O documento descreve a chegada de Macunaíma a São Paulo, onde as prostitutas o ensinam que os animais e sons da floresta na verdade são máquinas da cidade moderna. Macunaíma fica confuso com esta nova realidade urbana tão diferente da natureza que conhecia.
1. Leia este trecho do romance Macunaíma para responder às questões de 1 a 3.
A inteligência do herói [Macunaíma] estava muito perturbada. As cunhãs rindo tinham ensinado pra ele que o sagui-
açu não era saguim não, chamava elevador e era uma máquina. De-manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados
berros cuquiadas sopros roncos esturros não eram nada disso não, eram mas cláxons campainhas apitos buzinas e tudo
era máquina. As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes hupmobiles chevrolés dodges mármons e
eram máquinas. Os tamanduás os boitatás as inajás de curuatás de fumo, em vez eram caminhões bondes autobondes
anúncios-luminosos relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas postes chaminés... Eram máquinas e tudo na
cidade era só máquina! ANDRADE, Mário de. Macunaíma. 30. ed. Belo Horizonte/ Rio de Janeiro: Villa Rica, 1997.
sagui-açu:(açú = de grande porte) saguiguaçu = macaco da
Mata Atlântica.
Mauari: Maguari = ave comum no rio Grande do sul, existente
também na Amazônia e nordeste do Brasil.
Cunhãs:mulheres jovens,companheiras dos índios;no contexto
são prostitutas.
Cuquiada:cucar,canto do cuco.
esturro: estrondo;vozes de certas feras, rugido,urro.
Cláxon:Kláxon = buzina de carro ou alarme elétrico.
inajá:grande palmeira nativa do Brasil.
Curuatá:gravatá = planta ornamental.
1. Há no trecho uma clara oposição entre dois ambientes distintos. Que ambientes são estes?
2. O trecho transcrito mostra o momento em que o personagem principal acabara de chegar a São Paulo. descreva
brevemente as principais características desta cidade que Macunaíma encontra.
3. Quanto à forma, o texto de Mário de Andrade apresenta uma particularidade. Qual é?
O texto a seguir refere-se às questões de 4 a 6.
A elite
Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta: Um amor.
Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta: Um coió.
Mulher gordaça, filó
De ouro por todos os poros,
Burra como uma porta:
Paciência...
Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta do pobre arromba:
Uma bomba.
ANDRADE, Mário de. Lira paulistana. In: Poesias completas. Ed. crítica de Diléa Zanotto Manfio. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Editora da
Universidade de São Paulo, 1987. p. 380.
Coió:indivíduo ridículo,tolo. Filó: tule de seda,tecido esvoaçante e vazado,geralmente usado em véus.
Plutocrata: pessoa influente pelo dinheiro que possui.
4. Nesse poema, representantes da elite são caracterizados pelo eu lírico.
► Que pessoas são descritas?
► Transcreva as expressões que permitem identificar esse grupo social.
5. Além da classe a que pertencem, o eu lírico se refere a uma característica comum às pessoas apresentadas nas três
primeiras estrofes.
► Qual é ela?
► De que maneira essa caracterização reflete a crítica do eu lírico com relação à elite?
► O eu lírico resume a imagem que faz dos indivíduos apresentados por meio de expressões. Transcreva-as.
► O que essas expressões revelam sobre a avaliação que o eu lírico faz da elite brasileira? Justifique.
6. Releia. Plutocrata sem consciência
► Por que o eu lírico caracteriza o "plutocrata" com a expressão destacada?
► O eu lírico diferencia esse representante da elite dos demais, descritos nas estrofes anteriores. Transcreva a expressão
que demonstra essa diferença
► Explique em que consiste essa diferença.
► Explique de que maneira essa última estrofe é uma crítica do eu lírico à estrutura social brasileira.
Gare do infinito
Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o carro ficava esperando no jardim.
Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma figueira na
janela.
No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai.
ANDRADE, Oswald.Memórias sentimentais de João Miramar.São Paulo: Globo,2004. p. 74. Gare: estação de trem.
7. O trecho transcrito faz parte de um romance em que a personagem João Miramar relata fatos importantes de sua vida.
► Que fato é apresentado no texto?
► "Gare do infinito" é uma expressão metafórica utilizada pelo narrador para se referir ao episódio relatado.
Considerando o significado de "gare", de que maneira deve ser compreendido o título do poema?
8. A linguagem utilizada no texto é um dos elementos que constroem a caracterização do narrador-personagem.
► O que ela sugere a respeito do "momento" da vida do narrador em que ocorre o fato relatado? Justifique sua
resposta.
► No último parágrafo, para se referir à morte do pai, o narrador utiliza diferentes imagens. Transcreva-as.
9. Os romances de Oswald de Andrade adotaram uma estrutura inovadora, que tem semelhanças com a linguagem
cinematográfica. essas semelhanças podem ser observadas no texto acima? Explique essa afirmação.