SlideShare uma empresa Scribd logo
521
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525
RelatodeExperiência•ReportofExperience
A construção de um Projeto Terapêutico
Singular com usuário e família:
potencialidades e limitações
The construction of a Singular Therapeutic Project with the
user and the family: potentialities and limitations
Laura Graças Padilha de Carvalho*
Mayrene Dias de Sousa Moreira**
Larissa de Almeida Rézio***
Neuma Zamariano Fanaia Teixeira****
Resumo
O Projeto Terapêutico Singular (PTS), principal instrumento de trabalho interdisciplinar dos Centros de Atenção Psicosso-
cial (CAPS), possibilita a participação, reinserção e construção de autonomia para o usuário / família em sofrimento psí-
quico. O objetivo foi de descrever as etapas que constituíram a construção de um PTS em conjunto com usuária / família
de um CAPS do município de Cuiabá-MT. Trata-se de um relato de experiência de acadêmicas do curso de Enfermagem da
Universidade Federal de Mato Grosso. A partir da análise das informações coletadas, elencamos os problemas, buscamos
referências bibliográficas, traçamos objetivos e intervenções. A construção do PTS resultou na sensibilização da família e
esclarecimentos de dúvidas acerca do sofrimento psíquico da usuária, favoreceu a elaboração em conjunto do plano de
cuidados e, consequentemente, do fortalecimento de vínculo, uma vez que usuária e família estiveram presentes em todo
o processo, resultando na construção de sua autonomia. Encontramos como limite o modelo médico-psiquiátrico ainda
existente no trabalho do CAPS, evidenciado pela pouca participação, integração e valorização da maior parte da equipe
na construção do PTS. Tivemos com potencialidade a aprendizagem adquirida pelas acadêmicas e usuária / família, evi-
denciando os avanços já conquistados no cuidado em saúde mental, por meio da atenção psicossocial.
Palavras-chave: Enfermagem. Saúde Mental. Assistência em Saúde Mental. Cuidados de Enfermagem.
Abstract
The SingularTherapeutic Project (PTS), the main tool for interdisciplinary work of the Psycho-social Care Centers (CAPS, acronym
in Portuguese), makes possible some important things, such as: the participation, reinsertion and construction of autonomy by
the user / family in psychological suffering. The main goal was to describe the stages that constituted the construction of a PTS
together with the user / family from a CAPS of Cuiabá city, MT. This study is a report of academic experiences from the Nursing
School of Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Beginning by analyzing all the information collected, we have listed
the problems, did bibliographical surveys, established goals and interventions. The PTS construction has resulted in the family
sensitization and clarification of doubts related to the user’s psychological suffering. It also helped the development of the care
plan and, consequently, the reinforcement of the connection, once the user and the family were involved in all the processes
which resulted in the construction of the person’s autonomy. We have found the psychiatric medical model, which still exists in
the CAPS works, to be a limitation, as evidenced by the scarce participation, integration and valuation of most of the staff in the
construction of the PTS. We strongly learned through the academics and user / family experiences, by making clear and evident
the mental health care advances that has already been achieved through psycho-social attention.
Keywords: Nursing. Mental Health. Mental Health Assistance. Nursing Care.
* Enfermeira pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil. E-mail: lauragpadilha@hotmail.com
** Enfermeira pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil. E-mail: mayrenemay@hotmail.com
*** Professora Mestre. Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil. E-mail:
larissarezio@hotmail.com
**** Professora Doutora. Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil. E-mail:
neuma.zamariano@gmail.com
As autoras declaram não haver conflito de interesses.
AconstruçãodeumProjetoTerapêuticoSingularcomusuárioefamília:potencialidadeselimitações
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525
522
Introdução
A Reforma Psiquiátrica, movimento social
contra-hegemônico ao modelo médico-psiquiá-
trico, que se centrava na doença, cura, medicali-
zação e exclusão, pode atualmente ser conside-
rada um importante movimento social complexo
que possibilita a construção e efetivação de um
avanço em saúde mental: o modelo de atenção
psicossocial, que tem seu foco na confluência
dos aspectos biológicos, psicológicos, políticos,
sociais e culturais, e considera o sofrimento men-
tal como um fenômeno que abarca essas dimen-
sões, possibilitando ao paciente a participação
em seu próprio tratamento1,2
.
Como principal representante desse modelo
substitutivo, os Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS)3
se caracterizam como um serviço co-
munitário e aberto do Sistema Único de Saúde
(SUS), sendo referência para tratamento de pes-
soas em sofrimento psíquico. Sua finalidade prin-
cipal é a construção da autonomia e reinserção
social dos usuários por meio do trabalho, lazer,
exercício dos direitos e deveres civis e fortaleci-
mento dos laços familiares e comunitários, sendo
assim, substitutivos das internações psiquiátricas.
Para efetivação do tratamento, é primordial
que usuário e família participem do processo.
Para tanto os CAPS utilizam como instrumento
de trabalho em equipe o Projeto Terapêutico
Singular (PTS), que possibilita a participação
do usuário e, consequentemente, a construção
de sua autonomia. Esse instrumento conside-
ra a historicidade e as necessidades individu-
ais do usuário que se encontra inserido num
contexto4,5
. A elaboração desse tipo de projeto
acontece por meio da atuação singular do pro-
fissional-referência do usuário / família, e desse
profissional com toda a equipe, por meio de dis-
cussões e estudo do caso6
.
A partir desse novo modelo de assistên-
cia aos usuários em sofrimento psíquico, temos
como objetivo relatar a experiência da constru-
ção de um PTS juntamente com a usuária e fa-
miliar de um CAPS do município de Cuiabá-MT.
Essa experiência aconteceu durante as atividades
práticas das disciplinas de Enfermagem em Saúde
Mental e de Sexualidade e Reprodução Humana
da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Por se tratar de um relato de experiência de
ensino-aprendizagem, não houve necessidade de
seu encaminhamento para o Comitê de Ética em
Pesquisa, previsto na Resolução n. 196/1996 do
Conselho Nacional de Saúde.
Método
Trata-se de um relato de experiência, ela-
borado a partir da vivência de acadêmicas do
curso de graduação em Enfermagem da UFMT,
durante o segundo semestre de 2010. Com o
objetivo de integrar as atividades práticas das
duas disciplinas mencionadas anteriormente,
foi apresentada a proposta de elaboração de um
PTS de uma usuária e familiar do CAPS onde as
atividades práticas aconteceram. O processo de
escolha da usuária ocorreu no primeiro dia de
visita à instituição, após uma das oficinas. Poste-
riormente, realizamos seis encontros e uma visita
domiciliar, que possibilitaram a coleta de dados
por meio de entrevistas com a usuária e família.
A partir da análise dessas informações, elenca-
mos os problemas e buscamos na literatura da-
dos da psicopatologia, medicações, tratamentos
atuais e outras dúvidas demandadas pela usuária.
Diante dessas informações, elaboramos junto a
ela os objetivos que pretendíamos alcançar, bem
como o plano de cuidados. No último encontro,
apresentamos-lhe o PTS, para que fosse validado
a partir de sua análise e fizesse as considerações
que julgasse pertinentes.
Resultados e discussão
Após a escolha da usuária, iniciamos a pri-
meira etapa do PTS: o acolhimento, que permite
a aproximação, o “estar com”, o envolver-se, ou
seja, remete a uma atitude de inclusão, devendo
estar presente em todas as relações e encontros. O
acolhimento engloba o compromisso de reconhe-
cimento do outro em sua individualidade, como
um ser que tem suas diferenças, suas dores, suas
alegrias, seu modo de viver, sentir e estar na vida.
Além disso, no campo da saúde, promove a qualifi-
cação da escuta, a construção de vínculo e garantia
do acesso com responsabilização e resolutividade7
.
O estabelecimento de vínculos alicerça a
criação de uma relação de compromisso entre
523
AconstruçãodeumProjetoTerapêuticoSingularcomusuárioefamília:potencialidadeselimitações
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525
a equipe, usuário e família, que pode redundar
numa ligação mais humana e singular. O vínculo,
quando criado, possibilita uma parceria, pautada
pela sinceridade e responsabilidade, e permite
que seja ofertado um atendimento que abarque
as necessidades dos usuários e de suas famílias,
assumindo caráter de equipe. Essa estará mais sen-
sível à escuta atenta e à identificação de vulnera-
bilidades e riscos, possibilitando a construção de
intervenções terapêuticas que realmente estejam
de acordo com as necessidades elencadas8
.
Nessa etapa, foram feitas a apresentação
das discentes e a proposta do referido projeto,
com esclarecimentos sobre suas possibilidades,
isto é, o conhecimento aprofundado da usuária
e a oferta de cuidados elaborados e específicos
às situações individuais. A usuária foi receptiva,
demonstrou interesse e entusiasmo e, pronta-
mente, aceitou participar. Com a construção do
vínculo, teve liberdade para relatar o que julga-
va importante, possibilitando-nos a construção
de um histórico bem elaborado e detalhado da
sua vida, antes, durante e após o seu sofrimen-
to psíquico. Em momento algum, identificamos
contradição nas informações fornecidas, bem
como no esclarecimento de nossas dúvidas. O
histórico favoreceu a identificação de vulnera-
bilidades e riscos que necessitavam de inter-
venção, para podermos propor cuidados que se
adequassem à realidade dela.
A inserção da família no projeto ocorreu du-
rante a visita domiciliar, uma das etapas do PTS,
e nos permitiu vivenciar a realidade, antes ape-
nas relatada. É interessante ressaltar que, ao rea-
lizarmos a visita, pudemos sentir concretamente
a confiança em nós depositada, pois a usuária e
familiares ficaram mais à vontade para trocar in-
formações e nos questionar.
A visita domiciliar, cujos objetivos foram
explicitados à usuária e família, nos permitiu co-
nhecer sua dinâmica, bem como promover a sua
aproximação ao serviço de saúde, esclarecendo
dúvidas de seus membros em relação ao acom-
panhamento a ser realizado.
Por ser um instrumento enriquecedor e útil
para a abordagem dos usuários e família, a visita
domiciliar proporciona interação, conhecimento
da realidade vivenciada pelo usuário e família,
evidenciando sua inserção no tratamento, bem
como se há seu envolvimento. Quando isso não é
verificado, podem-se propor ações que auxiliem
na reintegração do usuário no domicílio e do en-
volvimento da família no tratamento9
.
A usuária e familiar apresentaram-se coope-
rativas e participativas durante a entrevista, res-
pondendo aos questionamentos com prontidão,
fazendo vários apontamentos em relação à psi-
copatologia e tratamento. Além disso, o familiar
teceu algumas críticas em relação ao modelo mé-
dico psiquiátrico, bem como sobre a burocracia
dos serviços de saúde e a falta de médico espe-
cialista, isto é, um psiquiatra no CAPS, onde sua
irmã faz o tratamento.
A partir desses comentários, incentivamos
os participantes à reflexão acerca do exercício de
cidadania, direitos e deveres de cidadãos e usuá-
rios dos serviços de saúde. Procuramos, também,
explicar e discutir o funcionamento dos serviços,
buscando por meio de um plano de cuidados al-
ternativas para resolver ou amenizar as dificulda-
des enfrentadas.
Ao encerrarmos a visita, ressaltamos a impor-
tância da relação equipe / família para a melhoria
do tratamento da usuária, bem como a participa-
ção social desses para a efetivação da Reforma
Psiquiátrica e, consequentemente, maior qualida-
de no cuidado em saúde mental. Como resposta a
essa ação, a usuária e familiares nos agradeceram
pela visita e esclarecimentos, pois nunca haviam
sido realizados anteriormente.
A visita domiciliar é uma categoria da
atenção à saúde que visa à observação da re-
alidade do indivíduo e à proposição de ações
educativas, fundamentais para a continuidade
de qualquer forma de assistência e/ou atenção
domiciliar à saúde, sendo programada e utiliza-
da com o intuito de subsidiar intervenções ou o
planejamento de ações10
.
Além da realização da visita domiciliar e
encontros na unidade, a usuária participou, de
forma pouco ativa, da atividade em grupo com
outras mulheres em tratamento no CAPS, da dis-
cussão sobre sexualidade e saúde mental, as-
sunto acordado entre todas em contato anterior.
Dessa forma pudemos integrar as disciplinas do
curso e promover a interação das participantes,
adquirindo e trocando conhecimentos e favore-
cendo a construção da autonomia.
AconstruçãodeumProjetoTerapêuticoSingularcomusuárioefamília:potencialidadeselimitações
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525
524
A abordagem da temática “Sexualidade em
Saúde Mental” foi importante para possibilitar o
diálogo e reflexão sobre a questão do precon-
ceito relacionado à sexualidade das pessoas que
vivenciam o sofrimento psíquico, pois existe um
pré-julgamento de que elas são infantilizadas,
desprovidas de beleza e vigor físico, impossibili-
tadas de exercer sua sexualidade, suprimindo ou
negando-a11
. Por isso, sentimos a necessidade de
ouvir das participantes sentimentos e experiên-
cias a esse respeito, permitindo, assim, o conhe-
cimento e superação de preconceitos.
Após o fechamento do projeto, ele foi apre-
sentado à usuária e familiar, que se manifestaram
positivamente sobre a experiência, que lhes pos-
sibilitou conhecer melhor suas condições de saú-
de. O familiar relatou não ter, anteriormente, par-
ticipado e discutido sobre cuidados e tratamento,
o que considerou muito importante. Nesse pro-
cesso, o vínculo e o diálogo entre profissionais
de saúde / familiar / usuária são necessários para
o estabelecimento de redes de apoio, integração
e parceria no tratamento da usuária12
.
O desenvolvimento da autonomia da usu-
ária deve ser incluído nas ações do PTS, pois
se efetiva quando a família e as redes sociais se
envolvem no cuidado, por meio da troca de in-
formações e concretização das ações. Também é
importante que o usuário, família e amigos sejam
estimulados à liberdade de verbalizar suas ansie-
dades e medos, entre outros, com escuta atenta
da equipe. Durante essa interação, é imprescin-
dível oferecer ao usuário possibilidades que o le-
vem à reinserção social e à autonomia6
.
Considerações finais
A proposta de integrar as disciplinas de Enfer-
magem em Saúde Mental e Sexualidade e Repro-
dução Humana em um Projeto Terapêutico Singu-
lar foi um desafio para discentes e docentes, em
razão de ser uma inovação na área de saúde men-
tal, pois, por vezes, há uma dissociação dessas
áreas por parte de alguns profissionais de saúde
e pela própria família, que considera a pessoa em
sofrimento mental desprovida de sexualidade, ou
com essa característica exacerbada em momentos
de crise / surto. Por isso, considerar a pessoa em
estudo em todas as suas dimensões – social, psí-
quica, sexual e espiritual – e valorizá-la em um
PTS foi uma iniciativa inovadora para a formação
e vivência de acadêmicos e professores.
A elaboração conjunta do PTS com a pessoa
em estudo e sua família e a validação do projeto
por elas proporcionou a transformação da reali-
dade da usuária, que, anteriormente, não tinha
consciência do próprio estado de saúde, porém,
após essa experiência, pôde obter informações
e emitir juízo crítico sobre si mesma, sobre seu
tratamento e o modelo de atenção psicossocial.
Dessa forma, ao realizar o PTS, vivenciamos a
experiência do empoderamento em saúde, que
permitiu que usuária e família se beneficiassem
do conhecimento obtido nos vários momentos
de contato, isto é, nos encontros, visitas e ofici-
nas. A realização do projeto possibilitou, ainda,
esclarecimentos sobre o transtorno mental, sobre
a qualidade do serviço oferecido, favorecendo a
avaliação crítica do tratamento recebido por par-
te da usuária e de seus familiares. A autonomia e
reinserção social parece também terem sido re-
cobradas por ocasião dessas ações.
Destacamos como a maior potencialida-
de desse processo a aprendizagem adquirida,
tanto por nós, futuras profissionais, quanto pela
pessoa em estudo e sua família. Conhecer, con-
viver, discutir e refletir sobre transtornos mentais
nos proporcionou quebras de paradigmas, novos
conceitos e a própria inovação no cuidar. Contu-
do, ao construir o projeto, identificamos algumas
dificuldades, como a distorção entre teoria e prá-
tica acerca do novo modelo e os dispositivos usa-
dos, como a ausência da aplicabilidade do PTS
na rotina dos serviços que atendem essas pesso-
as. Porém, é importante enfatizarmos os avanços
já alcançados no cuidado direcionado em saúde
mental, por meio do modelo de atenção psicos-
social, que tem como um de seus instrumentos o
PTS, que possibilita a participação, reinserção so-
cial e construção de autonomia. Além disso, cabe
ressaltar que ainda vivenciamos um processo
de mudanças de práticas, no qual encontramos
avanços e retrocessos, ou seja, entendemos que
mudar / substituir / recriar práticas requer supe-
ração, desconstrução do antigo (modelo médico-
-psiquiátrico) e participação social, portanto se
configura como um desafio para a efetivação da
Reforma Psiquiátrica.
525
AconstruçãodeumProjetoTerapêuticoSingularcomusuárioefamília:potencialidadeselimitações
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525
Referências
1. Costa-Rosa A. O modo Psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar. In: Amarante P, organiza-
dor. Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 2000. p. 141-68.
2. Oliveira AGB, Marcon SR. A avaliação do estado mental: um recurso tecnológico para a assistência de enfermagem
em saúde mental. In: Oliveira AGB, organizador. Ensino de Enfermagem: trabalho e cuidado. Cuiabá: EdUFMT; 2006. p.
129-47.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.
4. Oliveira AGB, Vieira MAM, Andrade SMR. Saúde Mental na saúde da família: subsídios para o trabalho assistencial. São
Paulo: Olho d’água; 2006.
5. Sanduvette V. Sobre como e por que construir, (re)construir e avaliar projetos terapêuticos nos centros de atenção psi-
cossocial (CAPS). Psicologia USP. 2007;18(1):83-100.
6. Brasil. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: prontuário transdisciplinar e projeto terapêutico. Brasília: Ministério da
Saúde; 2004.
7. Brasil. Ministério da Saúde. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. 2a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
8. Schrank G, Olschowsky A. O centro de Atenção Psicossocial e as estratégias para a inserção da família. Rev Esc Enferm
USP. 2008;42(1):127-34.
9. Kantorski LC, Hypolito AM, Willrich JQ, Meirelles MCP. A atuação do Enfermeiro nos Centros de Atenção Psicossocial
à luz do Modo Psicossocial. Rev Min Enferm. 2010 Set;14(3):399-407.
10. Giacomozzi CM, Lacerda MR. A prática da assistência domiciliar dos profissionais da estratégia de saúde da família.
Texto Contexto Enferm. 2006;4:645-53.
11. Brito PF, Oliveira CC. A sexualidade negada do doente mental: percepções da sexualidade do portador de doença
mental por profissionais de saúde. Ciênc Cognição. 2009;14(1):246-54.
12. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde Mental e Atenção Básica: o vínculo e o diálogo necessários. Brasília: Ministério da
Saúde; 2004. n. 01/03.
Recebido em: 02 de abril de 2012
Versão atualizada em: 27 de abril de 2012
Aprovado em: 10 de maio de 2012
526
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530
RelatodeExperiência•ReportofExperience
Atenção farmacêutica e a humanização da
assistência: lições aprendidas na promoção da
adesão de usuários aos cuidados terapêuticos
nas condições crônicas
Pharmaceutical Care and humanization of care: lessons from
the promotion of adhesion to therapeutic care of users in
chronic conditions
Pollyana Borges de Araújo Prata*
Marcia Regina Cunha**
Érica Gomes Pereira***
Lucia Yasuko Izumi Nichiata****
Resumo
O alto consumo de medicamentos tem despertado, para os profissionais de saúde, cada vez mais a preocupação com a
adesão ao tratamento dos usuários. O presente artigo tem o objetivo de relatar experiências na assistência farmacêutica
realizada por uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do Município de São Paulo. A farmacêutica da Unidade, para além da
tradução das receitas e confecção de caixas com pictogramas para orientar o uso racional das medicações, desenvolveu,
em articulação com a gerente e os profissionais que participam das reuniões técnicas do serviço, a estratégia assistencial
de acompanhamento do uso das medicações em domicílio para os usuários com mais dificuldades na adesão ao trata-
mento. As principais lições aprendidas tratam sobre a importância da colaboração do farmacêutico na Estratégia Saúde da
Família para a promoção do uso racional dos medicamentos, e que as ações empreendidas para potencializar a adesão
dos usuários aos medicamentos devem estar contidas nas ações gerais de promoção da autonomia do sujeito, ou seja, as
decisões e o controle sobre sua saúde. Como caminho a percorrer, promover atitude emancipadora na assistência farma-
cêutica significa promover práticas que sejam mediadoras entre o saber dos profissionais de saúde e usuários, objetivando
o cuidado mais qualificado das famílias.
Palavras-chave: Assistência Farmacêutica. Humanização da Assistência. Atenção Básica.
Abstract
The high consumption of drugs is increasingly making health professionals be concerned about adherence to treatment by
patients. This article aims to share experiences in pharmaceutical care performed by a Basic Health Unit (BHU) in São Paulo.
The BHU pharmacy, in addition to translating prescription notes and making boxes with pictograms to guide the rational use
of drugs, together with the manager and the professionals who attend the meetings of the technical service, developed an
assistance strategy for medication monitoring use at home for users having more difficulties with adherence to treatment. The
main lessons learned are about dealing with the importance of cooperation of the pharmacist in the Family Health Strategy to
promote the rational use of drugs, and that the actions taken to enhance the adhesion of drug users should be part of the ge-
neral actions for promoting subjects autonomy, that is, decisions and control over their own health. The route to be followed
involves promoting an emancipatory attitude in pharmaceutical care is equal to promoting practices mediating between the
knowledge of health professionals and the patients, aiming at a more qualified family health care.
Keywords: Pharmaceutical Services. Humanization of Assistance. Primary Health Care.
* Especialista em Saúde Pública. Farmacêutica da Fundação Faculdade de Medicina na UBS Paulo VI, Coordenadoria Regional Centro-
-Oeste, São Paulo-SP, Brasil.
** Enfermeira. Gerente da Fundação Faculdade de Medicina (FFM) na UBS PauloVI, Coordenadoria Regional Centro-Oeste, São Paulo-SP, Brasil.
*** Doutoranda pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Especialista em laboratório de ensino, pesquisa e
extensão do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da EEUSP, São Paulo-SP, Brasil.
**** Professora Associada do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da EEUSP, São Paulo-SP, Brasil. E-mail: izumi@usp.br
As autoras declaram não haver conflito de interesses.
527
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530
Atençãofarmacêuticaeahumanizaçãodaassistência...
Introdução
O alto consumo de medicamentos é de-
monstrado, discutido e desperta preocupação em
profissionais e autoridades de saúde1
. Ao lado
disso, a questão da adesão aos cuidados em saú-
de, particularmente às recomendações terapêu-
ticas e uso racional dos recursos, também tem
tomado importância nas últimas décadas e está
sendo incluída na lista de preocupações dos pes-
quisadores e profissionais de saúde2
.
A adesão – ou não – aos cuidados terapêuti-
cos pelos usuários da saúde é um fenômeno que
envolve indistintamente pessoas de diferentes
idades, sexos, etnia e está relacionada a diversos
fatores relativos ao profissional de saúde, ao tra-
tamento e à patologia3,4
. Concorrem ainda outros
fatores, como condições financeiras dos usuários,
número de medicamentos prescritos, esquema
terapêutico, efeitos adversos dos medicamentos,
acesso ao sistema de saúde, relação médico-pa-
ciente e a característica assintomática da doença
e a sua cronicidade5
.
Nos últimos anos, há uma mudança importan-
te de paradigma em relação à compreensão sobre
a finalidade do trabalho do Farmacêutico, não mais
focado no medicamento enquanto um produto,
uma mercadoria de consumo ou simplesmente de
apoio ao acesso ao insumo, passando a ter a centra-
lidade no usuário do serviço de saúde, no sentido
de considerá-lo sujeito de direito ao acesso aos be-
nefícios do cuidado terapêutico6,7,8,9,10
.
O presente artigo trata da Atenção Farma-
cêutica e a Humanização da Assistência na pro-
moção da adesão aos cuidados terapêuticos para
a manutenção da saúde em condições crônicas,
como hipertensão e diabetes. Tem o objetivo de
relatar experiências na assistência farmacêuti-
ca realizada por uma Unidade Básica de Saúde
(UBS) do Município de São Paulo, discutindo al-
guns dos avanços empreendidos e examinando-
-os criticamente, tendo como princípio a humani-
zação da assistência no Sistema Único de Saúde.
Experiências na atenção farmacêutica
O relato trata das experiências de atenção
farmacêutica realizada por uma UBS sob gestão
municipal, em parceria com a Fundação Facul-
dade de Medicina, localizada no Distrito Raposo
Tavares, região oeste do município de São Pau-
lo. Inaugurada em 1985, a UBS está organizada
como Estratégia Saúde da Família desde outubro
de 2009, operando com seis equipes, cobrindo
uma população de 18.949 habitantes, segundo
dados do Sistema de Informação da Atenção
Básica (SIAB) de junho de 2012. Os relatos das
experiências na atenção farmacêutica referem-se
ao período compreendido de 2010 a 2012.
O contato dos usuários dos serviços de saú-
de da UBS com o dispensário de medicações,
popularmente identificado como farmácia, é
feito por meio do guichê de atendimento. Nele
é apresentado o receituário preenchido pelo
médico ou, em alguns casos, pelo Enfermeiro,
quando consensuado nos protocolos clínicos.
Na prática diária, constata-se que os usuários
chegam com muitas dúvidas, alguns não sabem
ler, outros, mesmo alfabetizados, têm dificulda-
des para “decifrar” as anotações do receituário,
realizadas de forma muitas vezes incompre-
ensível até para os profissionais familiarizados
com as medicações. Em geral, há prescrições
de amplo número de medicamentos, com indi-
cações variadas ao longo do dia, dificultando a
compreensão e, portanto, influenciando a ade-
são aos cuidados terapêuticos. A farmácia não
é um local que oferece privacidade e garante o
sigilo para que se realizem as orientações so-
bre o modo de preparo das medicações, quando
necessárias, e sobre as posologias prescritas a
serem ingeridas no domicílio.
Nesse primeiro contato, quando já se obser-
vam dificuldades de entendimento dos usuários,
utilizam-se estratégias que buscam fomentar a
apropriação das informações, como a tradução
e/ou interpretação da prescrição das receitas, re-
gistrando uma redação no verso, de forma que
possa ser mais bem entendido. Outra estratégia
utilizada é o uso de pictograma, que nada mais
é que a utilização de símbolos que representam
um objeto ou conceito por meio de desenhos fi-
gurativos, como os horários de tomada de medi-
cações, representados com figuras para o café da
manha, almoço e jantar.
Para auxiliar a compreensão sobre a grande
quantidade e variedade de medicações prescritas,
por iniciativa própria, a farmacêutica da UBS criou
528
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530
Atençãofarmacêuticaeahumanizaçãodaassistência...
caixas para a promoção do uso correto dos medi-
camentos. Essas caixas, confeccionadas de modo
artesanal com material reaproveitável, possuem
divisórias em seu interior, com pictogramas e iden-
tificação dos horários e cores diferenciadas para
visualização dos tipos diferentes das medicações.
São oferecidas aos usuários que apresentam maior
dificuldade para compreensão, indicando que o
levem para o domicílio para auxiliar a organiza-
ção e identificação dos medicamentos indicados.
A confecção das caixas de medicamentos
também contou com a participação dos mora-
dores, na Feira de Saúde, realizada no Bairro e
promovida pelos profissionais da UBS juntamen-
te com os alunos do Programa de Educação pelo
Trabalho (PET) do Ministério da Saúde, em par-
ceria com a Universidade de São Paulo. Durante
a montagem das caixas, foi possível discutir com
a população sobre o uso correto, acompanha-
mento do uso e descarte apropriado de medica-
mentos. Essa atividade, por envolver a população
local e os ACS, se mostrou com potencial para
sensibilização quanto à importância das VD no
uso racional de medicamentos.
As dificuldades na compreensão dos usuá-
rios sobre o uso racional dos medicamentos, que
acabam interferindo na adesão, estão frequente-
mente nas pautas das reuniões técnicas da UBS.
Tais reuniões contam com a participação
de médicos, enfermeiros, dentistas, assistentes
sociais e a gerente. Em relação a essa questão,
foi estabelecido, como encaminhamento conjun-
to, a identificação de usuários em situações de
maior dificuldade para a adesão, como as pesso-
as com medicação de uso contínuo, faltosas em
atendimento agendado e idosas. Prossegue-se a
leitura dos prontuários e é feito uma programa-
ção de Visitas Domiciliárias (VD), com apoio dos
Agentes Comunitários de Saúde (ACS) a estes
usuários selecionados.
Tendo como critério de eleição das famílias
a ser visitada a dificuldade para a adesão aos
cuidados terapêuticos, estabeleceu-se um fluxo
para sua realização, que se inicia com o ACS
separando o prontuário; depois, a farmacêutica
analisa esse prontuário e a prescrição, separa a
quantidade de medicação necessária para um
período de 30 dias e as acondiciona na caixa
confeccionada com divisórias e pictogramas. A
VD é realizada pela farmacêutica, acompanha-
da pelo ACS e/ou pelo auxiliar de enfermagem.
Estabeleceu-se a realização de uma VD a cada
30 dias, durante o período de seis meses, com
avaliações sucessivas.
Foram criados pela farmacêutica os instru-
mentos de acompanhamento do usuário: uma fi-
cha individual, uma planilha de acompanhamen-
to dos usuários e uma planilha para o descarte
adequado das medicações.
Na primeiraVD, apresenta-se o trabalho que
está sendo iniciado junto ao usuário e sua família,
expondo a necessidade de acompanhamento do
uso racional das medicações para potencializar
a adesão ao tratamento e o combate à autome-
dicação. Solicita-se ao usuário ou ao cuidador a
busca de todas as medicações, que estão ou não
em utilização no momento e que se encontram
no domicílio. Discute-se sobre a importância do
acompanhamento do uso da prescrição e o des-
carte adequado das medicações, abordando, in-
clusive, as preocupações com o meio ambiente.
Desse modo, são recolhidas as medicações que
não estão em uso e apresentam vencimento da
data de validade e embalagens danificadas. Um
dos problemas identificados em relação à dificul-
dade de adesão é o vencimento da data da re-
ceita prescrita. Faz-se, portanto, a busca ativa de
usuários que possuem receitas a serem vencidas
e, antecipadamente, solicita-se nova receita ao
médico da equipe.
Apresenta-se a caixa confeccionada com di-
visórias e pictogramas com as medicações cuida-
dosamente organizadas. Realiza-se com o usuário
a colocação das etiquetas de identificação, sepa-
rando-as segundo horários e posologia, atentando
para possíveis interações medicamentosas. Na
VD, é reforçada a orientação sobre as formas de
ingestão das medicações, a organização da caixa
e os cuidados em relação ao armazenamento.
Após 30 dias, na 2ª VD, avalia-se a adesão
aos medicamentos por meio da observação do
consumo das medicações. Espera-se que não haja
sobra, uma vez que é um indício de avaliação in-
direta de que houve a administração correta em
termos de posologia das medicações prescritas.
Quando há sobras, investigam-se quais foram as
dificuldades, situações que explicam a possível
não ingestão. As orientações são revistas e as dú-
529
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530
Atençãofarmacêuticaeahumanizaçãodaassistência...
vidas que porventura ocorram são sanadas. É re-
forçada a necessidade da adesão e do uso correto
das medicações. As questões principais são regis-
tradas no prontuário e discutidas com as equipes
saúde da família. Abastece-se a caixa para mais
30 dias, e as sobras são recolhidas.
Lições aprendidas: redefinindo os
caminhos
Embora se reconheça que as estratégias
apresentadas não sejam propriamente inovado-
ras, pois outras UBS em diferentes locais realizam
atividades similares, o artigo apresenta as experi-
ências para apontar alguns avanços empreendi-
dos e examiná-los, criticamente, no eixo estrutu-
rante da humanização da assistência.
No relato desta experiência de atenção far-
macêutica, identificam-se elementos que chamam
às bases da assistência humanizada: valorização
dos sujeitos implicados – usuários, trabalhadores
das equipes de saúde, gestor e população local;
desenvolvimento de estratégias de fomento à au-
tonomia e protagonismo dos sujeitos; estratégias
de aumento no grau de corresponsabilidade na
produção de saúde e dos sujeitos; estabelecimento
de vínculos solidários e participativos; e mudança
nos processos de trabalho. Foi possível observar
em vários pontos de atenção dentro da UBS, mas
em especial durante a realização da VD, o princí-
pio do diálogo mútuo, em que a escuta é realizada
no sentido de identificar necessidades de saúde
amplas e/ou problemas relacionados à sua condi-
ção crônica (receitas vencidas, faltas às consultas,
problemas de saúde ou particulares). Isso pressu-
põe o estabelecimento de vínculo com o usuário,
sua família ou cuidador11
.
A implementação das VD mensais com o
acompanhamento dos profissionais de saúde im-
plicados com a assistência farmacêutica resultou
na redução de dúvidas, erros e/ou descuidos com
os medicamentos, restringiram efeitos indesejá-
veis decorrentes do uso equivocado destes e me-
lhoraram o controle de saúde, com resultados na
evolução das condições crônicas.
Os resultados desta experiência indicam me-
lhor adesão dos usuários aos cuidados terapêuti-
cos nas condições crônicas, como hipertensão
e diabetes. O sentido de adesão não se limita à
tomada dos medicamentos ou, remetendo ao sen-
tido inverso, ao abandono do tratamento como re-
sultado de comportamentos / atitudes individuais.
A adesão não se reduz a um ato de volição
pessoal. É um processo intimamente associado
à vida, que depende de uma série de interme-
diações que envolvem o cotidiano da pessoa, a
organização dos processos de trabalho em saú-
de e a acessibilidade em sentido amplo – que
inclui os processos que levam – ou não – ao
desenvolvimento da vida com dignidade12
.
Nesse sentido, no cuidado terapêutico está
contida a ideia de positividade ou potência para
justamente promover a adesão. A assistência
farmacêutica diz respeito às atitudes, aos com-
portamentos, compromissos, responsabilidades,
inquietações, valores éticos, conhecimentos e
habilidades dos profissionais de saúde na presta-
ção de uma farmacoterapia racional, com a reali-
zação de ações preventivas de doenças e agravos,
ações promotoras de saúde e de recuperação13
.
Como lições aprendidas nas experiências da
assistência farmacêutica pautada pela humaniza-
ção: reconhece-se a importância da colaboração
do farmacêutico na equipe saúde da família para
a promoção do uso racional dos medicamentos e
que as estratégias empreendidas para potenciali-
zar a adesão dos usuários aos medicamentos de-
vem estar contidas nas ações gerais de promoção
da autonomia do sujeito, ou seja, as decisões e
o controle sobre sua saúde10
. Como caminho a
percorrer, há de se promover atitude emancipa-
dora na assistência farmacêutica, o que significa
promover práticas que sejam mediadoras entre o
saber dos profissionais de saúde e usuários, obje-
tivando o cuidado mais qualificado das famílias.
Referências
1. Lefèvre F. O medicamento como mercadoria simbólica. São Paulo: Cortez; 1991.
2. Aquino DS. Por que o uso racional dos medicamentos deve ser uma prioridade? Ciên Saúde Colet. 2008;13(Supl):733-6.
3. Paulo LG, Zanini AC. Automedicação no Brasil. Rev Assoc Med Bras. 1988;34:69-75.
530
OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530
Atençãofarmacêuticaeahumanizaçãodaassistência...
4. Nemes MIB, et al. Aderência ao tratamento por anti-retrovirais em serviços públicos no Estado de São Paulo. Brasília:
Ministério da Saúde; 2000.
5. Leite SN, Vasconcellos MPC. Adesão à terapêutica medicamentosa: elementos para a discussão de conceitos e pressu-
postos adotados na literatura. Ciên Saúde Colet. 2003;8(3):775-82.
6. Hepler CD, Strand LM. Opportunities and responsibilities in pharmaceutical care. Am J Hosp Pharm. 1990;47:533-43.
7. Organização Pan-americana da Saúde. Atenção Farmacêutica no Brasil: trilhando caminhos. Relatório 2001-2002.
Brasília: OPAS; 2002.
8. Organização Pan-americana de Saúde. Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica: Proposta. Brasília: OPAS; 2002.
9. Organização Pan-americana de Saúde. Termo de Referência para reunião do grupo de trabalho: Interface entre Atenção
Farmacêutica e Farmacovigilância. Brasília: OPAS; 2002.
10. Organización Mundial de Salud. El papel del farmacéutico en la atención a la salud: declaración de Tokio. Genebra:
OMS; 1993.
11. Egry EY, Fonseca RMGS. A família, a visita domiciliária e a enfermagem: revisitando o processo de trabalho da enfer-
magem em saúde coletiva. Rev Esc Enf USP. 2000;34(3):233-9.
12. Bertolozzi MR, et al. Os conceitos de vulnerabilidade e adesão na Saúde Coletiva. Rev Esc Enf USP. 2009;43 (Esp
2):1326-30.
13. Paiva Filho O. ABC da ética farmacêutica. Brasília: Cidade; 2011.
Recebido em: 11 de julho de 2012
Aprovado em: 27 de julho de 2012

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Serviço Social e Saúde Mental
Serviço Social e Saúde MentalServiço Social e Saúde Mental
Serviço Social e Saúde Mental
Carol Alves
 
Acolhimento praticas producao_saude
Acolhimento praticas producao_saudeAcolhimento praticas producao_saude
Acolhimento praticas producao_saude
Aline Santana
 
Inserção do assistente social em saúde mental em foco o trabalho com as fam...
Inserção do assistente social em saúde mental   em foco o trabalho com as fam...Inserção do assistente social em saúde mental   em foco o trabalho com as fam...
Inserção do assistente social em saúde mental em foco o trabalho com as fam...
Rosane Domingues
 
Humanização na Saúde
Humanização na SaúdeHumanização na Saúde
Humanização na Saúde
Ylla Cohim
 
Slides apoio matricial
Slides apoio matricialSlides apoio matricial
Slides apoio matricialPaula Oliveira
 
111 441-1-pb
111 441-1-pb111 441-1-pb
111 441-1-pb
Flora Couto
 
Processo de trabalho em saude mental
Processo de trabalho em saude mentalProcesso de trabalho em saude mental
Processo de trabalho em saude mental
LUIZ PASCOAL
 
Apresentação trajetória da pnh 1
Apresentação trajetória da pnh   1Apresentação trajetória da pnh   1
Apresentação trajetória da pnh 1Cínthia Lima
 
Capelania e humaniza+ç+âo hospitalar
Capelania e humaniza+ç+âo hospitalarCapelania e humaniza+ç+âo hospitalar
Capelania e humaniza+ç+âo hospitalarPrLinaldo Junior
 
Trabalho de Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de Curso Trabalho de Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de Curso
Camila Caleffi
 
14 equipe referencia
14 equipe referencia14 equipe referencia
14 equipe referencia
Lillian Oliveira
 
Humaniza SUS marco teorico
Humaniza SUS marco teoricoHumaniza SUS marco teorico
Humaniza SUS marco teoricoferaps
 
Missoes gustavo 2010
Missoes gustavo 2010Missoes gustavo 2010
Missoes gustavo 2010
jorge luiz dos santos de souza
 
Conflitos na Equipe de Enfermagem do Programa de Saude da Familia no Inerior ...
Conflitos na Equipe de Enfermagem do Programa de Saude da Familia no Inerior ...Conflitos na Equipe de Enfermagem do Programa de Saude da Familia no Inerior ...
Conflitos na Equipe de Enfermagem do Programa de Saude da Familia no Inerior ...
Eli Paula
 
Caminhos da humanizacao_na_saude
Caminhos da humanizacao_na_saudeCaminhos da humanizacao_na_saude
Caminhos da humanizacao_na_saudejccbf
 
HumanizaSUS
HumanizaSUSHumanizaSUS
HumanizaSUS
Lene So
 
Projeto de extensão MANS
Projeto de extensão MANSProjeto de extensão MANS
Projeto de extensão MANS
Lorena Marques
 

Mais procurados (20)

Serviço Social e Saúde Mental
Serviço Social e Saúde MentalServiço Social e Saúde Mental
Serviço Social e Saúde Mental
 
Acolhimento praticas producao_saude
Acolhimento praticas producao_saudeAcolhimento praticas producao_saude
Acolhimento praticas producao_saude
 
Inserção do assistente social em saúde mental em foco o trabalho com as fam...
Inserção do assistente social em saúde mental   em foco o trabalho com as fam...Inserção do assistente social em saúde mental   em foco o trabalho com as fam...
Inserção do assistente social em saúde mental em foco o trabalho com as fam...
 
Humanização na Saúde
Humanização na SaúdeHumanização na Saúde
Humanização na Saúde
 
Slides apoio matricial
Slides apoio matricialSlides apoio matricial
Slides apoio matricial
 
111 441-1-pb
111 441-1-pb111 441-1-pb
111 441-1-pb
 
Aula humanizacao botucatu_2009
Aula humanizacao botucatu_2009Aula humanizacao botucatu_2009
Aula humanizacao botucatu_2009
 
Processo de trabalho em saude mental
Processo de trabalho em saude mentalProcesso de trabalho em saude mental
Processo de trabalho em saude mental
 
Apresentação trajetória da pnh 1
Apresentação trajetória da pnh   1Apresentação trajetória da pnh   1
Apresentação trajetória da pnh 1
 
Capelania e humaniza+ç+âo hospitalar
Capelania e humaniza+ç+âo hospitalarCapelania e humaniza+ç+âo hospitalar
Capelania e humaniza+ç+âo hospitalar
 
Trabalho de Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de Curso Trabalho de Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de Curso
 
14 equipe referencia
14 equipe referencia14 equipe referencia
14 equipe referencia
 
Humaniza SUS marco teorico
Humaniza SUS marco teoricoHumaniza SUS marco teorico
Humaniza SUS marco teorico
 
humanização saúde
humanização saúdehumanização saúde
humanização saúde
 
Missoes gustavo 2010
Missoes gustavo 2010Missoes gustavo 2010
Missoes gustavo 2010
 
Conflitos na Equipe de Enfermagem do Programa de Saude da Familia no Inerior ...
Conflitos na Equipe de Enfermagem do Programa de Saude da Familia no Inerior ...Conflitos na Equipe de Enfermagem do Programa de Saude da Familia no Inerior ...
Conflitos na Equipe de Enfermagem do Programa de Saude da Familia no Inerior ...
 
Caminhos da humanizacao_na_saude
Caminhos da humanizacao_na_saudeCaminhos da humanizacao_na_saude
Caminhos da humanizacao_na_saude
 
Gth
GthGth
Gth
 
HumanizaSUS
HumanizaSUSHumanizaSUS
HumanizaSUS
 
Projeto de extensão MANS
Projeto de extensão MANSProjeto de extensão MANS
Projeto de extensão MANS
 

Destaque

Estatuto do D.A. de Pedagogia
Estatuto do D.A. de PedagogiaEstatuto do D.A. de Pedagogia
Estatuto do D.A. de Pedagogia
Savio Vasconcelos
 
Resumo politicas públicas por dentro
Resumo politicas públicas por dentroResumo politicas públicas por dentro
Resumo politicas públicas por dentro
Savio Vasconcelos
 
Drogas e a família
Drogas e a famíliaDrogas e a família
Drogas e a família
Fatoze
 
Plano de prevenção à recaída
Plano de prevenção à recaídaPlano de prevenção à recaída
Plano de prevenção à recaídagiulliangel
 
Dependencia Quimica - Planos de Tratamento Clínica Viva
Dependencia Quimica - Planos de Tratamento Clínica VivaDependencia Quimica - Planos de Tratamento Clínica Viva
Dependencia Quimica - Planos de Tratamento Clínica Viva
Clínica Terapêutica Viva
 
O que é e como tratar a codependência?
O que é e como tratar a codependência?O que é e como tratar a codependência?
O que é e como tratar a codependência?
Vida Mental Consultoria de Saúde Mental e Nutricional
 
Projeto histórias em quadrinhos sobre as drogas
Projeto histórias em quadrinhos sobre as drogasProjeto histórias em quadrinhos sobre as drogas
Projeto histórias em quadrinhos sobre as drogasEscolaSBH
 
O papel da família no tratamento da dependência
O papel da família no tratamento da dependênciaO papel da família no tratamento da dependência
O papel da família no tratamento da dependênciablogdapsique
 
Guia de Tratamento para Dependentes Químicos
Guia de Tratamento para Dependentes QuímicosGuia de Tratamento para Dependentes Químicos
Guia de Tratamento para Dependentes Químicos
CITRAT
 
Cartilha Educativa de Prevenção às Drogas
Cartilha Educativa de Prevenção às DrogasCartilha Educativa de Prevenção às Drogas
Cartilha Educativa de Prevenção às Drogas
Paulo Negreiros
 
Cartilha - Série Conversando sobre Drogas - Família
Cartilha - Série Conversando sobre Drogas - FamíliaCartilha - Série Conversando sobre Drogas - Família
Cartilha - Série Conversando sobre Drogas - Família
Governo ES
 
Cartilha sobre drogas
Cartilha sobre drogasCartilha sobre drogas
Cartilha sobre drogassaudefieb
 
Apostila tratamento da dependência química
Apostila   tratamento da dependência químicaApostila   tratamento da dependência química
Apostila tratamento da dependência químicakarol_ribeiro
 
Motivação no tratamento da dependência química
Motivação no tratamento da dependência químicaMotivação no tratamento da dependência química
Motivação no tratamento da dependência química
Vida Mental Consultoria de Saúde Mental e Nutricional
 
Como Aplicar Técnicas de Dinâmicas de Grupo para Dependentes Químicos?
Como Aplicar Técnicas de Dinâmicas de Grupo para Dependentes Químicos?Como Aplicar Técnicas de Dinâmicas de Grupo para Dependentes Químicos?
Como Aplicar Técnicas de Dinâmicas de Grupo para Dependentes Químicos?
Vida Mental Consultoria de Saúde Mental e Nutricional
 
10 dinâmicas divertidas e envolventes
10 dinâmicas divertidas e envolventes10 dinâmicas divertidas e envolventes
10 dinâmicas divertidas e envolventes
Seduc MT
 

Destaque (18)

Estatuto do D.A. de Pedagogia
Estatuto do D.A. de PedagogiaEstatuto do D.A. de Pedagogia
Estatuto do D.A. de Pedagogia
 
Resumo politicas públicas por dentro
Resumo politicas públicas por dentroResumo politicas públicas por dentro
Resumo politicas públicas por dentro
 
Drogas e a família
Drogas e a famíliaDrogas e a família
Drogas e a família
 
Plano de prevenção à recaída
Plano de prevenção à recaídaPlano de prevenção à recaída
Plano de prevenção à recaída
 
Dependencia Quimica - Planos de Tratamento Clínica Viva
Dependencia Quimica - Planos de Tratamento Clínica VivaDependencia Quimica - Planos de Tratamento Clínica Viva
Dependencia Quimica - Planos de Tratamento Clínica Viva
 
O que é e como tratar a codependência?
O que é e como tratar a codependência?O que é e como tratar a codependência?
O que é e como tratar a codependência?
 
Projeto histórias em quadrinhos sobre as drogas
Projeto histórias em quadrinhos sobre as drogasProjeto histórias em quadrinhos sobre as drogas
Projeto histórias em quadrinhos sobre as drogas
 
O papel da família no tratamento da dependência
O papel da família no tratamento da dependênciaO papel da família no tratamento da dependência
O papel da família no tratamento da dependência
 
Guia de Tratamento para Dependentes Químicos
Guia de Tratamento para Dependentes QuímicosGuia de Tratamento para Dependentes Químicos
Guia de Tratamento para Dependentes Químicos
 
Cartilha Educativa de Prevenção às Drogas
Cartilha Educativa de Prevenção às DrogasCartilha Educativa de Prevenção às Drogas
Cartilha Educativa de Prevenção às Drogas
 
Cartilha - Série Conversando sobre Drogas - Família
Cartilha - Série Conversando sobre Drogas - FamíliaCartilha - Série Conversando sobre Drogas - Família
Cartilha - Série Conversando sobre Drogas - Família
 
Cartilha sobre drogas
Cartilha sobre drogasCartilha sobre drogas
Cartilha sobre drogas
 
Apostila tratamento da dependência química
Apostila   tratamento da dependência químicaApostila   tratamento da dependência química
Apostila tratamento da dependência química
 
Jose_Clemente_PTS
Jose_Clemente_PTSJose_Clemente_PTS
Jose_Clemente_PTS
 
Motivação no tratamento da dependência química
Motivação no tratamento da dependência químicaMotivação no tratamento da dependência química
Motivação no tratamento da dependência química
 
Aula 10 - Dependência Química
Aula 10  - Dependência QuímicaAula 10  - Dependência Química
Aula 10 - Dependência Química
 
Como Aplicar Técnicas de Dinâmicas de Grupo para Dependentes Químicos?
Como Aplicar Técnicas de Dinâmicas de Grupo para Dependentes Químicos?Como Aplicar Técnicas de Dinâmicas de Grupo para Dependentes Químicos?
Como Aplicar Técnicas de Dinâmicas de Grupo para Dependentes Químicos?
 
10 dinâmicas divertidas e envolventes
10 dinâmicas divertidas e envolventes10 dinâmicas divertidas e envolventes
10 dinâmicas divertidas e envolventes
 

Semelhante a Construcao projeto terapeutico_singular_usuario

Psicologia EstagSAÚDE MENTAL - PL 9.pptx
Psicologia EstagSAÚDE MENTAL - PL 9.pptxPsicologia EstagSAÚDE MENTAL - PL 9.pptx
Psicologia EstagSAÚDE MENTAL - PL 9.pptx
BeatrizVieira226546
 
Projeto terapêutico singular apresentação
Projeto terapêutico singular apresentaçãoProjeto terapêutico singular apresentação
Projeto terapêutico singular apresentação
kelryx3
 
Cartilha da pnh
Cartilha da pnhCartilha da pnh
Cartilha da pnh
Juliana Azevedo
 
aula 0001.pptx
aula 0001.pptxaula 0001.pptx
aula 0001.pptx
MrciaDaiane1
 
Projeto Descritivo Caps Ad
Projeto Descritivo   Caps AdProjeto Descritivo   Caps Ad
Projeto Descritivo Caps Ad
eduardo guagliardi
 
V18n1 07redução de danos
V18n1 07redução de danosV18n1 07redução de danos
V18n1 07redução de danosvenanciom
 
Política Nacional de Humanização - PNH.pdf
Política Nacional de Humanização - PNH.pdfPolítica Nacional de Humanização - PNH.pdf
Política Nacional de Humanização - PNH.pdf
RitaOliveira691334
 
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais  Fórum Saúde Mental InfantojuveniAnais  Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
CENAT Cursos
 
O sentido do cuidar para familiares de pessoas com transtorno mental: um estu...
O sentido do cuidar para familiares de pessoas com transtorno mental: um estu...O sentido do cuidar para familiares de pessoas com transtorno mental: um estu...
O sentido do cuidar para familiares de pessoas com transtorno mental: um estu...
Creudenia Freitas Santos
 
4ª aula 1º slid humaniza sus
4ª aula 1º slid humaniza sus4ª aula 1º slid humaniza sus
4ª aula 1º slid humaniza susFrancisco Fialho
 
Disciplina de seminário saúde coletiva
Disciplina de seminário saúde coletivaDisciplina de seminário saúde coletiva
Disciplina de seminário saúde coletivaTesisMaster
 
Apresentação - Estágio em Políticas Públicas
Apresentação - Estágio em Políticas Públicas Apresentação - Estágio em Políticas Públicas
Apresentação - Estágio em Políticas Públicas
Bia Oliveira
 
DISSERTAÇÃO PROJETO TERAPEUTICO SINGULAR
DISSERTAÇÃO PROJETO TERAPEUTICO SINGULARDISSERTAÇÃO PROJETO TERAPEUTICO SINGULAR
DISSERTAÇÃO PROJETO TERAPEUTICO SINGULAR
CristianeNogueiradaC1
 
Proj. de tcc diego (final)
Proj. de tcc   diego (final)Proj. de tcc   diego (final)
Proj. de tcc diego (final)Jose Rudy
 
Cartilha humanizasus
Cartilha humanizasusCartilha humanizasus
Cartilha humanizasus
Yasmin Mattos
 
Açoes em saude mental
Açoes em saude mentalAçoes em saude mental
Açoes em saude mental
Silvana Santos
 

Semelhante a Construcao projeto terapeutico_singular_usuario (20)

Psicologia EstagSAÚDE MENTAL - PL 9.pptx
Psicologia EstagSAÚDE MENTAL - PL 9.pptxPsicologia EstagSAÚDE MENTAL - PL 9.pptx
Psicologia EstagSAÚDE MENTAL - PL 9.pptx
 
Projeto terapêutico singular apresentação
Projeto terapêutico singular apresentaçãoProjeto terapêutico singular apresentação
Projeto terapêutico singular apresentação
 
Cartilha da pnh
Cartilha da pnhCartilha da pnh
Cartilha da pnh
 
aula 0001.pptx
aula 0001.pptxaula 0001.pptx
aula 0001.pptx
 
Projeto Descritivo Caps Ad
Projeto Descritivo   Caps AdProjeto Descritivo   Caps Ad
Projeto Descritivo Caps Ad
 
V18n1 07redução de danos
V18n1 07redução de danosV18n1 07redução de danos
V18n1 07redução de danos
 
Cola
ColaCola
Cola
 
Prontuario
ProntuarioProntuario
Prontuario
 
Política Nacional de Humanização - PNH.pdf
Política Nacional de Humanização - PNH.pdfPolítica Nacional de Humanização - PNH.pdf
Política Nacional de Humanização - PNH.pdf
 
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais  Fórum Saúde Mental InfantojuveniAnais  Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
 
O sentido do cuidar para familiares de pessoas com transtorno mental: um estu...
O sentido do cuidar para familiares de pessoas com transtorno mental: um estu...O sentido do cuidar para familiares de pessoas com transtorno mental: um estu...
O sentido do cuidar para familiares de pessoas com transtorno mental: um estu...
 
4ª aula 1º slid humaniza sus
4ª aula 1º slid humaniza sus4ª aula 1º slid humaniza sus
4ª aula 1º slid humaniza sus
 
Humanização hospitalar
Humanização hospitalarHumanização hospitalar
Humanização hospitalar
 
Disciplina de seminário saúde coletiva
Disciplina de seminário saúde coletivaDisciplina de seminário saúde coletiva
Disciplina de seminário saúde coletiva
 
Apresentação - Estágio em Políticas Públicas
Apresentação - Estágio em Políticas Públicas Apresentação - Estágio em Políticas Públicas
Apresentação - Estágio em Políticas Públicas
 
DISSERTAÇÃO PROJETO TERAPEUTICO SINGULAR
DISSERTAÇÃO PROJETO TERAPEUTICO SINGULARDISSERTAÇÃO PROJETO TERAPEUTICO SINGULAR
DISSERTAÇÃO PROJETO TERAPEUTICO SINGULAR
 
Proj. de tcc diego (final)
Proj. de tcc   diego (final)Proj. de tcc   diego (final)
Proj. de tcc diego (final)
 
Aula da Doutora Jeanete e do Irmão Leonardo
Aula da Doutora Jeanete e do Irmão LeonardoAula da Doutora Jeanete e do Irmão Leonardo
Aula da Doutora Jeanete e do Irmão Leonardo
 
Cartilha humanizasus
Cartilha humanizasusCartilha humanizasus
Cartilha humanizasus
 
Açoes em saude mental
Açoes em saude mentalAçoes em saude mental
Açoes em saude mental
 

Último

643727227-7233-Afetvidade-e-sexualidade-das-pessoas-com-deficie-ncia-mental.pptx
643727227-7233-Afetvidade-e-sexualidade-das-pessoas-com-deficie-ncia-mental.pptx643727227-7233-Afetvidade-e-sexualidade-das-pessoas-com-deficie-ncia-mental.pptx
643727227-7233-Afetvidade-e-sexualidade-das-pessoas-com-deficie-ncia-mental.pptx
SusanaMatos22
 
MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA na Enfermagem
MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA na EnfermagemMICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA na Enfermagem
MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA na Enfermagem
sidneyjmg
 
Historia de FLORENCE NIGHTINGALE na enfermagem
Historia de FLORENCE NIGHTINGALE na enfermagemHistoria de FLORENCE NIGHTINGALE na enfermagem
Historia de FLORENCE NIGHTINGALE na enfermagem
sidneyjmg
 
doenças transmitidas pelas arboviroses ARBOVIROSES - GALGON.pptx
doenças transmitidas pelas arboviroses ARBOVIROSES - GALGON.pptxdoenças transmitidas pelas arboviroses ARBOVIROSES - GALGON.pptx
doenças transmitidas pelas arboviroses ARBOVIROSES - GALGON.pptx
ccursog
 
Cartilha Digital exercícios para OMBRO.pdf
Cartilha Digital exercícios para OMBRO.pdfCartilha Digital exercícios para OMBRO.pdf
Cartilha Digital exercícios para OMBRO.pdf
Camila Lorranna
 
APOSTILA Citologia Clà nica didatico.pdf
APOSTILA Citologia Clà nica  didatico.pdfAPOSTILA Citologia Clà nica  didatico.pdf
APOSTILA Citologia Clà nica didatico.pdf
PatrickVieira30
 
Principios do treinamento desportivo. Ed Física
Principios do treinamento desportivo. Ed FísicaPrincipios do treinamento desportivo. Ed Física
Principios do treinamento desportivo. Ed Física
AllanNovais4
 
NUTRICAO SELETIVIDADE ALIMENTAR NO AUTISMO.pptx
NUTRICAO SELETIVIDADE ALIMENTAR NO AUTISMO.pptxNUTRICAO SELETIVIDADE ALIMENTAR NO AUTISMO.pptx
NUTRICAO SELETIVIDADE ALIMENTAR NO AUTISMO.pptx
NutricionistaBrena
 
AULA BANHO NO LEITO DE ENFERMAGEM...pptx
AULA BANHO NO LEITO DE ENFERMAGEM...pptxAULA BANHO NO LEITO DE ENFERMAGEM...pptx
AULA BANHO NO LEITO DE ENFERMAGEM...pptx
DiegoFernandes857616
 
Violência contra os idosos.pptxtiposdeviolencia
Violência contra os idosos.pptxtiposdeviolenciaViolência contra os idosos.pptxtiposdeviolencia
Violência contra os idosos.pptxtiposdeviolencia
THIALYMARIASILVADACU
 
Acidente Vascular Encefálico AVC - AVE.pdf
Acidente Vascular Encefálico AVC - AVE.pdfAcidente Vascular Encefálico AVC - AVE.pdf
Acidente Vascular Encefálico AVC - AVE.pdf
GabryellaNeves2
 

Último (11)

643727227-7233-Afetvidade-e-sexualidade-das-pessoas-com-deficie-ncia-mental.pptx
643727227-7233-Afetvidade-e-sexualidade-das-pessoas-com-deficie-ncia-mental.pptx643727227-7233-Afetvidade-e-sexualidade-das-pessoas-com-deficie-ncia-mental.pptx
643727227-7233-Afetvidade-e-sexualidade-das-pessoas-com-deficie-ncia-mental.pptx
 
MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA na Enfermagem
MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA na EnfermagemMICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA na Enfermagem
MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA na Enfermagem
 
Historia de FLORENCE NIGHTINGALE na enfermagem
Historia de FLORENCE NIGHTINGALE na enfermagemHistoria de FLORENCE NIGHTINGALE na enfermagem
Historia de FLORENCE NIGHTINGALE na enfermagem
 
doenças transmitidas pelas arboviroses ARBOVIROSES - GALGON.pptx
doenças transmitidas pelas arboviroses ARBOVIROSES - GALGON.pptxdoenças transmitidas pelas arboviroses ARBOVIROSES - GALGON.pptx
doenças transmitidas pelas arboviroses ARBOVIROSES - GALGON.pptx
 
Cartilha Digital exercícios para OMBRO.pdf
Cartilha Digital exercícios para OMBRO.pdfCartilha Digital exercícios para OMBRO.pdf
Cartilha Digital exercícios para OMBRO.pdf
 
APOSTILA Citologia Clà nica didatico.pdf
APOSTILA Citologia Clà nica  didatico.pdfAPOSTILA Citologia Clà nica  didatico.pdf
APOSTILA Citologia Clà nica didatico.pdf
 
Principios do treinamento desportivo. Ed Física
Principios do treinamento desportivo. Ed FísicaPrincipios do treinamento desportivo. Ed Física
Principios do treinamento desportivo. Ed Física
 
NUTRICAO SELETIVIDADE ALIMENTAR NO AUTISMO.pptx
NUTRICAO SELETIVIDADE ALIMENTAR NO AUTISMO.pptxNUTRICAO SELETIVIDADE ALIMENTAR NO AUTISMO.pptx
NUTRICAO SELETIVIDADE ALIMENTAR NO AUTISMO.pptx
 
AULA BANHO NO LEITO DE ENFERMAGEM...pptx
AULA BANHO NO LEITO DE ENFERMAGEM...pptxAULA BANHO NO LEITO DE ENFERMAGEM...pptx
AULA BANHO NO LEITO DE ENFERMAGEM...pptx
 
Violência contra os idosos.pptxtiposdeviolencia
Violência contra os idosos.pptxtiposdeviolenciaViolência contra os idosos.pptxtiposdeviolencia
Violência contra os idosos.pptxtiposdeviolencia
 
Acidente Vascular Encefálico AVC - AVE.pdf
Acidente Vascular Encefálico AVC - AVE.pdfAcidente Vascular Encefálico AVC - AVE.pdf
Acidente Vascular Encefálico AVC - AVE.pdf
 

Construcao projeto terapeutico_singular_usuario

  • 1. 521 OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525 RelatodeExperiência•ReportofExperience A construção de um Projeto Terapêutico Singular com usuário e família: potencialidades e limitações The construction of a Singular Therapeutic Project with the user and the family: potentialities and limitations Laura Graças Padilha de Carvalho* Mayrene Dias de Sousa Moreira** Larissa de Almeida Rézio*** Neuma Zamariano Fanaia Teixeira**** Resumo O Projeto Terapêutico Singular (PTS), principal instrumento de trabalho interdisciplinar dos Centros de Atenção Psicosso- cial (CAPS), possibilita a participação, reinserção e construção de autonomia para o usuário / família em sofrimento psí- quico. O objetivo foi de descrever as etapas que constituíram a construção de um PTS em conjunto com usuária / família de um CAPS do município de Cuiabá-MT. Trata-se de um relato de experiência de acadêmicas do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso. A partir da análise das informações coletadas, elencamos os problemas, buscamos referências bibliográficas, traçamos objetivos e intervenções. A construção do PTS resultou na sensibilização da família e esclarecimentos de dúvidas acerca do sofrimento psíquico da usuária, favoreceu a elaboração em conjunto do plano de cuidados e, consequentemente, do fortalecimento de vínculo, uma vez que usuária e família estiveram presentes em todo o processo, resultando na construção de sua autonomia. Encontramos como limite o modelo médico-psiquiátrico ainda existente no trabalho do CAPS, evidenciado pela pouca participação, integração e valorização da maior parte da equipe na construção do PTS. Tivemos com potencialidade a aprendizagem adquirida pelas acadêmicas e usuária / família, evi- denciando os avanços já conquistados no cuidado em saúde mental, por meio da atenção psicossocial. Palavras-chave: Enfermagem. Saúde Mental. Assistência em Saúde Mental. Cuidados de Enfermagem. Abstract The SingularTherapeutic Project (PTS), the main tool for interdisciplinary work of the Psycho-social Care Centers (CAPS, acronym in Portuguese), makes possible some important things, such as: the participation, reinsertion and construction of autonomy by the user / family in psychological suffering. The main goal was to describe the stages that constituted the construction of a PTS together with the user / family from a CAPS of Cuiabá city, MT. This study is a report of academic experiences from the Nursing School of Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Beginning by analyzing all the information collected, we have listed the problems, did bibliographical surveys, established goals and interventions. The PTS construction has resulted in the family sensitization and clarification of doubts related to the user’s psychological suffering. It also helped the development of the care plan and, consequently, the reinforcement of the connection, once the user and the family were involved in all the processes which resulted in the construction of the person’s autonomy. We have found the psychiatric medical model, which still exists in the CAPS works, to be a limitation, as evidenced by the scarce participation, integration and valuation of most of the staff in the construction of the PTS. We strongly learned through the academics and user / family experiences, by making clear and evident the mental health care advances that has already been achieved through psycho-social attention. Keywords: Nursing. Mental Health. Mental Health Assistance. Nursing Care. * Enfermeira pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil. E-mail: lauragpadilha@hotmail.com ** Enfermeira pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil. E-mail: mayrenemay@hotmail.com *** Professora Mestre. Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil. E-mail: larissarezio@hotmail.com **** Professora Doutora. Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil. E-mail: neuma.zamariano@gmail.com As autoras declaram não haver conflito de interesses.
  • 2. AconstruçãodeumProjetoTerapêuticoSingularcomusuárioefamília:potencialidadeselimitações OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525 522 Introdução A Reforma Psiquiátrica, movimento social contra-hegemônico ao modelo médico-psiquiá- trico, que se centrava na doença, cura, medicali- zação e exclusão, pode atualmente ser conside- rada um importante movimento social complexo que possibilita a construção e efetivação de um avanço em saúde mental: o modelo de atenção psicossocial, que tem seu foco na confluência dos aspectos biológicos, psicológicos, políticos, sociais e culturais, e considera o sofrimento men- tal como um fenômeno que abarca essas dimen- sões, possibilitando ao paciente a participação em seu próprio tratamento1,2 . Como principal representante desse modelo substitutivo, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)3 se caracterizam como um serviço co- munitário e aberto do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo referência para tratamento de pes- soas em sofrimento psíquico. Sua finalidade prin- cipal é a construção da autonomia e reinserção social dos usuários por meio do trabalho, lazer, exercício dos direitos e deveres civis e fortaleci- mento dos laços familiares e comunitários, sendo assim, substitutivos das internações psiquiátricas. Para efetivação do tratamento, é primordial que usuário e família participem do processo. Para tanto os CAPS utilizam como instrumento de trabalho em equipe o Projeto Terapêutico Singular (PTS), que possibilita a participação do usuário e, consequentemente, a construção de sua autonomia. Esse instrumento conside- ra a historicidade e as necessidades individu- ais do usuário que se encontra inserido num contexto4,5 . A elaboração desse tipo de projeto acontece por meio da atuação singular do pro- fissional-referência do usuário / família, e desse profissional com toda a equipe, por meio de dis- cussões e estudo do caso6 . A partir desse novo modelo de assistên- cia aos usuários em sofrimento psíquico, temos como objetivo relatar a experiência da constru- ção de um PTS juntamente com a usuária e fa- miliar de um CAPS do município de Cuiabá-MT. Essa experiência aconteceu durante as atividades práticas das disciplinas de Enfermagem em Saúde Mental e de Sexualidade e Reprodução Humana da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Por se tratar de um relato de experiência de ensino-aprendizagem, não houve necessidade de seu encaminhamento para o Comitê de Ética em Pesquisa, previsto na Resolução n. 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde. Método Trata-se de um relato de experiência, ela- borado a partir da vivência de acadêmicas do curso de graduação em Enfermagem da UFMT, durante o segundo semestre de 2010. Com o objetivo de integrar as atividades práticas das duas disciplinas mencionadas anteriormente, foi apresentada a proposta de elaboração de um PTS de uma usuária e familiar do CAPS onde as atividades práticas aconteceram. O processo de escolha da usuária ocorreu no primeiro dia de visita à instituição, após uma das oficinas. Poste- riormente, realizamos seis encontros e uma visita domiciliar, que possibilitaram a coleta de dados por meio de entrevistas com a usuária e família. A partir da análise dessas informações, elenca- mos os problemas e buscamos na literatura da- dos da psicopatologia, medicações, tratamentos atuais e outras dúvidas demandadas pela usuária. Diante dessas informações, elaboramos junto a ela os objetivos que pretendíamos alcançar, bem como o plano de cuidados. No último encontro, apresentamos-lhe o PTS, para que fosse validado a partir de sua análise e fizesse as considerações que julgasse pertinentes. Resultados e discussão Após a escolha da usuária, iniciamos a pri- meira etapa do PTS: o acolhimento, que permite a aproximação, o “estar com”, o envolver-se, ou seja, remete a uma atitude de inclusão, devendo estar presente em todas as relações e encontros. O acolhimento engloba o compromisso de reconhe- cimento do outro em sua individualidade, como um ser que tem suas diferenças, suas dores, suas alegrias, seu modo de viver, sentir e estar na vida. Além disso, no campo da saúde, promove a qualifi- cação da escuta, a construção de vínculo e garantia do acesso com responsabilização e resolutividade7 . O estabelecimento de vínculos alicerça a criação de uma relação de compromisso entre
  • 3. 523 AconstruçãodeumProjetoTerapêuticoSingularcomusuárioefamília:potencialidadeselimitações OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525 a equipe, usuário e família, que pode redundar numa ligação mais humana e singular. O vínculo, quando criado, possibilita uma parceria, pautada pela sinceridade e responsabilidade, e permite que seja ofertado um atendimento que abarque as necessidades dos usuários e de suas famílias, assumindo caráter de equipe. Essa estará mais sen- sível à escuta atenta e à identificação de vulnera- bilidades e riscos, possibilitando a construção de intervenções terapêuticas que realmente estejam de acordo com as necessidades elencadas8 . Nessa etapa, foram feitas a apresentação das discentes e a proposta do referido projeto, com esclarecimentos sobre suas possibilidades, isto é, o conhecimento aprofundado da usuária e a oferta de cuidados elaborados e específicos às situações individuais. A usuária foi receptiva, demonstrou interesse e entusiasmo e, pronta- mente, aceitou participar. Com a construção do vínculo, teve liberdade para relatar o que julga- va importante, possibilitando-nos a construção de um histórico bem elaborado e detalhado da sua vida, antes, durante e após o seu sofrimen- to psíquico. Em momento algum, identificamos contradição nas informações fornecidas, bem como no esclarecimento de nossas dúvidas. O histórico favoreceu a identificação de vulnera- bilidades e riscos que necessitavam de inter- venção, para podermos propor cuidados que se adequassem à realidade dela. A inserção da família no projeto ocorreu du- rante a visita domiciliar, uma das etapas do PTS, e nos permitiu vivenciar a realidade, antes ape- nas relatada. É interessante ressaltar que, ao rea- lizarmos a visita, pudemos sentir concretamente a confiança em nós depositada, pois a usuária e familiares ficaram mais à vontade para trocar in- formações e nos questionar. A visita domiciliar, cujos objetivos foram explicitados à usuária e família, nos permitiu co- nhecer sua dinâmica, bem como promover a sua aproximação ao serviço de saúde, esclarecendo dúvidas de seus membros em relação ao acom- panhamento a ser realizado. Por ser um instrumento enriquecedor e útil para a abordagem dos usuários e família, a visita domiciliar proporciona interação, conhecimento da realidade vivenciada pelo usuário e família, evidenciando sua inserção no tratamento, bem como se há seu envolvimento. Quando isso não é verificado, podem-se propor ações que auxiliem na reintegração do usuário no domicílio e do en- volvimento da família no tratamento9 . A usuária e familiar apresentaram-se coope- rativas e participativas durante a entrevista, res- pondendo aos questionamentos com prontidão, fazendo vários apontamentos em relação à psi- copatologia e tratamento. Além disso, o familiar teceu algumas críticas em relação ao modelo mé- dico psiquiátrico, bem como sobre a burocracia dos serviços de saúde e a falta de médico espe- cialista, isto é, um psiquiatra no CAPS, onde sua irmã faz o tratamento. A partir desses comentários, incentivamos os participantes à reflexão acerca do exercício de cidadania, direitos e deveres de cidadãos e usuá- rios dos serviços de saúde. Procuramos, também, explicar e discutir o funcionamento dos serviços, buscando por meio de um plano de cuidados al- ternativas para resolver ou amenizar as dificulda- des enfrentadas. Ao encerrarmos a visita, ressaltamos a impor- tância da relação equipe / família para a melhoria do tratamento da usuária, bem como a participa- ção social desses para a efetivação da Reforma Psiquiátrica e, consequentemente, maior qualida- de no cuidado em saúde mental. Como resposta a essa ação, a usuária e familiares nos agradeceram pela visita e esclarecimentos, pois nunca haviam sido realizados anteriormente. A visita domiciliar é uma categoria da atenção à saúde que visa à observação da re- alidade do indivíduo e à proposição de ações educativas, fundamentais para a continuidade de qualquer forma de assistência e/ou atenção domiciliar à saúde, sendo programada e utiliza- da com o intuito de subsidiar intervenções ou o planejamento de ações10 . Além da realização da visita domiciliar e encontros na unidade, a usuária participou, de forma pouco ativa, da atividade em grupo com outras mulheres em tratamento no CAPS, da dis- cussão sobre sexualidade e saúde mental, as- sunto acordado entre todas em contato anterior. Dessa forma pudemos integrar as disciplinas do curso e promover a interação das participantes, adquirindo e trocando conhecimentos e favore- cendo a construção da autonomia.
  • 4. AconstruçãodeumProjetoTerapêuticoSingularcomusuárioefamília:potencialidadeselimitações OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525 524 A abordagem da temática “Sexualidade em Saúde Mental” foi importante para possibilitar o diálogo e reflexão sobre a questão do precon- ceito relacionado à sexualidade das pessoas que vivenciam o sofrimento psíquico, pois existe um pré-julgamento de que elas são infantilizadas, desprovidas de beleza e vigor físico, impossibili- tadas de exercer sua sexualidade, suprimindo ou negando-a11 . Por isso, sentimos a necessidade de ouvir das participantes sentimentos e experiên- cias a esse respeito, permitindo, assim, o conhe- cimento e superação de preconceitos. Após o fechamento do projeto, ele foi apre- sentado à usuária e familiar, que se manifestaram positivamente sobre a experiência, que lhes pos- sibilitou conhecer melhor suas condições de saú- de. O familiar relatou não ter, anteriormente, par- ticipado e discutido sobre cuidados e tratamento, o que considerou muito importante. Nesse pro- cesso, o vínculo e o diálogo entre profissionais de saúde / familiar / usuária são necessários para o estabelecimento de redes de apoio, integração e parceria no tratamento da usuária12 . O desenvolvimento da autonomia da usu- ária deve ser incluído nas ações do PTS, pois se efetiva quando a família e as redes sociais se envolvem no cuidado, por meio da troca de in- formações e concretização das ações. Também é importante que o usuário, família e amigos sejam estimulados à liberdade de verbalizar suas ansie- dades e medos, entre outros, com escuta atenta da equipe. Durante essa interação, é imprescin- dível oferecer ao usuário possibilidades que o le- vem à reinserção social e à autonomia6 . Considerações finais A proposta de integrar as disciplinas de Enfer- magem em Saúde Mental e Sexualidade e Repro- dução Humana em um Projeto Terapêutico Singu- lar foi um desafio para discentes e docentes, em razão de ser uma inovação na área de saúde men- tal, pois, por vezes, há uma dissociação dessas áreas por parte de alguns profissionais de saúde e pela própria família, que considera a pessoa em sofrimento mental desprovida de sexualidade, ou com essa característica exacerbada em momentos de crise / surto. Por isso, considerar a pessoa em estudo em todas as suas dimensões – social, psí- quica, sexual e espiritual – e valorizá-la em um PTS foi uma iniciativa inovadora para a formação e vivência de acadêmicos e professores. A elaboração conjunta do PTS com a pessoa em estudo e sua família e a validação do projeto por elas proporcionou a transformação da reali- dade da usuária, que, anteriormente, não tinha consciência do próprio estado de saúde, porém, após essa experiência, pôde obter informações e emitir juízo crítico sobre si mesma, sobre seu tratamento e o modelo de atenção psicossocial. Dessa forma, ao realizar o PTS, vivenciamos a experiência do empoderamento em saúde, que permitiu que usuária e família se beneficiassem do conhecimento obtido nos vários momentos de contato, isto é, nos encontros, visitas e ofici- nas. A realização do projeto possibilitou, ainda, esclarecimentos sobre o transtorno mental, sobre a qualidade do serviço oferecido, favorecendo a avaliação crítica do tratamento recebido por par- te da usuária e de seus familiares. A autonomia e reinserção social parece também terem sido re- cobradas por ocasião dessas ações. Destacamos como a maior potencialida- de desse processo a aprendizagem adquirida, tanto por nós, futuras profissionais, quanto pela pessoa em estudo e sua família. Conhecer, con- viver, discutir e refletir sobre transtornos mentais nos proporcionou quebras de paradigmas, novos conceitos e a própria inovação no cuidar. Contu- do, ao construir o projeto, identificamos algumas dificuldades, como a distorção entre teoria e prá- tica acerca do novo modelo e os dispositivos usa- dos, como a ausência da aplicabilidade do PTS na rotina dos serviços que atendem essas pesso- as. Porém, é importante enfatizarmos os avanços já alcançados no cuidado direcionado em saúde mental, por meio do modelo de atenção psicos- social, que tem como um de seus instrumentos o PTS, que possibilita a participação, reinserção so- cial e construção de autonomia. Além disso, cabe ressaltar que ainda vivenciamos um processo de mudanças de práticas, no qual encontramos avanços e retrocessos, ou seja, entendemos que mudar / substituir / recriar práticas requer supe- ração, desconstrução do antigo (modelo médico- -psiquiátrico) e participação social, portanto se configura como um desafio para a efetivação da Reforma Psiquiátrica.
  • 5. 525 AconstruçãodeumProjetoTerapêuticoSingularcomusuárioefamília:potencialidadeselimitações OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):521-525 Referências 1. Costa-Rosa A. O modo Psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar. In: Amarante P, organiza- dor. Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 2000. p. 141-68. 2. Oliveira AGB, Marcon SR. A avaliação do estado mental: um recurso tecnológico para a assistência de enfermagem em saúde mental. In: Oliveira AGB, organizador. Ensino de Enfermagem: trabalho e cuidado. Cuiabá: EdUFMT; 2006. p. 129-47. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. 4. Oliveira AGB, Vieira MAM, Andrade SMR. Saúde Mental na saúde da família: subsídios para o trabalho assistencial. São Paulo: Olho d’água; 2006. 5. Sanduvette V. Sobre como e por que construir, (re)construir e avaliar projetos terapêuticos nos centros de atenção psi- cossocial (CAPS). Psicologia USP. 2007;18(1):83-100. 6. Brasil. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: prontuário transdisciplinar e projeto terapêutico. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. 7. Brasil. Ministério da Saúde. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. 2a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2010. 8. Schrank G, Olschowsky A. O centro de Atenção Psicossocial e as estratégias para a inserção da família. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(1):127-34. 9. Kantorski LC, Hypolito AM, Willrich JQ, Meirelles MCP. A atuação do Enfermeiro nos Centros de Atenção Psicossocial à luz do Modo Psicossocial. Rev Min Enferm. 2010 Set;14(3):399-407. 10. Giacomozzi CM, Lacerda MR. A prática da assistência domiciliar dos profissionais da estratégia de saúde da família. Texto Contexto Enferm. 2006;4:645-53. 11. Brito PF, Oliveira CC. A sexualidade negada do doente mental: percepções da sexualidade do portador de doença mental por profissionais de saúde. Ciênc Cognição. 2009;14(1):246-54. 12. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde Mental e Atenção Básica: o vínculo e o diálogo necessários. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. n. 01/03. Recebido em: 02 de abril de 2012 Versão atualizada em: 27 de abril de 2012 Aprovado em: 10 de maio de 2012
  • 6. 526 OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530 RelatodeExperiência•ReportofExperience Atenção farmacêutica e a humanização da assistência: lições aprendidas na promoção da adesão de usuários aos cuidados terapêuticos nas condições crônicas Pharmaceutical Care and humanization of care: lessons from the promotion of adhesion to therapeutic care of users in chronic conditions Pollyana Borges de Araújo Prata* Marcia Regina Cunha** Érica Gomes Pereira*** Lucia Yasuko Izumi Nichiata**** Resumo O alto consumo de medicamentos tem despertado, para os profissionais de saúde, cada vez mais a preocupação com a adesão ao tratamento dos usuários. O presente artigo tem o objetivo de relatar experiências na assistência farmacêutica realizada por uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do Município de São Paulo. A farmacêutica da Unidade, para além da tradução das receitas e confecção de caixas com pictogramas para orientar o uso racional das medicações, desenvolveu, em articulação com a gerente e os profissionais que participam das reuniões técnicas do serviço, a estratégia assistencial de acompanhamento do uso das medicações em domicílio para os usuários com mais dificuldades na adesão ao trata- mento. As principais lições aprendidas tratam sobre a importância da colaboração do farmacêutico na Estratégia Saúde da Família para a promoção do uso racional dos medicamentos, e que as ações empreendidas para potencializar a adesão dos usuários aos medicamentos devem estar contidas nas ações gerais de promoção da autonomia do sujeito, ou seja, as decisões e o controle sobre sua saúde. Como caminho a percorrer, promover atitude emancipadora na assistência farma- cêutica significa promover práticas que sejam mediadoras entre o saber dos profissionais de saúde e usuários, objetivando o cuidado mais qualificado das famílias. Palavras-chave: Assistência Farmacêutica. Humanização da Assistência. Atenção Básica. Abstract The high consumption of drugs is increasingly making health professionals be concerned about adherence to treatment by patients. This article aims to share experiences in pharmaceutical care performed by a Basic Health Unit (BHU) in São Paulo. The BHU pharmacy, in addition to translating prescription notes and making boxes with pictograms to guide the rational use of drugs, together with the manager and the professionals who attend the meetings of the technical service, developed an assistance strategy for medication monitoring use at home for users having more difficulties with adherence to treatment. The main lessons learned are about dealing with the importance of cooperation of the pharmacist in the Family Health Strategy to promote the rational use of drugs, and that the actions taken to enhance the adhesion of drug users should be part of the ge- neral actions for promoting subjects autonomy, that is, decisions and control over their own health. The route to be followed involves promoting an emancipatory attitude in pharmaceutical care is equal to promoting practices mediating between the knowledge of health professionals and the patients, aiming at a more qualified family health care. Keywords: Pharmaceutical Services. Humanization of Assistance. Primary Health Care. * Especialista em Saúde Pública. Farmacêutica da Fundação Faculdade de Medicina na UBS Paulo VI, Coordenadoria Regional Centro- -Oeste, São Paulo-SP, Brasil. ** Enfermeira. Gerente da Fundação Faculdade de Medicina (FFM) na UBS PauloVI, Coordenadoria Regional Centro-Oeste, São Paulo-SP, Brasil. *** Doutoranda pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Especialista em laboratório de ensino, pesquisa e extensão do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da EEUSP, São Paulo-SP, Brasil. **** Professora Associada do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da EEUSP, São Paulo-SP, Brasil. E-mail: izumi@usp.br As autoras declaram não haver conflito de interesses.
  • 7. 527 OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530 Atençãofarmacêuticaeahumanizaçãodaassistência... Introdução O alto consumo de medicamentos é de- monstrado, discutido e desperta preocupação em profissionais e autoridades de saúde1 . Ao lado disso, a questão da adesão aos cuidados em saú- de, particularmente às recomendações terapêu- ticas e uso racional dos recursos, também tem tomado importância nas últimas décadas e está sendo incluída na lista de preocupações dos pes- quisadores e profissionais de saúde2 . A adesão – ou não – aos cuidados terapêuti- cos pelos usuários da saúde é um fenômeno que envolve indistintamente pessoas de diferentes idades, sexos, etnia e está relacionada a diversos fatores relativos ao profissional de saúde, ao tra- tamento e à patologia3,4 . Concorrem ainda outros fatores, como condições financeiras dos usuários, número de medicamentos prescritos, esquema terapêutico, efeitos adversos dos medicamentos, acesso ao sistema de saúde, relação médico-pa- ciente e a característica assintomática da doença e a sua cronicidade5 . Nos últimos anos, há uma mudança importan- te de paradigma em relação à compreensão sobre a finalidade do trabalho do Farmacêutico, não mais focado no medicamento enquanto um produto, uma mercadoria de consumo ou simplesmente de apoio ao acesso ao insumo, passando a ter a centra- lidade no usuário do serviço de saúde, no sentido de considerá-lo sujeito de direito ao acesso aos be- nefícios do cuidado terapêutico6,7,8,9,10 . O presente artigo trata da Atenção Farma- cêutica e a Humanização da Assistência na pro- moção da adesão aos cuidados terapêuticos para a manutenção da saúde em condições crônicas, como hipertensão e diabetes. Tem o objetivo de relatar experiências na assistência farmacêuti- ca realizada por uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do Município de São Paulo, discutindo al- guns dos avanços empreendidos e examinando- -os criticamente, tendo como princípio a humani- zação da assistência no Sistema Único de Saúde. Experiências na atenção farmacêutica O relato trata das experiências de atenção farmacêutica realizada por uma UBS sob gestão municipal, em parceria com a Fundação Facul- dade de Medicina, localizada no Distrito Raposo Tavares, região oeste do município de São Pau- lo. Inaugurada em 1985, a UBS está organizada como Estratégia Saúde da Família desde outubro de 2009, operando com seis equipes, cobrindo uma população de 18.949 habitantes, segundo dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) de junho de 2012. Os relatos das experiências na atenção farmacêutica referem-se ao período compreendido de 2010 a 2012. O contato dos usuários dos serviços de saú- de da UBS com o dispensário de medicações, popularmente identificado como farmácia, é feito por meio do guichê de atendimento. Nele é apresentado o receituário preenchido pelo médico ou, em alguns casos, pelo Enfermeiro, quando consensuado nos protocolos clínicos. Na prática diária, constata-se que os usuários chegam com muitas dúvidas, alguns não sabem ler, outros, mesmo alfabetizados, têm dificulda- des para “decifrar” as anotações do receituário, realizadas de forma muitas vezes incompre- ensível até para os profissionais familiarizados com as medicações. Em geral, há prescrições de amplo número de medicamentos, com indi- cações variadas ao longo do dia, dificultando a compreensão e, portanto, influenciando a ade- são aos cuidados terapêuticos. A farmácia não é um local que oferece privacidade e garante o sigilo para que se realizem as orientações so- bre o modo de preparo das medicações, quando necessárias, e sobre as posologias prescritas a serem ingeridas no domicílio. Nesse primeiro contato, quando já se obser- vam dificuldades de entendimento dos usuários, utilizam-se estratégias que buscam fomentar a apropriação das informações, como a tradução e/ou interpretação da prescrição das receitas, re- gistrando uma redação no verso, de forma que possa ser mais bem entendido. Outra estratégia utilizada é o uso de pictograma, que nada mais é que a utilização de símbolos que representam um objeto ou conceito por meio de desenhos fi- gurativos, como os horários de tomada de medi- cações, representados com figuras para o café da manha, almoço e jantar. Para auxiliar a compreensão sobre a grande quantidade e variedade de medicações prescritas, por iniciativa própria, a farmacêutica da UBS criou
  • 8. 528 OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530 Atençãofarmacêuticaeahumanizaçãodaassistência... caixas para a promoção do uso correto dos medi- camentos. Essas caixas, confeccionadas de modo artesanal com material reaproveitável, possuem divisórias em seu interior, com pictogramas e iden- tificação dos horários e cores diferenciadas para visualização dos tipos diferentes das medicações. São oferecidas aos usuários que apresentam maior dificuldade para compreensão, indicando que o levem para o domicílio para auxiliar a organiza- ção e identificação dos medicamentos indicados. A confecção das caixas de medicamentos também contou com a participação dos mora- dores, na Feira de Saúde, realizada no Bairro e promovida pelos profissionais da UBS juntamen- te com os alunos do Programa de Educação pelo Trabalho (PET) do Ministério da Saúde, em par- ceria com a Universidade de São Paulo. Durante a montagem das caixas, foi possível discutir com a população sobre o uso correto, acompanha- mento do uso e descarte apropriado de medica- mentos. Essa atividade, por envolver a população local e os ACS, se mostrou com potencial para sensibilização quanto à importância das VD no uso racional de medicamentos. As dificuldades na compreensão dos usuá- rios sobre o uso racional dos medicamentos, que acabam interferindo na adesão, estão frequente- mente nas pautas das reuniões técnicas da UBS. Tais reuniões contam com a participação de médicos, enfermeiros, dentistas, assistentes sociais e a gerente. Em relação a essa questão, foi estabelecido, como encaminhamento conjun- to, a identificação de usuários em situações de maior dificuldade para a adesão, como as pesso- as com medicação de uso contínuo, faltosas em atendimento agendado e idosas. Prossegue-se a leitura dos prontuários e é feito uma programa- ção de Visitas Domiciliárias (VD), com apoio dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) a estes usuários selecionados. Tendo como critério de eleição das famílias a ser visitada a dificuldade para a adesão aos cuidados terapêuticos, estabeleceu-se um fluxo para sua realização, que se inicia com o ACS separando o prontuário; depois, a farmacêutica analisa esse prontuário e a prescrição, separa a quantidade de medicação necessária para um período de 30 dias e as acondiciona na caixa confeccionada com divisórias e pictogramas. A VD é realizada pela farmacêutica, acompanha- da pelo ACS e/ou pelo auxiliar de enfermagem. Estabeleceu-se a realização de uma VD a cada 30 dias, durante o período de seis meses, com avaliações sucessivas. Foram criados pela farmacêutica os instru- mentos de acompanhamento do usuário: uma fi- cha individual, uma planilha de acompanhamen- to dos usuários e uma planilha para o descarte adequado das medicações. Na primeiraVD, apresenta-se o trabalho que está sendo iniciado junto ao usuário e sua família, expondo a necessidade de acompanhamento do uso racional das medicações para potencializar a adesão ao tratamento e o combate à autome- dicação. Solicita-se ao usuário ou ao cuidador a busca de todas as medicações, que estão ou não em utilização no momento e que se encontram no domicílio. Discute-se sobre a importância do acompanhamento do uso da prescrição e o des- carte adequado das medicações, abordando, in- clusive, as preocupações com o meio ambiente. Desse modo, são recolhidas as medicações que não estão em uso e apresentam vencimento da data de validade e embalagens danificadas. Um dos problemas identificados em relação à dificul- dade de adesão é o vencimento da data da re- ceita prescrita. Faz-se, portanto, a busca ativa de usuários que possuem receitas a serem vencidas e, antecipadamente, solicita-se nova receita ao médico da equipe. Apresenta-se a caixa confeccionada com di- visórias e pictogramas com as medicações cuida- dosamente organizadas. Realiza-se com o usuário a colocação das etiquetas de identificação, sepa- rando-as segundo horários e posologia, atentando para possíveis interações medicamentosas. Na VD, é reforçada a orientação sobre as formas de ingestão das medicações, a organização da caixa e os cuidados em relação ao armazenamento. Após 30 dias, na 2ª VD, avalia-se a adesão aos medicamentos por meio da observação do consumo das medicações. Espera-se que não haja sobra, uma vez que é um indício de avaliação in- direta de que houve a administração correta em termos de posologia das medicações prescritas. Quando há sobras, investigam-se quais foram as dificuldades, situações que explicam a possível não ingestão. As orientações são revistas e as dú-
  • 9. 529 OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530 Atençãofarmacêuticaeahumanizaçãodaassistência... vidas que porventura ocorram são sanadas. É re- forçada a necessidade da adesão e do uso correto das medicações. As questões principais são regis- tradas no prontuário e discutidas com as equipes saúde da família. Abastece-se a caixa para mais 30 dias, e as sobras são recolhidas. Lições aprendidas: redefinindo os caminhos Embora se reconheça que as estratégias apresentadas não sejam propriamente inovado- ras, pois outras UBS em diferentes locais realizam atividades similares, o artigo apresenta as experi- ências para apontar alguns avanços empreendi- dos e examiná-los, criticamente, no eixo estrutu- rante da humanização da assistência. No relato desta experiência de atenção far- macêutica, identificam-se elementos que chamam às bases da assistência humanizada: valorização dos sujeitos implicados – usuários, trabalhadores das equipes de saúde, gestor e população local; desenvolvimento de estratégias de fomento à au- tonomia e protagonismo dos sujeitos; estratégias de aumento no grau de corresponsabilidade na produção de saúde e dos sujeitos; estabelecimento de vínculos solidários e participativos; e mudança nos processos de trabalho. Foi possível observar em vários pontos de atenção dentro da UBS, mas em especial durante a realização da VD, o princí- pio do diálogo mútuo, em que a escuta é realizada no sentido de identificar necessidades de saúde amplas e/ou problemas relacionados à sua condi- ção crônica (receitas vencidas, faltas às consultas, problemas de saúde ou particulares). Isso pressu- põe o estabelecimento de vínculo com o usuário, sua família ou cuidador11 . A implementação das VD mensais com o acompanhamento dos profissionais de saúde im- plicados com a assistência farmacêutica resultou na redução de dúvidas, erros e/ou descuidos com os medicamentos, restringiram efeitos indesejá- veis decorrentes do uso equivocado destes e me- lhoraram o controle de saúde, com resultados na evolução das condições crônicas. Os resultados desta experiência indicam me- lhor adesão dos usuários aos cuidados terapêuti- cos nas condições crônicas, como hipertensão e diabetes. O sentido de adesão não se limita à tomada dos medicamentos ou, remetendo ao sen- tido inverso, ao abandono do tratamento como re- sultado de comportamentos / atitudes individuais. A adesão não se reduz a um ato de volição pessoal. É um processo intimamente associado à vida, que depende de uma série de interme- diações que envolvem o cotidiano da pessoa, a organização dos processos de trabalho em saú- de e a acessibilidade em sentido amplo – que inclui os processos que levam – ou não – ao desenvolvimento da vida com dignidade12 . Nesse sentido, no cuidado terapêutico está contida a ideia de positividade ou potência para justamente promover a adesão. A assistência farmacêutica diz respeito às atitudes, aos com- portamentos, compromissos, responsabilidades, inquietações, valores éticos, conhecimentos e habilidades dos profissionais de saúde na presta- ção de uma farmacoterapia racional, com a reali- zação de ações preventivas de doenças e agravos, ações promotoras de saúde e de recuperação13 . Como lições aprendidas nas experiências da assistência farmacêutica pautada pela humaniza- ção: reconhece-se a importância da colaboração do farmacêutico na equipe saúde da família para a promoção do uso racional dos medicamentos e que as estratégias empreendidas para potenciali- zar a adesão dos usuários aos medicamentos de- vem estar contidas nas ações gerais de promoção da autonomia do sujeito, ou seja, as decisões e o controle sobre sua saúde10 . Como caminho a percorrer, há de se promover atitude emancipa- dora na assistência farmacêutica, o que significa promover práticas que sejam mediadoras entre o saber dos profissionais de saúde e usuários, obje- tivando o cuidado mais qualificado das famílias. Referências 1. Lefèvre F. O medicamento como mercadoria simbólica. São Paulo: Cortez; 1991. 2. Aquino DS. Por que o uso racional dos medicamentos deve ser uma prioridade? Ciên Saúde Colet. 2008;13(Supl):733-6. 3. Paulo LG, Zanini AC. Automedicação no Brasil. Rev Assoc Med Bras. 1988;34:69-75.
  • 10. 530 OMundodaSaúde,SãoPaulo-2012;36(3):526-530 Atençãofarmacêuticaeahumanizaçãodaassistência... 4. Nemes MIB, et al. Aderência ao tratamento por anti-retrovirais em serviços públicos no Estado de São Paulo. Brasília: Ministério da Saúde; 2000. 5. Leite SN, Vasconcellos MPC. Adesão à terapêutica medicamentosa: elementos para a discussão de conceitos e pressu- postos adotados na literatura. Ciên Saúde Colet. 2003;8(3):775-82. 6. Hepler CD, Strand LM. Opportunities and responsibilities in pharmaceutical care. Am J Hosp Pharm. 1990;47:533-43. 7. Organização Pan-americana da Saúde. Atenção Farmacêutica no Brasil: trilhando caminhos. Relatório 2001-2002. Brasília: OPAS; 2002. 8. Organização Pan-americana de Saúde. Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica: Proposta. Brasília: OPAS; 2002. 9. Organização Pan-americana de Saúde. Termo de Referência para reunião do grupo de trabalho: Interface entre Atenção Farmacêutica e Farmacovigilância. Brasília: OPAS; 2002. 10. Organización Mundial de Salud. El papel del farmacéutico en la atención a la salud: declaración de Tokio. Genebra: OMS; 1993. 11. Egry EY, Fonseca RMGS. A família, a visita domiciliária e a enfermagem: revisitando o processo de trabalho da enfer- magem em saúde coletiva. Rev Esc Enf USP. 2000;34(3):233-9. 12. Bertolozzi MR, et al. Os conceitos de vulnerabilidade e adesão na Saúde Coletiva. Rev Esc Enf USP. 2009;43 (Esp 2):1326-30. 13. Paiva Filho O. ABC da ética farmacêutica. Brasília: Cidade; 2011. Recebido em: 11 de julho de 2012 Aprovado em: 27 de julho de 2012