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. '-TESSITURAS,
.. INTE'RA<;OES)
CONVERGENCIAS
. ORGANIZ4-QAO
~ANDRA NITRINI .
¥ "
ABRALIC ' 

. HUCrrEC EDITORA 

" .
Sao PaUlo, 2011 .,.
MACHADO DEASSIS ESHAKESPEARE' ,
, OU BI!rINHOVALtO TEATRO
JOAO ROBERTO FARIA 

Universidade de Sao ~a~o 

. .
·0"leitor: certamente selembra da pas~agem de Dom Casmurro
. em que Bentinho vai ad teatro eassiste arepresenta~ao ,de
Dielo, de Shakespeare~l Nos ca~itulos precedente~, acompanliamos"
opersonagem alimentando acertezade qUe,Capitu otraira com
~scob?I.A prova d~ crime era omenino Ezequiel,cada vez mais
parecidocom 0 supost6~mante, nesta 41turaja morto. Naa:deixa .
:de ser curioso observar.que a semelhan~a'entre os"dois peJ;sona­
gens foi primeiramente percebida:por Cap~tu e que elaniesma cha~
moua aten~o 4eBe.n.tinho: «Voc~ jareparou que :Ezequiel tern .
nos ollios uma e.x:Pressaoesquisita? pergUntou~me Cap'i.tu. 56 vi ., , " ( " " ,J ,-, _ '
duas pessoas assim, urn amigo de papai e 0 ~efurtt() Escobar" (cap~ 

CXXXI).A partir dess~ momento,Bentinbo come~a aver 1)0 fillio 

• a reencarna4Yao do antigoamigo::U·Escob~.viD.haassim surgindo .
da sepultur'a, do seminarioed.oFl~ngo para se senJar comigoa.
· mesa,receber~me.na escadil,beijar-lI}c no gabitiet~ de manhlf,ou
'pedir-mea Iloitea b~ns:iio:dO"costume" (Gap~ CXX'X.II). A certeza' . , . . ., .. . .
datraiya-ode Capitu destr6i"O cas!lmento epeiturbaBentiiuw, que •
come~a a pensar ell} suiddio; Rein meio a esSa perturbay~oque "
,elevai ao t~atro, sem sa,berque pe~ e'stava eincartai.
. " ' , . ; ~
- .' Retorno ~amplioneste estudo algumasconsidera~oes crlticasqUeeStao pieSentesno 

'ensaio.introdut6rloque escrevi para 0 volume Do te'lJro;textos criticoseescritosdiverftos, de

Machado de AssiS", organizadoponnim epubllcadb em2008 pela Ed1tora PeFSpectiVa. 

, , ' .. ~. . ' n o . . .
.. MACHAI?ODE ASSIS B SHAKESPEARE OU, BRNTINHO VAIAO TEATRO 111
A.ssimcomeyaOcapitul? CXXXV:"Janteifora. De~nQhe fui ao
teatro. ~epreseritava-se j)lsta:m.enteOtelo, queeu naQvira ntmlera
nUhca; sabiaapenas 0 assunto td'!l?timeia.coincideucia': Para nos,
leitores?e dar(Y que nao se trata de uma coincid~da.Ao fazer <>
personage:s;n,assistir'a'representaC;1io d,a'pec;a'de Shakespeare, Ma­
cha.donos conVidaa lerseuromance ou a compreerrdero seu per:­
sonagemem func;~o'da intertextualidade.esiabeleCida: E18S0 nos
da a chavepara a compreensao doenredodeDom Casmurro, urna
·obra nao necessariamente ~QPre oadulterio, quepodeter defato
acpnteeido,.mass~bre 0 dume, que sebasera em ~a traic;ao, se.
nao imaginada,aomenos)J1entalmente constmidaa partir de
indidos e nenhuma provc:l concre~,-,-' exatam:ente como ocon:e- , r .
emOtelo.
A.pesar daevidencia, criti<::os do p~~sado nao co~pteellderam '
a pista dada por Machado ,e acreditaramnas palavras do narra­
dor. Alfredo Pujol, por·exemplo, em uma de suascdnferencias, rea- .
lizadas entre ItJ15 e1917,faio'seguinte comentario sobre DomCas­
murro:"E urn livro cruel. Ben~o'San9ago, ahnaeaooida eboa,
'. ,.subrriissa e confiante,feita parao~<lcrifkioe para aternlira, ama
,..desde crian~a a sua deliciosa vizinha, Capitolina,:- Capitu,'~om:Q
lhechamavam t!m familia. Esta Capitue uma dasmais beJas e for-:
les crias:oesde Machado de Assis; Ela traz 0 e;nganq ea perfidia
·n,os olhos cheios de s.~du~~o e de,gra~a. Dissimulada poriridole,a.' " ' . '- , . - . " . . ( '. .
inslrua enela., por assim dizer, instintiva e talveiinronsciente':2 Esse
modo dever C~pitlle de considerarDom Ci§murro um:romance
sobre 0 adulterio roi predori1in<U1tedUrante d~cadas,~atificado pdr
·qtitleO,S infl:lentes como Mario ~atos,.Algusto Meyer QU Bai;reto
Filho..Ainda'em 1969,,a COn:llssaoMachado de Assis,formadapor .
'ilustres )intelectuaispara publicar em 'edi~oescriticas~aobra, do
nosso maior escritoJ:{escreveu no prefacio a Dom Casmu.rroq~e
·esse romance "se resllIIi"e numa'hist6ria .deadulterio,xiatradaem ',', ' , ' --,,' ~. ", .'" , - "
iAlftedo P~joLMachado de'Assis. 2,' eftRiode Janeiro: JoseOlympio, 1934, p. 238.
!. ' .
J' . '.
112 , JOAO Rt>BERl'O FARIA
primeirapessQa". Emais,que Q "adulterio sq edescoberto por Ben~ 
tinho d~pois qe h3. muito conswnado, quando urn d0sculpados
,acabava de falecer':3."A.tualinente essalejtura que veBentinho como
. vit:i:rllide uma mulher dissimul<lda, esperta etraiyodl:'a,e,conside­
/ ", rada ingenua efoi sU"bstituidapor analises e interp1;'etayoes que le­
,,yam ern conta a llconfiabilidade do narrador-,' em primeirapes­
sqa,lembre'.::se-', que desde 0 iniciodo romancenao esc0!1deseu
chime doentio~ Ressalte-seque essaleitura;para sercorreta ecoe- '
,renie,naodeve absolver Capitu,mastraoalhar sobre a dtividaque
,0 romance instaura; afinal"Capitu nao enenhuma santa,eBenti­
'nnosefaz &'bobo paraque acreditemos nek ,"', , '
, Apercepyao<1e/queocarciterde Bentnmo foi cortstruido apar­
~tirdesugestoescolhidas emShakespeare,particularmenteem Ote­
, 10, deu origema bons estudoscriticos sobre pomCast1Jurro,que
leyain em conta a intertertualidade clara.rnente'estabelecida'pdo
escritor. Lembra'aqq.i 0 pioneiro 0 Otelobrasileiro de Maqhado 'de
Assi$, de Helen Caldwell, de.lf)60, puplicadoem tradu~aobrasilei­
ra em 2002/ 0 olltar,obliquodoBruxo, deMarta. de Sennas ,-',que
juntaHamleta'Otelopara.e:xplicar ()cara.terduyidoso eciurnento
'de Bentinho; e Machado'de Assis: 0 romancecompessons, de Jose,
Luiz Passos.6 "
, ' Meu proPQsito,aquinaoe fazer .ulna aIla1ise ,extensa de Dam
CaSmurra aluz de Otela,Ouero apenaslevantar uma'hip6tesea 

respeito.da ida de Bentinhoao teatro, explicando-a, ,semlJegar a 

,centralidade dlt·abordagem intertextual, e11loutrostermos': 0 do 

cre~cente interesse de.Machadopor Shakespeare a partir deJ871, 
. . ,~". '
3 Machado de Assis.Dom Casmurro;2,' ed. Rio de Janeiro-Brasm~ Civillza<;io
Brasileira-lNUMEC, 1977, p. 15. ,.,. .
. 'Helen Caldwell. a otelO, brasileiro de Machado deAssis.Trad, Fabio Fonseca de
Melo. Cotia: Ateli~" 2002,
5 Marta deSenna. 0 olhar oblkJ.uo du Bruxo;Rio dejanerro:Nova Fronteira, 1998 (2
.ey.. Riode Janeiro: Lingua deral 2008).. "
• 6 Jose Luiz Passos,. MachtuJo de Assis: aromanceoom pessoa5.SiQPaulo:Nankinc
-:ad~p, 2007; . ' , "
MACHADO ~EASSISE SHAKESPEAREOU BEN.tINH~ V.!I AO TEATRO 113
quando nosso' es(;rito.rv~, no palco, pela primeiravez em suavida,
algumas das grandespe~as clou.ramaturgo'ingles,Oteloentreelas. '
Relaraque ante~ disso ele ja bavi<illido,Shakespeare, que ,~ citado
,tanto em textos criticos ecronicas dajuventllde, quanta em alguns 

, , contos.l:>ara fiGarmosno registro de oido, lembremo~oinicioda 

:cro~ica "Conversas coni as mulheres IV: as mulheresperfidas':,de 

18dejurihp de 1865:"Perfida cqrna aonda, diz Otelo; enUllC<il un;ta.
'imagem mais vivaexprimiu 0 perjuriode urna mtilher a:rnada?'Z ­
" , Dois:anos'depois ame-smaexpressao'~ retorIlada rip contosignifi- '
/ i, cativameflteirititulado"Aonda'~.8,
'Mas quando,afinalMachado tOme~Ou alefaspe~ deShakes­
peare? Se e iinposslvel responder a essaquestao, poroutro iado
pode-se Saber comprecisao quando as viu em cena,pela primeira
vez'e avaliar a importa.n.cia dessaexperi~ntiaque teve como)espec:':
tador. Corno a£irn:leiacima,foi em1871,no Rio deJaneiro, quando ,
umaplateiaprivileSiadaassistiu, maravilhada, aos espetaculos da­
do~ pelogrande'ator tJ'<l.gicoi1;aliano Ernesto ROSsi'E possfvelque
,Machado tambem tenliil visto as pe~as de,Shakespeareinterpreta-' .
dasporoutrogrande artista.italianoquepassoupeloRio de Janeiro
• 	no mesmo ano:Totnmaso-Sa,lvini~:Ambos;'Ro'ssieSa,lvini,'for<il!ll
adnrlrados,emtodaaEuropa, niptesentaram Shakespe,arenaIngla;.
teqa, c.omsucessO',e apresentaran1;"se tambem 110&Estados Unidos.
Ernesto'Rossi estreQUno RiocieJaneiroemmalo, com odrama ~
xean,de Alexand're Du~as. Elog(femseguidaapresentouHamlet,
Otelo; Romeu e Julieta e'Macbeth. Machado,ficou simplesmente
encantado com 0 trabalhodo ator.Algumas ceQisde?vfucbeth,como
"pmon610godopunhal,ascenas co1hLadyMacgeth,a.dobanquete,
sao paginas'de arte quese naoapagam maisdainem6ria",gescreveu.
7 Machad'o diAssis. Contos e cr6nicas (prg. R. Magalhaes JUnior). Rio deJaneiro:
Civiliza~ao Brasileira:, 1958,p; 110: " ". .
~·Cf.Ma~o de Assis. Confi)savuisos (~rg. eprefacio de R. MagafuaesJUnior). Ri9 "
deJaneiro: Civilizaqao BraSileira, 1956,pp.6~-81.
9 Machado de Assis. Do teatro: textos crlticcs e escritos~di1!ersos «(}rg. Jolio Roberto.' ..' - - - -' - . - .,..Fana}, Sa!) Paulo~ Perspectiva, 2008,
-,
p,517." " ,
'
""" ., ' ' . ' " 	 . ,
114 JOAO,ROBERW FARIA .
. numpequenD arrlgo l?a~aa senta~~ nu~trqda, e~(25 dejunho.
Alemclos, elDgios a.RDssi, Mit(;hadb fazuma revda~a(}surpreeIi­
dente: a.,plateiabrasileir~nao. co.nhedaate entaoa obra de S~akes­
pe~re. No passado., 0 grandeator rDmantico Joao Caetanohavia
representadDapenas os '(arranjo~" do. escritor 1}eodcissico~frances ,
'Fram;:ois Duds, isto e,adapta~~es.quemutilaramaspe~asDrlgi2
nais; aCDniDdandD-as as regras do Classidsmo. OtelofDi uma des'­
sag pe~aS, representadaem tradu<;aode GDn<;alves deMagalh~es,
a partir de 1837. Ede se crer que Machado a tehhavistD nop~CD.,
. do TeatroS;PedrD:deAlcantara nos ,fula!dOS@.DS 1850.JDaO Cae':';
tanD manteve ape<;a no. repert6riode ~ua companhiadramcitica
ao Io.ngo. de decadas,-por setratar simplesHletitedo-priD.dpaI1?a~';
pel de sua carreira. Lo.gD, aencena<;.ao. do bielo deShakespearee
de DU:gas tragedias,de sua auto.ria, em.1871~tinh<i urn significado
impDrtante, apDntadQ pDrMachado: <~~akespeare.istasendD urna­
revela<;a9 par~muita gente'). Incll1sive para elemes.mD,podemDs
acrescentar, lembrando. que1e~ uma pev-ateatral e ve-la em cena
sao duas e:x}:ierienciasdiferentes. .
Apesarda qualidade dos espetcic:lllos,"aafiuen'ciado' publico.
naD fDidas maiDtes. rnt~lectuaiscomoSalvado~ de Mendo.n<;a e
Francisco Otavianopublicaramartigos'em Jomais do. Rio de ra:­
neiro pal."a louvai a arte de. Ernesto.Rossie atrair esp~ctadores, A
pedido'do.primei~o, MaChado feZUInaanilisecttidadosadainter'­
preta<;aD que 0 atDr deu ao prDtagonista da peya LufsXI, de Ca$i­
.mirDelavigne, e:m textD publitadono JornalAReforma, em 20 de~, ' " , '_ _ , ' , _' ":" _ ' ' , ' _ '. _ " • 1
.j.ulhD~ Charnou-D de "ilustre.tFagkD" e"inteli~ente ~olaborador»
do dramaturgo,pois o,ao. fDram pDUCOS·QS momentDs em que a
inventividadedo inte:qJretecomplementDu0 significado do textD·
escrito.. D~ante da abrangenciaclDrepert6rio. jaapn~sentado e.a
.. apresentat, observou sobre 0. atDr: "Nao tem.clima seu:perlencem- '
. -The todos osc1imas da terra. Estehaeasniao.sa Shakespeare e~'
'Corneille, ~ Alfieri e LDrd ByrDn: naDesqtieceDelavigne,riemGar­
rett;pemY.Uugo,nem os dois Pumas.(Ajustam-se-lhe nocDrpo
MAC~ADb DE ASSIS E,SHAKESPEARE OU-BENTINHO VAI AO THAna ll}
todas'as Nest:iduras. E na mesma noite Hamlete Kean. Fala toms
as ifnguas: 0 amor, 0 cidme, oIemors~,a.duvida, a ambic;aa. Nao
ternidade; ehoje Romeu,amanha LUlSXr:lO
.
. SepalurnladeMachado gostoude Rossinos vanospapeisque
representou, cl1amando a atenlfao para a versatilidadedo'ator,
'cujo repert6rio ia dodassico ao romftntico, poroutro ficouma~
ravilliadocom 0 conjuntodas pec;asde Shakespeare.Pareda-1he~
antes4e assistin{o~ espetaculos, qu.ebastavasUi;llmaginac;aode lei';'
torpani peI;ceber;.a grandezae abe1ezada obra do grande Raeta
ingles. Aflnal,'ha:neia tanta"vitalidade prOpria".queseafigura des-_
necessario 0 "prestigio ao tablado". Ross.i,interpr.etando'os l1er6i,s.
sliakespeariarlC;~, f~-lo mudar de opinHio: "Av;ida q4e aesses ca- .
.racteres itno~ais. deu·anossa imaglnac;ao, sentimo;.la emcena
quando ogenio prestlgioso doRossios interpreta eJraduz,.nao.s6
com alma, mas cominteligenda cdadora': Emms: a grandeza de .
R.oSsj~ emborase tenhamariifestad~emtodos.os papas que'desem­
penhou, irripressionou~oquandopercebeuhaver entre Shakespea- .
re e Qafor"uma~finidade inteleettiaJ, tao exdusiva eabsoluta,que
o atorm~ncaseria rilmorna intimidiuie4e outiopoeta, eque, era'
/ esse a sua musa por excelencia,e as' suasdbras
J
a atmosfera mais ~
apropriada ao seu genio". '. '. ..... . .' .
'Machaddconfessa que consideraHamleta pec;atriais,profun4a
de Shakespearee que v&-la em cena foi a realizas;ao de urnsOMo
queconsideravadificil de concretizar~ A i:nierpreta~a:o de Rossi~
"naquele tipo eterno de.irresolu~o e.de duviaa'~ficara. gravadaem
.sUani.enteparasempre. seAdelaideRistoriP o'haviaJmpressionado
, • ~ .. 1 "
10 MaclJ.adode Assis. Doteatro: textos criti(:os, e e~criios dlversQs (org.IJ,oao'Robert6 .
,Faria}. Sao Paulo: PerspeCtiva, 20Q8, p. 523. . I
·n Em julhode 1869, agrande ;ttriztragicaitalianaAdelliide Ristoriapresentou-se no
Rio de Janeiro c.om urn repert6rio que in~luia Pew ,omo Fedra, p,e Rllclne;Ma.ria·
'Stuart, de.Scbiller;e Mirra, de Vittorio Alfierl, entreoutras. Maehado e5lZreveu qUatro
bel~ artigo~'sobre9 trabalho da atriz para0 Diario doRiadeJane;ro,que podemserlidos
el11 Do. tcatro; ,teXtoscrlticds e escriwsdiversos (org;Jolio R.oberto·Faria). Sao Paulo,
Pefspectiva:2008,pp.489,512. . .
'.
----------------
rOAO ROBERTO FARIA116
, 	 tanto, do!s anos. antes, como atriz tnigica, eis coI?o avalia as dife-' )
" 	ren<ras'entre ela eRossi: ((Se 0'genio deamjJos eigualrp.entepro:"
fundo, 0 deRossi me parece mais'v1tsto. Alguns dirao, talvezqle,
coriquantonao haja para nenhum deles fronteiras de eswla, a Ris~
tori parecia amar especialmenteaarte classica, ao passo qu~ 0 Rossi •
tenfparticular afeto aarte romantica". " , '
Muito provavelmente aspe<;:asde Shakespearefizetam a dife­
ren<;:a. Rossi impressi9nou'a plateia brasileira como a~or que "sabe
traduzir <. paixao de Romeu, os furores de Ote16, as angu.stias do
Cid, os remor~os doMacbeth, que conhece em s~a todit a escala
,da alma human:a".'Erh 6utras palavras, asi~terpteta<;:oes de Rossi'
,'foram marcantes pela intensidade com qu~ efprimiu os'sentimep­
tos dos ,perso~agens que encarnou. Machad.o as aproximadoesti-'
10 romanti<;:o, opondo-as as de ffistori, certamenfe porque se ca­
ractetizavam pbImais vigor fisico, mais expressi~dade facial e uso
, da voz com enfase'em contiastes agudos. Depeq~ehaestatura,nias
Tobusto, RossiCCtinha uma face flexivel, Urn corpoeapaz,de mdvi­
mentos elaspcose ~estos expressivos, euma voz que alternava vo­
lume etom com facilidade. A natureza tempestrtosa e impreyisivel
de suas paix6estorn6u-o,mereced'or do titulo de ator rop::tantico':12
,Machado termina 0 texto exprimindo 0 desejo impossivel de'
:ver Ristori, Rossie Salvini, juntos, nO,mesmo tablado, interpre­
tando vatiqs personagens! mas em pritneirolugar "Otelo, Ham­
let, rago, Cordelia,pesdemona, Lear, Shylock, todo, 0 Shakesp~a­
" " ree h f i m " ; , -"., "
Cudosament~. nosso escritbr nao sf, manifestou sabre'os espe.:
taculos dadosporSalvini no Rio-deJaneiro em setem,bro e outu­. . 	 ~ , .-~'
, I,a Dennis Kennedy (ed.») The OXford Encyclop§ilia'ofTheatr!! andPerfo,frl'lance:New
• ' York:,The Oxford University·Pr.ess, 2003,1'. 1157. Na sequencia da cita~lio, o·estilode
interpreta~o de Rossi econtraposto ao de Tommaso S~vini, classificadil c~nio"classi­
co)por ser "mais estudado". Tratacse dequestliocontroversa, pois os' critkos delingua
inglesa do.secul0 XIX definiam Rossi:e Salvini Cl>mo interpretes realistas. Sobre 0 a:ssun~
'to, po~e-se rer 0 'belolivro de Mru;vin Carlson, The It~ans SJia~earif:ins: Perf,<mnances _"
by Riston, Sa/vini and Rossi ,in England andAmerica (Washington: Folgef'Books, 1985).
.,' .- - - - - - - - -------------~- -' -~--~--~~--,-~--- ----­ ~
. " ..
MAClfADQ DE ASSIS ESHAKESPEARE6u.BE~,fTINHO VAI AO,TEATRO·. 117
bro do'mesmo ano de tS7L Mas ~. possive! que otenna visto'eIj1
ceria,pois se refere aele numteXtocurtode 17 dejU1ho'd~'188513
e
numacromcadaGazetadeNotfcias de 3dejUnho de 1894:14
. 0 que parece frnPortarite enfarlzar eque aexperienciadever
,Shakespeare no pilCo{oisignificativamente mar.cante para,Macha- ..
do. SeantesdeJs71ia0 Iia eO'adinj,rav.a,15 'aparti:r desse ano tor.,
fia-o um interlocutor mais constante,multiplitando errisilas cro- .
'nieas, conto~ e romanCesas cita~6es depe<;ase falas de personagens
.. queguardanatnem6riq•Assirh, podemc;>s lembrarque jaem1872
·ele publica 0 seu primeiro roman~> Res5urreifao,e.scrito para"por,
ema~o'>0 pensamento de Shakespeare que aparece emMedidapar
medida., citado no original na1'Advertenc:itLda primeirae<lic?o";'
'. "Our.doubts are trait6rs,1 AndniaJeeuslosethegoodw.eoftmight
win, lByfearingto attempt'~16., ...' . '.. • " . .' , . ' . '. ' . . -
Algunsestudiosos daobra de Machado, como Hden CaJ-dw:ell, 

·jaobserv~~eRessurrei¢o ttaz as marcasde Otelono dumentp 

·Felix.Mas Sfnoslembrarmps de Sellcoinportamento em re1a<;aoa 

Livia,nao eapenas ocifuneque,atrapalhaoreIa~iqnamentbde 

·ambos; Felix etambemincap~zde tomardecis6es e duvida 0 tem-:­

/potodo de quedeve se cas~ll:com Livia. Nessesentidoele lempra <;>

que~achado afirma sobre Hamlet: "tipo etemo de irresolu~ao e
deduvidi: Curiosa oU'eoinciden~en1ente, essamesna expressao e"
utilizadapelo entico anonimo dojorilalOMosquito,que, emn1ai~
de l872, louvRos "earaeteres,verdadeiros" de Ressurreifao,subli­
nhandoque Machado:conseguiu '.<desenharcoin tra'tos-indeleveis
l'MaclUtdode Assis.Do teatro: tt;;tos critit:ose escritos divmos, p. 57S:
. 14 Ibidem, p, 638.·. . . . '.' . .." . ..
".IS Ern 30 de jUlh~ de 1869; POt ex:emplo, num'dos folhetins' en1 que comenta as
interpreta/foes de Adelaide R,istoriLMacna,do afirmaestar de acordo COIn run estritorde
sell tempo, sem nomea-Io, qllechamou Shakespeare'~com justiora., epara,hpntada
humanidade; °maior de todos os bQmeJlS.~ . . .
16 Machad,04e A$sis. Ressurreifiio. Rio deJaneiro-Brasilia: Civiliza,.ao Brasileira-'
cINL/Mll.C, 1977;p.61. Em portugues: "N,ossasduvidas sao·trildorasl .E n(jsfazem
Perder 0 b~ que muit~vezes~pbderiamos bbter, I Por medQ de tental'", ..
118 	 JOAO ROBERTO FARIA
o ripo da irresohi~O'e.dadl1vida na personagem do Dr. Fe1i:f".17
, as contempodne~s does<::ri1:or percebera:n:},o dialogo estabeied­
do tom S'hakespeare, toino se pO,de cOn1provarpe~aleitura deou­
tro artigo'l'ub!icado na SemanaBustrada, em que F~li:x ecaracte­
rizadocomo "um,misto de Werther. de Otelo" de Hamlet .e de. , . . . .
Romeu".18
'Em 1.873 nossoeseritor damais uma prova deadmira~ao pela
obra do poeta ingles: 0 Arquivo Contemportlneo eitampa sua tra­
du~odofamosd mon61ogo de Hamlet, "To be or not to,be;', que
. sera tambem ~ titulo de um,conto de iS76', publicadono]orn'aZ
,dasFamilias. 	 '
Elogios a Shakespeare er~fer~nciasasqaSprindpais pe~ e per­
sonagens passani a poyoaraprodu~ao'de Machado;HelenCald~
well afirma ter encorit~ado em sua obra "255refer~ndas d,itetas'a
Shakespeare, induindo refer~nciasa vinle de sua~s pelj:as" Quero
.ressaltar. a cr6nica de 26 de abril',de 1896.' na qual'Machado co­
menta urn telegquna vindode Londres, ei'nque seanUIiciavaq~e .
,"terminatam as festas de Shakespeare':C)escritor emenda 0 tele­
. ,.<grama afirmando:'"TermillC:lramas festas da almahumana". Eis 0
~	 que 0 seduz nos texios do escritor irigl~s:aforma como saotra,ta7'
dos os sentirnentos uniyer~ais,os,senti!ll-enrosd(}tora~ao huma­
no. Eisso que garante perenidade a,uma ~bra litenlria e espedal­
mente a Shakespeare. Afin~)"um dia, quando ja'nao hOliver
imperiobtitaniCo neIri'republicanorte-amerlcana;hareiaShakes­
peare; quandonao sefalar ingI~s~falar-se-a Shakesp.eire".20 ': (
. Vale lem1Jrar quedois anosantes de ver Ernesto Rossi emcena,
Machadoja havia fica~o, bastante impressionadoc:;omocar~ter
universal dos sentimentos huinanospresentesmlstragedtas ence­
17 C£HtliodeSetxaSGuit:naraes.Osleitores.deMtUhado deAssis:0 romancemadiadiano
eopublic(1de literatura no skulo 19. Sao Paulo:N~-Edusp,2004. p.198. ' .
18 Ibidem.p. 313. .
19 Helen CaldweU. 0 Qt(11o brasileir(1 de Machado de Assis;p. 21).
:" Machado de Assis. Do teatro:teitoscrlti9'Se es'C'rit(ls diver5i1s,p.624., - 	 - . '.,
,MACHADO DE ASSIS E SHAKESPEARE OU BENTINHO VAl AO TEATRO 119
nadas por Adelaide llistOIL~No segIndo dosquatro artigos' que ,
'escreveusobre asinterpretas:oes da atriz; e:rnjll1hode 1869; ele afir- -,­
rna: ''Atragedia eUmaforma dearte, naoJoda a arte, eqUalquer ­
quesejaa forma, ossentimentoshumanosterao ligualexpressao,
se forem verdadeirQs~'Podemvariar os vas<)s;a essenciaea meslna.
A casa,ca substituiu adainide, masoc~ras:aohuIilaho nao-var.iou.
Oque se deveestudaremllistori ea parte univer~ dos sentimen-_
,tos".21 E~9 .escrever sobre Fedra, acrescenta:'''ds homens cujos
:olhos se urnedeciam di~te daluta deJCimena,.doCiume deHer- ,
,mione, da paixao e dosremorsQs de Fedra, eram oSI1lesmissimos
, _de hoj7; ese Qgosto, sea escola,se ascondis:oesdo teatro,mllda­
-ramlnao mudou oc6ras:ao human?; os'sentirrientospodem,tai­
vez.,mudard¢ aspecto, mas aessen-da ea:mesma':zz ­
',Nao poracasoena virada d~ d~cada de-1860paraa. de 1~.70
que flossoesqjtor cOme,? a sepreocuparcOmas lin1itas:6es da li­
"teratura.brasileira, presa airi<4aonacionalismo romantico. Res- ,
5urreifiio eja umateptativa desuperar a corlQcal,comoertredo ,
d~ntrado.na amllise de doiscaracteres.Em 1873, no conheCidoar­
tigo"i'Jotkia.daatualliteratura brasileira-',.ihstintodenaciona- _'
lidade'~- Machadocita Shakespeare, entre outros'autores, p~ra
,apontar urn cilplinho nov() para os escfitoresbd.sileiros: 0 do ro­
mance de cunho psico16gico.-,siri6nimod~1iteratura de ~cance '
.uilivetsal-',npqualo ohjetoprip.cipal de estudo~a:hlmahutna'­
na~ A s~u ver, era'preCiso.ir alemdos'''toques dosenmnento': dos
"quadros da natureza" ed~r"pintura'doscosturi1es" do romanceto- '
mantico, interiorizahdo ~sentime~to nacional ~colocando empri- .
-rn.eiro plano 0que eledenomina"anaIisede paixoes e caracteres",-'
Esse e~a dcaminho para utna literatuz:aaQmesmo tempQnacio:­
;~al euniversal. Shakesp~are nao era simultaIeamertte"g~nio-uni­
versa}" e"poeta essenciahnehteingles"?J~:nao tinhamos,urn born
21 Ibiderg.,p. 499., 

," Ibidem, pp.503-504;
- .~
JOAOROBERTOFARIA120
exeIllplo de alcance nniversatnapoesia de :Gon~a1ves Dias".cujos ;
versospertencem,"peloassunto ~ toda amaiighumanidade, cujas
aspira~oes, entusiasmo; fraquezas e dores geralrrientecantarh?"23'. .
. Que Ma.chado con§eguiu reali21ar 0 seuintento de ser escritor
brasileiro~ universal aomesIlla tempo, naose discute: seu~roman­
ces e contosdamaturidade atestam ofatq. Alem disso,lembre,.se
a riqu~za dQd~bate em tornode sua ~bia~emque sepercebe~no
passado e no preS~ilte, qma forte polariza~ao:de.urn l~do, ha es..,
tudiosos.que.coloc'am'em priIneiro plano ocnticodasociedad.e
patriarcale escravocrata;deoutr~",es.tudiosQSque veem noe~cri­
, tor, antes de tudo, 0 analista daalma hlitnana, opsic610go. Sem '
entrar no merito dos argUm~ntosdas'duas correntes de opiniaQ,
eUJllria.que pelo menos no momenta ~mqlJe escreve o"IIistinto
de nacionalidade'~Machado esta, mais pieacupado coma supera'::
, ~~o doestreito nacionalismo r01l1anticoainda ~gente: essa e a t6-, "
nita doartigo; e precisoir alemdCl "rorlocal': No mesmoano de .'
.1873, ,omo que enfatizando suapreocupaqao COIllO alcance uni-,
versaJ. ,da literatura,.eieafirmapelab(}cade urn personagem do '
'conto':Tempo decrise",: "Dizem de Shakespeare que,se a humani­
dade p~recesse,ele s6 poderiarecompo~Ia, pois que nao.deixou in:­
tacta timafibra sequer docora)ao hum<lllo";24 ...
, Fas:amos urn bre;e paT~Iiteseparalerhbrar que,el1l1875;ins­
pirado peIo mdianisrri6,Machado publica.o1ivrodepoemas Ame­
ricanas. Oqueparece serumat~caida rom.mtican<).Uterat.uraque
apelapara;a,"cor local" e, na verdade, umatentativadeconciliar 0
nacional e 0 ufliversal,exat~mente como.sugeridono artigo "Ins­
tint(jdenacionfllidade':·N~'"Aclverte~Cia".aI'~hneira.ecli'rlio, eie
retoma inclusive algumas expressoespara.explicar que 0 indianis­
mo.e urn assu:nfocornooutroqualqll~re que~'tudo per:tencea
23 M~chadode Assis:"Instinto d~na<;ionalidade': In: Crltica literaria: Riode JlI1eiro: ..
Jackson~ 1?51, p. 138.'. .. . . . . . . . . . ' .
~4 Macliado deAssls.Contos avuls'os(org. epref'3.Qi6 de R. M<igalliaesJUnior). Rio de
Janeiro: Civiliza~o Brasileira, 1956, p. 236. ., ' . '.. ."'
, MACHAPO DE ASSIS E SHAKESPEARE OUBENTINHO VAl AO TEATRO '121
- ~ "
i.nven¥ao,poetica, uma vez que tiagaoscaracteresdo'belo'';25 'Mas
0' quemais'impressionanesse texto € a ideiade que os, aspectos
nacionais nospoemas sao.acess6rios e1nferiores em, J::ela¢ao,aos
-Universais. H~,um evidente'criterio de valor hes~as palaVr<ls:"[, '..J ,
ocapacete de Ajaxemais classiCo epolido que 0 canitar 'de' Ita,..
jUba; .asandaliade Calipso-eumprimoTde1irte que.nao achamoS
na planta nUll deLindoia:Estae)pon~m, a parte inferiorda poe­
'sia,aparte acess6ria. 0. essencialeaalmadofiomem':.Comen.­
tando essa passagem, Jdse Verfssimo opserva que af esta slntetiza­
da:a estetica d,e Machado,escritoravessoao pitoresco e aos aspec­
tosexteriores.dascois~s: "Poetaou prosad~r, ele naQ se preoctlpa
, senao daalma humana[...].po~ costUJIles, figuras, man4as e
fei¥oes domdio eda suavida que poe empoetn~protura sobre;
'tuda descobrir.,a essencia s9b ase~erioridades ~x6ticas, e por ela
revelar-lhe a alma.':26
,Voltando a Sh~espeare'~podemo~·diterqtie Machado e!],c~n..
trou em suaobraum modelo pata estudara:alma h1..unana,pm
m~stre quesabiapintaraspaixoes num myel de densidade psicol6­
gic~ que ateentaodesconheda.Jmpossiyet'deixar delembraia ex- "
, press~odeHaroldBlo,om,segundo ~ qual"Shakespeare "inventou 

°human()~ istoe, incutiu em sellS pers()nagens uma dimens~o'inter~ 

:na que nos permiteem;ergarem~uaspe~"ainstaura~o'daperso~ 

( n~dadeConforme hojea cori.hecemos'~27 Comobem'obsetvalose
, LuizPassos,.asrefer~~ci~s de Machado as ob.ras dQ esq:itor ingles,
nab sao "nem esporcidicas,nem ornamentak Elas servemao
prop6sito,de aprofundar,as crises e'reve1a~oes que seusprotago­
,nistas teniacerca de si': Ne,sse se:rttido, acrescente-se;aillda de acor­
do com 0 est¥dioso, que tais referencias servemaumproP?sito ,
Machado de Assis" Ameriq<ntij. Rio de lan~iro; Garnier, 1875, p: VI.
,26IoseVenssimp. JiiStoriada literatura~rasileira; 5.",ed, Rio de Janoiro;JoseOlympio,
1969,p.Z83, ' '" /' ' , , ' " ,.,"
, ,27 Harold Bloom. Sha~eaTeya inverrfiio dohumano, Trad. Jose Rob!itp. O'Shea..
Rio de Janeir~: ObjetiV'a,2001, p . 2 9 . ' ,
I
122 

.. fundamental: ode «buscar novos.modosde gir~tirprofundida­
depsicol6giCa aosprotagonistas':28 . ' . , .
Machado s~biaque nao teria sentido 'escrever'pe~as teatrais a
maneira do dramaturgo irigIes.Seu tempopema. apoesiaeptincipal-:
mente 0 romance,o conto, nao o.drama..Erapreciso transportai
para as fonnas naiTativas amesniaJensidadeha cOllstru~aodos p~r­
sdnagens que viiI naspe~as,representadasem 187q,.Como .faze~
. 	isso? Machadonao conseguiude imediato resolver optoblema que
s¢pr()pos. Nos romantesdos anos lSZOeIecontinua a malaga]," com
ShakespeMe'~Otelo ganhacitawo emAmao'ealuvae Heiena; Mac­
bethemlaid Garcia-, massemaindaenconti'araforma adequada
asnovas preocupas:oes. Em 1878, porem, ano emqueescreveu'e'pu- •
. . blicou laid Garcia,'Machado,parece sabeihem 0. qllequer, como
~e'pe'rcebe ~m sua Crlticaa 0 Primo Rasflio. A certa altura, ele la­
menta que no romance·deE~a deQueir6s se de «i1substitui~ao do
:principal-pelo ~cess6rio,a a~ao transplaD.tadado~ ca,raCteres e dos
sentiineritos pant 0 incidente, para 0 fortuito'~29'gextraviodas
cartas, poreiemplo, que da podel' adiadaJuliana, eprova da fra- ,
queza do romance,observa Macha¢io, quemais utila. vet evoca
Shakespeare-.,e particularmenteOtelq,-.'.para a defesa dalitel'~ .
.'tura,entenmda,comoanalise de.paiXoes ecaracteres:"Que oSr.Eya
,de q1,leit6s podia lan~ar Il1aO do ,enraviodasc3,rtas, nao'sereieu
que 0 conteste; eraseu direito. No modo deexeicere queacrftica
lhe toma q:ltlt~s. 0 len~o de Desdemolla tern lirgaparte J;).a sua
morte; mas aalIna ciosa~ ardente de Otelo;a perfidiadeIago e)f
. ino~encia ele Desdemona,'eisos ele'mehto&epriilcipaisda a~o.'0
drama existe,ponjue esta nos c'aiactel'es, naspmoes, nasil¥a~o
moraldos perscinag~ns: 0 acess6rionao domina 0 absolut6':30"
. Ebt ~utras'pahivras, as restri~oes feitas ~E(j:ade'Queit6sdei-' .
xam transparecer odesaflo que'Machado coloca parasi mesrno: '
. 	 ". . .
•.-	 . . . . - , ' ."
,28 Jose Luiz Passos. Machado ae Assisi 0 rom,ance compessoas~ pp. 222,224,
.. ~ Machado de Assis. Crlticalitcmi.ria; p. 178.
" lQIbi~em,p:178.
... 	 _ _ _~~ •__~.J_~
-
, .. ' . ."
MACHADO D~ ASSIS E SHAKESPEAlE (JUBENTINHO VAiAO TEATRO 123
, comofaier l.tri:J. romance interessante"de alcance universal, em que
em'primeiro plano sejamcoloc.ados os personagens emsuadimen-.
s~o interna, nao 0 enredp? Jasabetnos queo.resultadodeRe$sur­
reifiio e modesto e~ue nosromanc;es seguinteso enred0aindae ­
.. doininante. Shakespeare lhe apontarao 'qUninho pataaprofundar
oestudo do corac;ao humano, mas nao amelhor forma para fazer
'isso~ A 'soluc;au Machado aencontroll apertasquando entrou,erp.
'corit:1to com Q romance ingles dotinal do sec1,llo )eVIl! ¢percebeu
apotencialidade de'umaforma denarrar que se a~a~tava em tlIdo
dil oQjetividade donarrador. do romance naturalistaentao' em
voga. Paulo Sergio Remanet definiu-a como "fprma shandiana", ' . I
levarido em conia a dfvida de M~chadopara ,com 0 romance
Tristram Shandy, deSterne. Aseu ver, 0 pr6prioMachado concei~
tuaessa forma, caracterizada pelos segililltes aspectos:" I) pei~ pre­
'senc;a constante e caprlchosado narra~or, 4ustrada enfaticamente
pelo ptonome de,primeira pessoa: 'Eu, Bras Cubas't2).ppruma
t~cnicade composi~ab difu,sa eJivre, isto~~ 4igressiva, fragmenta­
.ria, ]lao-discursiva;'3) pela:interpenetrac;ao do riso ep,a,tnelanco­
Jia; e 4) pela subjetiva93,O radical.do tempo (os paradoxos dacf:O- .
, nologia)e do espac;o(as viagens)'~31,
Ejneg~vel queessas caractetisticas formaisse tepet€.;m nos con­
tos e/romallces damaturidade,de Machado. Aoniesmo tempo,.
avollimani-se as suges{oes colhidas em'Shakespeare, como demons:..
tra 0 jaieferido estudo de Jose LwzPassos, em.cuj9.apendice estao·.
arroladasa~ citac;oes e alusoes ao poeta ingles em toda a oora ma­
.' chadiana. o que se' nota eque tais dtac;oes e-aIusoes tornam-se,,
conslderavehpente mais frequentes a partir de l871. '
Volto;.pols,itO meu·ponto de p~tida.Quem crer qu,e a ~~ntri~
buic;ao doatorErnesto'Rossinesse processo de assimilac;aodaobra '
shakespeariana nao podeser esquecida; Afinal,suas interpteta~5es
. .  ' ' ,..' " .'­
31 Paulo Sergio Rouanet! Tempoe eSf&lQ na furmashandiana; Sterne eMachadode 

Assk.Estudos:Avans:ados:, maio-agosto d~ 2004, n." 5tp.'336, ..
.124 ' 	 JOA9 ROBERTO PAiri
hao se apagaramjamais na memoria' de Ma,chado, q~e em varia~ "
. ~casioeslemb~ou~sedeias.No oonto"Curta historia':de1886,para'
dar urn born exernplo, () enn!do gfrJI emtotllo de umamocinha
~ue ~ encanta com ointeqlreteitalianoem Romeu ejulietq. Dizq
llarrador:,"Aleitoraaindahci de lembrar-se doRa;si~o ator Rossi~,
que aquinas deu tantas obras-primas do teateo ingles, frances e,
italiano.Eraum ho~¢nzarrao, que' uma.noite era terri~el como
Qtelo,eutralloitemeigocomo Romeu'~32Emcr6nicade 3 de junho
de 1894,contan<¥>uID. sonhoque tevedepoisdeler.a cQphecida
cenado cemiterio,no qu~to at~ deHatnlet,oautorpergunta<los
leitoresse aiD.da,se lembram"de Rossi edeSalvini':33 AlOde feverei­
rode'1895, cOl1lentando~espectIla~oesqosbancos~ mai~uill.aYez
Rossi eHamletverriamente do,cronist'a: "Estasemanalembret-:me
",do velba,problema lnsohivel. Com osolhos,,-',- q.aonos camarotes
'daquarta ordem, ao fundo~ e a p~naF~inha4_o ponto, como Q
Rossi,·mas pensativamente:postosno-chao, repeti 0 moIi61ogo de
Hanilet, perguntandoamimInesmoo.que'egue nasceuprhneiro'l
seabaixado.cambio,seoboato'~34 Em I4,de junhodei:S96, cori1en~ ,
tando alguns:atos praticados na alfandega;sem saber se eram urn
crime ounio, 0cronista observa:"~cco itproblemaj diriaellf~ti.ca­
mente 0 finadO Rossi'~35 0 ator italiano havia falecido dez dias antes~
Eporessa epoca que Machadocome~a a'escrever Dpm'Cas.- .
murro-. Provadisso ~a publica~a9 dot~intitulado "Um.agre­
gado - (capitulQ deumlivro irieditor",no jomalARep4blica em
'15·de novembrode'1896: As referenciasa ErnestoRossi em croni­
cas de 1894,1895 e 1896saodemonstra~oesda:ras'dequeMa~ha­
do-ainda guardava namem6ria aSinletpreta~pesdoexttaordina­
. rio ator itiliano.,Isso Ilosconvida a arrjscar Jima hipotese para ' ,", . . 	 ' . .,,- . ­
, 	 3:! Machadoc;le AS$is.;;ontqs'fluminen~~ [l.llio de Janeiro: JackSo~,r951, p.395.
"Macl)adodeAssis. Do teatro: textos crlticose tsmtosdiversfis, p.638; , .
34 Machado d,e,Assis. A Seman(!, 2/volume '(1894-1895). Riq deJaneirol J~ql).,
1951,pp.309-31Q. " " ' , ", . 

35 IbJdem;-~'volume (1895-1900). Rio de Janeiro:JacKson, 1951, p. 205. ' 

, .
MACHADO DE ASSIS E SHAKESPEAREOUBENTii'l"HO VAl AO TEATRO . '125 "
· expiica:t:~'ida de::S-entirihoao teatto:,nao se trata apenas deesta'­
belec.er 0 dialogointertextual eomotelo, mas de rememoraruma
·'eJi:periencia de espectador quefoidecisiva para 0 escfhof. Ouseja,
o Otelo que~entinho veno pako"pelo,solliOs.deMachag6,e ode
ErhestoRossi,'0 personagemdeDom Ca$1]'Iurro nao mendona Q
'. nome do atdr.Mas'a infoimayao, no eapitulo.C:XXXI, de qUe ~co-
· meyavaoanode 1872", nos da uma pistaextraordinaria. Como
·nesse anonaohouve nenhuma repi:~sentayao de Otelo,no Rio de •
·Janeiro ~ para d:Jhfirmafisso, basta passa!as a1hos nos aUundos
.dosjornais e lembrar que apenas artista.s estrangeuosencenayam
Sh~speaie na.epoca -,e'muitoprovavel qu.eo escritor tenha
sido traidop~lamemoria. ¥as~errou porum ana apenas, pais,
como sabem6s,Joi em 1871 que Rossi iriterpretouos papeiS shakes­
peariahos para fplateiaflurninens~. ." ,. ','
. 0 personagen1-narradordo romancetefere-~ a"fUriado mou- .
.	ro" eaost(aplaus<?sfreneticos do pul;ll1co"na c.enadamortedeDes":' 

demona. Nos Jomros de,1871,4a varias. descriyoes doejltusiasmo 

.daplateia-etn urn (Ieles apareceare mes:rnop adjeti~o "freneti~ 

·co" -·e men~6es avigotosa interpretayao de Rossi, que empres- .
toti .10 pt!rsonagem' um~ trucu.lencia eurn~selvageri~q'4edeixa-, .,'
ram ps espec~ad6res hnpressionados:'As i1ustta,~oes).em jomais..
cOmo VidqFluminf!nse;lembravam aosleitores'algu:m.as cenasan-' .'
·to16gicas que llaviam vistono palco, entredas amortedeDesde- ,
·mona~ a m~rte de,Julieta e acenado ~emiterio~m 1lamlet:Uma "
d~!as) flgurandooembate entre Otelo'elago"noterceiroato de '
Otelo, trazia,°deseriho de.cl,oisfelinos 'emilutae'~segumtelegen­
··da:."Os'espectadores,vendo que nao haviaali grade de 'ferto,que'
separasse a'Cenada piateia)treriU!niII)'coinocani~()S'~360 jornaIis,: .'
taFerreiraae A,raujo, emartigo public~do ern/O Guarimi,di'!' 21"
de:mai6~assimdescreveo desfechc,do'quinto 'lto,deOtcio: ., ' ' ' . ; , .  ' 	 ' -'
. 56 DanieIaRhfuow. Visifts deOtelo nacena enaliteratura dmm&tica n~1JaI4ostrow
XIX, vot..2. D,outonuio emLi~ratura Brasileira. SioPaulo: Faculdadedellilosofia. Let.ras
e Ciendas Humanas. llSP, 2007. p; 296. . .J .
/ .
(
126 TOAo ROBERTO FARIA
.1 Depois,o Ultimo heijo.de amanteidepois odespertar de
vitima, aacusas;ao de jUizque etambem algoz, osprotestos de .
.	inoc~ncia da acusadaaumeQtando ac61erado esppso; qiie·se
julga ultrajado;'c61eraque vai crescendo, cresceIldo, ale irrom­
per eingritos fer6zes,·que se misturarn ao esteqor da·agoni­
mnte. EhorriveB F'az-se em todoo teatro umsil~ncio fundo,e'
quando aparece de novo Otela, fugindo horrori~adoaoespe:
. taculo do pr6prio crime, muitos olhos se desviamdafera,que
arquejaaindacom asfadigasda,.lut~.37 .
E·de secrer"que Bentinhotenl).aaplaudido essas cenasque o· .'.
&eram pensarno destinoqueCapitu mereda.Naolhepassou.pela ..
cabelT'l que aesp~sapodia ~er jnocente,cornoDesdemona)eque
..sua mortepbderiaser tun erro. A"<) contrario, a,certezada,culpa o.~ .
"leyou aconsideiar que Uln trave~seiro·naO bastava' pa:t:a·e1a::· "era
predsosapgue eEogo, urn fogo. ihtenso evasto, quea cOfisumisse
detodo,e~areduzis~ea PQ"(cal" CXXXV). Semcoragem para agir
como qtelo, Bentinho,motivadopelo espePkulo teatral,lanr;amao
nao daviolenciafisica, mas.de u.n:latruculenciade cunhopsicoI6gi­
~o emoral: el~ expulsa Capitude sriavida, ex.il@do-a ria.Europa.
.a diaIQgo de Machado comShaJ<espeare, eII)DomCasn;t1Jrro,
pode, portanto,.ter sidoestimuiadopelalembrans;a da exuberan­
te interptetas;aoqueRossideu a Oteio. Aexperienciacomo espec- .
.. . tadorfezo escritor·lei ei°eIer Shakespeare/ateo fini dosseus dias,
.. Podemo; rnesmoafirmar que 0 modopelo qualMachado enietga .
osethumano ea.vida social tern tudo ay~tcQm ~ escritoringies, .
com quem ele apren4eu que "0 mundo inteii'o eumpalco'e todQs
oshomens eniulheressaomeram~nte at<:>tes» (Asrou L~keJt, 11,
vii). Ser e parecer, cl.ialetka fundamental naobra de Machado, e,
no fUn<fo, a dialetica entre sere reptesentar, ~ntrerostoe masca-'
fa, entr.e,autenticidade e dissimulas:ao.
'31 DanielaRhinow:ViWes tit otelo na emil e~litetatur:~dramaticanllCtonaZdosedtto .
XIXivo1.2, ppo 373-374, . . , , ..

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Machado de Assis e Shakespeare ou Bentinho vai ao teatro

  • 1. . '-TESSITURAS, .. INTE'RA<;OES) CONVERGENCIAS . ORGANIZ4-QAO ~ANDRA NITRINI . ¥ " ABRALIC ' . HUCrrEC EDITORA " . Sao PaUlo, 2011 .,.
  • 2. MACHADO DEASSIS ESHAKESPEARE' , , OU BI!rINHOVALtO TEATRO JOAO ROBERTO FARIA Universidade de Sao ~a~o . . ·0"leitor: certamente selembra da pas~agem de Dom Casmurro . em que Bentinho vai ad teatro eassiste arepresenta~ao ,de Dielo, de Shakespeare~l Nos ca~itulos precedente~, acompanliamos" opersonagem alimentando acertezade qUe,Capitu otraira com ~scob?I.A prova d~ crime era omenino Ezequiel,cada vez mais parecidocom 0 supost6~mante, nesta 41turaja morto. Naa:deixa . :de ser curioso observar.que a semelhan~a'entre os"dois peJ;sona­ gens foi primeiramente percebida:por Cap~tu e que elaniesma cha~ moua aten~o 4eBe.n.tinho: «Voc~ jareparou que :Ezequiel tern . nos ollios uma e.x:Pressaoesquisita? pergUntou~me Cap'i.tu. 56 vi ., , " ( " " ,J ,-, _ ' duas pessoas assim, urn amigo de papai e 0 ~efurtt() Escobar" (cap~ CXXXI).A partir dess~ momento,Bentinbo come~a aver 1)0 fillio • a reencarna4Yao do antigoamigo::U·Escob~.viD.haassim surgindo . da sepultur'a, do seminarioed.oFl~ngo para se senJar comigoa. · mesa,receber~me.na escadil,beijar-lI}c no gabitiet~ de manhlf,ou 'pedir-mea Iloitea b~ns:iio:dO"costume" (Gap~ CXX'X.II). A certeza' . , . . ., .. . . datraiya-ode Capitu destr6i"O cas!lmento epeiturbaBentiiuw, que • come~a a pensar ell} suiddio; Rein meio a esSa perturbay~oque " ,elevai ao t~atro, sem sa,berque pe~ e'stava eincartai. . " ' , . ; ~ - .' Retorno ~amplioneste estudo algumasconsidera~oes crlticasqUeeStao pieSentesno 'ensaio.introdut6rloque escrevi para 0 volume Do te'lJro;textos criticoseescritosdiverftos, de Machado de AssiS", organizadoponnim epubllcadb em2008 pela Ed1tora PeFSpectiVa. , , ' .. ~. . ' n o . . .
  • 3. .. MACHAI?ODE ASSIS B SHAKESPEARE OU, BRNTINHO VAIAO TEATRO 111 A.ssimcomeyaOcapitul? CXXXV:"Janteifora. De~nQhe fui ao teatro. ~epreseritava-se j)lsta:m.enteOtelo, queeu naQvira ntmlera nUhca; sabiaapenas 0 assunto td'!l?timeia.coincideucia': Para nos, leitores?e dar(Y que nao se trata de uma coincid~da.Ao fazer <> personage:s;n,assistir'a'representaC;1io d,a'pec;a'de Shakespeare, Ma­ cha.donos conVidaa lerseuromance ou a compreerrdero seu per:­ sonagemem func;~o'da intertextualidade.esiabeleCida: E18S0 nos da a chavepara a compreensao doenredodeDom Casmurro, urna ·obra nao necessariamente ~QPre oadulterio, quepodeter defato acpnteeido,.mass~bre 0 dume, que sebasera em ~a traic;ao, se. nao imaginada,aomenos)J1entalmente constmidaa partir de indidos e nenhuma provc:l concre~,-,-' exatam:ente como ocon:e- , r . emOtelo. A.pesar daevidencia, criti<::os do p~~sado nao co~pteellderam ' a pista dada por Machado ,e acreditaramnas palavras do narra­ dor. Alfredo Pujol, por·exemplo, em uma de suascdnferencias, rea- . lizadas entre ItJ15 e1917,faio'seguinte comentario sobre DomCas­ murro:"E urn livro cruel. Ben~o'San9ago, ahnaeaooida eboa, '. ,.subrriissa e confiante,feita parao~<lcrifkioe para aternlira, ama ,..desde crian~a a sua deliciosa vizinha, Capitolina,:- Capitu,'~om:Q lhechamavam t!m familia. Esta Capitue uma dasmais beJas e for-: les crias:oesde Machado de Assis; Ela traz 0 e;nganq ea perfidia ·n,os olhos cheios de s.~du~~o e de,gra~a. Dissimulada poriridole,a.' " ' . '- , . - . " . . ( '. . inslrua enela., por assim dizer, instintiva e talveiinronsciente':2 Esse modo dever C~pitlle de considerarDom Ci§murro um:romance sobre 0 adulterio roi predori1in<U1tedUrante d~cadas,~atificado pdr ·qtitleO,S infl:lentes como Mario ~atos,.Algusto Meyer QU Bai;reto Filho..Ainda'em 1969,,a COn:llssaoMachado de Assis,formadapor . 'ilustres )intelectuaispara publicar em 'edi~oescriticas~aobra, do nosso maior escritoJ:{escreveu no prefacio a Dom Casmu.rroq~e ·esse romance "se resllIIi"e numa'hist6ria .deadulterio,xiatradaem ',', ' , ' --,,' ~. ", .'" , - " iAlftedo P~joLMachado de'Assis. 2,' eftRiode Janeiro: JoseOlympio, 1934, p. 238. !. ' . J' . '.
  • 4. 112 , JOAO Rt>BERl'O FARIA primeirapessQa". Emais,que Q "adulterio sq edescoberto por Ben~ tinho d~pois qe h3. muito conswnado, quando urn d0sculpados ,acabava de falecer':3."A.tualinente essalejtura que veBentinho como . vit:i:rllide uma mulher dissimul<lda, esperta etraiyodl:'a,e,conside­ / ", rada ingenua efoi sU"bstituidapor analises e interp1;'etayoes que le­ ,,yam ern conta a llconfiabilidade do narrador-,' em primeirapes­ sqa,lembre'.::se-', que desde 0 iniciodo romancenao esc0!1deseu chime doentio~ Ressalte-seque essaleitura;para sercorreta ecoe- ' ,renie,naodeve absolver Capitu,mastraoalhar sobre a dtividaque ,0 romance instaura; afinal"Capitu nao enenhuma santa,eBenti­ 'nnosefaz &'bobo paraque acreditemos nek ,"', , ' , Apercepyao<1e/queocarciterde Bentnmo foi cortstruido apar­ ~tirdesugestoescolhidas emShakespeare,particularmenteem Ote­ , 10, deu origema bons estudoscriticos sobre pomCast1Jurro,que leyain em conta a intertertualidade clara.rnente'estabelecida'pdo escritor. Lembra'aqq.i 0 pioneiro 0 Otelobrasileiro de Maqhado 'de Assi$, de Helen Caldwell, de.lf)60, puplicadoem tradu~aobrasilei­ ra em 2002/ 0 olltar,obliquodoBruxo, deMarta. de Sennas ,-',que juntaHamleta'Otelopara.e:xplicar ()cara.terduyidoso eciurnento 'de Bentinho; e Machado'de Assis: 0 romancecompessons, de Jose, Luiz Passos.6 " , ' Meu proPQsito,aquinaoe fazer .ulna aIla1ise ,extensa de Dam CaSmurra aluz de Otela,Ouero apenaslevantar uma'hip6tesea respeito.da ida de Bentinhoao teatro, explicando-a, ,semlJegar a ,centralidade dlt·abordagem intertextual, e11loutrostermos': 0 do cre~cente interesse de.Machadopor Shakespeare a partir deJ871, . . ,~". ' 3 Machado de Assis.Dom Casmurro;2,' ed. Rio de Janeiro-Brasm~ Civillza<;io Brasileira-lNUMEC, 1977, p. 15. ,.,. . . 'Helen Caldwell. a otelO, brasileiro de Machado deAssis.Trad, Fabio Fonseca de Melo. Cotia: Ateli~" 2002, 5 Marta deSenna. 0 olhar oblkJ.uo du Bruxo;Rio dejanerro:Nova Fronteira, 1998 (2 .ey.. Riode Janeiro: Lingua deral 2008).. " • 6 Jose Luiz Passos,. MachtuJo de Assis: aromanceoom pessoa5.SiQPaulo:Nankinc -:ad~p, 2007; . ' , "
  • 5. MACHADO ~EASSISE SHAKESPEAREOU BEN.tINH~ V.!I AO TEATRO 113 quando nosso' es(;rito.rv~, no palco, pela primeiravez em suavida, algumas das grandespe~as clou.ramaturgo'ingles,Oteloentreelas. ' Relaraque ante~ disso ele ja bavi<illido,Shakespeare, que ,~ citado ,tanto em textos criticos ecronicas dajuventllde, quanta em alguns , , contos.l:>ara fiGarmosno registro de oido, lembremo~oinicioda :cro~ica "Conversas coni as mulheres IV: as mulheresperfidas':,de 18dejurihp de 1865:"Perfida cqrna aonda, diz Otelo; enUllC<il un;ta. 'imagem mais vivaexprimiu 0 perjuriode urna mtilher a:rnada?'Z ­ " , Dois:anos'depois ame-smaexpressao'~ retorIlada rip contosignifi- ' / i, cativameflteirititulado"Aonda'~.8, 'Mas quando,afinalMachado tOme~Ou alefaspe~ deShakes­ peare? Se e iinposslvel responder a essaquestao, poroutro iado pode-se Saber comprecisao quando as viu em cena,pela primeira vez'e avaliar a importa.n.cia dessaexperi~ntiaque teve como)espec:': tador. Corno a£irn:leiacima,foi em1871,no Rio deJaneiro, quando , umaplateiaprivileSiadaassistiu, maravilhada, aos espetaculos da­ do~ pelogrande'ator tJ'<l.gicoi1;aliano Ernesto ROSsi'E possfvelque ,Machado tambem tenliil visto as pe~as de,Shakespeareinterpreta-' . dasporoutrogrande artista.italianoquepassoupeloRio de Janeiro • no mesmo ano:Totnmaso-Sa,lvini~:Ambos;'Ro'ssieSa,lvini,'for<il!ll adnrlrados,emtodaaEuropa, niptesentaram Shakespe,arenaIngla;. teqa, c.omsucessO',e apresentaran1;"se tambem 110&Estados Unidos. Ernesto'Rossi estreQUno RiocieJaneiroemmalo, com odrama ~ xean,de Alexand're Du~as. Elog(femseguidaapresentouHamlet, Otelo; Romeu e Julieta e'Macbeth. Machado,ficou simplesmente encantado com 0 trabalhodo ator.Algumas ceQisde?vfucbeth,como "pmon610godopunhal,ascenas co1hLadyMacgeth,a.dobanquete, sao paginas'de arte quese naoapagam maisdainem6ria",gescreveu. 7 Machad'o diAssis. Contos e cr6nicas (prg. R. Magalhaes JUnior). Rio deJaneiro: Civiliza~ao Brasileira:, 1958,p; 110: " ". . ~·Cf.Ma~o de Assis. Confi)savuisos (~rg. eprefacio de R. MagafuaesJUnior). Ri9 " deJaneiro: Civilizaqao BraSileira, 1956,pp.6~-81. 9 Machado de Assis. Do teatro: textos crlticcs e escritos~di1!ersos «(}rg. Jolio Roberto.' ..' - - - -' - . - .,..Fana}, Sa!) Paulo~ Perspectiva, 2008, -, p,517." " , ' """ ., ' ' . ' " . ,
  • 6. 114 JOAO,ROBERW FARIA . . numpequenD arrlgo l?a~aa senta~~ nu~trqda, e~(25 dejunho. Alemclos, elDgios a.RDssi, Mit(;hadb fazuma revda~a(}surpreeIi­ dente: a.,plateiabrasileir~nao. co.nhedaate entaoa obra de S~akes­ pe~re. No passado., 0 grandeator rDmantico Joao Caetanohavia representadDapenas os '(arranjo~" do. escritor 1}eodcissico~frances , 'Fram;:ois Duds, isto e,adapta~~es.quemutilaramaspe~asDrlgi2 nais; aCDniDdandD-as as regras do Classidsmo. OtelofDi uma des'­ sag pe~aS, representadaem tradu<;aode GDn<;alves deMagalh~es, a partir de 1837. Ede se crer que Machado a tehhavistD nop~CD., . do TeatroS;PedrD:deAlcantara nos ,fula!dOS@.DS 1850.JDaO Cae':'; tanD manteve ape<;a no. repert6riode ~ua companhiadramcitica ao Io.ngo. de decadas,-por setratar simplesHletitedo-priD.dpaI1?a~'; pel de sua carreira. Lo.gD, aencena<;.ao. do bielo deShakespearee de DU:gas tragedias,de sua auto.ria, em.1871~tinh<i urn significado impDrtante, apDntadQ pDrMachado: <~~akespeare.istasendD urna­ revela<;a9 par~muita gente'). Incll1sive para elemes.mD,podemDs acrescentar, lembrando. que1e~ uma pev-ateatral e ve-la em cena sao duas e:x}:ierienciasdiferentes. . Apesarda qualidade dos espetcic:lllos,"aafiuen'ciado' publico. naD fDidas maiDtes. rnt~lectuaiscomoSalvado~ de Mendo.n<;a e Francisco Otavianopublicaramartigos'em Jomais do. Rio de ra:­ neiro pal."a louvai a arte de. Ernesto.Rossie atrair esp~ctadores, A pedido'do.primei~o, MaChado feZUInaanilisecttidadosadainter'­ preta<;aD que 0 atDr deu ao prDtagonista da peya LufsXI, de Ca$i­ .mirDelavigne, e:m textD publitadono JornalAReforma, em 20 de~, ' " , '_ _ , ' , _' ":" _ ' ' , ' _ '. _ " • 1 .j.ulhD~ Charnou-D de "ilustre.tFagkD" e"inteli~ente ~olaborador» do dramaturgo,pois o,ao. fDram pDUCOS·QS momentDs em que a inventividadedo inte:qJretecomplementDu0 significado do textD· escrito.. D~ante da abrangenciaclDrepert6rio. jaapn~sentado e.a .. apresentat, observou sobre 0. atDr: "Nao tem.clima seu:perlencem- ' . -The todos osc1imas da terra. Estehaeasniao.sa Shakespeare e~' 'Corneille, ~ Alfieri e LDrd ByrDn: naDesqtieceDelavigne,riemGar­ rett;pemY.Uugo,nem os dois Pumas.(Ajustam-se-lhe nocDrpo
  • 7. MAC~ADb DE ASSIS E,SHAKESPEARE OU-BENTINHO VAI AO THAna ll} todas'as Nest:iduras. E na mesma noite Hamlete Kean. Fala toms as ifnguas: 0 amor, 0 cidme, oIemors~,a.duvida, a ambic;aa. Nao ternidade; ehoje Romeu,amanha LUlSXr:lO . . SepalurnladeMachado gostoude Rossinos vanospapeisque representou, cl1amando a atenlfao para a versatilidadedo'ator, 'cujo repert6rio ia dodassico ao romftntico, poroutro ficouma~ ravilliadocom 0 conjuntodas pec;asde Shakespeare.Pareda-1he~ antes4e assistin{o~ espetaculos, qu.ebastavasUi;llmaginac;aode lei';' torpani peI;ceber;.a grandezae abe1ezada obra do grande Raeta ingles. Aflnal,'ha:neia tanta"vitalidade prOpria".queseafigura des-_ necessario 0 "prestigio ao tablado". Ross.i,interpr.etando'os l1er6i,s. sliakespeariarlC;~, f~-lo mudar de opinHio: "Av;ida q4e aesses ca- . .racteres itno~ais. deu·anossa imaglnac;ao, sentimo;.la emcena quando ogenio prestlgioso doRossios interpreta eJraduz,.nao.s6 com alma, mas cominteligenda cdadora': Emms: a grandeza de . R.oSsj~ emborase tenhamariifestad~emtodos.os papas que'desem­ penhou, irripressionou~oquandopercebeuhaver entre Shakespea- . re e Qafor"uma~finidade inteleettiaJ, tao exdusiva eabsoluta,que o atorm~ncaseria rilmorna intimidiuie4e outiopoeta, eque, era' / esse a sua musa por excelencia,e as' suasdbras J a atmosfera mais ~ apropriada ao seu genio". '. '. ..... . .' . 'Machaddconfessa que consideraHamleta pec;atriais,profun4a de Shakespearee que v&-la em cena foi a realizas;ao de urnsOMo queconsideravadificil de concretizar~ A i:nierpreta~a:o de Rossi~ "naquele tipo eterno de.irresolu~o e.de duviaa'~ficara. gravadaem .sUani.enteparasempre. seAdelaideRistoriP o'haviaJmpressionado , • ~ .. 1 " 10 MaclJ.adode Assis. Doteatro: textos criti(:os, e e~criios dlversQs (org.IJ,oao'Robert6 . ,Faria}. Sao Paulo: PerspeCtiva, 20Q8, p. 523. . I ·n Em julhode 1869, agrande ;ttriztragicaitalianaAdelliide Ristoriapresentou-se no Rio de Janeiro c.om urn repert6rio que in~luia Pew ,omo Fedra, p,e Rllclne;Ma.ria· 'Stuart, de.Scbiller;e Mirra, de Vittorio Alfierl, entreoutras. Maehado e5lZreveu qUatro bel~ artigo~'sobre9 trabalho da atriz para0 Diario doRiadeJane;ro,que podemserlidos el11 Do. tcatro; ,teXtoscrlticds e escriwsdiversos (org;Jolio R.oberto·Faria). Sao Paulo, Pefspectiva:2008,pp.489,512. . . '.
  • 8. ---------------- rOAO ROBERTO FARIA116 , tanto, do!s anos. antes, como atriz tnigica, eis coI?o avalia as dife-' ) " ren<ras'entre ela eRossi: ((Se 0'genio deamjJos eigualrp.entepro:" fundo, 0 deRossi me parece mais'v1tsto. Alguns dirao, talvezqle, coriquantonao haja para nenhum deles fronteiras de eswla, a Ris~ tori parecia amar especialmenteaarte classica, ao passo qu~ 0 Rossi • tenfparticular afeto aarte romantica". " , ' Muito provavelmente aspe<;:asde Shakespearefizetam a dife­ ren<;:a. Rossi impressi9nou'a plateia brasileira como a~or que "sabe traduzir <. paixao de Romeu, os furores de Ote16, as angu.stias do Cid, os remor~os doMacbeth, que conhece em s~a todit a escala ,da alma human:a".'Erh 6utras palavras, asi~terpteta<;:oes de Rossi' ,'foram marcantes pela intensidade com qu~ efprimiu os'sentimep­ tos dos ,perso~agens que encarnou. Machad.o as aproximadoesti-' 10 romanti<;:o, opondo-as as de ffistori, certamenfe porque se ca­ ractetizavam pbImais vigor fisico, mais expressi~dade facial e uso , da voz com enfase'em contiastes agudos. Depeq~ehaestatura,nias Tobusto, RossiCCtinha uma face flexivel, Urn corpoeapaz,de mdvi­ mentos elaspcose ~estos expressivos, euma voz que alternava vo­ lume etom com facilidade. A natureza tempestrtosa e impreyisivel de suas paix6estorn6u-o,mereced'or do titulo de ator rop::tantico':12 ,Machado termina 0 texto exprimindo 0 desejo impossivel de' :ver Ristori, Rossie Salvini, juntos, nO,mesmo tablado, interpre­ tando vatiqs personagens! mas em pritneirolugar "Otelo, Ham­ let, rago, Cordelia,pesdemona, Lear, Shylock, todo, 0 Shakesp~a­ " " ree h f i m " ; , -"., " Cudosament~. nosso escritbr nao sf, manifestou sabre'os espe.: taculos dadosporSalvini no Rio-deJaneiro em setem,bro e outu­. . ~ , .-~' , I,a Dennis Kennedy (ed.») The OXford Encyclop§ilia'ofTheatr!! andPerfo,frl'lance:New • ' York:,The Oxford University·Pr.ess, 2003,1'. 1157. Na sequencia da cita~lio, o·estilode interpreta~o de Rossi econtraposto ao de Tommaso S~vini, classificadil c~nio"classi­ co)por ser "mais estudado". Tratacse dequestliocontroversa, pois os' critkos delingua inglesa do.secul0 XIX definiam Rossi:e Salvini Cl>mo interpretes realistas. Sobre 0 a:ssun~ 'to, po~e-se rer 0 'belolivro de Mru;vin Carlson, The It~ans SJia~earif:ins: Perf,<mnances _" by Riston, Sa/vini and Rossi ,in England andAmerica (Washington: Folgef'Books, 1985). .,' .- - - - - - - - -------------~- -' -~--~--~~--,-~--- ----­ ~
  • 9. . " .. MAClfADQ DE ASSIS ESHAKESPEARE6u.BE~,fTINHO VAI AO,TEATRO·. 117 bro do'mesmo ano de tS7L Mas ~. possive! que otenna visto'eIj1 ceria,pois se refere aele numteXtocurtode 17 dejU1ho'd~'188513 e numacromcadaGazetadeNotfcias de 3dejUnho de 1894:14 . 0 que parece frnPortarite enfarlzar eque aexperienciadever ,Shakespeare no pilCo{oisignificativamente mar.cante para,Macha- .. do. SeantesdeJs71ia0 Iia eO'adinj,rav.a,15 'aparti:r desse ano tor., fia-o um interlocutor mais constante,multiplitando errisilas cro- . 'nieas, conto~ e romanCesas cita~6es depe<;ase falas de personagens .. queguardanatnem6riq•Assirh, podemc;>s lembrarque jaem1872 ·ele publica 0 seu primeiro roman~> Res5urreifao,e.scrito para"por, ema~o'>0 pensamento de Shakespeare que aparece emMedidapar medida., citado no original na1'Advertenc:itLda primeirae<lic?o";' '. "Our.doubts are trait6rs,1 AndniaJeeuslosethegoodw.eoftmight win, lByfearingto attempt'~16., ...' . '.. • " . .' , . ' . '. ' . . - Algunsestudiosos daobra de Machado, como Hden CaJ-dw:ell, ·jaobserv~~eRessurrei¢o ttaz as marcasde Otelono dumentp ·Felix.Mas Sfnoslembrarmps de Sellcoinportamento em re1a<;aoa Livia,nao eapenas ocifuneque,atrapalhaoreIa~iqnamentbde ·ambos; Felix etambemincap~zde tomardecis6es e duvida 0 tem-:­ /potodo de quedeve se cas~ll:com Livia. Nessesentidoele lempra <;> que~achado afirma sobre Hamlet: "tipo etemo de irresolu~ao e deduvidi: Curiosa oU'eoinciden~en1ente, essamesna expressao e" utilizadapelo entico anonimo dojorilalOMosquito,que, emn1ai~ de l872, louvRos "earaeteres,verdadeiros" de Ressurreifao,subli­ nhandoque Machado:conseguiu '.<desenharcoin tra'tos-indeleveis l'MaclUtdode Assis.Do teatro: tt;;tos critit:ose escritos divmos, p. 57S: . 14 Ibidem, p, 638.·. . . . '.' . .." . .. ".IS Ern 30 de jUlh~ de 1869; POt ex:emplo, num'dos folhetins' en1 que comenta as interpreta/foes de Adelaide R,istoriLMacna,do afirmaestar de acordo COIn run estritorde sell tempo, sem nomea-Io, qllechamou Shakespeare'~com justiora., epara,hpntada humanidade; °maior de todos os bQmeJlS.~ . . . 16 Machad,04e A$sis. Ressurreifiio. Rio deJaneiro-Brasilia: Civiliza,.ao Brasileira-' cINL/Mll.C, 1977;p.61. Em portugues: "N,ossasduvidas sao·trildorasl .E n(jsfazem Perder 0 b~ que muit~vezes~pbderiamos bbter, I Por medQ de tental'", ..
  • 10. 118 JOAO ROBERTO FARIA o ripo da irresohi~O'e.dadl1vida na personagem do Dr. Fe1i:f".17 , as contempodne~s does<::ri1:or percebera:n:},o dialogo estabeied­ do tom S'hakespeare, toino se pO,de cOn1provarpe~aleitura deou­ tro artigo'l'ub!icado na SemanaBustrada, em que F~li:x ecaracte­ rizadocomo "um,misto de Werther. de Otelo" de Hamlet .e de. , . . . . Romeu".18 'Em 1.873 nossoeseritor damais uma prova deadmira~ao pela obra do poeta ingles: 0 Arquivo Contemportlneo eitampa sua tra­ du~odofamosd mon61ogo de Hamlet, "To be or not to,be;', que . sera tambem ~ titulo de um,conto de iS76', publicadono]orn'aZ ,dasFamilias. ' Elogios a Shakespeare er~fer~nciasasqaSprindpais pe~ e per­ sonagens passani a poyoaraprodu~ao'de Machado;HelenCald~ well afirma ter encorit~ado em sua obra "255refer~ndas d,itetas'a Shakespeare, induindo refer~nciasa vinle de sua~s pelj:as" Quero .ressaltar. a cr6nica de 26 de abril',de 1896.' na qual'Machado co­ menta urn telegquna vindode Londres, ei'nque seanUIiciavaq~e . ,"terminatam as festas de Shakespeare':C)escritor emenda 0 tele­ . ,.<grama afirmando:'"TermillC:lramas festas da almahumana". Eis 0 ~ que 0 seduz nos texios do escritor irigl~s:aforma como saotra,ta7' dos os sentirnentos uniyer~ais,os,senti!ll-enrosd(}tora~ao huma­ no. Eisso que garante perenidade a,uma ~bra litenlria e espedal­ mente a Shakespeare. Afin~)"um dia, quando ja'nao hOliver imperiobtitaniCo neIri'republicanorte-amerlcana;hareiaShakes­ peare; quandonao sefalar ingI~s~falar-se-a Shakesp.eire".20 ': ( . Vale lem1Jrar quedois anosantes de ver Ernesto Rossi emcena, Machadoja havia fica~o, bastante impressionadoc:;omocar~ter universal dos sentimentos huinanospresentesmlstragedtas ence­ 17 C£HtliodeSetxaSGuit:naraes.Osleitores.deMtUhado deAssis:0 romancemadiadiano eopublic(1de literatura no skulo 19. Sao Paulo:N~-Edusp,2004. p.198. ' . 18 Ibidem.p. 313. . 19 Helen CaldweU. 0 Qt(11o brasileir(1 de Machado de Assis;p. 21). :" Machado de Assis. Do teatro:teitoscrlti9'Se es'C'rit(ls diver5i1s,p.624., - - . '.,
  • 11. ,MACHADO DE ASSIS E SHAKESPEARE OU BENTINHO VAl AO TEATRO 119 nadas por Adelaide llistOIL~No segIndo dosquatro artigos' que , 'escreveusobre asinterpretas:oes da atriz; e:rnjll1hode 1869; ele afir- -,­ rna: ''Atragedia eUmaforma dearte, naoJoda a arte, eqUalquer ­ quesejaa forma, ossentimentoshumanosterao ligualexpressao, se forem verdadeirQs~'Podemvariar os vas<)s;a essenciaea meslna. A casa,ca substituiu adainide, masoc~ras:aohuIilaho nao-var.iou. Oque se deveestudaremllistori ea parte univer~ dos sentimen-_ ,tos".21 E~9 .escrever sobre Fedra, acrescenta:'''ds homens cujos :olhos se urnedeciam di~te daluta deJCimena,.doCiume deHer- , ,mione, da paixao e dosremorsQs de Fedra, eram oSI1lesmissimos , _de hoj7; ese Qgosto, sea escola,se ascondis:oesdo teatro,mllda­ -ramlnao mudou oc6ras:ao human?; os'sentirrientospodem,tai­ vez.,mudard¢ aspecto, mas aessen-da ea:mesma':zz ­ ',Nao poracasoena virada d~ d~cada de-1860paraa. de 1~.70 que flossoesqjtor cOme,? a sepreocuparcOmas lin1itas:6es da li­ "teratura.brasileira, presa airi<4aonacionalismo romantico. Res- , 5urreifiio eja umateptativa desuperar a corlQcal,comoertredo , d~ntrado.na amllise de doiscaracteres.Em 1873, no conheCidoar­ tigo"i'Jotkia.daatualliteratura brasileira-',.ihstintodenaciona- _' lidade'~- Machadocita Shakespeare, entre outros'autores, p~ra ,apontar urn cilplinho nov() para os escfitoresbd.sileiros: 0 do ro­ mance de cunho psico16gico.-,siri6nimod~1iteratura de ~cance ' .uilivetsal-',npqualo ohjetoprip.cipal de estudo~a:hlmahutna'­ na~ A s~u ver, era'preCiso.ir alemdos'''toques dosenmnento': dos "quadros da natureza" ed~r"pintura'doscosturi1es" do romanceto- ' mantico, interiorizahdo ~sentime~to nacional ~colocando empri- . -rn.eiro plano 0que eledenomina"anaIisede paixoes e caracteres",-' Esse e~a dcaminho para utna literatuz:aaQmesmo tempQnacio:­ ;~al euniversal. Shakesp~are nao era simultaIeamertte"g~nio-uni­ versa}" e"poeta essenciahnehteingles"?J~:nao tinhamos,urn born 21 Ibiderg.,p. 499., ," Ibidem, pp.503-504;
  • 12. - .~ JOAOROBERTOFARIA120 exeIllplo de alcance nniversatnapoesia de :Gon~a1ves Dias".cujos ; versospertencem,"peloassunto ~ toda amaiighumanidade, cujas aspira~oes, entusiasmo; fraquezas e dores geralrrientecantarh?"23'. . . Que Ma.chado con§eguiu reali21ar 0 seuintento de ser escritor brasileiro~ universal aomesIlla tempo, naose discute: seu~roman­ ces e contosdamaturidade atestam ofatq. Alem disso,lembre,.se a riqu~za dQd~bate em tornode sua ~bia~emque sepercebe~no passado e no preS~ilte, qma forte polariza~ao:de.urn l~do, ha es.., tudiosos.que.coloc'am'em priIneiro plano ocnticodasociedad.e patriarcale escravocrata;deoutr~",es.tudiosQSque veem noe~cri­ , tor, antes de tudo, 0 analista daalma hlitnana, opsic610go. Sem ' entrar no merito dos argUm~ntosdas'duas correntes de opiniaQ, eUJllria.que pelo menos no momenta ~mqlJe escreve o"IIistinto de nacionalidade'~Machado esta, mais pieacupado coma supera':: , ~~o doestreito nacionalismo r01l1anticoainda ~gente: essa e a t6-, " nita doartigo; e precisoir alemdCl "rorlocal': No mesmoano de .' .1873, ,omo que enfatizando suapreocupaqao COIllO alcance uni-, versaJ. ,da literatura,.eieafirmapelab(}cade urn personagem do ' 'conto':Tempo decrise",: "Dizem de Shakespeare que,se a humani­ dade p~recesse,ele s6 poderiarecompo~Ia, pois que nao.deixou in:­ tacta timafibra sequer docora)ao hum<lllo";24 ... , Fas:amos urn bre;e paT~Iiteseparalerhbrar que,el1l1875;ins­ pirado peIo mdianisrri6,Machado publica.o1ivrodepoemas Ame­ ricanas. Oqueparece serumat~caida rom.mtican<).Uterat.uraque apelapara;a,"cor local" e, na verdade, umatentativadeconciliar 0 nacional e 0 ufliversal,exat~mente como.sugeridono artigo "Ins­ tint(jdenacionfllidade':·N~'"Aclverte~Cia".aI'~hneira.ecli'rlio, eie retoma inclusive algumas expressoespara.explicar que 0 indianis­ mo.e urn assu:nfocornooutroqualqll~re que~'tudo per:tencea 23 M~chadode Assis:"Instinto d~na<;ionalidade': In: Crltica literaria: Riode JlI1eiro: .. Jackson~ 1?51, p. 138.'. .. . . . . . . . . . ' . ~4 Macliado deAssls.Contos avuls'os(org. epref'3.Qi6 de R. M<igalliaesJUnior). Rio de Janeiro: Civiliza~o Brasileira, 1956, p. 236. ., ' . '.. ."'
  • 13. , MACHAPO DE ASSIS E SHAKESPEARE OUBENTINHO VAl AO TEATRO '121 - ~ " i.nven¥ao,poetica, uma vez que tiagaoscaracteresdo'belo'';25 'Mas 0' quemais'impressionanesse texto € a ideiade que os, aspectos nacionais nospoemas sao.acess6rios e1nferiores em, J::ela¢ao,aos -Universais. H~,um evidente'criterio de valor hes~as palaVr<ls:"[, '..J , ocapacete de Ajaxemais classiCo epolido que 0 canitar 'de' Ita,.. jUba; .asandaliade Calipso-eumprimoTde1irte que.nao achamoS na planta nUll deLindoia:Estae)pon~m, a parte inferiorda poe­ 'sia,aparte acess6ria. 0. essencialeaalmadofiomem':.Comen.­ tando essa passagem, Jdse Verfssimo opserva que af esta slntetiza­ da:a estetica d,e Machado,escritoravessoao pitoresco e aos aspec­ tosexteriores.dascois~s: "Poetaou prosad~r, ele naQ se preoctlpa , senao daalma humana[...].po~ costUJIles, figuras, man4as e fei¥oes domdio eda suavida que poe empoetn~protura sobre; 'tuda descobrir.,a essencia s9b ase~erioridades ~x6ticas, e por ela revelar-lhe a alma.':26 ,Voltando a Sh~espeare'~podemo~·diterqtie Machado e!],c~n.. trou em suaobraum modelo pata estudara:alma h1..unana,pm m~stre quesabiapintaraspaixoes num myel de densidade psicol6­ gic~ que ateentaodesconheda.Jmpossiyet'deixar delembraia ex- " , press~odeHaroldBlo,om,segundo ~ qual"Shakespeare "inventou °human()~ istoe, incutiu em sellS pers()nagens uma dimens~o'inter~ :na que nos permiteem;ergarem~uaspe~"ainstaura~o'daperso~ ( n~dadeConforme hojea cori.hecemos'~27 Comobem'obsetvalose , LuizPassos,.asrefer~~ci~s de Machado as ob.ras dQ esq:itor ingles, nab sao "nem esporcidicas,nem ornamentak Elas servemao prop6sito,de aprofundar,as crises e'reve1a~oes que seusprotago­ ,nistas teniacerca de si': Ne,sse se:rttido, acrescente-se;aillda de acor­ do com 0 est¥dioso, que tais referencias servemaumproP?sito , Machado de Assis" Ameriq<ntij. Rio de lan~iro; Garnier, 1875, p: VI. ,26IoseVenssimp. JiiStoriada literatura~rasileira; 5.",ed, Rio de Janoiro;JoseOlympio, 1969,p.Z83, ' '" /' ' , , ' " ,.," , ,27 Harold Bloom. Sha~eaTeya inverrfiio dohumano, Trad. Jose Rob!itp. O'Shea.. Rio de Janeir~: ObjetiV'a,2001, p . 2 9 . ' ,
  • 14. I 122 .. fundamental: ode «buscar novos.modosde gir~tirprofundida­ depsicol6giCa aosprotagonistas':28 . ' . , . Machado s~biaque nao teria sentido 'escrever'pe~as teatrais a maneira do dramaturgo irigIes.Seu tempopema. apoesiaeptincipal-: mente 0 romance,o conto, nao o.drama..Erapreciso transportai para as fonnas naiTativas amesniaJensidadeha cOllstru~aodos p~r­ sdnagens que viiI naspe~as,representadasem 187q,.Como .faze~ . isso? Machadonao conseguiude imediato resolver optoblema que s¢pr()pos. Nos romantesdos anos lSZOeIecontinua a malaga]," com ShakespeMe'~Otelo ganhacitawo emAmao'ealuvae Heiena; Mac­ bethemlaid Garcia-, massemaindaenconti'araforma adequada asnovas preocupas:oes. Em 1878, porem, ano emqueescreveu'e'pu- • . . blicou laid Garcia,'Machado,parece sabeihem 0. qllequer, como ~e'pe'rcebe ~m sua Crlticaa 0 Primo Rasflio. A certa altura, ele la­ menta que no romance·deE~a deQueir6s se de «i1substitui~ao do :principal-pelo ~cess6rio,a a~ao transplaD.tadado~ ca,raCteres e dos sentiineritos pant 0 incidente, para 0 fortuito'~29'gextraviodas cartas, poreiemplo, que da podel' adiadaJuliana, eprova da fra- , queza do romance,observa Macha¢io, quemais utila. vet evoca Shakespeare-.,e particularmenteOtelq,-.'.para a defesa dalitel'~ . .'tura,entenmda,comoanalise de.paiXoes ecaracteres:"Que oSr.Eya ,de q1,leit6s podia lan~ar Il1aO do ,enraviodasc3,rtas, nao'sereieu que 0 conteste; eraseu direito. No modo deexeicere queacrftica lhe toma q:ltlt~s. 0 len~o de Desdemolla tern lirgaparte J;).a sua morte; mas aalIna ciosa~ ardente de Otelo;a perfidiadeIago e)f . ino~encia ele Desdemona,'eisos ele'mehto&epriilcipaisda a~o.'0 drama existe,ponjue esta nos c'aiactel'es, naspmoes, nasil¥a~o moraldos perscinag~ns: 0 acess6rionao domina 0 absolut6':30" . Ebt ~utras'pahivras, as restri~oes feitas ~E(j:ade'Queit6sdei-' . xam transparecer odesaflo que'Machado coloca parasi mesrno: ' . ". . . •.- . . . . - , ' ." ,28 Jose Luiz Passos. Machado ae Assisi 0 rom,ance compessoas~ pp. 222,224, .. ~ Machado de Assis. Crlticalitcmi.ria; p. 178. " lQIbi~em,p:178. ... _ _ _~~ •__~.J_~
  • 15. - , .. ' . ." MACHADO D~ ASSIS E SHAKESPEAlE (JUBENTINHO VAiAO TEATRO 123 , comofaier l.tri:J. romance interessante"de alcance universal, em que em'primeiro plano sejamcoloc.ados os personagens emsuadimen-. s~o interna, nao 0 enredp? Jasabetnos queo.resultadodeRe$sur­ reifiio e modesto e~ue nosromanc;es seguinteso enred0aindae ­ .. doininante. Shakespeare lhe apontarao 'qUninho pataaprofundar oestudo do corac;ao humano, mas nao amelhor forma para fazer 'isso~ A 'soluc;au Machado aencontroll apertasquando entrou,erp. 'corit:1to com Q romance ingles dotinal do sec1,llo )eVIl! ¢percebeu apotencialidade de'umaforma denarrar que se a~a~tava em tlIdo dil oQjetividade donarrador. do romance naturalistaentao' em voga. Paulo Sergio Remanet definiu-a como "fprma shandiana", ' . I levarido em conia a dfvida de M~chadopara ,com 0 romance Tristram Shandy, deSterne. Aseu ver, 0 pr6prioMachado concei~ tuaessa forma, caracterizada pelos segililltes aspectos:" I) pei~ pre­ 'senc;a constante e caprlchosado narra~or, 4ustrada enfaticamente pelo ptonome de,primeira pessoa: 'Eu, Bras Cubas't2).ppruma t~cnicade composi~ab difu,sa eJivre, isto~~ 4igressiva, fragmenta­ .ria, ]lao-discursiva;'3) pela:interpenetrac;ao do riso ep,a,tnelanco­ Jia; e 4) pela subjetiva93,O radical.do tempo (os paradoxos dacf:O- . , nologia)e do espac;o(as viagens)'~31, Ejneg~vel queessas caractetisticas formaisse tepet€.;m nos con­ tos e/romallces damaturidade,de Machado. Aoniesmo tempo,. avollimani-se as suges{oes colhidas em'Shakespeare, como demons:.. tra 0 jaieferido estudo de Jose LwzPassos, em.cuj9.apendice estao·. arroladasa~ citac;oes e alusoes ao poeta ingles em toda a oora ma­ .' chadiana. o que se' nota eque tais dtac;oes e-aIusoes tornam-se,, conslderavehpente mais frequentes a partir de l871. ' Volto;.pols,itO meu·ponto de p~tida.Quem crer qu,e a ~~ntri~ buic;ao doatorErnesto'Rossinesse processo de assimilac;aodaobra ' shakespeariana nao podeser esquecida; Afinal,suas interpteta~5es . . ' ' ,..' " .'­ 31 Paulo Sergio Rouanet! Tempoe eSf&lQ na furmashandiana; Sterne eMachadode Assk.Estudos:Avans:ados:, maio-agosto d~ 2004, n." 5tp.'336, ..
  • 16. .124 ' JOA9 ROBERTO PAiri hao se apagaramjamais na memoria' de Ma,chado, q~e em varia~ " . ~casioeslemb~ou~sedeias.No oonto"Curta historia':de1886,para' dar urn born exernplo, () enn!do gfrJI emtotllo de umamocinha ~ue ~ encanta com ointeqlreteitalianoem Romeu ejulietq. Dizq llarrador:,"Aleitoraaindahci de lembrar-se doRa;si~o ator Rossi~, que aquinas deu tantas obras-primas do teateo ingles, frances e, italiano.Eraum ho~¢nzarrao, que' uma.noite era terri~el como Qtelo,eutralloitemeigocomo Romeu'~32Emcr6nicade 3 de junho de 1894,contan<¥>uID. sonhoque tevedepoisdeler.a cQphecida cenado cemiterio,no qu~to at~ deHatnlet,oautorpergunta<los leitoresse aiD.da,se lembram"de Rossi edeSalvini':33 AlOde feverei­ rode'1895, cOl1lentando~espectIla~oesqosbancos~ mai~uill.aYez Rossi eHamletverriamente do,cronist'a: "Estasemanalembret-:me ",do velba,problema lnsohivel. Com osolhos,,-',- q.aonos camarotes 'daquarta ordem, ao fundo~ e a p~naF~inha4_o ponto, como Q Rossi,·mas pensativamente:postosno-chao, repeti 0 moIi61ogo de Hanilet, perguntandoamimInesmoo.que'egue nasceuprhneiro'l seabaixado.cambio,seoboato'~34 Em I4,de junhodei:S96, cori1en~ , tando alguns:atos praticados na alfandega;sem saber se eram urn crime ounio, 0cronista observa:"~cco itproblemaj diriaellf~ti.ca­ mente 0 finadO Rossi'~35 0 ator italiano havia falecido dez dias antes~ Eporessa epoca que Machadocome~a a'escrever Dpm'Cas.- . murro-. Provadisso ~a publica~a9 dot~intitulado "Um.agre­ gado - (capitulQ deumlivro irieditor",no jomalARep4blica em '15·de novembrode'1896: As referenciasa ErnestoRossi em croni­ cas de 1894,1895 e 1896saodemonstra~oesda:ras'dequeMa~ha­ do-ainda guardava namem6ria aSinletpreta~pesdoexttaordina­ . rio ator itiliano.,Isso Ilosconvida a arrjscar Jima hipotese para ' ,", . . ' . .,,- . ­ , 3:! Machadoc;le AS$is.;;ontqs'fluminen~~ [l.llio de Janeiro: JackSo~,r951, p.395. "Macl)adodeAssis. Do teatro: textos crlticose tsmtosdiversfis, p.638; , . 34 Machado d,e,Assis. A Seman(!, 2/volume '(1894-1895). Riq deJaneirol J~ql)., 1951,pp.309-31Q. " " ' , ", . 35 IbJdem;-~'volume (1895-1900). Rio de Janeiro:JacKson, 1951, p. 205. ' , .
  • 17. MACHADO DE ASSIS E SHAKESPEAREOUBENTii'l"HO VAl AO TEATRO . '125 " · expiica:t:~'ida de::S-entirihoao teatto:,nao se trata apenas deesta'­ belec.er 0 dialogointertextual eomotelo, mas de rememoraruma ·'eJi:periencia de espectador quefoidecisiva para 0 escfhof. Ouseja, o Otelo que~entinho veno pako"pelo,solliOs.deMachag6,e ode ErhestoRossi,'0 personagemdeDom Ca$1]'Iurro nao mendona Q '. nome do atdr.Mas'a infoimayao, no eapitulo.C:XXXI, de qUe ~co- · meyavaoanode 1872", nos da uma pistaextraordinaria. Como ·nesse anonaohouve nenhuma repi:~sentayao de Otelo,no Rio de • ·Janeiro ~ para d:Jhfirmafisso, basta passa!as a1hos nos aUundos .dosjornais e lembrar que apenas artista.s estrangeuosencenayam Sh~speaie na.epoca -,e'muitoprovavel qu.eo escritor tenha sido traidop~lamemoria. ¥as~errou porum ana apenas, pais, como sabem6s,Joi em 1871 que Rossi iriterpretouos papeiS shakes­ peariahos para fplateiaflurninens~. ." ,. ',' . 0 personagen1-narradordo romancetefere-~ a"fUriado mou- . . ro" eaost(aplaus<?sfreneticos do pul;ll1co"na c.enadamortedeDes":' demona. Nos Jomros de,1871,4a varias. descriyoes doejltusiasmo .daplateia-etn urn (Ieles apareceare mes:rnop adjeti~o "freneti~ ·co" -·e men~6es avigotosa interpretayao de Rossi, que empres- . toti .10 pt!rsonagem' um~ trucu.lencia eurn~selvageri~q'4edeixa-, .,' ram ps espec~ad6res hnpressionados:'As i1ustta,~oes).em jomais.. cOmo VidqFluminf!nse;lembravam aosleitores'algu:m.as cenasan-' .' ·to16gicas que llaviam vistono palco, entredas amortedeDesde- , ·mona~ a m~rte de,Julieta e acenado ~emiterio~m 1lamlet:Uma " d~!as) flgurandooembate entre Otelo'elago"noterceiroato de ' Otelo, trazia,°deseriho de.cl,oisfelinos 'emilutae'~segumtelegen­ ··da:."Os'espectadores,vendo que nao haviaali grade de 'ferto,que' separasse a'Cenada piateia)treriU!niII)'coinocani~()S'~360 jornaIis,: .' taFerreiraae A,raujo, emartigo public~do ern/O Guarimi,di'!' 21" de:mai6~assimdescreveo desfechc,do'quinto 'lto,deOtcio: ., ' ' ' . ; , . ' ' -' . 56 DanieIaRhfuow. Visifts deOtelo nacena enaliteratura dmm&tica n~1JaI4ostrow XIX, vot..2. D,outonuio emLi~ratura Brasileira. SioPaulo: Faculdadedellilosofia. Let.ras e Ciendas Humanas. llSP, 2007. p; 296. . .J . / .
  • 18. ( 126 TOAo ROBERTO FARIA .1 Depois,o Ultimo heijo.de amanteidepois odespertar de vitima, aacusas;ao de jUizque etambem algoz, osprotestos de . . inoc~ncia da acusadaaumeQtando ac61erado esppso; qiie·se julga ultrajado;'c61eraque vai crescendo, cresceIldo, ale irrom­ per eingritos fer6zes,·que se misturarn ao esteqor da·agoni­ mnte. EhorriveB F'az-se em todoo teatro umsil~ncio fundo,e' quando aparece de novo Otela, fugindo horrori~adoaoespe: . taculo do pr6prio crime, muitos olhos se desviamdafera,que arquejaaindacom asfadigasda,.lut~.37 . E·de secrer"que Bentinhotenl).aaplaudido essas cenasque o· .'. &eram pensarno destinoqueCapitu mereda.Naolhepassou.pela .. cabelT'l que aesp~sapodia ~er jnocente,cornoDesdemona)eque ..sua mortepbderiaser tun erro. A"<) contrario, a,certezada,culpa o.~ . "leyou aconsideiar que Uln trave~seiro·naO bastava' pa:t:a·e1a::· "era predsosapgue eEogo, urn fogo. ihtenso evasto, quea cOfisumisse detodo,e~areduzis~ea PQ"(cal" CXXXV). Semcoragem para agir como qtelo, Bentinho,motivadopelo espePkulo teatral,lanr;amao nao daviolenciafisica, mas.de u.n:latruculenciade cunhopsicoI6gi­ ~o emoral: el~ expulsa Capitude sriavida, ex.il@do-a ria.Europa. .a diaIQgo de Machado comShaJ<espeare, eII)DomCasn;t1Jrro, pode, portanto,.ter sidoestimuiadopelalembrans;a da exuberan­ te interptetas;aoqueRossideu a Oteio. Aexperienciacomo espec- . .. . tadorfezo escritor·lei ei°eIer Shakespeare/ateo fini dosseus dias, .. Podemo; rnesmoafirmar que 0 modopelo qualMachado enietga . osethumano ea.vida social tern tudo ay~tcQm ~ escritoringies, . com quem ele apren4eu que "0 mundo inteii'o eumpalco'e todQs oshomens eniulheressaomeram~nte at<:>tes» (Asrou L~keJt, 11, vii). Ser e parecer, cl.ialetka fundamental naobra de Machado, e, no fUn<fo, a dialetica entre sere reptesentar, ~ntrerostoe masca-' fa, entr.e,autenticidade e dissimulas:ao. '31 DanielaRhinow:ViWes tit otelo na emil e~litetatur:~dramaticanllCtonaZdosedtto . XIXivo1.2, ppo 373-374, . . , , ..