O documento discute a teoria psicanalítica de Karen Horney. Ela discordava de pontos-chave de Freud, enfatizando fatores culturais e sociais no desenvolvimento da personalidade. Horney propôs que a ansiedade básica na infância pode levar ao desenvolvimento de padrões neuróticos de comportamento se não for lidada adequadamente. Sua teoria da neurose explora como esses padrões podem alienar o self real e levar a três tipos de caráter.
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Teoria da personalidade de Karen Horney e os 10 padrões de necessidades neuróticas
1. Karen Horney
Horney é considerada uma neopsicanalista, formada em medicina e psicanálise,
entretanto utilizou a base psicanalítica para formar sua própria teoria da personalidade,
divergindo de Freud em vários fatores.
As características principais da sua teoria pousam na fundamental ênfase dos fatores
culturais e sociais no desenvolvimento da personalidade, e baseado nisso, a diferença
entre as psicologias masculinas e femininas. Horney também explorou as minúcias das
relações maritais.
Podemos estabelecer os seguintes pontos principais da teoria de Horney:
1. Fundamental importância à cultura no desenvolvimento da neurose;
2. A característica central da neurose é a alienação do eu real causado pelas forças
opressivas no ambiente;
3. O somatório das experiências na infância é responsável pelo desenvolvimento
neurótico.
É importante ressaltar os fundamentos pelos quais levaram Horney a conferir tanta
ênfase no fenômeno cultural no desenvolvimento da personalidade. Foram basicamente
três fatores principais, e outras considerações que a psicanalista observou em sua prática
clínica, os quais veremos no decorrer do texto.
1. A observação das diferenças na estrutura da personalidade entre seus pacientes na
Europa e EUA.
2. As diferenças nas concepções do que é masculino e feminino, socialmente
construídos e difundidos.
3. Sua associação com Erich Fromm, que ampliou sua percepção sobre fatores
sociais e culturais.
PONTOS DE DISCORDÂNCIA COM A TEORIA FREUDIANA
Horney discordava com vários pontos da teoria freudiana, que sintetizamos aqui:
1. Inveja do pênis. Horney não acreditava que a inveja do pênis seria fator
dominante da psicologia feminina, que teria por base uma ênfase exagerada no
relacionamento amoroso e na falta de auto-confiança;
2. 2. Caráter sexual-agressivo do Complexo de Édipo. A psicanalista via este
conflito como a vivência de uma ansiedade decorrente de perturbações básicas
como rejeição, superproteção e punição no relacionamento da criança com o pai e
a mãe.
3. Agressividade inata. A agressividade não seria um sentimento inato, como
pressupunha o pai da psicanálise, mas apenas um modo pelo qual os seres
humanos tentam garantir sua segurança.
4. Narcisismo como auto-amor. O narcisismo seria o resultado decorrentes do
sentimento de insegurança, levando à auto-inflação e a supervalorização
defensivos.
SÍNTESE DA TEORIA DE HORNEY
Os indivíduos internalizam os estereótipos culturais negativos na forma de ansiedade
básica e conflitos internos. As preocupações com segurança, a alienação intrapsíquica e
as preocupações interpessoais compõem as motivações primárias da personalidade. No
cerne das perturbações mentais estão as tentativas inconscientes de lidar com a vida,
apesar do medo, do desamparo e do isolamento.
TEORIA DA PERSONALIDADE
Para Horney, o desenvolvimento da personalidade ocorre pela influência mútua de
forças biológicas e psicossociais. O centro de personalidade é denominado Self real,
cujo conceito se assemelha ao ego freudiano, posto que combina escolha, vontade,
espontaneidade, responsabilidade, identidade e vivacidade. Há no organismo humano
uma tendência para a autorrealização, que impulsiona o desenvolvimento psicológico do
indivíduo em 3 direções:
1. Em direção aos outros: na expressão de amor e confiança;
2. Contra os outros: para a expressão de uma oposição sadia;
3. Para longe dos outros: em direção à autossuficiência;
Horney acreditava que as condições durante a infância podem bloquear o
desenvolvimento psicológico, que pode seguir seu rumo de desenvolvimento normal
quando os bloqueios são removidos. Para explicar, desenvolveu uma teoria da neurose.
TEORIA DA NEUROSE
3. A neurose não é considerada uma perturbação apenas do relacionamento com os outros,
mas também do relacionamento com nós mesmos. Dessa forma, a neurose foi definida
tanto em termos intrapsíquicos como interpessoais. Horney baseou-se, para tanto,em sua
própria experiência clínica, ao verificar que seus pacientes não se queixavam das
neuroses sintomáticas (como fobias e compulsões, apesar de recorrentes), mas de
infelicidade, de falta de sentido no trabalho e na inabilidade de estabelecer ou manter
relacionamentos. Horney definiu esses sintomas como complexos sistemas de padrões
defensivos, autoperpetuantes contra a ansiedade basca que teve início na primeira
infância (neuroses de caráter, busca de segurança).
A Teoria da Neurose pressupõe a existência de tendências neuróticas, que são
compreendidas como o resultado do enrijecimento de padrões de comportamento e de
crescentes bloqueios ao crescimento. A origem dessas tendências neuróticas seriam a
combinação entre as condições ambientais desfavoráveis e os sentimentos conflitantes
no inconsciente, que geram na criança um senso de desconforto, apreensão, ansiedade e
uma sensação de Self inseguro.
ANSIEDADE BÁSICA
De acordo com Horney, as crianças experimentam espontaneamente ansiedade,
desamparo e vulnerabilidade decorrentes das ameaças impostas pela sociedade. Caso a
criança não tenha uma orientação amorosa que possa lhe ajudar a lidar com esses
temores, ela pode desenvolver a ansiedade básica, que pode ser definida como o temor
da criança em estar sozinha e desamparada num mundo hostil.
A ansiedade básica impede a criança de se relacionar com os outros com a
espontaneidade de seus sentimentos reais, forçando-a a desenvolver estratégias
defensivas.
4. Tudo o que perturba a segurança da criança em relação aos pais provoca ansiedade
básica. Horney chama esses fatores de “mal básico” e são eles: indiferença, falta de
respeito às suas necessidades, dominação direta ou indireta, atitudes depreciativas, falta
de orientação, admiração excessiva ou falta de admiração, inconsistência no carinho,
responsabilidade exagerada ou insuficiente, superproteção,injustiça, discriminação,
tendência para tomar partido nas discussões parentais, isolamento de outras
crianças, promessas não cumpridas, etc. (Hall, Lindzey e Campbell).
O mal básico vivenciado pela criança provoca espontaneamente ressentimento ou
“hostilidade básica”. Isto é fonte de conflito para a criança, pois a expressão dessa
agressividade pode se voltar contra ela, ao entender que dessa forma pode colocar em
risco o amor dos pais por ela.
A criança reprime a hostilidade independente da causa. A repressão amplia o conflito e
conduz a um ciclo vicioso, pois a ansiedade produz uma necessidade excessiva de
afeição que se não satisfeita, causa sentimento de rejeição, aumentando a ansiedade e
hostilidade. Assim, a criança e, posteriormente, o adulto, fica aprisionado neste ciclo de
angustia cada vez mais intenso.
Para aliviar sua ansiedade, a criança move-se psicologicamente em três direções:
1. Busca de afeto e aprovação;
2. Tornam-se hostis;
3. Elas se retraem;
5. 10 PADRÕES DE NECESSIDADES NEURÓTICAS
Horney designou 10 necessidades neuróticas, as quais são baseados em coisas que todos
nós precisamos, mas que se tornam distorcidas em sua manifestação pelas dificuldades
enfrentadas pelo indivíduo. Todas as necessidades neuróticas são irrealistas, na medida
em que estão na origem dos conflitos internos.
1. NECESSIDADE NEURÓTICA DE AFEIÇÃO E APROVAÇÃO. Caracteriza-se
por um desejo indiscriminado em agradar os outros e cumprir suas expectativas.s,
mas que se tornam distorcidas em sua manifestação pelas dificuldades enfrentadas
pelo indivíduo. Todas as necessidades neuróticas são irrealistas, na medida em
que estão na origem dos conflitos internos.
2. NECESSIDADE NEURÓTICA DE UM PARCEIRO QUE ASSUMA A VIDA
DA PESSOA. Baseado na fantasia de que irá surgir um amor e que dessa forma
todos os seus problemas estarão resolvidos. A pessoa desenvolve um pavor
imenso de ser abandonada.
3. NECESSIDADE NEURÓTICA DE RESTRINGIR A VIDA A LIMITES
ESTREITOS. Individuos que se contentam com pouco, sem exigências, prefere a
modéstia acima de tudo e prefere viver na obscuridade.
4. NECESSIDADE NEURÓTICA DE PODER. Desespero pelo poder. Necessita do
domínio para seu próprio bem, geralmente acompanhado pelo desrespeito pelos
outros, glorificação indiscriminada pela força.
5. NECESSIDADE NEURÓTICA DE EXPLORAR OS OUTROS. Consiste em
manipular os outros para tirar benefícios próprios. Esta neurose também pode
envolver medo de ser manipulado pelos outros.
6. NECESSIDADE NEURÓTICA DE PRESTÍGIO. São pessoas que necessitam de
supervalorização, reconhecimento público e popularidade. Temem serem
ignoradas ou sentirem-se deslocadas.
7. NECESSIDADE NEURÓTICA DE ADMIRAÇÃO PESSOAL. Com uma
autoimagem supervalo
rizada de si próprios, essas pessoas exigem ser admiradas nesta mesma proporção,
sentindo-se desesperadas caso outros não a vejam nesta mesma posição.
6. 8. AMBIÇÃO NEURÓTICA DE REALIZAÇÃO PESSOAL. É uma obsessão pela
realização pessoal. Essas pessoas obrigam-se a realizações cada vez maiores,
como resultado de uma insegurança básica.
9. NECESSIDADES NEURÓTICAS DEAUTOSSUFICIENCIA E
INDEPENDENCIA. São pessoas que tendem a recusar ajuda. Muitas vezes
tornam-se pessoas solitárias,afastando-se e recusando-se a formar vínculos como
uma forma de proteção.
10. NECESSIDADE NEURÓTICA DE PERFEIÇÃO E NÃO
VULNERABILIDADE. Essas pessoas tem pavor de reconhecer seus erros, por
isso estão em constante busca para tornar-se infalíveis.
Cada uma dessas tendências superenfatizam um dos elementos envolvidos na ansiedade
básica, e por isso são classificadas nestes três grupos:
1. Desamparo – nabusca de aproximar-se das pessoas;
2. Isolamento – ao afastar-se das pessoas;
3. Hostilidade – ir contra as pessoas;
Os principais tipos de caráter preconizado por Horney foram estabelecidos segundo a
forma que um indivíduo lida com a ansiedade básica, o que estabelece padrões de
personalidade. São eles:
TIPO SELF-APEGADO
Resulta na operação defensiva de agarrar-se aos outros. São pessoas que tentam obter o
favor dos outros através de lisonja, tendem a subordinar-se aos outros e são relutantes
em discordar deles por medo de perder o favor. Podemos observar neste tipo a tentativa
de lidar com a insegurança através da ideia de que ser amado é a garantia de que não
será abandonado. (desamparo)
TIPO EXPANSIVO
São as pessoas agressivas. Resulta da tentativa do sujeito utilizar manobras contra
outros indivíduos, bem como uso do poder e do domínio para obter segurança. A
solução vista como agressão é resultante da crença do sujeito de que, detendo o poder,
ninguém conseguirá magoá-lo. (hostilidade)
TIPO DESAPEGADO
7. Com resignação, o individuo resolve afastar-se dos outros para evitar tanto a
dependência como o conflito. Esta busca de afastamento dos outros representa a
tentativa neurótica de solucionar o conflito a partir da crença de que se afastando de
todos, ninguém poderá magoá-lo. (isolamento)
Dentro destas três formas predominantes de lidar com o mundo, o indivíduo desenvolve
meios complementares para aliviar a tensão interna. Sendo assim, uma harmonia
artificial pode ser obtida através do uso de mecanismos psicológicos. O
superdesenvolvimento de um dos três estilos básicos suprime os outros dois, que,
entretanto, continuam ativos e produzindo conflitos.
A consequência mais séria do desenvolvimento neurótico é a alienação do self, que
resulta da combinação entre a negação repetida da realidade externa e a repressão dos
conteúdos genuínos. Com o avanço contínuo do processo de alienação, o indivíduo
perde o contato com o cerne do seu ser e não podem determinar ou agir sobre o que é o
certo para elas.
PRÁTICA CLÍNICA
Segundo a visão de Horney, a psicanálise é um empreendimento cooperativo que
capacita os pacientes a liberarem-se de suas estruturas neuróticas, podendo assim se
mobilizar em direção à autorrealização. A função principal do analista é ajudar os
pacientes de seus bloqueios e das forças que os impedem o crescimento saudável.
Inicialmente, dois tipos de bloqueios são identificados e examinados: o primeiro grupo
de bloqueios estão orientados à segurança, que ajudam a evitar a ansiedade causada pela
autopercepção;o segundo grupo de bloqueios são os protetores, incluem o silêncio, o
atraso, a depreciação da pessoa do analista, o uso de drogas e até mesmo a
autoacusação. Este processo de percepção dos bloqueios é denominado “processo de
desilusão”. Os bloqueios de valor positivo reforçam a satisfação dos pacientes consigo
mesmos e apoiam seus “eus” idealizados. No processo de desilusão, o analista identifica
ambos tipos de bloqueio, expondo os bloqueios protetores antes de expor os bloqueios
que defendem a imagem idealizada, pois analisar os bloqueios de valor positivo
primeiro causaria medo excessivo.
Seus métodos de trabalho são baseados na análise de sonhos e na exploração do
relacionamento paciente- Horney acreditava que as mudanças fundamentais são o
8. melhor meio para mudar comportamentos autoalienantes. Então ela criou um cenário no
qual os pacientes podiam avaliar a si mesmos, em segurança, afim que possam
descobrir e escolher valores pessoais que se encaixam com seus eus reais. Este tipo de
reorientação era realizado após a fase de desilusão. Dessa forma, os sonhos são
utilizados para levar os pacientes a entrarem em um melhor contato com seus eus reais.
Na medida em que os pacientes mobilizam suas forças construtivas, eles experimentam
a luta entre o sistema de orgulho e o eu real, somado aos sentimentos de incerteza, dor
psíquica, e auto-ódio. Quando o conflito central é resolvido com êxito, os pacientes
passam para a fase final do tratamento, a descoberta e o uso dos seus eus internos reais.