O documento discute os conceitos de planejamento, programação, acompanhamento e controle na construção civil. Apresenta as etapas do planejamento horizontal e vertical, incluindo definição, coleta de informações, preparação de planos, difusão da informação e avaliação. Também aborda a programação de recursos e responsabilidades no desenvolvimento do planejamento.
1. Gerência e Planejamento de Empresas e Empreendimentos de Construção
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Planejamento da produção de edificações
Adaptado de Planejamento, programação, acompanhamento e controle de obras – Profª. Débora de Gois Santos
O gerenciamento das construções é composto por planejamento, programação, acompanhamento
e controle. No planejamento é definido o que fazer, em que sequência e quando. A programação
determina onde, quanto fazer e com que recursos. O acompanhamento trata da execução propriamente
dita e o controle é utilizado para conferir contra um padrão e verificar ou não a ocorrência de desvios a
serem corrigidos, preferencialmente durante a execução do empreendimento.
1. Definição
Planejamento pode ser definido como “um futuro desejado e os meios eficazes para alcançá-lo”.
Ou seja, trata de documentar o que foi decidido para todo o empreendimento, de modo a permitir a
tomada de decisão apropriada para cada situação. É uma representação devido à capacidade limitada
da memória humana e da incerteza envolvida nos processos. Deve ser feito principalmente quando
executamos tarefas nunca antes realizadas. Além disso, as incertezas envolvidas na construção de um
empreendimento são muitas e devem ser evitadas ou contornadas para evitar interrupções constantes
na construção do empreendimento. É sabido que alterações ou interrupções levam ao aumento de prazo
e ao acréscimo de custo.
Ainda, segundo Formoso (1991), planejamento é “o processo de tomada de decisão que envolve o
estabelecimento de metas e dos procedimentos necessários para atingi-las, sendo efetivo quando
seguido de um controle”.
2. Dimensões
As dimensões do planejamento são:
a) Horizontal – etapas pelas quais o processo de planejamento e controle é realizado.
b) Vertical – como essas etapas são vinculadas entre os diferentes níveis gerenciais deuma
organização.
a) Horizontal
A figura 01 apresenta as várias etapas do planejamento horizontal. Compreende as etapas de
preparação do processo de planejamento (I), coleta de informações (II), preparação de planos (III),
difusão da informação (IV), avaliação do processo de planejamento (V) e ação (VI). As etapas (I) e (V)
ocorrem somente quando do lançamento de novos empreendimentos.
O planejamento deve ser elaborado por profissional que acompanhe a execução do edifício. Suas
funções são: estar de acordo com os planos formais; se retroalimentar com as informações de canteiro;
integrar os diferentes níveis de decisão do planejamento.
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Onde:
(I) Preparação do processo de planejamento- são decisões relativas ao horizonte e ao nível de
detalhes do planejamento, frequência de replanejamento, grau de controle a ser efetuado.
O horizonte é o intervalo de tempo entre a preparação do plano e a realização da ação para as
metas fixadas no plano. Compreende: como os planos serão utilizados; grau de detalhamento; técnicas
mais apropriadas para a construção; decomposição da obra em subsistemas (estabelecimento de
hierarquias, de acordo com o tipo da obra e o grau de controle determinado pela empresa); e divisão dos
subsistemas em pacotes de trabalho.
Os subsistemas (ex: alvenaria – marcação, elevação, encunhamento) são divididos em pacotes de
trabalho. Pacote de trabalho nada mais é do que um conjunto de tarefas similares a serem realizadas em
uma área definida, usando informações de projeto, materiais, mão-de-obra e equipamentos e
relacionadas a pré-requisitos.
(II) Coleta de informações - inclue contratos, plantas, especificações técnicas, descrição de
condições de canteiro e ambientais, tecnologia a ser utilizada, viabilidade de terceirização ou não de
processos, índices de produtividade, dados de equipamentos e metas estabelecidas pela alta gerência.
Durante a construção compreende os recursos consumidos e as metas alcançadas. O objetivo é a
redução da incerteza. Normalmente ela não é considerada.
(III) Preparação de planos - é a etapa que recebe maior atenção. Alguns profissionais utilizam
nesta fase a técnica PERT/CPM.
As desvantagens são: necessidade de especialistas para gerar o plano; problemas com
variabilidade das durações; dificuldade de assegurar continuidade das operações em canteiro (restrição
de recursos); complexidade da rede; e dificuldade de se explicar as atividades de fluxo.
As vantagens são: determinar a lógica de construção do empreendimento e auxiliar no
estabelecimento dos recursos necessários.
Pode-se utilizar a técnica de linha de balanço. A técnica deve ser hierarquizada para a
disponibilização e alocação de recursos no canteiro.
(IV) A difusão da informação apresenta problemas como – algumas pessoas podem impor
obstáculos à implementação; existem muitas informações em formato inadequado; dois sistemas de
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informação paralelos – tático (sistema formal feito no escritório) e operacional (informal, no curto prazo,
com decisões para a execução).
No tático os planos são mais detalhados, usados para realização de estudos de viabilidade e
instrumento de contratação. No operacional, a gerência operacional da obra usa os planos do nível tático
como referência para suas decisões no curto prazo.
(V) Avaliação do processo de planejamento - ocorre no término da construção ou quando há
mudança das metas estabelecidas nos planos.
(VI) Ação – nele o progresso da produção é controlado e monitorado e as informações são usadas
para atualizar os planos e preparar relatórios sobre o desempenho da produção. Situações inesperadas
ocorrem quando o plano já está em fase de execução.
c) Vertical
O planejamento é realizado em todos os níveis gerenciais da organização. Por causa da incerteza
no processo construtivo, os planos são detalhados em cada nível com o grau apropriado, que varia com
o horizonte de planejamento.
Os níveis são:
- Estratégico – define o escopo e as metas. Decisões de questões de longo prazo, vinculadas às
etapas iniciais do processo de projeto.
- Tático – enumera os meios e as limitações para alcançar as metas, identificar os recursos,
estrutura o trabalho, faz o recrutamento e treinamento de pessoal. O horizonte é de longo ou médio
prazo.
- Operacional – nele é feita à seleção do curso das ações através das quais as metas são
alcançadas. Corresponde às decisões a serem tomadas no curto prazo.
O horizonte de planejamento considera as incertezas e o grau de detalhamento dos planos. O
planejamento tático, em termos de horizonte de tempo, compreende o planejamento de longo e médio
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prazo. Já o operacional é o de curto prazo. Assim:
- Planejamento de longo prazo – tem baixo grau de detalhamento e é chamado de plano mestre. É
usado para facilitar a identificação dos objetivos do empreendimento. Descreve o trabalho a ser
executado através de metas gerais. Destina-se à alta gerência, para informá-la e para estabelecer
contratos.
- Planejamento de médio prazo – vincula as metas do plano mestre com o curto prazo. É um
planejamento móvel (lookahead planning), sendo essencial para a melhoria do plano de curto prazo,
para a redução de custos e durações. Ele considera: análise de fluxo, especificação de métodos
construtivos, identificação de recursos necessários à execução, quantificação de recursos disponíveis
em canteiro e restrições relacionadas ao desenvolvimento dos trabalhos.
Possibilita que trabalhos interdependentes sejam agrupados e ajusta os recursos disponíveis do
fluxo do trabalho.
O lookahead planning tem um horizonte de 4 semanas planejadas, começando a contar a partir da
segunda semana, uma vez que a primeira semana refere-se ao curto prazo. Ele determina que
atividades devem ser concluídas no plano de médio prazo. Busca identificar e remover as restrições que
impedem o fluxo contínuo do trabalho, conforme figura 02.
- Planejamento de curto prazo – tem a função de proteger a produção contra os efeitos da
incerteza. Trata de um plano com análise de cumprimento dos requisitos e das razões para que as
tarefas planejadas não sejam cumpridas.
A incerteza de execução de uma atividade aumenta com o aumento do horizonte necessário para
a implementação do plano.
Uma forma de lidar com ela é usar/disponibilizar tarefas reservas (buffers). Buffer nada mais é do
que uma atividade para lidar com as incertezas. Pode ser um estoque de: tempo, capacidade, materiais
ou produto inacabado, que possibilita a execução das operações no canteiro de obras, caso algum
problema aconteça. Estas são tarefas que não foram consideradas prioritárias no longo prazo. As tarefas
reservas são atividades de curto prazo, com ciclo diário, semanal ou quinzenal. Se a incerteza é baixa,
os buffers são reduzidos e os planos podem ser mais bem detalhados.
No curto prazo podemos medir ainda o desempenho do planejamento utilizando o índice de
desempenho conhecido como PPC (Percentagem do Planejamento Concluído). Ele foi desenvolvido na
academia e é aplicado em vários canteiros nacionais. Foi trazido ao Brasil através da filosofia da
Construção Enxuta, assunto que veremos mais adiante. Ele serve para identificar as causas de tarefas
não cumpridas. Estas tarefas compõem os pacotes de trabalho.
O índice PPC é apresentado da seguinte forma:
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Para que os requisitos sejam cumpridos é necessário considerar: definição do pacote de trabalho
(tipo e quantidade de material), disponibilização de recursos, sequenciamento para a continuidade dos
serviços, tamanho dos pacotes de trabalho para a semana e aprendizagem (identificar as causas para o
não cumprimento de pacotes).
Um exemplo de lista de tarefas semanais para o planejamento de curto prazo é extraído de
Bernardes (2001) e apresentado na figura 03.
3. Programação de recursos
Após o planejamento das atividades é feita a programação de recursos, que segue a divisão dos
níveis de planejamento, com relação ao horizonte de tempo, assim:
4. Responsabilidade pelo desenvolvimento do planejamento
O tempo de desenvolvimento do planejamento deveria ser livre de pressões, para se ponderar a
tomada de decisão. Na prática ocorre o contrário: curto espaço de tempo, considerações breves,
variadas e fragmentadas. Por isto, recomenda-se que o gerente de canteiro conte com a ajuda de um
especialista, chamado de planejador.
5. Pré-planejamento
Ele é baseado em observação de situações passadas para que não se cometa os mesmos erros.
Essas informações resultam em documentar o dia a dia do canteiro de obras, como se fosse um diário
de obras, para que a ideia seja difundida para outros gerentes.
Ele envolve: descrição da tarefa, plano de trabalho, inspeções, testes, controle de qualidade e
instruções para a próxima tarefa (pré-requisito).
Ele contém: o processo a ser feito, quantidade de trabalho, pessoas envolvidas, mão-de-obra
necessária e carga horária, datas de início e conclusão dos serviços, condições em que os trabalhos
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serão realizados, desenhos, informações adicionais, ferramentas, materiais, inspeção e controle de
qualidade.
O pré-planejamento serve para alimentar a programação.
6. Programação de obra
As técnicas de rede e os cronogramas fazem parte da programação. O dimensionamento das
tarefas e das equipes faz parte do planejamento, assim como a elaboração dos planos de trabalho, ou
seja, o planejamento fornece informações para gerar a programação.
O planejamento e o pré-planejamento servem para alimentar a programação, segundo os níveis
hierárquicos verticais, da seguinte forma:
- No planejamento estratégico – com a definição do que fazer (que processo usar) baseado nos
critérios competitivos (custo, prazo, flexibilidade, velocidade, inovatividade) e as metas da empresa.
- No planejamento tático – nos horizontes de longo e médio prazo é definido: o que produzir,
quem, em que seqüência e a quantidade. Estas ações auxiliam a gerência a distribuir os recursos.
- No planejamento operacional – no curto prazo é determinada a forma de execução dos
processos construtivos e é feita a identificação de problemas, para o acompanhamento da produção no
chão de fábrica, de forma semanal ou diária. O objetivo é verificar as incertezas e sua influência no
trabalho, alimentando o planejamento tático.