2. “Todo texto se constrói como um mosaico de
citações, todo texto é absorção e transformação
de um outro texto”
Julia Kristeva
3. Dicionário Houaiss
INTERTEXTUALIDADE
n substantivo feminino
Rubrica: literatura.
superposição de um texto literário a outro
1. influência de um texto sobre outro que o toma como modelo ou
ponto de partida, e que gera a atualização do texto citado
2. utilização de uma multiplicidade de textos ou de partes de textos
preexistentes de um ou mais autores, de que resulta a elaboração
de um novo texto literário
3. em determinado texto de um autor, utilização de referências ou
partes de obras anteriores deste mesmo autor
4. Meus oito anos - Casimiro de Abreu
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
(...)
5. Meus oito anos - Oswald de Andrade
Oh! Que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais (...)
10. Tipos de intertextualidade
Epígrafe
Citação
Paráfrase
Paródia
Pastiche
Referência ou alusão
Intratextualidade
11. Referência ou alusão
Procedimento mais pontual, a alusão ou
referência nada mais é do que a leve menção
ao título de outro texto, a um autor, a um
personagem etc.; e não uma transcrição de
uma passagem do texto em si.
12. — Vós sois a Penélope da nossa república,
disse ele ao terminar; tendes a mesma
castidade, paciência e talentos. Refazei o saco,
amigas minhas, refazei o saco, até que Ulisses,
cansado de dar às pernas, venha tomar entre
nós o lugar que lhe cabe. Ulisses é a
Sapiência.
(fragmento do conto “A sereníssima república”,
de Machado de Assis)
13. O romance que marca o início do Realismo se
chama Madame Bovary, de Gustave Flaubert, e foi
publicado em 1857. O Naturalismo, por sua vez,
ganhou expressão maior com a publicação das
obras de Émile Zola, dentre as quais se destacam
Thérèse Raquin (1867), O romance experimental
(1880) e Germinal (1885). Já o Parnasianismo está
ligado à publicação de antologias surgidas a partir
de 1866 com o título de Le Parnasse Contemporain,
que traziam poemas de Lecomte de Lisle, Banville e
Gautier.
autor: Teixeira
14. Citação
Citação: trata-se da retomada explícita de
um fragmento de texto no corpo de outro
texto. Embora na literatura a citação possa
aparecer sem a utilização de marcadores
gráficos; em textos dissertativos ou ensaios,
nos quais ela é comum, o uso de aspas é
necessário, para que fique claro o “pedido de
licença” para a inserção de palavras de outro
autor, e assim evite-se o “plágio” (roubo
textual).
15. Exemplo de citação
Roland Barthes certa vez disse que “todo
texto é um intertexto; outros textos estão
presentes nele, em diversos níveis, sob
formas mais ou menos reconhecíveis”.
16. O pesquisador M. Cavalcanti Proença registra uma frase
que virá reproduzida em quase todos os trabalhos
posteriores sobre o escritor Aníbal Machado:
A narrativa de Aníbal Machado se
desenvolve em terreno fronteiriço, ora pisando
chão de realidade, ora pairando nas nuvens do
imaginário, entre sonho e vigília, entre espírito e
matéria, verdade e mentira, relatório e ficção.
Outro crítico que merece citação é Raul Antelo que, em
Literatura em Revista (1984), afirma: “...o duplo de Aníbal
Machado está diretamente relacionado à exploração
surrealista do inconsciente, à cultura e à modernidade”.
17. Epígrafe
Epígrafe: do grego ‘epi’ (em posição
superior) e ‘graphé’ (escrita), epígrafe é uma
espécie de citação que aparece antes de um
texto, introduzindo-o e antecipando o que
nele será apresentado.
é uma citação entre o título e o texto.
18. MODERNISMO
“Tupy, or not tupy, that is the question”
Oswald de Andrade – Manifesto Antropófago
As vanguardas europeias, como dissemos, tiveram grande importância
para o nosso Modernismo, que também se nutriu das artes negra e ameríndia.
É preciso lembrar que não há uma data precisa para o “fim” do Pré-Modernismo
e que algumas obras do Parnasianismo e do Simbolismo ainda aparecem até
meados de 1920. Quando a Semana de Arte Moderna ocorre, os leitores da
época ainda estavam afeitos à poesia parnasiana. No contexto histórico, no
entanto, fortes mudanças ocorriam. A Primeira Guerra Mundial findava em
1918. São Paulo, que em 1900 contava com quase 240 mil habitantes, contava
com quase 580 mil habitantes em 1920.
Marcos Teixeira
19. Epígrafe
Conheces o país onde florescem as laranjeiras?
Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir
20. Paráfrase
A paráfrase é a recuperação de um texto por
outro, mantendo-se os efeitos de sentido do
texto “modelo”, embora a expressão seja
alterada. Ou seja, trata-se de dar
continuidade às ideias de um texto através
de outras palavras.
21. Cidadezinha qualquer
Carlos Drummond de Andrade
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus. texto 01
22. Texto 02 – paráfrase do anterior
No poema “Cidadezinha qualquer”, de Carlos
Drummond de Andrade, encontramos a vida do
interior relatada em versos. Na primeira estrofe
há uma referência ao ambiente interiorano,
quase rural. Sabemos então que há casas
entre bananeiras e mulheres entre laranjeiras.
As palavras pomar, amor e cantar sugerem o
tipo de ocupação ou distração que as pessoas
ali possuem...
texto 02
23. Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
Carlos Drummond de Andrade
“Europa, França e Bahia”.
24. Paródia
Paródia: ao contrário da paráfrase, em que
há uma relação de continuidade, a paródia
estabelece uma ruptura com o sentido do
texto utilizado como “base”. Normalmente,
esse procedimento acarreta um tom crítico e
irônico.
25. Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza. (...)
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas são mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Murilo Mendes
Gaturamo: uma ave
26. Jogos Florais I
Antonio Carlos de Brito
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
27. Pastiche
Pastiche: muito frequente na literatura
contemporânea, o pastiche não é a
apropriação das ideias ou palavras de outro
texto, mas sim uma espécie de “imitação” do
estilo de um autor, de uma época, de um
gênero.
28. 1. — Então Noé disse a seus filhos Jafé, Sem e Cam: —
"Vamos sair da arca, segundo a vontade do Senhor, nós, e
nossas mulheres, e todos os animais. A arca tem de parar no
cabeço de uma montanha; desceremos a ela.
2. — "Porque o Senhor cumpriu a sua promessa, quando me
disse: Resolvi dar cabo de toda a carne; o mal domina a terra,
quero fazer perecer os homens. Faze uma arca de madeira;
entra nela tu, tua mulher e teus filhos.
3. — "E as mulheres de teus filhos, e um casal de todos os
animais.
4. — "Agora, pois, se cumpriu a promessa do Senhor. e todos
os homens pereceram, e fecharam-se as cataratas dó céu;
tornaremos a descer à terra, e a viver no seio da paz e da
concórdia."
5. — Isto disse Noé, e os filhos de Noé muito se alegraram de
ouvir as palavras de seu pai; e Noé os deixou sós, retirando-se
a uma das câmaras da arca.
Machado de Assis
30. — Já leram Diva?
Respondeu um silêncio cheio de surpresa. Ninguém
tinha notícia do livro, nem supunham que valesse a pena
de gastar o tempo com essas cousas.
— É um tipo fantástico, impossível! sentenciou o
crítico.
Acrescentou ele ainda algumas cousas acerca do
romance, cujo estilo censurou de incorreto, cheio de
galicismos, e crivado de erros de gramática. O desenlace
especialmente provocou acres censuras.
José de Alencar – Senhora.