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O CORTIÇO E A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO RIO DE JANEIRO NAS
ÚLTIMAS DÉCADAS DO SÉCULO XIX

                   TEIXEIRA Ana Lúcia - UERJ - Graduanda de Geografia
             Rua Itacoati – Lote17f Quadra C -CEP 26185060, Belford-Roxo, RJ.
                                   analu.gheo@gmail.com




Resumo

              O presente trabalho busca contribuir para a ampliação do debate entre
Geografia e Literatura e a possibilidade deste debate ser realizado pelo viés Histórico-crítico-
dialético. Utilizaremos o romance de Aluísio de Azevedo, O Cortiço. Pretendemos
demonstrar que nesta obra o autor faz uma crítica à produção do espaço urbano da cidade do
Rio de Janeiro, nos finais de 1800, bem como a construção das precárias moradias populares
para locação que promovia o enriquecimento dos proprietários desses imóveis a partir da
especulação imobiliária.


Palavras chaves: Geografia, Literatura, cortiço, espaço urbano.




Introdução


       Na busca pela compreensão da produção/organização do espaço urbano carioca em
uma época na qual a ciência geográfica ainda não havia sido institucionalizada no país, “pois
é comum assinalar o ano de 1934, data da criação da Universidade de São Paulo, como
marco de fundação da moderna Geografia Brasileira”. (ABREU, 1994, p.24), faremos uso
dos debates realizados pelos literatos, que em suas obras discorrem a cerca do espaço urbano.
       Mello (1990) nos diz que a Literatura tem sido utilizada, embora timidamente, por
geógrafos para empreenderem análises espaciais desde o início do século XX, por ser um
meio eficaz de investigação, que relata em diferentes escalas os lugares, o cotidiano, a
paisagem. Entretanto a Geografia brasileira, diferentemente da Geografia internacional,
continua negligenciando os textos literários como fonte de informação.




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Tendo em vista o crescimento do debate entre a relação Geografia e Literatura este
estudo se propõe a analisar a produção/organização do espaço urbano do Rio de Janeiro
utilizando-se de um texto literário a partir da abordagem Histórico-Crítico-Dialética, uma vez
que as pesquisas sobre estes temas têm sido realizadas principalmente com a abordagem
fenomenológica-hermenêutica.
       Sobre a possibilidade de se realizar uma pesquisa nestes moldes a geógrafa Carlos
(2002, p. 175 - 176) declara:


                        A geografia começou a refletir sobre o impensável, até bem pouco tempo.
                        Hoje, muitos trabalhos se debruçam sobre a festa, a música, a literatura, o
                        cinema, colocando em cena a relação entre a geografia e a arte, o que vem
                        abrindo muitas possibilidades de pesquisa. Muitas dessas pesquisas se
                        apóiam na Geografia Humanística, mas o materialismo também permite
                        construir uma rica interpretação desta relação.


               Escolhemos o romance naturalista de Aluisio de Azevedo O Cortiço, como
referência para caracterizar a realidade urbana do Rio de Janeiro a partir de um texto literário.
Poderíamos ter escolhido uma obra de Lima Barreto, Machado de Assis ou de tantos outros
que destacaram a cidade em seus romances, mas Azevedo destaca em sua obra uma parcela da
população que até então não tinha sido representada: o povo, e traça um painel da sociedade
brasileira descrevendo em seus personagens os fatos sociais e políticos da época.
       Colocando o “povo como personagem” Azevedo faz um relato minucioso de como era
viver em um cortiço, descreve com precisão o cotidiano dos moradores deste tipo de
habitação popular e a maneira como estes se organizavam naquele espaço, Sendo o espaço
produzido um resultado da ação humana sobre a superfície terrestre que expressa a cada
momento, as relações sociais que lhe deram origem (MORAES, 2002, p.15).
       Os textos literários mesmo que ficcionais retratam, na maioria das vezes com riquezas
de detalhes, a sociedade da época e a forma como esta se apropriava do espaço. Por esse
motivo escolhemos o romance de Aluísio de Azevedo, pois nele o autor retrata um momento
da sociedade carioca ainda em construção onde o pensamento social estava fortemente
influenciado pelas teorias racionalistas. Este pensamento vai ser fundamental na estruturação
do espaço urbano das décadas finais do século XIX e nas inicias do século XX.
       A obra é influenciada pelas teorias cientificistas da época (Evolucionismo,
Darwinismo, Determinismo, Positivismo) e retrata o Homem sujeito a influencia da raça, do




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meio, e do momento histórico. Apesar disso o autor faz uma crítica aos poderosos
proprietários de cubículos que enriqueciam alugando–os aos menos favorecidos.
        A critica realizada aos especuladores, principalmente ao imigrante português que além
de ser proprietário de grande parte das casas comerciais da cidade ainda exploravam os
aluguéis de casas de cômodos, está presente na crônica de Azevedo, em um fragmento
apresentado por Faraco (2002, p.10) no Pósfácio da edição d’O Cortiço por nós utilizada.
Azevedo declara que


                        há no Rio de Janeiro, entre os que não trabalham e conseguem (...) até
                        enriquecer, um tipo digno de estudo – é o ‘dono da casas de cômodo ‘.
                        Quase sempre forasteiro, exercia dantes um oficio na pátria que deixou para
                        vir tentar fortuna no Brasil; mas percebendo que aqui a especulação velhaca
                        produz muito mais que o trabalho honesto foi a um patrício seu, estabelecido
                        no comercio, pediu e dele obteve uma carta de fiança, alugou um vasto
                        casarão de dois ou três andares, meteu – se lá dentro, pregou escritos em
                        todas as janelas; e agora o verás!
                        Como na capital federal há mais quem habite do que onde habitar, começou
                        logo a entrar – lhe pela casa. Á procura de cômodos, uma interminável
                        procissão de desamparados da sorte e de magros lutadores pela vida, que lhe
                        foram enchendo surdamente, do primeiro ao último, os numerosos quartos.
                        (...).


        Dessa forma, os cortiços tornaram-se parte essencial de um fenômeno social,
sintetizavam as transformações ocorridas no Rio de Janeiro nas últimas décadas do século
XIX, eram resultado direto do desenvolvimento desordenado associado à chegada em massa
de migrantes e imigrantes.




Objetivos


Geral
                Este trabalho visa contribuir com o debate sobre a utilização da Literatura em
análises geográficas.


Específicos
            •   Mostrar que a Literatura brasileira é rica em obras que podem nos auxiliar na
                busca pelo entendimento da produção e da organização do espaço urbano,




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principalmente no período em que a Geografia moderna ainda não havia sido
               institucionalizada no país;


           •   Realizar a interpretação de um texto literário a partir da abordagem Histórico-
               Crítico-dialética;




           •   Demonstrar que embora de maneira mais sutil do que no período em que foi
               escrito o romance O Cortiço, o pensamento racionalista com tendências
               determinista ainda encontra-se presente na intelectualidade brasileira,
               principalmente naqueles que pensam e planejam o espaço urbano;




Referencial Teórico e Metodológico


       Segundo Gomes (2003, p.314) na Geografia Humanística, o geógrafo para fazer uma
verdadeira interpretação da inscrição espacial da cultura, deve ter o maior número possível de
elementos que tratem dos valores, das significações, e das associações construídas por um
grupo social. E o meio mais livre e espontâneo desse tipo de manifestação, é a arte, mas é na
Literatura que a maior parte dos estudos estão centrados.
       Mello (1990, p.109) nos fala que a Literatura pode ser um meio eficaz de investigação
para os geógrafos, pois os textos literários evocam a alma dos lugares, os escritores captam,
interpretam e divulgam os sentimentos, o desempenho dos seres humanos, a fixação aos
lugares, às viagens, o cotidiano.
        Os autores citados referem-se à análise de textos literários pela Geografia
Humanística de abordagem fenomenológica-Hermenêutica, no entanto como já exposto na
introdução deste estudo a geógrafa Carlos (2002) afirma que o materialismo também pode
realizar uma rica interpretação deste material. Por isso buscaremos uma interpretação do
romance de Azevedo pelo viés marxista.
       O surgimento da proposição deste estudo se deu justamente com a leitura do livro da
geógrafa citada acima, Espaço tempo na Metrópole. Neste livro a autora usa trechos da obra
do poeta francês Baudelaire, bem como de Mário de Andrade para discorrer a respeito das




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mutações ocorridas em São Paulo a partir da Operação Faria Lima e do sentimento de
estranhamento que esta estava impondo aos moradores dos bairros afetados pelas reformas.
       Nesta obra Carlos utiliza-se de categorias como valor de uso e valor de troca, ordem
próxima e ordem distante, além das categorias que para Santos (1980) são imprescindíveis
para uma correta leitura do espaço geográfico, forma, processo, estrutura e função para
discorrer sobre as transformações ocorridas nos bairros paulistas. Comprovando que é
possível uma análise marxista de textos literários e que estes são importantes meios para o
entendimento do espaço urbano.




Principais Pontos Desenvolvidos


As alterações demográficas e a questão da habitação


       Na busca pelos motivos que levaram o autor a escrever um romance dedicado a uma
habitação popular e aos fatores que o consagraram como um retrato da sociedade brasileira,
nos finais do século XIX realizamos uma contextualização do processo pelo qual passou a
cidade e que desencadeou esta forma como importante fenômeno na estrutura social daquele
tempo, pois a cidade é uma construção histórica. E de acordo com Carlos (2001) “em cada
momento da historia se produz um espaço, este se revela em cada momento histórico, uma
cidade e suas possibilidades”.
       Sendo o espaço urbano construído pelas relações sociais (CARLOS 2001;
LEFEBVRE, 1991; SANTOS; 1980) e partindo de O Cortiço pretendemos buscar uma visão
das relações sociais que contribuíram para a formação do espaço urbano do Rio de janeiro nos
1800 e que influenciam também o espaço de hoje, pois de acordo com Milton Santos (2004;
p.14,15) o “passado está sempre aqui e participa da vida atual como forma indispensável à
realização social” e Citando Della Volpe nos fala que “devemos ver o passado como algo
que encerra as raízes do presente, sob pena de nos perdermos num presente abstrato, irreal e
impotente”.
       A cidade passou por um processo de transformação urbana ao longo do século XIX e
nas primeiras décadas do século XX, sofrendo alterações demográficas e étnicas em sua
estrutura social na última década do referido século. Tendo que absorver cerca de 200 mil



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novos habitantes. No Rio de Janeiro em 1890 apenas 54% da população era carioca, 24%
eram imigrantes estrangeiros; e 22% eram brasileiros vindos de outras regiões. (LESSA;
2001; p.132).
       Esse crescimento demográfico gerou uma crise habitacional. O aumento da demanda e
a baixa disponibilidade das ofertas de moradias provocaram um desequilíbrio no setor
habitacional que contribuiu para a proliferação dos cortiços, e sobre essas transformações
ocorridas na cidade, Abreu (2006, p.42) afirma que sendo




                       sede agora de modernidades urbanísticas, o centro, contraditoriamente,
                       mantinha também a sua condição de local de residência das populações mais
                       miseráveis da cidade. Estas, sem nenhum poder de mobilidade, dependiam
                       de uma localização central, ou periférica ao centro para sobreviver. Com
                       efeito, para muitos, livres ou escravos, a procura de trabalho era diária, e este
                       era apenas encontrado na área central.
                       A solução era então o cortiço, habitação coletiva e insalubre e palco de
                       atuação preferencial das epidemias de febre amarela, que passam a grassar a
                       cidade a partir de 1850.



       O cortiço era uma importante forma de habitação popular naquela época e a sua
presença na cidade não pode ser desprezada, Abreu (1991) apresenta dados que atestam que
mais de 10% da população da área central da cidade e de suas freguesias periféricas
habitavam em cortiços. Carvalho (1996, p.139-140) ratificando as palavras de Abreu, diz que
em 1869 existiam 642 cortiços na cidade com 9.671 quartos e uma população de 21.929
pessoas, passando esse número em 1888 para 1.331 cortiços com 18.866 quartos e uma
população de 46.680 pessoas. A porcentagem de cortiços era de 3,96% e de sua população de
11,72%.
       A partir dos dados expostos percebemos que o problema da habitação popular está
diretamente relacionado à reprodução da força de trabalho; era necessário que esta população
marginalizada estivesse disponível ao capital como mão-de-obra barata residindo próximo ao
local de trabalho, por isso o enorme contingente de trabalhadores que afluía a cidade
concentrava-se nas áreas onde as ofertas de trabalho fossem maiores e habitavam locais que
seus baixos rendimentos pudessem pagar. Dessa maneira fica claro que a questão da habitação
popular pode ser entendida a partir do desenvolvimento capitalista que materializa no espaço
da cidade os processos de trabalho que se dão de forma fragmentada e heterogênea.




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O romance de Azevedo reforça o argumento de que o adensamento populacional dos
cortiços era decorrente, em parte, das necessidades de proximidade ao trabalho:


                        Não obstante, as casinhas do cortiço, à proporção que se atamancavam,
                        enchiam-se logo, sem mesmo dar tempo a que as tintas secassem. Havia
                        grande avidez em alugá-las; aquele era o melhor ponto para a gente do
                        trabalho. Os empregados da pedreira preferiam todos morar lá, porque
                        ficavam a dois passos da obrigação (p.25).



               Percebemos também retratada em sua obra a ocupação do espaço urbano e o
crescimento da especulação imobiliária da seguinte maneira:



                        A rua lá fora povoava-se de um modo admirável.Construía-se mal, porém
                        muito; surgiam chalés e casinhas da noite para o dia; subiam os aluguéis; as
                        propriedades dobravam de valor. Montara-se uma fabrica de massas italianas
                        e outra de velas, e os trabalhadores passavam de manhã... (p.24).



       Azevedo escreveu “O Cortiço” entre 1872 e 1880. Ele viveu na cidade entre os anos
de 1872 a 1878, a distância entre a produção da obra e sua publicação (1890) não a
desqualifica, ao contrário, foi justamente a partir da década de 1870 que se intensificou o
adensamento populacional no Rio de Janeiro. Como exposto, a população da cidade
praticamente dobrou entre os anos de 1872 e 1890 e a crise de habitação fez com que a maior
parte dessa população fosse se alojar nos cortiços da área central da cidade ou de sua periferia.




O Cortiço e o homem como produto do meio


       O criador do Naturalismo brasileiro pretendia realizar uma obra que refletisse a
sociedade tal qual ela era. Ele queria fazer uma cópia fiel da sociedade representando em sues
personagens os fatos políticos e sociais e [...] reunir todos os tipos brasileiros, bons e maus
do seu tempo e compendiar, em forma de romance, todos os fatos de nossa vida publica, que
jamais serão apresentados pela História. (FARACO, 2002, p.20).




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No entanto sua obra é fortemente influenciada pelas teorias cientificas da época, seus
personagens estão sujeitos aos instintos, aos sentidos e a influência do meio. O determinismo
do meio sobre o indivíduo é ressaltado por Azevedo na trajetória do personagem Jerônimo, o
português honesto e virtuoso, que veio com a mulher e a filha tentar a vida no Brasil e é
corrompido pela atmosfera carioca; vai se abrasileirando pouco a pouco.
        O autor sugere que todas as mudanças ocorridas na vida de Jerônimo decorreram de
sua convivência com os colegas de trabalho, com o fumo, o café, as rodas de samba e de viola
que tinham lugar no interior do cortiço. Como se pode observar na passagem a seguir,




                        uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele dia-a-dia, hora a hora,
                        reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso
                        de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e
                        amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora
                        aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; (...) tomava gosto aos
                        prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignado e vencido, às imposições do sol e
                        do calor (...).
                        Jerônimo abrasileirou-se. A sua casa perdeu aquele ar sombrio e concentrado
                        que a entristecia; já apareciam por lá alguns companheiros de estalagem para
                        dar dois dedos de palestra das horas de descanso, e aos domingos, reunia-se
                        gente para o jantar. A revolução afinal foi completa: a aguardente de cana
                        substituiu o vinho; a farinha de mandioca sucedeu à broa; a carne-seca e o
                        feijão-preto ao bacalhau com batatas e cebolas cozidas, a pimenta-
                        malagueta, e a pimenta-de-cheiro invadiram vitoriosamente a sua mesa [...] e
                        desde que o café encheu a casa com seu aroma quente, Jerônimo principiou a
                        achar graça no cheiro do fumo e não tardou a fumar também com os amigos
                        (p. 85 - 86).


               Percebemos claramente nestas palavras de Azevedo a influência do
determinismo da Escola alemã na literatura, o abrasileiramento de Jerônimo se deu em um
processo “lento e profundo” a partir de suas relações cotidianas com os moradores do cortiço
e com seus amigos do trabalho, ou seja, são os fatores externos os responsáveis pela
transformação. Gomes (2003, p. 176) nos diz que isso é uma característica da abordagem
determinista, que considera todo acontecimento ou estado como sendo o produto direto de
causas externas atuantes. De acordo com Buckle, citado por Lessa (2001, p. 185), “a
informação combinada sobre o clima, alimento, solo e conformação geral do cenário natural
determinariam o ponto de partida da conduta humana”, era isso que acontecia com os
imigrantes moradores do cortiço eles eram influenciados não só pelo clima, mas também
pelos hábitos alimentares e pela cultura brasileira de modo geral.



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O pensamento social entre 1870 e 1900 era dominado pelo pensamento darwiniano. O
sucesso da teoria evolucionista fez com que a Biologia fosse considerada como um novo
paradigma para as outras ciências. O evolucionismo juntamente com o positivismo formou a
base do determinismo, que teve fortes influências sobre as ciências humanas. Santos (1980,
p.30) nos diz que “o determinismo se nutre dessas duas fontes: o evolucionismo e o
positivismo”.
       Bossi (1994, p. 163) esclarece que o pensamento europeu que se constelava em torno
da filosofia positivista e do evolucionismo vão esposar a intelectualidade brasileira nesta
mesma época. O autor ainda nos diz que há um esforço, por parte do escritor naturalista de
“acercar-se de impessoalidade e uma sede de objetividade, que responde aos métodos
científicos cada vez mais exatos nas ultimas décadas do século XIX”.
       A discussão positivista esteve presente quase que na totalidade das ciências nos finais
do século XIX e durante muito tempo ao longo do século XX. A respeito da influência do
positivismo sobre as ciências humanas, Santos (1980, p.30) declara que


                       o positivismo haja contaminado até o marxismo nos dá a medida da
                       importância que adquiriu em uma fase tão importante da historia cientifica.
                       (...) Uma aliança deste gênero justifica que se dê um lugar de exagerado a
                       conceitos originários das ciências naturais, impostos às ciências humanas
                       sob o pretexto de lhes oferecer aquela categoria cientifica que elas procuram
                       a todo custo.



       É claro que a fragilidade dessas teorias deterministas já foi comprovada teórica e
historicamente, Gomes (2003) esclarece que “o ponto de vista que coloca o homem submetido
às condições naturais está associado ao caráter mesológico preconizado por Ratzel e
considerado encerrado desde os anos 20 do século passado”. No entanto, segundo Lessa
(2001, p.185) “estas serviram admiravelmente, em seu tempo”.
       O pensamento baseado nas teorias cientificas dos anos finais do oitocentos foram à
base para as intervenções urbanas realizadas na cidade, que pretendiam fazer uma “limpeza”
no centro, retirando dali toda a imundície, ou seja, os cortiços e seus moradores, que para a
elite daquele período eram a causa da classificação da capital da República de suja e
pestilenta.
Do Cortiço à Favela: o lugar do pobre no Rio de Janeiro.




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A idéia de que as habitações populares e os seus habitantes eram a causa de toda
desgraça que acontecia na cidade — sobretudo da febre amarela — existia desde o Império.
Contudo foi nos primeiros anos da República que ela prosperou. As autoridades políticas e a
elite carioca enxergavam os cortiços como ameaça e os encortiçados não eram vistos apenas
como perigo social e econômico, mas também como transmissores de doenças, entre as quais
a febre amarela que dizimava milhares de pessoas desde 1850, principalmente os imigrantes
europeus.
       No romance de Azevedo dois imigrantes, “Delporto e Pompeo foram varridos pela
febre amarela e outros três italianos estiveram em risco de vida”, mas mesmo assim “muitos
pretendentes surgiam disputando os cômodos desalugados”, comprovando que apesar de
tudo os cortiços não paravam de crescer.
       Os cortiços, por abrigarem habitações com características de insalubridade, tornavam-
se o alvo dessas políticas saneadoras na cidade. Sanear a cidade, naquele momento significou
erradicar os cortiços de onde os focos contagiosos poderiam se alastrar.
       Temos então todos os ingredientes que vão formar a base do pensamento acerca da
cidade e culminarão nas reformas urbanas, que aparecem no livro de forma sutil, representada
pela transformação do Cortiço São Romão em Alameda São Romão.
       A evolução do Cortiço nos mostra de forma indireta a transformação e as reformas que
aconteceram no Rio de Janeiro, pois


                        o cortiço já não era o mesmo; estava muito diferente; mal dava idéia do que
                        fora. O pátio (...) estreitara-se (...) agora parecia uma rua, todo calçado por
                        igual e iluminado (...) de cento e tantos a numeração dos cômodos elevou-se
                        para mais de quatrocentos; e tudo caiadinho e pintado de fresco; paredes
                        brancas, portas verdes (p.181).



       Saíram de cena os elementos que “sujavam” a estalagem, “foram-se as iscas de fígado
e as sardinhas preparadas ali mesmo à porta da venda (...)”, foi-se aquela “gente sem
gravata e sem meias”.
       A Capital Federal precisava ser modificada em seus usos e costumes, tornando-se
cartão postal da cidade, no qual não deveriam aparecer as imagens das “repúblicas dos
cortiços”. Entrou-se de vez no espírito francês da belle époque que teve seu auge na primeira
década do século XX (Carvalho, 1987, p.39).




                                                                                                    10
A reconstrução do cortiço é significativa, através dela podemos notar a diminuição dos
espaços para circulação de ar e principalmente de pessoas, bem como a supressão dos espaços
verdes, “o pátio estreitara-se”, “desapareceram as pequenas hortas, e os jardins de quatro a
oito palmos”, ”Já não se faziam sambas ao relento (...) agora o forte eram os forrobodós
dentro de casa”. Já não havia mais a alegria das rodas de samba promovidas pela Mulata Rita
Baiana, que reunia todos os moradores do cortiço no pátio até a madrugada, “o cortiço agora
estava banzeiro; havia apenas uns grupos magros, que se divertiam à porta de casa”.
              O processo de transformação pelo qual passou o cortiço impôs mudanças nos
hábitos e comportamentos de seus moradores, dissolvendo os antigos modos de vida e
transformando as relações entre as pessoas bem como reduzindo e redefinindo as formas de
apropriação do espaço.
       Como já foi dito, O Cortiço é considerado pela critica literária e mesmo por
historiadores, como uma representação da sociedade carioca. Vassallo (2000, p. 104) refere-se
a ele como microcosmo que reproduz o macrocosmo e Oliveira (2007, p. 4) como uma micro
representação da cidade do Rio de Janeiro. Traduzindo para uma linguagem geográfica,
poderíamos falar em ordem próxima e ordem distante, pois como nos explica Lefebvre
(1991), a ordem distante se projeta na ordem próxima, porém a ordem próxima não é um
reflexo da ordem distante em plenitude.
       As demolições realizadas por Pereira Passos desalojaram entre 14 mil e 20 mil
pessoas, grande parte desta população foi forçada a morar com outras famílias, a pagar
aluguéis mais caros — uma vez que a houve diminuição da oferta — ou a mudar-se para os
subúrbios; houve um “neo-encortiçamento” na cidade, os novos cortiços reproduziram-se,
com alguma melhoria da fachada, porém continuavam superlotados (Lessa, 2001; Abreu,
2006; Carvalho, 1987; 1996).
       A reforma urbana pretendia esconder o povo, tirá-lo de vista, um povo pobre
miserável e molambento não era motivo de orgulho para uma sociedade que se pretendia
civilizada.
       Abreu (2006, p.66) afirma que a destruição dos cortiços fez da favela a única
alternativa para a população pobre que precisava morar próximo ao local de trabalho,
entretanto Lessa (2001, p. 227) diz que foram poucos os que subiram o morro, pois apesar da
favela ser um cortiço onde não se paga aluguel, a falta de água limitou o crescimento da
população.




                                                                                          11
Embora haja controvérsias a respeito das origens da favela, o fato é que ela existe,
está lá inserida na paisagem da cidade, deixando claro que os pobres também têm um lugar na
cidade, embora este não seja o lugar ideal, comprovando que todos os planos de remoção dos
indesejáveis foram por água a abaixo.




Resultados Alcançados


       Nosso estudo versa sobre a organização do espaço urbano da Cidade do Rio de Janeiro
no final do século XIX. Nesse período, as transformações pelas quais a cidade passou e que se
materializaram no espaço urbano, culminaram em mudanças em diversos setores da
sociedade, entre eles o das habitações populares mereceu especial atenção.

       Lefebvre, em o Direito a cidade, nos diz que a cidade não é objeto de estudo exclusivo
de uma única ciência e que seu estudo fragmentado não nos propicia uma visão do todo.

       Assim, para resgatar a produção do espaço urbano carioca, tentamos fazer uma ponte
entre Geografia e Literatura por um viés diferente dos realizados até então. Para isso, a obra
de Azevedo por nos escolhida foi de fundamental importância.

       “O Cortiço” é maior do que as 200 páginas que compõem o romance. O romance
cresce na medida em que o lemos, são tantos os caminhos que podemos trilhar, que a todo o
momento precisamos ter cuidado para não perdermos o foco.

       No livro estão presentes as relações capitalistas de explorarão e expropriação
representadas pelo personagem João Romão, as migrações e todas as implicações que trazem
para a cidade e para o migrante, além das relações deterministas entre homem e meio tão
comuns no período em que o livro foi escrito. Enfim, esses temas por si só já mereceriam
estudos individuais, no entanto nossa proposta foi de relacionar os temas presentes na obra de
Azevedo, buscando um entendimento de como participavam na produção do espaço urbano da
cidade do Rio de Janeiro.

       Em nossa análise e pesquisa descobrimos que muito do que foi descrito pelo autor
ainda hoje influencia o pensamento sobre a cidade. É fato que as classes pobres,
principalmente as que residiam em cortiços e hoje em favelas, são vistas como classes
perigosas que ameaçam a vida da elite. Se antes o perigo estava no contágio por doenças



                                                                                           12
infecto-contagiosa, hoje ele consiste basicamente no discurso da violência urbana e, neste
ponto, o pensamento determinista de que o homem é produto do meio parece estar presente no
pensamento das autoridades que governam a cidade em diferentes instâncias.




Referências

ABREU, Mauricio de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. 4. ed. RJ: IPP,
2006,156p.


__________________________ O estudo geográfico das cidades do Brasil: Evolução e
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Geografia, Fundação IBGE, Vol.56, Nº1/4, Jan./Mar RJ 1994.


________.Vaz, Lílian F. Sobre as origens da favela; Anais do 4º encontro nacional da
ANPUR. 1991


AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 36 ed. São Paulo: Ática, 2002.


BOSSI, Alfredo. Historia concisa da literatura brasileira, 38 ed. Cultrix, São Paulo, 1994.


CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço tempo na Metrópole: a fragmentação da vida
cotidiana. São Paulo: Contexto 2001.


________.A geografia Brasileira hoje: Algumas reflexões. Terra Livre. São Paulo, ano18,
vol.1, nº18, p.161 – 178 jan. - jun./2002.


CARVALHO, Ligia de Aquino. Contribuição ao Estudo das Habitações populares: Rio de
Janeiro: 1866 – 1906; 2 ed. RJ: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento de Inf.
Cultural; Divisão de editoração 1995. 184 p.il-(biblioteca carioca, V.1, série publicações
cientificas).




                                                                                             13
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: Rio de Janeiro e a Republica que não foi.
São Paulo 3 ed.cia. Das Letras 1987.


FARACO, Carlos. O povo como personagem In O Cortiço 36 ed. São Paulo: Ática, 2002.


GOMES, Paulo César da Costa. Geografia e Modernidade. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand
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LEFEBVRE, Henri. O Direito à cidade. São Paulo: Moraes, 1991.


LESSA, Carlos. O Rio de Janeiro de todos os brasis. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.


MELLO, João Batista Ferreira de. Geografia humanística: A perspectiva da experiência
vivida e uma crítica radical ao positivismo. Revista de Geografia, Rio de Janeiro 52(4)
out./dez 1990.


MORAES, Antônio Carlos Robert de. Ideologias Geográficas, 4 edição, São Paulo:
Hucitec, 2002.


MORAES, Antonio Carlos Robert de. Geografia – Pequena Historia Critica. 9 ed. São Paulo:
HUCITEC,1990


OLIVEIRA, Leopoldo O. C. Rio de Janeiro: A Cidade Livre e a Cidade Enclausurada —
Relação de poder e dominação em O Cortiço. On line disponível na Internet via
http://www.letras.ufrj.br/cienciaslit/encontro/leopoldo%2ocorti%e70.doc.acessado
10/11/2007.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma Geografia
critica. 2 ed. São Paulo: HUCITEC. 1980.


________.Pensando o Espaço do Homem, 5 ed. São Paulo: EDUSP, 2004.




                                                                                          14
VASSALLO, Ligia. O cortiço e a cidade do Rio de Janeiro. Ipotesi - Revista de estudos
literários Universidade Federal de Juiz de Fora, Vol. 4, nº1, jan. - jun./2000, Juiz de Fora,
EDUFJF, p.138.




                                                                                                15

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O cortiço e as transformações na cidade dor ro de janeiro

  • 1. O CORTIÇO E A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO RIO DE JANEIRO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS DO SÉCULO XIX TEIXEIRA Ana Lúcia - UERJ - Graduanda de Geografia Rua Itacoati – Lote17f Quadra C -CEP 26185060, Belford-Roxo, RJ. analu.gheo@gmail.com Resumo O presente trabalho busca contribuir para a ampliação do debate entre Geografia e Literatura e a possibilidade deste debate ser realizado pelo viés Histórico-crítico- dialético. Utilizaremos o romance de Aluísio de Azevedo, O Cortiço. Pretendemos demonstrar que nesta obra o autor faz uma crítica à produção do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro, nos finais de 1800, bem como a construção das precárias moradias populares para locação que promovia o enriquecimento dos proprietários desses imóveis a partir da especulação imobiliária. Palavras chaves: Geografia, Literatura, cortiço, espaço urbano. Introdução Na busca pela compreensão da produção/organização do espaço urbano carioca em uma época na qual a ciência geográfica ainda não havia sido institucionalizada no país, “pois é comum assinalar o ano de 1934, data da criação da Universidade de São Paulo, como marco de fundação da moderna Geografia Brasileira”. (ABREU, 1994, p.24), faremos uso dos debates realizados pelos literatos, que em suas obras discorrem a cerca do espaço urbano. Mello (1990) nos diz que a Literatura tem sido utilizada, embora timidamente, por geógrafos para empreenderem análises espaciais desde o início do século XX, por ser um meio eficaz de investigação, que relata em diferentes escalas os lugares, o cotidiano, a paisagem. Entretanto a Geografia brasileira, diferentemente da Geografia internacional, continua negligenciando os textos literários como fonte de informação. 1
  • 2. Tendo em vista o crescimento do debate entre a relação Geografia e Literatura este estudo se propõe a analisar a produção/organização do espaço urbano do Rio de Janeiro utilizando-se de um texto literário a partir da abordagem Histórico-Crítico-Dialética, uma vez que as pesquisas sobre estes temas têm sido realizadas principalmente com a abordagem fenomenológica-hermenêutica. Sobre a possibilidade de se realizar uma pesquisa nestes moldes a geógrafa Carlos (2002, p. 175 - 176) declara: A geografia começou a refletir sobre o impensável, até bem pouco tempo. Hoje, muitos trabalhos se debruçam sobre a festa, a música, a literatura, o cinema, colocando em cena a relação entre a geografia e a arte, o que vem abrindo muitas possibilidades de pesquisa. Muitas dessas pesquisas se apóiam na Geografia Humanística, mas o materialismo também permite construir uma rica interpretação desta relação. Escolhemos o romance naturalista de Aluisio de Azevedo O Cortiço, como referência para caracterizar a realidade urbana do Rio de Janeiro a partir de um texto literário. Poderíamos ter escolhido uma obra de Lima Barreto, Machado de Assis ou de tantos outros que destacaram a cidade em seus romances, mas Azevedo destaca em sua obra uma parcela da população que até então não tinha sido representada: o povo, e traça um painel da sociedade brasileira descrevendo em seus personagens os fatos sociais e políticos da época. Colocando o “povo como personagem” Azevedo faz um relato minucioso de como era viver em um cortiço, descreve com precisão o cotidiano dos moradores deste tipo de habitação popular e a maneira como estes se organizavam naquele espaço, Sendo o espaço produzido um resultado da ação humana sobre a superfície terrestre que expressa a cada momento, as relações sociais que lhe deram origem (MORAES, 2002, p.15). Os textos literários mesmo que ficcionais retratam, na maioria das vezes com riquezas de detalhes, a sociedade da época e a forma como esta se apropriava do espaço. Por esse motivo escolhemos o romance de Aluísio de Azevedo, pois nele o autor retrata um momento da sociedade carioca ainda em construção onde o pensamento social estava fortemente influenciado pelas teorias racionalistas. Este pensamento vai ser fundamental na estruturação do espaço urbano das décadas finais do século XIX e nas inicias do século XX. A obra é influenciada pelas teorias cientificistas da época (Evolucionismo, Darwinismo, Determinismo, Positivismo) e retrata o Homem sujeito a influencia da raça, do 2
  • 3. meio, e do momento histórico. Apesar disso o autor faz uma crítica aos poderosos proprietários de cubículos que enriqueciam alugando–os aos menos favorecidos. A critica realizada aos especuladores, principalmente ao imigrante português que além de ser proprietário de grande parte das casas comerciais da cidade ainda exploravam os aluguéis de casas de cômodos, está presente na crônica de Azevedo, em um fragmento apresentado por Faraco (2002, p.10) no Pósfácio da edição d’O Cortiço por nós utilizada. Azevedo declara que há no Rio de Janeiro, entre os que não trabalham e conseguem (...) até enriquecer, um tipo digno de estudo – é o ‘dono da casas de cômodo ‘. Quase sempre forasteiro, exercia dantes um oficio na pátria que deixou para vir tentar fortuna no Brasil; mas percebendo que aqui a especulação velhaca produz muito mais que o trabalho honesto foi a um patrício seu, estabelecido no comercio, pediu e dele obteve uma carta de fiança, alugou um vasto casarão de dois ou três andares, meteu – se lá dentro, pregou escritos em todas as janelas; e agora o verás! Como na capital federal há mais quem habite do que onde habitar, começou logo a entrar – lhe pela casa. Á procura de cômodos, uma interminável procissão de desamparados da sorte e de magros lutadores pela vida, que lhe foram enchendo surdamente, do primeiro ao último, os numerosos quartos. (...). Dessa forma, os cortiços tornaram-se parte essencial de um fenômeno social, sintetizavam as transformações ocorridas no Rio de Janeiro nas últimas décadas do século XIX, eram resultado direto do desenvolvimento desordenado associado à chegada em massa de migrantes e imigrantes. Objetivos Geral Este trabalho visa contribuir com o debate sobre a utilização da Literatura em análises geográficas. Específicos • Mostrar que a Literatura brasileira é rica em obras que podem nos auxiliar na busca pelo entendimento da produção e da organização do espaço urbano, 3
  • 4. principalmente no período em que a Geografia moderna ainda não havia sido institucionalizada no país; • Realizar a interpretação de um texto literário a partir da abordagem Histórico- Crítico-dialética; • Demonstrar que embora de maneira mais sutil do que no período em que foi escrito o romance O Cortiço, o pensamento racionalista com tendências determinista ainda encontra-se presente na intelectualidade brasileira, principalmente naqueles que pensam e planejam o espaço urbano; Referencial Teórico e Metodológico Segundo Gomes (2003, p.314) na Geografia Humanística, o geógrafo para fazer uma verdadeira interpretação da inscrição espacial da cultura, deve ter o maior número possível de elementos que tratem dos valores, das significações, e das associações construídas por um grupo social. E o meio mais livre e espontâneo desse tipo de manifestação, é a arte, mas é na Literatura que a maior parte dos estudos estão centrados. Mello (1990, p.109) nos fala que a Literatura pode ser um meio eficaz de investigação para os geógrafos, pois os textos literários evocam a alma dos lugares, os escritores captam, interpretam e divulgam os sentimentos, o desempenho dos seres humanos, a fixação aos lugares, às viagens, o cotidiano. Os autores citados referem-se à análise de textos literários pela Geografia Humanística de abordagem fenomenológica-Hermenêutica, no entanto como já exposto na introdução deste estudo a geógrafa Carlos (2002) afirma que o materialismo também pode realizar uma rica interpretação deste material. Por isso buscaremos uma interpretação do romance de Azevedo pelo viés marxista. O surgimento da proposição deste estudo se deu justamente com a leitura do livro da geógrafa citada acima, Espaço tempo na Metrópole. Neste livro a autora usa trechos da obra do poeta francês Baudelaire, bem como de Mário de Andrade para discorrer a respeito das 4
  • 5. mutações ocorridas em São Paulo a partir da Operação Faria Lima e do sentimento de estranhamento que esta estava impondo aos moradores dos bairros afetados pelas reformas. Nesta obra Carlos utiliza-se de categorias como valor de uso e valor de troca, ordem próxima e ordem distante, além das categorias que para Santos (1980) são imprescindíveis para uma correta leitura do espaço geográfico, forma, processo, estrutura e função para discorrer sobre as transformações ocorridas nos bairros paulistas. Comprovando que é possível uma análise marxista de textos literários e que estes são importantes meios para o entendimento do espaço urbano. Principais Pontos Desenvolvidos As alterações demográficas e a questão da habitação Na busca pelos motivos que levaram o autor a escrever um romance dedicado a uma habitação popular e aos fatores que o consagraram como um retrato da sociedade brasileira, nos finais do século XIX realizamos uma contextualização do processo pelo qual passou a cidade e que desencadeou esta forma como importante fenômeno na estrutura social daquele tempo, pois a cidade é uma construção histórica. E de acordo com Carlos (2001) “em cada momento da historia se produz um espaço, este se revela em cada momento histórico, uma cidade e suas possibilidades”. Sendo o espaço urbano construído pelas relações sociais (CARLOS 2001; LEFEBVRE, 1991; SANTOS; 1980) e partindo de O Cortiço pretendemos buscar uma visão das relações sociais que contribuíram para a formação do espaço urbano do Rio de janeiro nos 1800 e que influenciam também o espaço de hoje, pois de acordo com Milton Santos (2004; p.14,15) o “passado está sempre aqui e participa da vida atual como forma indispensável à realização social” e Citando Della Volpe nos fala que “devemos ver o passado como algo que encerra as raízes do presente, sob pena de nos perdermos num presente abstrato, irreal e impotente”. A cidade passou por um processo de transformação urbana ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, sofrendo alterações demográficas e étnicas em sua estrutura social na última década do referido século. Tendo que absorver cerca de 200 mil 5
  • 6. novos habitantes. No Rio de Janeiro em 1890 apenas 54% da população era carioca, 24% eram imigrantes estrangeiros; e 22% eram brasileiros vindos de outras regiões. (LESSA; 2001; p.132). Esse crescimento demográfico gerou uma crise habitacional. O aumento da demanda e a baixa disponibilidade das ofertas de moradias provocaram um desequilíbrio no setor habitacional que contribuiu para a proliferação dos cortiços, e sobre essas transformações ocorridas na cidade, Abreu (2006, p.42) afirma que sendo sede agora de modernidades urbanísticas, o centro, contraditoriamente, mantinha também a sua condição de local de residência das populações mais miseráveis da cidade. Estas, sem nenhum poder de mobilidade, dependiam de uma localização central, ou periférica ao centro para sobreviver. Com efeito, para muitos, livres ou escravos, a procura de trabalho era diária, e este era apenas encontrado na área central. A solução era então o cortiço, habitação coletiva e insalubre e palco de atuação preferencial das epidemias de febre amarela, que passam a grassar a cidade a partir de 1850. O cortiço era uma importante forma de habitação popular naquela época e a sua presença na cidade não pode ser desprezada, Abreu (1991) apresenta dados que atestam que mais de 10% da população da área central da cidade e de suas freguesias periféricas habitavam em cortiços. Carvalho (1996, p.139-140) ratificando as palavras de Abreu, diz que em 1869 existiam 642 cortiços na cidade com 9.671 quartos e uma população de 21.929 pessoas, passando esse número em 1888 para 1.331 cortiços com 18.866 quartos e uma população de 46.680 pessoas. A porcentagem de cortiços era de 3,96% e de sua população de 11,72%. A partir dos dados expostos percebemos que o problema da habitação popular está diretamente relacionado à reprodução da força de trabalho; era necessário que esta população marginalizada estivesse disponível ao capital como mão-de-obra barata residindo próximo ao local de trabalho, por isso o enorme contingente de trabalhadores que afluía a cidade concentrava-se nas áreas onde as ofertas de trabalho fossem maiores e habitavam locais que seus baixos rendimentos pudessem pagar. Dessa maneira fica claro que a questão da habitação popular pode ser entendida a partir do desenvolvimento capitalista que materializa no espaço da cidade os processos de trabalho que se dão de forma fragmentada e heterogênea. 6
  • 7. O romance de Azevedo reforça o argumento de que o adensamento populacional dos cortiços era decorrente, em parte, das necessidades de proximidade ao trabalho: Não obstante, as casinhas do cortiço, à proporção que se atamancavam, enchiam-se logo, sem mesmo dar tempo a que as tintas secassem. Havia grande avidez em alugá-las; aquele era o melhor ponto para a gente do trabalho. Os empregados da pedreira preferiam todos morar lá, porque ficavam a dois passos da obrigação (p.25). Percebemos também retratada em sua obra a ocupação do espaço urbano e o crescimento da especulação imobiliária da seguinte maneira: A rua lá fora povoava-se de um modo admirável.Construía-se mal, porém muito; surgiam chalés e casinhas da noite para o dia; subiam os aluguéis; as propriedades dobravam de valor. Montara-se uma fabrica de massas italianas e outra de velas, e os trabalhadores passavam de manhã... (p.24). Azevedo escreveu “O Cortiço” entre 1872 e 1880. Ele viveu na cidade entre os anos de 1872 a 1878, a distância entre a produção da obra e sua publicação (1890) não a desqualifica, ao contrário, foi justamente a partir da década de 1870 que se intensificou o adensamento populacional no Rio de Janeiro. Como exposto, a população da cidade praticamente dobrou entre os anos de 1872 e 1890 e a crise de habitação fez com que a maior parte dessa população fosse se alojar nos cortiços da área central da cidade ou de sua periferia. O Cortiço e o homem como produto do meio O criador do Naturalismo brasileiro pretendia realizar uma obra que refletisse a sociedade tal qual ela era. Ele queria fazer uma cópia fiel da sociedade representando em sues personagens os fatos políticos e sociais e [...] reunir todos os tipos brasileiros, bons e maus do seu tempo e compendiar, em forma de romance, todos os fatos de nossa vida publica, que jamais serão apresentados pela História. (FARACO, 2002, p.20). 7
  • 8. No entanto sua obra é fortemente influenciada pelas teorias cientificas da época, seus personagens estão sujeitos aos instintos, aos sentidos e a influência do meio. O determinismo do meio sobre o indivíduo é ressaltado por Azevedo na trajetória do personagem Jerônimo, o português honesto e virtuoso, que veio com a mulher e a filha tentar a vida no Brasil e é corrompido pela atmosfera carioca; vai se abrasileirando pouco a pouco. O autor sugere que todas as mudanças ocorridas na vida de Jerônimo decorreram de sua convivência com os colegas de trabalho, com o fumo, o café, as rodas de samba e de viola que tinham lugar no interior do cortiço. Como se pode observar na passagem a seguir, uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele dia-a-dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; (...) tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignado e vencido, às imposições do sol e do calor (...). Jerônimo abrasileirou-se. A sua casa perdeu aquele ar sombrio e concentrado que a entristecia; já apareciam por lá alguns companheiros de estalagem para dar dois dedos de palestra das horas de descanso, e aos domingos, reunia-se gente para o jantar. A revolução afinal foi completa: a aguardente de cana substituiu o vinho; a farinha de mandioca sucedeu à broa; a carne-seca e o feijão-preto ao bacalhau com batatas e cebolas cozidas, a pimenta- malagueta, e a pimenta-de-cheiro invadiram vitoriosamente a sua mesa [...] e desde que o café encheu a casa com seu aroma quente, Jerônimo principiou a achar graça no cheiro do fumo e não tardou a fumar também com os amigos (p. 85 - 86). Percebemos claramente nestas palavras de Azevedo a influência do determinismo da Escola alemã na literatura, o abrasileiramento de Jerônimo se deu em um processo “lento e profundo” a partir de suas relações cotidianas com os moradores do cortiço e com seus amigos do trabalho, ou seja, são os fatores externos os responsáveis pela transformação. Gomes (2003, p. 176) nos diz que isso é uma característica da abordagem determinista, que considera todo acontecimento ou estado como sendo o produto direto de causas externas atuantes. De acordo com Buckle, citado por Lessa (2001, p. 185), “a informação combinada sobre o clima, alimento, solo e conformação geral do cenário natural determinariam o ponto de partida da conduta humana”, era isso que acontecia com os imigrantes moradores do cortiço eles eram influenciados não só pelo clima, mas também pelos hábitos alimentares e pela cultura brasileira de modo geral. 8
  • 9. O pensamento social entre 1870 e 1900 era dominado pelo pensamento darwiniano. O sucesso da teoria evolucionista fez com que a Biologia fosse considerada como um novo paradigma para as outras ciências. O evolucionismo juntamente com o positivismo formou a base do determinismo, que teve fortes influências sobre as ciências humanas. Santos (1980, p.30) nos diz que “o determinismo se nutre dessas duas fontes: o evolucionismo e o positivismo”. Bossi (1994, p. 163) esclarece que o pensamento europeu que se constelava em torno da filosofia positivista e do evolucionismo vão esposar a intelectualidade brasileira nesta mesma época. O autor ainda nos diz que há um esforço, por parte do escritor naturalista de “acercar-se de impessoalidade e uma sede de objetividade, que responde aos métodos científicos cada vez mais exatos nas ultimas décadas do século XIX”. A discussão positivista esteve presente quase que na totalidade das ciências nos finais do século XIX e durante muito tempo ao longo do século XX. A respeito da influência do positivismo sobre as ciências humanas, Santos (1980, p.30) declara que o positivismo haja contaminado até o marxismo nos dá a medida da importância que adquiriu em uma fase tão importante da historia cientifica. (...) Uma aliança deste gênero justifica que se dê um lugar de exagerado a conceitos originários das ciências naturais, impostos às ciências humanas sob o pretexto de lhes oferecer aquela categoria cientifica que elas procuram a todo custo. É claro que a fragilidade dessas teorias deterministas já foi comprovada teórica e historicamente, Gomes (2003) esclarece que “o ponto de vista que coloca o homem submetido às condições naturais está associado ao caráter mesológico preconizado por Ratzel e considerado encerrado desde os anos 20 do século passado”. No entanto, segundo Lessa (2001, p.185) “estas serviram admiravelmente, em seu tempo”. O pensamento baseado nas teorias cientificas dos anos finais do oitocentos foram à base para as intervenções urbanas realizadas na cidade, que pretendiam fazer uma “limpeza” no centro, retirando dali toda a imundície, ou seja, os cortiços e seus moradores, que para a elite daquele período eram a causa da classificação da capital da República de suja e pestilenta. Do Cortiço à Favela: o lugar do pobre no Rio de Janeiro. 9
  • 10. A idéia de que as habitações populares e os seus habitantes eram a causa de toda desgraça que acontecia na cidade — sobretudo da febre amarela — existia desde o Império. Contudo foi nos primeiros anos da República que ela prosperou. As autoridades políticas e a elite carioca enxergavam os cortiços como ameaça e os encortiçados não eram vistos apenas como perigo social e econômico, mas também como transmissores de doenças, entre as quais a febre amarela que dizimava milhares de pessoas desde 1850, principalmente os imigrantes europeus. No romance de Azevedo dois imigrantes, “Delporto e Pompeo foram varridos pela febre amarela e outros três italianos estiveram em risco de vida”, mas mesmo assim “muitos pretendentes surgiam disputando os cômodos desalugados”, comprovando que apesar de tudo os cortiços não paravam de crescer. Os cortiços, por abrigarem habitações com características de insalubridade, tornavam- se o alvo dessas políticas saneadoras na cidade. Sanear a cidade, naquele momento significou erradicar os cortiços de onde os focos contagiosos poderiam se alastrar. Temos então todos os ingredientes que vão formar a base do pensamento acerca da cidade e culminarão nas reformas urbanas, que aparecem no livro de forma sutil, representada pela transformação do Cortiço São Romão em Alameda São Romão. A evolução do Cortiço nos mostra de forma indireta a transformação e as reformas que aconteceram no Rio de Janeiro, pois o cortiço já não era o mesmo; estava muito diferente; mal dava idéia do que fora. O pátio (...) estreitara-se (...) agora parecia uma rua, todo calçado por igual e iluminado (...) de cento e tantos a numeração dos cômodos elevou-se para mais de quatrocentos; e tudo caiadinho e pintado de fresco; paredes brancas, portas verdes (p.181). Saíram de cena os elementos que “sujavam” a estalagem, “foram-se as iscas de fígado e as sardinhas preparadas ali mesmo à porta da venda (...)”, foi-se aquela “gente sem gravata e sem meias”. A Capital Federal precisava ser modificada em seus usos e costumes, tornando-se cartão postal da cidade, no qual não deveriam aparecer as imagens das “repúblicas dos cortiços”. Entrou-se de vez no espírito francês da belle époque que teve seu auge na primeira década do século XX (Carvalho, 1987, p.39). 10
  • 11. A reconstrução do cortiço é significativa, através dela podemos notar a diminuição dos espaços para circulação de ar e principalmente de pessoas, bem como a supressão dos espaços verdes, “o pátio estreitara-se”, “desapareceram as pequenas hortas, e os jardins de quatro a oito palmos”, ”Já não se faziam sambas ao relento (...) agora o forte eram os forrobodós dentro de casa”. Já não havia mais a alegria das rodas de samba promovidas pela Mulata Rita Baiana, que reunia todos os moradores do cortiço no pátio até a madrugada, “o cortiço agora estava banzeiro; havia apenas uns grupos magros, que se divertiam à porta de casa”. O processo de transformação pelo qual passou o cortiço impôs mudanças nos hábitos e comportamentos de seus moradores, dissolvendo os antigos modos de vida e transformando as relações entre as pessoas bem como reduzindo e redefinindo as formas de apropriação do espaço. Como já foi dito, O Cortiço é considerado pela critica literária e mesmo por historiadores, como uma representação da sociedade carioca. Vassallo (2000, p. 104) refere-se a ele como microcosmo que reproduz o macrocosmo e Oliveira (2007, p. 4) como uma micro representação da cidade do Rio de Janeiro. Traduzindo para uma linguagem geográfica, poderíamos falar em ordem próxima e ordem distante, pois como nos explica Lefebvre (1991), a ordem distante se projeta na ordem próxima, porém a ordem próxima não é um reflexo da ordem distante em plenitude. As demolições realizadas por Pereira Passos desalojaram entre 14 mil e 20 mil pessoas, grande parte desta população foi forçada a morar com outras famílias, a pagar aluguéis mais caros — uma vez que a houve diminuição da oferta — ou a mudar-se para os subúrbios; houve um “neo-encortiçamento” na cidade, os novos cortiços reproduziram-se, com alguma melhoria da fachada, porém continuavam superlotados (Lessa, 2001; Abreu, 2006; Carvalho, 1987; 1996). A reforma urbana pretendia esconder o povo, tirá-lo de vista, um povo pobre miserável e molambento não era motivo de orgulho para uma sociedade que se pretendia civilizada. Abreu (2006, p.66) afirma que a destruição dos cortiços fez da favela a única alternativa para a população pobre que precisava morar próximo ao local de trabalho, entretanto Lessa (2001, p. 227) diz que foram poucos os que subiram o morro, pois apesar da favela ser um cortiço onde não se paga aluguel, a falta de água limitou o crescimento da população. 11
  • 12. Embora haja controvérsias a respeito das origens da favela, o fato é que ela existe, está lá inserida na paisagem da cidade, deixando claro que os pobres também têm um lugar na cidade, embora este não seja o lugar ideal, comprovando que todos os planos de remoção dos indesejáveis foram por água a abaixo. Resultados Alcançados Nosso estudo versa sobre a organização do espaço urbano da Cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX. Nesse período, as transformações pelas quais a cidade passou e que se materializaram no espaço urbano, culminaram em mudanças em diversos setores da sociedade, entre eles o das habitações populares mereceu especial atenção. Lefebvre, em o Direito a cidade, nos diz que a cidade não é objeto de estudo exclusivo de uma única ciência e que seu estudo fragmentado não nos propicia uma visão do todo. Assim, para resgatar a produção do espaço urbano carioca, tentamos fazer uma ponte entre Geografia e Literatura por um viés diferente dos realizados até então. Para isso, a obra de Azevedo por nos escolhida foi de fundamental importância. “O Cortiço” é maior do que as 200 páginas que compõem o romance. O romance cresce na medida em que o lemos, são tantos os caminhos que podemos trilhar, que a todo o momento precisamos ter cuidado para não perdermos o foco. No livro estão presentes as relações capitalistas de explorarão e expropriação representadas pelo personagem João Romão, as migrações e todas as implicações que trazem para a cidade e para o migrante, além das relações deterministas entre homem e meio tão comuns no período em que o livro foi escrito. Enfim, esses temas por si só já mereceriam estudos individuais, no entanto nossa proposta foi de relacionar os temas presentes na obra de Azevedo, buscando um entendimento de como participavam na produção do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro. Em nossa análise e pesquisa descobrimos que muito do que foi descrito pelo autor ainda hoje influencia o pensamento sobre a cidade. É fato que as classes pobres, principalmente as que residiam em cortiços e hoje em favelas, são vistas como classes perigosas que ameaçam a vida da elite. Se antes o perigo estava no contágio por doenças 12
  • 13. infecto-contagiosa, hoje ele consiste basicamente no discurso da violência urbana e, neste ponto, o pensamento determinista de que o homem é produto do meio parece estar presente no pensamento das autoridades que governam a cidade em diferentes instâncias. Referências ABREU, Mauricio de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. 4. ed. RJ: IPP, 2006,156p. __________________________ O estudo geográfico das cidades do Brasil: Evolução e avaliação (Contribuição a historia do pensamento geográfico) In Revista Brasileira de Geografia, Fundação IBGE, Vol.56, Nº1/4, Jan./Mar RJ 1994. ________.Vaz, Lílian F. Sobre as origens da favela; Anais do 4º encontro nacional da ANPUR. 1991 AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 36 ed. São Paulo: Ática, 2002. BOSSI, Alfredo. Historia concisa da literatura brasileira, 38 ed. Cultrix, São Paulo, 1994. CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço tempo na Metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São Paulo: Contexto 2001. ________.A geografia Brasileira hoje: Algumas reflexões. Terra Livre. São Paulo, ano18, vol.1, nº18, p.161 – 178 jan. - jun./2002. CARVALHO, Ligia de Aquino. Contribuição ao Estudo das Habitações populares: Rio de Janeiro: 1866 – 1906; 2 ed. RJ: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento de Inf. Cultural; Divisão de editoração 1995. 184 p.il-(biblioteca carioca, V.1, série publicações cientificas). 13
  • 14. CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: Rio de Janeiro e a Republica que não foi. São Paulo 3 ed.cia. Das Letras 1987. FARACO, Carlos. O povo como personagem In O Cortiço 36 ed. São Paulo: Ática, 2002. GOMES, Paulo César da Costa. Geografia e Modernidade. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. LEFEBVRE, Henri. O Direito à cidade. São Paulo: Moraes, 1991. LESSA, Carlos. O Rio de Janeiro de todos os brasis. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. MELLO, João Batista Ferreira de. Geografia humanística: A perspectiva da experiência vivida e uma crítica radical ao positivismo. Revista de Geografia, Rio de Janeiro 52(4) out./dez 1990. MORAES, Antônio Carlos Robert de. Ideologias Geográficas, 4 edição, São Paulo: Hucitec, 2002. MORAES, Antonio Carlos Robert de. Geografia – Pequena Historia Critica. 9 ed. São Paulo: HUCITEC,1990 OLIVEIRA, Leopoldo O. C. Rio de Janeiro: A Cidade Livre e a Cidade Enclausurada — Relação de poder e dominação em O Cortiço. On line disponível na Internet via http://www.letras.ufrj.br/cienciaslit/encontro/leopoldo%2ocorti%e70.doc.acessado 10/11/2007. SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma Geografia critica. 2 ed. São Paulo: HUCITEC. 1980. ________.Pensando o Espaço do Homem, 5 ed. São Paulo: EDUSP, 2004. 14
  • 15. VASSALLO, Ligia. O cortiço e a cidade do Rio de Janeiro. Ipotesi - Revista de estudos literários Universidade Federal de Juiz de Fora, Vol. 4, nº1, jan. - jun./2000, Juiz de Fora, EDUFJF, p.138. 15