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REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA • Nº 83 • 2010 • ISSN 0103-8486



                       Editorial / EditoriaL. ......................................................................................... 161

                       Artigos ORIGINAis / ORIGINAL ARTICLEs

                       •	Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando experiências..........................................................163

                       •	Comparação do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas...... 171

                       •	Avaliação do desempenho em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental.

                         Estudo preliminar por meio do teste de habilidade matemática (THM)................................................ 181

                       •	Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco para a dislexia................... 191

                       •	Habilidades de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências entre avaliação

                         de professores e resultados em testes padronizados............................................................................202

                       •	Processamento auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita........................... 214
                                                                                                          .

                       •	Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do ensino fundamental...............................................223

                       •	Jogos regrados e educação: concepções de docentes do ensino fundamental...................................236



                       RELATOs DE EXPERIÊNCIA/EXPERIENCE REPORTs

                       •	Construindo e construindo-se: uma experiência da Clínica Social da ABPp-ES......................................250

                       •	Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem psicopedagógica com

                         foco na aprendizagem............................................................................................................................262

                       •	Discurso paterno: sinais indicativos de disfunções relacionais..............................................................273



                       ponto de vista / point of view

                       •	O jogo como recurso de aprendizagem.................................................................................................282



                       artigos DE REVISÃO / review articles

                       •	Pontos de encontro entre os sistemas notacionais alfabético e numérico...........................................288

                       •	Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática .......................................................298



                       estudo de caso / case study

                       •	Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso ............................................. 310




         30
         ANOS
Associação Brasileira
                                                   de Psicopedagogia


                       Sede: Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000 - São Paulo - SP
                        Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 - www.abpp.com.br - psicoped@uol.com.br


                                       NúcleoS e Seções da abPp
                                                         (Abril de 2010)

Núcleo Espírito Santo                                                      Seção Paraná Sul
Coordenadora: Maria da Graça Von Kruger Pimentel                           Diretora Geral: Sonia Maria Gomes de Sá Kuster
   R. Elesbão Linhares, 420/601 – Canto da Praia                               R. Fernando Amaro, 431 – Alto da XV
   Vitória – ES – CEP 29057-220                                                Curitiba – PR – CEP 80050-020
   (027) 3225-9978                                                             (041) 363-8006
   mgvkp@terra.com.br                                                          abppprsul@hotmail.com
Núcleo Sul Mineiro                                                         Seção Pernambuco
Coordenadora: Júlia Eugênia Gonçalves                                      Diretora Geral: Maria das Graças Sobral Griz
   R. Deputado Ribeiro de Rezende, 494 - Centro                                R. das Pernambucanas, 277 – Graças
   Varginha – MG – CEP 37002-100                                               Recife – PE – CEP 52011-010
   (035) 3222-1214                                                             (081) 3222-4375 – 3231-1461
   julia@fundacaoaprender.org.br                                               abpppe@gmail.com
Seção Bahia
                                                                           Seção Piauí
Diretora Geral: Débora Silva de Castro Pereira
                                                                           Diretora Geral: Amélia Cunha Rio Lima Costa
    Av. Tancredo Neves, 3343 – Ed. Cempre – Sala 1103 –
    Torre B – Caminho das Árvores                                              R. Eletricista Guilherme, 815 – Ininga
    Salvador – BA – CEP 41820-021                                              Teresina – PI – CEP 64049-530
    (071) 3341-0121                                                            (086) 3233-2878
    abppsecao.ba@uol.com.br                                                    amelia.costa@ibest.com.br
                                                                               	
Seção Brasília                                                             Seção Rio de Janeiro
Diretora Geral: Marli Lourdes da Silva Campos                              Diretora Geral: Ana Paula Loureiro e Costa
    SCLN Quadra 102 – Bloco D – sala 110                                       Av. N. Sra. de Copacabana, 861 sala 302
    Brasília – DF – CEP 70722-540                                              Rio de Janeiro – RJ – CEP 22060-000
    (061) 3964-1004                                                            (021) 2236-2012 / Fax: (021) 2521-6902
    abppbsb@gmail.com                                                          abpp-rj@abpp_rj.com.br
                                                                               	
Seção Ceará                                                                Seção Rio Grande do Norte
Diretora Geral: Galeára Matos de França Silva                              Diretora Geral: Ednalva de Azevedo Silva
    R. Assis Chateaubriand, 362 A – Dionízio Torres                            R. São João, 1392 – Lagoa Sêca
    Fortaleza – CE – CEP 60135-200                                             Natal – RN – CEP 59022-390
    (085) 3261-0064 – 3268-2632                                                (084) 3223-6870
    psicop_ceara@yahoo.com.br                                                  psicopedrn@yahoo.com.br
                                                                               	
Seção Goiás                                                                Seção Rio Grande do Sul
Diretora Geral: Luciana Barros de Almeida                                  Diretora Geral: Fabiani Ortiz Portella
    Av. 85, 684 sala 207 – Ed. Eldorado Center –                               Av. Venâncio Aires, 1119/ sala 9
    Setor Oeste                                                                Porto Alegre – RS – CEP 90520-000
    Goiânia – GO – CEP 74120-090                                               (051) 3333-3690
    (062) 3954-2178                                                            abpp.rs@brturbo.com.br	
    psicopedagogiagoiasabpp@gmail.com	
                                                                           Seção Santa Catarina
Seção Minas Gerais
                                                                           Diretora Geral: Albertina Celina de Mattos Chraim
Diretora Geral: Regina Rosa dos Santos Leal
    R. Grão Mogol, 502 / 305 – Carmo Sion                                      R. Eurico Gaspar Dutra, 445, sl 101- Estreito
    Belo Horizonte – MG – CEP 30310-010                                        Florianópolis – SC – CEP 88075-100
    (031) 3221-3616                                                            (048) 3244-5984
    abppminasgerais@gmail.com                                                  abppsc@abppsc.com.br	

Seção Pará                                                                 Seção São Paulo
Diretora Geral: Maria Nazaré do Vale Soares                                Diretora Geral: Sônia Maria Colli
    Trav. 3 de Maio, 1218/ sl 105 – São Braz                                   R. Carlos Sampaio, 304 – cj. 51- sl 03
    Belém – PA – CEP 66060-600                                                 São Paulo – SP – CEP 01333-020
    (094) 3229-0565                                                            (011) 3287-8406
    abpppa@yahoo.com.br                                                        saopaulo@saopauloabpp.com.br	

Seção Paraná Norte                                                         Seção Sergipe
Diretora Geral: Geiva Carolina Calsa                                       Diretora Geral: Auredite Cardoso Costa
    R. Montevidéu, 206                                                         Av. Ivo Prado, 312 – Centro
    Maringá - PR - CEP 87030-470                                               Aracaju – SE – CEP 49010-050
    (044) 3026-1063                                                            (079) 3211-8668/ 3211-78903
    abpppr@ig.com.br                                                           auredite@hotmail.com
A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) é
        uma entidade de caráter científico-cultural, sem fins
        lucrativos, que congrega profissionais militantes na área da
        Psicopedagogia.

        Em 12 de novembro de 1980, um grupo de profissionais já
        envolvidas e atuantes nas questões relativas aos problemas da
        aprendizagem fundou a Associação Estadual de
        Psicopedagogos do Estado de São Paulo, a AEP.
        Devido ao grande interesse em torno dessa Associação, a sua
        expansão a nível Nacional surgiu como necessidade imperiosa.
        Em 1986, a AEP transformou-se na ABPp e gradativamente
        foram sendo criados os seus escritórios de representação por
        todo o Brasil, denominados de Núcleos e Seções.

        Durante estes anos, a ABPp vem cuidando de questões
        referentes à formação, ao perfil, à difusão e ao
        reconhecimento da Psicopedagogia no Brasil, já tendo
        alcançado muitas vitórias na luta pela sua regulamentação.
        Atualmente, conta com 16 Seções e 2 Núcleos, espalhados
        pelo Brasil, para melhor divulgar a Psicopedagogia e
        aproximar os profissionais em torno de seus objetivos comuns.
30
 ANOS




        A ABPp promove conferências, cursos, palestras, jornadas,
        congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua
        área de atuação, por meio da revista científica
        Psicopedagogia, da Revista do Psicopedagogo, do informa-
        tivo Diálogo Psicopedagógico e do site www.abpp.com.br.
        Oferece, ainda, descontos tanto nos eventos que
        organiza quanto em eventos de terceiros, que são parceiros e
        interessados nos assuntos desta área.

        Preocupada com as questões sociais, a atual diretoria da
        ABPp Nacional organizou um novo trabalho de cunho
        sociocientífico, que visa não só ao atendimento
        da população carente, promovendo a inserção social e a
        divulgação da importância da prática psicopedagógica,
        como também à implantação de um novo modelo de estudo
        e pesquisa nesse campo. Dele poderão participar todos os
        associados interessados em prestar um trabalho social.

        Podem associar-se à ABPp todas as pessoas interessadas
        nessa área de atuação, tendo ou não concluído a sua
        especialização em Psicopedagogia.
            Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000
             São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567
                  www.abpp.com.br - psicoped@uol.com.br
Inicie aqui sua carreira científica!
                1º Fórum de Iniciação Científica
                Apresentação on-line de trabalhos científicos de alunos de graduação e pós-graduação.
                A oportunidade para o estudante Universitário expor seu primeiro trabalho Científico.
                Os melhores trabalhos receberão menção honrosa.


                Veja no site: www.abpp30anos.com.br – o que é e como funciona o Fórum
                Informações e Inscrições

                Conheça o Fórum!




                      O encontro é composto de 3 partes!
                         Certificado com carga horária de 40 horas
IV Simpósio Interna- Sala Psicopedagógica                              Encontro com a
       cional               On-line                                     Universidade
“Conhecer...Fazer...Com-        “Navegar no saber Psico-             “Aprendizagem sob o
         partilhar                   pedagógico”                            enfoque
 ...Ser Psicopedagogo”                                                 Psicopedagógico”
                                    Seis colóquios on-line,
      Dias 14, 15 e 16                      ao vivo               A ABPp oferece, graciosamen-
        de outubro,                                                te, uma palestra. Entre em
       em São Paulo                                                     contato conosco!
                                                                    Telefone: (11) 3554-1758




             Mais informações no site www.abpp30anos.com.br


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                                                                                              em eventos
                CONSULTORIA HOTELEIRA                                             Telefone: (11) 3554-1758


              A ABPp faz história em 30 anos de trajetória!
Editora
Maria Irene Maluf	                       SP
Conselho Executivo
Maria Irene Maluf	                       SP
Quézia Bombonatto	                       SP
Cristina Valdoros Quilici	               SP


Conselho Editorial Nacional
Ana Lisete Rodrigues	                    SP   Maria Célia Malta Campos 	          SP
Anete Busin Fernandes            	       SP   Maria Cristina Natel	               SP
Beatriz Scoz             	               SP   Maria Lúcia de Almeida Melo	        SP
Débora Silva de Castro Pereira 	         BA
                                              Maria Silvia Bacila Winkeler	       PR
Denise da Cruz Gouveia 	                 SP
Edith Rubinstein 	                       SP   Marisa Irene Siqueira Castanho	     SP
Elcie Salzano Masini         	           SP   Mônica H. Mendes        	           SP
Eloísa Quadros Fagali      	             SP   Nádia Bossa          	              SP
Evelise Maria L. Portilho 	              PR   Neide de Aquino Noffs       	       SP
Gláucia Maria de Menezes Ferreira 	      CE   Nívea M.de Carvalho Fabrício    	   SP
Heloisa Beatriz Alice Rubman 	           RJ
                                              Regina Rosa dos Santos Leal	        MG
Leda M. Codeço Barone 	                  SP
Margarida Azevedo Dupas 	                SP   Rosa M. Junqueira Scicchitano 	     PR
Maria Auxiliadora de Azevedo Rabello	    BA   Sônia Maria Colli de Souza    	     SP
Maria Cecília Castro Gasparian 	         SP   Vânia Carvalho Bueno de Souza 	     SP


Conselho Editorial Internacional
Alicia Fernández 	      -	   Argentina
Carmen Pastorino	       -	   Uruguai
César Coll	             -	   Espanha
Isabel Solé	            -	   Espanha
Maria Cristina Rojas	   -	   Argentina
Neva Milicic	           -	   Chile
Vitor da Fonseca	       -	   Portugal


Consultores ad hoc
Ana Maria Maaz Acosta Alvarez
Jaime Zorzi
Lino de Macedo
Lívia Elkis	
Luiza Helena Ribeiro do Valle
Pedro Primo Bombonato
Saul Cypel
Sylvia Maria Ciasca
Associação Brasileira
de Psicopedagogia

Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000
São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567
www.abpp.com.br
psicoped@uol.com.br

PSICOPEDAGOGIA – Órgão oficial de divulgação             7)	 INDEX PSI – Periódicos – Conselho
da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp            Federal de Psicologia
é indexada nos seguintes órgãos:                         8)	 DBFCC – Descrição Bibliográfica
                                                             Fundação Carlos Chagas
1)	 LILACS - Literatura Latino-Americana e               Editora Responsável: Maria Irene Maluf
    do Caribe em Ciências da Saúde -
    BIREME                                               Jornalista Responsável: Rose Batista – 28.268
2)	 Clase - Citas Latinoamericanas en Cien-              Revisão e Assessoria Editorial:
    cias Sociales y Humanidades. Universidad             Rosângela Monteiro
    Nacional Autónoma de Mexico
                                                         Editoração Eletrônica: Sollo Comunicação
3)	 Edubase - Faculdade de Educação, Uni-
    camp                                                 Impressão: Sollo Press
4)	 Bibliografia Brasileira de Educação - BBE
    CIBEC / INEP / MEC
                                                         O conteúdo dos artigos aqui publicados é de
5)	 Latindex - Sistema Regional de Informa-
                                                         inteira responsabilidade de seus autores, não
    ción en Línea para Revistas Científicas
    de América Latina, El Caribe, España y               expressando, necessariamente, o pensamento
    Portugal                                             do corpo editorial.
6)	 Catálogo Coletivo Nacional – Instituto               É expressamente proibida qualquer modali-
    Brasileiro em Ciência e Tecnologia –                 dade de reprodução desta revista, seja total ou
    IBICT                                                parcial, sob penas da lei.


            Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia /
               Associação Brasileira de Psicopedagogia. - Vol. 10, nº 21 (1991). São
               Paulo: ABPp, 1991-


               Quadrimestral

               ISSN 0103-8486


               Continuação, a partir de 1991, vol. 10, nº 21 de Boletim da
            Associação Brasileira de Psicopedagogia.

               1. Psicopedagogia. I. Associação Brasileira de Psicopedagogia.

                                                                                  CDD 370.15
Diretoria da Associação
Brasileira de Psicopedagogia
2008/2010
Diretoria Executiva
Presidente                              Diretora Científica Adjunta
Quézia Bombonatto                       Márcia Simões
queziabombonatto@abpp.com.br            marciasimoes@abpp.com.br
Vice-Presidente
Cristina Valdoros Quilici               Diretora Cultural
cristinaquilici@abpp.com.br             Yara Marlene Prates
Tesoureira                              yara@donquixote.com.br
Maria Cecília Castro Gasparian          Relações Públicas
mcgasparian@uol.com.br                  Telma Pantano
Secretária Administrativa               telmapantano@terra.com.br
Maria Teresa Messeder Andion
                                        Relações Públicas Adjunta
teresahandeon@abpp.com.br
Diretora Científica                     Edimara de Lima
Nádia Aparecida Bossa                   edimara.lima@terra.com.br
nadiabossa@abpp.com.br



Assessorias
Assessora de Divulgações Científicas    Assessora de Reconhecimento e Cursos	
Maria Irene Maluf                       Neide Aquino Noffs
irenemaluf@uol.com.br                   neidenoffs@abpp.com.br


Assessorias Regionais
Assessora Regional Bahia	               Assessora Regional Paraná	
Maria Angélica Moreira Rocha            Rosa Maria Schiccitano
maangelicarocha@gmail.com               rosamaria@uel.br
Assessora Regional Ceará	
Maria José Weyne Melo de Castro
mjweyne@yahoo.com.br


Conselheiras Vitalícias
Beatriz Judith Lima Scoz	          Sp   Maria Irene Maluf	                    Sp
Edith Rubinstein	                  Sp   Mônica H. Mendes	                     Sp
Leda Maria Codeço Barone	          Sp   Neide de Aquino Noffs	                Sp
Maria Cecília Castro Gasparian	    SP   Nívea Maria de Carvalho Fabrício	     Sp
Maria Célia Malta Campos	          Sp


Conselheiras Eleitas (2008/2010)
Carla Labaki	                      SP   Maria Helena Bartholo	                RJ
Cleomar Landim de Oliveira	        SP   Maria José Weyne M. de Castro	        CE
Cristina Vandoros Quilici	         SP   Marisa Irene Siqueira Castanho	       SP
Ednalva de Azevedo Silva	          RN   Marli Lourdes da Silva Campos	        DF
Eloisa Quadros Fagali	             SP   Miriam do P  .S.F. Vidigal Fonseca	   MG
Evelise Maria Labatut Portilho	    PR
                                        Nadia Aparecida Bossa	                SP
Galeára Matos de França Silva	     CE
Heloisa Beatriz Alice Rubman	      RJ   Neusa Kern Hickel	                    RS
Janaina Carla R. dos Santos	       GO   Quézia Bombonatto	                    SP
Jozelia de Abreu Testagrossa	      BA   Rosa Maria J. Scicchitano	            PR
Luciana Barros de Almeida Silva	   GO   Silvia Amaral de Mello Pinto	         SP
Maria Auxiliadora de A. Rabello	   BA   Sonia Maria Colli de Souza	           SP
Maria Cristina Natel	              SP   Yara Prates	                          SP
Associação Brasileira
de Psicopedagogia
sumário



Editorial / Editorial
• Maria Irene Maluf ................................................................................................................................................161


Artigos ORIGINAis / ORIGINAL ARTICLEs
• Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando experiências
	 Health-education partnership at UFRJ: sharing experiences
	 Renata Mousinho; Claudia Tavares Ribeiro; Gláucia M. M. Martins. .........................................163
                                                                 .

• Comparação do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas
	 Comparison of performance of students in instruments of attention and executive function
	 Adriana Nobre de Paula Simão; Ricardo Franco de Lima; Juliane Cristhine Natalin; Sylvia
  Maria Ciasca. ...................................................................................................................................171
              .

• Avaliação do desempenho em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental.
 Estudo preliminar por meio do teste de habilidade matemática (THM)
	 Performance in mathematics of primary school children using the Test of Mathematics Ability:
  preliminary study
	 Sônia das Dores Rodrigues; Adriana Regina Guassi; Sylvia Maria Ciasca..................................181

•	Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco para a dislexia
	 Grapheme-phoneme correspondence training in students at risk for dyslexia
	 Daniele de Campos Refundini; Maíra Anelli Martins; Simone Aparecida Capellini..................191

•	Habilidades de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências
  entre avaliação de professores e resultados em testes padronizados
  Reading and writing skills of child into recovery cycle I: divergences between assessment of
  teachers and results of standardized tests
	 Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira; Chi Kow Mei; Alessandra Gotuzo Seabra; Deisy
  Ribas Emerich; Elizeu Coutinho de Macedo..................................................................................202

•	Processamento auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita
	 Auditory processing: study in children with specific reading and writing deficits
	 Silvana Frota; Liliane Desgualdo Pereira.......................................................................................214
                                           .

•	Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do ensino fundamental
	 Psychomotor evaluation with students of 1st grade
	 Tais de Lima Ferreira; Amanda Bulbarelli Martinez; Sylvia Maria Ciasca..................................223
                                                                        .


•	Jogos regrados e educação: concepções de docentes do ensino fundamental
	 The rules games and education: teachers conceptions of primary education
	 Nelson Pedro-Silva; Manoela de Fátima Cabral Simili.................................................................236
RELATOs DE EXPERIÊNCIA/EXPERIENCE REPORTs
•	Construindo e construindo-se: uma experiência da Clínica Social da ABPp-ES
	 Building and building yourself: an experience of the ABPp-ES Social Clinic
	 Cheila Araujo Mussi Montenegro; Dina Lucia Fraga; Iara Feldman; Janine C. Barboza;
  Mara C. B. R. Lima; Maria da Graça von Kruger Pimentel; Maria José Saavedra Castro;
  Marieta Vieira Messina; Maristela do Valle; Sonia Volpini Coelho..............................................250


•	Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem psicopedagógica
  com foco na aprendizagem
	 Pedagogical practices and innovations in the teaching institution: a psychopedagogic
  approach with focus in the apprenticeship
	 Francisca Francineide Cândido.......................................................................................................262


•	Discurso paterno: sinais indicativos de disfunções relacionais
	 Paternal discourse: signs of relational dysfunctions
	 Olga Araújo Perazzolo; Siloe Pereira; Marcia M. Capellano dos Santos......................................273


ponto de vista / point of view
•	O jogo como recurso de aprendizagem
	 The game as a learning resource
	 Luciana Alves; Maysa Alahmar Bianchin.......................................................................................282


artigos DE REVISÃO / review articles
•	Pontos de encontro entre os sistemas notacionais alfabético e numérico
	 Points of meeting between the systems notacionais alphabetical and numerical
	 Iara Suzana Tiggemann...................................................................................................................288


•	Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática
	 Number sense and learning difficulties in mathematics
	 Luciana Vellinho Corso; Beatriz Vargas Dorneles .........................................................................298


estudo de caso / case study
•	Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso
	 Emotional problems in an adult with dyslexia: a case study
	 Flávia Vianna Bonini; Raquel Regina Mari; Sandra Aparecida dos Anjos; Viviane Joveliano;
  Sueli Cristina de Pauli Teixeira . .....................................................................................................310
EDITORIAL




À
       s vésperas do IV Simpósio Internacional de Psicopedagogia da ABPp
       Nacional “Conhecer... Fazer... Compartilhar... Ser Psicopedagogo”, evento
       de singular expressão que encerra as comemorações dos 30 anos desta
Associação, criada em São Paulo, em 1980, por Leda Barone e atualmente
presidida por Quézia Bombonatto, temos o prazer de trazer uma edição repleta
de artigos de notáveis educadores, pedagogos, psicopedagogos e pesquisadores.
   Um assunto que desponta na atualidade como de importância em todo
mundo, a parceria entre a educação e a ciência, tem gerado importantes
pesquisas, como temos a honra de publicar na abertura deste número de
aniversário da ABPp: “Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando
experiências”, escrito por Renata Mousinho, Claudia Tavares Ribeiro e Gláucia
M. M. Martins. Este trabalho aponta a necessidade de redução das diferenças
individuais no momento do ingresso à escola como fator decisivo para o
enfrentamento e a diminuição prática das dificuldades de aprendizagem, assim
como para a melhoria dos resultados dos processos envolvidos. O interesse
científico pela análise do desempenho estudantil de crianças dos 7 aos 12 anos
não se apresenta apenas nesse artigo, mas também na pesquisa “Comparação
do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas”,
de Adriana Nobre de Paula Simão, Ricardo Franco de Lima, Juliane Cristhine
Natalin e Sylvia Maria Ciasca.
   Poucos são os artigos que trazem uma análise do desempenho em matemática
com aprofundamento, linguagem clara e com resultados tão importantes para
a aplicação prática, como o que nos apresentam Sônia das Dores Rodrigues,
Adriana Regina Guassi e Sylvia Maria Ciasca, em “Avaliação do desempenho
em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental. Estudo preliminar
por meio do Teste de Habilidade Matemática”, uma pesquisa que precede na
apresentação a outros dois artigos sobre temas correlatos a este, como se verá
mais adiante.
   “Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco
para a dislexia” é o artigo apresentado por Daniele de Campos Refundini,
Maíra Anelli Martins e Simone Aparecida Capellini, baseado na interessante e
esclarecedora pesquisa na qual as autoras concluem que quando é fornecida a
instrução formal do princípio alfabético da Língua Portuguesa, os escolares que
não apresentam o quadro de dislexia deixam de apresentar suas manifestações
como resposta à instrução formal do princípio alfabético. Já “Habilidades
de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências entre
avaliação de professores e resultados em testes padronizados”, artigo enviado
por Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, Chi Kow Mei, Alessandra Gotuzo
Seabra, Deisy Ribas Emerich e Elizeu Coutinho de Macedo, constitui
um trabalho de pesquisa sobre um dos assuntos mais importantes e mais
controversos no nosso país: a eficácia das Classes de Recuperação de Ciclos,
destinadas a desenvolver habilidades deficitárias dos alunos do Ciclo I do
Ensino Fundamental da escola pública.
   Não menos discutido e analisado por vários pesquisadores de renome é o
tema apresentado por Silvana Frota e Liliane Desgualdo Pereira, “Processamento
auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita”, no qual o
desempenho de crianças com distúrbios específicos de leitura e escrita, nos
Testes Verbais e Não Verbais de Processamento Auditivo, e o de crianças sem
o referido transtorno são comparados cientificamente.
  A contribuição de Tais de Lima Ferreira, Amanda Bulbarelli Martinez e Sylvia
Maria Ciasca, com seu artigo “Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do  8

                       Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 161-2

                                       161
EDITORIAL




8 ensino fundamental”, nos remete ao papel de fundamental relevância desse
   desenvolvimento para a aprendizagem da criança nos aspectos emocionais,
   motores e cognitivos.
      De Nelson Pedro-Silva e Manoela de Fátima Cabral Simili, “Jogos regrados
   e educação: concepções de docentes do ensino fundamental” revela uma
   interessante análise sobre a concepção do docente a respeito das contribuições
   do emprego dos jogos no processo educativo e no desenvolvimento psicológico
   infantil.
      Relatos de experiências, sempre tão esperados por nossos leitores, são aqui
   representados por três artigos. O primeiro, “Construindo e construindo-se: uma
   experiência da Clínica Social da ABPp-ES”, escrito por Cheila Araujo Mussi
   Montenegro, Dina Lucia Fraga, Iara Feldman, Janine C. Barboza, Mara C. B.
   R. Lima, Maria da Graça von Kruger Pimentel, Maria José Saavedra Castro,
   Marieta Vieira Messina, Maristela do Valle e Sonia Volpini Coelho, e o segundo,
   “Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem
   psicopedagógica com foco na aprendizagem”, de Francisca Francineide
   Cândido. É de Olga Araújo Perazzolo, Siloe Pereira e Marcia M. Capellano
   dos Santos, o último relato de experiência desta edição: ”Discurso paterno:
   sinais indicativos de disfunções relacionais”.
       “O jogo como recurso de aprendizagem”, de Luciana Alves e Maysa
   Alahmar Bianchin, vem também pontuar a importância do aspecto lúdico
   para o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e é de Iara Suzana
   Tiggemann o artigo de revisão bibliográfica “Pontos de encontro entre os
   sistemas notacionais alfabético e numérico”, que aponta para uma metodologia
   interdisciplinar nos anos iniciais da escolarização, considerando que a criança
   pequena utiliza procedimentos que se integram a uma estrutura cognitiva mais
   ou menos comum.
      “Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática”, escrito
   por Luciana Vellinho Corso e Beatriz Vargas Dorneles, aborda o senso numérico
   como conceito-chave para a compreensão das dificuldades de aprendizagem
   na matemática e para a prevenção de dificuldades de aprendizagem futura
   nesta área.
      “Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso”,
   de Flávia Vianna Bonini, Raquel Regina Mari, Sandra Aparecida dos Anjos,
   Viviane Joveliano e Sueli Cristina de Pauli Teixeira, aborda os diversos tipos
   de sentimentos causados pela dislexia, baseando-se em um relato real, que
   encerra este número.
      Agradecemos a todos os autores e ao Conselho Editorial desta publicação,
   por terem feito com suas generosas contribuições mais que construírem a
   octogésima terceira edição da revista da ABPp Nacional, mas principalmente
   terem colaborado para a confecção de um verdadeiro documento histórico,
   retrato vivo de uma época de meteóricas e fundamentais mudanças no mundo,
   na ciência e na Psicopedagogia.
      Aos 30 anos da ABPp, à maturidade e ao reconhecimento científico
   desta revista, que foram arduamente conquistados em nome de todos os
   psicopedagogos: parabéns!


                                                                    Maria Irene Maluf
                                                                               Editora


                          Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 161-2

                                          162
Parceria saúde-educação na UFRJ
                                                ARTIGO ORIGINAL




         Parceria saúde-educação na ufrj:
                  compartilhando experiências

                         Renata Mousinho; Claudia Tavares Ribeiro; Gláucia M. M. Martins




                 RESUMO – Objetivo: Verificar os ganhos da parceria educação-saúde
             na experiência da fonoaudiologia da UFRJ com o CApUFRJ. Método:
             Análise quantitativa - participaram da pesquisa crianças que cursaram o
             1° ano em 2007, com idade média de 6,4 anos, em três momentos distintos:
             no início do primeiro ano e no início e no fim do segundo ano letivo. A
             primeira avaliação serviu para determinar os grupos de alfabetizados e
             não alfabetizados na entrada da escola. Nas duas avaliações subsequentes,
             foram investigadas a velocidade, a compreensão, a fluência e a precisão
             de leitura. Análise qualitativa – impressões sobre o impacto nos alunos,
             na família e na equipe profissional da escola. Resultados: No início do ano
             letivo, a discrepância entre os grupos mostrou-se bastante importante em
             todos os parâmetros avaliados, no fim do segundo ano, essa diferença foi
             bastante minimizada, tendo mesmo desaparecido em parte das habilidades
             investigadas; o impacto nas diversas categorias da comunidade escolar
             foi positivo. Considerações finais: Em curto prazo de tempo, foi possível
             minimizar diferenças individuais que se impunham de forma gritante
             no momento do ingresso à instituição. Considerando a multifatoriedade
             das questões envolvidas no processo ensino-aprendizagem e os desafios
             postos à educação na atualidade, a parceria educação-saúde que vai
             sendo construída do CAp com o Setor de Fonoaudiologia da UFRJ é uma
             importante via de enfrentamento das dificuldades presentes e de produção
             de conhecimento na área.

                UNITERMOS: Educação. Saúde. Aprendizagem. Fonoaudiologia.


Renata Mousinho – Fonoaudióloga. Mestre em                 Correspondência
Linguística pela Universidade Federal do Rio               Renata Mousinho
de Janeiro (UFRJ). Professora da Graduação em              Av. das Américas 2678, casa 11 – Barra da Tijuca – Rio
Fonoaudiologia da UFRJ.                                    de Janeiro, RJ – CEP 22640-102
Claudia Ribeiro – Pedagoga. Especialista em                E-mail: renatamousinho@ufrj.br
Sexologia Humana. Orientadora Educacional do
Colégio de Aplicação da UFRJ.
Gláucia M. M. Martins – Psicopedagoga. Mestre em
Tecnologias Educacionais nas Ciências da Saúde pela
UFRJ. Doutoranda em Educação pela UNICAMP.
Orientadora Educacional do Colégio de Aplicação
da UFRJ.


                                    Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70

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Mousinho R et al




    INTRODUÇÃO                                             Nessa perspectiva, a parceria educação-
    Problemas de leitura causam impacto em             saúde tem um papel social primordial: diminuir
toda a escolaridade, trazendo repercussões             diferenças que, a princípio, podem parecer
afetivas e sociais. Diversos estudos mostram a         entraves ao desenvolvimento. Considerando a
importância da prevenção e identificação das           leitura com compreensão uma das habilidades
crianças em risco de problemas de leitura, para        básicas para novos aprendizados, julgou-se im-
possibilitar a intervenção precoce e minimizar         portante utilizar este parâmetro nesta pesquisa
futuros prejuízos. Identificar esses problemas         que pretende ilustrar o sucesso da experiência
de leitura precocemente torna-se emergente             nos primeiros quatro anos dessa parceria.
diante da possibilidade de poder eliminá-los ou            São muitos os aspectos necessários à com-
minimizá-los por meio de estimulação precoce.          preensão da leitura, dentre eles a fluência, a
    Autores chamam a atenção para o fato de            velocidade, a precisão, assim como com as ha-
que pesquisadores, educadores e políticos vêm          bilidades metalinguísticas e cognitivas3,4.
dando mais atenção a estas questões, demons-               Neste contexto, os principais objetivos deste
trando o impacto positivo de programas de              artigo são:
intervenção precoce sobre possíveis problemas          •  presentar por meio de parâmetros qualita-
                                                         a
de leitura1,2. É justamente a convicção de que é         tivos e quantitativos os ganhos da parceria
importante trabalhar conjuntamente, visando              educação-saúde para a comunidade escolar;
ao desenvolvimento pleno das crianças, que é           •  companhar a evolução das habilidades de
                                                         a
a alma desta parceria entre a equipe da fono-
                                                         leitura nos primeiros anos do ensino funda-
audiologia da UFRJ, especializada em leitura
                                                         mental, comparando o grupo que já entrou
e escrita, de um lado, e a equipe do Colégio de
                                                         alfabetizado na escola, com aquele não alfa-
Aplicação da UFRJ, encabeçada pelo Serviço
                                                         betizado;
de Orientação Educacional, de outro.
                                                       • nvestigar o quanto a parceria educação-saúde
                                                         i
    Esta experiência diz respeito a uma pro-
                                                         pode interferir na evolução das tarefas de
posta longitudinal, que vem acompanhando o
                                                         leitura nas primeiras séries do ensino funda-
desenvolvimento linguístico das crianças que
                                                         mental em grupos com experiência de leitura
cursaram o 1° ano do ensino fundamental em
                                                         totalmente diversificadas.
2007 e se estenderá durante todo processo de
escolarização formal, ou seja, até o 3° ano do
ensino médio. Dela fazem parte:                            MÉTODO
•  ma avaliação individual anual das crianças;
  u
•  rientações aos pais (anuais para todos,
  o                                                        Análise quantitativa: a análise de dados
  mensais para crianças com dificuldades ou                Inicialmente, participaram da investigação
  sob demanda);                                        50 crianças ingressantes em uma escola de
•  rientações e trocas com professores (para
  o                                                    referência em educação pública no Rio de Ja-
  toda a escola, anuais; para os professores que       neiro.Há uma grande procura pelas vagas nesta
  estiverem atuando direto com este grupo,             instituição e a atual forma de ingresso no 1º ano
  trimestrais ou sob demanda);                         do ensino fundamental é realizada por meio de
•  iscussões com a equipe de orientação edu-
  d                                                    sorteio entre os candidatos inscritos. Como con-
  cacional (trimestrais ou sob demanda);               sequência, embora todas as crianças tivessem
•  ficinas de linguagem para as crianças em
  o                                                    média de 6 anos, apresentavam diferenças em
  risco de Dislexia ou Distúrbio de Aprendi-           sua experiência com a leitura e a escrita, que
  zagem;                                               variava entre o desconhecimento completo do
•  tendimento individual para aqueles com
  a                                                    sistema de escrita do português e o domínio de
  diagnóstico estabelecido.                            leitura com razoável fluência.


                                 Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70

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Parceria saúde-educação na UFRJ




    Os procedimentos aconteceram em três                           ca-sa), pausado (com prolongamentos entre as
etapas, a saber:                                                   palavras) ou fluente (sem pausas grandes, com
    1. Etapa 1: realizada em maio do 1º ano do                     contorno prosódico). A fim de investigar a preci-
ensino fundamental, quando as crianças tinham                      são da leitura, foi utilizada uma lista de palavras
idade média de 6,4 anos. Os grupos de leitores                     isoladas reais, utilizando como variáveis o tipo
e não-leitores foram constituídos a partir do                      de palavra (regulares, irregulares ou regras), a
desempenho das crianças na leitura de uma                          frequência (alta ou baixa), e o comprimento das
lista de 24 palavras adaptada para classe de                       palavras (dissílabas ou trissílabas)7, adaptada8.
alfabetização5. O grupo de não-leitores (G1) foi                       3. Etapa 3: realizada no 2º ano do ensino
formado com as crianças que não leram quais-                       fundamental - fim do ano letivo. A etapa 2 foi
quer das palavras da lista, enquanto o grupo                       repetida.
de leitores (G2) foi constituído por aqueles que                       Cabe ressaltar que as crianças do grupo
obtiveram os 25% escores mais altos na tarefa                      de não-leitores foram convidadas a participar
de leitura, o que correspondeu à leitura fluente                   de oficinas de linguagem oral e escrita que
de no mínimo 23 palavras. Desta forma, foram                       ocorreram semanalmente no serviço de fonoau-
20 crianças incluídas no grupo de não-leitores                     diologia da UFRJ entre a primeira e a terceira
(Idade média = 6,7; DP=2,87) e 13 crianças no                      coletas. Todos os responsáveis pelos alunos
grupo de leitores (Idade média=6,8; DP=3,95;                       avaliados assinaram o termo de consentimento
Mdn= 24 palavras).                                                 livre e esclarecido da pesquisa aprovada sob o
    2. Etapa 2: realizada no 2º ano do ensino                      número 003/07 do Comitê de Ética e Pesquisa
fundamental - início do ano letivo. Para verifi-                   do Instituto de Neurologia Deolindo Couto – RJ/
car a velocidade, foi cronometrada a leitura do                    UFRJ.
texto narrativo “O Acidente”6, composto por                            O desempenho de G1 e G2 nas tarefas de
196 palavras e 939 caracteres. Com vistas a ve-                    leitura foi comparado usando o teste t de Stu-
rificar a compreensão, foram realizadas quatro                     dent para amostras independentes.
perguntas eliciadoras, abrangendo o conteúdo
do texto. O padrão de leitura poderia ser iden-                       RESULTADOS
tificado como silabado (Ex: O me-ni-no sa-iu de                       A Tabela 1 revela os resultados do grupo que



                      Tabela 1 – Tarefas de leitura em G1 e G2, nos 2 momentos avaliados.
                                      G1                            G2
                                    (n = 20)                      (n = 13)              df        t           p
                              M                DP           M                DP
     Velocidade 1        438,67            290,142       175,50         700,176        31       3,730      0.001**
       Padrão 1              1,60           0,737          2,56          0,705         31      -3.783      0.001**
      Precisão 1         40,40             12,540         46,56          1,247        24.409   -2.077      0.046*
   Compreensão 1             2,47           1,302          3,72          0,461         31      -3.824      0.002**
     Velocidade 2        199,40            92,230        135,67         45,075        19.492    2.444      0.024*
       Padrão 2              2,40           0,507          2,44          0,705        30.425    -210        0.840
      Precisão 2         46,67              1,047         46,94          1,259        31.000    -692        0.494
   Compreensão 2             3,47           0,915          3,78          0,428         31      -1.211       0.208
Nota *p ≤ 0,05; **p ≤ 0,01




                                           Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70

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Mousinho R et al




entrou na escola sem conhecimento do sistema              Figura 1 - Evolução da velocidade, padrão, precisão
de escrita (G1), seguido dos resultados do grupo                 e compreensão de leitura em G1 e G2.
que iniciou no CAP-UFRJ já alfabetizado (G2).
Os valores das colunas subsequentes referem-
se à comparação entre ambos os grupos. As
linhas de velocidade, padrão, compreensão e
precisão seguidos do algarismo 1 referem-se à
análise realizada no início do 2° ano. Aquelas
seguidas pelo algarismo 2 dizem respeito aos
valores obtidos quando as crianças estavam no
fim do 2° ano.
    A diferença entre G1 e G2 foi altamente
significativa na primeira avaliação, sobretudo
na velocidade, padrão e compreensão de textos.
A média da velocidade de leitura do G1 foi de
438,6 segundos (2 minutos e 92 segundos) em
contraste com a do G2, que leu todo o texto
em 175,5 segundos (7 minutos e 31 segundos).
Enquanto o G1 apresentou um padrão silabado/           ler no início do 1° ano, está representado pela
pausado, o G2 apresentou um padrão pausado/            cor azul. O G2, grupo formado por crianças
fluente. As respostas às perguntas que visavam         que, na mesma época, já conseguiram ler 23
observar a compreensão, um total de 4, apre-           das 24 palavras de uma lista, está representado
sentaram 2,47 de média em G1, contrastando             pela cor vermelha. Cada uma das habilidades
com 3,72 em G2. Significativo, mas numa                aparece com indicação de 1, quando realizada
escala menor, foi o número de palavras lidas           no início do 2° ano, e com 2, quando realizada
corretamente (precisão), que foi de 40,4 e 46,5,       no fim deste ano letivo.
respectivamente, para G1 e G2.                             Como se pode observar na Figura 1, a evo-
    Na segunda avaliação, no fim do ano letivo,        lução foi grande em ambos os grupos, mas o
somente a velocidade de leitura foi discreta-          crescimento do G1 foi proporcionalmente muito
mente significativa, considerando-se testes            superior. No que diz respeito à velocidade de
estatísticos. Os alunos do G1 puderam ler o            leitura, a enorme discrepância observada no
texto todo em 199,5 segundos (3 minutos e 33           início do 2° ano foi minimizada na segunda
segundos), enquanto o G2 fez o mesmo em                avaliação. Neste caso, quanto menor o valor,
135,6 segundos (2 minutos e 26 segundos). O            melhor, já que o que se deseja é uma leitu-
padrão de leitura apresentou-se de pausado             ra mais veloz, portanto, realizada em menor
a fluente em ambos os grupos. A precisão de            tempo. Este resultado, associado ao padrão,
leitura foi praticamente idêntica, de um total         desta vez igualado entre os grupos em pausado-
de 48 palavras, alunos do G1 acertaram 46,67,          fluente, e à precisão, em que ambos os grupos
enquanto os do G2 leram corretamente 46,94.            acertaram quase que integralmente a lista de
Assim como as demais habilidades, a compre-            palavras propostas, possibilitam uma compre-
ensão apresentou-se bastante similar nos dois          ensão adequada.
grupos (3,47 e 3,78, respectivamente), como                Considerando-se que a compreensão é o
pode ser observado na Figura 1.                        objetivo final da leitura e que os atuais moldes
    A fim de analisar melhor tais ganhos, os va-       educacionais valorizam a compreensão não só
lores foram colocados em proporção. Na Figura          na disciplina específica, mas em todas as de-
1, o G1, formado pelas crianças que não sabiam         mais, pode-se pensar que a pouca solidez nesta


                                 Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70

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Parceria saúde-educação na UFRJ




área poderia prejudicar o início da escolarização       condições de levar e trazê-los, seja para as ofi-
formal, trazendo reflexos ao longo dos anos.            cinas coletivas ou para os atendimentos indivi-
Portanto, a possibilidade de reverter precoce-          dualizados nas dependências da Universidade,
mente o cenário inicial, altamente diversificado        significou receber uma atenção especial em
também no que diz respeito ao domínio sobre             suas necessidades, gerando estímulo e autocon-
a leitura, mostrou que a instituição em questão         fiança para o enfrentamento das dificuldades,
cumpriu um dos papéis cruciais da educação:             fossem elas de velocidade, precisão ou compre-
permitir oportunidades iguais a despeito das            ensão na leitura.
possibilidades iniciais de cada um.                         Mesmo para crianças que apresentam
    É importante lembrar que há crianças que            comprometimento em outras áreas de seu de-
ainda se mantêm defasadas em relação ao grupo           senvolvimento, além do linguístico, participar
e que, portanto, precisarão de mais tempo para          dos atendimentos e oficinas de linguagem ofe-
que tais habilidades se desenvolvam. Neste              recidos pelo Setor de Fonoaudiologia fez dife-
contexto, a parceria com o serviço de fonoau-           rença. Alunos com alguma dificuldade em seu
diologia, que já existia com o oferecimento de          processo de escolarização costumam se retrair
oficinas de linguagem ao grupo de crianças              diante das experiências escolares, e se colocam
menos hábil no aprendizado da leitura, torna-se         à margem do processo do grupo em que estão
mais relevante.                                         inseridos. Observamos nos alunos que conti-
                                                        nuaram participando do trabalho com a equipe
                                                        de Fonoaudiologia que eles se fortaleceram e
   DISCUSSÃO
                                                        puderam viver sua escolaridade de forma mais
                                                        confiante e positiva.
   A
    nálise quantitativa: o ponto de vista da
                                                            No tocante ao desenvolvimento cognitivo,
   escola
                                                        observamos que o trabalho de estímulo e inter-
   Inicialmente, a possibilidade da parceria com
                                                        venção, nas habilidades cognitivas relacionadas
a Fonoaudiologia da UFRJ, por meio do proje-
                                                        à aquisição da leitura e da escrita, desenvolvido
to se configurou, primordialmente, como uma
                                                        com as crianças atendidas pelo Projeto tem
ótima oportunidade de avaliação e atendimento           apresentado resultados importantes na interpre-
aos alunos que apresentam dificuldades no               tação, compreensão, realização de inferências e
percurso de sua escolarização inicial. Contudo,         estabelecimento de relações, em diferentes áre-
esta parceria vem ampliando resultados que              as do conhecimento, por parte destas crianças.
se explicitam de formas específicas, nos três           Embora ainda não tenhamos criado nenhum
principais segmentos envolvidos na parceria:            instrumento para aferição objetiva destas ha-
alunos, famílias e corpo docente.                       bilidades, são observações também atestadas
   Em relação às crianças, poderíamos pontuar           pelas avaliações formais da escola.
alguns aspectos importantes relacionados ao                 Em relação às famílias, ressaltamos nos aten-
percurso do grupo em estudo, no tocante ao              dimentos aos responsáveis que a maioria deles
desenvolvimento socioafetivo e cognitivo. Já            compareceu às entrevistas agendadas pelo Setor
na primeira fase, quando da primeira avaliação,         de Orientação Educacional na escola, e levou as
pudemos perceber que através da forma cuida-            crianças às atividades indicadas, demonstrando
dosa com que as atividades de avaliação foram           enorme interesse pelo processo. Mesmo as fa-
planejadas e realizadas com as crianças, as             mílias que têm condições econômicas de arcar
mesmas se mostraram à vontade, sem constran-            com um tratamento fonoaudiológico para seus
gimentos e até muito satisfeitas por participar!        filhos, mantiveram a frequência nas atividades
   A mobilização na escola para a realização            oferecidas pelo Projeto por valorizarem a articu-
das avaliações e na família, que teve que criar         lação dos profissionais da Fonoaudiologia com


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a escola, pois a parceria propiciou a oportunidade           CONSIDERAÇÕES FINAIS
das famílias terem acesso a informações quanto               Este artigo objetivou investigar a evolução ha-
ao desenvolvimento de seus filhos, e dificuldades        bilidades de leitura nos primeiros anos do ensino
pontuais apresentadas de forma integrada com             fundamental, comparando grupo que já entrou
o processo ensino-aprendizagem desenvolvido              alfabetizado na escola, com aquele não alfabeti-
pela escola.                                             zado, destacando o papel da escola na evolução
    A realização de reuniões gerais, voltadas para       das tarefas de leitura nas primeiras séries do
aspectos do desenvolvimento linguístico em suas
                                                         ensino fundamental em grupo com experiência
diferentes etapas, assim como, as entrevistas in-
                                                         diversificada.
dividuais voltadas para orientações relativas às
                                                             Enquanto no início do ano letivo a discrepância
dificuldades específicas de cada criança, ajuda-
                                                         entre os grupos mostrou-se bastante importante em
ram os responsáveis a compreender e mudar de
                                                         todos os parâmetros avaliados, no fim do segundo
postura frente às dificuldades das crianças. Muitas
vezes, ao longo destas entrevistas, os responsáveis      ano essa diferença foi bastante minimizada, tendo
se reportavam a questões do desenvolvimento              mesmo desaparecido em parte das habilidades
das crianças em fases anteriores, estabelecendo          investigadas. Tais dados confirmam evidências
relações e expressando melhor compreensão da             encontradas na literatura que apontam a relevân-
situação de seus filhos. Podemos citar mais de um        cia da intervenção precoce nas dificuldades de
caso em que a família, que a princípio responsa-         leitura9-12.
bilizava a criança por suas dificuldades, pode per-          Observou-se que a união de esforços saúde-
ceber, a partir das orientações dadas pela equipe        educação conseguiu, num curto prazo de tempo,
da Fonoaudiologia, se tratar de um momento de            minimizar diferenças individuais que se impunham
desenvolvimento, entendendo-o não como uma               de forma gritante no momento do ingresso à insti-
impossibilidade, mas como uma etapa possível de          tuição. Parcerias entre serviços podem se mostrar
ser trabalhada, e quanto às dificuldades, possíveis      relevantes no desafio de educar na diversidade.
de serem superadas.                                          A multifatoriedade das questões envolvidas
    A parceria entre o Setor de Fonoaudiologia e o       no processo ensino-aprendizagem tem indica-
CAp possibilitou aos docentes o acesso a informa-
                                                         do a necessidade da articulação entre equipes
ções fundamentais para a sua atuação. A avaliação
                                                         multidisciplinares para o enfrentamento dos
e o diagnóstico das dificuldades apresentadas pelas
                                                         desafios postos à educação na atualidade.
crianças, acompanhados de uma interlocução entre
                                                         Dentre estes desafios, ressaltamos a conquista
os dois principais agentes que atuam na questão -
                                                         do atendimento às diferentes modalidades de
professores e fonoaudiólogos - representam uma
forma de melhor conhecer essas dificuldades em           aprendizagem presentes na escola. Neste senti-
sua etiologia, por um lado, e em suas manifesta-         do, entendemos que a parceria educação-saúde
ções, por outro. Desta forma, são ampliadas formas       que vem sendo construída entre o CAp e o Setor
de oferecer, também por meio da família e do tra-        de Fonoaudiologia da UFRJ é uma importante
balho pedagógico da escola, aquilo que a criança         via de enfrentamento das dificuldades presentes
precisa para a superação de suas dificuldades e          no processo de ensino-aprendizagem e também,
pleno desenvolvimento de suas potencialidades.           de produção de conhecimento na área.




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Parceria saúde-educação na UFRJ




                                             SUMMARY
                      Health-education partnership at UFRJ: sharing experiences

                 Objective: This paper aims at presenting the gains of the health-
             education partnership for the school community. Methods: Quantitative
             analysis - participants were fifty 6.4 years old children in the 1st grade in
             2007, and the same group at the beginning and end of the 2nd grade in
             2008. The first evaluation determined the groups of literate and illiterate at
             school entry. Were investigated in two subsequent speed, comprehension,
             fluency and reading accuracy. Qualitative analysis: what the impact on
             students, family and professional staff of the school. Results: While the
             beginning of the school year the discrepancy between the groups proved
             to be quite important in all parameters evaluated later in the second year
             this difference was much minimized, and has even disappeared in some
             of the skills investigated; the impact in the various categories of the school
             community was positive. Conclusion: In a short period of time, differences
             between children at the time of admission to the institution were minimized.
             Considering the multifactorial nature of the issues involved in the teaching-
             learning process and the challenges posed to education today, the health-
             education partnership, CAp and UFRJ’s graduation in Speech Therapy,
             is an important issue for learning development and for the production
             knowledge in the area.

               KEY WORDS: education. health. Learning. Speech, Language and
             Hearing Sciences.




   REFERÊNCIAS                                           	 5.	 Capovilla AGS, Capovilla FC. Problemas de
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                                   Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70

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Mousinho R et al




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Trabalho realizado no Instituto de Neurologia          Artigo recebido: 11/3/2010
Deolindo Couto – UFRJ, Rio de Janeiro, RJ.             Aprovado: 1/7/2010


                                 Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70

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Atenção e funções executivas
                                                 ARTIGO ORIGINAL




                Comparação do desempenho de
    estudantes em instrumentos de atenção
             e funções executivas
          Adriana Nobre de Paula Simão; Ricardo Franco de Lima; Juliane Cristhine Natalin; Sylvia Maria Ciasca




                RESUMO – O objetivo da presente pesquisa foi comparar o desempenho
             de crianças, de ambos os gêneros, de faixa etária entre 7-12 anos, com e
             sem queixas de dificuldades de atenção e aprendizagem em instrumentos
             que avaliam a atenção e aspectos das funções executivas. Foram usados
             os seguintes instrumentos: Stroop Color Word Test, Trail Making Test
             A/B, Testes de Cancelamento e Torre de Londres. Os resultados foram
             organizados em função dos gêneros, distribuição de frequência das queixas
             e caracterização do desempenho. Foram obtidas diferenças significativas
             entre os grupos nos escores dos Testes. O grupo com queixas apresentou
             escores de tempo e erros aumentados em relação ao grupo sem queixas.
             No caso do escore da TOL, o grupo sem queixas apresentou escore maior.


                UNITERMOS: Testes neuropsicológicos. Atenção. Transtornos de
             aprendizagem.




Adriana Nobre de Paula Simão – Psicóloga; Mestre              Correspondência
e Doutora em Ciências Médicas – Faculdade de                  Adriana Nobre de Paula Simão
Ciências Médicas - FCM/UNICAMP.                               Rua Hermantino Coelho, 841, Apto 23 – Mansões
Ricardo Franco de Lima – Neuropsicólogo;                      Santo Antônio – Campinas, SP – CEP 13087-500
Aprimoramento/Especialização em Psicologia                    E-mail: drisimao@gmail.com
Clínica em Neurologia Infantil – FCM/UNICAMP;
Mestrando em Ciências Médicas – Saúde Mental –
FCM/UNICAMP. Bolsista CNPq.
Juliane Cristhine Natalin – Psicóloga; Aprimoramento/
Especialização em Psicologia Clínica em Neurologia
Infantil – FCM/UNICAMP.
Sylvia Maria Ciasca – Neuropsicóloga; Livre Docente
em Neurologia Infantil – FCM/UNICAMP.


                                       Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80

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Simão ANP et al.




    INTRODUÇÃO                                             A flexibilidade mental refere-se à capacida-
    A atenção e funções executivas são funções         de de o indivíduo modificar o curso dos pensa-
corticais importantes para o processo de apren-        mentos, atos e estratégias e alternar a atenção.
dizagem, estando diretamente envolvidas com            De acordo com Cañas et al.9, esta capacidade
as habilidades escolares de leitura, escrita e         permite ao indivíduo adaptar seu processamen-
cálculo. Dadas estas relações, as queixas de           to cognitivo em função de condições novas e
dificuldades na atenção motivam grande parte           inesperadas do ambiente.
dos encaminhamentos de crianças e adolescen-               O controle inibitório é a capacidade de sele-
tes para avaliação interdisciplinar. Em estudo         ção entre estímulos relevantes em detrimento
de Lima et al.1, foi observado que as queixas          dos estímulos distratores e a inibição de respos-
escolares e familiares referentes à desatenção         tas automáticas10,11.
foi a segunda maior queixa (19%), sendo a pri-             Para os autores Capovilla  Dias12, no con-
meira de dificuldades na aprendizagem (47%).           texto escolar, dificuldades atencionais são
    A atenção pode ser definida como a capa-           frequentemente relacionadas a problemas de
cidade de o indivíduo selecionar e focalizar           aprendizagem e podem prejudicar significa-
seus processos mentais em algum aspecto do             tivamente a aprendizagem, por exemplo, da
ambiente interno, como ideias armazenadas na
                                                       leitura e da escrita. Tonelotto13 também afirma
memória ou no ambiente externo, respondendo
                                                       que crianças com prejuízos atencionais podem
predominantemente aos estímulos que lhe são
                                                       ter dificuldades no processo de escolarização
significativos e inibindo os distratores2,3.
                                                       e apresentam problemas tanto na leitura e na
    A atenção não constitui um processo único,
                                                       escrita, bem como, no cálculo. De acordo com
podendo ser dividida em: seletiva, sustentada,
                                                       a autora, o prejuízo escolar se manifesta pela
alternada e dividida. A atenção seletiva refere-
                                                       dificuldade da criança planejar e organizar as
se à capacidade de discriminação entre estí-
                                                       tarefas e solucionar os problemas.
mulos relevantes e irrelevantes. A sustentada
                                                           A relação entre a atenção e o desempenho
é a capacidade de manter o foco atencional em
                                                       escolar foi evidenciada no estudo realizado
um determinado estímulo, por um período de
tempo, para executar uma tarefa. A atenção             por Capovilla  Dias12 com crianças sem di-
alternada refere-se à capacidade de alternar           ficuldades de aprendizagem. No estudo ficou
o foco entre diferentes estímulos e a atenção          demonstrada a tendência de desenvolvimento
dividida, por sua vez, compreende a divisão            desta função ao longo das séries escolares, as-
do foco atencional para o desempenho de duas           sim como a correlação positiva e significativa
tarefas simultaneamente4,5.                            entre o desempenho de crianças em testes de
    As Funções Executivas (FE) são consideradas        atenção e seu desempenho escolar.
como um conjunto de funções responsáveis por               Em outro estudo realizado por Lima et al.14
iniciar e desenvolver uma atividade com objeti-        com crianças sem dificuldades de aprendiza-
vo final determinado, incluindo amplo espectro         gem, também foram observadas correlações
de processos cognitivos, como por exemplo: ca-         significativas entre o desempenho em tarefas
pacidade de planejamento e uso de estratégias,         de atenção e funções executivas e os escores
flexibilidade mental e controle inibitório5-7.         de testes de leitura, escrita e cálculo. O estudo
    Conforme afirmam Dehaene  Changeux8,              demonstrou que o bom desempenho escolar
a capacidade de planejamento envolve um                se relaciona com bom desempenho nestes
conjunto de representações mentais e/ou uma            instrumentos.
sequência de comportamentos que são dirigidos              Há evidências de alterações significativas
para um determinado objetivo.                          da atenção e funções executivas em diferentes


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Atenção e funções executivas




transtornos na infância e adolescência, como                  MÉTODO
por exemplo, no Transtorno do Déficit de Aten-
ção e Hiperatividade (TDAH)15-17 e na Dislexia                Participantes
do Desenvolvimento11,18,19.                                   Foram participantes da pesquisa, um total
    Especificamente, TDAH é transtorno carac-             de 40 crianças, de ambos os gêneros, com faixa
terizado por padrão persistente de desatenção             etária entre 7 e 12 anos de idade, cursando do
e/ou hiperatividade-impulsividade. Tais sinto-            1º ao 7º ano do Ensino Fundamental. A amostra
mas devem ser mais frequentes e graves do que             foi dividida em dois grupos distintos:
aqueles observados em indivíduos com idade                    a)  0 crianças com queixas de dificuldades
                                                                 2
equivalente; devem estar presentes antes dos                     de aprendizagem e atenção;
sete anos de idade; presentes em pelo menos                   b)  0 crianças sem queixas de dificuldades
                                                                 2
dois contextos (por exemplo, em casa e na es-                    de aprendizagem e atenção.
cola); não podem ser explicados por outro trans-              Os critérios de inclusão e exclusão dos
torno e causam prejuízos ao desenvolvimento               participantes do grupo com queixas foram: a)
global da criança, assim como consequências               apresentar queixas de dificuldades de apren-
emocionais, sociais, familiares e escolares20-22.         dizagem e atenção; b) assinatura do Termo
    Estudo desenvolvido em escolas públicas               de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
no Brasil estimou prevalência de 3%, sendo o              pelos pais; c) não apresentar rebaixamento no
gênero masculino mais acometido e o subtipo               nível intelectual, isto é, apresentar Quociente
                                                          de Inteligência (QI) dentro da média (QI80); d)
combinado, o mais frequente23. No estudo de
                                                          não apresentar déficits sensoriais e/ou motores.
metanálise realizado por Polanczych et al.24
                                                              Os critérios de inclusão e exclusão dos par-
com mais de 8.000 pesquisas, chegou-se a uma
                                                          ticipantes do grupo sem queixas foram: a) não
estimativa aproximada de 5% da população
                                                          apresentar queixas de dificuldades de aprendi-
mundial infantil em idade escolar.
                                                          zagem e/ou atenção; b) ter sido indicado pelo
    Do ponto de vista etiológico, sabe-se que
                                                          professor por apresentar bom desempenho es-
o TDAH é um transtorno crônico que possui
                                                          colar; c) assinatura do Termo de Consentimento
substrato biológico com disfunções no córtex
                                                          Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pais; d) não
pré-frontal e em suas conexões com o circuito
                                                          apresentar déficits sensoriais e/ou motores.
subcortical e córtex parietal5,25,26. De acordo com
Knapp et al.27, essas alterações explicam o défi-            Instrumentos
cit nas funções executivas, incluindo memória                Para a coleta dos dados foram utilizados os
de trabalho, planejamento, autorregulação de              seguintes instrumentos:
motivação e do limiar para ação dirigida a ob-
jetivo definido e internalização da fala.                     Stroop Color Word Test – SCWT14
    Diante destas considerações, fica evidente                O teste visa avaliar a capacidade do estudan-
a necessidade do desenvolvimento de instru-               te em considerar estímulos relevantes e descon-
mentos que permitam a avaliação da atenção                siderar os estímulos não-relevantes. É composto
e funções executivas e que possam diferenciar             por quatro cores (vermelho, amarelo, azul e
crianças que apresentam dificuldades.                     verde) e 24 estímulos em cada uma das três
    Sendo assim, foi objetivo do presente tra-            partes: a) “Cartão Cores” (C): a criança deve
balho comparar o desempenho de crianças                   nomear os quadrados pintados nas quatro cores
com e sem queixas de dificuldades de atenção              organizadas em ordem pseudo-randômica; b)
e aprendizagem em instrumentos que avaliam                “Cartão Palavras” (P): a criança deve dizer os
a atenção e aspectos das funções executivas.              nomes nas cores impressas, que agora estão nas


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Simão ANP et al.




cores correspondentes (situação congruente); c)       mento e raciocínio lógico. É composta por uma
“Cartão Cor-Palavra” (CP): são apresentados           base de madeira com três pinos verticais e
nomes de cores impressos em outras cores, por         quatro discos coloridos do mesmo tamanho, com
exemplo, a palavra “Amarelo” impressa na              furo no centro para o encaixe nos pinos. O obje-
cor “Vermelha” (condição incongruente) e a            tivo é mover os discos para reproduzir, em um
criança deve nomear a cor e não ler a palavra.        número determinado de movimentos, a posição
Foram obtidos escores de tempo (em segundos)          de uma figura-alvo apresentada. Existem dez
e número de erros. Também foram calculados            problemas com grau crescente de dificuldade,
os escores de facilitação (C-P) e interferência       e a partir de uma posição inicial a criança deve
(CP-C) para tempo e erros.                            realizar a tarefa em uma quantidade específica
                                                      de movimentos. São permitidas três tentativas
   Trail Making Test A/B - TMT-A/B14                  para a resolução do problema e a resposta é
   A parte A do TMT é um teste de atenção             considerada correta quando a solução é alcan-
sustentada visual, composto por folha com             çada com o correto de movimentos. Os escores
círculos numerados de 1 a 25, distribuídos de         de cada item podem variar de 0 a 3 pontos e o
forma aleatória, na qual a criança deve traçar        escore total é a soma dos escores de todos os
uma linha ligando a sequência numérica. Foram         itens. O escore pode variar de 0 a 30 pontos.
obtidos escores de tempo (em segundos) e nú-
mero de erros de ligação. A parte B é um teste            Procedimentos
de flexibilidade mental, composto por círculos            A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
com números e letras. A criança deve ligar al-        Ética da Faculdade de Ciências Médicas da
ternadamente os círculos com números e letras,        Universidade Estadual de Campinas/UNI-
seguindo respectivamente as ordens numérica           CAMP. As crianças do grupo com queixas foram
e alfabética. Também foram obtidos escores            selecionadas dentre aquelas encaminhadas ao
de tempo (em segundos), número de erros de            Ambulatório de Neuro-Dificuldades de Apren-
sequência e erros de alternância.                     dizagem, localizado no Hospital de Clínicas da
                                                      UNICAMP, para avaliação e diagnóstico das
    Testes de Cancelamento - TC14                     dificuldades de aprendizagem e atenção. As
    Constituem testes de atenção sustentada,          crianças sem queixas foram selecionadas dentre
exigindo rápida seletividade visual e resposta        as indicações de professores de uma escola na
motora repetitiva. Foram usadas duas versões:         cidade de Campinas/SP, por não apresentarem
a) Figuras Geométricas (TC-FG): a criança deve        dificuldades de aprendizagem e/ou atenção.
marcar os círculos encontrados o mais rápido          Todas as crianças foram avaliadas individual-
que conseguir em uma folha com uma sequên-            mente após a assinatura do TCLE pelos pais.
cia pseudo-randômica de figuras geométricas;          O tempo de cada atendimento foi em torno de
b) Letras em Fileiras (TC-LF): a criança deve         50 minutos e o número de encontros com cada
marcar todas as letras “A” em uma folha com           participante foi de três sessões.
letras distribuídas de forma pseudo-randômica.            Os dados foram analisados estatisticamente
Em ambos foram obtidos os escores de tempo            usando o SPSS v15. Foi adotado o nível de sig-
(em segundos), erros por omissão (número de           nificância de 5%, isto é, valor de p0,05.
estímulos-alvo que a criança não assinalou) e
erros por adição (número de estímulos-não alvo            RESULTADOS
que a criança assinalou).
                                                        Caracterização da amostra
   Torre de Londres – TOL14                             Com relação à amostra total, participaram
   Tarefa que avalia a habilidade de planeja-         do estudo 40 crianças com idade média de


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Atenção e funções executivas




9,48 (DP=1,46), sendo 23 (57,5%) do gênero                     tais critérios, as crianças do grupo propósito
masculino e 17 (42,5%) do feminino. Não houve                  também deveriam apresentar queixas referen-
diferenças (p=0,685) entre as idades médias do                 tes à atenção e à aprendizagem. A análise das
gênero masculino (9,77+0,43 anos) e feminino                   queixas deste grupo indicou maior frequência
(9,57+0,96 anos).                                              daquelas referentes à atenção/concentração
    A Tabela 1 mostra a frequência dos gêneros                 (33,9%), seguida por dificuldade na leitura e
em relação aos grupos de estudo. Não houve                     escrita (19,6%), conforme apresenta a Tabela 2.
diferenças na distribuição entre os grupos (Teste
de Fisher, p= 0,523).                                             Comparação do desempenho
    A média de idade do grupo com queixas foi                     A comparação do desempenho entre os
de 9,70 (DP=1,59) e do grupo sem queixas foi                   grupos nos instrumentos utilizados pode ser
de 9,25 (DP=1,06), sem diferenças significativas               observada na Tabela 3.
entre elas (p=0,434). Também não houve dife-                      Os resultados indicaram que houve diferen-
renças entre os grupos em relação ao nível de                  ças significativas entre os grupos nos escores
escolaridade (Teste qui-quadrado; χ² =11,883,                  dos testes: Stroop Color Word Test (Cor-Erros
g.l.=6, p=0,06).                                               e Tempo, Palavra-Erros e Tempo, Cor/Palavra-
    Com relação ao grupo com queixas, a mé-                    Erros e Tempo, Interferência de Erros); Teste de
dia do QI total foi de 102,65 (DP=21,96), obtido               Cancelamento – Figuras Geométricas (Erros de
por meio da Escala Wechsler de Inteligência                    Omissão e Tempo); Teste de Cancelamento – Le-
para Crianças (WISC-III), de modo que não                      tras em Fileira (Erros de Omissão); Trail Making
apresentavam rebaixamento intelectual, con-                    Test – Parte A (Erros e Tempo); Trail Making Test
forme os critérios de inclusão. De acordo com                  – Parte B (Erros de Alternância, de Sequência



                            Tabela 1 - Frequência dos gêneros em relação aos grupos.
                                                                     Grupos
          Gêneros/Grupos                                                                                Total
                                                  Com queixas                     Sem queixas
                Masculino                            13 (57%)                         10 (43%)           23
                Feminino                             7 (41%)                          10 (59%)           17
                  Total                                 20                              20               40



                                 Tabela 2 - Distribuição de frequência de queixas.
                             Queixas                                              f                 %
Atenção/ concentração                                                             19                34
Dificuldade em leitura e/ou escrita                                               11                20
Agitação motora                                                                   7                 12
Impulsividade                                                                     6                 11
Dificuldade em aritmética/raciocínio lógico                                       5                 9
Agressividade                                                                     4                 7
Comportamento opositor                                                            4                 7
Total                                                                             56               100



                                       Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80

                                                        175
Simão ANP et al.




                           Tabela 3 - Comparação dos escores dos instrumentos entre os grupos.
                                                                             Grupo
                                                                                                                  p valora
                                                            Com queixas                 Sem queixas
SCWT-Cor Erro                                                1,20 (1,40)                      --                   0,000*
SCWT- Cor Tempo                                             33,10 (11,35)               19,45 (6,38)               0,000*
SCWT-Palavra Erro                                            1,05 (1,32)                      --                   0,000*
SCWT-Palavra Tempo                                          29,05 (12,48)               16,05 (6,10)               0,000*
SCWT-Cor/Palavra Erro                                        6,70 (6,09)                 0,50 (0,89)               0,000*
SCWT-Cor/Palavra Tempo                                      47,25 (11,72)               31,95 (7,32)               0,000*
SCWT-Facilitação Erro                                        0,15 (1,42)                      --                    0,329
SCWT-Facilitação Tempo                                       4,05 (10,33)                3,40 (3,07)                0,745
SCWT-Interferência Erro                                      5,50 (6,39)                 0,50 (0,89)               0,000*
SCWT-Interferência Tempo                                    14,15 (11,96)               12,50 (4,96)                0,776
TC-FG Erros Adição                                                 --                         --                   1,000b
TC-FG Erros Omissão                                          2,60 (2,70)                 0,05 (0,22)               0,000*
TC-FG Tempo                                                100,45 (31,92)               80,25 (25,82)              0,010*
TC-LF Erros Adição                                                 --                         --                   1,000b
TC-LF Erros Omissão                                          10,20 (8,40)                0,65 (1,14)               0,000*
TC-LF Tempo                                                137,50 (47,47)              134,80 (61,39)               0,409
TMT-A Erros                                                  0,85 (1,42)                      --                   0,009*
TMT-A Tempo                                                 83,65 (45,38)               40,55 (10,66)              0,000*
TMT-B Erros Alternância                                      1,65 (2,39)                 0,10 (0,31)               0,000*
TMT-B Erros Sequência                                        3,70 (4,71)                 0,10 (0,31)               0,000*
TMT-B Tempo                                               215,40 (128,95)              105,45 (44,82)              0,002*
TOL                                                          15,15 (4,97)               19,70 (3,71)               0,002*
a
    teste Mann-Whitney; bvalor não calculado, pois os escores entre os grupos foram iguais; *significativo estatisticamente.



e Tempo) e Torre de Londres. O grupo com                            padrão já caracterizado em outros estudos de-
queixas apresentou escores de tempo e erros                         senvolvidos no Ambulatório como, por exemplo,
aumentados em relação ao grupo sem queixas.                         o estudo de Ciasca28, com frequência de 64%
No caso do escore da TOL, o grupo sem queixas                       de meninos. Posteriormente, os estudos de Lima
apresentou escore maior.                                            et al.1, com 75%, e Lima et al.29, com 70% de
                                                                    crianças do gênero masculino.
   DISCUSSÃO                                                           Estudos realizados em outros serviços indi-
   No que se refere às características da amos-                     cam resultados semelhantes no que se refere
tra, observou-se frequência maior de crianças                       ao encaminhamento para avaliação de crianças
do gênero masculino (57%), dentre aquelas                           com dificuldades de aprendizagem. Scorte-
encaminhadas ao Ambulatório de Neuro-Difi-                          gagna e Levandowski30, em estudo realizado
culdades de Aprendizagem e pertencentes ao                          no Serviço de Psicologia do Programa Vincu-
grupo com queixas. Este resultado segue um                          lação, de Caxias do Sul, observaram que, de


                                            Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80

                                                              176
Atenção e funções executivas




111 encaminhamentos, 77 eram de crianças do                  Em crianças com queixas primárias de difi-
gênero masculino. No estudo de caracterização            culdades na linguagem escrita (leitura/escrita),
da clientela da Clínica Escola da Universidade           como por exemplo, as crianças com dislexia
São Francisco (USF-SP), realizado por Romaro e           do desenvolvimento, é observado prejuízo
Capitão31, foi obtida maior frequência de enca-          maior nos cartões palavra e cor-palavra, pois a
minhamentos de crianças do gênero masculino,             presença de estímulos com conteúdos verbais
na faixa etária até os 14 anos de idade.                 (palavras) aumenta o efeito de interferência19.
    Quando consideradas as queixas do grupo                  De acordo com Marzocchi et al.34, disléxicos
propósito do estudo, também foi verificado que           apresentam prejuízo no processamento de tes-
corroboram com outros trabalhos que indicam              tes que envolvam estímulos verbais. No caso de
maior frequência de encaminhamentos devido               crianças que apresentam como queixa primária
a dificuldades de atenção e de aprendiza-                as dificuldades de atenção e, secundariamente,
gem1,29,31,32.                                           as dificuldades nas habilidades escolares, o es-
    Quando comparados os desempenhos dos                 tudo apresentou um padrão diferente.
grupos com e sem queixas nos instrumentos,                   No Teste de Cancelamento – Figuras Geo-
foram verificadas diferenças significativas em           métricas, foram obtidas diferenças nos escores
diferentes escores.                                      de erros por omissão e no tempo de resolução,
    No Stroop Color Word Test, foram obtidas             de modo que o grupo com queixas apresentou
diferenças em todos os escores de tempo/erros            pior desempenho. Não houve diferenças entre
dos três cartões (Cor, Palavra e Cor-Palavra) e          os grupos no escore de erros por adição, ou seja,
no escore de Interferência de erro. Em todos os          assinalar uma figura que não fosse o alvo.
escores, o grupo com queixas apresentou valo-                No Teste de Cancelamento – Letras em Filei-
res maiores de tempo e erros quando comparado            ra, os grupos foram diferentes apenas no escore
ao grupo sem queixas, sugerindo dificuldades             de erros por omissão, mas não nos escores de
para a seleção entre estímulos relevantes e              erros por adição e tempo. Podemos inferir que
irrelevantes. No desempenho geral do teste,              o grupo com queixas apresentou um tempo
costuma-se observar tendência de diminuição              maior de resolução da atividade, não diferindo
dos escores (tempo/erros) do cartão cores para           do grupo sem queixas, no entanto, apresentou
o cartão palavra, uma vez que este último                um número maior de erros por omissão, ou seja,
apresenta situação de congruência da palavra             por desatenção.
e cor, facilitando o processamento do estímulo               No Trail Making Test, os grupos diferiram
e, consequentemente, da nomeação. Este efeito            significativamente em todos os escores de am-
foi observado nos dois grupos.                           bas as partes (Parte A e Parte B). O grupo com
    Posteriormente, observa-se aumento do                queixas apresentou escores aumentados de
tempo e número de erros no cartão cor-palavra,           tempo e erros e, na parte A, o grupo sem queixas
devido à situação de incongruência. Assim, a             não apresentou erros.
criança deve inibir a resposta automática de                 Na Torre de Londres, os grupos também
leitura da palavra para emitir a resposta correta        diferiram com maior média de escore do grupo
nomeando a cor.                                          sem queixas, indicando melhor capacidade de
    Para MacLead e MacDonald33, no desempe-              planejamento. Em estudos com crianças com
nho da situação incongruente do Stroop Color             dislexia não são observadas diferenças com
Word Test, as palavras interferem na nomeação            crianças sem dificuldades utilizando este ins-
da cor, mas o inverso não ocorre, indicando              trumento35.
que a leitura de palavras, do ponto de vista do              O estudo sugere que os instrumentos utili-
processamento cerebral, é mais automática que            zados para a avaliação da atenção e funções
a nomeação de cores.                                     executivas (flexibilidade, planejamento e con-


                                  Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80

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  • 1. REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA • Nº 83 • 2010 • ISSN 0103-8486 Editorial / EditoriaL. ......................................................................................... 161 Artigos ORIGINAis / ORIGINAL ARTICLEs • Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando experiências..........................................................163 • Comparação do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas...... 171 • Avaliação do desempenho em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental. Estudo preliminar por meio do teste de habilidade matemática (THM)................................................ 181 • Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco para a dislexia................... 191 • Habilidades de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências entre avaliação de professores e resultados em testes padronizados............................................................................202 • Processamento auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita........................... 214 . • Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do ensino fundamental...............................................223 • Jogos regrados e educação: concepções de docentes do ensino fundamental...................................236 RELATOs DE EXPERIÊNCIA/EXPERIENCE REPORTs • Construindo e construindo-se: uma experiência da Clínica Social da ABPp-ES......................................250 • Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem psicopedagógica com foco na aprendizagem............................................................................................................................262 • Discurso paterno: sinais indicativos de disfunções relacionais..............................................................273 ponto de vista / point of view • O jogo como recurso de aprendizagem.................................................................................................282 artigos DE REVISÃO / review articles • Pontos de encontro entre os sistemas notacionais alfabético e numérico...........................................288 • Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática .......................................................298 estudo de caso / case study • Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso ............................................. 310 30 ANOS
  • 2. Associação Brasileira de Psicopedagogia Sede: Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000 - São Paulo - SP Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 - www.abpp.com.br - psicoped@uol.com.br NúcleoS e Seções da abPp (Abril de 2010) Núcleo Espírito Santo Seção Paraná Sul Coordenadora: Maria da Graça Von Kruger Pimentel Diretora Geral: Sonia Maria Gomes de Sá Kuster R. Elesbão Linhares, 420/601 – Canto da Praia R. Fernando Amaro, 431 – Alto da XV Vitória – ES – CEP 29057-220 Curitiba – PR – CEP 80050-020 (027) 3225-9978 (041) 363-8006 mgvkp@terra.com.br abppprsul@hotmail.com Núcleo Sul Mineiro Seção Pernambuco Coordenadora: Júlia Eugênia Gonçalves Diretora Geral: Maria das Graças Sobral Griz R. Deputado Ribeiro de Rezende, 494 - Centro R. das Pernambucanas, 277 – Graças Varginha – MG – CEP 37002-100 Recife – PE – CEP 52011-010 (035) 3222-1214 (081) 3222-4375 – 3231-1461 julia@fundacaoaprender.org.br abpppe@gmail.com Seção Bahia Seção Piauí Diretora Geral: Débora Silva de Castro Pereira Diretora Geral: Amélia Cunha Rio Lima Costa Av. Tancredo Neves, 3343 – Ed. Cempre – Sala 1103 – Torre B – Caminho das Árvores R. Eletricista Guilherme, 815 – Ininga Salvador – BA – CEP 41820-021 Teresina – PI – CEP 64049-530 (071) 3341-0121 (086) 3233-2878 abppsecao.ba@uol.com.br amelia.costa@ibest.com.br Seção Brasília Seção Rio de Janeiro Diretora Geral: Marli Lourdes da Silva Campos Diretora Geral: Ana Paula Loureiro e Costa SCLN Quadra 102 – Bloco D – sala 110 Av. N. Sra. de Copacabana, 861 sala 302 Brasília – DF – CEP 70722-540 Rio de Janeiro – RJ – CEP 22060-000 (061) 3964-1004 (021) 2236-2012 / Fax: (021) 2521-6902 abppbsb@gmail.com abpp-rj@abpp_rj.com.br Seção Ceará Seção Rio Grande do Norte Diretora Geral: Galeára Matos de França Silva Diretora Geral: Ednalva de Azevedo Silva R. Assis Chateaubriand, 362 A – Dionízio Torres R. São João, 1392 – Lagoa Sêca Fortaleza – CE – CEP 60135-200 Natal – RN – CEP 59022-390 (085) 3261-0064 – 3268-2632 (084) 3223-6870 psicop_ceara@yahoo.com.br psicopedrn@yahoo.com.br Seção Goiás Seção Rio Grande do Sul Diretora Geral: Luciana Barros de Almeida Diretora Geral: Fabiani Ortiz Portella Av. 85, 684 sala 207 – Ed. Eldorado Center – Av. Venâncio Aires, 1119/ sala 9 Setor Oeste Porto Alegre – RS – CEP 90520-000 Goiânia – GO – CEP 74120-090 (051) 3333-3690 (062) 3954-2178 abpp.rs@brturbo.com.br psicopedagogiagoiasabpp@gmail.com Seção Santa Catarina Seção Minas Gerais Diretora Geral: Albertina Celina de Mattos Chraim Diretora Geral: Regina Rosa dos Santos Leal R. Grão Mogol, 502 / 305 – Carmo Sion R. Eurico Gaspar Dutra, 445, sl 101- Estreito Belo Horizonte – MG – CEP 30310-010 Florianópolis – SC – CEP 88075-100 (031) 3221-3616 (048) 3244-5984 abppminasgerais@gmail.com abppsc@abppsc.com.br Seção Pará Seção São Paulo Diretora Geral: Maria Nazaré do Vale Soares Diretora Geral: Sônia Maria Colli Trav. 3 de Maio, 1218/ sl 105 – São Braz R. Carlos Sampaio, 304 – cj. 51- sl 03 Belém – PA – CEP 66060-600 São Paulo – SP – CEP 01333-020 (094) 3229-0565 (011) 3287-8406 abpppa@yahoo.com.br saopaulo@saopauloabpp.com.br Seção Paraná Norte Seção Sergipe Diretora Geral: Geiva Carolina Calsa Diretora Geral: Auredite Cardoso Costa R. Montevidéu, 206 Av. Ivo Prado, 312 – Centro Maringá - PR - CEP 87030-470 Aracaju – SE – CEP 49010-050 (044) 3026-1063 (079) 3211-8668/ 3211-78903 abpppr@ig.com.br auredite@hotmail.com
  • 3. A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) é uma entidade de caráter científico-cultural, sem fins lucrativos, que congrega profissionais militantes na área da Psicopedagogia. Em 12 de novembro de 1980, um grupo de profissionais já envolvidas e atuantes nas questões relativas aos problemas da aprendizagem fundou a Associação Estadual de Psicopedagogos do Estado de São Paulo, a AEP. Devido ao grande interesse em torno dessa Associação, a sua expansão a nível Nacional surgiu como necessidade imperiosa. Em 1986, a AEP transformou-se na ABPp e gradativamente foram sendo criados os seus escritórios de representação por todo o Brasil, denominados de Núcleos e Seções. Durante estes anos, a ABPp vem cuidando de questões referentes à formação, ao perfil, à difusão e ao reconhecimento da Psicopedagogia no Brasil, já tendo alcançado muitas vitórias na luta pela sua regulamentação. Atualmente, conta com 16 Seções e 2 Núcleos, espalhados pelo Brasil, para melhor divulgar a Psicopedagogia e aproximar os profissionais em torno de seus objetivos comuns. 30 ANOS A ABPp promove conferências, cursos, palestras, jornadas, congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua área de atuação, por meio da revista científica Psicopedagogia, da Revista do Psicopedagogo, do informa- tivo Diálogo Psicopedagógico e do site www.abpp.com.br. Oferece, ainda, descontos tanto nos eventos que organiza quanto em eventos de terceiros, que são parceiros e interessados nos assuntos desta área. Preocupada com as questões sociais, a atual diretoria da ABPp Nacional organizou um novo trabalho de cunho sociocientífico, que visa não só ao atendimento da população carente, promovendo a inserção social e a divulgação da importância da prática psicopedagógica, como também à implantação de um novo modelo de estudo e pesquisa nesse campo. Dele poderão participar todos os associados interessados em prestar um trabalho social. Podem associar-se à ABPp todas as pessoas interessadas nessa área de atuação, tendo ou não concluído a sua especialização em Psicopedagogia. Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000 São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 www.abpp.com.br - psicoped@uol.com.br
  • 4. Inicie aqui sua carreira científica! 1º Fórum de Iniciação Científica Apresentação on-line de trabalhos científicos de alunos de graduação e pós-graduação. A oportunidade para o estudante Universitário expor seu primeiro trabalho Científico. Os melhores trabalhos receberão menção honrosa. Veja no site: www.abpp30anos.com.br – o que é e como funciona o Fórum Informações e Inscrições Conheça o Fórum! O encontro é composto de 3 partes! Certificado com carga horária de 40 horas IV Simpósio Interna- Sala Psicopedagógica Encontro com a cional On-line Universidade “Conhecer...Fazer...Com- “Navegar no saber Psico- “Aprendizagem sob o partilhar pedagógico” enfoque ...Ser Psicopedagogo” Psicopedagógico” Seis colóquios on-line, Dias 14, 15 e 16 ao vivo A ABPp oferece, graciosamen- de outubro, te, uma palestra. Entre em em São Paulo contato conosco! Telefone: (11) 3554-1758 Mais informações no site www.abpp30anos.com.br Patrocínio Realização EDITORA VOZES Organização Parcerias ARTE em eventos CONSULTORIA HOTELEIRA Telefone: (11) 3554-1758 A ABPp faz história em 30 anos de trajetória!
  • 5. Editora Maria Irene Maluf SP Conselho Executivo Maria Irene Maluf SP Quézia Bombonatto SP Cristina Valdoros Quilici SP Conselho Editorial Nacional Ana Lisete Rodrigues SP Maria Célia Malta Campos SP Anete Busin Fernandes SP Maria Cristina Natel SP Beatriz Scoz SP Maria Lúcia de Almeida Melo SP Débora Silva de Castro Pereira BA Maria Silvia Bacila Winkeler PR Denise da Cruz Gouveia SP Edith Rubinstein SP Marisa Irene Siqueira Castanho SP Elcie Salzano Masini SP Mônica H. Mendes SP Eloísa Quadros Fagali SP Nádia Bossa SP Evelise Maria L. Portilho PR Neide de Aquino Noffs SP Gláucia Maria de Menezes Ferreira CE Nívea M.de Carvalho Fabrício SP Heloisa Beatriz Alice Rubman RJ Regina Rosa dos Santos Leal MG Leda M. Codeço Barone SP Margarida Azevedo Dupas SP Rosa M. Junqueira Scicchitano PR Maria Auxiliadora de Azevedo Rabello BA Sônia Maria Colli de Souza SP Maria Cecília Castro Gasparian SP Vânia Carvalho Bueno de Souza SP Conselho Editorial Internacional Alicia Fernández - Argentina Carmen Pastorino - Uruguai César Coll - Espanha Isabel Solé - Espanha Maria Cristina Rojas - Argentina Neva Milicic - Chile Vitor da Fonseca - Portugal Consultores ad hoc Ana Maria Maaz Acosta Alvarez Jaime Zorzi Lino de Macedo Lívia Elkis Luiza Helena Ribeiro do Valle Pedro Primo Bombonato Saul Cypel Sylvia Maria Ciasca
  • 6. Associação Brasileira de Psicopedagogia Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000 São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 www.abpp.com.br psicoped@uol.com.br PSICOPEDAGOGIA – Órgão oficial de divulgação 7) INDEX PSI – Periódicos – Conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp Federal de Psicologia é indexada nos seguintes órgãos: 8) DBFCC – Descrição Bibliográfica Fundação Carlos Chagas 1) LILACS - Literatura Latino-Americana e Editora Responsável: Maria Irene Maluf do Caribe em Ciências da Saúde - BIREME Jornalista Responsável: Rose Batista – 28.268 2) Clase - Citas Latinoamericanas en Cien- Revisão e Assessoria Editorial: cias Sociales y Humanidades. Universidad Rosângela Monteiro Nacional Autónoma de Mexico Editoração Eletrônica: Sollo Comunicação 3) Edubase - Faculdade de Educação, Uni- camp Impressão: Sollo Press 4) Bibliografia Brasileira de Educação - BBE CIBEC / INEP / MEC O conteúdo dos artigos aqui publicados é de 5) Latindex - Sistema Regional de Informa- inteira responsabilidade de seus autores, não ción en Línea para Revistas Científicas de América Latina, El Caribe, España y expressando, necessariamente, o pensamento Portugal do corpo editorial. 6) Catálogo Coletivo Nacional – Instituto É expressamente proibida qualquer modali- Brasileiro em Ciência e Tecnologia – dade de reprodução desta revista, seja total ou IBICT parcial, sob penas da lei. Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia / Associação Brasileira de Psicopedagogia. - Vol. 10, nº 21 (1991). São Paulo: ABPp, 1991- Quadrimestral ISSN 0103-8486 Continuação, a partir de 1991, vol. 10, nº 21 de Boletim da Associação Brasileira de Psicopedagogia. 1. Psicopedagogia. I. Associação Brasileira de Psicopedagogia. CDD 370.15
  • 7. Diretoria da Associação Brasileira de Psicopedagogia 2008/2010 Diretoria Executiva Presidente Diretora Científica Adjunta Quézia Bombonatto Márcia Simões queziabombonatto@abpp.com.br marciasimoes@abpp.com.br Vice-Presidente Cristina Valdoros Quilici Diretora Cultural cristinaquilici@abpp.com.br Yara Marlene Prates Tesoureira yara@donquixote.com.br Maria Cecília Castro Gasparian Relações Públicas mcgasparian@uol.com.br Telma Pantano Secretária Administrativa telmapantano@terra.com.br Maria Teresa Messeder Andion Relações Públicas Adjunta teresahandeon@abpp.com.br Diretora Científica Edimara de Lima Nádia Aparecida Bossa edimara.lima@terra.com.br nadiabossa@abpp.com.br Assessorias Assessora de Divulgações Científicas Assessora de Reconhecimento e Cursos Maria Irene Maluf Neide Aquino Noffs irenemaluf@uol.com.br neidenoffs@abpp.com.br Assessorias Regionais Assessora Regional Bahia Assessora Regional Paraná Maria Angélica Moreira Rocha Rosa Maria Schiccitano maangelicarocha@gmail.com rosamaria@uel.br Assessora Regional Ceará Maria José Weyne Melo de Castro mjweyne@yahoo.com.br Conselheiras Vitalícias Beatriz Judith Lima Scoz Sp Maria Irene Maluf Sp Edith Rubinstein Sp Mônica H. Mendes Sp Leda Maria Codeço Barone Sp Neide de Aquino Noffs Sp Maria Cecília Castro Gasparian SP Nívea Maria de Carvalho Fabrício Sp Maria Célia Malta Campos Sp Conselheiras Eleitas (2008/2010) Carla Labaki SP Maria Helena Bartholo RJ Cleomar Landim de Oliveira SP Maria José Weyne M. de Castro CE Cristina Vandoros Quilici SP Marisa Irene Siqueira Castanho SP Ednalva de Azevedo Silva RN Marli Lourdes da Silva Campos DF Eloisa Quadros Fagali SP Miriam do P .S.F. Vidigal Fonseca MG Evelise Maria Labatut Portilho PR Nadia Aparecida Bossa SP Galeára Matos de França Silva CE Heloisa Beatriz Alice Rubman RJ Neusa Kern Hickel RS Janaina Carla R. dos Santos GO Quézia Bombonatto SP Jozelia de Abreu Testagrossa BA Rosa Maria J. Scicchitano PR Luciana Barros de Almeida Silva GO Silvia Amaral de Mello Pinto SP Maria Auxiliadora de A. Rabello BA Sonia Maria Colli de Souza SP Maria Cristina Natel SP Yara Prates SP
  • 9. sumário Editorial / Editorial • Maria Irene Maluf ................................................................................................................................................161 Artigos ORIGINAis / ORIGINAL ARTICLEs • Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando experiências Health-education partnership at UFRJ: sharing experiences Renata Mousinho; Claudia Tavares Ribeiro; Gláucia M. M. Martins. .........................................163 . • Comparação do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas Comparison of performance of students in instruments of attention and executive function Adriana Nobre de Paula Simão; Ricardo Franco de Lima; Juliane Cristhine Natalin; Sylvia Maria Ciasca. ...................................................................................................................................171 . • Avaliação do desempenho em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental. Estudo preliminar por meio do teste de habilidade matemática (THM) Performance in mathematics of primary school children using the Test of Mathematics Ability: preliminary study Sônia das Dores Rodrigues; Adriana Regina Guassi; Sylvia Maria Ciasca..................................181 • Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco para a dislexia Grapheme-phoneme correspondence training in students at risk for dyslexia Daniele de Campos Refundini; Maíra Anelli Martins; Simone Aparecida Capellini..................191 • Habilidades de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências entre avaliação de professores e resultados em testes padronizados Reading and writing skills of child into recovery cycle I: divergences between assessment of teachers and results of standardized tests Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira; Chi Kow Mei; Alessandra Gotuzo Seabra; Deisy Ribas Emerich; Elizeu Coutinho de Macedo..................................................................................202 • Processamento auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita Auditory processing: study in children with specific reading and writing deficits Silvana Frota; Liliane Desgualdo Pereira.......................................................................................214 . • Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do ensino fundamental Psychomotor evaluation with students of 1st grade Tais de Lima Ferreira; Amanda Bulbarelli Martinez; Sylvia Maria Ciasca..................................223 . • Jogos regrados e educação: concepções de docentes do ensino fundamental The rules games and education: teachers conceptions of primary education Nelson Pedro-Silva; Manoela de Fátima Cabral Simili.................................................................236
  • 10. RELATOs DE EXPERIÊNCIA/EXPERIENCE REPORTs • Construindo e construindo-se: uma experiência da Clínica Social da ABPp-ES Building and building yourself: an experience of the ABPp-ES Social Clinic Cheila Araujo Mussi Montenegro; Dina Lucia Fraga; Iara Feldman; Janine C. Barboza; Mara C. B. R. Lima; Maria da Graça von Kruger Pimentel; Maria José Saavedra Castro; Marieta Vieira Messina; Maristela do Valle; Sonia Volpini Coelho..............................................250 • Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem psicopedagógica com foco na aprendizagem Pedagogical practices and innovations in the teaching institution: a psychopedagogic approach with focus in the apprenticeship Francisca Francineide Cândido.......................................................................................................262 • Discurso paterno: sinais indicativos de disfunções relacionais Paternal discourse: signs of relational dysfunctions Olga Araújo Perazzolo; Siloe Pereira; Marcia M. Capellano dos Santos......................................273 ponto de vista / point of view • O jogo como recurso de aprendizagem The game as a learning resource Luciana Alves; Maysa Alahmar Bianchin.......................................................................................282 artigos DE REVISÃO / review articles • Pontos de encontro entre os sistemas notacionais alfabético e numérico Points of meeting between the systems notacionais alphabetical and numerical Iara Suzana Tiggemann...................................................................................................................288 • Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática Number sense and learning difficulties in mathematics Luciana Vellinho Corso; Beatriz Vargas Dorneles .........................................................................298 estudo de caso / case study • Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso Emotional problems in an adult with dyslexia: a case study Flávia Vianna Bonini; Raquel Regina Mari; Sandra Aparecida dos Anjos; Viviane Joveliano; Sueli Cristina de Pauli Teixeira . .....................................................................................................310
  • 11. EDITORIAL À s vésperas do IV Simpósio Internacional de Psicopedagogia da ABPp Nacional “Conhecer... Fazer... Compartilhar... Ser Psicopedagogo”, evento de singular expressão que encerra as comemorações dos 30 anos desta Associação, criada em São Paulo, em 1980, por Leda Barone e atualmente presidida por Quézia Bombonatto, temos o prazer de trazer uma edição repleta de artigos de notáveis educadores, pedagogos, psicopedagogos e pesquisadores. Um assunto que desponta na atualidade como de importância em todo mundo, a parceria entre a educação e a ciência, tem gerado importantes pesquisas, como temos a honra de publicar na abertura deste número de aniversário da ABPp: “Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando experiências”, escrito por Renata Mousinho, Claudia Tavares Ribeiro e Gláucia M. M. Martins. Este trabalho aponta a necessidade de redução das diferenças individuais no momento do ingresso à escola como fator decisivo para o enfrentamento e a diminuição prática das dificuldades de aprendizagem, assim como para a melhoria dos resultados dos processos envolvidos. O interesse científico pela análise do desempenho estudantil de crianças dos 7 aos 12 anos não se apresenta apenas nesse artigo, mas também na pesquisa “Comparação do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas”, de Adriana Nobre de Paula Simão, Ricardo Franco de Lima, Juliane Cristhine Natalin e Sylvia Maria Ciasca. Poucos são os artigos que trazem uma análise do desempenho em matemática com aprofundamento, linguagem clara e com resultados tão importantes para a aplicação prática, como o que nos apresentam Sônia das Dores Rodrigues, Adriana Regina Guassi e Sylvia Maria Ciasca, em “Avaliação do desempenho em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental. Estudo preliminar por meio do Teste de Habilidade Matemática”, uma pesquisa que precede na apresentação a outros dois artigos sobre temas correlatos a este, como se verá mais adiante. “Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco para a dislexia” é o artigo apresentado por Daniele de Campos Refundini, Maíra Anelli Martins e Simone Aparecida Capellini, baseado na interessante e esclarecedora pesquisa na qual as autoras concluem que quando é fornecida a instrução formal do princípio alfabético da Língua Portuguesa, os escolares que não apresentam o quadro de dislexia deixam de apresentar suas manifestações como resposta à instrução formal do princípio alfabético. Já “Habilidades de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências entre avaliação de professores e resultados em testes padronizados”, artigo enviado por Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, Chi Kow Mei, Alessandra Gotuzo Seabra, Deisy Ribas Emerich e Elizeu Coutinho de Macedo, constitui um trabalho de pesquisa sobre um dos assuntos mais importantes e mais controversos no nosso país: a eficácia das Classes de Recuperação de Ciclos, destinadas a desenvolver habilidades deficitárias dos alunos do Ciclo I do Ensino Fundamental da escola pública. Não menos discutido e analisado por vários pesquisadores de renome é o tema apresentado por Silvana Frota e Liliane Desgualdo Pereira, “Processamento auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita”, no qual o desempenho de crianças com distúrbios específicos de leitura e escrita, nos Testes Verbais e Não Verbais de Processamento Auditivo, e o de crianças sem o referido transtorno são comparados cientificamente. A contribuição de Tais de Lima Ferreira, Amanda Bulbarelli Martinez e Sylvia Maria Ciasca, com seu artigo “Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do 8 Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 161-2 161
  • 12. EDITORIAL 8 ensino fundamental”, nos remete ao papel de fundamental relevância desse desenvolvimento para a aprendizagem da criança nos aspectos emocionais, motores e cognitivos. De Nelson Pedro-Silva e Manoela de Fátima Cabral Simili, “Jogos regrados e educação: concepções de docentes do ensino fundamental” revela uma interessante análise sobre a concepção do docente a respeito das contribuições do emprego dos jogos no processo educativo e no desenvolvimento psicológico infantil. Relatos de experiências, sempre tão esperados por nossos leitores, são aqui representados por três artigos. O primeiro, “Construindo e construindo-se: uma experiência da Clínica Social da ABPp-ES”, escrito por Cheila Araujo Mussi Montenegro, Dina Lucia Fraga, Iara Feldman, Janine C. Barboza, Mara C. B. R. Lima, Maria da Graça von Kruger Pimentel, Maria José Saavedra Castro, Marieta Vieira Messina, Maristela do Valle e Sonia Volpini Coelho, e o segundo, “Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem psicopedagógica com foco na aprendizagem”, de Francisca Francineide Cândido. É de Olga Araújo Perazzolo, Siloe Pereira e Marcia M. Capellano dos Santos, o último relato de experiência desta edição: ”Discurso paterno: sinais indicativos de disfunções relacionais”. “O jogo como recurso de aprendizagem”, de Luciana Alves e Maysa Alahmar Bianchin, vem também pontuar a importância do aspecto lúdico para o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e é de Iara Suzana Tiggemann o artigo de revisão bibliográfica “Pontos de encontro entre os sistemas notacionais alfabético e numérico”, que aponta para uma metodologia interdisciplinar nos anos iniciais da escolarização, considerando que a criança pequena utiliza procedimentos que se integram a uma estrutura cognitiva mais ou menos comum. “Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática”, escrito por Luciana Vellinho Corso e Beatriz Vargas Dorneles, aborda o senso numérico como conceito-chave para a compreensão das dificuldades de aprendizagem na matemática e para a prevenção de dificuldades de aprendizagem futura nesta área. “Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso”, de Flávia Vianna Bonini, Raquel Regina Mari, Sandra Aparecida dos Anjos, Viviane Joveliano e Sueli Cristina de Pauli Teixeira, aborda os diversos tipos de sentimentos causados pela dislexia, baseando-se em um relato real, que encerra este número. Agradecemos a todos os autores e ao Conselho Editorial desta publicação, por terem feito com suas generosas contribuições mais que construírem a octogésima terceira edição da revista da ABPp Nacional, mas principalmente terem colaborado para a confecção de um verdadeiro documento histórico, retrato vivo de uma época de meteóricas e fundamentais mudanças no mundo, na ciência e na Psicopedagogia. Aos 30 anos da ABPp, à maturidade e ao reconhecimento científico desta revista, que foram arduamente conquistados em nome de todos os psicopedagogos: parabéns! Maria Irene Maluf Editora Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 161-2 162
  • 13. Parceria saúde-educação na UFRJ ARTIGO ORIGINAL Parceria saúde-educação na ufrj: compartilhando experiências Renata Mousinho; Claudia Tavares Ribeiro; Gláucia M. M. Martins RESUMO – Objetivo: Verificar os ganhos da parceria educação-saúde na experiência da fonoaudiologia da UFRJ com o CApUFRJ. Método: Análise quantitativa - participaram da pesquisa crianças que cursaram o 1° ano em 2007, com idade média de 6,4 anos, em três momentos distintos: no início do primeiro ano e no início e no fim do segundo ano letivo. A primeira avaliação serviu para determinar os grupos de alfabetizados e não alfabetizados na entrada da escola. Nas duas avaliações subsequentes, foram investigadas a velocidade, a compreensão, a fluência e a precisão de leitura. Análise qualitativa – impressões sobre o impacto nos alunos, na família e na equipe profissional da escola. Resultados: No início do ano letivo, a discrepância entre os grupos mostrou-se bastante importante em todos os parâmetros avaliados, no fim do segundo ano, essa diferença foi bastante minimizada, tendo mesmo desaparecido em parte das habilidades investigadas; o impacto nas diversas categorias da comunidade escolar foi positivo. Considerações finais: Em curto prazo de tempo, foi possível minimizar diferenças individuais que se impunham de forma gritante no momento do ingresso à instituição. Considerando a multifatoriedade das questões envolvidas no processo ensino-aprendizagem e os desafios postos à educação na atualidade, a parceria educação-saúde que vai sendo construída do CAp com o Setor de Fonoaudiologia da UFRJ é uma importante via de enfrentamento das dificuldades presentes e de produção de conhecimento na área. UNITERMOS: Educação. Saúde. Aprendizagem. Fonoaudiologia. Renata Mousinho – Fonoaudióloga. Mestre em Correspondência Linguística pela Universidade Federal do Rio Renata Mousinho de Janeiro (UFRJ). Professora da Graduação em Av. das Américas 2678, casa 11 – Barra da Tijuca – Rio Fonoaudiologia da UFRJ. de Janeiro, RJ – CEP 22640-102 Claudia Ribeiro – Pedagoga. Especialista em E-mail: renatamousinho@ufrj.br Sexologia Humana. Orientadora Educacional do Colégio de Aplicação da UFRJ. Gláucia M. M. Martins – Psicopedagoga. Mestre em Tecnologias Educacionais nas Ciências da Saúde pela UFRJ. Doutoranda em Educação pela UNICAMP. Orientadora Educacional do Colégio de Aplicação da UFRJ. Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70 163
  • 14. Mousinho R et al INTRODUÇÃO Nessa perspectiva, a parceria educação- Problemas de leitura causam impacto em saúde tem um papel social primordial: diminuir toda a escolaridade, trazendo repercussões diferenças que, a princípio, podem parecer afetivas e sociais. Diversos estudos mostram a entraves ao desenvolvimento. Considerando a importância da prevenção e identificação das leitura com compreensão uma das habilidades crianças em risco de problemas de leitura, para básicas para novos aprendizados, julgou-se im- possibilitar a intervenção precoce e minimizar portante utilizar este parâmetro nesta pesquisa futuros prejuízos. Identificar esses problemas que pretende ilustrar o sucesso da experiência de leitura precocemente torna-se emergente nos primeiros quatro anos dessa parceria. diante da possibilidade de poder eliminá-los ou São muitos os aspectos necessários à com- minimizá-los por meio de estimulação precoce. preensão da leitura, dentre eles a fluência, a Autores chamam a atenção para o fato de velocidade, a precisão, assim como com as ha- que pesquisadores, educadores e políticos vêm bilidades metalinguísticas e cognitivas3,4. dando mais atenção a estas questões, demons- Neste contexto, os principais objetivos deste trando o impacto positivo de programas de artigo são: intervenção precoce sobre possíveis problemas • presentar por meio de parâmetros qualita- a de leitura1,2. É justamente a convicção de que é tivos e quantitativos os ganhos da parceria importante trabalhar conjuntamente, visando educação-saúde para a comunidade escolar; ao desenvolvimento pleno das crianças, que é • companhar a evolução das habilidades de a a alma desta parceria entre a equipe da fono- leitura nos primeiros anos do ensino funda- audiologia da UFRJ, especializada em leitura mental, comparando o grupo que já entrou e escrita, de um lado, e a equipe do Colégio de alfabetizado na escola, com aquele não alfa- Aplicação da UFRJ, encabeçada pelo Serviço betizado; de Orientação Educacional, de outro. • nvestigar o quanto a parceria educação-saúde i Esta experiência diz respeito a uma pro- pode interferir na evolução das tarefas de posta longitudinal, que vem acompanhando o leitura nas primeiras séries do ensino funda- desenvolvimento linguístico das crianças que mental em grupos com experiência de leitura cursaram o 1° ano do ensino fundamental em totalmente diversificadas. 2007 e se estenderá durante todo processo de escolarização formal, ou seja, até o 3° ano do ensino médio. Dela fazem parte: MÉTODO • ma avaliação individual anual das crianças; u • rientações aos pais (anuais para todos, o Análise quantitativa: a análise de dados mensais para crianças com dificuldades ou Inicialmente, participaram da investigação sob demanda); 50 crianças ingressantes em uma escola de • rientações e trocas com professores (para o referência em educação pública no Rio de Ja- toda a escola, anuais; para os professores que neiro.Há uma grande procura pelas vagas nesta estiverem atuando direto com este grupo, instituição e a atual forma de ingresso no 1º ano trimestrais ou sob demanda); do ensino fundamental é realizada por meio de • iscussões com a equipe de orientação edu- d sorteio entre os candidatos inscritos. Como con- cacional (trimestrais ou sob demanda); sequência, embora todas as crianças tivessem • ficinas de linguagem para as crianças em o média de 6 anos, apresentavam diferenças em risco de Dislexia ou Distúrbio de Aprendi- sua experiência com a leitura e a escrita, que zagem; variava entre o desconhecimento completo do • tendimento individual para aqueles com a sistema de escrita do português e o domínio de diagnóstico estabelecido. leitura com razoável fluência. Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70 164
  • 15. Parceria saúde-educação na UFRJ Os procedimentos aconteceram em três ca-sa), pausado (com prolongamentos entre as etapas, a saber: palavras) ou fluente (sem pausas grandes, com 1. Etapa 1: realizada em maio do 1º ano do contorno prosódico). A fim de investigar a preci- ensino fundamental, quando as crianças tinham são da leitura, foi utilizada uma lista de palavras idade média de 6,4 anos. Os grupos de leitores isoladas reais, utilizando como variáveis o tipo e não-leitores foram constituídos a partir do de palavra (regulares, irregulares ou regras), a desempenho das crianças na leitura de uma frequência (alta ou baixa), e o comprimento das lista de 24 palavras adaptada para classe de palavras (dissílabas ou trissílabas)7, adaptada8. alfabetização5. O grupo de não-leitores (G1) foi 3. Etapa 3: realizada no 2º ano do ensino formado com as crianças que não leram quais- fundamental - fim do ano letivo. A etapa 2 foi quer das palavras da lista, enquanto o grupo repetida. de leitores (G2) foi constituído por aqueles que Cabe ressaltar que as crianças do grupo obtiveram os 25% escores mais altos na tarefa de não-leitores foram convidadas a participar de leitura, o que correspondeu à leitura fluente de oficinas de linguagem oral e escrita que de no mínimo 23 palavras. Desta forma, foram ocorreram semanalmente no serviço de fonoau- 20 crianças incluídas no grupo de não-leitores diologia da UFRJ entre a primeira e a terceira (Idade média = 6,7; DP=2,87) e 13 crianças no coletas. Todos os responsáveis pelos alunos grupo de leitores (Idade média=6,8; DP=3,95; avaliados assinaram o termo de consentimento Mdn= 24 palavras). livre e esclarecido da pesquisa aprovada sob o 2. Etapa 2: realizada no 2º ano do ensino número 003/07 do Comitê de Ética e Pesquisa fundamental - início do ano letivo. Para verifi- do Instituto de Neurologia Deolindo Couto – RJ/ car a velocidade, foi cronometrada a leitura do UFRJ. texto narrativo “O Acidente”6, composto por O desempenho de G1 e G2 nas tarefas de 196 palavras e 939 caracteres. Com vistas a ve- leitura foi comparado usando o teste t de Stu- rificar a compreensão, foram realizadas quatro dent para amostras independentes. perguntas eliciadoras, abrangendo o conteúdo do texto. O padrão de leitura poderia ser iden- RESULTADOS tificado como silabado (Ex: O me-ni-no sa-iu de A Tabela 1 revela os resultados do grupo que Tabela 1 – Tarefas de leitura em G1 e G2, nos 2 momentos avaliados. G1 G2 (n = 20) (n = 13) df t p M DP M DP Velocidade 1 438,67 290,142 175,50 700,176 31 3,730 0.001** Padrão 1 1,60 0,737 2,56 0,705 31 -3.783 0.001** Precisão 1 40,40 12,540 46,56 1,247 24.409 -2.077 0.046* Compreensão 1 2,47 1,302 3,72 0,461 31 -3.824 0.002** Velocidade 2 199,40 92,230 135,67 45,075 19.492 2.444 0.024* Padrão 2 2,40 0,507 2,44 0,705 30.425 -210 0.840 Precisão 2 46,67 1,047 46,94 1,259 31.000 -692 0.494 Compreensão 2 3,47 0,915 3,78 0,428 31 -1.211 0.208 Nota *p ≤ 0,05; **p ≤ 0,01 Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70 165
  • 16. Mousinho R et al entrou na escola sem conhecimento do sistema Figura 1 - Evolução da velocidade, padrão, precisão de escrita (G1), seguido dos resultados do grupo e compreensão de leitura em G1 e G2. que iniciou no CAP-UFRJ já alfabetizado (G2). Os valores das colunas subsequentes referem- se à comparação entre ambos os grupos. As linhas de velocidade, padrão, compreensão e precisão seguidos do algarismo 1 referem-se à análise realizada no início do 2° ano. Aquelas seguidas pelo algarismo 2 dizem respeito aos valores obtidos quando as crianças estavam no fim do 2° ano. A diferença entre G1 e G2 foi altamente significativa na primeira avaliação, sobretudo na velocidade, padrão e compreensão de textos. A média da velocidade de leitura do G1 foi de 438,6 segundos (2 minutos e 92 segundos) em contraste com a do G2, que leu todo o texto em 175,5 segundos (7 minutos e 31 segundos). Enquanto o G1 apresentou um padrão silabado/ ler no início do 1° ano, está representado pela pausado, o G2 apresentou um padrão pausado/ cor azul. O G2, grupo formado por crianças fluente. As respostas às perguntas que visavam que, na mesma época, já conseguiram ler 23 observar a compreensão, um total de 4, apre- das 24 palavras de uma lista, está representado sentaram 2,47 de média em G1, contrastando pela cor vermelha. Cada uma das habilidades com 3,72 em G2. Significativo, mas numa aparece com indicação de 1, quando realizada escala menor, foi o número de palavras lidas no início do 2° ano, e com 2, quando realizada corretamente (precisão), que foi de 40,4 e 46,5, no fim deste ano letivo. respectivamente, para G1 e G2. Como se pode observar na Figura 1, a evo- Na segunda avaliação, no fim do ano letivo, lução foi grande em ambos os grupos, mas o somente a velocidade de leitura foi discreta- crescimento do G1 foi proporcionalmente muito mente significativa, considerando-se testes superior. No que diz respeito à velocidade de estatísticos. Os alunos do G1 puderam ler o leitura, a enorme discrepância observada no texto todo em 199,5 segundos (3 minutos e 33 início do 2° ano foi minimizada na segunda segundos), enquanto o G2 fez o mesmo em avaliação. Neste caso, quanto menor o valor, 135,6 segundos (2 minutos e 26 segundos). O melhor, já que o que se deseja é uma leitu- padrão de leitura apresentou-se de pausado ra mais veloz, portanto, realizada em menor a fluente em ambos os grupos. A precisão de tempo. Este resultado, associado ao padrão, leitura foi praticamente idêntica, de um total desta vez igualado entre os grupos em pausado- de 48 palavras, alunos do G1 acertaram 46,67, fluente, e à precisão, em que ambos os grupos enquanto os do G2 leram corretamente 46,94. acertaram quase que integralmente a lista de Assim como as demais habilidades, a compre- palavras propostas, possibilitam uma compre- ensão apresentou-se bastante similar nos dois ensão adequada. grupos (3,47 e 3,78, respectivamente), como Considerando-se que a compreensão é o pode ser observado na Figura 1. objetivo final da leitura e que os atuais moldes A fim de analisar melhor tais ganhos, os va- educacionais valorizam a compreensão não só lores foram colocados em proporção. Na Figura na disciplina específica, mas em todas as de- 1, o G1, formado pelas crianças que não sabiam mais, pode-se pensar que a pouca solidez nesta Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70 166
  • 17. Parceria saúde-educação na UFRJ área poderia prejudicar o início da escolarização condições de levar e trazê-los, seja para as ofi- formal, trazendo reflexos ao longo dos anos. cinas coletivas ou para os atendimentos indivi- Portanto, a possibilidade de reverter precoce- dualizados nas dependências da Universidade, mente o cenário inicial, altamente diversificado significou receber uma atenção especial em também no que diz respeito ao domínio sobre suas necessidades, gerando estímulo e autocon- a leitura, mostrou que a instituição em questão fiança para o enfrentamento das dificuldades, cumpriu um dos papéis cruciais da educação: fossem elas de velocidade, precisão ou compre- permitir oportunidades iguais a despeito das ensão na leitura. possibilidades iniciais de cada um. Mesmo para crianças que apresentam É importante lembrar que há crianças que comprometimento em outras áreas de seu de- ainda se mantêm defasadas em relação ao grupo senvolvimento, além do linguístico, participar e que, portanto, precisarão de mais tempo para dos atendimentos e oficinas de linguagem ofe- que tais habilidades se desenvolvam. Neste recidos pelo Setor de Fonoaudiologia fez dife- contexto, a parceria com o serviço de fonoau- rença. Alunos com alguma dificuldade em seu diologia, que já existia com o oferecimento de processo de escolarização costumam se retrair oficinas de linguagem ao grupo de crianças diante das experiências escolares, e se colocam menos hábil no aprendizado da leitura, torna-se à margem do processo do grupo em que estão mais relevante. inseridos. Observamos nos alunos que conti- nuaram participando do trabalho com a equipe de Fonoaudiologia que eles se fortaleceram e DISCUSSÃO puderam viver sua escolaridade de forma mais confiante e positiva. A nálise quantitativa: o ponto de vista da No tocante ao desenvolvimento cognitivo, escola observamos que o trabalho de estímulo e inter- Inicialmente, a possibilidade da parceria com venção, nas habilidades cognitivas relacionadas a Fonoaudiologia da UFRJ, por meio do proje- à aquisição da leitura e da escrita, desenvolvido to se configurou, primordialmente, como uma com as crianças atendidas pelo Projeto tem ótima oportunidade de avaliação e atendimento apresentado resultados importantes na interpre- aos alunos que apresentam dificuldades no tação, compreensão, realização de inferências e percurso de sua escolarização inicial. Contudo, estabelecimento de relações, em diferentes áre- esta parceria vem ampliando resultados que as do conhecimento, por parte destas crianças. se explicitam de formas específicas, nos três Embora ainda não tenhamos criado nenhum principais segmentos envolvidos na parceria: instrumento para aferição objetiva destas ha- alunos, famílias e corpo docente. bilidades, são observações também atestadas Em relação às crianças, poderíamos pontuar pelas avaliações formais da escola. alguns aspectos importantes relacionados ao Em relação às famílias, ressaltamos nos aten- percurso do grupo em estudo, no tocante ao dimentos aos responsáveis que a maioria deles desenvolvimento socioafetivo e cognitivo. Já compareceu às entrevistas agendadas pelo Setor na primeira fase, quando da primeira avaliação, de Orientação Educacional na escola, e levou as pudemos perceber que através da forma cuida- crianças às atividades indicadas, demonstrando dosa com que as atividades de avaliação foram enorme interesse pelo processo. Mesmo as fa- planejadas e realizadas com as crianças, as mílias que têm condições econômicas de arcar mesmas se mostraram à vontade, sem constran- com um tratamento fonoaudiológico para seus gimentos e até muito satisfeitas por participar! filhos, mantiveram a frequência nas atividades A mobilização na escola para a realização oferecidas pelo Projeto por valorizarem a articu- das avaliações e na família, que teve que criar lação dos profissionais da Fonoaudiologia com Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70 167
  • 18. Mousinho R et al a escola, pois a parceria propiciou a oportunidade CONSIDERAÇÕES FINAIS das famílias terem acesso a informações quanto Este artigo objetivou investigar a evolução ha- ao desenvolvimento de seus filhos, e dificuldades bilidades de leitura nos primeiros anos do ensino pontuais apresentadas de forma integrada com fundamental, comparando grupo que já entrou o processo ensino-aprendizagem desenvolvido alfabetizado na escola, com aquele não alfabeti- pela escola. zado, destacando o papel da escola na evolução A realização de reuniões gerais, voltadas para das tarefas de leitura nas primeiras séries do aspectos do desenvolvimento linguístico em suas ensino fundamental em grupo com experiência diferentes etapas, assim como, as entrevistas in- diversificada. dividuais voltadas para orientações relativas às Enquanto no início do ano letivo a discrepância dificuldades específicas de cada criança, ajuda- entre os grupos mostrou-se bastante importante em ram os responsáveis a compreender e mudar de todos os parâmetros avaliados, no fim do segundo postura frente às dificuldades das crianças. Muitas vezes, ao longo destas entrevistas, os responsáveis ano essa diferença foi bastante minimizada, tendo se reportavam a questões do desenvolvimento mesmo desaparecido em parte das habilidades das crianças em fases anteriores, estabelecendo investigadas. Tais dados confirmam evidências relações e expressando melhor compreensão da encontradas na literatura que apontam a relevân- situação de seus filhos. Podemos citar mais de um cia da intervenção precoce nas dificuldades de caso em que a família, que a princípio responsa- leitura9-12. bilizava a criança por suas dificuldades, pode per- Observou-se que a união de esforços saúde- ceber, a partir das orientações dadas pela equipe educação conseguiu, num curto prazo de tempo, da Fonoaudiologia, se tratar de um momento de minimizar diferenças individuais que se impunham desenvolvimento, entendendo-o não como uma de forma gritante no momento do ingresso à insti- impossibilidade, mas como uma etapa possível de tuição. Parcerias entre serviços podem se mostrar ser trabalhada, e quanto às dificuldades, possíveis relevantes no desafio de educar na diversidade. de serem superadas. A multifatoriedade das questões envolvidas A parceria entre o Setor de Fonoaudiologia e o no processo ensino-aprendizagem tem indica- CAp possibilitou aos docentes o acesso a informa- do a necessidade da articulação entre equipes ções fundamentais para a sua atuação. A avaliação multidisciplinares para o enfrentamento dos e o diagnóstico das dificuldades apresentadas pelas desafios postos à educação na atualidade. crianças, acompanhados de uma interlocução entre Dentre estes desafios, ressaltamos a conquista os dois principais agentes que atuam na questão - do atendimento às diferentes modalidades de professores e fonoaudiólogos - representam uma forma de melhor conhecer essas dificuldades em aprendizagem presentes na escola. Neste senti- sua etiologia, por um lado, e em suas manifesta- do, entendemos que a parceria educação-saúde ções, por outro. Desta forma, são ampliadas formas que vem sendo construída entre o CAp e o Setor de oferecer, também por meio da família e do tra- de Fonoaudiologia da UFRJ é uma importante balho pedagógico da escola, aquilo que a criança via de enfrentamento das dificuldades presentes precisa para a superação de suas dificuldades e no processo de ensino-aprendizagem e também, pleno desenvolvimento de suas potencialidades. de produção de conhecimento na área. Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70 168
  • 19. Parceria saúde-educação na UFRJ SUMMARY Health-education partnership at UFRJ: sharing experiences Objective: This paper aims at presenting the gains of the health- education partnership for the school community. Methods: Quantitative analysis - participants were fifty 6.4 years old children in the 1st grade in 2007, and the same group at the beginning and end of the 2nd grade in 2008. The first evaluation determined the groups of literate and illiterate at school entry. Were investigated in two subsequent speed, comprehension, fluency and reading accuracy. Qualitative analysis: what the impact on students, family and professional staff of the school. Results: While the beginning of the school year the discrepancy between the groups proved to be quite important in all parameters evaluated later in the second year this difference was much minimized, and has even disappeared in some of the skills investigated; the impact in the various categories of the school community was positive. Conclusion: In a short period of time, differences between children at the time of admission to the institution were minimized. Considering the multifactorial nature of the issues involved in the teaching- learning process and the challenges posed to education today, the health- education partnership, CAp and UFRJ’s graduation in Speech Therapy, is an important issue for learning development and for the production knowledge in the area. KEY WORDS: education. health. Learning. Speech, Language and Hearing Sciences. REFERÊNCIAS 5. Capovilla AGS, Capovilla FC. Problemas de 1. Vloedgraven JMT, Verhoeven L. Screening leitura e escrita: como identificar, prevenir of phonological awareness in the early ele- e remediar numa abordagem fônica. 5ª ed. mentary grades: an IRT approach. Dyslexia. São Paulo: Memnon/Fapesp;2007. 2007;57:33-50. 6. Cocco MF, Hailer MA. ALP 1: análise, lin- 2. Speece D, Ritchey K. A longitudinal study of guagem e pensamento: um trabalho de lin- the development of oral reading fluency in guagem numa proposta socioconstrutivista. young children at risk for reading failure. J São Paulo: FTD;1995. p.25-6. Learn Disabil. 2005;38(5):387-99. 7. Pinheiro A. Leitura e escrita: uma aborda- 3. Katzir T, Kim Y, Wolf M, Kennedy B, Lovett gem cognitiva. Campinas: Psy II;1994. M, Morris R. The relationship of spelling 8. Capovilla AGS, Capovilla FC. Uma perspec- recognition, RAN, and phonological aware- tiva geral sobre leitura, escrita e suas rela- ness to reading skills in older poor readers ções com consciência fonológica. In: Capo- and younger reading-matched controls. villa AGS, Capovilla FC, eds. Problemas de Read Writ. 2006;19:845-72. leitura e escrita. São Paulo:Memnon;2000. 4. Goff D, Pratt C, Ong B. The relations be- p.3-37. tween children’s reading comprehension, 9. Capellini SA, Sampaio MN, Kawata KHS, working memory, language skills and com- Padula NAMR, Santos LCA, Lorencetti MD, ponents of reading decoding in a normal et al. Eficácia terapêutica do programa de sample. Read Writ. 2005;18:583-616. remediação fonológica em escolares com Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70 169
  • 20. Mousinho R et al dislexia do desenvolvimento. Rev CEFAC. JL, Gomes E. Influência da consciência 2010;12(1):27-39. fonológica na escrita de pré-escolares. 10. Deuschle V, Cechella C. O déficit em cons- Rev CEFAC. 2008;10(2):175-81. ciência fonológica e sua relação com a 1 2. Zuanetti PA, Schneck APC, Man- dislexia: diagnóstico e intervenção. Rev fredi AKS. Consciência fonológica CEFAC. 2009;11(Supl. 2):194-200. e desempenho escolar. Rev CEFAC. 1 1. Dambrowski AB, Martins CL, Theodoro 2008;10(2):168-74. Trabalho realizado no Instituto de Neurologia Artigo recebido: 11/3/2010 Deolindo Couto – UFRJ, Rio de Janeiro, RJ. Aprovado: 1/7/2010 Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70 170
  • 21. Atenção e funções executivas ARTIGO ORIGINAL Comparação do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas Adriana Nobre de Paula Simão; Ricardo Franco de Lima; Juliane Cristhine Natalin; Sylvia Maria Ciasca RESUMO – O objetivo da presente pesquisa foi comparar o desempenho de crianças, de ambos os gêneros, de faixa etária entre 7-12 anos, com e sem queixas de dificuldades de atenção e aprendizagem em instrumentos que avaliam a atenção e aspectos das funções executivas. Foram usados os seguintes instrumentos: Stroop Color Word Test, Trail Making Test A/B, Testes de Cancelamento e Torre de Londres. Os resultados foram organizados em função dos gêneros, distribuição de frequência das queixas e caracterização do desempenho. Foram obtidas diferenças significativas entre os grupos nos escores dos Testes. O grupo com queixas apresentou escores de tempo e erros aumentados em relação ao grupo sem queixas. No caso do escore da TOL, o grupo sem queixas apresentou escore maior. UNITERMOS: Testes neuropsicológicos. Atenção. Transtornos de aprendizagem. Adriana Nobre de Paula Simão – Psicóloga; Mestre Correspondência e Doutora em Ciências Médicas – Faculdade de Adriana Nobre de Paula Simão Ciências Médicas - FCM/UNICAMP. Rua Hermantino Coelho, 841, Apto 23 – Mansões Ricardo Franco de Lima – Neuropsicólogo; Santo Antônio – Campinas, SP – CEP 13087-500 Aprimoramento/Especialização em Psicologia E-mail: drisimao@gmail.com Clínica em Neurologia Infantil – FCM/UNICAMP; Mestrando em Ciências Médicas – Saúde Mental – FCM/UNICAMP. Bolsista CNPq. Juliane Cristhine Natalin – Psicóloga; Aprimoramento/ Especialização em Psicologia Clínica em Neurologia Infantil – FCM/UNICAMP. Sylvia Maria Ciasca – Neuropsicóloga; Livre Docente em Neurologia Infantil – FCM/UNICAMP. Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80 171
  • 22. Simão ANP et al. INTRODUÇÃO A flexibilidade mental refere-se à capacida- A atenção e funções executivas são funções de de o indivíduo modificar o curso dos pensa- corticais importantes para o processo de apren- mentos, atos e estratégias e alternar a atenção. dizagem, estando diretamente envolvidas com De acordo com Cañas et al.9, esta capacidade as habilidades escolares de leitura, escrita e permite ao indivíduo adaptar seu processamen- cálculo. Dadas estas relações, as queixas de to cognitivo em função de condições novas e dificuldades na atenção motivam grande parte inesperadas do ambiente. dos encaminhamentos de crianças e adolescen- O controle inibitório é a capacidade de sele- tes para avaliação interdisciplinar. Em estudo ção entre estímulos relevantes em detrimento de Lima et al.1, foi observado que as queixas dos estímulos distratores e a inibição de respos- escolares e familiares referentes à desatenção tas automáticas10,11. foi a segunda maior queixa (19%), sendo a pri- Para os autores Capovilla Dias12, no con- meira de dificuldades na aprendizagem (47%). texto escolar, dificuldades atencionais são A atenção pode ser definida como a capa- frequentemente relacionadas a problemas de cidade de o indivíduo selecionar e focalizar aprendizagem e podem prejudicar significa- seus processos mentais em algum aspecto do tivamente a aprendizagem, por exemplo, da ambiente interno, como ideias armazenadas na leitura e da escrita. Tonelotto13 também afirma memória ou no ambiente externo, respondendo que crianças com prejuízos atencionais podem predominantemente aos estímulos que lhe são ter dificuldades no processo de escolarização significativos e inibindo os distratores2,3. e apresentam problemas tanto na leitura e na A atenção não constitui um processo único, escrita, bem como, no cálculo. De acordo com podendo ser dividida em: seletiva, sustentada, a autora, o prejuízo escolar se manifesta pela alternada e dividida. A atenção seletiva refere- dificuldade da criança planejar e organizar as se à capacidade de discriminação entre estí- tarefas e solucionar os problemas. mulos relevantes e irrelevantes. A sustentada A relação entre a atenção e o desempenho é a capacidade de manter o foco atencional em escolar foi evidenciada no estudo realizado um determinado estímulo, por um período de tempo, para executar uma tarefa. A atenção por Capovilla Dias12 com crianças sem di- alternada refere-se à capacidade de alternar ficuldades de aprendizagem. No estudo ficou o foco entre diferentes estímulos e a atenção demonstrada a tendência de desenvolvimento dividida, por sua vez, compreende a divisão desta função ao longo das séries escolares, as- do foco atencional para o desempenho de duas sim como a correlação positiva e significativa tarefas simultaneamente4,5. entre o desempenho de crianças em testes de As Funções Executivas (FE) são consideradas atenção e seu desempenho escolar. como um conjunto de funções responsáveis por Em outro estudo realizado por Lima et al.14 iniciar e desenvolver uma atividade com objeti- com crianças sem dificuldades de aprendiza- vo final determinado, incluindo amplo espectro gem, também foram observadas correlações de processos cognitivos, como por exemplo: ca- significativas entre o desempenho em tarefas pacidade de planejamento e uso de estratégias, de atenção e funções executivas e os escores flexibilidade mental e controle inibitório5-7. de testes de leitura, escrita e cálculo. O estudo Conforme afirmam Dehaene Changeux8, demonstrou que o bom desempenho escolar a capacidade de planejamento envolve um se relaciona com bom desempenho nestes conjunto de representações mentais e/ou uma instrumentos. sequência de comportamentos que são dirigidos Há evidências de alterações significativas para um determinado objetivo. da atenção e funções executivas em diferentes Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80 172
  • 23. Atenção e funções executivas transtornos na infância e adolescência, como MÉTODO por exemplo, no Transtorno do Déficit de Aten- ção e Hiperatividade (TDAH)15-17 e na Dislexia Participantes do Desenvolvimento11,18,19. Foram participantes da pesquisa, um total Especificamente, TDAH é transtorno carac- de 40 crianças, de ambos os gêneros, com faixa terizado por padrão persistente de desatenção etária entre 7 e 12 anos de idade, cursando do e/ou hiperatividade-impulsividade. Tais sinto- 1º ao 7º ano do Ensino Fundamental. A amostra mas devem ser mais frequentes e graves do que foi dividida em dois grupos distintos: aqueles observados em indivíduos com idade a) 0 crianças com queixas de dificuldades 2 equivalente; devem estar presentes antes dos de aprendizagem e atenção; sete anos de idade; presentes em pelo menos b) 0 crianças sem queixas de dificuldades 2 dois contextos (por exemplo, em casa e na es- de aprendizagem e atenção. cola); não podem ser explicados por outro trans- Os critérios de inclusão e exclusão dos torno e causam prejuízos ao desenvolvimento participantes do grupo com queixas foram: a) global da criança, assim como consequências apresentar queixas de dificuldades de apren- emocionais, sociais, familiares e escolares20-22. dizagem e atenção; b) assinatura do Termo Estudo desenvolvido em escolas públicas de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) no Brasil estimou prevalência de 3%, sendo o pelos pais; c) não apresentar rebaixamento no gênero masculino mais acometido e o subtipo nível intelectual, isto é, apresentar Quociente de Inteligência (QI) dentro da média (QI80); d) combinado, o mais frequente23. No estudo de não apresentar déficits sensoriais e/ou motores. metanálise realizado por Polanczych et al.24 Os critérios de inclusão e exclusão dos par- com mais de 8.000 pesquisas, chegou-se a uma ticipantes do grupo sem queixas foram: a) não estimativa aproximada de 5% da população apresentar queixas de dificuldades de aprendi- mundial infantil em idade escolar. zagem e/ou atenção; b) ter sido indicado pelo Do ponto de vista etiológico, sabe-se que professor por apresentar bom desempenho es- o TDAH é um transtorno crônico que possui colar; c) assinatura do Termo de Consentimento substrato biológico com disfunções no córtex Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pais; d) não pré-frontal e em suas conexões com o circuito apresentar déficits sensoriais e/ou motores. subcortical e córtex parietal5,25,26. De acordo com Knapp et al.27, essas alterações explicam o défi- Instrumentos cit nas funções executivas, incluindo memória Para a coleta dos dados foram utilizados os de trabalho, planejamento, autorregulação de seguintes instrumentos: motivação e do limiar para ação dirigida a ob- jetivo definido e internalização da fala. Stroop Color Word Test – SCWT14 Diante destas considerações, fica evidente O teste visa avaliar a capacidade do estudan- a necessidade do desenvolvimento de instru- te em considerar estímulos relevantes e descon- mentos que permitam a avaliação da atenção siderar os estímulos não-relevantes. É composto e funções executivas e que possam diferenciar por quatro cores (vermelho, amarelo, azul e crianças que apresentam dificuldades. verde) e 24 estímulos em cada uma das três Sendo assim, foi objetivo do presente tra- partes: a) “Cartão Cores” (C): a criança deve balho comparar o desempenho de crianças nomear os quadrados pintados nas quatro cores com e sem queixas de dificuldades de atenção organizadas em ordem pseudo-randômica; b) e aprendizagem em instrumentos que avaliam “Cartão Palavras” (P): a criança deve dizer os a atenção e aspectos das funções executivas. nomes nas cores impressas, que agora estão nas Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80 173
  • 24. Simão ANP et al. cores correspondentes (situação congruente); c) mento e raciocínio lógico. É composta por uma “Cartão Cor-Palavra” (CP): são apresentados base de madeira com três pinos verticais e nomes de cores impressos em outras cores, por quatro discos coloridos do mesmo tamanho, com exemplo, a palavra “Amarelo” impressa na furo no centro para o encaixe nos pinos. O obje- cor “Vermelha” (condição incongruente) e a tivo é mover os discos para reproduzir, em um criança deve nomear a cor e não ler a palavra. número determinado de movimentos, a posição Foram obtidos escores de tempo (em segundos) de uma figura-alvo apresentada. Existem dez e número de erros. Também foram calculados problemas com grau crescente de dificuldade, os escores de facilitação (C-P) e interferência e a partir de uma posição inicial a criança deve (CP-C) para tempo e erros. realizar a tarefa em uma quantidade específica de movimentos. São permitidas três tentativas Trail Making Test A/B - TMT-A/B14 para a resolução do problema e a resposta é A parte A do TMT é um teste de atenção considerada correta quando a solução é alcan- sustentada visual, composto por folha com çada com o correto de movimentos. Os escores círculos numerados de 1 a 25, distribuídos de de cada item podem variar de 0 a 3 pontos e o forma aleatória, na qual a criança deve traçar escore total é a soma dos escores de todos os uma linha ligando a sequência numérica. Foram itens. O escore pode variar de 0 a 30 pontos. obtidos escores de tempo (em segundos) e nú- mero de erros de ligação. A parte B é um teste Procedimentos de flexibilidade mental, composto por círculos A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de com números e letras. A criança deve ligar al- Ética da Faculdade de Ciências Médicas da ternadamente os círculos com números e letras, Universidade Estadual de Campinas/UNI- seguindo respectivamente as ordens numérica CAMP. As crianças do grupo com queixas foram e alfabética. Também foram obtidos escores selecionadas dentre aquelas encaminhadas ao de tempo (em segundos), número de erros de Ambulatório de Neuro-Dificuldades de Apren- sequência e erros de alternância. dizagem, localizado no Hospital de Clínicas da UNICAMP, para avaliação e diagnóstico das Testes de Cancelamento - TC14 dificuldades de aprendizagem e atenção. As Constituem testes de atenção sustentada, crianças sem queixas foram selecionadas dentre exigindo rápida seletividade visual e resposta as indicações de professores de uma escola na motora repetitiva. Foram usadas duas versões: cidade de Campinas/SP, por não apresentarem a) Figuras Geométricas (TC-FG): a criança deve dificuldades de aprendizagem e/ou atenção. marcar os círculos encontrados o mais rápido Todas as crianças foram avaliadas individual- que conseguir em uma folha com uma sequên- mente após a assinatura do TCLE pelos pais. cia pseudo-randômica de figuras geométricas; O tempo de cada atendimento foi em torno de b) Letras em Fileiras (TC-LF): a criança deve 50 minutos e o número de encontros com cada marcar todas as letras “A” em uma folha com participante foi de três sessões. letras distribuídas de forma pseudo-randômica. Os dados foram analisados estatisticamente Em ambos foram obtidos os escores de tempo usando o SPSS v15. Foi adotado o nível de sig- (em segundos), erros por omissão (número de nificância de 5%, isto é, valor de p0,05. estímulos-alvo que a criança não assinalou) e erros por adição (número de estímulos-não alvo RESULTADOS que a criança assinalou). Caracterização da amostra Torre de Londres – TOL14 Com relação à amostra total, participaram Tarefa que avalia a habilidade de planeja- do estudo 40 crianças com idade média de Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80 174
  • 25. Atenção e funções executivas 9,48 (DP=1,46), sendo 23 (57,5%) do gênero tais critérios, as crianças do grupo propósito masculino e 17 (42,5%) do feminino. Não houve também deveriam apresentar queixas referen- diferenças (p=0,685) entre as idades médias do tes à atenção e à aprendizagem. A análise das gênero masculino (9,77+0,43 anos) e feminino queixas deste grupo indicou maior frequência (9,57+0,96 anos). daquelas referentes à atenção/concentração A Tabela 1 mostra a frequência dos gêneros (33,9%), seguida por dificuldade na leitura e em relação aos grupos de estudo. Não houve escrita (19,6%), conforme apresenta a Tabela 2. diferenças na distribuição entre os grupos (Teste de Fisher, p= 0,523). Comparação do desempenho A média de idade do grupo com queixas foi A comparação do desempenho entre os de 9,70 (DP=1,59) e do grupo sem queixas foi grupos nos instrumentos utilizados pode ser de 9,25 (DP=1,06), sem diferenças significativas observada na Tabela 3. entre elas (p=0,434). Também não houve dife- Os resultados indicaram que houve diferen- renças entre os grupos em relação ao nível de ças significativas entre os grupos nos escores escolaridade (Teste qui-quadrado; χ² =11,883, dos testes: Stroop Color Word Test (Cor-Erros g.l.=6, p=0,06). e Tempo, Palavra-Erros e Tempo, Cor/Palavra- Com relação ao grupo com queixas, a mé- Erros e Tempo, Interferência de Erros); Teste de dia do QI total foi de 102,65 (DP=21,96), obtido Cancelamento – Figuras Geométricas (Erros de por meio da Escala Wechsler de Inteligência Omissão e Tempo); Teste de Cancelamento – Le- para Crianças (WISC-III), de modo que não tras em Fileira (Erros de Omissão); Trail Making apresentavam rebaixamento intelectual, con- Test – Parte A (Erros e Tempo); Trail Making Test forme os critérios de inclusão. De acordo com – Parte B (Erros de Alternância, de Sequência Tabela 1 - Frequência dos gêneros em relação aos grupos. Grupos Gêneros/Grupos Total Com queixas Sem queixas Masculino 13 (57%) 10 (43%) 23 Feminino 7 (41%) 10 (59%) 17 Total 20 20 40 Tabela 2 - Distribuição de frequência de queixas. Queixas f % Atenção/ concentração 19 34 Dificuldade em leitura e/ou escrita 11 20 Agitação motora 7 12 Impulsividade 6 11 Dificuldade em aritmética/raciocínio lógico 5 9 Agressividade 4 7 Comportamento opositor 4 7 Total 56 100 Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80 175
  • 26. Simão ANP et al. Tabela 3 - Comparação dos escores dos instrumentos entre os grupos. Grupo p valora Com queixas Sem queixas SCWT-Cor Erro 1,20 (1,40) -- 0,000* SCWT- Cor Tempo 33,10 (11,35) 19,45 (6,38) 0,000* SCWT-Palavra Erro 1,05 (1,32) -- 0,000* SCWT-Palavra Tempo 29,05 (12,48) 16,05 (6,10) 0,000* SCWT-Cor/Palavra Erro 6,70 (6,09) 0,50 (0,89) 0,000* SCWT-Cor/Palavra Tempo 47,25 (11,72) 31,95 (7,32) 0,000* SCWT-Facilitação Erro 0,15 (1,42) -- 0,329 SCWT-Facilitação Tempo 4,05 (10,33) 3,40 (3,07) 0,745 SCWT-Interferência Erro 5,50 (6,39) 0,50 (0,89) 0,000* SCWT-Interferência Tempo 14,15 (11,96) 12,50 (4,96) 0,776 TC-FG Erros Adição -- -- 1,000b TC-FG Erros Omissão 2,60 (2,70) 0,05 (0,22) 0,000* TC-FG Tempo 100,45 (31,92) 80,25 (25,82) 0,010* TC-LF Erros Adição -- -- 1,000b TC-LF Erros Omissão 10,20 (8,40) 0,65 (1,14) 0,000* TC-LF Tempo 137,50 (47,47) 134,80 (61,39) 0,409 TMT-A Erros 0,85 (1,42) -- 0,009* TMT-A Tempo 83,65 (45,38) 40,55 (10,66) 0,000* TMT-B Erros Alternância 1,65 (2,39) 0,10 (0,31) 0,000* TMT-B Erros Sequência 3,70 (4,71) 0,10 (0,31) 0,000* TMT-B Tempo 215,40 (128,95) 105,45 (44,82) 0,002* TOL 15,15 (4,97) 19,70 (3,71) 0,002* a teste Mann-Whitney; bvalor não calculado, pois os escores entre os grupos foram iguais; *significativo estatisticamente. e Tempo) e Torre de Londres. O grupo com padrão já caracterizado em outros estudos de- queixas apresentou escores de tempo e erros senvolvidos no Ambulatório como, por exemplo, aumentados em relação ao grupo sem queixas. o estudo de Ciasca28, com frequência de 64% No caso do escore da TOL, o grupo sem queixas de meninos. Posteriormente, os estudos de Lima apresentou escore maior. et al.1, com 75%, e Lima et al.29, com 70% de crianças do gênero masculino. DISCUSSÃO Estudos realizados em outros serviços indi- No que se refere às características da amos- cam resultados semelhantes no que se refere tra, observou-se frequência maior de crianças ao encaminhamento para avaliação de crianças do gênero masculino (57%), dentre aquelas com dificuldades de aprendizagem. Scorte- encaminhadas ao Ambulatório de Neuro-Difi- gagna e Levandowski30, em estudo realizado culdades de Aprendizagem e pertencentes ao no Serviço de Psicologia do Programa Vincu- grupo com queixas. Este resultado segue um lação, de Caxias do Sul, observaram que, de Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80 176
  • 27. Atenção e funções executivas 111 encaminhamentos, 77 eram de crianças do Em crianças com queixas primárias de difi- gênero masculino. No estudo de caracterização culdades na linguagem escrita (leitura/escrita), da clientela da Clínica Escola da Universidade como por exemplo, as crianças com dislexia São Francisco (USF-SP), realizado por Romaro e do desenvolvimento, é observado prejuízo Capitão31, foi obtida maior frequência de enca- maior nos cartões palavra e cor-palavra, pois a minhamentos de crianças do gênero masculino, presença de estímulos com conteúdos verbais na faixa etária até os 14 anos de idade. (palavras) aumenta o efeito de interferência19. Quando consideradas as queixas do grupo De acordo com Marzocchi et al.34, disléxicos propósito do estudo, também foi verificado que apresentam prejuízo no processamento de tes- corroboram com outros trabalhos que indicam tes que envolvam estímulos verbais. No caso de maior frequência de encaminhamentos devido crianças que apresentam como queixa primária a dificuldades de atenção e de aprendiza- as dificuldades de atenção e, secundariamente, gem1,29,31,32. as dificuldades nas habilidades escolares, o es- Quando comparados os desempenhos dos tudo apresentou um padrão diferente. grupos com e sem queixas nos instrumentos, No Teste de Cancelamento – Figuras Geo- foram verificadas diferenças significativas em métricas, foram obtidas diferenças nos escores diferentes escores. de erros por omissão e no tempo de resolução, No Stroop Color Word Test, foram obtidas de modo que o grupo com queixas apresentou diferenças em todos os escores de tempo/erros pior desempenho. Não houve diferenças entre dos três cartões (Cor, Palavra e Cor-Palavra) e os grupos no escore de erros por adição, ou seja, no escore de Interferência de erro. Em todos os assinalar uma figura que não fosse o alvo. escores, o grupo com queixas apresentou valo- No Teste de Cancelamento – Letras em Filei- res maiores de tempo e erros quando comparado ra, os grupos foram diferentes apenas no escore ao grupo sem queixas, sugerindo dificuldades de erros por omissão, mas não nos escores de para a seleção entre estímulos relevantes e erros por adição e tempo. Podemos inferir que irrelevantes. No desempenho geral do teste, o grupo com queixas apresentou um tempo costuma-se observar tendência de diminuição maior de resolução da atividade, não diferindo dos escores (tempo/erros) do cartão cores para do grupo sem queixas, no entanto, apresentou o cartão palavra, uma vez que este último um número maior de erros por omissão, ou seja, apresenta situação de congruência da palavra por desatenção. e cor, facilitando o processamento do estímulo No Trail Making Test, os grupos diferiram e, consequentemente, da nomeação. Este efeito significativamente em todos os escores de am- foi observado nos dois grupos. bas as partes (Parte A e Parte B). O grupo com Posteriormente, observa-se aumento do queixas apresentou escores aumentados de tempo e número de erros no cartão cor-palavra, tempo e erros e, na parte A, o grupo sem queixas devido à situação de incongruência. Assim, a não apresentou erros. criança deve inibir a resposta automática de Na Torre de Londres, os grupos também leitura da palavra para emitir a resposta correta diferiram com maior média de escore do grupo nomeando a cor. sem queixas, indicando melhor capacidade de Para MacLead e MacDonald33, no desempe- planejamento. Em estudos com crianças com nho da situação incongruente do Stroop Color dislexia não são observadas diferenças com Word Test, as palavras interferem na nomeação crianças sem dificuldades utilizando este ins- da cor, mas o inverso não ocorre, indicando trumento35. que a leitura de palavras, do ponto de vista do O estudo sugere que os instrumentos utili- processamento cerebral, é mais automática que zados para a avaliação da atenção e funções a nomeação de cores. executivas (flexibilidade, planejamento e con- Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80 177