O documento discute como os assistentes sociais precisam adquirir novas competências em logística devido às transformações no mundo do trabalho. A logística é importante para melhorar a eficiência e reduzir custos. Os assistentes sociais precisam se adaptar às novas tecnologias e exigências do mercado para prestarem serviços de qualidade.
1. SERVIÇO SOCIAL E LOGÍSTICA: NOVA COMPETÊNCIA
EXIGIDA DO ASSISTENTE SOCIAL NA
CONTEMPORANEIDADE
Princila da Cunha
Assistente Social
Faculdade Metodista do Espírito Santo
Técnica em Logística
Faculdade Casa do Estudante
RESUMO
O objetivo deste estudo é identificar como os profissionais de Serviço Social do
município de AracruzES utilizam a logística em seus postos de trabalho. Esperamos
que este trabalho traga para o leitor alguns pontos importantes sobre o uso das novas
tecnologias de comunicação disponíveis no mercado globalizado e também deixar claro
que o movimento de capitais em busca de novos mercados e maiores lucros dita novas
formas de acumulação e de exploração da força de trabalho. Não muito longe deste
cenário, o Serviço Social está presente nesta realidade e precisa também ser inserido nas
novas normas e exigências do capital para assim prestar um excelente serviço à
sociedade.
Palavraschave: Reestruturação produção, Logística, Assistente Social.
ABSTRACT
The purpose of this study is to identify how Social Worker from municipality Aracruz
ES use the Logistics in they jobs. We hope that this work brings to the reader some
important points about the use of new communication technologies available in the
globalized market and also make it clear that the movement of capital in search of new
markets and greater profits dictate new forms of accumulation and of exploitation of the
labor force. Not far this scenario, the Social Work is present in this reality and needs
also to insert it in the new standards and requirements of the capital and so to give to
society a excelente service.
Keywords: Restructuring production, Logistics, Social Worker.
INTRODUÇÃO
Com as várias transformações sociotécnicas ocorridas no mundo do trabalho, percebese
que a cada dia exigemse mais competências e habilidades dos profissionais que atuam
em contato com a população, dentre esses profissionais, podemos citar o Assistente
2. Social que a partir de então se depara com novos processos de trabalho e novas
ferramentas (principalmente tecnológicas) para a execução de suas atividades diárias.
As conseqüências da Revolução Industrial que ocorreu na segunda metade do século
XVIII são percebidas até hoje através da consolidação do capitalismo industrial, da
formação de grandes conglomerados econômicos e do desenvolvimento da economia
liberal que tem como base a livre concorrência entre os mercados. Esses efeitos
ajudaram a consolidar o modo de produção capitalista e, a fomentar a eliminação de
pequenas empresas por grandes grupos empresariais que, em busca da qualidade total 1
nos seus produtos, utilizam a produção em série, substituição da mãodeobra pela
utilização de máquinas e equipamentos, padronização das mercadorias, globalização de
produtos, idéias, tecnologias e estilos de vida. Chegamos assim neste século XXI, ao
que chamamos de neoliberalismo que, suscita na “velha nova” questão social, novas
formas de enfrentamento das expressões da questão social.
Assim, apreender a questão social é também captar as múltiplas formas de
pressão social, de invenção e de reinvenção da vida construídas no
cotidiano, pois é no presente que estão sendo recriadas formas novas de
viver, que apontam para um futuro que está sendo germinado
(IAMAMOTO,1998, p.28).
Além de seu conhecimento teórico e técnico, o Assistente Social também precisa se
adaptar a estas novas exigências de mercado para conseguir atuar de forma satisfatória.
Necessitando então, obter novos conhecimentos e habilidades que não são ensinadas na
academia.
Alteramse os requisitos dos processos seletivos para os postos de trabalho
valorizados pelo mercado, acompanhando a globalização. No campo do
Serviço Social hoje se exige, por exemplo, um técnico versado em
computação, capaz de acessar as redes de comunicação online, com domínio
fluente de inglês etc. (IAMAMOTO, 1998, p. 49).
Um dos princípios fundamentais do Código de Ética Profissional do Serviço Social de
1993 prevê: o “Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e
com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional”. Dessa
1
Qualidade Total: O termo qualidade total se refere a um conjunto de técnicas utilizadas por empresas
para produzir produtos com o nível máximo de qualidade e para atender às necessidades de clientes
internos e externos à empresa. Podemos citar alguns princípios que devem ser perseguidos para se
alcançar a qualidade: a total satisfação dos clientes, a busca por uma gerência participativa, constância de
propósitos, aperfeiçoamento contínuo, desenvolvimento de RH, delegação, garantia da qualidade, não
aceitação de erros, gerência de processos e disseminação de informações.
3. forma o profissional de Serviço social se vê obrigado a adequarse às inovações e
formas de reestruturação produtiva ocorridas no interior de seus postos de trabalho.
A reestruturação produtiva no Brasil vem reforçando a inserção de novos e modernos
padrões de produção de bens e serviços e os resultados têm sido, o aumento nos índices
de desemprego, a fragilização da luta sindical, uma grande distorção na distribuição da
renda e uma significativa mudança no perfil do trabalhador moderno.
Conforme diz César:
O uso das novas tecnologias na melhoria da qualidade dos produtos e na
redução dos custos de produção, para tornarse efetivo, exige a constituição
de uma nova cultura do trabalho. Por isso mesmo, a modernização das
práticas industriais, [...] requer a integração orgânica do trabalhador, através
da mobilização da sua subjetividade e cooperação (2006, p.118).
No Brasil a industrialização se consolida na década de 60 durante o governo de
Juscelino Kubitschek com a implantação da indústria de bens e consumos duráveis,
sobretudo, eletrodomésticos e veículos.
As empresas, para melhor se firmarem no mercado, passam a utilizarse de estratégias
logísticas como forma de aumentar a quantidade de produtos ofertados e para reduzir os
custos do processo.
A logística é definida pelo dicionário da língua portuguesa Ruth Rocha como: “técnica e
arte de providenciar, distribuir e transportar os meios e suprimentos de uma tropa em
operação”. Inicialmente o conceito de logística era utilizado apenas por militares na arte
da guerra, mas, como a maioria das tecnologias e técnicas utilizadas em guerras podem
ser adaptadas aos meios empresariais, a busca pelo conhecimento e a prática da logística
tornase primordial para as organizações empresariais, governamentais e sem fins
lucrativos que desejam continuar ativas em um mercado cada vez mais competitivo e
voraz.
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
NO BRASIL
Até a Revolução Industrial a economia ainda era baseada no mercantilismo. A máquina
a vapor marcou o início de uma época caracterizada por grandes dificuldades e grandes
5. enfrentaram forte concorrência das mercadorias estrangeiras , o exército viu nessa
medida a possibilidade do país produzir suas próprias armas. Até a década de 30 o
Brasil ainda tinha como base de mercado a economia agrária, sendo o principal produto
o café.
O governo implantado em 1930, embora não tenha deixado do reprimir
duramente as manifestações operárias, procurou soluções novas para
enfrentálas. Getúlio Vargas considerava que a concessão de direitos
trabalhistas iria reduzir a força dos sindicatos, beneficiando assim, os
próprios empresários. Com esse pensamento, Vargas criou em 26 de
novembro de 1930 o ministério do Trabalho; decretou a chamada Lei dos
Dois Terços, que obrigava as empresas a terem em seus quadros de
trabalhadores pelo menos dois terços de brasileiros – reduzindo a influência
dos operários estrangeiros, mais combativos; instituiu a Lei de sindicalização
e regulamentou o trabalho dos menores (CARMO e COUTO, 2000, p.83).
Algumas das características das indústrias criadas após a 1ª Guerra Mundial é o fato de
não fabricarem produtos acabados, apenas os montavam com peças vindas do exterior,
sendo que na maioria dos casos essas empresas eram de capital estrangeiro. Após a 2ª
Guerra Mundial esse quadro se modifica. Agora as empresas brasileiras deixam de ser
exclusivamente montadoras de grandes marcas internacionais e passam a ser produtoras
de produtos acabados Ao final da guerra já existiam indústrias com capital e tecnologia
nacionais, como a indústria de autopeças.
Em 1956 Juscelino Kubitschek assume a presidência do Brasil e transforma
significativamente o quadro de desenvolvimento do país. Iniciouse o consumo de
eletrodomésticos pela população brasileira que entrava nas lojas e se maravilhava com
máquinas de lavar roupas, costurar, batedeiras elétricas, tocadiscos, enceradeiras,
ventiladores e outros produtos que incentivam a classe média a comprar mais e mais;
porém grande parte da população ainda não possuía dinheiro suficiente para comprar
um aparelho de TV. Nesse período é observada a expansão pelo gosto por produtos
norteamericanos e seu estilo de vida.
Durante o governo de JK, houve um grande crescimento da indústria de bens
de consumo duráveis: televisão, automóveis, máquinas de lavar roupa,
enceradeiras etc. Naquela época, só a classe média podia comprar esses
produtos. Ou seja, o crescimento econômico do país pouco beneficiou os
mais pobres (SCHMIDT, 1999, p. 229).
É importante lembrar também que durante o governo de JK as diferenças sociais
também não foram reduzidas, a distribuição de renda era cada vez mais díspar. A
6. economia do país cresceu, mas, o salário dos trabalhadores não acompanhava tal
crescimento por conta da inflação.
Durante o governo do sanguinário ditador Médici, verificase no país o chamado
“milagre econômico” que ocorreu entre 1969 e 1974. Durante esse período o país viu
um extraordinário crescimento e a modernização da economia, o Brasil chegou a
apresentar uma das maiores taxas de crescimento mundial.
No período do “milagre” foram grandes os investimentos internacionais na economia
brasileira. Várias multinacionais se instalaram no país e passaram a contratar a mãode
obra local – essas empresas contavam com grandes incentivos estatais como: redução de
impostos, empréstimos de dinheiro, obras gratuitas como estradas, linhas de energia
elétrica e outros, isso sem falar dos baixos salários pagos aos trabalhadores que não
podiam fazer greves para reivindicar por melhores salários. A economia crescia
consideravelmente mas, os salários dos trabalhadores continuavam na mesma proporção
de antes, o país vivia o chamado arrocho salarial, que foi agravado pelo aumento da
inflação e o aumento da dívida externa brasileira.
Na década de 70 estoura a crise mundial do petróleo. Com essa crise o Brasil passou por
grandes dificuldades pois a maior parte do petróleo consumido no país vinha do
exterior. Daí o incentivo do então presidente General Geisel á indústria do álcool e ás
indústrias de energia nuclear.
Com a queda da ditadura e a promulgação da Constituição Federal de 1988, em 1989 é
eleito pelo voto popular o presidente Fernando Collor de Mello que iniciou o Brasil na
lógica neoliberalista privatizando algumas estatais, reduzindo os investimentos sociais,
incentivando as importações e a concorrência do mercado nacional com o mercado
internacional.
Como nos diz Schmidt (1999): “De acordo com o presidente, a chegada dos produtos
estrangeiros geraria uma saudável concorrência, estimulando as empresas brasileiras a
aumentar a qualidade de seus produtos”. Mas além de não incentivar o crescimento das
empresas brasileiras, o presidente também cobrava “por fora” para realizar obras de
competência do Estado e devido a isto, foi deposto em dezembro de 1992.
7. Na seqüência, o próximo presidente eleito pelo voto popular foi Fernando Henrique
Cardoso – FHC em 1994. O então presidente se beneficiou do Plano Real que já havia
implantado no ano anterior durante o governo de Itamar Franco e conseguiu estabilizar
a inflação. Fernando Henrique Cardoso aprofundou ainda mais o programa de
privatização das estatais vendendo a Companhia Vale do Rio Doce, a maior mineradora
do mundo para o capital internacional.
Do governo de FHC em diante o que podemos notar é a crescente expansão de empresas
com altas tecnologias de informação, robótica, automação e cada vez mais competitivas
no mercado nacional e internacional; demandando desta forma, mãodeobra
superespecializada.
O MODELO DE PRODUÇÃO TOYOTISTA E O USO CRESCENTE DA
LOGÍSTICA
O modelo de produção Fordista / Taylorista, já não era capaz de fornecer condições
adequadas para a atual condição desses países arrasados pela 2ª Guerra Mundial. Era
necessário então, um novo modelo de produção que fosse capaz de dar uma resposta
mais eficiente para esse problema e, incrementar a produção de bens e serviços
utilizando pouco espaço físico, e com qualidade igual ou superior a dos produtos norte
americanos.
Antunes (2006, p. 25) entende o fordismo da seguinte maneira:
[...] forma pela qual a indústria e o processo de trabalho consolidamse ao
longo deste século, cujos elementos constitutivos básicos eram dados pela
produção em massa, através do controle dos tempos e movimentos pelo
cronômetro taylorista e da produção em série fordista; pela existência do
trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; pela separação entre
elaboração e execução no processo de trabalho; pela existência de unidades
fabris concentradas e verticalizadas e pela constituição/consolidação do
operáriomassa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimensões.
Menos do que um modelo de organização societal, que abrangeria igualmente
esferas ampliadas da sociedade, compreendemos o fordismo como o processo
de trabalho que, junto com o taylorismo, predominou na grande indústria
capitalista ao longo deste século.
Como já vimos o modelo fordista está intimamente ligado aos ideais da filosofia de
Taylor. Quando aliadas, estas duas concepções de resultam em altos níveis de
parcelamento do trabalho, alienação, especialização da mãodeobra além de enormes
8. quantidades de produtos lançados no mercado a cada dia, sem que estes tenham
necessariamente um mercado consumidor garantido.
Com o passar do tempo e a mundialização da produção ou como mais é conhecida – a
globalização; a necessidade de se obter vantagem competitiva nas relações produtivas
cresceu, era necessário então reduzir os custos da produção sem diminuir os lucros do
burguês. Durante um bom tempo a união entre Fordismo e Taylorismo foi muito
eficiente mas com a crise mundial deflagrada em 1970, este modelo de produção foi
posto em cheque com relação a sua real eficiência.
Para Pagotto apud Mota e Amaral (2006, p. 29):
[...] ‘ nos anos sessenta, a dinâmica fordista começa a apresentar os primeiros
sinais de crise com a tomada de consciência de que os padrões vigentes de
organização do trabalho eram ineficientes para garantir os altos níveis de
lucro que a empresa monopolista obteve em seu auge. Iniciouse a crítica aos
paradigmas taylorista e fordista e a busca por novas formas de concepção das
normas de produção, distribuição e repartição da produção’. [...] ‘ a crise da
produção padronizada e da relação fordista de altos salários baseados na
punjança da demanda em relação à oferta, acabou conduzindo ao conceito de
flexibilização, bem como de uma produção organizada sob novas premissas:
surgiram as abordagens que preconizam a substituição do trabalho parcelado
e da linha de produção, nas quais os mecanismos automáticos reduzem a
intervenção do trabalho vivo ao mínimo possível’.
Para Sabel e Piore apud Antunes (2006, p. 26) “ O elemento causal da crise capitalista
seria encontrado nos excessos do fordismo e da produção em massa, prejudiciais ao
trabalho, e supressores de sua dimensão criativa”. Nas palavras de Kameyama (2006, p.
07) “A crise do fordismo, iniciada nos anos 70, trouxe a necessidade de buscar uma
nova forma de regulação, tendo como base a flexibilização do trabalho com a adoção
das práticas japonesas de gestão de trabalho”.
Além de preconizar um modelo de produção flexível o toyotismo – como ficou
conhecido; também preconiza a acumulação flexível do capital e, esta flexibilidade é
marcada por um confronto direto com a rigidez dos processos fordistas. Conforme diz
Antunes (2006, p. 29) “Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos
mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo”.
Montaño (1997, p. 113) diz que “a partir das inovações dos modelos de produção
japonês, tem se produzido significativas alterações nas relações trabalhistas na
9. organização da produção, na automação do trabalho, no interior das indústrias
ocidentais”.
As principais características do modelo de produção da Toyota estão centradas na idéia
de reduzir os custos da produção mas sem diminuir os lucros do capital, para isso surge
a necessidade de recortes no pessoal ocupado e na infraestrutura industrial, este
objetivo é concretizado através do grande desenvolvimento tecnológico, expansão da
automação da produção, uso em larga escala de informática, práticas de subcontratação,
e terceirização de atividades que não fazem parte do foco principal da empresa (são
terceirizados departamentos como o de limpeza, alimentação, manutenção, mecânica e
outros).
Seus traços constitutivos básicos podem ser assim resumidos: ao contrário do
fordismo, a produção sob o toyotismo é voltada e conduzida diretamente pela
demanda. A produção é variada, diversificada e pronta para suprir o
consumo. É esse quem determina o que será produzido, e não o contrário,
como se procede na produção em série e de massa do fordismo. Desse modo,
a produção sustentase na existência do estoque mínimo. O melhor
aproveitamento possível do tempo de produção (incluindose também o
transporte, o controle de qualidade e o estoque), é garantido pelo just in time.
O kanban, placas que são utilizadas para a reposição das peças, é
fundamental, à medida que se inverte o processo: é do final, após a venda,
que se inicia a reposição de estoques, e o kanban é a senha utilizada que
alude à necessidade de reposição das peças/produtos (ANTUNES, 2006, p.
34).
Outro fato importante do toyotismo que fica claro nas palavras de Montaño (1997, p.
113) é a terceirização das atividades que não fazem parte do foco da empresa e os
impactos dessa atitude na sociedade:
[...] a terceirização de áreas da produção, administração e serviços, a
flexibilização do contrato de trabalho (com perda do salário de base e dos
direitos trabalhista), o aumento do desemprego estrutural a partir da
substituição de mãodeobra por maquinarias, derivado da automação e do
desenvolvimento da tecnologia, tudo isso produz enormes alterações nas
condições de trabalho, na qualidade de vida, na facilidade/dificuldade de
encontrar emprego para as pessoas que constituem a heterogênea classe
trabalhadora[...].
Conforme nos diz Antunes (2006, p. 35) “Desse modo, kanban,just in time,
flexibilização, terceirização, subcontratação, Círculos de Controle da Qualidade CCQ,
controle de qualidade total, eliminação do desperdício, ‘gerência participativa’,
sindicalismo de empresa, entre tantos outros elementos, propagamse intensamente.”
10. O modelo japonês trouxe várias inovações para o sistema produtivo mundial. Também
foram várias as contribuições para a sociedade e para o mercado mas, as inovações
trazidas pelo modelo concebido dentro das fábricas da Toyota não foram somente boas,
elas trouxeram consigo algumas consequências que não beneficiaram o trabalhador.
Com o novo ordenamento do capital a situação chegou a um estágio em que
surgiram contingentes populacionais denominados excluídos ou sobrantes.
Os sobrantes são pessoas que não tem lugar na sociedade, que não estão
integradas, que não estão numa relação de utilidade social, numa relação de
interdependência com o conjunto da sociedade. Portanto, foram invalidadas
pela conjuntura econômica atual e se encontram rejeitadas. Vivem em meio a
um mercado do qual dependem, porém o mercado já não mias precisa delas.
Por isso sobram, e como sobras não se investe em sua reprodução (CASTEL
apud MENDES apud SILVA, 2008, p. 184).
Antunes (2006, p. 36) elucida um outro fato que também foi fundamental para a
propagação do modelo Toyota:
Outro ponto essencial do toyotismo é que, para a efetiva flexibilização do
aparato produtivo, é também imprescindível a flexibilização dos
trabalhadores. Direitos flexíveis, de modo a dispor desta força de trabalho em
função direta das necessidades do mercado consumidor. O toyotismo
estruturase a partir de um número mínimo de trabalhadores, ampliandoos,
através de horas extras, trabalhos temporários ou subcontratação, dependendo
das condições de mercado. O ponto de partida básico é um número reduzido
de trabalhadores e a realização de horas extras.
Para Gounet apud Antunes (2006, p. 36) “ao invés do trabalho desqualificado, o
operário tornase polivalente”. Ironicamente ainda segundo Gounet apud Antunes
encontramos o seguinte: “[...] com o toyotismo, parece desaparecer o trabalho
repetitivo, ultrasimples, desmotivante e embrutecedor. Finalmente, estamos na fase do
enriquecimento das tarefas, da satisfação do consumidor, do controle de qualidade”.
E da mesma forma que o fordista/taylorismo precisava de um Estado comprometido
com a sociedade e com a garantia dos seguros sociais, o modelo de produção toyotista
também precisava de um Estado comprometido com os ideais capitalistas e, que
interviesse o menos possível na economia, este modo de organização do Estado foi
encontrado no neoliberalismo, um modelo econômico que surge para garantir e
legitimar a expansão da produção toyotizada.
Do mesmo modo que o modelo de produção de Ford necessitava de um
Estado que atuasse nos moldes keynesianos para estimular o consumo em
massa, a acumulação flexível, ao precisar de mais liberdade de mercado,
facilidade para contratar e demitir mãodeobra, diminuindo as restrições
11. estatais sobre o uso da força de trabalho, necessita de um modelo de Estado o
mais liberal possível (SILVA, 2008, p. 185).
Entra em cena o neoliberalismo como alternativa à manutenção da produção capitalista.
O neoliberalismo como modelo econômico provoca profundas alterações nas condições
de trabalho dos operários e na organização da sociedade moderna. Segundo Schmidt
(1999, p. 311) “a idéia básica do neoliberalismo, [...], é diminuir a participação do
Estado na economia e conceder liberdade de manobra para os investidores capitalistas”.
Dentre as medidas polêmicas adotadas pelo neoliberalismo podemos destacar alguns
dos pontos de maior relevância: Privatização da economia, Liberação do mercado,
Antinacionalismo, Menos impostos, Flexibilização do mercado de trabalho, Privatização dos serviços
públicos e, Corte nos gastos públicos.
Apesar de ter facilitado em muito a ação do burguês, o modelo neoliberal de governo
não deu conta de responder ao aprofundamento da questão social. Várias pessoas em
diversos países permanecem carentes de alimentos, moradia, saúde, educação, e são
submetidas diariamente aos diversos tipos de violência urbana e social.
Para Mota e Amaral (2006, p. 39) “o primeiro desafio aos profissionais de Serviço
Social é romper com a idéia de que a reestruturação produtiva é uma questão que afeta
exclusivamente as práticas empresariais e, consequentemente, àqueles profissionais que
trabalham nas empresas”.
Ainda segundo as autoras Mota e Amaral (2006, p. 4041):
[...] as estratégias utilizadas pelo grande capital, para redefinir socialmente o
processo de produção de mercadorias, a rigor, evidenciam as reais
necessidades do processo de reestruturação produtiva: a integração passiva
dos trabalhadores à nova ordem do capital, isto é, a adesão e o consentimento
do trabalhador às exigências da produção capitalista.
Levados a efeito pela grande empresa, estes mecanismos determinam um
elenco de situações que afetam as esferas do trabalho, da produção, da
cultura, da vida privada, das práticas do Estado e da sociedade civil e com os
quais se defronta, na atualidade, o profissional de Serviço Social.
Como já mencionamos no decorrer deste capítulo, várias foram as dificuldades
enfrentadas pelo Japão para se restabelecer enquanto país industrializado. Como
alternativa para uma dessas dificuldades surgiu JIT, sistema de controle da produção
que veio para combater os desperdícios da época do fordismo que não mais poderiam
12. ocorrer, vimos também o nascimento de novas formas de produzir e também novas
formas de entender a relação do mercado.
A lógica da produção toyotizada, prega que devese ter a menor quantidade possível de
estoques e que a produção só seja efetivada quando houver necessidade, ou seja, quando
o produto já tiver o seu consumidor garantido. A esta forma de pensar o consumo e de
produzir, deuse o nome de produção puxada, pois, neste modelo quem dispara a
produção de um bem ou serviço é o cliente a partir do momento em que ele realiza o
pedido do produto, diferentemente do que ocorria no Fordismo.
O sistema de ‘puxar’ a produção a partir da demanda, produzindo em cada
estágio somente os itens necessários, nas quantidades necessárias e no
momento necessário ficou conhecido no Ocidente como sistema Kanban.
Este nome é dado aos cartões utilizados para autorizar a produção e a
movimentação de itens, ao longo do processo produtivo [...] Contudo o JIT é
muito mias do que uma técnica ou um conjunto de de técnicas de
administração da produção, sendo considerado como uma completa
‘filosofia’, a qual inclui aspectos de administração de materiais, gestão da
qualidade, arranjo físico, projeto do produto, organização do trabalho e
gestão de recursos humanos (CORRÊA, 1993, p. 56).
Na filosofia JIT a mãodeobra ganha um novo papel, pois, nas palavras de Corrêa
(1993, p. 66): ‘[...] Segundo a filosofia JIT, se a empresa pretende fazer as coisas certas
da primeira vez, são os operários que as devem fazer, ou seja, são os operários os
responsáveis pela qualidade dos produtos produzidos’.
Ainda segundo as idéias da filosofia JIT são os operários que fabricam, montam, testam
e movimentam os materiais, além de serem eles os responsáveis pela qualidade que já
vem embutida no produto. Portanto, somente eles, conhecem a fundo todos os
problemas relacionados à produção.
A mãodeobra indireta (supervisores, gerentes e engenheiros) tem o papel de
apoiar, com conhecimento técnico mais sofisticado, o trabalho do pessoal de
linha de frente do processo de aprimoramento do produto e do processo, ou
seja, os operários. A identificação e resolução dos problemas cabe aos
operários, sendo esta tarefa apoiada e facilitada pelos especialistas (ou, como
tem sido chamados, facilitadores). Nesse sentido, tornase importante que os
operários tenham conhecimentos, ainda que rudimentares, de métodos de
identificação e análise de problemas, controle estatístico do processo, entre
outras técnicas, para que possam assumir novas responsabilidades impostas
pela filosofia JIT (CORRÊA, 1993, p. 66).
Para manter certo grau de competitividade no mercado, as empresas investem cada vez
mais capital em treinamentos para seus funcionários e em tecnologia de ponta, para que
13. estes estejam em dia com as novas ferramentas de trabalho oferecidas pelo mercado que
é cada vez mais globalizado.
As tecnologias da informação alcançaram um espaço considerável dentro de
organizações com visão de mercado. Quanto mais se investe em tecnologia, melhores as
condições de concorrer no mercado globalizado de produtos e idéias.
Neste quadro entra em cena também a Logística, que surge como um meio para integrar
os processos da organização e para fornecer melhores informações que serão utilizadas
para as tomadas de decisão da empresa (nos níveis estratégico, tático e operacional).
Segundo o Conselho de Gerenciamento da Logística apud Pires (2007, p. 58):
“Logística é a parte dos processos da cadeia de suprimentos [...] que planeja,
implementa e controla o efetivo fluxo e estocagem de bens, serviços e informações
correlatas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender
às necessidades dos clientes”.
Mas, ao contrário do que muitos pensam a Logística não está ligada somente à
produção, ou ao transporte de produtos acabados, ela também envolve os níveis mais
altos da empresa. É necessário haver a comunicação eficiente entre todos os setores da
empresa. E, para manter uma empresa integrada, é necessário ter informações de
qualidade e condições para que estas informações sejam acessadas pelas pessoas
corretas para que sejam tomadas as devidas providências.
O papel da Tecnologia da Informação e de Comunicação – TIC, é cada vez mais
crescente, a cada dia surgem novas tecnologias que facilitam a vida de empresários e
trabalhadores.
Durante as últimas décadas presenciamos grandes avanços da TIC em
diversas de suas frentes. Poderíamos citar o caso das fibras óticas, que
trouxeram um novo padrão de transmissão de dados, principalmente através
do aumento das taxas e da qualidade geral no processo. Outra evolução
marcante tem sido a comunicação sem fio (wireless), garantindo maior
mobilidade na comunicação e no acesso à informação. Ainda nessa linha,
presenciamos grandes avanços na questão da alimentação dos sistemas de
informação (inputs), que tem caminhado desde a simples digitação, passando
pelos códigos de barras, pela radiofreqüência, até os atuais cartões e etiquetas
eletrônicas (TAG). Assistimos também a grandes avanços na tecnologia de
base de dados (repositório de dados), que se tornaram bem mais potentes,
amigáveis e flexíveis, como é o caso dos atuais data warehousing (armazém
de dados). Em paralelo houve também um grande progresso na forma de
14. possibilidades de se acessar e analisar os dados nessas bases, como é o caso
dos atuais data mining (mineração de dados). Nesse contexto, poderíamos
citar também as chamadas ferramentas instantâneas e analíticas de acesso a
base de dados, as chamadas ferramentas OLAP (online analytical prossing).
Poderíamos lembrar também o importante e crescente papel da tecnologia de
comunicação via satélite [...] (PIRES, 2007, p. 248249).
O avanço crescente dos diversos tipos de tecnologia implicou para os operários uma
necessidade latente de aperfeiçoamento contínuo de aspectos referentes ao
conhecimento e ao uso desses novos meios de comunicação.
Os anos 90 assistiram a adoção dos sistemas ERP (Enterprise Resourse
Planning) pelas grandes corporações industriais. Esses sistemas têm sido
utilizados como infraestrutura tecnológica para suporte às operações de
empresas com vantagens sobre os sistemas anteriores desenvolvidos
internamente. As vantagens incluem a possibilidade de integrar os diversos
departamentos da empresa, a atualização permanente da base tecnológica e
benefícios relacionados com a terceirização de desenvolvimento de
aplicações, por exemplo, a redução dos custos d informática (SOUZA e
ZWICKER, p. 46, acesso em 15 maio 2007).
Além de permitir a integração entre os diversos setores da empresa, os sistemas
Enterprise Resourse Planning – ERP têm a vantagem de ter como serem comprados de
empresas terceiras. E, por este fato se tornam objeto de desejo de empresas que querem
as informações circulando da melhor forma possível dentro de seus departamentos.
Os sistemas ERP podem ser definidos como sistemas de informação
integrados, adquiridos na forma de pacotes comerciais de software, com a
finalidade de dar suporte à maioria das operações de uma empresa
(suprimentos, manufatura, manutenção, administração financeira,
contabilidade, recursos humanos etc.). Exemplos de sistemas ERP existentes
no mercado são o R/3 da empresa alemã SAP, o Baan IV da Holandesa Baan,
o One World da americana JD Edwards, o Oracle Financials da americana
Oracle, o Magnus da brasileira Datasul, o Microsiga da empresa brasileira de
mesmo nome e o Logix da brasileira Logocenter (SOUZA e ZWICKER, p.
47, acesso em 15 maio 2007).
Cabe a cada empresa definir conforme seu desejo, qual o sistema que melhor se encaixa
a seu perfil competitivo e qual o sistema dará melhor suporte para a tomada de decisão.
SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
O Assistente Social pode ser considerado como o profissional que tem como principal
função, elaborar e executar políticas de bemestar social. Cabelhe a tarefa de promover
uma melhor inserção socioeconômica de indivíduos, famílias e grupos nas sociedades
em que vivem auxiliandoos na solução de seus problemas.
15. Com base em conhecimentos técnicos adquiridos na formação acadêmica o Assistente
Social atua no atendimento individual ou coletivo buscando, nos próprios usuários a
solução ou a minimização de problemas sociais, que por vezes são apresentados por eles
próprios. Seu trabalho precisa ser desenvolvido a fim de promover nestes indivíduos a
capacidade de gerar habilidades, capacitandoos para conseguirem resolver seus
problemas, transformandose em sujeitos mais independentes, seguros e conscientes da
suas próprias capacidades e atitudes.
Entretanto, a profissão não é limitada apenas a setores públicos. Sua importância deve
ser reconhecida em qualquer espécie de organização. Onde há ser humano, a Assistência
Social precisa fazerse presente.
[...] a perspectiva adotada [...] entende o Serviço Social como uma
especialização do trabalho coletivo, inserido e legitimado na sociedade
capitalista, com determinadas funções estabelecidas por aqueles que a
contratam (Estado, empresas privadas ou públicas, Ongs etc.), para a tender
um público que muitas vezes não tem uma concepção correta do papel do
assistente social, mas que espera dele uma resposta concreta e imediata para
seus problemas (SILVA, 2008, p. 177).
Para Montaño (1993, p. 103):
A análise do contexto sóciopolítico e econômico no qual se desenvolve a
emergência do Serviço Social nos obriga a considerar a gênese de nossa
profissão não como uma derivação de anteriores formas de caridade e
filantropia mais técnica, organizada e sistemática que suas ‘protoformas’,
mas como o resultado de um processo histórico, vinculado a certo momento
do desenvolvimento das lutas de classes.
No Brasil o Serviço Social começa com o processo de industrialização em conjunto com
o aumento da concentração urbana. É a partir deste momento que o proletariado começa
a brigar por um lugar na vida política e por melhores condições de vida.
A ‘questão social’, que se impõe neste momento, nada mais é do que a
necessidade de se levar em consideração os interesses da classe operária em
formação. A implantação do Serviço Social se dá neste processo histórico, a
partir da iniciativa particular de vários grupos da classe dominante, que têm
na Igreja Católica seu portavoz (ESTEVÃO, 1999, p.4243).
O surgimento de algumas instituições sociais acontece na primeira fase do movimento
de reação católica, da divulgação do pensamento social da Igreja e da formação das
bases organizacionais e doutrinárias do apostolado laico. Tendo como principal objetivo
16. oferecer uma assistência preventiva, para amenizar algumas seqüelas do
desenvolvimento capitalista.
Em 1920, surge a Associação das senhoras Brasileiras, no RJ, e a Liga das Senhoras
Católicas, em SP. Estas buscavam contribuir com o avanço dos serviços sociais através
da realização de atividades tradicionais de caridade.
Embora tenha sofrido um lento avanço, essas instituições assumem significativa
importância no que diz respeito ao progresso do Serviço Social no Brasil. Foram estas
instituições que deram o “pontapé” inicial para a valorização do Serviço Social no país.
A partir dessas iniciativas criamse as bases materiais, organizacionais e principalmente
humanas que permitiram a expansão da Ação social e das primeiras escolas de Serviço
Social no país.
Em 1932 surge o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS) que passou a
ser considerado como uma manifestação original do Serviço Social no Brasil. Sua
existência se deu devido á necessidade que os responsáveis pelos setores de ação Social
e Ação Católica sentiram de tornar mais efetiva e produzir um maior rendimento ás
iniciativas e obras promovidas pela filantropia das classes dominantes paulistas com a
ajuda da Igreja. Seu inicio se deu com o “Curso Intensivo de Formação Social para
Moças’.
Nesse sentido é fundada em 1936 a primeira Escola de Serviço Social do Brasil,
localizada no estado de São Paulo e ligada á Pontifícia Católica deste mesmo estado.
Ainda no mesmo ano, acontece a Semana de Ação Social no Rio de Janeiro; evento que
foi considerado um marco positivo para a introdução do Serviço Social no Brasil.
A partir da criação da primeira escola de Serviço Social houve a propagação desse tipo
de instituição por todos os estados da nação devido a grande demanda, ocorrendo
gradativamente a institucionalização do Serviço Social enquanto profissão.
Conforme nos fala Arcoverde (apud SILVA, 2008, p. 178):
A profissão surge no conjunto de mudanças sociais que tornam pública a
questão social. Atuando nela por meio de seus agentes, o Serviço Social se
faz presente junto aos indivíduos que vivenciam as consequências da questão
social no trabalho, na família, na saúde e no acesso aos mais variados
17. serviços públicos. Nas manifestações da questão social a resistência se
apresenta, gerando permanente tensão, na qual situase a prática do
Assistente Social.
O trabalho do Assistente Social envolve o favorecimento da participação crítica e
constante do trabalhador, ficando atento para as opiniões, e englobando os
conhecimentos de seus usuários como um todo.
O Serviço Social subordinase ao movimento de reorganização do processo produtivo,
de tal modo que suas atribuições variam conforme as necessidades do momento e as
prioridades estabelecidas pelas políticas internas da instituição em que trabalha.
O autor Montaño afirma que para o Assistente Social: “Seu campo privilegiado de
trabalho é o Estado (subordinado, ademais dos cientistas, a uma lógica político
burocrática) e a sua base de atuação é conformada pelas políticas sociais”.
A atuação do profissional de Serviço Social sofreu várias mudanças, tanto de forma
como de conteúdo ao longo dos anos. O Assistente Social que no início da profissão era
requisitado principalmente pelo Estado, passa a ser utilizado como mãodeobra
também em empresas e em organizações de caráter não governamental. Assim, observa
se que o profissional tem um leque de opções de atuação bem diversificado, sendo
demandado como trabalhador inserido na divisão sociotécnica do trabalho nos três
setores da economia capitalista.
O sistema que vem tomando o lugar do liberalismo é o neoliberalismo 3
. Entramos para a
era da globalização. Podemos ter o produto que quisermos sem sair do país para
comprálo. Os avanços da tecnologia são grandes e, trazem consigo profundas
mudanças.
Neste contexto para não ficarem pra trás e perderem a competitividade e lucratividade
no mercado econômico, as empresas de médio e grande porte, implementam em suas
unidades processos de reestruturação da produção.
Efetivamente, as transformações ocorridas no mundo do trabalho não são
alheias aos fundamentos da proposta neoliberal nem a seus impactos
políticos. Estas alterações – na organização da produção, no gerenciamento
3
Neoliberalismo: Modelo econômico que prega a desresponsabilização do Estado com as questões
sociais e a mínima intervenção estatal na economia, transferindo essas responsabilidades para as
empresas, organizações não governamentais e para a sociedade civil.
18. da indústria, nas relações contratuais de trabalho, na comercialização – têm
como fundamento a reestruturação produtiva (particularmente, o modelo de
produção japonês concebido inicialmente por Ohno, na indústria automotiva
Toyota) (MONTAÑO, 1993, p. 107).
Em conseqüência desse fato os processos de trabalho e seus mecanismos de controle e
organização sofrem profundas transformações. É necessário então trabalhar para a
formação de um novo comportamento produtivo do trabalhador, baseado na
confiabilidade e no envolvimento do mesmo com os objetivos organizacionais.
Adotamse para isso novas estratégias de controle da força de trabalho:
desenvolvimento de programas participativos, ampliação do sistema de benefícios e
incentivos a produtividade. Além de cortes de pessoal e redução de infraestrutura.
Esta redução da força de trabalho é possível, em primeiro lugar, pelo
desenvolvimento tecnológico. Este último alcança um nível de sofisticação tal
que deriva no fenômeno conhecido como automação da produção, ou seja, o
acirramento da substituição da mãodeobra pela máquina automática, pelo
robô, estes ‘conduzidos’ por uma forma de ‘inteligência’ não humana: o
computador. é este último avanço da tecnologia que se alcança o ponto mais
alto da ‘desumanização’ da produção. Se desde a Revolução Industrial a
máquina suplanta e substitui o homem, este nunca pôde ser totalmente
eliminado do processo produtivo, dada a necessidade de comando humano
sobre a máquina, que, sem a manipulação do homem, nada poderia fazer. A
informática veio ocupar estes papel por meio do comando préprogramado de
atividades, desenvolvido nos softwares. Com este panorama, não somente o
trabalhador manual resulta supérfluo, mas também muitos cargos gerenciais,
de inspeção, de engenharia industrial, administrativos, resultam prescindíveis
(MONTAÑO, 1993, p. 107108).
Algumas características dos processos de reestruturação são: ampliação dos mercados,
terceirização de atividades secundárias da produção, exigência de mãodeobra cada vez
mais qualificada, implantação de tecnologias de base microeletrônica e implantação do
Programa de Qualidade Total que, preconiza a superação das metas de produtividade,
competitividade e integração dos empregados.
Com relação ao processo de trabalho, as novas tecnologias e os avanços da
microinformática têm alterado os meios de consumo da força de trabalho,
introduzindo a polivalência e a multifuncionalidade. Têm resultado, ainda, no
desenvolvimento acelerado do processo de trabalho. Estas mudanças exigem
uma renovada qualificação e capacitação profissional, principalmente
considerando que a interpenetração entre informação e produção tece novos
laços entre saberes e habilidades (CESAR, 1999; p.172).
Essas mudanças introduzem na sociedade novos e modernos padrões de produção que
trazem como resultados os elevados índices de desemprego e a precarização das
condições de trabalho, fragilizando também a organização sindical dos empregados.
19. [...] as empresas vêm investindo em estratégias que visam canalizar,
solucionar e antecipar reivindicações trabalhistas, destituindo o trabalhador
de sua representação, como categoria política. O envolvimento dos
trabalhadores nas empresas é estimulado, negociado e/ou controlado, por
meio de um arsenal de recursos humanos, em que estão enumerados ganhos
como estabilidade, benefícios e incentivos. A luta por melhoria salarial é,
gradativamente, substituída pela negociação cooperativa, numa dinâmica
coorporativa que movese de acordo com metas e resultados. (CESAR, 1999;
p. 172173).
A empresa investe cada vez mais na passivização dos funcionários para que estes ajam
de acordo com os interesses da mesma.
[...] o discurso empresarial que enfatiza a qualificação, as múltiplas
competências, a adaptabilidade, a participação e o envolvimento, é também o
mesmo que justifica a redução de postos de trabalho, a empregabilidade e a
adoção de padrões mais rígidos de controle do desempenho do trabalhador
(CESAR, 2006; p.119).
Criamse desta forma mecanismos capazes de persuadir o trabalhador a dar o máximo
de sua capacidade psicofísica.
A forma de reduzir pessoal e infraestrutura sem afetar a comercialização se
constitui, na proposta de Ohno, na mais significativa alteração das relações
trabalhistas. Se no capitalismo desenvolvimento, a base contratual para o
modelo fordista, é a relação de ‘assalariamento’, agora o vínculo tende a ser
a de ‘subcontratação’ (MONTAÑO, 1993, p. 108).
Assim, podese concluir que o processo de reestruturação intensifica o controle da força
de trabalho devido às novas estratégias de gestão humana, seja pela participação e
parceria ou pela intervenção empresarial na qualificação e na reprodução da força de
trabalho. Estes aspectos passam a ser formadores da cultura de integração do
trabalhador à empresa e ao mercado como um todo.
E, na contramão desse enorme processo de mudanças está o Assistente Social, como
demonstra SILVA (2008, p. 180): “o Serviço Social demonstra uma orientação em
favor dos trabalhadores, com forte crítica à exploração existente na sociedade burguesa
e em defesa da democracia”.
Hoje o Serviço Social mais do que humanizar a produção ou auxiliar o trabalhador na
busca por seus direitos, colabora de forma pedagógica na socialização de valores e
comportamentos, que influenciem nos objetivos das organizações contratantes de sua
mãodeobra, e na integração às novas exigências da produtividade. Assim as
20. organizações empregadoras do Assistente Social continuam a requisitálo para o papel
de intermediador entre o trabalho e a vida privada do trabalhador.
O trabalho educativo, moralizador e disciplinador, requisitado para garantir
os níveis de produtividade, atenuar conflitos, coibir insubordinações,
identificar insatisfações individuais/coletivas e inibir o potencial organizativo
e reivindicatório dos trabalhadores, tem de sofisticarse progressivamente,
afinadose com novas técnicas e discursos gerencias, que apregoam a
participação e a colaboração (CESAR, 1999; p.175).
Não ficando por fora do processo de reestruturação produtiva o Serviço Social também
sofre alterações no seu conteúdo. O saber do profissional também passa a ser apropriado
e manipulado pelas gerencias e, são exigidas dos Assistentes Sociais novas habilidades:
é necessário ter capacidade de compreender, implementar e administrar novos padrões
de organização incorporando inclusive as inovações tecnológicas. Assim, o profissional
deve ter uma maior capacitação técnica para manipular informações, tendo que
desenvolver sua capacidade lógicoabstrata, para decodificar programas e gerenciar seu
trabalho dentro de uma lógica voltada para a eficácia/eficiência, buscando eliminar
desperdícios, reduzir os tempos de execução de tarefas, introduzir métodos de controle e
medição do desempenho de si próprio, já que também é constantemente avaliado. A
função do Serviço Social continua vinculada à mediação das relações de trabalho e o
aumento da produtividade.
Podemos resumir o perfil comportamental exigido do Assistente Social na atualidade
em cinco quesitos básicos:
a) Conhecimento: o profissional tem que estar apto a responder a
perguntas, tirar dúvidas e resolver problemas. Para isso, é preciso
conhecer bem as rotinas de seu trabalho e todos os setores afins e as
políticas da empresa.
b) Competência: significa que o profissional deve ter agilidade,
organização e exatidão na execução de suas atividades, procurando fazer
sempre o melhor possível.
c) Atmosfera positiva: o profissional deve manter um ambiente agradável,
receptível, organizado, limpo e confortável para que o cliente se sinta
tranqüilo e acolhido. A aparência deve refletir a imagem que o
profissional deseja passar ao cliente. È preciso comunicarse com
fluência e expressarse com clareza.
d) Cooperação: a postura de colaborador exige que o profissional contribua
para o êxito de sua equipe de trabalho, assumindo a responsabilidade em
relação às metas e resultados e tomando a iniciativa de melhorar a
produtividade e a qualidade.
e) Esforço extra: significa que é preciso sair da rotina e fazer algo mais,
colocando a satisfação do cliente acima de tudo. Para isso, é necessário
ser flexível e usar o ‘ bom senso’, fornecendo alternativas e soluções
adequadas para satisfazer suas necessidades e também demonstrar que se
interessa sinceramente por ele, para que possa envolvêlo e surpreendê
21. lo. Por isso, não basta apenas satisfazer suas necessidades, é preciso ‘
encantar’ o cliente (CESAR, 2006; p. 134).
O Assistente Social como profissional assalariado e inserido no modo de produção
capitalista, também sente os efeitos da reestruturação produtiva: tem que se mostrar
produtivo, executar várias tarefas em pouquíssimo tempo, mostrar que seus serviços são
úteis para a empresa, e se qualificar cada vez mais.
É neste sentido que o assistente social, para assegurar sua utilidade na
organização, é obrigado a requalificarse, adequandose a um perfil
sociotécnico mais difuso, polivalente e sintonizado com as práticas e saberes
dos demais profissionais da área gerencial e de recursos humanos. Esta
‘relocalização’ do profissional no conjunto das atividades de
acompanhamento ao trabalhador exige não apenas a adoção de novos
paradigmas de eficácia e eficiência como, também, modifica o escopo das
suas qualificações para o exercício das funções sociais e técnicas que lhe são
exigidas (CESAR, 2006; p. 140).
O profissional de Serviço Social está cada vez mais sujeito às inseguranças que afligem
o mundo do trabalho, assim como, qualquer outro profissional. Os Assistentes Sociais
enfrentam uma série de dificuldades e limitações para conduzir seu trabalho e afirmar
sua utilidade, procurando responder às exigências feitas pela empresa definindo seus
objetivos profissionais a partir dos objetivos coorporativos.
A profissão possui um caráter contraditório que lhe é inerente e este caráter pode tanto
conservar aspectos do “modo de ser” capitalista quanto questionálos, negandoos. A
dialética de continuidades e rupturas, no exercício profissional do Assistente Social,
comporta um conjunto de possibilidades que podem leválo a superar a alienação com
relação ao seu próprio trabalho e, particularmente, com relação ao produto gerado a
partir dele.
Responder de forma crítica e criativa às exigências colocadas pela reestruturação
produtiva, defender suas condições de trabalho e resistir às práticas de passivização são,
alguns dos maiores desafios que estão postos para o Assistente Social e para os demais
trabalhadores que dependem de seus respectivos trabalhos.
Não muito longe das exigências do mercado de trabalho o Assistente Social também
precisa, cada vez mais, ter conhecimentos técnicos e habilidades de relacionamento
interpessoal, porém alguns conhecimentos referentes ao uso de tecnologia de
comunicação passam despercebidos durante a formação acadêmica. Alguns
22. profissionais mais experientes, por exemplo, foram adquirindo esses conhecimentos
relativos ao uso das novas tecnologias em seus espaços de trabalho, aprendendo e se
reciclando a cada dia.
Além de exercer sua prática principalmente junto a uma população que vem
sofrendo com a perda do emprego e dos direitos sociais, o assistente social,
na condição de trabalhador, também enfrenta o processo de precarização de
suas condições de trabalho e a disputa por um lugar no mercado [...] (SILVA,
2008, p. 188).
Conhecer e defender o projeto éticopolítico do Serviço Social é uma necessidade que
perpassa todos os profissionais desta área. Porém com o atual movimento do capital
essa tarefa de defesa intransigente dos direitos e da igualdade tornase cada vez mais
difícil.
É preciso ter clareza que a lógica capitalista e o projeto profissional são
contrários, porém disputam espaços dentro da mesma realidade, e o assistente
social tem contato com ambos, devendo conhecêlos para que possa
distinguilos e tratar com suas contradições. Do contrário, poderá construir
um agir profissional permeado de equívocos e ilusões (SILVA, 2008, p. 189).
Cabe a cada profissional determinar em sua prática, meios para que os pressupostos do
Código de Ética profissional sejam levados a efeito e que os usuários efetivamente
recebam cada vez um serviço de melhor qualidade e com maior agilidade.
A partir do momento em que a categoria profissional revela uma postura ética
oposta à lógica da exploração capitalista, uma questão se torna patente: como
atender ao projeto éticopolítico e ao mesmo tempo se manter no emprego,
lembrando que é dentro das instituições que o assistente social consegue
desenvolver sua força de trabalho. Esta questão deve ser respondida pelo
Serviço Social, por seus agentes, tanto na sua elaboração teórica, como em
seu agir profissional dentro das instituições nas quais estejam empregados.
Quando uma questão com esta é em posição de pouca relevância, correse o
risco de se atuar unicamente em favor das instituições e, assim, do capital,
mesmo que o profissional queira atuar em função do projeto da categoria
(SILVA, 2008, p. 189).
A cada momento o sistema capitalista junto com o modelo neoliberal, cria para o
Serviço Social novas demandas e assim criam também a necessidade de novas respostas
que estejam em consonância com o projeto político da profissão e com o Código de
Ética.
O primeiro desafio para que a categoria responda corretamente aos novos
desafios que lhe são postos consiste em apreender as contradições presentes
no cotidiano, mas não apenas do ponto de vista imediato. Devese considerar
como o cotidiano é influenciado por determinações de ordem macropolítica,
econômica e social, lembrando que onde existem contradições existem
também espaços para o confronto de idéias e interesses. O correto exercício
23. profissional nas bases do Serviço Social contemporâneo passa pela análise e
compreensão crítica da realidade social, a partir de experiências do cotidiano,
incluindo o levantamento de questões, ouvindo os usuários, captando as
analogias entre a realidade macro e micro e a relação entre os usuários e o
meio na qual estão inseridos. A reflexão deve ser entendida não como uma
simples procura por respostas imediatas, mas como uma busca para
apreender o cotidiano em sua totalidade e, assim, chegar a alternativas de
intervenção (SILVA, 2008, p. 191).
O correto uso das facilidades tecnológicas trazidas pela Logística, proporciona para o
Assistente Social a possibilidade de cada vez mais ampliar seus conhecimentos e assim
dar um salto na qualidade e agilidade das informações de fornece para os usuários de
seus serviços.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Queremos deixar claro que o nosso objetivo não é fazer apologia ao capitalismo nem ao
neoliberalismo, apenas os citamos várias vezes para que ficasse latente para o leitor que
este é o sistema em que vivemos e que muito dificilmente será modificado, portanto,
cabe ao profissional de Serviço Social compreender os movimentos de reestruturação do
capital e captar em sua esfera quais são as novas demandas para a profissão e suas
respectivas respostas a esta nova situação, lembrando sempre de se posicionar a favor
do usuário e defender os direitos dos cidadãos.
O Assistente Social também é um profissional inserido na divisão sóciotécnica do
trabalho e como tal também sofre com as novas formas de exploração da mãodeobra
trabalhadora e, para se manter no mercado de trabalho ou mesmo para ingressar nele é
necessário estar munido com muito conhecimento e com muitas habilidades técnicas e
pessoais para que sua atuação seja reconhecida como necessária para a organização e
para que se crie valor para os cidadãos beneficiários.
Trabalhamos a favor da vida e dos direitos sociais, combatendo a discriminação e os
preconceitos, para tanto precisamos acima de tudo ser informados. Hoje a informação é
o maior bem que uma pessoa pode ter, basta saber fazer o uso correto desta.
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