Este documento é uma revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia que contém artigos sobre educação, saúde, avaliação psicológica de estudantes, treinamento de habilidades de leitura e escrita, e processamento auditivo em crianças. Além disso, fornece informações sobre a Associação Brasileira de Psicopedagogia e seus núcleos e seções em todo o Brasil.
1. REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA • Nº 83 • 2010 • ISSN 0103-8486
Editorial / EditoriaL. ......................................................................................... 161
Artigos ORIGINAis / ORIGINAL ARTICLEs
• Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando experiências..........................................................163
• Comparação do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas...... 171
• Avaliação do desempenho em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental.
Estudo preliminar por meio do teste de habilidade matemática (THM)................................................ 181
• Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco para a dislexia................... 191
• Habilidades de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências entre avaliação
de professores e resultados em testes padronizados............................................................................202
• Processamento auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita........................... 214
.
• Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do ensino fundamental...............................................223
• Jogos regrados e educação: concepções de docentes do ensino fundamental...................................236
RELATOs DE EXPERIÊNCIA/EXPERIENCE REPORTs
• Construindo e construindo-se: uma experiência da Clínica Social da ABPp-ES......................................250
• Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem psicopedagógica com
foco na aprendizagem............................................................................................................................262
• Discurso paterno: sinais indicativos de disfunções relacionais..............................................................273
ponto de vista / point of view
• O jogo como recurso de aprendizagem.................................................................................................282
artigos DE REVISÃO / review articles
• Pontos de encontro entre os sistemas notacionais alfabético e numérico...........................................288
• Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática .......................................................298
estudo de caso / case study
• Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso ............................................. 310
30
ANOS
2. Associação Brasileira
de Psicopedagogia
Sede: Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000 - São Paulo - SP
Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 - www.abpp.com.br - psicoped@uol.com.br
NúcleoS e Seções da abPp
(Abril de 2010)
Núcleo Espírito Santo Seção Paraná Sul
Coordenadora: Maria da Graça Von Kruger Pimentel Diretora Geral: Sonia Maria Gomes de Sá Kuster
R. Elesbão Linhares, 420/601 – Canto da Praia R. Fernando Amaro, 431 – Alto da XV
Vitória – ES – CEP 29057-220 Curitiba – PR – CEP 80050-020
(027) 3225-9978 (041) 363-8006
mgvkp@terra.com.br abppprsul@hotmail.com
Núcleo Sul Mineiro Seção Pernambuco
Coordenadora: Júlia Eugênia Gonçalves Diretora Geral: Maria das Graças Sobral Griz
R. Deputado Ribeiro de Rezende, 494 - Centro R. das Pernambucanas, 277 – Graças
Varginha – MG – CEP 37002-100 Recife – PE – CEP 52011-010
(035) 3222-1214 (081) 3222-4375 – 3231-1461
julia@fundacaoaprender.org.br abpppe@gmail.com
Seção Bahia
Seção Piauí
Diretora Geral: Débora Silva de Castro Pereira
Diretora Geral: Amélia Cunha Rio Lima Costa
Av. Tancredo Neves, 3343 – Ed. Cempre – Sala 1103 –
Torre B – Caminho das Árvores R. Eletricista Guilherme, 815 – Ininga
Salvador – BA – CEP 41820-021 Teresina – PI – CEP 64049-530
(071) 3341-0121 (086) 3233-2878
abppsecao.ba@uol.com.br amelia.costa@ibest.com.br
Seção Brasília Seção Rio de Janeiro
Diretora Geral: Marli Lourdes da Silva Campos Diretora Geral: Ana Paula Loureiro e Costa
SCLN Quadra 102 – Bloco D – sala 110 Av. N. Sra. de Copacabana, 861 sala 302
Brasília – DF – CEP 70722-540 Rio de Janeiro – RJ – CEP 22060-000
(061) 3964-1004 (021) 2236-2012 / Fax: (021) 2521-6902
abppbsb@gmail.com abpp-rj@abpp_rj.com.br
Seção Ceará Seção Rio Grande do Norte
Diretora Geral: Galeára Matos de França Silva Diretora Geral: Ednalva de Azevedo Silva
R. Assis Chateaubriand, 362 A – Dionízio Torres R. São João, 1392 – Lagoa Sêca
Fortaleza – CE – CEP 60135-200 Natal – RN – CEP 59022-390
(085) 3261-0064 – 3268-2632 (084) 3223-6870
psicop_ceara@yahoo.com.br psicopedrn@yahoo.com.br
Seção Goiás Seção Rio Grande do Sul
Diretora Geral: Luciana Barros de Almeida Diretora Geral: Fabiani Ortiz Portella
Av. 85, 684 sala 207 – Ed. Eldorado Center – Av. Venâncio Aires, 1119/ sala 9
Setor Oeste Porto Alegre – RS – CEP 90520-000
Goiânia – GO – CEP 74120-090 (051) 3333-3690
(062) 3954-2178 abpp.rs@brturbo.com.br
psicopedagogiagoiasabpp@gmail.com
Seção Santa Catarina
Seção Minas Gerais
Diretora Geral: Albertina Celina de Mattos Chraim
Diretora Geral: Regina Rosa dos Santos Leal
R. Grão Mogol, 502 / 305 – Carmo Sion R. Eurico Gaspar Dutra, 445, sl 101- Estreito
Belo Horizonte – MG – CEP 30310-010 Florianópolis – SC – CEP 88075-100
(031) 3221-3616 (048) 3244-5984
abppminasgerais@gmail.com abppsc@abppsc.com.br
Seção Pará Seção São Paulo
Diretora Geral: Maria Nazaré do Vale Soares Diretora Geral: Sônia Maria Colli
Trav. 3 de Maio, 1218/ sl 105 – São Braz R. Carlos Sampaio, 304 – cj. 51- sl 03
Belém – PA – CEP 66060-600 São Paulo – SP – CEP 01333-020
(094) 3229-0565 (011) 3287-8406
abpppa@yahoo.com.br saopaulo@saopauloabpp.com.br
Seção Paraná Norte Seção Sergipe
Diretora Geral: Geiva Carolina Calsa Diretora Geral: Auredite Cardoso Costa
R. Montevidéu, 206 Av. Ivo Prado, 312 – Centro
Maringá - PR - CEP 87030-470 Aracaju – SE – CEP 49010-050
(044) 3026-1063 (079) 3211-8668/ 3211-78903
abpppr@ig.com.br auredite@hotmail.com
3. A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) é
uma entidade de caráter científico-cultural, sem fins
lucrativos, que congrega profissionais militantes na área da
Psicopedagogia.
Em 12 de novembro de 1980, um grupo de profissionais já
envolvidas e atuantes nas questões relativas aos problemas da
aprendizagem fundou a Associação Estadual de
Psicopedagogos do Estado de São Paulo, a AEP.
Devido ao grande interesse em torno dessa Associação, a sua
expansão a nível Nacional surgiu como necessidade imperiosa.
Em 1986, a AEP transformou-se na ABPp e gradativamente
foram sendo criados os seus escritórios de representação por
todo o Brasil, denominados de Núcleos e Seções.
Durante estes anos, a ABPp vem cuidando de questões
referentes à formação, ao perfil, à difusão e ao
reconhecimento da Psicopedagogia no Brasil, já tendo
alcançado muitas vitórias na luta pela sua regulamentação.
Atualmente, conta com 16 Seções e 2 Núcleos, espalhados
pelo Brasil, para melhor divulgar a Psicopedagogia e
aproximar os profissionais em torno de seus objetivos comuns.
30
ANOS
A ABPp promove conferências, cursos, palestras, jornadas,
congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua
área de atuação, por meio da revista científica
Psicopedagogia, da Revista do Psicopedagogo, do informa-
tivo Diálogo Psicopedagógico e do site www.abpp.com.br.
Oferece, ainda, descontos tanto nos eventos que
organiza quanto em eventos de terceiros, que são parceiros e
interessados nos assuntos desta área.
Preocupada com as questões sociais, a atual diretoria da
ABPp Nacional organizou um novo trabalho de cunho
sociocientífico, que visa não só ao atendimento
da população carente, promovendo a inserção social e a
divulgação da importância da prática psicopedagógica,
como também à implantação de um novo modelo de estudo
e pesquisa nesse campo. Dele poderão participar todos os
associados interessados em prestar um trabalho social.
Podem associar-se à ABPp todas as pessoas interessadas
nessa área de atuação, tendo ou não concluído a sua
especialização em Psicopedagogia.
Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000
São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567
www.abpp.com.br - psicoped@uol.com.br
4. Inicie aqui sua carreira científica!
1º Fórum de Iniciação Científica
Apresentação on-line de trabalhos científicos de alunos de graduação e pós-graduação.
A oportunidade para o estudante Universitário expor seu primeiro trabalho Científico.
Os melhores trabalhos receberão menção honrosa.
Veja no site: www.abpp30anos.com.br – o que é e como funciona o Fórum
Informações e Inscrições
Conheça o Fórum!
O encontro é composto de 3 partes!
Certificado com carga horária de 40 horas
IV Simpósio Interna- Sala Psicopedagógica Encontro com a
cional On-line Universidade
“Conhecer...Fazer...Com- “Navegar no saber Psico- “Aprendizagem sob o
partilhar pedagógico” enfoque
...Ser Psicopedagogo” Psicopedagógico”
Seis colóquios on-line,
Dias 14, 15 e 16 ao vivo A ABPp oferece, graciosamen-
de outubro, te, uma palestra. Entre em
em São Paulo contato conosco!
Telefone: (11) 3554-1758
Mais informações no site www.abpp30anos.com.br
Patrocínio Realização
EDITORA
VOZES
Organização
Parcerias
ARTE
em eventos
CONSULTORIA HOTELEIRA Telefone: (11) 3554-1758
A ABPp faz história em 30 anos de trajetória!
5. Editora
Maria Irene Maluf SP
Conselho Executivo
Maria Irene Maluf SP
Quézia Bombonatto SP
Cristina Valdoros Quilici SP
Conselho Editorial Nacional
Ana Lisete Rodrigues SP Maria Célia Malta Campos SP
Anete Busin Fernandes SP Maria Cristina Natel SP
Beatriz Scoz SP Maria Lúcia de Almeida Melo SP
Débora Silva de Castro Pereira BA
Maria Silvia Bacila Winkeler PR
Denise da Cruz Gouveia SP
Edith Rubinstein SP Marisa Irene Siqueira Castanho SP
Elcie Salzano Masini SP Mônica H. Mendes SP
Eloísa Quadros Fagali SP Nádia Bossa SP
Evelise Maria L. Portilho PR Neide de Aquino Noffs SP
Gláucia Maria de Menezes Ferreira CE Nívea M.de Carvalho Fabrício SP
Heloisa Beatriz Alice Rubman RJ
Regina Rosa dos Santos Leal MG
Leda M. Codeço Barone SP
Margarida Azevedo Dupas SP Rosa M. Junqueira Scicchitano PR
Maria Auxiliadora de Azevedo Rabello BA Sônia Maria Colli de Souza SP
Maria Cecília Castro Gasparian SP Vânia Carvalho Bueno de Souza SP
Conselho Editorial Internacional
Alicia Fernández - Argentina
Carmen Pastorino - Uruguai
César Coll - Espanha
Isabel Solé - Espanha
Maria Cristina Rojas - Argentina
Neva Milicic - Chile
Vitor da Fonseca - Portugal
Consultores ad hoc
Ana Maria Maaz Acosta Alvarez
Jaime Zorzi
Lino de Macedo
Lívia Elkis
Luiza Helena Ribeiro do Valle
Pedro Primo Bombonato
Saul Cypel
Sylvia Maria Ciasca
6. Associação Brasileira
de Psicopedagogia
Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000
São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567
www.abpp.com.br
psicoped@uol.com.br
PSICOPEDAGOGIA – Órgão oficial de divulgação 7) INDEX PSI – Periódicos – Conselho
da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp Federal de Psicologia
é indexada nos seguintes órgãos: 8) DBFCC – Descrição Bibliográfica
Fundação Carlos Chagas
1) LILACS - Literatura Latino-Americana e Editora Responsável: Maria Irene Maluf
do Caribe em Ciências da Saúde -
BIREME Jornalista Responsável: Rose Batista – 28.268
2) Clase - Citas Latinoamericanas en Cien- Revisão e Assessoria Editorial:
cias Sociales y Humanidades. Universidad Rosângela Monteiro
Nacional Autónoma de Mexico
Editoração Eletrônica: Sollo Comunicação
3) Edubase - Faculdade de Educação, Uni-
camp Impressão: Sollo Press
4) Bibliografia Brasileira de Educação - BBE
CIBEC / INEP / MEC
O conteúdo dos artigos aqui publicados é de
5) Latindex - Sistema Regional de Informa-
inteira responsabilidade de seus autores, não
ción en Línea para Revistas Científicas
de América Latina, El Caribe, España y expressando, necessariamente, o pensamento
Portugal do corpo editorial.
6) Catálogo Coletivo Nacional – Instituto É expressamente proibida qualquer modali-
Brasileiro em Ciência e Tecnologia – dade de reprodução desta revista, seja total ou
IBICT parcial, sob penas da lei.
Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia /
Associação Brasileira de Psicopedagogia. - Vol. 10, nº 21 (1991). São
Paulo: ABPp, 1991-
Quadrimestral
ISSN 0103-8486
Continuação, a partir de 1991, vol. 10, nº 21 de Boletim da
Associação Brasileira de Psicopedagogia.
1. Psicopedagogia. I. Associação Brasileira de Psicopedagogia.
CDD 370.15
7. Diretoria da Associação
Brasileira de Psicopedagogia
2008/2010
Diretoria Executiva
Presidente Diretora Científica Adjunta
Quézia Bombonatto Márcia Simões
queziabombonatto@abpp.com.br marciasimoes@abpp.com.br
Vice-Presidente
Cristina Valdoros Quilici Diretora Cultural
cristinaquilici@abpp.com.br Yara Marlene Prates
Tesoureira yara@donquixote.com.br
Maria Cecília Castro Gasparian Relações Públicas
mcgasparian@uol.com.br Telma Pantano
Secretária Administrativa telmapantano@terra.com.br
Maria Teresa Messeder Andion
Relações Públicas Adjunta
teresahandeon@abpp.com.br
Diretora Científica Edimara de Lima
Nádia Aparecida Bossa edimara.lima@terra.com.br
nadiabossa@abpp.com.br
Assessorias
Assessora de Divulgações Científicas Assessora de Reconhecimento e Cursos
Maria Irene Maluf Neide Aquino Noffs
irenemaluf@uol.com.br neidenoffs@abpp.com.br
Assessorias Regionais
Assessora Regional Bahia Assessora Regional Paraná
Maria Angélica Moreira Rocha Rosa Maria Schiccitano
maangelicarocha@gmail.com rosamaria@uel.br
Assessora Regional Ceará
Maria José Weyne Melo de Castro
mjweyne@yahoo.com.br
Conselheiras Vitalícias
Beatriz Judith Lima Scoz Sp Maria Irene Maluf Sp
Edith Rubinstein Sp Mônica H. Mendes Sp
Leda Maria Codeço Barone Sp Neide de Aquino Noffs Sp
Maria Cecília Castro Gasparian SP Nívea Maria de Carvalho Fabrício Sp
Maria Célia Malta Campos Sp
Conselheiras Eleitas (2008/2010)
Carla Labaki SP Maria Helena Bartholo RJ
Cleomar Landim de Oliveira SP Maria José Weyne M. de Castro CE
Cristina Vandoros Quilici SP Marisa Irene Siqueira Castanho SP
Ednalva de Azevedo Silva RN Marli Lourdes da Silva Campos DF
Eloisa Quadros Fagali SP Miriam do P .S.F. Vidigal Fonseca MG
Evelise Maria Labatut Portilho PR
Nadia Aparecida Bossa SP
Galeára Matos de França Silva CE
Heloisa Beatriz Alice Rubman RJ Neusa Kern Hickel RS
Janaina Carla R. dos Santos GO Quézia Bombonatto SP
Jozelia de Abreu Testagrossa BA Rosa Maria J. Scicchitano PR
Luciana Barros de Almeida Silva GO Silvia Amaral de Mello Pinto SP
Maria Auxiliadora de A. Rabello BA Sonia Maria Colli de Souza SP
Maria Cristina Natel SP Yara Prates SP
9. sumário
Editorial / Editorial
• Maria Irene Maluf ................................................................................................................................................161
Artigos ORIGINAis / ORIGINAL ARTICLEs
• Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando experiências
Health-education partnership at UFRJ: sharing experiences
Renata Mousinho; Claudia Tavares Ribeiro; Gláucia M. M. Martins. .........................................163
.
• Comparação do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas
Comparison of performance of students in instruments of attention and executive function
Adriana Nobre de Paula Simão; Ricardo Franco de Lima; Juliane Cristhine Natalin; Sylvia
Maria Ciasca. ...................................................................................................................................171
.
• Avaliação do desempenho em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental.
Estudo preliminar por meio do teste de habilidade matemática (THM)
Performance in mathematics of primary school children using the Test of Mathematics Ability:
preliminary study
Sônia das Dores Rodrigues; Adriana Regina Guassi; Sylvia Maria Ciasca..................................181
• Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco para a dislexia
Grapheme-phoneme correspondence training in students at risk for dyslexia
Daniele de Campos Refundini; Maíra Anelli Martins; Simone Aparecida Capellini..................191
• Habilidades de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências
entre avaliação de professores e resultados em testes padronizados
Reading and writing skills of child into recovery cycle I: divergences between assessment of
teachers and results of standardized tests
Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira; Chi Kow Mei; Alessandra Gotuzo Seabra; Deisy
Ribas Emerich; Elizeu Coutinho de Macedo..................................................................................202
• Processamento auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita
Auditory processing: study in children with specific reading and writing deficits
Silvana Frota; Liliane Desgualdo Pereira.......................................................................................214
.
• Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do ensino fundamental
Psychomotor evaluation with students of 1st grade
Tais de Lima Ferreira; Amanda Bulbarelli Martinez; Sylvia Maria Ciasca..................................223
.
• Jogos regrados e educação: concepções de docentes do ensino fundamental
The rules games and education: teachers conceptions of primary education
Nelson Pedro-Silva; Manoela de Fátima Cabral Simili.................................................................236
10. RELATOs DE EXPERIÊNCIA/EXPERIENCE REPORTs
• Construindo e construindo-se: uma experiência da Clínica Social da ABPp-ES
Building and building yourself: an experience of the ABPp-ES Social Clinic
Cheila Araujo Mussi Montenegro; Dina Lucia Fraga; Iara Feldman; Janine C. Barboza;
Mara C. B. R. Lima; Maria da Graça von Kruger Pimentel; Maria José Saavedra Castro;
Marieta Vieira Messina; Maristela do Valle; Sonia Volpini Coelho..............................................250
• Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem psicopedagógica
com foco na aprendizagem
Pedagogical practices and innovations in the teaching institution: a psychopedagogic
approach with focus in the apprenticeship
Francisca Francineide Cândido.......................................................................................................262
• Discurso paterno: sinais indicativos de disfunções relacionais
Paternal discourse: signs of relational dysfunctions
Olga Araújo Perazzolo; Siloe Pereira; Marcia M. Capellano dos Santos......................................273
ponto de vista / point of view
• O jogo como recurso de aprendizagem
The game as a learning resource
Luciana Alves; Maysa Alahmar Bianchin.......................................................................................282
artigos DE REVISÃO / review articles
• Pontos de encontro entre os sistemas notacionais alfabético e numérico
Points of meeting between the systems notacionais alphabetical and numerical
Iara Suzana Tiggemann...................................................................................................................288
• Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática
Number sense and learning difficulties in mathematics
Luciana Vellinho Corso; Beatriz Vargas Dorneles .........................................................................298
estudo de caso / case study
• Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso
Emotional problems in an adult with dyslexia: a case study
Flávia Vianna Bonini; Raquel Regina Mari; Sandra Aparecida dos Anjos; Viviane Joveliano;
Sueli Cristina de Pauli Teixeira . .....................................................................................................310
11. EDITORIAL
À
s vésperas do IV Simpósio Internacional de Psicopedagogia da ABPp
Nacional “Conhecer... Fazer... Compartilhar... Ser Psicopedagogo”, evento
de singular expressão que encerra as comemorações dos 30 anos desta
Associação, criada em São Paulo, em 1980, por Leda Barone e atualmente
presidida por Quézia Bombonatto, temos o prazer de trazer uma edição repleta
de artigos de notáveis educadores, pedagogos, psicopedagogos e pesquisadores.
Um assunto que desponta na atualidade como de importância em todo
mundo, a parceria entre a educação e a ciência, tem gerado importantes
pesquisas, como temos a honra de publicar na abertura deste número de
aniversário da ABPp: “Parceria saúde-educação na UFRJ: compartilhando
experiências”, escrito por Renata Mousinho, Claudia Tavares Ribeiro e Gláucia
M. M. Martins. Este trabalho aponta a necessidade de redução das diferenças
individuais no momento do ingresso à escola como fator decisivo para o
enfrentamento e a diminuição prática das dificuldades de aprendizagem, assim
como para a melhoria dos resultados dos processos envolvidos. O interesse
científico pela análise do desempenho estudantil de crianças dos 7 aos 12 anos
não se apresenta apenas nesse artigo, mas também na pesquisa “Comparação
do desempenho de estudantes em instrumentos de atenção e funções executivas”,
de Adriana Nobre de Paula Simão, Ricardo Franco de Lima, Juliane Cristhine
Natalin e Sylvia Maria Ciasca.
Poucos são os artigos que trazem uma análise do desempenho em matemática
com aprofundamento, linguagem clara e com resultados tão importantes para
a aplicação prática, como o que nos apresentam Sônia das Dores Rodrigues,
Adriana Regina Guassi e Sylvia Maria Ciasca, em “Avaliação do desempenho
em matemática de crianças do 5º ano do ensino fundamental. Estudo preliminar
por meio do Teste de Habilidade Matemática”, uma pesquisa que precede na
apresentação a outros dois artigos sobre temas correlatos a este, como se verá
mais adiante.
“Treinamento da correspondência grafema-fonema em escolares de risco
para a dislexia” é o artigo apresentado por Daniele de Campos Refundini,
Maíra Anelli Martins e Simone Aparecida Capellini, baseado na interessante e
esclarecedora pesquisa na qual as autoras concluem que quando é fornecida a
instrução formal do princípio alfabético da Língua Portuguesa, os escolares que
não apresentam o quadro de dislexia deixam de apresentar suas manifestações
como resposta à instrução formal do princípio alfabético. Já “Habilidades
de leitura e escrita de crianças na recuperação do ciclo I: divergências entre
avaliação de professores e resultados em testes padronizados”, artigo enviado
por Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, Chi Kow Mei, Alessandra Gotuzo
Seabra, Deisy Ribas Emerich e Elizeu Coutinho de Macedo, constitui
um trabalho de pesquisa sobre um dos assuntos mais importantes e mais
controversos no nosso país: a eficácia das Classes de Recuperação de Ciclos,
destinadas a desenvolver habilidades deficitárias dos alunos do Ciclo I do
Ensino Fundamental da escola pública.
Não menos discutido e analisado por vários pesquisadores de renome é o
tema apresentado por Silvana Frota e Liliane Desgualdo Pereira, “Processamento
auditivo: estudo em crianças com distúrbios da leitura e da escrita”, no qual o
desempenho de crianças com distúrbios específicos de leitura e escrita, nos
Testes Verbais e Não Verbais de Processamento Auditivo, e o de crianças sem
o referido transtorno são comparados cientificamente.
A contribuição de Tais de Lima Ferreira, Amanda Bulbarelli Martinez e Sylvia
Maria Ciasca, com seu artigo “Avaliação psicomotora de escolares do 1º ano do 8
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 161-2
161
12. EDITORIAL
8 ensino fundamental”, nos remete ao papel de fundamental relevância desse
desenvolvimento para a aprendizagem da criança nos aspectos emocionais,
motores e cognitivos.
De Nelson Pedro-Silva e Manoela de Fátima Cabral Simili, “Jogos regrados
e educação: concepções de docentes do ensino fundamental” revela uma
interessante análise sobre a concepção do docente a respeito das contribuições
do emprego dos jogos no processo educativo e no desenvolvimento psicológico
infantil.
Relatos de experiências, sempre tão esperados por nossos leitores, são aqui
representados por três artigos. O primeiro, “Construindo e construindo-se: uma
experiência da Clínica Social da ABPp-ES”, escrito por Cheila Araujo Mussi
Montenegro, Dina Lucia Fraga, Iara Feldman, Janine C. Barboza, Mara C. B.
R. Lima, Maria da Graça von Kruger Pimentel, Maria José Saavedra Castro,
Marieta Vieira Messina, Maristela do Valle e Sonia Volpini Coelho, e o segundo,
“Práticas pedagógicas e inovação na instituição de ensino: uma abordagem
psicopedagógica com foco na aprendizagem”, de Francisca Francineide
Cândido. É de Olga Araújo Perazzolo, Siloe Pereira e Marcia M. Capellano
dos Santos, o último relato de experiência desta edição: ”Discurso paterno:
sinais indicativos de disfunções relacionais”.
“O jogo como recurso de aprendizagem”, de Luciana Alves e Maysa
Alahmar Bianchin, vem também pontuar a importância do aspecto lúdico
para o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e é de Iara Suzana
Tiggemann o artigo de revisão bibliográfica “Pontos de encontro entre os
sistemas notacionais alfabético e numérico”, que aponta para uma metodologia
interdisciplinar nos anos iniciais da escolarização, considerando que a criança
pequena utiliza procedimentos que se integram a uma estrutura cognitiva mais
ou menos comum.
“Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na matemática”, escrito
por Luciana Vellinho Corso e Beatriz Vargas Dorneles, aborda o senso numérico
como conceito-chave para a compreensão das dificuldades de aprendizagem
na matemática e para a prevenção de dificuldades de aprendizagem futura
nesta área.
“Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso”,
de Flávia Vianna Bonini, Raquel Regina Mari, Sandra Aparecida dos Anjos,
Viviane Joveliano e Sueli Cristina de Pauli Teixeira, aborda os diversos tipos
de sentimentos causados pela dislexia, baseando-se em um relato real, que
encerra este número.
Agradecemos a todos os autores e ao Conselho Editorial desta publicação,
por terem feito com suas generosas contribuições mais que construírem a
octogésima terceira edição da revista da ABPp Nacional, mas principalmente
terem colaborado para a confecção de um verdadeiro documento histórico,
retrato vivo de uma época de meteóricas e fundamentais mudanças no mundo,
na ciência e na Psicopedagogia.
Aos 30 anos da ABPp, à maturidade e ao reconhecimento científico
desta revista, que foram arduamente conquistados em nome de todos os
psicopedagogos: parabéns!
Maria Irene Maluf
Editora
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 161-2
162
13. Parceria saúde-educação na UFRJ
ARTIGO ORIGINAL
Parceria saúde-educação na ufrj:
compartilhando experiências
Renata Mousinho; Claudia Tavares Ribeiro; Gláucia M. M. Martins
RESUMO – Objetivo: Verificar os ganhos da parceria educação-saúde
na experiência da fonoaudiologia da UFRJ com o CApUFRJ. Método:
Análise quantitativa - participaram da pesquisa crianças que cursaram o
1° ano em 2007, com idade média de 6,4 anos, em três momentos distintos:
no início do primeiro ano e no início e no fim do segundo ano letivo. A
primeira avaliação serviu para determinar os grupos de alfabetizados e
não alfabetizados na entrada da escola. Nas duas avaliações subsequentes,
foram investigadas a velocidade, a compreensão, a fluência e a precisão
de leitura. Análise qualitativa – impressões sobre o impacto nos alunos,
na família e na equipe profissional da escola. Resultados: No início do ano
letivo, a discrepância entre os grupos mostrou-se bastante importante em
todos os parâmetros avaliados, no fim do segundo ano, essa diferença foi
bastante minimizada, tendo mesmo desaparecido em parte das habilidades
investigadas; o impacto nas diversas categorias da comunidade escolar
foi positivo. Considerações finais: Em curto prazo de tempo, foi possível
minimizar diferenças individuais que se impunham de forma gritante
no momento do ingresso à instituição. Considerando a multifatoriedade
das questões envolvidas no processo ensino-aprendizagem e os desafios
postos à educação na atualidade, a parceria educação-saúde que vai
sendo construída do CAp com o Setor de Fonoaudiologia da UFRJ é uma
importante via de enfrentamento das dificuldades presentes e de produção
de conhecimento na área.
UNITERMOS: Educação. Saúde. Aprendizagem. Fonoaudiologia.
Renata Mousinho – Fonoaudióloga. Mestre em Correspondência
Linguística pela Universidade Federal do Rio Renata Mousinho
de Janeiro (UFRJ). Professora da Graduação em Av. das Américas 2678, casa 11 – Barra da Tijuca – Rio
Fonoaudiologia da UFRJ. de Janeiro, RJ – CEP 22640-102
Claudia Ribeiro – Pedagoga. Especialista em E-mail: renatamousinho@ufrj.br
Sexologia Humana. Orientadora Educacional do
Colégio de Aplicação da UFRJ.
Gláucia M. M. Martins – Psicopedagoga. Mestre em
Tecnologias Educacionais nas Ciências da Saúde pela
UFRJ. Doutoranda em Educação pela UNICAMP.
Orientadora Educacional do Colégio de Aplicação
da UFRJ.
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70
163
14. Mousinho R et al
INTRODUÇÃO Nessa perspectiva, a parceria educação-
Problemas de leitura causam impacto em saúde tem um papel social primordial: diminuir
toda a escolaridade, trazendo repercussões diferenças que, a princípio, podem parecer
afetivas e sociais. Diversos estudos mostram a entraves ao desenvolvimento. Considerando a
importância da prevenção e identificação das leitura com compreensão uma das habilidades
crianças em risco de problemas de leitura, para básicas para novos aprendizados, julgou-se im-
possibilitar a intervenção precoce e minimizar portante utilizar este parâmetro nesta pesquisa
futuros prejuízos. Identificar esses problemas que pretende ilustrar o sucesso da experiência
de leitura precocemente torna-se emergente nos primeiros quatro anos dessa parceria.
diante da possibilidade de poder eliminá-los ou São muitos os aspectos necessários à com-
minimizá-los por meio de estimulação precoce. preensão da leitura, dentre eles a fluência, a
Autores chamam a atenção para o fato de velocidade, a precisão, assim como com as ha-
que pesquisadores, educadores e políticos vêm bilidades metalinguísticas e cognitivas3,4.
dando mais atenção a estas questões, demons- Neste contexto, os principais objetivos deste
trando o impacto positivo de programas de artigo são:
intervenção precoce sobre possíveis problemas • presentar por meio de parâmetros qualita-
a
de leitura1,2. É justamente a convicção de que é tivos e quantitativos os ganhos da parceria
importante trabalhar conjuntamente, visando educação-saúde para a comunidade escolar;
ao desenvolvimento pleno das crianças, que é • companhar a evolução das habilidades de
a
a alma desta parceria entre a equipe da fono-
leitura nos primeiros anos do ensino funda-
audiologia da UFRJ, especializada em leitura
mental, comparando o grupo que já entrou
e escrita, de um lado, e a equipe do Colégio de
alfabetizado na escola, com aquele não alfa-
Aplicação da UFRJ, encabeçada pelo Serviço
betizado;
de Orientação Educacional, de outro.
• nvestigar o quanto a parceria educação-saúde
i
Esta experiência diz respeito a uma pro-
pode interferir na evolução das tarefas de
posta longitudinal, que vem acompanhando o
leitura nas primeiras séries do ensino funda-
desenvolvimento linguístico das crianças que
mental em grupos com experiência de leitura
cursaram o 1° ano do ensino fundamental em
totalmente diversificadas.
2007 e se estenderá durante todo processo de
escolarização formal, ou seja, até o 3° ano do
ensino médio. Dela fazem parte: MÉTODO
• ma avaliação individual anual das crianças;
u
• rientações aos pais (anuais para todos,
o Análise quantitativa: a análise de dados
mensais para crianças com dificuldades ou Inicialmente, participaram da investigação
sob demanda); 50 crianças ingressantes em uma escola de
• rientações e trocas com professores (para
o referência em educação pública no Rio de Ja-
toda a escola, anuais; para os professores que neiro.Há uma grande procura pelas vagas nesta
estiverem atuando direto com este grupo, instituição e a atual forma de ingresso no 1º ano
trimestrais ou sob demanda); do ensino fundamental é realizada por meio de
• iscussões com a equipe de orientação edu-
d sorteio entre os candidatos inscritos. Como con-
cacional (trimestrais ou sob demanda); sequência, embora todas as crianças tivessem
• ficinas de linguagem para as crianças em
o média de 6 anos, apresentavam diferenças em
risco de Dislexia ou Distúrbio de Aprendi- sua experiência com a leitura e a escrita, que
zagem; variava entre o desconhecimento completo do
• tendimento individual para aqueles com
a sistema de escrita do português e o domínio de
diagnóstico estabelecido. leitura com razoável fluência.
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70
164
15. Parceria saúde-educação na UFRJ
Os procedimentos aconteceram em três ca-sa), pausado (com prolongamentos entre as
etapas, a saber: palavras) ou fluente (sem pausas grandes, com
1. Etapa 1: realizada em maio do 1º ano do contorno prosódico). A fim de investigar a preci-
ensino fundamental, quando as crianças tinham são da leitura, foi utilizada uma lista de palavras
idade média de 6,4 anos. Os grupos de leitores isoladas reais, utilizando como variáveis o tipo
e não-leitores foram constituídos a partir do de palavra (regulares, irregulares ou regras), a
desempenho das crianças na leitura de uma frequência (alta ou baixa), e o comprimento das
lista de 24 palavras adaptada para classe de palavras (dissílabas ou trissílabas)7, adaptada8.
alfabetização5. O grupo de não-leitores (G1) foi 3. Etapa 3: realizada no 2º ano do ensino
formado com as crianças que não leram quais- fundamental - fim do ano letivo. A etapa 2 foi
quer das palavras da lista, enquanto o grupo repetida.
de leitores (G2) foi constituído por aqueles que Cabe ressaltar que as crianças do grupo
obtiveram os 25% escores mais altos na tarefa de não-leitores foram convidadas a participar
de leitura, o que correspondeu à leitura fluente de oficinas de linguagem oral e escrita que
de no mínimo 23 palavras. Desta forma, foram ocorreram semanalmente no serviço de fonoau-
20 crianças incluídas no grupo de não-leitores diologia da UFRJ entre a primeira e a terceira
(Idade média = 6,7; DP=2,87) e 13 crianças no coletas. Todos os responsáveis pelos alunos
grupo de leitores (Idade média=6,8; DP=3,95; avaliados assinaram o termo de consentimento
Mdn= 24 palavras). livre e esclarecido da pesquisa aprovada sob o
2. Etapa 2: realizada no 2º ano do ensino número 003/07 do Comitê de Ética e Pesquisa
fundamental - início do ano letivo. Para verifi- do Instituto de Neurologia Deolindo Couto – RJ/
car a velocidade, foi cronometrada a leitura do UFRJ.
texto narrativo “O Acidente”6, composto por O desempenho de G1 e G2 nas tarefas de
196 palavras e 939 caracteres. Com vistas a ve- leitura foi comparado usando o teste t de Stu-
rificar a compreensão, foram realizadas quatro dent para amostras independentes.
perguntas eliciadoras, abrangendo o conteúdo
do texto. O padrão de leitura poderia ser iden- RESULTADOS
tificado como silabado (Ex: O me-ni-no sa-iu de A Tabela 1 revela os resultados do grupo que
Tabela 1 – Tarefas de leitura em G1 e G2, nos 2 momentos avaliados.
G1 G2
(n = 20) (n = 13) df t p
M DP M DP
Velocidade 1 438,67 290,142 175,50 700,176 31 3,730 0.001**
Padrão 1 1,60 0,737 2,56 0,705 31 -3.783 0.001**
Precisão 1 40,40 12,540 46,56 1,247 24.409 -2.077 0.046*
Compreensão 1 2,47 1,302 3,72 0,461 31 -3.824 0.002**
Velocidade 2 199,40 92,230 135,67 45,075 19.492 2.444 0.024*
Padrão 2 2,40 0,507 2,44 0,705 30.425 -210 0.840
Precisão 2 46,67 1,047 46,94 1,259 31.000 -692 0.494
Compreensão 2 3,47 0,915 3,78 0,428 31 -1.211 0.208
Nota *p ≤ 0,05; **p ≤ 0,01
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70
165
16. Mousinho R et al
entrou na escola sem conhecimento do sistema Figura 1 - Evolução da velocidade, padrão, precisão
de escrita (G1), seguido dos resultados do grupo e compreensão de leitura em G1 e G2.
que iniciou no CAP-UFRJ já alfabetizado (G2).
Os valores das colunas subsequentes referem-
se à comparação entre ambos os grupos. As
linhas de velocidade, padrão, compreensão e
precisão seguidos do algarismo 1 referem-se à
análise realizada no início do 2° ano. Aquelas
seguidas pelo algarismo 2 dizem respeito aos
valores obtidos quando as crianças estavam no
fim do 2° ano.
A diferença entre G1 e G2 foi altamente
significativa na primeira avaliação, sobretudo
na velocidade, padrão e compreensão de textos.
A média da velocidade de leitura do G1 foi de
438,6 segundos (2 minutos e 92 segundos) em
contraste com a do G2, que leu todo o texto
em 175,5 segundos (7 minutos e 31 segundos).
Enquanto o G1 apresentou um padrão silabado/ ler no início do 1° ano, está representado pela
pausado, o G2 apresentou um padrão pausado/ cor azul. O G2, grupo formado por crianças
fluente. As respostas às perguntas que visavam que, na mesma época, já conseguiram ler 23
observar a compreensão, um total de 4, apre- das 24 palavras de uma lista, está representado
sentaram 2,47 de média em G1, contrastando pela cor vermelha. Cada uma das habilidades
com 3,72 em G2. Significativo, mas numa aparece com indicação de 1, quando realizada
escala menor, foi o número de palavras lidas no início do 2° ano, e com 2, quando realizada
corretamente (precisão), que foi de 40,4 e 46,5, no fim deste ano letivo.
respectivamente, para G1 e G2. Como se pode observar na Figura 1, a evo-
Na segunda avaliação, no fim do ano letivo, lução foi grande em ambos os grupos, mas o
somente a velocidade de leitura foi discreta- crescimento do G1 foi proporcionalmente muito
mente significativa, considerando-se testes superior. No que diz respeito à velocidade de
estatísticos. Os alunos do G1 puderam ler o leitura, a enorme discrepância observada no
texto todo em 199,5 segundos (3 minutos e 33 início do 2° ano foi minimizada na segunda
segundos), enquanto o G2 fez o mesmo em avaliação. Neste caso, quanto menor o valor,
135,6 segundos (2 minutos e 26 segundos). O melhor, já que o que se deseja é uma leitu-
padrão de leitura apresentou-se de pausado ra mais veloz, portanto, realizada em menor
a fluente em ambos os grupos. A precisão de tempo. Este resultado, associado ao padrão,
leitura foi praticamente idêntica, de um total desta vez igualado entre os grupos em pausado-
de 48 palavras, alunos do G1 acertaram 46,67, fluente, e à precisão, em que ambos os grupos
enquanto os do G2 leram corretamente 46,94. acertaram quase que integralmente a lista de
Assim como as demais habilidades, a compre- palavras propostas, possibilitam uma compre-
ensão apresentou-se bastante similar nos dois ensão adequada.
grupos (3,47 e 3,78, respectivamente), como Considerando-se que a compreensão é o
pode ser observado na Figura 1. objetivo final da leitura e que os atuais moldes
A fim de analisar melhor tais ganhos, os va- educacionais valorizam a compreensão não só
lores foram colocados em proporção. Na Figura na disciplina específica, mas em todas as de-
1, o G1, formado pelas crianças que não sabiam mais, pode-se pensar que a pouca solidez nesta
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70
166
17. Parceria saúde-educação na UFRJ
área poderia prejudicar o início da escolarização condições de levar e trazê-los, seja para as ofi-
formal, trazendo reflexos ao longo dos anos. cinas coletivas ou para os atendimentos indivi-
Portanto, a possibilidade de reverter precoce- dualizados nas dependências da Universidade,
mente o cenário inicial, altamente diversificado significou receber uma atenção especial em
também no que diz respeito ao domínio sobre suas necessidades, gerando estímulo e autocon-
a leitura, mostrou que a instituição em questão fiança para o enfrentamento das dificuldades,
cumpriu um dos papéis cruciais da educação: fossem elas de velocidade, precisão ou compre-
permitir oportunidades iguais a despeito das ensão na leitura.
possibilidades iniciais de cada um. Mesmo para crianças que apresentam
É importante lembrar que há crianças que comprometimento em outras áreas de seu de-
ainda se mantêm defasadas em relação ao grupo senvolvimento, além do linguístico, participar
e que, portanto, precisarão de mais tempo para dos atendimentos e oficinas de linguagem ofe-
que tais habilidades se desenvolvam. Neste recidos pelo Setor de Fonoaudiologia fez dife-
contexto, a parceria com o serviço de fonoau- rença. Alunos com alguma dificuldade em seu
diologia, que já existia com o oferecimento de processo de escolarização costumam se retrair
oficinas de linguagem ao grupo de crianças diante das experiências escolares, e se colocam
menos hábil no aprendizado da leitura, torna-se à margem do processo do grupo em que estão
mais relevante. inseridos. Observamos nos alunos que conti-
nuaram participando do trabalho com a equipe
de Fonoaudiologia que eles se fortaleceram e
DISCUSSÃO
puderam viver sua escolaridade de forma mais
confiante e positiva.
A
nálise quantitativa: o ponto de vista da
No tocante ao desenvolvimento cognitivo,
escola
observamos que o trabalho de estímulo e inter-
Inicialmente, a possibilidade da parceria com
venção, nas habilidades cognitivas relacionadas
a Fonoaudiologia da UFRJ, por meio do proje-
à aquisição da leitura e da escrita, desenvolvido
to se configurou, primordialmente, como uma
com as crianças atendidas pelo Projeto tem
ótima oportunidade de avaliação e atendimento apresentado resultados importantes na interpre-
aos alunos que apresentam dificuldades no tação, compreensão, realização de inferências e
percurso de sua escolarização inicial. Contudo, estabelecimento de relações, em diferentes áre-
esta parceria vem ampliando resultados que as do conhecimento, por parte destas crianças.
se explicitam de formas específicas, nos três Embora ainda não tenhamos criado nenhum
principais segmentos envolvidos na parceria: instrumento para aferição objetiva destas ha-
alunos, famílias e corpo docente. bilidades, são observações também atestadas
Em relação às crianças, poderíamos pontuar pelas avaliações formais da escola.
alguns aspectos importantes relacionados ao Em relação às famílias, ressaltamos nos aten-
percurso do grupo em estudo, no tocante ao dimentos aos responsáveis que a maioria deles
desenvolvimento socioafetivo e cognitivo. Já compareceu às entrevistas agendadas pelo Setor
na primeira fase, quando da primeira avaliação, de Orientação Educacional na escola, e levou as
pudemos perceber que através da forma cuida- crianças às atividades indicadas, demonstrando
dosa com que as atividades de avaliação foram enorme interesse pelo processo. Mesmo as fa-
planejadas e realizadas com as crianças, as mílias que têm condições econômicas de arcar
mesmas se mostraram à vontade, sem constran- com um tratamento fonoaudiológico para seus
gimentos e até muito satisfeitas por participar! filhos, mantiveram a frequência nas atividades
A mobilização na escola para a realização oferecidas pelo Projeto por valorizarem a articu-
das avaliações e na família, que teve que criar lação dos profissionais da Fonoaudiologia com
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70
167
18. Mousinho R et al
a escola, pois a parceria propiciou a oportunidade CONSIDERAÇÕES FINAIS
das famílias terem acesso a informações quanto Este artigo objetivou investigar a evolução ha-
ao desenvolvimento de seus filhos, e dificuldades bilidades de leitura nos primeiros anos do ensino
pontuais apresentadas de forma integrada com fundamental, comparando grupo que já entrou
o processo ensino-aprendizagem desenvolvido alfabetizado na escola, com aquele não alfabeti-
pela escola. zado, destacando o papel da escola na evolução
A realização de reuniões gerais, voltadas para das tarefas de leitura nas primeiras séries do
aspectos do desenvolvimento linguístico em suas
ensino fundamental em grupo com experiência
diferentes etapas, assim como, as entrevistas in-
diversificada.
dividuais voltadas para orientações relativas às
Enquanto no início do ano letivo a discrepância
dificuldades específicas de cada criança, ajuda-
entre os grupos mostrou-se bastante importante em
ram os responsáveis a compreender e mudar de
todos os parâmetros avaliados, no fim do segundo
postura frente às dificuldades das crianças. Muitas
vezes, ao longo destas entrevistas, os responsáveis ano essa diferença foi bastante minimizada, tendo
se reportavam a questões do desenvolvimento mesmo desaparecido em parte das habilidades
das crianças em fases anteriores, estabelecendo investigadas. Tais dados confirmam evidências
relações e expressando melhor compreensão da encontradas na literatura que apontam a relevân-
situação de seus filhos. Podemos citar mais de um cia da intervenção precoce nas dificuldades de
caso em que a família, que a princípio responsa- leitura9-12.
bilizava a criança por suas dificuldades, pode per- Observou-se que a união de esforços saúde-
ceber, a partir das orientações dadas pela equipe educação conseguiu, num curto prazo de tempo,
da Fonoaudiologia, se tratar de um momento de minimizar diferenças individuais que se impunham
desenvolvimento, entendendo-o não como uma de forma gritante no momento do ingresso à insti-
impossibilidade, mas como uma etapa possível de tuição. Parcerias entre serviços podem se mostrar
ser trabalhada, e quanto às dificuldades, possíveis relevantes no desafio de educar na diversidade.
de serem superadas. A multifatoriedade das questões envolvidas
A parceria entre o Setor de Fonoaudiologia e o no processo ensino-aprendizagem tem indica-
CAp possibilitou aos docentes o acesso a informa-
do a necessidade da articulação entre equipes
ções fundamentais para a sua atuação. A avaliação
multidisciplinares para o enfrentamento dos
e o diagnóstico das dificuldades apresentadas pelas
desafios postos à educação na atualidade.
crianças, acompanhados de uma interlocução entre
Dentre estes desafios, ressaltamos a conquista
os dois principais agentes que atuam na questão -
do atendimento às diferentes modalidades de
professores e fonoaudiólogos - representam uma
forma de melhor conhecer essas dificuldades em aprendizagem presentes na escola. Neste senti-
sua etiologia, por um lado, e em suas manifesta- do, entendemos que a parceria educação-saúde
ções, por outro. Desta forma, são ampliadas formas que vem sendo construída entre o CAp e o Setor
de oferecer, também por meio da família e do tra- de Fonoaudiologia da UFRJ é uma importante
balho pedagógico da escola, aquilo que a criança via de enfrentamento das dificuldades presentes
precisa para a superação de suas dificuldades e no processo de ensino-aprendizagem e também,
pleno desenvolvimento de suas potencialidades. de produção de conhecimento na área.
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70
168
19. Parceria saúde-educação na UFRJ
SUMMARY
Health-education partnership at UFRJ: sharing experiences
Objective: This paper aims at presenting the gains of the health-
education partnership for the school community. Methods: Quantitative
analysis - participants were fifty 6.4 years old children in the 1st grade in
2007, and the same group at the beginning and end of the 2nd grade in
2008. The first evaluation determined the groups of literate and illiterate at
school entry. Were investigated in two subsequent speed, comprehension,
fluency and reading accuracy. Qualitative analysis: what the impact on
students, family and professional staff of the school. Results: While the
beginning of the school year the discrepancy between the groups proved
to be quite important in all parameters evaluated later in the second year
this difference was much minimized, and has even disappeared in some
of the skills investigated; the impact in the various categories of the school
community was positive. Conclusion: In a short period of time, differences
between children at the time of admission to the institution were minimized.
Considering the multifactorial nature of the issues involved in the teaching-
learning process and the challenges posed to education today, the health-
education partnership, CAp and UFRJ’s graduation in Speech Therapy,
is an important issue for learning development and for the production
knowledge in the area.
KEY WORDS: education. health. Learning. Speech, Language and
Hearing Sciences.
REFERÊNCIAS 5. Capovilla AGS, Capovilla FC. Problemas de
1. Vloedgraven JMT, Verhoeven L. Screening leitura e escrita: como identificar, prevenir
of phonological awareness in the early ele- e remediar numa abordagem fônica. 5ª ed.
mentary grades: an IRT approach. Dyslexia. São Paulo: Memnon/Fapesp;2007.
2007;57:33-50. 6. Cocco MF, Hailer MA. ALP 1: análise, lin-
2. Speece D, Ritchey K. A longitudinal study of guagem e pensamento: um trabalho de lin-
the development of oral reading fluency in guagem numa proposta socioconstrutivista.
young children at risk for reading failure. J São Paulo: FTD;1995. p.25-6.
Learn Disabil. 2005;38(5):387-99. 7. Pinheiro A. Leitura e escrita: uma aborda-
3. Katzir T, Kim Y, Wolf M, Kennedy B, Lovett gem cognitiva. Campinas: Psy II;1994.
M, Morris R. The relationship of spelling 8. Capovilla AGS, Capovilla FC. Uma perspec-
recognition, RAN, and phonological aware- tiva geral sobre leitura, escrita e suas rela-
ness to reading skills in older poor readers ções com consciência fonológica. In: Capo-
and younger reading-matched controls. villa AGS, Capovilla FC, eds. Problemas de
Read Writ. 2006;19:845-72. leitura e escrita. São Paulo:Memnon;2000.
4. Goff D, Pratt C, Ong B. The relations be- p.3-37.
tween children’s reading comprehension, 9. Capellini SA, Sampaio MN, Kawata KHS,
working memory, language skills and com- Padula NAMR, Santos LCA, Lorencetti MD,
ponents of reading decoding in a normal et al. Eficácia terapêutica do programa de
sample. Read Writ. 2005;18:583-616. remediação fonológica em escolares com
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70
169
20. Mousinho R et al
dislexia do desenvolvimento. Rev CEFAC. JL, Gomes E. Influência da consciência
2010;12(1):27-39. fonológica na escrita de pré-escolares.
10. Deuschle V, Cechella C. O déficit em cons- Rev CEFAC. 2008;10(2):175-81.
ciência fonológica e sua relação com a 1
2. Zuanetti PA, Schneck APC, Man-
dislexia: diagnóstico e intervenção. Rev fredi AKS. Consciência fonológica
CEFAC. 2009;11(Supl. 2):194-200. e desempenho escolar. Rev CEFAC.
1
1. Dambrowski AB, Martins CL, Theodoro 2008;10(2):168-74.
Trabalho realizado no Instituto de Neurologia Artigo recebido: 11/3/2010
Deolindo Couto – UFRJ, Rio de Janeiro, RJ. Aprovado: 1/7/2010
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 163-70
170
21. Atenção e funções executivas
ARTIGO ORIGINAL
Comparação do desempenho de
estudantes em instrumentos de atenção
e funções executivas
Adriana Nobre de Paula Simão; Ricardo Franco de Lima; Juliane Cristhine Natalin; Sylvia Maria Ciasca
RESUMO – O objetivo da presente pesquisa foi comparar o desempenho
de crianças, de ambos os gêneros, de faixa etária entre 7-12 anos, com e
sem queixas de dificuldades de atenção e aprendizagem em instrumentos
que avaliam a atenção e aspectos das funções executivas. Foram usados
os seguintes instrumentos: Stroop Color Word Test, Trail Making Test
A/B, Testes de Cancelamento e Torre de Londres. Os resultados foram
organizados em função dos gêneros, distribuição de frequência das queixas
e caracterização do desempenho. Foram obtidas diferenças significativas
entre os grupos nos escores dos Testes. O grupo com queixas apresentou
escores de tempo e erros aumentados em relação ao grupo sem queixas.
No caso do escore da TOL, o grupo sem queixas apresentou escore maior.
UNITERMOS: Testes neuropsicológicos. Atenção. Transtornos de
aprendizagem.
Adriana Nobre de Paula Simão – Psicóloga; Mestre Correspondência
e Doutora em Ciências Médicas – Faculdade de Adriana Nobre de Paula Simão
Ciências Médicas - FCM/UNICAMP. Rua Hermantino Coelho, 841, Apto 23 – Mansões
Ricardo Franco de Lima – Neuropsicólogo; Santo Antônio – Campinas, SP – CEP 13087-500
Aprimoramento/Especialização em Psicologia E-mail: drisimao@gmail.com
Clínica em Neurologia Infantil – FCM/UNICAMP;
Mestrando em Ciências Médicas – Saúde Mental –
FCM/UNICAMP. Bolsista CNPq.
Juliane Cristhine Natalin – Psicóloga; Aprimoramento/
Especialização em Psicologia Clínica em Neurologia
Infantil – FCM/UNICAMP.
Sylvia Maria Ciasca – Neuropsicóloga; Livre Docente
em Neurologia Infantil – FCM/UNICAMP.
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80
171
22. Simão ANP et al.
INTRODUÇÃO A flexibilidade mental refere-se à capacida-
A atenção e funções executivas são funções de de o indivíduo modificar o curso dos pensa-
corticais importantes para o processo de apren- mentos, atos e estratégias e alternar a atenção.
dizagem, estando diretamente envolvidas com De acordo com Cañas et al.9, esta capacidade
as habilidades escolares de leitura, escrita e permite ao indivíduo adaptar seu processamen-
cálculo. Dadas estas relações, as queixas de to cognitivo em função de condições novas e
dificuldades na atenção motivam grande parte inesperadas do ambiente.
dos encaminhamentos de crianças e adolescen- O controle inibitório é a capacidade de sele-
tes para avaliação interdisciplinar. Em estudo ção entre estímulos relevantes em detrimento
de Lima et al.1, foi observado que as queixas dos estímulos distratores e a inibição de respos-
escolares e familiares referentes à desatenção tas automáticas10,11.
foi a segunda maior queixa (19%), sendo a pri- Para os autores Capovilla Dias12, no con-
meira de dificuldades na aprendizagem (47%). texto escolar, dificuldades atencionais são
A atenção pode ser definida como a capa- frequentemente relacionadas a problemas de
cidade de o indivíduo selecionar e focalizar aprendizagem e podem prejudicar significa-
seus processos mentais em algum aspecto do tivamente a aprendizagem, por exemplo, da
ambiente interno, como ideias armazenadas na
leitura e da escrita. Tonelotto13 também afirma
memória ou no ambiente externo, respondendo
que crianças com prejuízos atencionais podem
predominantemente aos estímulos que lhe são
ter dificuldades no processo de escolarização
significativos e inibindo os distratores2,3.
e apresentam problemas tanto na leitura e na
A atenção não constitui um processo único,
escrita, bem como, no cálculo. De acordo com
podendo ser dividida em: seletiva, sustentada,
a autora, o prejuízo escolar se manifesta pela
alternada e dividida. A atenção seletiva refere-
dificuldade da criança planejar e organizar as
se à capacidade de discriminação entre estí-
tarefas e solucionar os problemas.
mulos relevantes e irrelevantes. A sustentada
A relação entre a atenção e o desempenho
é a capacidade de manter o foco atencional em
escolar foi evidenciada no estudo realizado
um determinado estímulo, por um período de
tempo, para executar uma tarefa. A atenção por Capovilla Dias12 com crianças sem di-
alternada refere-se à capacidade de alternar ficuldades de aprendizagem. No estudo ficou
o foco entre diferentes estímulos e a atenção demonstrada a tendência de desenvolvimento
dividida, por sua vez, compreende a divisão desta função ao longo das séries escolares, as-
do foco atencional para o desempenho de duas sim como a correlação positiva e significativa
tarefas simultaneamente4,5. entre o desempenho de crianças em testes de
As Funções Executivas (FE) são consideradas atenção e seu desempenho escolar.
como um conjunto de funções responsáveis por Em outro estudo realizado por Lima et al.14
iniciar e desenvolver uma atividade com objeti- com crianças sem dificuldades de aprendiza-
vo final determinado, incluindo amplo espectro gem, também foram observadas correlações
de processos cognitivos, como por exemplo: ca- significativas entre o desempenho em tarefas
pacidade de planejamento e uso de estratégias, de atenção e funções executivas e os escores
flexibilidade mental e controle inibitório5-7. de testes de leitura, escrita e cálculo. O estudo
Conforme afirmam Dehaene Changeux8, demonstrou que o bom desempenho escolar
a capacidade de planejamento envolve um se relaciona com bom desempenho nestes
conjunto de representações mentais e/ou uma instrumentos.
sequência de comportamentos que são dirigidos Há evidências de alterações significativas
para um determinado objetivo. da atenção e funções executivas em diferentes
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80
172
23. Atenção e funções executivas
transtornos na infância e adolescência, como MÉTODO
por exemplo, no Transtorno do Déficit de Aten-
ção e Hiperatividade (TDAH)15-17 e na Dislexia Participantes
do Desenvolvimento11,18,19. Foram participantes da pesquisa, um total
Especificamente, TDAH é transtorno carac- de 40 crianças, de ambos os gêneros, com faixa
terizado por padrão persistente de desatenção etária entre 7 e 12 anos de idade, cursando do
e/ou hiperatividade-impulsividade. Tais sinto- 1º ao 7º ano do Ensino Fundamental. A amostra
mas devem ser mais frequentes e graves do que foi dividida em dois grupos distintos:
aqueles observados em indivíduos com idade a) 0 crianças com queixas de dificuldades
2
equivalente; devem estar presentes antes dos de aprendizagem e atenção;
sete anos de idade; presentes em pelo menos b) 0 crianças sem queixas de dificuldades
2
dois contextos (por exemplo, em casa e na es- de aprendizagem e atenção.
cola); não podem ser explicados por outro trans- Os critérios de inclusão e exclusão dos
torno e causam prejuízos ao desenvolvimento participantes do grupo com queixas foram: a)
global da criança, assim como consequências apresentar queixas de dificuldades de apren-
emocionais, sociais, familiares e escolares20-22. dizagem e atenção; b) assinatura do Termo
Estudo desenvolvido em escolas públicas de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
no Brasil estimou prevalência de 3%, sendo o pelos pais; c) não apresentar rebaixamento no
gênero masculino mais acometido e o subtipo nível intelectual, isto é, apresentar Quociente
de Inteligência (QI) dentro da média (QI80); d)
combinado, o mais frequente23. No estudo de
não apresentar déficits sensoriais e/ou motores.
metanálise realizado por Polanczych et al.24
Os critérios de inclusão e exclusão dos par-
com mais de 8.000 pesquisas, chegou-se a uma
ticipantes do grupo sem queixas foram: a) não
estimativa aproximada de 5% da população
apresentar queixas de dificuldades de aprendi-
mundial infantil em idade escolar.
zagem e/ou atenção; b) ter sido indicado pelo
Do ponto de vista etiológico, sabe-se que
professor por apresentar bom desempenho es-
o TDAH é um transtorno crônico que possui
colar; c) assinatura do Termo de Consentimento
substrato biológico com disfunções no córtex
Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pais; d) não
pré-frontal e em suas conexões com o circuito
apresentar déficits sensoriais e/ou motores.
subcortical e córtex parietal5,25,26. De acordo com
Knapp et al.27, essas alterações explicam o défi- Instrumentos
cit nas funções executivas, incluindo memória Para a coleta dos dados foram utilizados os
de trabalho, planejamento, autorregulação de seguintes instrumentos:
motivação e do limiar para ação dirigida a ob-
jetivo definido e internalização da fala. Stroop Color Word Test – SCWT14
Diante destas considerações, fica evidente O teste visa avaliar a capacidade do estudan-
a necessidade do desenvolvimento de instru- te em considerar estímulos relevantes e descon-
mentos que permitam a avaliação da atenção siderar os estímulos não-relevantes. É composto
e funções executivas e que possam diferenciar por quatro cores (vermelho, amarelo, azul e
crianças que apresentam dificuldades. verde) e 24 estímulos em cada uma das três
Sendo assim, foi objetivo do presente tra- partes: a) “Cartão Cores” (C): a criança deve
balho comparar o desempenho de crianças nomear os quadrados pintados nas quatro cores
com e sem queixas de dificuldades de atenção organizadas em ordem pseudo-randômica; b)
e aprendizagem em instrumentos que avaliam “Cartão Palavras” (P): a criança deve dizer os
a atenção e aspectos das funções executivas. nomes nas cores impressas, que agora estão nas
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80
173
24. Simão ANP et al.
cores correspondentes (situação congruente); c) mento e raciocínio lógico. É composta por uma
“Cartão Cor-Palavra” (CP): são apresentados base de madeira com três pinos verticais e
nomes de cores impressos em outras cores, por quatro discos coloridos do mesmo tamanho, com
exemplo, a palavra “Amarelo” impressa na furo no centro para o encaixe nos pinos. O obje-
cor “Vermelha” (condição incongruente) e a tivo é mover os discos para reproduzir, em um
criança deve nomear a cor e não ler a palavra. número determinado de movimentos, a posição
Foram obtidos escores de tempo (em segundos) de uma figura-alvo apresentada. Existem dez
e número de erros. Também foram calculados problemas com grau crescente de dificuldade,
os escores de facilitação (C-P) e interferência e a partir de uma posição inicial a criança deve
(CP-C) para tempo e erros. realizar a tarefa em uma quantidade específica
de movimentos. São permitidas três tentativas
Trail Making Test A/B - TMT-A/B14 para a resolução do problema e a resposta é
A parte A do TMT é um teste de atenção considerada correta quando a solução é alcan-
sustentada visual, composto por folha com çada com o correto de movimentos. Os escores
círculos numerados de 1 a 25, distribuídos de de cada item podem variar de 0 a 3 pontos e o
forma aleatória, na qual a criança deve traçar escore total é a soma dos escores de todos os
uma linha ligando a sequência numérica. Foram itens. O escore pode variar de 0 a 30 pontos.
obtidos escores de tempo (em segundos) e nú-
mero de erros de ligação. A parte B é um teste Procedimentos
de flexibilidade mental, composto por círculos A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
com números e letras. A criança deve ligar al- Ética da Faculdade de Ciências Médicas da
ternadamente os círculos com números e letras, Universidade Estadual de Campinas/UNI-
seguindo respectivamente as ordens numérica CAMP. As crianças do grupo com queixas foram
e alfabética. Também foram obtidos escores selecionadas dentre aquelas encaminhadas ao
de tempo (em segundos), número de erros de Ambulatório de Neuro-Dificuldades de Apren-
sequência e erros de alternância. dizagem, localizado no Hospital de Clínicas da
UNICAMP, para avaliação e diagnóstico das
Testes de Cancelamento - TC14 dificuldades de aprendizagem e atenção. As
Constituem testes de atenção sustentada, crianças sem queixas foram selecionadas dentre
exigindo rápida seletividade visual e resposta as indicações de professores de uma escola na
motora repetitiva. Foram usadas duas versões: cidade de Campinas/SP, por não apresentarem
a) Figuras Geométricas (TC-FG): a criança deve dificuldades de aprendizagem e/ou atenção.
marcar os círculos encontrados o mais rápido Todas as crianças foram avaliadas individual-
que conseguir em uma folha com uma sequên- mente após a assinatura do TCLE pelos pais.
cia pseudo-randômica de figuras geométricas; O tempo de cada atendimento foi em torno de
b) Letras em Fileiras (TC-LF): a criança deve 50 minutos e o número de encontros com cada
marcar todas as letras “A” em uma folha com participante foi de três sessões.
letras distribuídas de forma pseudo-randômica. Os dados foram analisados estatisticamente
Em ambos foram obtidos os escores de tempo usando o SPSS v15. Foi adotado o nível de sig-
(em segundos), erros por omissão (número de nificância de 5%, isto é, valor de p0,05.
estímulos-alvo que a criança não assinalou) e
erros por adição (número de estímulos-não alvo RESULTADOS
que a criança assinalou).
Caracterização da amostra
Torre de Londres – TOL14 Com relação à amostra total, participaram
Tarefa que avalia a habilidade de planeja- do estudo 40 crianças com idade média de
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80
174
25. Atenção e funções executivas
9,48 (DP=1,46), sendo 23 (57,5%) do gênero tais critérios, as crianças do grupo propósito
masculino e 17 (42,5%) do feminino. Não houve também deveriam apresentar queixas referen-
diferenças (p=0,685) entre as idades médias do tes à atenção e à aprendizagem. A análise das
gênero masculino (9,77+0,43 anos) e feminino queixas deste grupo indicou maior frequência
(9,57+0,96 anos). daquelas referentes à atenção/concentração
A Tabela 1 mostra a frequência dos gêneros (33,9%), seguida por dificuldade na leitura e
em relação aos grupos de estudo. Não houve escrita (19,6%), conforme apresenta a Tabela 2.
diferenças na distribuição entre os grupos (Teste
de Fisher, p= 0,523). Comparação do desempenho
A média de idade do grupo com queixas foi A comparação do desempenho entre os
de 9,70 (DP=1,59) e do grupo sem queixas foi grupos nos instrumentos utilizados pode ser
de 9,25 (DP=1,06), sem diferenças significativas observada na Tabela 3.
entre elas (p=0,434). Também não houve dife- Os resultados indicaram que houve diferen-
renças entre os grupos em relação ao nível de ças significativas entre os grupos nos escores
escolaridade (Teste qui-quadrado; χ² =11,883, dos testes: Stroop Color Word Test (Cor-Erros
g.l.=6, p=0,06). e Tempo, Palavra-Erros e Tempo, Cor/Palavra-
Com relação ao grupo com queixas, a mé- Erros e Tempo, Interferência de Erros); Teste de
dia do QI total foi de 102,65 (DP=21,96), obtido Cancelamento – Figuras Geométricas (Erros de
por meio da Escala Wechsler de Inteligência Omissão e Tempo); Teste de Cancelamento – Le-
para Crianças (WISC-III), de modo que não tras em Fileira (Erros de Omissão); Trail Making
apresentavam rebaixamento intelectual, con- Test – Parte A (Erros e Tempo); Trail Making Test
forme os critérios de inclusão. De acordo com – Parte B (Erros de Alternância, de Sequência
Tabela 1 - Frequência dos gêneros em relação aos grupos.
Grupos
Gêneros/Grupos Total
Com queixas Sem queixas
Masculino 13 (57%) 10 (43%) 23
Feminino 7 (41%) 10 (59%) 17
Total 20 20 40
Tabela 2 - Distribuição de frequência de queixas.
Queixas f %
Atenção/ concentração 19 34
Dificuldade em leitura e/ou escrita 11 20
Agitação motora 7 12
Impulsividade 6 11
Dificuldade em aritmética/raciocínio lógico 5 9
Agressividade 4 7
Comportamento opositor 4 7
Total 56 100
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80
175
26. Simão ANP et al.
Tabela 3 - Comparação dos escores dos instrumentos entre os grupos.
Grupo
p valora
Com queixas Sem queixas
SCWT-Cor Erro 1,20 (1,40) -- 0,000*
SCWT- Cor Tempo 33,10 (11,35) 19,45 (6,38) 0,000*
SCWT-Palavra Erro 1,05 (1,32) -- 0,000*
SCWT-Palavra Tempo 29,05 (12,48) 16,05 (6,10) 0,000*
SCWT-Cor/Palavra Erro 6,70 (6,09) 0,50 (0,89) 0,000*
SCWT-Cor/Palavra Tempo 47,25 (11,72) 31,95 (7,32) 0,000*
SCWT-Facilitação Erro 0,15 (1,42) -- 0,329
SCWT-Facilitação Tempo 4,05 (10,33) 3,40 (3,07) 0,745
SCWT-Interferência Erro 5,50 (6,39) 0,50 (0,89) 0,000*
SCWT-Interferência Tempo 14,15 (11,96) 12,50 (4,96) 0,776
TC-FG Erros Adição -- -- 1,000b
TC-FG Erros Omissão 2,60 (2,70) 0,05 (0,22) 0,000*
TC-FG Tempo 100,45 (31,92) 80,25 (25,82) 0,010*
TC-LF Erros Adição -- -- 1,000b
TC-LF Erros Omissão 10,20 (8,40) 0,65 (1,14) 0,000*
TC-LF Tempo 137,50 (47,47) 134,80 (61,39) 0,409
TMT-A Erros 0,85 (1,42) -- 0,009*
TMT-A Tempo 83,65 (45,38) 40,55 (10,66) 0,000*
TMT-B Erros Alternância 1,65 (2,39) 0,10 (0,31) 0,000*
TMT-B Erros Sequência 3,70 (4,71) 0,10 (0,31) 0,000*
TMT-B Tempo 215,40 (128,95) 105,45 (44,82) 0,002*
TOL 15,15 (4,97) 19,70 (3,71) 0,002*
a
teste Mann-Whitney; bvalor não calculado, pois os escores entre os grupos foram iguais; *significativo estatisticamente.
e Tempo) e Torre de Londres. O grupo com padrão já caracterizado em outros estudos de-
queixas apresentou escores de tempo e erros senvolvidos no Ambulatório como, por exemplo,
aumentados em relação ao grupo sem queixas. o estudo de Ciasca28, com frequência de 64%
No caso do escore da TOL, o grupo sem queixas de meninos. Posteriormente, os estudos de Lima
apresentou escore maior. et al.1, com 75%, e Lima et al.29, com 70% de
crianças do gênero masculino.
DISCUSSÃO Estudos realizados em outros serviços indi-
No que se refere às características da amos- cam resultados semelhantes no que se refere
tra, observou-se frequência maior de crianças ao encaminhamento para avaliação de crianças
do gênero masculino (57%), dentre aquelas com dificuldades de aprendizagem. Scorte-
encaminhadas ao Ambulatório de Neuro-Difi- gagna e Levandowski30, em estudo realizado
culdades de Aprendizagem e pertencentes ao no Serviço de Psicologia do Programa Vincu-
grupo com queixas. Este resultado segue um lação, de Caxias do Sul, observaram que, de
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80
176
27. Atenção e funções executivas
111 encaminhamentos, 77 eram de crianças do Em crianças com queixas primárias de difi-
gênero masculino. No estudo de caracterização culdades na linguagem escrita (leitura/escrita),
da clientela da Clínica Escola da Universidade como por exemplo, as crianças com dislexia
São Francisco (USF-SP), realizado por Romaro e do desenvolvimento, é observado prejuízo
Capitão31, foi obtida maior frequência de enca- maior nos cartões palavra e cor-palavra, pois a
minhamentos de crianças do gênero masculino, presença de estímulos com conteúdos verbais
na faixa etária até os 14 anos de idade. (palavras) aumenta o efeito de interferência19.
Quando consideradas as queixas do grupo De acordo com Marzocchi et al.34, disléxicos
propósito do estudo, também foi verificado que apresentam prejuízo no processamento de tes-
corroboram com outros trabalhos que indicam tes que envolvam estímulos verbais. No caso de
maior frequência de encaminhamentos devido crianças que apresentam como queixa primária
a dificuldades de atenção e de aprendiza- as dificuldades de atenção e, secundariamente,
gem1,29,31,32. as dificuldades nas habilidades escolares, o es-
Quando comparados os desempenhos dos tudo apresentou um padrão diferente.
grupos com e sem queixas nos instrumentos, No Teste de Cancelamento – Figuras Geo-
foram verificadas diferenças significativas em métricas, foram obtidas diferenças nos escores
diferentes escores. de erros por omissão e no tempo de resolução,
No Stroop Color Word Test, foram obtidas de modo que o grupo com queixas apresentou
diferenças em todos os escores de tempo/erros pior desempenho. Não houve diferenças entre
dos três cartões (Cor, Palavra e Cor-Palavra) e os grupos no escore de erros por adição, ou seja,
no escore de Interferência de erro. Em todos os assinalar uma figura que não fosse o alvo.
escores, o grupo com queixas apresentou valo- No Teste de Cancelamento – Letras em Filei-
res maiores de tempo e erros quando comparado ra, os grupos foram diferentes apenas no escore
ao grupo sem queixas, sugerindo dificuldades de erros por omissão, mas não nos escores de
para a seleção entre estímulos relevantes e erros por adição e tempo. Podemos inferir que
irrelevantes. No desempenho geral do teste, o grupo com queixas apresentou um tempo
costuma-se observar tendência de diminuição maior de resolução da atividade, não diferindo
dos escores (tempo/erros) do cartão cores para do grupo sem queixas, no entanto, apresentou
o cartão palavra, uma vez que este último um número maior de erros por omissão, ou seja,
apresenta situação de congruência da palavra por desatenção.
e cor, facilitando o processamento do estímulo No Trail Making Test, os grupos diferiram
e, consequentemente, da nomeação. Este efeito significativamente em todos os escores de am-
foi observado nos dois grupos. bas as partes (Parte A e Parte B). O grupo com
Posteriormente, observa-se aumento do queixas apresentou escores aumentados de
tempo e número de erros no cartão cor-palavra, tempo e erros e, na parte A, o grupo sem queixas
devido à situação de incongruência. Assim, a não apresentou erros.
criança deve inibir a resposta automática de Na Torre de Londres, os grupos também
leitura da palavra para emitir a resposta correta diferiram com maior média de escore do grupo
nomeando a cor. sem queixas, indicando melhor capacidade de
Para MacLead e MacDonald33, no desempe- planejamento. Em estudos com crianças com
nho da situação incongruente do Stroop Color dislexia não são observadas diferenças com
Word Test, as palavras interferem na nomeação crianças sem dificuldades utilizando este ins-
da cor, mas o inverso não ocorre, indicando trumento35.
que a leitura de palavras, do ponto de vista do O estudo sugere que os instrumentos utili-
processamento cerebral, é mais automática que zados para a avaliação da atenção e funções
a nomeação de cores. executivas (flexibilidade, planejamento e con-
Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 171-80
177