O movimento artístico do Humanismo no contexto histórico-cultural português
1. I- SITUANDO O HUMANISMO
Humanismo deriva, etimologicamente, da palavra francesa
humanisme. Segundo alguns autores, Humanismo é a "doutrina
dos humanistas da Renascença que ressuscitaram o culto da
língua e das literaturas antigas".
No entanto, literariamente, convencionou-se relacionar a
palavra Humanismo ao movimento artístico iniciado na Itália
no final do século XIV. Petrarca, poeta italiano, é considerado o pai
do Humanismo, pois foi o principal precursor desse movimento que se
espalhou pela Europa, no período que corresponde à transição da
Idade Média à Idade Moderna.
Humanismo abrange praticamente todas as artes como, por
exemplo, a pintura, a arquitetura, a escultura, a música e a literatura.
As obras desse período tinham como centro de interesse o próprio
homem. Assim, enquanto no Trovadorismo Deus era o centro de tudo
(teocentrismo) no Humanismo o homem passa a ser o centro de
interesse da cultura (antropocentrismo).
O Humanismo foi a própria alma do Renascimento. Era um
apelo ao homem universal. Traduzia-se, sobretudo, pelo
enaltecimento da cultura da Antiguidade Clássica.
Os principais destaques do Humanismo são: na Itália, berço do
Renascimento, Dante Alighieri, Giovanni Boccaccio e Francesco
Petrarca.
Em Portugal merece destaque o teatro poético de Gil Vicente.
É interessante ressaltarmos que o termo
H u m a n i s m o é polissêmico, podendo ser considerado sob
vários enfoques, ao mesmo tempo distintos e interdependentes.
Para os limites desta escola literária, interessa-nos o seu sentido
mais estrito ou histórico , entendido enquanto o
movimento literário e cultural de uma época marcada por
profundas transformações na sociedade europeia.
O H u m a n i s m o , segunda Escola Literária Medieval,
t a m b é m conhecido como Pré-Renascimento , corresponde ao
período de transição da Idade Média para a Idade Clássica. Tem
como marcos iniciais as nomeações de Fernão Lopes como
Guarda-Mor da Torre do Tombo (local onde se guardavam
os documentos oficiais), em 1418 e, como Cronista-Mor do
Reino, em 1434, quando recebeu de D. Duarte, rei de Portugal, a
incumbência de escrever a história dos reis que o precederam.
Historicamente o Humanismo foi um movimento
i n t e l e c t u a l italiano do final do século XIV que se irradiou para
2. quase toda a Europa, i s t o p o rq u e , a p ó s a q u e d a d e
Constantinopla em 1453, muitos intelectuais gregos
(professores, religiosos e artistas) refugiaram-se na Itália e
começaram a difundir uma n o v a visão de mundo, mais
antropocêntrica, indo de encontro à visão teocêntrica medieval.
Entre as principais ideias humanistas estavam:
• retomada da cultura antiga , através do estudo e imitação
dos poetas e filósofos greco-latinos;
• revalorização da filosofia de Platão, especialmente no que
diz re s p e i t o à d i s t i n ç ã o e n t re o a m o r e s p i r i t u a l e o c a rn a l
- neoplatonismo; crítica à hierarquia medieval, o homem
reivindicando para si uma posição de destaque no Universo - não
aceitação passiva das imposições místicas difundidas na ideia de
destino;
• b i f r o n t i s m o , coexistência de características
m e d i e v a i s (feudalismo, Teocentrismo) e renascentistas
(mercantilismo, antropocentrismo, pragmatismo burguês).
II - CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL
No final da Idade Média, Portugal estava passando por
profundas transformações. O desenvolvimento de outras
atividades econômicas estimulou a c r i s e d o s i s t e m a
feudal e deu início ao chamado m e r c a n t i l i s m o –
a economia de subsistência é substituída
gradativamente por atividades comerciais. Surgem as pequenas
cidades, chamadas b u r g o s , e com elas uma nova classe social,
a b u r g u e s i a . Muitas descobertas são feitas, entre elas a
invenção da imprensa (por volta de 1450, por Johann
Gutenberg) e de instrumentos relacionados à e x p a n s ã o
ultramarina. Mas é, sem dúvida, a Revolução de Avis (1383-
1385) o marco cronológico da consolidação do Estado Nacional
Português. Através dela se estabelece a política centralizadora
do poder nas mãos do rei, respaldada pela burguesia
mercantilista. A partir da primeira conquista ultramarina
portuguesa, a Tomada de Ceuta, em 1415 , i n i c i a - s e o
p e r í o d o d a s Grandes Navegações , q u e c o n s o l i d a m o
nacionalismo português.
3. Assim, o Humanismo é o nome que se dá à produção escrita
histórica literária do final da Idade Média e início da Moderna, ou seja,
parte do século XV até início do XVI, mais precisamente, de 1434 a
1527. Três atividades mais destacadas compuseram esse período: a
produção historiográfica de Fernão Lopes, a produção poética dos
nobres, por isso dita Poesia Palaciana, e a atividade teatral de
Gil Vicente.
No final do século XV, a Europa passava por grandes mudanças,
provocadas por invenções como a bússola, pela expansão marítima
que incrementou a indústria naval e o desenvolvimento do comércio
com a substituição da economia de subsistência, levando a
agricultura a tornar-se mais intensiva e regular. Deu-se o
crescimento urbano, especialmente das cidades portuárias, o
florescimento de pequenas indústrias e todas as demais mudanças
econômicas provenientes do Mercantilismo, inclusive o
surgimento da burguesia.
Todas essas alterações foram agilizadas com o surgimento dos
humanistas, estudiosos da cultura clássica antiga. Alguns eram
ligados à Igreja; outros, artistas ou historiadores, independentes ou
protegidos por mecenas (burguês rico que patrocinava artistas e
poetas).
Esses estudiosos tiveram uma importância muito grande porque
divulgaram , de forma mais sistemática, os novos conceitos , além de
identificaram e valorizarem direitos dos cidadãos. Acabaram por
situar o homem como senhor de seu próprio destino e
elegeram-no como a razão de todo conhecimento,
estabelecendo, para ele, um papel de destaque no processo
universal, social e histórico.
Essas mudanças na consciência popular, aliadas ao
fortalecimento da burguesia , graças à intensificação das atividades
agrícolas , industriais e comerciais, foram, lenta e
gradativamente, minando a estrutura e o espírito medieval.
Em Portugal, todas essas alterações se fizeram sentir,
evidentemente, ainda que algumas pudessem chegar ali com menor
força ou, talvez, difusas, sobretudo porque o impacto maior vivido
pelos portugueses foi proporcionado pela Revolução de Avis ( 1383-
4. 1385 ), na qual D. João, mestre de Avis, foi ungido rei, após liderar o
povo contra injunções de Castela.
Alguns fatores ligados a esse quadro histórico indicam sua
influência no rumo que as manifestações artísticas tomaram em
Portugal. São eles: as mudanças processadas no país pela Revolução
de Avis; os efeitos mercantilistas; a conquista de Ceuta (1415 ),
fato que daria início a um século de expansionismo lusitano; o
envolvimento do homem comum com uma vida mais prática e menos
lirismo cortês; o interesse de novos nobres e reis por produções
literárias diferentes do lirismo. Tudo isso explica a restrição do
espaço para o exercício e a manifestação da imaginação
poética, a marginalização da arte lírica e o fim do
Trovadorismo. A partir daí, o ambiente tornou-se mais propício à
crônica e à prosa histórica, ao menos nas primeiras décadas do
período.
Culturalmente, a melhoria técnica da imprensa propiciou
uma divulgação mais ampla e rápida do livro, democratizando
um pouco o acesso a ele. O homem desse período passa a
interessar-se mais pelo saber, convivendo com a palavra escrita.
Adquire novas ideias e outras culturas como a greco-latina.
Mas, sobretudo, o homem percebe-se capaz, importante e
agente. Acreditando-se dotado de "livre arbítrio", isto é, capacidade
de decisão sobre a própria vida, não mais determinada por Deus,
afasta-se do teocentrismo, assumindo, lentamente, um
comportamento baseado no antropocentrismo. Isto implica
profundas transformações culturais. De uma postura religiosa e
5. mística, o homem passa gradativamente a uma posição
racionalista.
O Humanismo funcionará como um período de transição entre
duas posturas. Por isso, a arte da época é marcada pela convivência
de elementos espiritualistas (teocêntricos) e terrenos
(antropocêntricos).
A historiografia, a poesia, a prosa doutrinária e o teatro
apresentaram características específicas.
Com o aumento de interesse pela leitura, houve um
significativo e rápido crescimento da cultura com o surgimento de
bibliotecas e a intensificação de traduções de obras religiosas
e profanas, além da atualização de escritos antigos. Esse
envolvimento com o saber atingiu também a nobreza, a ponto de as
crônicas históricas passarem a ser escritas pelos próprios
reis, especialmente da dinastia de Avis, com os exemplos de D. João
I, D. Duarte e D. Pedro.
III- PRODUÇÃO LITERÁRIA
A produção literária desse período subdivide-se em:
•a) Poesia Palaciana
•b) Prosa I- crônicas de Fernão Lopes.
II- prosa doutrinária.
III- novelas de cavalaria.
•c) Teatro - Gil Vicente, o pai do teatro português.
a ) P O E S I A PA L A C I A N A , c o m o p ró p r i o n o m e j á d i z , e r a
p o e s i a produzida no ambiente dos palácios , feita por
nobres e destinada à corte. Ao contrário dos códices
(manuscritos) trovadorescos, grande parte da produção poética
6. desse período foi compilada por Garcia Resende, no
Cancioneiro Geral, formado por 880 composições, impresso em 1516.
Entre suas principais características estão:
- separação entre música e texto – a poesia destina-se à
leitura. Assim, a própria linguagem é responsável pelo ritmo e
expressividade. O termo trovador aos poucos assume um
caráter pejorativo e começa a surgir a figura do poeta;
- utilização das redondilhas – versos compostos por cinco
(redondilhas menores ) ou sete sílabas poéticas ( redondilhas
maiores), ambos em medida velha;
-temática variada – com composições religiosas, satíricas,
didáticas, heroicas e líricas. O lirismo amoroso trovadoresco, a p a r t i r
da influência de Pe t r a r c a (um dos p re c u r s o re s do
Humanismo italiano), assume uma nova conotação, a mulher
idealizada, inatingível, carnaliza-se e a sensualidade reprimida
nas cantigas de amor passa a ser frequente.
A métrica empregada normalmente eram as redondilhas que
podiam ser de dois tipos: a redondilha maior (com sete sílabas) e a
menor (com cinco sílabas) e era normal o uso do mote (tema, motivo).
Havia os subgêneros como:
O Vilancete composto por um mote (motivo) de 2 ou 3 versos,
seguido de voltas ou glosas (estrofes em que o mote é desenvolvido) de
sete versos.
A Esparsa: expressava o tema da tristeza ou melancolia,
geralmente, composta de 8 a 10 versos em somente uma estrofe de seis
sílabas métricas; não tinha mote nem a repetição dos versos.
A Cantiga expressava temas amorosos; tinha o mote de 4 ou 5
versos e de uma glosa de 8 ou 10 versos, com repetição parcial ou total
do mote no fim da glosa.
A Trova não tinha tema definido, composta de duas ou mais
quadras de versos de sete sílabas métricas e rimas dispostas em ABAB
(cruzadas).
A Redondilha maior era a métrica comum destes subgêneros. A
métrica regular, as estrofes com menor número de versos e o uso de
glosas que retomavam o mote deram maior autonomia à linguagem
poética. O acompanhamento musical deixou de ser necessário para
garantir o ritmo; a própria linguagem passou a desempenhar essa
função.
7. bI) CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES é a principal figura da prosa
humanista, considerado o fundador da historiografia portuguesa. Sua
importância se deve não só pelo aspecto histórico de sua produção,
mas também pelo a s p e c t o a r t í s t i c o d e s u a s c rô n i c a s . E m
s u a c rô n i c a s , a p e s a r d e regiocêntricas (Régio=rei) , o
povo aparece pela primeira vez com co-autor das mudanças
históricas portuguesa (seu espírito humanista). Entre suas
características destacam-s e : a i m p a r c i a l i d a d e , o r e g i s t r o
d o c u m e n t a l , a c r i t i c i d a d e e o nacionalismo.
São de autoria de Fernão Lopes:
-Crônica de El-Rei D. Pedro I: compilação e crítica dos principais
acontecimentos do reinado de D. Pedro I. O episódio da morte de Inês
de Castro, amante do rei, assassinada a mando de D. Afonso IV, pai
de D. Pedro, também é relatado nesse volume.
-Crônica de El-Rei D. Fernando: inicia com o casamento de D.
Fernando com Dona Leonor Teles e encerra-se com Revolução de Avis.
-Crônica de El-Rei D. João I: dividida em duas partes- a) morte de
D. Fernando, em 1383, e depois a revolução que leva D. João I ao
trono português; b) é descrito o reinado de D. João até 1411.
bII) A P R O S A D O U T R I N Á R I A , t a m b é m c h a m a d a d e
e n s i n a n ç a s , corresponde a textos de caráter didático,
destinados à nobreza, tipo de manual escrito por reis e nobres
que apresentava normas e modelos de comportamentos para os
fidalgos da corte. São obras também para o aprendizado de certas
artes da época, como a montaria.
bIII) AS NOVELAS DE CAVALARIA conservam basicamente as
mesmas características do Trovadorismo.
c) O Teatro de Gil Vicente
8. Antes da produção gilvicentina é praticamente impossível falar-
se em teatro. A manifestação teatral da Idade Média limitou-se
a encenações de caráter litúrgico, presas aos ritos da religião
católica. As encenações religiosas, apresentadas no interior das
igrejas e dos mosteiros, dividiam-se em:
• mistério – representação da vida de Jesus Cristo;
• milagre – representação da vida de santos;
• moralidade – representações curtas com finalidade didática ou
moralizante.
As encenações que ocorriam fora dos templos religiosos
recebiam o nome de profanas e apresentavam um caráter mais
popular e não estavam relacionadas aos cultos católicos; abordavam
temas diversos. Dividiam-se em:
• arremedilho ou arremedo – imitação cômica de
acontecimentos ou pessoas;
• pantomima alegórica – espécie de palhaçada circense da
atualidade, na qual atores mascarados imitavam as pessoas;
• farsa – encenação satírica com um humor primário, situações
grotescas, absurdas e ridículas – crítica aos costumes;
• sotie – (sotie vem do francês sot e significa tolo) semelhante à
farsa, mas com um parvo, tolo no papel principal;
• momo – encenação carnavalesca com uma temática variada.
As pessoas utilizavam máscaras e imitavam pessoas e animais;
• entremeze – encenações breves apresentadas entre os atos de
peças mais longas. Sua função era preencher os intervalos;
• sermão burlesco – monólogo recitado por um ator mascarado;
• écloga – auto pastoril. Atores vestidos de pastores pregavam
os valores da vida no campo (vida bucólica).
Acredita-se que Gil Vicente tenha tido muito prestígio na corte
portuguesa, desempenhando a função de organizador das
grandes festas palacianas. Para outros, entretanto, desempenhava
a função de ourives, atraindo a atenção da rainha Leonor. Mas é
unanime o seu reconhecimento como o fundador do teatro
português e o maior representante do Humanismo.
Assim como o período, suas peças apresentavam o bifrontismo
como característica central. Ora com fortes marcas medievais,
ora com antecipações renascentistas.
Gil Vicente criticou toda a sociedade da época, suas peças
apresentam indivíduos de todos os segmentos sociais. Só não criticou
9. mordazmente a Família Real, da qual dependia. É importante
destacar que todo o moralismo gilvicentino não é contra as
instituições, mas contra os indivíduos que as corrompiam.
Tanto que em nenhum de seus trabalhos questionou qualquer
verdade cristã, apresentava uma visão teocêntrica e
conservadora da sociedade. Na realidade, era contra as novidades
trazidas pelas mudanças do período que punham em risco a
integridade do povo português, seus autos (peça de cunho
religioso) representam uma tentativa de resgate dessa
integridade que se perdia través da corrupção, do adultério e
da ambição.
Por outro lado, Gil Vicente inovou, mesmo escrevendo em
redondilhas, não seguiu a rigidez do teatro clássico vigente até então
(unidade de ação, tempo e espaço). Suas representações
apresentavam uma grande variedade temática, povoadas por
inúmeros personagens, amplitude temporal e justaposição de
lugares. A alegoria (ver pág. 105), as personagens-tipo e a
variedade linguística também o distinguem de seu tempo. Suas
personagens não apresentam características particularizadas, ao
contrário, são generalizações, estereótipos, que representam
toda categoria profissional ou uma classe social (povoam suas
peças as alcoviteiras, os fidalgos, os frades, os judeus). Outras vezes,
através da abstração, as personagens representam ideias ou
instituições (a Fama, a Igreja, a Lusitânia, Todo-o-Mundo e Ninguém).
As personagens gilvicentinas expressavam-se através de diversos
registros linguísticos: arcaísmos, castelhano, saiaguês (falar típico de
Saiago, região que faz fronteira com Portugal), latim, português chulo,
coloquial, popular, culto e erudito.
A produção teatral de Gil Vicente divide-se em três fases:
• Primeira Fase (autos pastoris/éclogas)– marcada pelos
traços medievais e pela influência espanhola de Juan del Encina.
Algumas dessas peças são de caráter religioso. São peças desta fase:
O Monólogo do Vaqueiro, o Auto Pastoril Português, o Auto Pastoril da
Serra da Estrela, o Auto dos Reis Magos, entre outros.
• Segunda Fase (Farsas)– aparecem a sátira dos costumes e a
forte crítica social. Utilizavam como personagens tipos populares e
desenvolvem-se em torno de problemas da sociedade. São desta
fase: Farsa de Inês Pereira, Quem tem farelos?, O Velho da Horta, o
Auto da Índia e a Exortação da Guerra.
10. • Terceira Fase (autos de moralidade)– aprofundamento da
crítica social através da tragicomédia alegórica, da variedade
temática e linguística, é o período da maturidade expressiva de Gil
Vicente. São desta fase: A Trilogia das Barcas (Auto da barca do
inferno, Auto da barca do purgatório e Auto da barca da glória ), o
Auto da Alma.
• Gil Vicente adotava como lema: “rindo, corrigem-se os
costumes.”
A FARSA DE INÊS PEREIRA
A Farsa de Inês Pereira surgiu por volta de 1523, quando a
autoria dos textos de Gil Vicente foi questionada. Ele, a fim de provar
sua inocência, pediu que lhe dessem um tema qualquer para que
produzisse uma peça. O tema dado foi um dito popular: “mais quero
um asno que me leve que cavalo que me derrube” , expressão
conhecidíssima da célebre farsa.
Inês Pereira, jovem ambiciosa e namoradeira, cansada dos afazeres
domésticos decide se casar, mas não com qualquer rapaz de sua
classe social, deseja um casamento nobre, com um homem que seja
galante, discreto e que saiba cantar. Recusa o casamento com Pêro
Marques, que mesmo rico era camponês e casa-se com Brás da Mata,
falso escudeiro que a maltrata após o casamento.
Com a morte do marido, a jovem casa-se novamente com o primeiro
pretendente, mesmo sem amá-lo. Ingênuo e devotado, Pêro Marques
não percebe a traição da mulher com um falso religioso e, na cena
final da farsa, leva a própria esposa para os braços do amante, daí a
frase: “mais quero um asno que me leve que cavalo que me
derrube”.