Uma das maneiras pelas quais os membros de uma cultura controlam eficientemente o comportamento é pelo estabelecimento de agências de controle. Agências de controle são conjuntos complexos de práticas culturais com objetivo de manter os membros do grupo comportando-se de acordo com as contingências instaladas pela agência. O poder de uma agência está no estabelecimento e no controle de reforçadores importantes para o grupo controlado. Devido à complexidade das variáveis envolvidas no controle do comportamento humano, agências de controle utilizam contingências aversivas e punição, ou seja, são por natureza fonte de coerção. O Feminismo, em suas diversas vertentes, define o patriarcado como um sistema social que impõe papéis de gênero, separando e oprimindo as mulheres dentro da sociedade por meio de mecanismos sociais que reproduzem a opressão e exercem dominação masculina sobre as mulheres. Dentre esses mecanismos, Teorias Feministas identificam a violência física e simbólica; a desumanização da mulher pela objetificação e sexualização de seu corpo; a divisão sexual do trabalho; a monopolização masculina dos meios de produção e de significação; a limitação da mulher ao espaço privado; entre outras práticas. Partindo da definição operacional dos termos usados no feminismo para falar da dominação masculina, aproximamos os conceitos de patriarcado e agência de controle. Usamos a análise de contingências sociais para interpretar os fenômenos descritos pelo feminismo em termos do comportamento dos indivíduos envolvidos nas práticas sociais estabelecidas pela agência de controle patriarcal. A análise funcional não-experimental de comportamentos de indivíduos dentro das práticas estabelecidas pelo patriarcado foi usada para sistematizar e fundamentar o conhecimento sobre variáveis implicadas nessas práticas e gerar a adoção de posições epistemológicas e éticas úteis e coerentes com a prática da Análise do Comportamento.
2. 2Ana Arantes
AGÊNCIAS DE CONTROLE
(Skinner, 1953)
indivíduos dentro do grupo
controlam e dispõem reforçadores
manipulação de estímulos com o
fim de se controlar comportamento
práticas realizadas pelas agências
têm como função estabelecer
obediência (controle) e autocontrole
sobre os outros membros do grupo
3. 3Ana Arantes
“O grupo exerce um controle ético sobre
cada um de seus membros através,
principalmente, de seu poder de reforçar
ou punir. O poder deriva do número e da
importância de outras pessoas na vida de
cada membro. Geralmente o grupo não é
bem organizado, nem seus procedimentos
são consistentemente mantidos. Dentro
do grupo, entretanto, certas agências de
controle manipulam conjuntos
particulares de variáveis. Essas agências
são geralmente mais bem organizadas que
o grupo como um todo, e frequentemente
operam com maior sucesso.”
(Skinner, 1953)
4. 4Ana Arantes
controlar o comportamento dos
indivíduos permitindo que eles
terminem, evitem ou escapem de
estímulos aversivos; ou por ser a
única/principal fonte provedora de
reforçadores
COERÇÃO
(Sidman, 1989)
5. 5Ana Arantes
COERÇÃO
(Sidman, 1989)
Controle do
comportamento por:
1. punição ou ameaça de punição
2. reforço negativo (retirada de
estimulação aversiva)
3. controle de (poder sobre)
reforçadores positivos
6. 6Ana Arantes
estabelecem os valores reforçadores
dos estímulos, elas "ditam" o que é bom,
correto, bonito, moral, etc, ensinando a
comunidade o que vai ser reforçador
para seus membros
ensinam as pessoas a se
comportarem de determinadas maneiras
através de um conjunto de regras que a
gente chama de "ideologia"
conjunto de regras que estabelecem
determinadas práticas sociais como
"naturais" a um determinado contexto
social
AGÊNCIAS
CONTROLADORAS
7. 7Ana Arantes
"Em geral, as práticas realizadas pela
agência têm como função estabelecer
obediência e autocontrole em seus
controlados, ou seja, um repertório
suficiente e bem estabelecido de tal
modo que, mesmo na ausência do
agente controlador, eles se
comportem de acordo com a agência.
Ou seja, a agência garante seu próprio
futuro por meio do estabelecimento
de autocontrole dos controlados."
(Bezerra, 2003)
8. 8Ana Arantes
para evitar contracontrole os
sistemas de dominação usam
estratégias de "naturalização" do
status quo
estabelecem práticas sociais que
permitem que os controlados
evitem punição ao se comportarem
de determinadas maneiras que são
reforçadas diferencialmente e
adquirem status de "hábito",
"costume", "regra social",
"natureza"...
9. 9Ana Arantes
"Quando o grupo nos ensina
o que pode ser dito e o que
não pode, também nos
ensina o que pode ser
pensado e o que não pode."
(Todorov, 2014)
10. 10Ana Arantes
“E à mulher disse: multiplicarei
grandemente a tua dor, e a tua
conceição; com dor darás à luz filhos; e
o teu desejo será para o teu marido, e ele
te dominará.”
(Gênesis, 3:16)
“O melhor movimento feminino ainda é o
dos quadris.”
(Millôr Fernandes)
“As muito feias que me perdoem, mas
beleza é fundamental.”
(Vinicius de Moraes)
11. 11Ana Arantes
“A mulher moderna ─ dita independente, que
nem de pai para seus filhos precisa mais, a
não ser dos espermatozóides ─ assim só o é
porque se frustrou como mulher. Tanto isto é
verdade ─ respeitosamente ─ que aquela que
encontrar o homem de sua vida, aquele que a
satisfaça como ser e principalmente como ser
sensual, tenderá a abrir mão de tudo (ou de
muito), no sentido dessa 'igualdade' que
hipocritamente se está a lhe conferir. A
mulher quer ser amada. Só isso. Nada mais.”
(Juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues, 2007)
12. 12Ana Arantes
Patriarcado =
agência de controle
objetivo: manter a prática social
de dominação masculina
ideologia (regra) que mantém
essa prática é o machismo
(supremacia masculina)
13. 13
“(...) patriarcado diz respeito a uma forma
de organização e de dominação sociais
calcada na exploração dos homens sobre
as mulheres. Constitui-se num conceito
que permite visualizar que a dominação
não está presente somente na esfera
familiar, tampouco apenas no âmbito
trabalhista, ou na mídia ou na política. O
patriarcalismo compõe a dinâmica social
como um todo, estando inclusive,
inculcado no inconsciente de homens e
mulheres individualmente e no coletivo
enquanto categorias sociais.”
(Saffioti, 2011)
Ana Arantes
14. 14Ana Arantes
machismo/supremacia
masculina = desumanização da
mulher pelo estabelecimento do
padrão masculino de humanidade
o homem é a medida de
todas as coisas
o homem foi feito à
imagem e semelhança de
deus
15. 15Ana Arantes
podemos nos referir a esse
sistema de práticas sociais e
estabelecimento arbitrário de
reforçadores como um "construto
social", mas do ponto de vista
feminista é útil salientar o termo
"dominação masculina"
ressalta que o controle é exercido
pelo patriarcado e aumenta a
probabilidade de contracontrole por
sair do sistema de regras / ideologia
imposto por ele
16. 16Ana Arantes
CONTRACONTROLE
(Skinner, 1974)
estabelecer contingências para
controlar o comportamento do
“controlador”
respostas de fuga/esquiva das
contingências dentro da agência de
controle
17. 17Ana Arantes
"O contracontrole ocorre quando os
controlados escapam ao controlador,
pondo-se fora do seu alcance, se for
uma pessoa; deserdando de um
governo; apostasiando de uma
religião; demitindo-se ou mandriando -
ou então atacam a fim de enfraquecer
ou destruir o poder controlador, como
numa revolução, numa reforma, numa
greve ou num protesto estudantil. Em
outras palavras, eles se opõem ao
controle com contracontrole"
(Skinner, 1974)
18. 18Ana Arantes
“A dominação só pode ser
enxergada de uma
posição que envolve a
disposição para ver.”
(Thompson, 2001)
19. 19Ana Arantes
1. autoconhecimento = saber por que
fazemos o que fazemos (quais os
verdadeiros determinantes / causas dos
nossos comportamentos)
“VER”
2. discriminar as regras (“ideologias”)
que controlam nosso comportamento e
reconhecer as ideologias que são usadas
para opressão da mulher e para a
dominação masculina
20. 20Ana Arantes
3. “(...) muitas das respostas verbais que
descrevem aspectos do ambiente,
topograficamente semelhantes às
respostas de tatear, seriam, na verdade,
respostas intraverbais emitidas sob
controle discriminativo das respostas de
outros membros da comunidade verbal.”
(Guerin, 1992)
4. reconhecer e combater a arbitrariedade
da atribuição de valor reforçador a
estímulos feita pela agência controladora
(estabelecer valor reforçador a estímulos
que não possam ser usados para oprimir
e/ou violentar)
21. 21Ana Arantes
Ilustração: "Woman in Orange" de America Martin
Referências:
Bezerra, M.S.L. (2003). Questões preliminares sobre política em B. F.
Skinner. Trabalho final desenvolvido na disciplina de Pesquisa
em Fundamentos da Psicologia. Universidade Federal de São
Carlos. Não publicado.
Guerin, B. (1992). Behavior analysis and the social construction of
knowledge. American Psychologist, 47(11), 1423-1432.
Saffioti, H. (2011). Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo.
Sidman, M. (1989). Coerção e suas implicações. Campinas: Livro Pleno.
Skinner, B.F. (1953). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo:
Martins Fontes.
Skinner, B.F. (1974). About Behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Thompson, D. (2001). Radical Feminism Today. Londres: SAGE
Publications.
Todorov, J.C. (2014). Controle e contra controle em contingências
sociais. Blog João Cláudio Todorov. Publicado em 20 de
agosto de 2014. Disponível em: http://jctodorov.blogspot
.com.br/2014/08/controle-e-contra-controle-em.html