3. Carta a cada menino tímido que entrou em colégio novo
Nada digo nem você percebe, mas compreendo menino tímido em colégio novo, a
dimensão do seu espanto, embora saiba, mesmo com pena, que você precisa vivê-lo.
Sei como soa ameaçadora a fala decidida da encarregada da disciplina. Da vida
dela, da hora em que acordou do marido, dos filhos, das lutas, você nada pode ainda
perceber. Devo deixá-lo sofrer a fome passageira se deixou de almoçar porque desconhecia
o horário e teve vergonha de perguntar. Um dia você por você mesmo, se surpreenderá
reclamando seus direitos. A quantos almoços no banquete da vida não será chamado! De
quantos será expulso!
Pena você ainda não poder avaliar a dignidade que mora na sua timidez. Dela,
por enquanto, só colhe o sofrimento e talvez até desenvolva técnicas de superação que o
transformarão em vivo, bom aluno, engraçado da turma, marginal, poeta precoce,
competente, simpático profissional, milionário, sei lá. Só depois da peripécia da vida, flores
e espinhos, um dia, você reencontrará a dignidade respeitosa de sua timidez, infelizmente
(talvez) depois de tê-la perdido.
São esmagadoras as solidões da infância como esta, do colégio novo. Você sozinho
diluído em igualdades que rirão se você chorar brigarão se você bater, resistirão se insistir. E
no entanto são pessoas talvez tão doces quanto você, cada uma se defendendo à sua
maneira.
(TÁVOLA, Artur da, 1936 : Mevitevendo Crônicas - 9 .Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira, 1986)
4. Como são grandes os caras do quarto ginasial! E que gigantes os do científico!
Mandam na escola! Que inveja daquele que já estava no colégio, de quem a inspetora
sabe o nome e parece deter e digerir com naturalidade o mistério de todos os horários,
rotinas, o nome do pessoal da cantina, onde pedirá com naturalidade o sanduíche que
você teme comprar, pois, novo ainda no colégio, até sua própria voz lhe soa ridícula e
talvez nem saia dessa garganta apertada. Último da fila e sem voz grossa, na hora do
seu sanduíche, a campainha já tocou ...
Que enorme é o professor! Seus poderes como são fatais! Ah, se eu pudesse
dizer a você que conheço a desvalia dele, sei o que conversa com colegas na sala dos
professores, como o humilha o magro salário e o obriga a dar inúmeras aulas por dia,
para sobreviver. Sei que ele teme o crediário e o aluguel, da mesma maneira que você
as suas ordens. E não posso passar essa vivência a você. Nem devo. Nem vou. Você
seguirá seu itinerário de vida, descobrirá o seu caminho. À vista ou a prazo.
Há os mistérios de escola nova, o tamanho das paredes, o cheiro do
almoxarifado, a enormidade dos corredores, a vontade de entrar na pelada dirigida
pelos já ambientados e regida por uma hierarquia que se fundou nos anos anteriores
em bofetões e falas mais grossas, no tom mandão que tanto vale nos colégios da vida.
Há sempre uma hora, no meio do dia escolar, em que volta o susto. É o
primeiro exercício de solidão de quem, depois, na vida, nada mais fará que se preparar
para ela, até um dia conquistá-la. No colégio novo, porém, a gente não sabe de futuros,
de solidão, nem de conquistas: o desconhecido apavora ! Que virá depois? Como o dia
custa a passar! Aquele grandão boçal vai me humilhar?
5. O professor seguinte fará uma pergunta repentina? Que faço com esta dor de barriga?
A inspetora vai acreditar em mim? E se eu fizer cocô nas calças?
Solidão de colégio novo, menino tímido, dói muito, mas é através dela
que você vai exercitar forças suas, das quais nem suspeita. Ela lhe dará coragem de
que não se julgava capaz e conquistas gradativas para as quais nunca se imaginou
preparado.
Eu sei, menino tímido, o quanto você gostaria de ser dotado de
naturalidade. Leio nos olhos a admiração pelo colega risonho e descontraído,
conhecido pelo nome e não por “ei, você ai, como é mesmo que você se chama? “Os
dotados de naturalidade e simpatia conquistam o mundo. Felizes são, pois não
nasceram com precoce consciência de si mesmos, que tanto pode fazer neuróticos
definitivos, quantos gênios ou benfeitores. Você menino tímido, sofre porque
antecipa, sem o saber, a consciência da própria limitação, virtude que a sociedade
do êxito desde bem cedinho trata de esmagar, adjetivando-a pejorativamente para
dela se defender.
Aguenta a mão, menino tímido! Viver é assim mesmo. Eu nada vou fazer
por você, a não ser acompanhar com amor o seu itinerário, para ver até onde suporta.
E como supera... Ou esmaga... Não vou pedir penico por você. A ânsia de vitória é sua
e por seu intermédio, não por meu. Você não me perdoaria, se eu o substituísse na
tarefa de viver sua vida, e de sofrer seu sofrimento. Colégio, menino tímido, é como
a vida. Um dia a gente cresce e começa a dominar os seus segredos. Mas aí já está na
hora de acabar o curso.
6.
7. A timidez pode ser definida como o desconforto e a
inibição em situações de interação pessoal, que
interferem na realização dos objetivos particulares e
profissionais de quem a sofre. Caracteriza-se pela
obsessiva preocupação com as atitudes, reações e
pensamentos dos outros. A timidez aflora geralmente
(mas não exclusivamente) em situações de confronto
com a autoridade, interação com pessoas do sexo
oposto, contato com estranhos e à fala diante de
grupos. A timidez é um padrão de comportamento em
que a pessoa não exprime - ou exprime pouco - seus
pensamentos e sentimentos, e não interage
ativamente. Embora não comprometa de forma
significativa a realização pessoal, constitui-se em fator
de empobrecimento da qualidade de vida.
8. Sob esse ponto de vista, a timidez não pode ser considerada
um transtorno mental. Aliás, quando em grau moderado, todos
os seres humanos são, em algum momento de suas vidas,
afetados pela timidez, que funciona como uma espécie de
regulador social e inibidor dos excessos condenados pela
sociedade.
Ela funciona ainda como um mecanismo de defesa que permite
à pessoa avaliar situações novas por meio de uma atitude de
cautela e buscar a resposta adequada para a situação.
(Evaristo de Carvalho , 2008)
9. “A logica é simples: Eu achei que era o que não sou e tive que
perder para aprender a desejar, e desejando passei a existir!”
(Rafael Almeida, 2014).
O ser humano só deseja porque nele há uma falta.
Lacan resgatou o conceito freudiano de Coisa(das Ding), objeto primordial de gozo cujo
acesso seria barrado ao sujeito pelo registro simbólico (Lei). A falta da Coisa faria com que
o sujeito passasse a desejar. Desejar o quê? Objetos capazes de substituírem parcialmente
a Coisa. O desejo, portanto, seria uma reação à perda do objeto primordial de gozo, uma
busca no mundo de objetos capazes de tamponar a falta da Coisa.
11. Grupo = interação e unidade.
Os grupos se reúnem por vários motivos:
por uma razão (objetivo) comum;
enquadramento em normas e valores;
formando uma estrutura organizacional;
No grupo há interação entre as pessoas.
12. Para saber lidar com pessoas precisamos entender que existem as
Relações:
1. Interpessoal
{relações entre pessoas} – normas convencionais; situacionais.
2. Intrapessoal
{relações com você mesmo} – é mensurado com base nas
projeções inconscientes.
13. 1. Busca de autonomia
Quando o Ego (eu) opera com o desejo e a expectativa do
outro.
2. Instinto/projeção externa
Estresse
Sentir medo é legítimo?
14. 1. Expectativa
O tempo como uma criação filosófica na qual baseamos a
existência.
2. fantasia
Ideal de Eu.
15. 1. O olhar do outro como nossa constituinte
O desejo para si é autêntico?
2. Seres de cultura
atravessados por normas e regras constituintes.