O documento analisa a obra "Lavoura Arcaica" de Raduan Nassar, abordando sua contextualização histórica e literária. A narrativa é apresentada sob a perspectiva do protagonista André e descrita como um fluxo contínuo sem parágrafos. Também são discutidas as categorias da narrativa proposta por Tzvetan Todorov e como elas se aplicam à obra, incluindo os níveis da história e discurso.
Às margens do Negro: ruínas da memória e do narrar em Órfãos do EldoradoAdams Almeida Lopes
O presente trabalho tem como objeto de estudo o livro Órfãos do Eldorado (2008), do escritor manauara Milton Hatoum. Temos como caminho de análise duas abordagens principais: o estudo sobre a posição do narrador e a diluição dos gêneros romance e novela no interior da obra. O primeiro capítulo traz um sobrevoo sobre os gêneros literários, mais singularmente a novela e o romance, a fim de abrir caminhos para uma análise sobre a diluição destes gêneros na composição da obra. No capítulo dois, investigamos a presença do mito e a questão da experiência do narrar. No terceiro e ultimo capítulo, investigamos três redes construtivas do narrar: a memória, a identidade e a questão da ruína. A pesquisa pretendeu esclarecer de que modo se dá a diluição e a contaminação dos gêneros novela e romance, por meio da construção da temática da ruína.
Palavras-chaves: Milton Hatoum, Órfãos do Eldorado, gêneros literários, ruína, narrador, memória, literatura brasileira.
Às margens do Negro: ruínas da memória e do narrar em Órfãos do EldoradoAdams Almeida Lopes
O presente trabalho tem como objeto de estudo o livro Órfãos do Eldorado (2008), do escritor manauara Milton Hatoum. Temos como caminho de análise duas abordagens principais: o estudo sobre a posição do narrador e a diluição dos gêneros romance e novela no interior da obra. O primeiro capítulo traz um sobrevoo sobre os gêneros literários, mais singularmente a novela e o romance, a fim de abrir caminhos para uma análise sobre a diluição destes gêneros na composição da obra. No capítulo dois, investigamos a presença do mito e a questão da experiência do narrar. No terceiro e ultimo capítulo, investigamos três redes construtivas do narrar: a memória, a identidade e a questão da ruína. A pesquisa pretendeu esclarecer de que modo se dá a diluição e a contaminação dos gêneros novela e romance, por meio da construção da temática da ruína.
Palavras-chaves: Milton Hatoum, Órfãos do Eldorado, gêneros literários, ruína, narrador, memória, literatura brasileira.
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Caderno de Resumos XVIII ENPFil UFU, IX EPGFil UFU E VII EPFEM.pdfenpfilosofiaufu
Caderno de Resumos XVIII Encontro de Pesquisa em Filosofia da UFU, IX Encontro de Pós-Graduação em Filosofia da UFU e VII Encontro de Pesquisa em Filosofia no Ensino Médio
2. Raduan Nassar de origem libanesa, nasceu em 1935 na cidade de Pindorama, interior de São Paulo. Em 1970, Raduan escreve a primeira versão da novela Um copo de cólera e os contos O ventre seco e Hoje de madrugada . Lavoura arcaica , só viria a ser finalizada em 1974, sendo mais tarde publicado em outras línguas. O livro ganha em 1976, o prêmio Coelho Neto para romance, da Academia Brasileira de Letras, e o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (na categoria de Revelação de Autor) e Menção Honrosa e também Revelação de Autor da Associação Paulista de Críticos de Arte — APCA. Em 1997 foi publicada a obra Menina a caminho , a qual reúne seus contos dos anos 60 e 70.
3. Era a época da crise do campo, da explosão do êxodo rural. A vida rural passava a ter uma visão deteriorada pela sociedade progressista. A ordem do crescimento do país exigia uma vida mais “urbana”, corrente na década de 70 e focalizando o chamado “fim do mundo imigrante”. Famílias de imigrantes eram dominantes na zona rural dos estados brasileiros, a principal mão-de-obra e ao mesmo tempo os maiores proprietários de terras produtivas durante o auge da atividade. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
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5. A narrativa nos é lançada através dos olhos de André, narrador/protagonista da história que nos conta de forma peculiar, sua vida, suas amarguras, seus anseios e dúvidas todas guardadas em segredo pela ética e moral imposta pela família, religião, cultura e tradição. As páginas de Lavoura Arcaica são para serem lidas continuamente; não há parágrafos, poucos senão raros pontos finais. DETALHES DA NARRATIVA
7. Tzvetan Todorov (Sófia, 1939) é um filósofo e linguista búlgaro radicado na França desde 1963. É um dos grandes teóricos do Estruturalismo. Publicou um número considerável de obras na área de pesquisa linguística e teoria literária.
8. Categorias da Narrativa Todorov propõe distinguir preliminarmente duas noções: a) sentido = função de um elemento dentro da obra, sua possibilidade de ligar-se a outros elementos da mesma obra ou com a obra inteira; b) interpretação = multiplicidade de leituras possíveis, baseadas no olhar do crítico ou do leitor. Não é o mais importante, porque vem de fora da obra.
9. Categorias da Narrativa Os formalistas russos isolaram, como aspectos da obra literária a noção de: Fábula = o que efetivamente ocorreu Assunto = trama. E. Benveniste. (Estruturalista Francês), introduziu os termos "história" e "discurso"
10. Tipos principais de paralelismo: 1º) ligado aos fios que relacionam as grandes unidades da obra e possibilitam seu sentido total; 2º) relacionado às formas verbais, os detalhes.
11. Modelo Homólogico "A narrativa inteira é constituída pelo encadeamento ou encaixamento de narrativas. São micronarrativas compostas por três (por vezes de dois) elementos cuja presença é obrigatória (...) situações essenciais da vida: (...) 'trapaça', 'contrato' e 'proteção'". "A narrativa representa a projeção sintagmática de uma rede de relações paradigmáticas. Descobre-se pois no conjunto da narrativa uma dependência entre certos elementos, e procura-se encontrá-la na sucessão". Modelo Triático
12. Narrativa como história A história contém frequentemente muitos 'fios' e é apenas a partir de um certo momento que estes fios se reúnem". O autor distingue, sem se afastar da tradição, dois níveis de história: a) Lógica das ações: Repetições que concernem às ações, personagens ou mesmo detalhes da descrição: Antíteses , que colocam parte idêntica em cada um de dois termos; gradação , que evita a monotonia; a lógica de uma informação decorre desse crescendo informacional; Paralelismo , onde pelo menos dois elementos idênticos apresentam dissemelhanças.
13. "Parece evidente que, na narrativa, a sucessão das ações não é arbitrária, mas obedece a uma certa lógica. A aparição de um projeto provoca a aparição de um obstáculo, o perigo provoca uma resistência ou uma fuga";
14. A Narrativa como discurso O tempo da narrativa, onde se exprime a relação entre o tempo da história; O tempo do discurso, os aspectos da narrativa, ou a maneira pela qual a história é percebida pelo narrador; Modos da narrativa, Dependem do tipo de discurso utilizado pelo narrador para nos fazer conhecer a história". Tempo do discurso = linear; Tempo da história = pluridimensional.
15. (...) É preciso dar-se conta que existem duas interpretações morais, de caráter realmente diferente: uma interior ao livro (em toda obra de arte imitativa), e outra que os leitores dão em se preocupar com a lógica da obra". (…) "A imagem do narrador não é uma imagem solitária; desde a primeira página, ela é acompanhada do que se pode chamar 'a imagem do leitor'". Nas "infrações", tanto à história quanto ao discurso, aparecem as duas "ordens": a do livro (ordem da narrativa) e a do contexto social do universo narrado (ordem da vida)..
16. os personagens e suas relações. "A partir deles é que se organizam os outros elementos da narrativa". Regras de derivação: por oposição - a relação que se opõe ao predicado de base "amor" é o "ódio"; a relação que se opõe ao predicado de base "confidência" é a "publicação"; a relação que opõe ao predicado de "ajuda" é a de "oposição") e a que se dá pela passagem da voz ativa para a voz passiva (regra do passivo): "cada ação tem um sujeito e um objeto".
17. os personagens e suas relações. Todorov propõe então a existência de doze relações possíveis entre os personagens, estabelecidas a partir dos predicados de base e das regras de derivação {(3X2)X2)}. "O Ser e o parecer". Dois níveis possíveis para uma mesma relação: o da aparência e o da essência, sempre a partir do ponto de vista dos próprios personagens. Fazer parecer que sente amor ou ódio, por exemplo. Esta duplicidade pode se operar por meio da hipocrisia ou da má-fé dos personagens.
18. O texto “As Categorias da Narrativa Literária”, segundo as classificações apresentadas por Salvatore D'Onófrio, enquadra-se nas que estudam o caráter intrínseco das obras literárias, como uma análise de dentro para fora.
19. HISTÓRIA E DISCURSO (TODOROV) I- Narrativa como história: Os níveis da história: a) Lógica das ações = repetições: na forma de antíteses, na forma de gradação, que evita a monotonia, de modo que a lógica de uma informação decorre desse crescendo informacional; na forma de paralelismo, provocando comparação, diferenciação. Ao analisar encontramos, por exemplo, a antítese formada pelos 1. Personagens André x Iohána ao tempo a mãe é o ponto de referência que une a arbitrariedade; 2. Ações de Iohána e a Mãe Para a gradação temos os diversos membros de uma família que exibem os mesmos traços de caráter, porém em graus diferentes. André situa-se no nível mais inferior em relação ao irmão Pedro
20. b) Predicados de Base Reduzimos a quatro os predicados: Desejo Religiosidade Confidências Obediência As relações entre todos os personagens, em toda narrativa, podem sempre ser reduzidas a um pequeno número e esta rede de relações tem um papel fundamental para a estrutura da obra. .
21. c) Regras de Oposição Cada um dos predicados possui um predicado oposto (noção de negação): Desejo X penitência Religiosidade X Pecado Confidências X Revelações Obediência X Revolta .
22. d) Ser e Parecer Embora a narrativa seja sempre contada por personagens alguns deles podem nos revelar o que os outros pensam ou sentem. Noutras vezes o protagonista revela intenções divergentes de sua conduta para com os demais personagens. Pai - para os filhos, é um homem justo que mantém a união da família sob as leis religiosas porém para André e Lula apenas um tirano, dominador que usa da religião como forma de dominar todos a volta sob seu controle em um mundo paralelo.
23. (continuação) Ser e Parecer Ana – espelho da obediência e submissão. Na tradição oriental as filhas devem obediência e respeito tanto aos irmãos, ainda que mais novos, rebela-se no final ao colocar-se de forma escandalosa em meio a festa deixando claro a marca de sua vergonha ao vestir-se com os objetos "ditos" mundanos de André. André – jovem atormentado pelos sentimentos incestuosos que tem pela mãe os quais transfere à irmã; Através do furor de adolescente imprimi na casa, na mesa, a negligência o temor, os rituais pervertidos e destituídos de mito e o discurso profanado.
25. HISTÓRIA E DISCURSO (TODOROV) I- Narrativa como Discurso: Consideramos a narrativa unicamente enquanto discurso, fala (parole) dirigida pelo narrador ao leitor. a) Tempo da Narrativa: Em Lavoura Arcaica o tempo da história é pluridimensional e possivelmente transcorre, desde o inicio ao término da narrativa, em pouco mais de 24 horas e está dividido em duas partes: A Partida e O Retorno. Já o discurso da narrativa é organizado de forma Linear, no entanto é interrompido de tempos em tempos por flashbacks de memória do narrador ou em seus monólogos internos vai nos expondo aos poucos as razões de sua fuga.
26. b) Encadeamento, Alternância e Encaixamento: As páginas de Lavoura Arcaica são para serem lidas continuamente; não há parágrafos, poucos senão raros pontos finais. A princípio pode parecer não haver encadeamento entre os pensamentos do narrador e seu discurso, mas essa ligação está presente no desenvolver da estória. Esse traço da escrita, angustiante para alguns leitores, é o que vai nos levar de encontro à alma de André seu mais profundo e obscuro; nos colocamos empaticamente na angustia de quem já se encontra tanto no fim da linha de seus pensamentos, em meio ao seu impróprio e complexo amor e sua revolta pelas imposições da religião e da moral presentes na figura do pai.
27. c) Tempo da Escritura (enunciação), Tempo da Leitura(percepção): xxxxxxxxx.
28. c) Tempo da Escritura (enunciação), Tempo da Leitura(percepção): Os aspectos mais ligados ao discurso são os possíveis "olhares" por meio dos quais tomamos conhecimento do que é narrado. Em Lavoura Arcaica o narrador = personagem (visão "DE FORA") André sabe menos que qualquer outro personagem, não pode nos explicar o que acontece, por exemplo, no íntimo de cada um, possui suas próprias impressões e julgamentos sobre os demais, baseado naquilo que vê, ouve, ou simplesmente percebe, nem sempre essas impressões serão semelhantes ao que percebe o leitor (ser e parecer) ;
29. Objetividade e Subjetividade na Linguagem: A linguagem se dá das duas formas de forma poeticamente subjetiva através de subterfúgios comparativos: “(...) haveria também de derramar o orvalho frio sobre os cabelos de Lula, quando ele percorresse o caminho que levava da casa para a capela” Também se dá de forma objetiva “(...) aturdido, mostrei-lhe a cadeira do canto, mas ele nem se mexeu (...)”
30. Atividade para sala de aula Observar a obra e o filme e relata as diferenças entre eles. Prestar a atenção no papel das imagens ao longo de todo o filme; atentar para descrições visuais de cenários, personagens e acontecimentos; analisar o papel de todos os personagens na construção da narrativa. Todos os pontos devem ser considerados e possíveis considerações devem ser anotadas, já que ambos, livro e filme são ricos em detalhes.
31. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Lavoura Arcaica – Nassar, Raduan, 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1989 As Categorias da Narrativa Literária – Tzvetan Todorov Forma e sentido do texto literário – D'Onófrio, Salvatore, São Paulo: Ática, 2007
32. Detalhe da obra de James Barry, “Jupiter and Juno on Mount Ida”. Galeria de Arte de Sheffield City/South Yorkshire - England
Notas do Editor
O pensamento de Todorov direciona-se, após seus primeiros trabalhos de crítica literária sobre poesia eslava, para a filosofia da linguagem, numa visão estruturalista que a concebe como parte da semiótica (saussuriana), fato que se deve aos seus estudos dirigidos por Roland Barthes.
James Barry (11 de outubro de 1741 - 22 de Fevereiro 1806), um dos mais importantes pintores neoclássicos da Irlanda Por causa de sua determinação para criar a arte de acordo com seus próprios princípios e não os de seus patronos, ele também é conhecido como um dos primeiros pintores românticos que trabalham na Grã-Bretanha. Na mitologia romana, Juno é a esposa de Júpiter e rainha dos deuses. Sua equivalente na mitologia grega é Hera.