nos negócios.
20. Que os estudantes ou profissionais,executivos da iniciativa privada ou servidores
governamentais, ganhem muito com a leitura e reflexão do rico material que a
Editora Saraiva passa agora às nossas mãos.
Professora Doutora Maria Cecília Coutinho de Arruda
Professora Adjunta do Departamento de Mercadologia da FGV-Easp
Coordenadora do Centro de Estudos de Ética nas Organizações da Escola de Administração
de Empresas em São Paulo da Fundação Getulio Vargas (CENE-EASP-FGV)
Presidente da International Society of Business, Economics and Ethics (Isbee)
21. A
seriedade deste trabalho coordenado por Patricia Almeida Ashley
veio preencher uma grave lacuna no panorama editorial referente à
presença e ao papel das empresas na sociedade brasileira. A discussão
do tema, fundamentada numa pesquisa em profundidade, enriquece-se sobrema-
neira com a presente publicação.
E uma discussão que a Fundação Fides (Fundação Instituto de Desenvol-
vimento Empresarial e Social) vem fomentando e alimentando com elementos
práticos e experimentais há mais de 15 anos. Mais especificamente no campo da
Ética na Atividade Empresarial e no da Responsabilidade Social das Empresas, a
Fides tem promovido pesquisas, seminários, simpósios e outros eventos com o ob-
jetivo de levantar questões fundamentais para o debate da sociedade.
No momento em que a presente obra sai do prelo, um dos temas de discus-
são mais em voga no Brasil é o do instrumento que se convencionou chamar de
Balanço Social. Em verdade, neste título, escondem-se desencontrados conceitos e
diversas tendências que, de certa forma, denotam as divergências filosóficas a res-
peito do papel e da responsabilidade das empresas neste início de terceiro milênio.
O Balanço Social, que deveria ser apenas um instrumento de medição, vem se
transformando numa panaceia que, na visão de muitos de seus usuários, chega para
satisfazer as atuais exigências de prestação de contas feitas às empresas.
O conceito de Balanço Social tem sido aprofundado e trabalhado pela Fun-
dação Fides desde o início de sua existência, como instrumento de concretização
da responsabilidade social da empresa e do processo de participação de todos os
agentes envolvidos na atuação empresarial.
Passados 20 anos desde a realização de um primeiro evento promovido pelo
Instituto de Desenvolvimento Empresarial — predecessor da Fides — a respeito
dos conceitos e metodologias de Balanço Social, a Fundação implantou, em 1999,
um Fórum Permanente de Balanço Social. Trata-se de um espaço criado espe-
cialmente para a troca de idéias a respeito do Balanço Social — e, por extensão, a
respeito da Ética Empresarial e da Responsabilidade Social das Empresas — por
todos os interessados, tanto nos aspectos conceituais quanto operacionais. O fórum
nasceu da preocupação com a grande diversidade de conceitos a respeito do Balan-
ço Social. Podem-se citar pelo menos quatro linhas de abordagem que se percebe
a respeito, no meio empresarial.
Por um lado, há uma visão legalista de fundo coletivista que pretende definir,
por meio de leis específicas, o papel social da empresa, obrigando-a a publicar seu
Balanço Social. Para que não pairem dúvidas, os defensores desta abordagem defi-
nem o modelo de Balanço Social e engessam nesse modelo todo tipo de empresa,
22. pequena, média ou grande, agrícola, extrativista, comercial, industrial ou prestadora
de serviços. Evidentemente, a corrente liberal se opõe a essa obrigatoriedade, não
apenas por causa da rigidez que venha a causar, mas em nome dos princípios de
liberdade de mercado que são sua bandeira.
Em segundo lugar, vem a perspectiva contábil do Balanço Social, que o
faz assemelhar-se a um balanço econômico e que consiste fundamentalmente na
somatória dos valores gastos nas ações consideradas sociais pela empresa. Na ver-
dade, essa visão mede apenas as despesas, cuja origem se encontra na obrigação
legal (previdência e seguridade social, legislação trabalhista etc.) ou nas inclinações
filantrópicas dos dirigentes da empresa.
Uma terceira perspectiva provém de uma visão de interesse próprio e ali-
menta um processo de marketing, utilizando a existência de um Balanço Social
como argumento de demonstração da preocupação da empresa com os aspectos
sociais de sua atuação. Espera-se, nesses casos, atrair clientes que venham a dar pre-
ferência a empresas que agem de forma "socialmente responsável".
U m quarto grupo de conceitos, finalmente, é o das empresas que, genuina-
mente preocupadas com sua responsabilidade perante os diversos públicos com os
quais se relacionam, agem de forma participativa e o seu Balanço Social consiste
em medir o grau em que a sua estratégia de ação no campo social atende às expec-
tativas desses públicos, de ano em ano.
E evidente que essas diversas abordagens conceituais dão origem a uma
multiplicidade de metodologias operacionais. E, neste sentido, a presente obra vem
acrescentar, a respeito de um importante setor da economia, relevantes informa-
ções e observações, descrevendo de forma clara a caminhada de grandes grupos
empresariais em direção a uma responsabilidade social corporativa.
Por todos esses aspectos, tanto os empresários comprometidos com preocu-
pações éticas genuínas quanto os estudiosos do assunto receberão com satisíação
o aporte dos autores desta obra à discussão séria de um tema tão importante em
nossos dias.
Peter Nadas
Presidente Fundação Fides
23.
24. ^ÉSumário
^ Responsabilidade social empresarial: a fundamentação na ética
W e na explicitação de princípios e valores
H
hí Capítulo I Ética, valores e cultura: especificidades do conceito
de responsabilidade social corporativa 12
Introdução I 3
Ética, moral e responsabilidade social corporativa
no terceiro milênio 14
Cultura e responsabilidade social corporativa
no terceiro milênio 17
Cultura brasileira e responsabilidade social corporativa:
exemplos e direções I 10
Capítulo 2 Racionalidades para a ética empresarial e a gestão
da empresa cidadã I 14
Racionalidade empresarial em um contexto
de desigualdades I 15
Complexidade de interesses e difusão de valores I 17
Decodificando racionalidades subjacentes e m modelos de
gestão da empresa cidadã: o caso dos Indicadores Ethos
de Responsabilidade Social 120
25. CN O c o n t e x t o histórico na mudança do sentido e a agenda
MJ e m expansão: mantendo-se a visão crítica
b
P h Capítulo 3 A mudança histórica do conceito de responsabilidade
p j social empresarial 140
Os primórdios do conceito de responsabilidade social
corporativa no século X X l 4 l
Evolução recente do conceito de responsabilidade social
corporativa 142
Em direção a amplas abordagens normativas
e sistêmicas 146
Da gestão antropocêntrica à gestão ecocêntrica I 51
Da produção ao consumo responsável I 53
Tendências e desafios para a responsabilidade social
nos negócios I 57
Capítulo 4 RSE no contexto brasileiro: uma agenda e m contínua
expansão e difusão 159
O contexto global I 60
Os sentidos da RSE no contexto brasileiro I 61
A difusão do tema da responsabilidade social
das empresas no Brasil 164
A retórica e a prática 167
A agenda de pesquisai 69
PO O r e c o r t e dos modelos para a responsabilidade social empresarial
W
H Capítulo 5 Aplicação de modelos de responsabilidade social
à realidade brasileira 184
a Indicadores de Hopkinsl 85
As empresas selecionadas na pesquisa I 8 9
Verificação d o s indicadores 189
Nível I — Princípios de responsabilidade social I 8 9
Princípios da legitimidade I 8 9
Princípios da responsabilidade pública 191
Princípios do arbítrio dos executivos 192
26. Nível II — Processos de capacidade
de resposta social 192
Nível III — Resultados/ações
de responsabilidade social 193
Efeitos nos stakeholders internos I 93
Efeitos nos stakeholders externos I 94
Efeitos institucionais externos I 95
Disponibilidade de informações I 96
Conclusão I 97
Capítulo 6 Responsabilidade social empresarial: um modelo
genérico para análise e orientação estratégica 198
Introdução 199
U m modelo genérico para análise e orientação estratégica
quanto à RSEl102
Roteiro básico para o autoconhecimento da empresa
quanto ao seu sentido para a RSEI 117
^ O r e c o r t e das relações comunitárias
W
h Capítulo 7 Revisitando a responsabilidade social e m grandes
P ^ empresas de Londrina e região: a percepção
e a prática no período 2000-2003 I 122
Introdução I 123
Resultados I 124
Percepção sobre a responsabilidade social empresarial I 124
F o r m a de atuação I 125
Responsabilidade social na filial de grandes empresas I 127
Limites para a expansão das ações I 127
A n á l i s e e discussão I 128
Q u e s t õ e s críticas da ação social empresarial I 129
Concentração de p o d e r I 129
Fragmentação das ações I 130
Restrições ao controle público I 132
Postura contraditória d o empresariado e m relação
ao p o d e r público I 133
C o n s i d e r a ç õ e s finais I 136
XXIII
Oo
c:
3
o>-
5'
27. Capítulo 8 A percepção e prática da responsabilidade social e m
micro e pequenas empresas na região metropolitana
de Belém I 137
Introdução I 138
Metodologia I 141
Caracterização e resultados I 141
Considerações finais I 147
m
O r e c o r t e das relações financeiras e d e capital
H
P Ú Capítulo 9 Responsabilidade social empresarial e valor
das empresas I 150
P-t
Introdução I 151
Justificativas e caminhos para a RSE: adhocracia
ou regulação I 152
Responsabilidade social e valor das empresas I 157
O s investimentos socialmente responsáveis I 159
C o m o mensurar o desempenho financeiro e o valor
de uma empresa I 166
C o m o mensurar o desempenho social
de uma empresa I 171
Resultados de alguns estudos que a b o r d a m
a relação entre o desempenho financeiro
e o desempenho social I 172
Ativos mais velhos, mais problemas ambientais I 172
Correlação positiva na indústria química I 172
Desempenho financeiro e indicadores de RSE I 173
Performance social e performance financeira: uma
relação sinergética I 173
25 anos de pesquisa: retratos divergentes I 174
Mudanças no desempenho social e seu efeito
no desempenho financeiro I 175
Considerações finais I 176
Capítulo 10 O c o n t e x t o internacional do sistema financeiro diante
do gerenciamento ecológico: as respostas
de dois bancos múltiplos brasileiros I 178
Introdução I 179
Evolução do enfoque ambiental das empresas I 180
28. A a b o r d a g e m d o g e r e n c i a m e n t o e c o l ó g i c o I 182
O sistema financeiro e o m e i o a m b i e n t e I 184
A estrutura do Sistema Financeiro Nacional I 184
Os bancos múltiplos I 185
Interfaces do Sistema Financeiro Nacional
c o m o meio ambiente I 185
O sistema financeiro internacional c o m o vetor
propulsor de mudanças I 186
Fundo Monetário Internacional (FMI)I 187
O Grupo Banco Mundial I 188
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) I 188
Associações e organizações de interesse específico
para o meio ambientei 189
Unep Finance Initiative I Í89
Environmental Bankers Association (EBA) I 189
As respostas de dois bancos múltiplos brasileiros I 190
Política ambiental I 192 Kj£j
Inclusão de critérios ambientais na avaliação
do risco I 193
Órgãos estruturais para o meio ambiente I 194
Processos internos dos bancos I 194
Marketing I 195
Sistemas de avaliação d e resultado I 196
C o n s i d e r a ç õ e s finais e r e c o m e n d a ç õ e s
para novos estudos I 196
Q O r e c o r t e das relações trabalhistas
W
Capítulo II A inserção do afrodescendente no mercado
de trabalho brasileiro: desafios e dilemas para
P_i a construção de políticas étnicas nas organizações 1200
I n t r o d u ç ã o 1201
P r e c o n c e i t o n o plural: a discriminação étnica
n o Brasil 1203
A exclusão racial n o m e r c a d o de t r a b a l h o I 205
Políticas d e c o m b a t e ao p r e c o n c e i t o é t n i c o
nas organizações I 208
C o n s i d e r a ç õ e s finais I 210
29. t ^ O r e c o r t e das relações de c o m é r c i o
W
Capítulo 12 Supermercados na reorientação de práticas de
produção, comércio e c o n s u m o de alimentos 1212
Introdução I 213
Indicadores para a Dimensão de Relações
Core Business do m o d e l o M R M R S N : aplicação
aos supermercados 1213
Escala de medida para avaliar o grau de receptividade
e efetividade 1221
Tratamento das respostas aos indicadores de princípios de
responsabilidade social 1222
Considerações finais 1226
0 0 O r e c o r t e da prestação de contas e d e m o c r a c i a nos m o d e l o s
W d e gestão da organização pública e privada
H
P h Capítulo 13 O Banco C e n t r a l d o Brasil 1230
e£
Introdução 1231
Responsabilidade social e accountability
no setor público 1232
O papel dos bancos centrais 1233
Elementos da responsabilidade social
de bancos centrais I 234
O Banco Central d o Brasil I 237
Responsabilidade social d o Bacen 1238
Relacionamento com a sociedade
e prestação de contas 1240
Responsabilidade social da organização I 242
Conclusão 1246
Capítulo 14 Ética, política e administração: entre a democracia
e a eficiência I 248
Política, administração, democracia e autoridade 1249
Estado, ética e política 1252
30. Atributos gerenciais, ética das convicções e ética
das responsabilidades I 254
Infraestrutura moral e capitalismo diante das
especificidades culturais no espaço urbano I 256
A interação argumentativa no exercício da autoridade: a
política e a administração reconciliadas I 261
Referências 1265
índice Remissivo I 289
No site
Capítulos da Ia edição disponíveis na íntegra no site www.saraivauni.com.br:
A responsabilidade social nos negócios: u m conceito e m
construção
Sistemas de gestão ambiental: desafios de sua difusão no
cenário brasileiro
Cooperativas agropecuárias: uma análise sociopolítica
A reinclusão da terceira idade: uma abordagem para a
responsabilidade social
Veja t a m b é m outros materiais no site
33. capítulo
Ética, valores e cultura: especificidades do conceito
de responsabilidade social corporativa
Este capítulo procura discutir as noções de ética, valores
morais e cultura em relação ao conceito de responsabili-
dade social corporativa. A partir disso, procura-se oferecer
algumas indicações sobre como se pode pensar a responsa-
bilidade social corporativa tomando a ética como ponto
de partida.
Essas reflexões levam à discussão sobre as especificidades
da responsabilidade social corporativa no terceiro milênio
e na era da globalização, época em que ser socialmente
responsável nos negócios vem se tornando imprescindível
para as empresas.
E cada vez maior a importância dos aspectos culturais, que
precisam ser tomados em conjunto com preocupações
éticas e morais no entendimento da responsabilidade social
nos negócios, principalmente em uma fase da história em
que culturas diferentes estão cada vez mais entrelaçadas e
precisam conviver. O capítulo termina com algumas indi-
cações sobre cultura brasileira em relação à questão mais
ampla dos valores culturais e como eles se inserem no dia
a dia dos negócios.
34. • Introdução
M
uito se tem falado nas responsabilidades das empresas perante
seus funcionários, acionistas, clientes, enfim, todos os stakcliolders
tomados no sentido mais geral possível do termo, o que englo-
baria, no limite, a sociedade como um todo e até o mundo, hoje cada vez mais
globalizado. A preocupação com princípios éticos, valores morais e um conceito
abrangente de cultura é necessária para que se estabeleçam critérios e parâmetros
adequados para atividades empresariais socialmente responsáveis.
Especificamente na área de ética e responsabilidade social, há muitos tra-
balhos interessantes que mostram preocupação com a cultura. E m administração,
vários autores também estão se voltando, com freqüência, para esses mesmos temas.
E m comum entre essas duas vertentes da literatura acadêmica há um reconheci-
mento de que ética, cultura e valores morais são inseparáveis de qualquer noção
de responsabilidade empresarial. Afinal, o próprio fato de se considerar que uma
organização tem determinadas responsabilidades para com seus interlocutores ne-
cessariamente envolve uma elaboração ética e vice-versa: qualquer reflexão sobre
ética sempre tem em mente as responsabilidades percebidas como intrínsecas às
organizações1.
Dentre os estudos mais recentes, temos o livro editado por Nelson Teixeira ( T E I X E I R A , N. G. (Org.).
A ética no m u n d o da empresa. São Pauto: Pioneira, 1991. Coleção Novos Umbrais) e os trabalhos
de Nash (NASH, Laura L. Ética nas empresas: boas intenções á parte. São Paulo: Makron Books,
1993) e Aguilar (AGUILAR, Francis J. A ética nas empresas: maximizando resultados através de
uma conduta ética nos negócios. Rio de Janeiro: Jorge Zaliar, 1996), que tratam da ética empresarial
em geral. Há ainda trabalhos interessantes que tratam mais diretamente de ética em relação à respon-
sabilidade social das empresas, entre os quais os de Robbins e Coulter (ROBB1NS, S.; C O U L T E R ,
M. Responsabilidade social e ética da administração. São Paulo: Prennce-Hall do Brasil, 1998)
e Srour ( S R O U R , Robert H. Ética empresarial: posturas responsáveis nos negócios, na política e
nas relações pessoais. R i o de Janeiro: Campus, 200(1). Para o tema que nos interessa aqui, Srour é espe-
cialmente importante, porque procura inserir a preocupação com a ética empresarial em um contexto
bem amplo, que inclui atenção a práticas responsáveis tanto nos negócios quanto nas relações pessoais
e até na política. Mas, além de trabalhos acadêmicos propriamente ditos, o interessado no tema da res-
ponsabilidade social corporativa não pode deixar de consultar relatórios de pesquisa como Estratégias de
empresas no Brasil, com a supervisão geral de Rosa Maria Fischer (FISCHER, Rosa Maria. Estratégias
de empresas no Brasil: atuação social e voluntariado. Brasília: P r o g r a m a Voluntários; Conselho da
Comunidade Solidária. 1999), que aborda a responsabilidade social corporativa e como ela tem sido
tratada no Brasil por empresários e outras partes interessadas, ao mesmo tempo que nos mostra casos
concretos da aplicação de preceitos do assunto por empresas brasileiras e os valores e visões de mundo
dos empresários e outros agentes ativos em tais projetos. Esse relatório é especialmente importante poi-
sei" a pesquisa mais abrangente publicada até agora sobre o tema no Brasil, envolvendo trabalho quali-
tativo e quantitativo, bem como um estudo de caso sobre o Instituto C&A. A grande contribuição de
tais relatórios de pesquisa está em mostrar que a preocupação com responsabilidade social corporativa,
apesar de talvez ainda minoritária em empresas brasileiras, vem inegavelmente ganhando força.
35. • Ética, moral e responsabilidade social
corporativa no terceiro milênio
Muito se tem escrito sobre ética, valores, moral e cultura2, mas ainda falta
explicitá-los de forma mais sistemática3. Por um lado, tentativas por parte de deter-
minadas organizações de estabelecer padrões de ética e responsabilidade social em
suas atividades e formas de gestão, muitas vezes, têm se limitado a criar códigos
de ética. Por outro, muitos trabalhos acadêmicos também se interessam mais pelo
aspecto instrumental de conceitos como ética ou moralidade, procurando explici-
tar de que forma prática eles deveriam ser promovidos e até mesmo implantados
dentro das organizações4. Há ainda outra vertente importante, formada, por exem-
plo, por Srour, Motta e Caldas, que desenvolve os temas de que tratamos aqui, mas
de maneira voltada à reflexão para o caso brasileiro e às formas de ética e valores
predominantes em nossa cultura5.
Parece lícito afirmar, então, que hoje em dia as organizações precisam estar
atentas não apenas a suas responsabilidades econômicas e legais, mas também a suas
responsabilidades éticas, morais e sociais.
Responsabilidades éticas correspondem a atividades, práticas, políticas e com-
portamentos esperados (no sentido positivo) ou proibidos (no sentido negativo) por
membros da sociedade, apesar de não codificados em leis. Elas envolvem uma série
de normas, padrões ou expectativas de comportamento para atender àquilo que os
diversos públicos (stakeholdersj com as quais a empresa se relaciona consideram legíti-
mo, correio, justo ou de acordo com seus direitos morais ou expectativas''.
Essas responsabilidades éticas correspondem a valores morais específicos.Va-
lores morais dizem respeito a crenças pessoais sobre comportamento eticamente
correto ou incorreto, tanto por parte do próprio indivíduo quanto com relação
2 Veja, por exemplo, NASH, 1993; AGUILAR, 1996; ZADEK, 1998 (ZADEK, Simon. Balancing perfor-
mance, ethics, and accountability. Journal o f Business Ethics, Dordrecht, v. 17, n. 13, p. 1421-1441
Oct. 1998) e S R O U R , 2000.
-1 O objetivo deste capítulo não é fazer uma análise detalhada da literatura, e sim apenas apontar as direções
mais importantes para a discussão sobre ética, valores e cultura na responsabilidade social corporativa.
4 U m exemplo é o importante trabalho de Aguilar, 1996.
5 Apesar de o volume editado por Motta e Caldas (MOTTA, Fernando C. Prestes; CALDAS, Miguel P.
(Orgs.). Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997) não tratar diretamente
da responsabilidade social corporativa, a preocupação dos autores com os valores culturais, éticos e
morais predominantes no Brasil pode facilmente ser expandida para incluir o tema da responsabilidade
social corporativa.
'' C A R R O L L , Archie ü. Ethical challenges for business in the new millennium: corporate social res-
ponsibility and models of management morality. Business Ethics Quarterly Washington p 33-42
Jan. 2000, p. 36.
36. aos outros. É dessa maneira que valores morais e ética se complementam. A moral
pode ser vista como um conjunto de valores e de regras de comportamento que
as coletividades, sejam elas nações, grupos sociais ou organizações, adotam por jul-
garem correios e desejáveis7. Ela abrange as representações imaginárias que dizem
aos agentes sociais o que se espera deles, que comportamentos são bem-vindos,
qual é a melhor maneira de agir coletivamente, o que é o bem e o que é o mal, o
permitido e o proibido, o certo e o errado, a virtude e o vício". A ética é mais sis-
tematizada e corresponde a uma teoria de ação rigidamente estabelecida. A moral,
em contrapartida, é concebida menos rigidamente, podendo variar de acordo com
o país, o grupo social, a organização ou mesmo o indivíduo em questão.
E m outras palavras, os valores morais de um grupo ou organização definem
o que é ser ético para si e, a partir daí, elaboram-se rígidos códigos éticos que pre-
cisam ser seguidos sob pena de ferirem os valores morais preestabelecidos.
O que acontece com a ética e a moral quando as sociedades passam por
transformações tão profundas quanto as que o mundo vive agora? Alguns autores
afirmam que, nessa situação, a responsabilidade social corporativa é mais importan-
te do que nunca. A ética afeta desde os lucros e a credibilidade das organizações até
a sobrevivência da economia globaP.
As organizações terão de aprender a equacionar a necessidade de obter
lucros, obedecer às leis, ter um comportamento ético e envolver-se em alguma
forma de filantropia para com as comunidades em que se inserem. Além disso,
mudanças, como nas formas que são concebidos e comercializados os produtos e
serviços, trazem consigo novas questões éticas com as quais as organizações têm
de aprender a lidar — principalmente porque, cada vez mais, as novas tecnologias
de informação e oportunidades comerciais e empresariais abertas pela globalização
tendem a levar todas as organizações a abraçar padrões globais de operação10.
Dentro da economia global, há ainda a questão da cultura propriamente dita.
As grandes corporações internacionais, bem como qualquer organização que al-
meje expandir seus mercados em escala global, precisam estar cada vez mais atentas
à diversidade cultural reinante entre os povos. Se parece verdadeira a afirmativa
de que a comunicação intercultural entre povos diferentes tende a homogeneizar
todas as culturas (presumivelmente em favor da cultura dominante, ou do país
mais rico, como se costuma afirmar), também podemos perceber o movimento
inverso: contatos entre culturas com diferentes percepções e padrões sobre direitos
7 S R O U R , 2000.
8 Ibid., p. 29.
9 COSTA, John Dalla. T h e ethical imperative: vvhy moral leadership is good business. Reading:
Addison-Wesley, 1998.
CARR.OLL, 2000; H E N D E R S O N , Hazel. Transnational corporations and global citizenship. T h e
American Behavioral Scientist, Thousand Oaks, v. 43, n. 8, p. 1231-1261. May 2000.
37. humanos, por exemplo, vêm aumentando as expectativas das populações dos di-
versos países, que passam a exigir das empresas um comportamento socialmente
responsável e que respeite as noções internacionais de direitos humanos, liberdade
e participação democrática".
Nesse sentido, podemos dizer que um dos efeitos da economia global é a
adoção, por todo o mundo, de padrões éticos e morais mais rigorosos, seja pela ne-
cessidade das próprias organizações de manter sua boa imagem perante o público,
seja pelas demandas diretas do público para que todas as organizações atuem de
acordo com tais padrões.Valores éticos e morais sempre influenciaram as atitudes
das empresas, mas estão se tornando, cada vez mais, homogêneos e rigorosos.
O que está ocorrendo é mais do que mera resposta dos negócios às novas pressões
sociais e econômicas criadas pela globalização. A pressão que um mercado globalizado
exerce nas empresas faz com que elas precisem se autoanalisar continuamente. Cria-se,
assim, um novo ethos que rege o modo como os negócios são feitos em todo o mundo.
Tanto o papel das empresas quanto o do próprio Estado estão sofrendo alterações. Se,
por um lado, o papel da empresa na sociedade é cada vez mais amplo e complexo, por
outro, muitas funções tradicionais do Estado estão sob ameaça12.
A responsabilidade social corporativa é a característica que melhor define esse
novo ethos. E m resumo, está se tornando hegemônica a visão de que os negócios de-
vem ser feitos de forma ética, obedecendo a rigorosos valores morais, de acordo com
comportamentos cada vez mais universalmente aceitos como apropriados.As atitudes e
atividades de uma organização precisam, desse ponto de vista, caracterizar-se por:
preocupação com atitudes éticas e moralmente corretas que afetam todos os
públicos/stakeholders envolvidos (entendidos da maneira mais ampla possível);
• promoção de valores e comportamentos morais que respeitem os padrões
universais de direitos humanos e de cidadania e participação na sociedade;
• respeito ao meio ambiente e contribuição para sua sustentabilidade em todo
o mundo;
• maior envolvimento nas comunidades em que se insere a organização, contri-
buindo para o desenvolvimento econômico e humano dos indivíduos ou até
atuando diretamente na área social, em parceria com governos ou isoladamente.
Esse seria, então, um referencial para a responsabilidade social corporativa
que responderia a um novo e mais abrangente papel das empresas dentro da so-
ciedade. Assim, em uma época em que os vários contextos culturais ao redor do
mundo estão cada vez mais interligados e o papel social das empresas está sendo
repensado, principalmente por causa das grandes modificações que estão aconte-
cendo no papel de outras instituições (como o Estado e a sociedade civil), podemos
11 C A R R O L L , 2000; H E N D E R S O N , Hazel. Transnational corporations and global citizenship. T h e
A m e r i c a n Behavioral Scientist.Thousand Oaks, v. 43, n. 8, p. 1231-1261. May 2000.
, 2 Z A D E K , 1998, p. 1424.
38. dizer que a crescente atenção à ética e à responsabilidade social corporativa, bem
como a idéia de que as organizações do terceiro milênio precisam ser socialmente
responsáveis se quiserem sobreviver em meio à competição cada vez mais acirrada,
fazem parte desses processos profundos de mudança.
E m primeiro lugar, o fato de a globalização colocar os diversos ambientes
culturais no mundo em contato cada vez mais próximo exige que cada organiza-
ção que deseja continuar a ser parte da economia global (mesmo que não tenha
pretensões de exportações internacionais, por exemplo) esteja atenta às diferenças
culturais e aja de maneira responsável para com elas13.
Em segundo lugar, o reconhecimento de que instituições como o Estado, a
sociedade civil e as organizações estão reestruturando suas respectivas atribuições tem
como um de seus efeitos principais o maior interesse das empresas em se tornarem
socialmente responsáveis perante os contextos socioculturais em que se inserem, ocu-
pando espaços na sociedade antes preenchidos somente pelo Estado ou pela sociedade
civil (como a área de atuação social nas comunidades). A preocupação com a respon-
sabilidade social tornou-se um diferencial fundamental para tornar as organizações
mais produtivas e garantir o respeito do público e, enfim, sua própria viabilidade.
• Cultura e responsabilidade social corporativa
no terceiro milênio
U m terceiro componente importante para entender a responsabilidade so-
cial corporativa é a cultura: só é possível entender como as organizações vêm
concebendo e pondo em prática sua responsabilidade perante os acionistas, funcio-
nários, demais stakeholders e a sociedade em geral se levarmos em conta que toda
organização faz parte de um contexto sociocultural mais amplo, o qual determina
de modo importante tanto suas atividades quanto o modo pelo qual ela se relacio-
nará com esse ambiente sociocultural.
ResponsabilidadelEM RETROSPECTIVA
U m a empresa socialmente responsável atrai os melhores profissionais. U m a pes-
quisa da You & C o m p a n y c o m cerca de 2.000 estudantes norte-americanos de
M B A revelou que mais de 50% deles preferiria trabalhar e m companhias éticas,
m e s m o que isso significasse salários menores.
15 C A R R O L ; H E N D E R S O N , 2000.
39. As organizações não existem em um vácuo nem são completamente
objetivas e imparciais: há sempre um contexto que as influencia, tornando a admi-
nistração culturalmente condicionada e sujeita aos valores, princípios e tradições
da sociedade em que se insere14. Pode-se citar a benevolência empresarial, uma
interpretação ainda muito comum no Brasil para os princípios norteadores da res-
ponsabilidade social — tais como doação de bens e serviços, doações financeiras,
cessão de funcionários especializados, voluntariado e filantropia, que tem uma base
fixada nos princípios religiosos de caridade.
Quando dizemos que a responsabilidade social das empresas tem sua in-
terpretação condicionada pela cultura empresarial e nacional, estamos falando de
cultura tal como é entendida pelos antropólogos, ou seja, um sistema específico
de valores e de visões de mundo em cujo contexto se dão as ações e práticas de
determinada sociedade. Ou, de outra forma, um conjunto de mecanismos simbó-
licos que utilizamos para organizar a realidade13.Valores culturais são significados e
regras de interpretação da realidade, estruturas cognitivas e simbólicas que deter-
minam o contexto no qual o ser humano, sendo sempre um ser social, pensa e
age16. São aqueles que imprimem sentido a tudo que se faz, às estratégias que se
adotam e àquilo que gera consenso ou dissenso, seja dentro de algum grupo social,
na sociedade como um todo ou dentro do trabalho das organizações. Lógicas e
valores culturais, em resumo, são aqueles que, seja de forma consciente ou não,
imprimem sentido às práticas, aos pensamentos e aos comportamentos das pessoas.
E m outras palavras, a cultura.
Não há indivíduos, empresas ou países sem cultura.Toda sociedade funciona
de acordo com princípios, valores e tradições culturais específicos, que determi-
nam os pensamentos e comportamentos de indivíduos, grupos e instituições, entre
os quais se incluem, necessariamente, as organizações e o mundo dos negócios em
geral. Além de princípios éticos e valores morais, temos também princípios e valo-
res culturais influenciando os modos de ação e práticas administrativas e, portanto,
o modo como a responsabilidade social corporativa é concebida e implementada
em determinada sociedade.
O conceito de cultura abre caminho para discutir, de forma mais sistemática
e profunda, qual é o peso da dimensão simbólica nas organizações e nas formas de
responsabilidade social corporativa que são por elas adotadas. Geralmente, quando
se fala em cultura organizacional, pensa-se nos valores que os altos escalões de
14 B A R B O S A , Lívia. Igualdade e meritocracia: a ética do desempenho nas sociedades modernas. R i o
de Janeiro: Ed.FGV, 1999,p. 141.
'Mbid.,p. 141.
B A R B O S A , 1999. G E E R T Z , ClifFord. A interpretação das culturas. R i o de Janeiro: Zahar, 1978.
B O U R D I E U , Pierre. Outline of a Theory o f Practice. Cambridge, UK: Cambridge University
Press, 1977.
40. uma organização consideram os mais importantes em suas formas de gestão, e não,
como indicaria uma interpretação mais antropológica do termo, naqueles que
realmente existem e que estão subjacentes à identidade da organização e a seus
modos de atuação e administração17. No entanto, são exatamente estes últimos que
ajudam a explicar, por exemplo, por que, em alguns países, a responsabilidade social
das empresas se tornou um valor tão dominante.
Por isso, a maior preocupação com a inserção das organizações na sociedade e
no ambiente cultural específicos está relacionada a outro fator importante, que vem
sendo cada vez mais abordado quando se pensa em responsabilidade social corpora-
tiva, seja por parte de organizações em suas atividades, seja em trabalhos acadêmicos.
Simultaneamente à crescente globalização do mundo e da economia, que — como
vimos — ajuda a produzir uma nova concepção cultural do papel das organizações e
de suas responsabilidades sociais na sociedade do terceiro milênio, vemos que as pró-
prias organizações, o empresariado e os estudiosos da administração e de princípios
de gestão vêm atribuindo um crescente valor ao conceito de cultura.
Esse conceito, especialmente como aparece na noção de cultura organiza-
cional, vem sendo pensado de modo sistemático pelo menos desde os anos 1960,
mas é inegável que o interesse por ele aumentou na última década18. O conceito de
cultura organizacional leva a pensar nos valores subjacentes às práticas de gestão e
às atividades de uma organização, e uma ênfase no sentido mais antropológico do
termo mostra que qualquer atividade de uma empresa acontece a partir do con-
texto cultural em que esta se insere, pois ele engloba a organização.
Ao mesmo tempo em que se valoriza mais a dimensão cultural do mundo,
da vida em sociedade e das próprias organizações, também se ressaltam mais alguns
valores culturais específicos, como responsabilidade e moralidade.Vistas como va-
lores éticos e culturais ao mesmo tempo, responsabilidade e moralidade são noções
especialmente importantes para o conceito de responsabilidade social corporativa:
cada vez mais, e por diversos motivos, as organizações vêm adotando uma visão
de mundo e um valor cultural antes restrito a outras áreas da sociedade: a de que
é preciso agir de maneira correta para com o próximo, sendo o próximo entendido
da forma mais abrangente possível (incluindo todos os públicos de uma empresa,
a sociedade ou a nação em que se insere — possivelmente a economia global — e
o próprio meio ambiente).
Responsabilidade para com o próximo não deixa de ser um valor cultural,
além de um princípio ético e um valor moral, uma vez que se situa no nível das
estruturas mentais de interpretação da realidade — a cultura.
17 B A R B O S A , 1999.
18 Ibid.
41. Assim, podemos perceber por que a dimensão cultural é essencial para en-
tendermos as formas que a responsabilidade social corporativa vêm tomando no
mundo dos negócios. Por um lado, a responsabilidade social de uma empresa tem
de ser pensada em relação a sua inserção em um complexo mundo social e cultural
regido por determinados valores e normas culturais comuns àquela sociedade. Por
outro lado, a própria noção de responsabilidade social é um valor cultural cada vez
mais aceito e comumente empregado ao redor do mundo, principalmente como
conseqüência das atuais mudanças no modo como se concebe o papel social da
empresa perante a sociedade.
Além disso, cada empresa deve ser vista como um sistema cultural (tal como
concebido no conceito de cultura organizacional) numa rede de outros sistemas
culturais mais amplos, com os quais se relaciona.
• Cultura brasileira e responsabilidade social
corporativa: exemplos e direções
Para entendermos ainda melhor o papel da ética, dos valores morais e da
cultura no conceito de responsabilidade social corporativa, usaremos, agora, alguns
exemplos aplicados ao caso brasileiro.
E m primeiro lugar, podemos citar a polêmica discussão, comum nos meios
empresariais, sobre o apego anglo-saxão ao trabalho e às empresas, em oposição a
uma suposta atitude menos interessada dos funcionários brasileiros, que, muitas ve-
zes, pode até se traduzir em menor produtividade das empresas. Essa questão estaria
ligada a traços culturais profundamente arraigadosAssim, o significado simbólico
da empresa no imaginário capitalista, em especial o norte-americano, diz respeito a
valores como individualismo e iniciativa privada, enquanto no Brasil privilegiamos
as relações sociais.
Em termos práticos, isso quer dizer que a cultura organizacional brasileira
privilegiaria fatores como um bom relacionamento entre os colegas no trabalho e a
permanência por longo tempo no mesmo emprego, e teríamos uma rígida estrutura
hierárquica e uma visão negativa da competição individual. Enquanto nos Estados
Unidos e em outras culturas de capitalismo avançado, valores como grande ambição
de ascensão e sucesso individual e a alta motivação para o desempenho, bem como a
valorização da competição individual, seriam os valores culturais predominantes.
Além disso, o espaço simbólico ocupado pelas empresas e pelo trabalho na
vida privada das pessoas seria diferente aqui do que nos Estados Unidos ou no
19 B A R B O S A , 1999.
42. Japão, por exemplo20. Entre nós, a identidade seria construída mais por relações
pessoais, como a família ou os amigos. Já nos Estados Unidos haveria maior iden-
tificação entre trabalhador e empresa: a empresa fornece identidade ao indivíduo e
o posiciona na estrutura social. Diferentemente também do que ocorre no Japão,
onde chefes e colegas de trabalho são como a família do funcionário, no Brasil a
empresa na qual trabalhamos não é um fator que prevaleça na construção de nossa
identidade (a empresa pouco mais seria, para nós, do que o local que nos fornece
emprego e sustento).
O que essas diferenças culturais e a especificidade brasileira implicariam para
o conceito de responsabilidade social corporativa?
Em resumo: no Brasil teríamos dificuldade de criar culturas organizacionais
fortemente demarcadas, tornando tarefa árdua e de difícil implantação a promoção,
entre os funcionários menos graduados, dos valores éticos, morais e culturais privi-
legiados pelos altos escalões de uma empresa.Talvez esse seja um dos motivos pelos
quais apenas uma pequena parte das empresas e do empresariado brasileiros tenha
declarado agir explicitamente de acordo com preceitos comumente associados à res-
ponsabilidade social corporativa, como a prática de ações sociais e filantrópicas21.
Segundo Srour, uma característica marcante é a hibridez cultural brasileira,
que faz com que nossas empresas convivam, por um lado, com os princípios éticos
racionais capitalistas derivados de um padrão internacional que define parâmetros
de profissionalismo e imparcialidade, credibilidade e transparência como essenciais
para a condução dos negócios e, por outro, com uma moral do oportunismo, um
discurso não oficial, mas oficioso, segundo o qual seria desejável e até legítimo que
cada indivíduo procurasse assegurar seus interesses em detrimento das leis e dos
interesses dos colegas, dos outros funcionários e da própria empresa, numa versão
empresarial da conhecida "lei de Gérson", segundo a qual deve-se tentar "levar
vantagem em tudo"22.
Assim, teríamos no Brasil um conflito entre dois valores culturais — o da
integridade e o do oportunismo — ou entre dois traços culturais profundamen-
te enraizados: a valorização da idoneidade nas relações sociais (que transparece,
por exemplo, na reprovação geral à corrupção política) de um lado e, do outro,
a lógica do "jeitinho", segundo a qual consegue o que quer quem faz valer seus
interesses, mesmo que de maneira escusa, e quem possui a melhor rede de rela-
ções pessoais influentes23.
2" B A R B O S A , 1999.
21 F I S C H E R , 1999.
22 S R O U R , 2000.
23 B A R B O S A , Lívia. O jeitinho brasileiro ou a arte de ser mais igual que os outros. R i o de
Janeiro: Campus, 1992.
43. É comum afirmar-se que as teorias e práticas administrativas mais modernas
e eficientes são de difícil implantação no Brasil, exatamente por causa desses traços
culturais. Essa argumentação parece implicar que novos modos de gestão, entre os
quais incluímos a responsabilidade social corporativa, teriam pouca repercussão
no Brasil porque, apesar de valorizarmos princípios éticos de idoneidade moral,
tenderíamos a agir, na prática, de acordo com certos valores incompatíveis com
um compromisso ético. N o entanto, é preciso não esquecer que cultura não é algo
estático, fixo no tempo e no espaço e sem possibilidades de mudança.
Da mesma forma que as sociedades transformam-se ao longo do tempo,
os valores culturais de que os indivíduos se servem para organizar sua realidade
e suas ações também tendem a sofrer modificações. Essas modificações podem, à
primeira vista, parecer modestas, mas sempre acabam por afetar as realidades e os
sistemas socioculturais dos quais fazem parte. Afinal, as representações simbólicas
que regem nosso cotidiano só existem na medida em que nascem de fatos con-
cretos das estruturas sociais e das experiências vividas: cultura e mundo material
determinam-se mutuamente24.
Assim, pode-se dizer que bases importantes para nossa cultura nacional e
organizacional estão sendo profundamente remexidas. No ambiente de trabalho, as
relações de poder internas estão sendo questionadas: há menos níveis hierárquicos,
maior autonomia para os escalões mais baixos, ascensão mais rápida de profissionais
jovens e maior valorização da iniciativa em detrimento dos cargos formais25.
Mais útil do que procurarmos os traços culturais característicos de um
objeto supostamente imutável chamado cultura brasileira é refletirmos sobre de que
maneira as enormes transformações por que estão passando todas as sociedades no
mundo da economia global afetam valores culturais tidos como tipicamente brasi-
leiros, como o predomínio das relações pessoais sobre a lógica racional capitalista.
E, embora não se possa dizer que o interesse pela responsabilidade social corpo-
rativa brasileira foi causado diretamente pela globalização e pela revolução digital,
foi, pelo menos, bastante influenciado por eles.
Essa preocupação em estabelecer sólidos princípios de responsabilidade so-
cial corporativa dentro das organizações não se restringe a empresas multinacionais
atuantes no Brasil, como é o caso da Shell e da Xerox, reconhecidamente avan-
çadas no desenvolvimento de práticas de responsabilidade social corporativa no
mundo inteiro. Cada vez mais vemos organizações brasileiras, tais como Natura, O
Boticário e os bancos Itaú, A B N Amro Bank/Banco Real, Unibanco e Bradesco,
conduzindo suas atividades segundo padrões de responsabilidade social corpo-
rativa, seja por meio de ações sociais que agem diretamente sobre comunidades
24 M O T T A ; CALDAS, 1997.Ver também B O U R D I E U , 1977.
25 S R O U R , 2000, p. 125.
44. carentes, seja pela preocupação com o meio ambiente ou pelo cuidado de não
negociar com fornecedores que utilizam mão de obra infantil26, seja por meio de
criação de fundos de investimento socialmente responsáveis, a exemplo do Fundo
Ethical do A B N Amro Bank/Banco Real, citado no Capítulo 9.
Uma visão limitada do que seriam princípios éticos e valores culturais ten-
deria a considerar a responsabilidade social corporativa um conceito de difícil
aceitação nos meios empresariais brasileiros, que ainda tenderiam a funcionar de
acordo com traços culturais como a moral do oportunismo27. No entanto, pesquisas
e noticiários apontam outra realidade: há uma preocupação crescente das empresas
com a responsabilidade social, fazendo nascer uma nova mentalidade empresarial28:
uma mentalidade que valoriza a cultura da boa conduta empresarial, para a qual
eficiência e lucro podem ser combinados com valores como cidadania, preservação
ambiental e ética nos negócios.
Nesse sentido, um modelo que nos ajude a pensar a responsabilidade social
corporativa precisa, necessariamente, levar a sério a influência dos novos valo-
res éticos e morais que vêm sendo assimilados ao repertório cultural brasileiro e
inserindo-se não apenas nas atividades e nos princípios de gestão das organizações,
mas na sociedade brasileira como um todo. Se os valores culturais são como mapas
simbólicos e cognitivos para organizarmos nossa realidade, essa realidade será neces-
sariamente afetada de modo positivo quanto mais se tornarem prevalecentes os
valores da responsabilidade social nas empresas e no mundo dos negócios. Assim,
poderíamos estar assistindo a uma modificação profunda em nosso país: o crescente
predomínio de uma cultura da responsabilidade social corporativa.
2fc A Natura e o Bradesco, por exemplo, atuam na área de educação e O Boticário na preservação do meio
ambiente, apenas para citar alguns exemplos.
27 B A R B O S A , 1999; S R O U R , 200».
2S S U C U P I R A , João. A responsabilidade social das empresas. Boletim do Ibase, R i o de Janeiro, ano 6,
n.9, 1999. CAPPELLIN, Paola; GIULIANI, Gian Mario. Compromisso social no mundo dos negócios.
Boletim do Ibase, R i o de Janeiro, ano 5, n. II, 1999.
45. capítulo
Racionalidades para a ética empresarial
e a gestão da empresa cidadã
Resumo Este capítulo introduz a questão cias desigualdades sociais,
em especial a concentração de renda no Brasil, relacionada
ao modo de produção e consumo que exclui o desempenho
ambiental e social como elementos a serem objeto se con-
sideração na racionalidade das estratégias empresariais.
Como um passo na direção da gestão da empresa cidadã,
é apresentada uma orientação para a explicitação, difusão
e efetiva implementação de normas de conduta na forma
de carta de princípios ou código de ética em organizações
empresariais. Como integrante do processo de elaboração e
atualização das normas de conduta, é destacado o método
de diálogo social dos gestores e stakehoíâers da empresa.
As racionalidades para a ética empresarial e a gestão da em-
presa cidadã podem ser conhecidas a partir dos modelos de
gestão para a responsabilidade social e das normas de con-
duta expressas em códigos de ética e cartas de princípios.
Para ilustrar a expressão dessas racionalidades, é analisado
um dos modelos de indicadores para a responsabilidade so-
cial empresarial que vem sendo apresentado à comunidade
empresarial no Brasil.
46. • Racionalidade empresarial em um contexto
de desigualdades
/
Epara gerar valor, e se perpetuar por meio dele, que companhias
de todo o mundo se reinventam quase diariamente, a fim de se
adaptarem a um mercado cada vez mais exigente, global e mutan-
te. Entretanto, crescentemente, os empresários vêm tendo novas preocupações
com a posição e a conquista de suas marcas no mercado, fazendo com que suas
estratégias empresariais recebam uma gama de novos elementos, tais como eco-
logia, ética e cidadania, que orientarão as atitudes e práticas da empresa perante
o mercado.
E exatamente esse mercado global e sua infinidade de relações com a
sociedade civil organizada e com o Estado, principalmente devido ao poder ins-
titucional da União Européia e da capacidade de mobilização internacional das
Nações Unidas, que a partir da década de 1990 vem sendo questionado diante
da necessidade de um novo rumo, mais inclusivo, das relações sociais e ambien-
tais para as estratégias de negócio. Portanto, ao mercado global, o conceito de
responsabilidade social vem sendo apresentado como uma questão estratégica
para a sobrevivência em longo prazo. Nesse novo ambiente, os interesses dos
acionistas ou proprietários do capital das empresas disputariam espaço com as
demandas da comunidade, dos clientes, da mídia, dos funcionários, dos forne-
cedores e do Estado. Estamos, de fato, na busca por um modelo de gestão que
inclua uma nova racionalidade para as estratégias empresariais.
Há um consenso da sociedade quanto ao maior desafio do nosso país:
conquistar a igualdade na distribuição da renda e no acesso, com qualidade,
aos serviços públicos essenciais. Atualmente, a desigualdade reinante impede
grande parte da nossa população de usufruir os possíveis benefícios do pro-
gresso tecnológico e econômico. Assim, o desafio maior da nossa sociedade é
a integração social desses excluídos. O Estado, apesar de ter a obrigação social
de garantir ao cidadão o atendimento a seus direitos constitucionais, não vem
apresentando condições organizacionais, econômicas e políticas para resolver
sozinho o problema. Por outro lado, as empresas devem ter um papel relevante
nessa questão, adotando um modo de produção e consumo que inclua o de-
sempenho ambiental e social como elementos a serem objeto de consideração
na racionalidade das estratégias empresariais.
47. Concentração de renda aumenta no Brasil entre 1980 e 2000
U m a pesquisa divulgada e m I o de agosto de 2004 e realizada p o r pesquisadores
da USP, Unicamp e PUC-SP revela o mapa da riqueza no país. A pesquisa consid-
era rica a família que recebe pelo menos R$ 10.982 p o r mês. N o Brasil, e m 1980,
e r a m 507 mil famílias, ou 1,8% do total da população, enquanto e m 2000 já e r a m
1.162.000 famílias ricas: 2,4% da população.
O estado campeão da desigualdade — maior distância entre ricos e pobres — é
Alagoas, e o Rio de janeiro é o estado e m que a diferença entre os dois extre-
mos é menor. Entre as 20 cidades c o m o maior n ú m e r o de famílias ricas, a única
da Região N o r t e é Belém. N o Centro-Oeste, aparecem Goiânia e Brasília. N o
Nordeste, Fortaleza, Salvador e Recife. Curitiba e P o r t o Alegre t a m b é m estão
no mapa da riqueza.
N o Sudeste, e no t o p o da lista, São Paulo, o n d e m o r a m 443.462 famílias ricas —
cerca de 38% d o total das famílias ricas d o país — e o n d e a renda média mensal
das famílias mais ricas é de R$ 36 mil, suficiente para m o v i m e n t a r u m comércio
ultrassofisticado. O s bairros c o m maior concentração de famílias ricas na capital
são Jardim Paulista, Moema, Itaim Bibi, Perdizes, Vila Mariana e Pinheiros. " A
riqueza brasileira se t o r n o u muito mais financeira d o que produtiva e São Paulo
é o maior parque financeiro da América Latina", explica o pesquisador Ricardo
A m o r i m . A l é m de São Paulo, São Bernardo, Santo A n d r é e Guarulhos estão en-
t r e as dez cidades brasileiras c o m maior n ú m e r o de famílias consideradas ricas.
Segundo os pesquisadores, a concentração de renda deve se agravar nos próxi-
mos anos. " O s ricos ampliaram seus gastos e m educação, alimentação, investi-
mentos, enquanto os mais pobres não conseguiram aumentar seu patrimônio, o
que p o d e levar no futuro e m melhor condição social", afirma Ricardo A m o r i m ,
c o o r d e n a d o r da pesquisa.
Fonte: CONCENTRAÇÃO comprovada. Jornal da Globo. Rio de Janeiro, 12abr. 2004. Disponível em: <http://
jg.globo.com/JGIobo/0,19125,VTJO-2742-20040401 - 47337.00.html>.
Cabe destacar que a adoção da responsabilidade social nas estratégias empre-
sariais passa por uma reflexão prévia sobre ética empresarial, na medida em que a
responsabilidade social é um indicador de gestão empresarial que envolve a ética
em suas atividades. Ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade do agir hu-
mano livre, na forma de atos maus ou bons; nesse contexto, a ética empresarial é o
estudo da ética aplicada à atividade empresarial. Portanto, passa pela incorporação
de valores morais capazes de levar uma pessoa a fazer diferenciações e tomar deci-
sões que agregarão valores simultaneamente à sua empresa, à sua comunidade e a
ela própria.Ter ética significará, então, para essa pessoa, implementar suas atividades
de forma conseqüente quanto às repercussões que elas terão no contexto em que
tal pessoa se relaciona. Seja na hora de escolher um produto a integrar o portfólio
de produtos da empresa, um processo de fabricação ou uma política de recursos
48. humanos, seja na hora de decidir o que fazer com o lucro da empresa — toda e
qualquer decisão empresarial será pautada por essa reflexão. A ética trata de iden-
tificar e refletir sobre as regras que deveriam fundamentar o comportamento das
pessoas e os "bens" pelos quais vale a pena lutar.
• Complexidade de interesses e difusão de valores
Enquanto as questões que tratam da ética nos negócios de uma empresa têm
sido discutidas globalmente por empresários, executivos e acadêmicos em eventos,
fóruns, associações, artigos e publicações, os administradores vêm sendo levados
a reexaminar sua condição clássica de agente dos proprietários da empresa, que
tende a ser ampliada para a condição de quase-agente dos demais stakeholders, con-
forme proposto pelo movimento da responsabilidade social empresarial.
Nas organizações, os tomadores de decisão atuam, na maioria das vezes,
apenas como agentes dos proprietários da empresa, isto é, agem no interesse dos
proprietários que a eles delegaram tal função. Assim, os tomadores de decisões
empresariais devem, de algum modo, mesclar sua ética pessoal com os valores e cri-
térios de sucesso de desempenho da organização na perspectiva dos proprietários
ou acionistas da empresa. Muitas das condutas antiéticas de um gerente resultam
da tentativa de atingir metas que ele foi pressionado a alcançar. Quando o funcio-
nário encontra-se sob pressão, a tentação de salvar o cargo ou seu emprego pode
ser maior que o apelo à ética nas práticas de gestão.
Entretanto, no contexto atual, está presente a complexidade dos interesses
dos stakeholders, porque a decisão empresarial pode afetar muitos grupos de pessoas
de maneira desigual no tempo e no espaço. Como os indivíduos possuem valores
morais diferenciados, as organizações devem ser explícitas com referência a suas
expectativas e ao que seja seu padrão moral — o que é certo e o que é errado no
seu "fazer negócio".
As racionalidades representam o modo de valorar, refletir e decidir de cada
empresa, revelando seus princípios éticos subjacentes. As decisões, por sua vez, são
guiadas pelos valores de cada pessoa e refletem seus princípios de conduta, a exemplo
de proteção, honestidade, responsabilidade, manutenção de promessas, busca de exce-
lência, lealdade, justiça, integridade, respeito pelos outros e cidadania responsável.
Enquanto em algumas empresas se tem simplesmente adotado a regra dou-
rada "aja com os outros como você gostaria que agissem com você", em muitas a
regra é que "as práticas de negócios correntes ou aceitas são as que devem governar
o comportamento". Nesses casos, a racionalidade é justificada pelo conservadoris-
mo e mimetismo: todos os outros fazem isso. Uma racionalidade mais extremada é
aquela segundo a qual as organizações deveriam buscar toda vantagem possível sem
49. £ 9-
se preocupar com leis e costumes sociais tradicionais — uma filosofia do tipo "levar
vantagem em tudo", visão claramente condenável pela sociedade nos tempos atuais.
Por fim, alguns acreditam que a ética deveria ser determinada pela intuição, ou seja,
cada um deveria agir segundo o que sente que é certo'.
A maioria das empresas que desejam afirmar a ética de seu comportamen-
to moral elabora códigos de ética próprios. Tais códigos permitem que todos
dentro e fora da organização conheçam o comprometimento da alta gerência
com a sua definição de padrão de comportamento ético e, mais importante, que
todos saibam que os dirigentes esperam que os funcionários ajam de acordo com
esse padrão. O código define o comportamento considerado ético pelos execu-
tivos da empresa e fornece, por escrito, um conjunto de diretrizes que todos os
funcionários devem seguir.
A alta gerência deve não somente explicitar seu apoio a esse código como
também demonstrar ostensivamente que opera com base nele, na prática de seu
cotidiano e não apenas na intencionalidade de seu discurso. A atitude e o compor-
tamento da alta gerência em relação ao código de ética da empresa dão o tom para
a atitude e o comportamento dos funcionários a ela subordinados. Quando a alta
gerência diz sustentar o código, mas faz exatamente o contrário do que ele reza,
os funcionários dos demais níveis hierárquicos presumem que o código não é um
documento sério. Por outro lado, se a alta gerência afirma que apoia o código e suas
ações demonstram isso, os funcionários a ela subordinados passam a considerar o
código um documento legitimado pela direção da empresa.
Para gerar amplo comprometimento, o código de ética de uma empresa deve
ser, preferencialmente, desenvolvido por um comitê representativo de todos os gru-
pos e níveis funcionais e gerenciais. Esse comitê deve não apenas elaborar o código
como também preparar o plano de implementação e atualização de todos os seus
aspectos. Se necessário, a empresa pode contratar serviços externos de consultoria em
comunicação e especialistas em ética, a fim de apoiar a elaboração de um plano viável
para a implementação e atualização do código.
Outro aspecto a ser observado e buscado em um código de ética é que
ele traga diretrizes para todo o amplo conjunto de relações negócio-sociedade.
Quanto maior o escopo de stakeholders abrangido pelas diretrizes, mais aberta para
a sociedade é a concepção da empresa. N o outro extremo, estariam os códigos de
ética que só trazem diretrizes de conduta para as relações dos empregados entre
si e dos empregados com a direção da empresa, desconsiderando todos os demais
stakeholders do conjunto de relações negócio-sociedade.
B R E N N E R , S.; M O L A N D E R , E. Is the ethics o f business changing? Boston: Harvard Business
School Press, 1989.
50. A implementação de um código de ética obrigatoriamente envolve o traba-
lho de comunicar sua necessidade e seu valor a todas as pessoas da organização, a
fim de garantir sua aprovação e seu apoio. Sem o apoio de todos os funcionários, o
código não se implementará no cotidiano da empresa. O segredo do sucesso, nesse
caso, é a comunicação. Nesse sentido, a elaboração e a adoção de um código de
ética compreendem não somente a existência de condutas éticas, mas também a
descrição e organização do código em uma linguagem fácil de ser compreendida
por todos que se relacionam com a empresa. Implementar um código de ética
passa, portanto, por:
• divulgar, a todos na organização, o código em uma forma fácil de entender;
• divulgar, a todos na organização, o apoio da gerência ao código de ética;
• divulgar, a todos na organização, as maneiras pelas quais cada indivíduo deve
aplicar o código;
• divulgar aos fornecedores, clientes e disponibilizar ao público externo o códi-
go de ética.
A implementação de um código de ética envolve ainda a informação de
que o código não deve ser violado, mas os executivos precisam ser cautelosos
nas proibições. Não devem, por exemplo, fazer uma lista de condutas antiéticas,
uma vez que não é viável relacionar todos os casos possíveis, e os funcionários
poderiam pensar que tudo que não está na lista é considerado ético e legítimo. O
código de ética deve ser afirmativo, ou seja, deve enfatizar as condutas que devem
ser demonstradas em vez de destacar o que é reprovável.
Depois de elaborado o novo código de ética, e efetivamente comunicado e
compreendido por todos os membros da organização, o comitê deve providenciar
uma auditoria das atividades de comunicação social da empresa.Tal auditoria con-
sistirá em um relatório sobre as práticas prévias ao código de ética implementado e
uma comparação destas com as atuais práticas, pós-código. As informações obtidas
nesse trabalho servirão de base para avaliações e análises críticas dos programas de
responsabilidade social da empresa e, também, como feeâback de quão bem o códi-
go de ética vem sendo observado.
Os códigos de ética do Banco Itaú e do Grupo Pão de Açúcar, disponíveis
em seus respectivos Websites, são dois bons exemplos de códigos construídos para
um amplo escopo de relações. Cabe lembrar que as duas instituições contam com
uma estrutura organizacional dedicada à gestão de seus respectivos códigos de
ética, a qual permite privacidade e efetividade na condução de denúncias, além de
manter o próprio código em constante atualização.
Essas considerações que tecemos sobre o código de ética podem ser úteis
aos gestores de empresas cidadãs, que buscam definir seus valores e crenças em
políticas e procedimentos transparentes e dinâmicos. Outras recomendações para a
construção de empresas cidadãs são:
51. • criar espaço para que os colaboradores se realizem no ambiente de trabalho
por meio de uma gestão participativa, na qual a inovação, a criativida-
de, o talento de cada um possa emergir, contribuindo efetivamente para
resultados;
• gerar uma nova cultura, fazendo da empresa uma comunidade de aprendi-
zagem em que todos ensinam e todos aprendem, como um caminho para
enfrentar, por meio da renovação contínua, as mudanças constantes;
• estabelecer, com os fornecedores e clientes, relações de parceria duradouras,
tendo a ética, a transparência, a confiança e a colaboração mútua como requi-
sitos vitais para o êxito;
• fazer-se solidária e assumir o papel de cidadã, contribuindo com o bem
comum.
O título de empresa cidadã, outorgado pela sociedade, pode trazer uma série
de benefícios para a empresa, tais como:
• fortalecimento de sua imagem;
• capacidade de atrair e reter talentos;
• maior comprometimento e lealdade dos empregados, que passam a se iden-
tificar melhor com a empresa;
• maior aceitação pelos clientes, que a cada dia se tornam mais exigentes;
• maior facilidade de acesso a financiamento, pois é real a tendência de os
fundos de investimentos passarem a financiar apenas empresas socialmente
responsáveis;
• contribuição para sua legitimidade perante o Estado e a sociedade.
• Decodificando racionalidades subjacentes em
modelos de gestão da empresa cidadã:
o caso dos Indicadores Ethos
de Responsabilidade Social
Modelos para ferramentas de gestão são freqüentemente substituídos por
novos modelos, principalmente quando não são fundamentados em um referen-
cial teórico consistente e não apresentam claramente o arcabouço conceituai que
define o construto — conceito — que se pretende medir. Tais substituições, in-
dicadoras e formadoras dos modismos gerenciais, fragilizam possíveis anseios por
mudanças de maior profundidade nas racionalidades empresariais.
52. A seguir, sugerem-se alguns passos para conhecer a racionalidade subjacente
à construção de modelos de gestão da empresa cidadã, prevendo-se a oportunidade
ou a necessidade de futuras substituições por novos modelos, ou seja, indicando os
modismos gerenciais:
• conhecer a finalidade;
• conhecer os segmentos sociais da sociedade local e internacional repre-
sentados pelos que contribuíram para a elaboração e aplicação do modelo
de gestão;
• conhecer como é medido quantitativa ou qualitativamente o conceito que
é objeto da ferramenta gerencial;
• conhecer os fundamentos conceituais e, a partir daí, conhecer o que é incluí-
do e o que é excluído do arcabouço conceituai.
Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social vêm sendo amplamente di-
vulgados para o empresariado brasileiro e, ocasionalmente, adotados como instrumento
de coleta em pesquisas de graduação e até de pós-graduação. De acordo com a leitura
dos documentos disponibilizados pelo Instituto Ethos2, a principal finalidade dos In-
dicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial é fornecer às empresas um
instrumento de acompanhamento e monitoramento de suas práticas de responsabi-
lidade social, tratando-se de uma ferramenta de uso essencialmente interno, de um
instrumento de auto avaliação.
O Instituto Ethos disponibiliza uma avaliação comparativa das empresas, de for-
ma anônima. A empresa interessada em receber um relatório com os resultados de seu
desempenho em cada um dos temas abordados no questionário, além dos resultados
do grupo de empresas líderes, envia o questionário preenchido ao instituto. Os dados
são tratados com confidencialidade, e, na apresentação estatística das informações, as
empresas não são identificadas. A eventual divulgação de experiências e práticas exem-
plares somente é realizada após consulta e autorização. As versões 2003 e 2004 dos
Indicadores Ethos consideram apenas os indicadores de profundidade e os indicado-
res binários como passíveis de pontuação na avaliação quantitativa feita pelo instituto,
quando a empresa se dispõe a enviá-los para esse fim.
Como se vê no Quadro 2.1, o Instituto Ethos contou com a participação dos
consultores José Edson Bacellar Júnior e Paulo Knõrich e da Fundação D o m Ca-
bral desde a versão original, bem como com membros da equipe do Instituto Ethos,
colaboradores e revisores na condição de consultores para a revisão anual, equipe re-
novada a cada ano, tendo alguns atuado em mais de uma das versões. No período de
2000 a 2004, os Indicadores Ethos contaram também com o patrocínio de empresas
nacionais, multinacionais e associações empresariais setoriais e com o apoio de
2 Os documentos referentes aos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social estão disponíveis em:
<www.ethos.org.br>.
53. organizações internacionais da sociedade civil, a exemplo da Pact, Fundação Avina
e T h e Willian and Flora Hewlett Foundation.
Quadro 2.1 Participantes na elaboração dos Indicadores Ethos de Responsabilidade
Social - 2000 a 2 0 0 4
o.
E 9-
DATA DE
PUBLICAÇÃO
DAS VERSÕES
jun.
2000
EXECUÇÃO OU
PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO
Consultores José
Edson Bacellar Jr.
e Paulo Knórich
Fundação Dom
Cabral
Pact
Equipe do
Instituto Ethos:
Claudia Cabilio
Cristina Murachco
João Serfozo
Juliana Raposo
Leno F. Silva
Maria Lúcia
Zülzke
Marcelo Abrantes
Linguitte
Oded Grajew
Patrícia Kanashiro
Rosana Biaggi
Valdemar de
Oliveira Neto
C0LAB0RAÇA0 OU
AGRADECIMENTOS
Alceu Amoroso
Lima
Angela Serino
Ciro Torres
Cláudio Boechat
Francisco de
Assis Oliveira
Azevedo
Hélio Zylberstajn
Henrique
Scárdua
Homero Luís
Santos
Irani Cavagnoli
Joe Sellwood
José Peroba Filho
João Sucupira
José Tolovi Jr.
Luiz Henrique
Frosini
Mara Cardeal
Maria Antonieta
Gatti Cinquini
Maria Aurélia
Braga de
Ca rvalho
Maria Inês
Fornazaro
Margarida
Ramos
Roberta de
Carvalho
Cardoso
Rosiléia das
Mercês Milagres
Sérgio Alli
Suzana Leal
REVISÃO DA
VERSÃO DO ANO PATROCÍNIO
ANTERIOR
Avina
Avon
Cosméticos
Brasmotor S.A.
De Nadai
Alimentação
S.A.
Industrias
Klabin S.A.
J. Pessoa
Participações
Libra
Administração
e Participações
SA
Telemig
Celular S.A.
Vésper
São Paulo S.A.
APOIO
54. DATA DE
PUBLICAÇÃO
DAS VERSÕES
EXECUÇÃO OU
PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO
COLABORAÇÃO OU
. ^ m m u r n w VERSÃO DO ANO
AGRADECIMENTOS ANTERIOR
jun.
2001
Consultores José
Edson Bacellar Jr. e
Paulo Knõrich
Fundação Dom
Cabral
Pact
Equipe do
Instituto Ethos:
Aline Eltz
Cristina Murachco
Fernando Pachi
Juliana Raposo
Leno F. Silva
Marcelo Linguitte
Simone Kubric
Valdemar de
Oliveira Neto
Vivian Paes
Barretto Smith
Ana Maria C.
Esteves
Armand Pereira
Beatriz Cunha
Cláudio Bruzzi
Boechat
Daniel de Bonis
Jaime Mezzera
Joe Sellwood
Luzia Monteiro
Longo Mareia
Prates
Paulo Durval
Branco
Rubens Naves
Sérgio A. P.
Esteves
Vivian Paes
Barretto Smith
(coordenadora)
Adele Queiroz
(consultora)
Banco Real
AmroBank
Grupo José
Pessoa
Hewlett
Packard
Company
JP Morgan
Libra Terminais
McDonald's
Natura
Cosméticos
Shell
jun.
2002
Consultores
(versão original):
José Edson
Bacellar Jr.
Paulo Knõrich
Fundação Dom
Cabral
Pact
Nelmara Arbex
Roberta
Mokrejs Paro
Gláucia Terreo
Anna Cynthia
Oliveira
Valdemar de
Oliveira Neto
Asea Brown
Boveri (ABB)
Associação
Brasileira de
Distribuidores
de Energia
Elétrica
(Abradee)
Banco Real
ABN
AMRO Bank
CPFL
Indústrias
Klabin
McDonald's
Natura
Petrobras
Fundação
Avina
The
William
and Flora
Hewlett
Foundation
55. IJ S
a. .ü
E q.
DATA DE
PUBLICAÇÃO
DAS VERSÕES
jun.
2 0 0 3
EXECUÇÃO OU
PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO
COLABORAÇAO OU
AGRADECIMENTOS
jun.
2 0 0 4
Beat Grueninger
Carmen Lúcia
Canalli
Cíntia Carla Takada
Cristina Fedato
Daniel Ohnuma
Edson Anzolin
Eliane P.
Bordenoski
Ernani Turazzi
Eduardo Manoel
Araújo
Fabiana Ikeda
Prof. Francisco
Ferreira Cardoso
Giuliana Ortega
Helga J.L.Gouveia
Prof. Hélio
Santos
João Teixeira Pires
José Edson Carlos Cabral
Bacellar Jr. e (Programa
Paulo Knõrich Privacidade Online)
(consultores) Fernanda Gabriela
Fundação Dom Borger (Fipe)
Cabral Hélio Santos
Pact (Universidade
São Marcos)
Marcos Po (Idec) e
Pieter Sijbrandij
(Observatório
Social)
José Edson Adriano Diniz
Bacellar Jr. e Costa
Paulo Knõrich Alexandre Costa
(consultores) Maia
Fundação Dom Alvacelia Serenato
Cabral
Alvacelia Serenato
Pact
Ana Cláudia M.
Pact Pernes
REVISÃO DA
VERSÃO DO ANO
ANTERIOR
Roberta
Mokrejs Paro
(coordenadora)
Gláucia Terreo
Nelmara Arbex
Homero Santos
Benjamin S.
Gonçalves
(texto)
Ana Lúcia M.
Custódio
Benjamin
Sérgio
Gonçalves
Carmen
Weingrill
Fernanda Ribas
Fernando Pachi
Gláucia Terreo
(coordenadora)
Homero Santos
Karinna
Bidermann
Forlenza
(captação de
patrocínio)
Leno F. Silva
Paulo
Itacarambi
Renato Moya
Ricardo Young
Silva
Tardia R. Ursini
Tatiana S. de
Miranda
Vivian Smith
Associação
Brasileira de
Distribuidores
de Energia
Elétrica
(Abradee)
CPFL
Eletropaulo
Fundação
Volkswagen
McDonald's
Natura
Petrobras
Associação
Brasileira de
Distribuidores
de Energia
Elétrica
(Abradee)
CPFL Energia
McDonald's
Natura
Petrobras
Sesi-SC
Fundação Itaú
Social
Fundação
Avina
The
William
and Flora
Hewlett
Foundation
Fundação
Avina
The
William
and Flora
Hewlett
Foundation